A família Costa e a Santa Casa da Misericórdia do Porto
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Curiosamente são as imagens do tio avô que mais a influenciam, tornando-se
também ela numa especialista da pintura de flores66. Por vezes os seus quadros eram
confundidos com os de António José da Costa, tal era, na verdade, a semelhança
de estilo que apresentavam67.
Mas se a carreira de Margarida Costa conhece grande êxito nesse final da primeira
década do século, já a sua vida pessoal vai resvalando para a amargura. Em 1910,
separa-se do marido, o escultor aveirense José da Maia Romão Júnior68, facto que
marcará negativamente a sua vida.
Diogo de Macedo, que a conheceu por esta altura, guardou dela a imagem de
uma mulher bela e distinta, de alta nobreza moral e de melancólico sorriso69.
Regressa à casa de Belos Ares70 e alguns anos depois obterá o divórcio71, conseguindo que as duas filhas, Fernanda e Clotilde ficassem a viver consigo.
Em 1918, participa na décima quinta exposição da Sociedade Nacional de BelasArtes, apresentando três quadros: Rosas, Fructa e Cosinha na aldeia72.
Após a morte da mãe e do pai é ela quem fica a cuidar do velho tio, sempre tímido
e sorridente, parecendo disposto a sobreviver a tudo e a todos.
Margarida Costa, entretanto não pára de pintar, nem de dar aulas de desenho,
formando com as suas proficientes lições, uma brilhante pleiade de noveis artistas, ensinandolhes e apontando-lhes, com carinho e talento, os segredos, a beleza e o espiritualismo da arte
de pintura73. Mas em 1929, até o velho António José deixa Belos Ares para sempre.
Margarida cobriu-lhe de lagrimas e de flores o cadáver74.
Em 1935 apresentou na Grande Exposição dos Artistas Portugueses um pastel,
intitulado Lírios dos Alpes. No mesmo evento, viu participar a sua filha Fernanda,
que expôs uma Mulher Fiando75.
À uma hora do dia 22 de Fevereiro de 1937, na Rua de Belos Ares, 157, Freguesia
de Ramalde, Maria Margarida Costa, que em tempos assinava Maria Margarida Costa
Romão não conseguiu resistir mais ao tempo e aos desgostos. Não completara 56 anos.
Alguém afirmou mais tarde, que a sua obra reflectiu um sentimento, profundo e
raro, de serenidade e de paz76.
66
OLIVEIRA, 2006: 307.
LEMOS, 1906: 166,167; MOURA, 1910: 31.
68 BASTO, Artur de Magalhães – Certidão de Acção Especial de Separação de Pessoas e Bens, Porto 11 de Fevereiro
de 1949, Arquivo D. Margarida Reis.
69 MACEDO, 1947: 92.
70 Enquanto esteve casada, Margarida Costa habitou uma casa modesta na rua João de Deus, onde o marido tinha o
atelier montado num barracão no terreiro do quintal (MACEDO, 1947: 91).
71 TORRES, Alexandre Henrique – Certidão de escritura (Declaração de Sucessão por óbito de Maria Margarida
Costa), Porto, 20 de Junho de 1949, Arquivo D. Margarida Reis.
72 Sociedade Nacional de Belas-Artes, Decima Quinta Exposição, 1918, Lisboa, 1918, p. 24 (catálogo).
73 ANÓNIMO, 1938a: 3.
74 BURITY, Braz – Oração ao Santo Costa das Flores, Ao abrir a Exposição póstuma da sua obra, no Salão Silva Porto. Em
9 de Março de 1930, p. 13, Arquivo D. Margarida Reis.
75 Catálogo da Grande Exposição dos Artistas Portugueses, Trabalhos oferecidos para o Grande Sorteio Nacional de Arte
cujo produto reverte para os três monumentos a Silva Porto, Henrique Pousão e Artur Loureiro a ofertar à Cidade do Porto,
1935, Imprensa Portuguesa, Porto, p. 22.
76 ANÓNIMO, 1938b: 2.
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147 Curiosamente são as imagens do tio avô que mais a