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O homem sertanejo e as políticas públicas1
Jislaine Lima da Silva
Universidade Federal de Sergipe
[email protected]
Lilian Oliveira Silva
Universidade Federal de Sergipe
[email protected]
Resumo
O Nordeste sempre foi visto como um local onde não se podia ofertar muito para seus
moradores apenas o básico para sua sobrevivência deixando como característica dessa
região um local sem muitas opções de escolhas de vida devido ao meio ambiente não
ser tão favorável durante algumas épocas do ano. Através do trabalho de campo
podemos abordar as políticas públicas desenvolvidas em duas cidades do alto sertão
sergipano por nós escolhidas, mostrando suas diferenças e suas melhorias para a região
e também levando em consideração a opinião dos moradores que estão inseridos nessas
políticas, que são fundamentais para o período de estiagem.
Palavras-chave: Políticas públicas, a seca e o homem sertanejo.
The Northeast has always been seen as a place where you could not offer much to its
residents only the basics for their survival as a characteristic of this region leaving a
place without many options for life choices due to the environment will not be as
favorable during certain times of the year . Through the fieldwork we can address the
public policies developed in two towns in the high backcountry Sergipe chosen by us,
showing its differences and improvements to the region and also taking into account the
views of residents who are included in these policies, which are fundamental to the dry
season.
Keywords: Public policy, drought and man backcountry.
Introdução
Este presente artigo teve por objetivo entender como as políticas públicas
ajudam e são de fundamental importância na vida do homem sertanejo facilitando o seu
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Eixo temático: Políticas públicas e Agricultura Familiar.
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cotidiano de trabalho que tem se tornado menos difícil com a implantação de diferentes
projetos em que uns são mais eficazes do que outros, mostrando seus contrapontos. Por
isso através do nosso trabalho de campo mostraremos a realidade nos assentamentos
Nossa Senhora Aparecida no município de Nossa Senhora da Gloria e o Jacaré-Curituba
em Poço Redondo a partir das diferentes políticas públicas que acontecem nessas duas
regiões (figura 1).
As grandes secas que existiram desde o século XIX resultaram na criação de
estradas e açudes que ganharam mais importância com a criação de alguns programas
como: a antiga Inspetoria de Obras Contra as Secas que foi transformada em 1945 no
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs); em 1948 eram criadas a
Comissão do Vale do São Francisco (CVSF) e a Companhia Hidrelétrica do São
Francisco (Chesf); em 1952 foi criado o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e em
1958-1959 houve a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE).
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Graças aos trabalhos do Dnocs foram construídas nos sertões do semiárido, as
estradas, os açudes, as linhas de transmissão de energia, os sistemas de abastecimento
d’água e, em tempos mais recentes, a irrigação e a introdução e incremento de espécies
psicícolas. A CVFS tinha por objetivo à regularização do regime fluvial do rio São
Francisco, melhoria dos transportes e comunicações, construção de centrais e usinas
hidrelétricas e redes de transmissão, irrigação, saneamento urbano e rural, saúde
pública, fomento da produção agrícola, pesquisa sobre aproveitamento de recursos
minerais, reflorestamento e incremento da imigração e colonização. A Chesf tinha como
missão produzir, transmitir e comercializar energia elétrica para a Região Nordeste do
Brasil. O BNB tinha com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da região Nordeste
que, assolada pelas constantes secas e pela escassez de recursos estáveis. A SUDENE
foi uma forma de intervenção do Estado no Nordeste, com o objetivo de promover e
coordenar o desenvolvimento da região, já que havia uma grande disparidade
econômica do Nordeste em relação ao Centro- Sul. Essas políticas públicas visavam
proporcionar uma melhoria para o sertanejo que sabe que a seca chega, mas não sabe
como reverter essa situação e essas políticas tentam amenizar os impactos que este
homem tão sofrido enfrenta todos os anos.
A partir de uma analise teórico- conceitual e do trabalho de campo, foi possível
observar como vem ocorrendo às melhorias nos assentamentos visitados e o que as
pessoas acreditam que deve ser melhorado para esses locais ficarem ainda mais
proveitosos. Isso a partir de um olhar geográfico visando compreender e expor os
aspectos da região Nordeste.
Características dominantes da Região Nordeste.
Para Cassiano C. Amorim (2007), a identidade territorial “é elemento importante
na definição das regionalizações”. Historicamente produzidas e politicamente
recortadas, hoje entendemos que as regionalizações, são recortes onde a manifestação
do poder político encontra espaços para territorializar-se, o que promove um
ordenamento do território usado, à medida que este recorte acaba por ser espaço de
implantação de projetos baseados em políticas públicas, que são essenciais na melhoria
do trabalho do homem do campo.
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A região Nordeste é dividida em três sub-regiões litoral, agreste e sertão, onde se
terá neste artigo um maior enfoque no sertão, mostrando que o sertão caracteriza-se
como a mais famosa região do Nordeste pela sua originalidade e pela propagação de
noticias sensacionalista de suas secas periódicas nos jornais brasileiros e estrangeiros.
Nessa grande região a temperatura é elevada durante todo o ano havendo a
ocorrência de chuva durante o período de três a quatro meses, não sendo suficiente para
amenizar o longo período de estiagem, dificultando a agricultura, a pecuária e a vida do
sertanejo. Sua flora se adapta a seca, como exemplos das plantas: a catingueira, o
mandacaru, o juazeiro, o umbuzeiro, o xique-xique, sua paisagem fica então
caracterizada por uma cor acinzentada mostrando um aspecto seco que muitos
consideram “feio”, sendo esta uma característica do bioma caatinga. Nota-se que
quando chove a paisagem passa da cor acinzentada para a cor verde.
Sendo assim,
A formação regional nordestina obedece a um conjunto de componentes
sociais, políticos e econômicos, a nosso ver, sem qualquer inter-relação que se
pretenda de ordem determinística, que corroboraram para estabelecer
um processo de construção de uma identidade protonacional, historicamente
datada e periodizada (CARLEIAL, 1993,pg.44 ).
Nessa perspectiva a região Nordeste sempre é vista por um olhar critico onde só
se vê os seus principais aspectos “negativos” sem qualquer tipo de elogio, visto que até
seus próprios moradores o vêem com um aspecto desprezível em relação aos seus
problemas climáticos sendo esta região caracterizada como “região problema” sendo
vista até internacionalmente como região onde apenas predomina a seca. Mas afinal ela
apenas possui esses aspectos negativos? E os seus aspectos culturais e sociais, onde
ficam os valores de seu povo?
O homem sertanejo do passado e do presente
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Durante o século XIX o Nordeste passou por dez grandes secas e sempre que
isso ocorria os políticos pediam verbas que não chegavam totalmente ao destino
proposto por eles, o Nordeste passou a ser conhecido como “indústria da seca”. Na
literatura o livro de Jorge Amado intitulado Gabriela Cravo e Canela, mostrou que a
personagem principal durante o período de seca sai do sertão da Bahia com seu tio para
o Sul em busca de melhores condições de vida e fugindo da seca e neste trajeto
encontram corpos de pessoas que acabavam morrendo de fome, sede ou de doenças.
Esta realidade foi mostrada em vários romances em que diversos autores abordaram os
problemas enfrentados por nordestinos durante períodos de secas que assolavam sua
região.
Com o passar dos anos foram ocorrendo à implantação de varias políticas que
modificaram a forma como o sertanejo vive e até mesmo a sua permanência foi
modificada, pois poucos são aqueles que se deslocam durante o período de seca para o
litoral. Já que agora eles dispõem de meios para enfrentarem as dificuldades existentes
no período de seca.
As pessoas têm uma visão estereotipada do homem nordestino, pois os vê como
o personagem da obra de Monteiro Lobato “Jeca Tatu” um homem ingênuo, feio, de
calças lá em cima, sem perspectivas para o futuro sendo assim considerado um caipira.
Essa visão é ainda hoje presente no nosso cotidiano e também aquela do nordestino que
saí do Nordeste para morar no Sul ou Sudeste do Brasil, fugindo da seca e dos
problemas por ela acarretados. Como sabemos o nordestino ao contrario do que muitos
pensam é um homem forte que lutou e luta contra qualquer problema sendo ele
climático, social ou econômico e isto foi melhorando devido à implantação de políticas
que amenizaram seu sofrimento lhe mostrando que eles são capazes sim a partir de
ajudas eficientes amenizarem os problemas característicos de sua região.
As políticas públicas nos assentamentos Nossa Senhora Aparecida e JacaréCurituba
As políticas públicas devem ter por objetivo transformar a economia sertaneja,
adaptando-se as exigências do meio natural, para que no período de seca disponham de
recursos necessários para que ele não modifique ou e melhore o seu cotidiano durante a
seca.
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No trabalho de campo foi observada no assentamento Nossa Senhora Aparecida
no município de Nossa Senhora da Glória, a implantação de cisternas para
armazenamento de água da chuva para ser utilizadas no período de seca como podemos
observar na (figura 2).
Figura 1: Cisterna no assentamento N. Sr ª. Aparecida
No assentamento Jacaré-Curituba no município de Poço Redondo foi implantada
a agricultura irrigada (figura 3) que é obtida por meio de bombeamentos de água
provenientes da barragem Curituba.
Figura 3: Irrigação no assentamento Jacaré-Curituba
A partir do método teórico-comparativo e o trabalho de campo foi possível
observar as disparidades existentes entre os dois assentamentos. No caso, da
implantação de cisternas a água fica armazenada e é utilizada para o consumo diário das
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casas e no manejo com os animais. Como relata alguns dos entrevistados no período de
estiagem há água para dar para os animais e também nas tarefas de casa, mas isso não
ajuda na agricultura, pois a água existente não é suficiente para que possamos plantar. A
alimentação do gado é afetada, pois quanto está chovendo há comida no pasto e
armazenamos um pouco para ser utilizada no período de seca, mas quanto esta comida
armazenada acaba temos quer comprar com nosso próprio dinheiro. E é neste período
que nosso trabalho diminui e algumas vezes acabamos vendendo os nossos animais o
que diminuindo a produção de leite (Figura 4).
Figura 4: Animais no período de estiagem no município de N. Sr ª. da Gloria
No período de chuva as pessoas trabalham plantando e colhendo e vendem um
pouco da sua produção e outra parte é armazenada para a alimentação dos animais,
nesse período sua renda fica em torno de um salário mínimo, sendo suficiente para sua
sobrevivência, além de terem trabalho à semana inteira. Como foi possível observar a
vida do sertanejo é modificada com a chegada da seca a implantação das cisternas
modificou muito o seu cotidiano que agora não precisar andar muito à procura de água
para seus animais e para seu próprio consumo. Então quanto perguntados o que deveria
melhorar a maioria respondeu que seria a agricultura através da irrigação para que
pudessem plantar e colher o inteiro.
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Figura 5: Município de N. Sr ª. da Gloria
No caso da agricultura irrigada a situação é bem diferente, pois as pessoas não
sentem a seca já que há a possibilidade de plantar e colher o ano inteiro, dentre os
produtos por eles cultivados destacam-se: feijão de corda, maracujá, macaxeira, milho,
quiabo, melancia, acerola, entre outros. Só que essa imagem é vista apenas nas áreas
irrigadas e nas outras onde não se tem a irrigação a imagem é bem diferente (figura 5).
Figura 6: Assentamento Jacaré-Curituba
O assentamento Jacaré-Curituba já existe há quatorze anos, no entanto a
agricultura irrigada foi implantada a pouco mais de um ano. Antes da chegada do
projeto o cotidiano das pessoas era semelhante ao dos moradores do assentamento
Nossa Senhora Aparecida. Foi possível observar por meio das comparações feitas que
cada política pública de maneira diferente atende as necessidades de cada região. Uma
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política pública tem como objetivo o armazenamento de água e a outra o
desenvolvimento da agricultura irrigada.
Uma política bem orientada de investimentos públicos e privada
poderia melhorar consideravelmente a exploração dos recursos e das
possibilidades naturais aí existentes, assim como elevar o nível de
vida da população. A eletrificação rural, a irrigação, a assistência
técnico-agronômica e creditícia e a industrialização, podem abrir
perspectivas, que modificariam e dinamizariam uma área extensa e
muito povoada, sobretudo quando for feita a organização do porto
regional (CORREIA, 1969, p.112).
Foi possível notar que a água é um bem estratégico para o desenvolvimento do
Nordeste, sendo um mecanismo escasso para a economia, mas que tem uma grande
importância para o desenvolvimento do semiárido nordestino, sendo importante seu uso
na melhoria da vida do homem sertanejo.
Procedimentos metodológicos
O presente trabalho teve por objetivo entender como são desenvolvidas as
políticas publicas desenvolvidas nos assentamentos Nossa Senhora Aparecida e JacaréCurituba e quais foram às mudanças ocorridas nessas regiões isso sendo possível
através da entrevista, pois as pessoas poderão relatar as melhorias obtidas e o que
precisa ser melhorado. Utilizou-se o método dialético, na busca das contradições e
comparações.
Para isso trabalhamos com a pesquisa de gabinete e pesquisa de campo com o
objetivo de interpretar fenômenos e os atribuir significados através da coleta de dados e
do tipo exploratória, que procuramos trazer familiaridade entre o pesquisador e o
problema estudado. Já que, “conceber o mundo numa visão dialética é conceber que
tudo flui. Tudo é em movimento, nada dura para sempre” (SUERTEGARAY,
1999.p.11).
Considerações preliminares
A partir de nossas considerações foi possível observar que as políticas são
fundamentais para o desenvolvimento dos assentamentos por nos visitados. No
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assentamento de Nossa Senhora Aparecida à política desenvolvida foi de
armazenamento de água, foi possível observar que essa política ainda não supre
totalmente as necessidades e problemas por eles enfrentados.
Já no assentamento Jacaré-Curituba a política utilizada é a de desenvolvimento
da agricultura familiar transformando seu cotidiano e poder aquisitivo. Além das
pessoas não mais sentirem as dificuldades ocasionadas pela seca, pois possui água
potável e por isso podem produzir o ano inteiro.
Então foi possível notar em nossa pesquisa a diferença entre as cisternas e a irrigação,
cada uma de maneira diferente atendendo as necessidades de uma maneira parcial ou
total. Não podemos dizer que uma política é superior a outra já elas são criadas em
períodos diferentes e com objetivos diferentes, mas de uma maneira geral tentam
amenizar as dificuldades provenientes do período de estiagem.
E como diz Correia
O homem esta sempre presente, transformando a paisagem,
enfrentando as difíceis alternativas fornecidas pelas condições naturais
e também degradando a natureza. Sua forma de vida e suas atividades
profissionais variam de uma área para outra, em uma luta permanente
para capacitar a natureza a atender às suas necessidades. (CORREIA,
1969, p. 106).
Então o Nordeste antes considerado uma “região problema” hoje possui uma
resolução, isso é possível através da implantação de políticas públicas e o homem antes
vulnerável a seca passa a ganhar autonomia e começa a mudar a visão até então
estereotipada na propagação de noticias sensacionalista.
Referências:
ANDRADE, Manoel Correia de. Paisagens e problemas do Brasil. 2º edição. Editora
Brasiliense, 19969.
AMADO, Jorge. Gabriela Cravo e Canela. 1º edição. São Paulo: Livraria Martins
Editora, 1958.
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AMORIM, Cassiano C. Discutindo o conceito de região. Revista on-line Estação
Científica, v. 4, p. 1-19, 2007.
CANO, Wilson, 1937- Desequilíbrios regionais e concentração no Brasil 1930-1970.
3º edição- São Paulo: Editora UNESP, 2007.
CUNHA, Euclides da. Os Sertões Campanha de Canudos. 4º edição. Editora Martin
Claret Ltda. 2002.
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. Desigualdades
Regionais. Salvador: SEI 2004. 274 p. (série estudos e pesquisas, 67).
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