Oito dias no deserto de Atacama Texto e fotos: Maria Eugenia Llosa Talavera Participei numa expedição de montanha, com outros 16 amigos do clube, e gostaria de compartilhar com vocês a minha experiência pessoal: Chegamos aos pés do vulcão no domingo, direto até os 3800 msm. Durante o dia a temperatura era muito grata, com sol e sem vento, mas de noite ficamos abaixo de zero, congelando até nossas garrafas com água que estavam dentro da barraca. No terceiro dia iniciamos a subida em direção ao segundo acampamento, aos 4500 msn. Minha colega teve um início do chamado “mal de altitude”, sentindo muita dor de cabeça e fraqueza, razão pela qual resolvemos descer até o acampamento base, adiando nossa subida para o dia seguinte. Ficamos então nós duas sozinhas no meio do deserto, sem sinal de rádio nem nosso ônibus que tinha voltado para Calama. A calma e o silêncio eram impressionantes! Podíamos ficar apenas escutando uivar o vento, balançando a vegetação da beira do córrego. Ou trocar olhares com as vicunhas, a raposa curiosa que veio nos visitar, ou também tentar tirar fotos dos guanacos pastando enquanto os gansos altiplânicos ficavam desconfiados e levantavam seu elegante voo. Fizemos várias caminhadas sentindo a força do deserto, a solidão humilde de estarmos totalmente sós e vulneráveis. Assistimos a harmonia da natureza ao acharmos os restos de vicunhas e guanacos ainda com pele nas patas, parecendo os restos do jantar do puma, senhor das montanhas. Voltamos em silêncio para nossa barraca, sem pressa, ao pôr do sol. Preparávamos nossas comidas hidratando-as com água do córrego, a pesar do enxofre que tornava a vegetação quase fluorescente. O resto de nossa turma continuava subindo, até ultrapassar os 5mil metros. No dia seguinte, tivemos que abandonar a ideia de acampar mais encima porque o céu estava muito fechado, cor de chumbo em todas as direções. Resolvemos então subir com mochilas leves, agasalho, água e comida de caminhada. Sem o peso da mochila de acampamento atingimos os 4,500 mts em menos de 4 horas. Já nessas alturas o tempo tinha fechado totalmente, caía neve, o vento era fortíssimo, de arrancar a gente do chão. O deserto mostrava seu caráter oculto. Nossa equipe tinha tentado alcançar o topo do vulcão San Pedro, aos 6145 mts mas a temperatura lá encima era de 25 graus abaixo de zero, sem visibilidade nenhuma. A sabedoria e a prudência mandam descer. A volta até Santiago nos presenteou com uma breve subida ao vulcão Puruña, de 3612 mts, uma visita à salitreira abandonada Pampa Unión, acampamento no vilarejo Chui Chui, com sua bela igreja, a mais antiga do Chile e finalmente com churrasco e praia, no Parque Nacional Pan de Azúcar. Sem dúvida, 8 dias no deserto de Atacama são uma experiência inesquecível!!!!