LUIZ EDUARDO FONTES MELLO DE ALMEIDA
CIDADES DIGITAIS:
UMA METODOLOGIA PARA IMPLANTAÇÃO
Dissertação
submetida
ao
Programa
de
Mestrado de Telecomunicações da Escola de
Engenharia
da
Universidade
Federal
Fluminense como requisito parcial para a
Orientador: Prof. Dr. CARLOS ALBERTO MALCHER BASTOS
Niterói
2010
ii
iii
LUIZ EDUARDO FONTES MELLO DE ALMEIDA
CIDADES DIGITAIS:
UMA METODOLOGIA PARA IMPLANTAÇÃO
Dissertação
submetida
ao
Programa
de
Mestrado de Telecomunicações da Escola de
Engenharia
da
Universidade
Federal
Fluminense como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre.
Aprovada em 8 de outubro de 2010.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
CARLOS ALBERTO MALCHER BASTOS, D.Sc. – Orientador.
Universidade Federal Fluminense
_________________________________________________
ANILTON SALLES GARCIA, D.Sc.
Universidade Federal do Espírito Santo
_________________________________________________
JOÃO MARCOS MEIRELLES DA SILVA, D.Sc.
Universidade Federal Fluminense
Niterói
2010
iv
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Malcher Bastos, pela confiança em mim
depositada e pela preciosa orientação, ao Prof. Dr. Hypolito Kalinowski que me
introduziu na pesquisa, à CAPES, pelo incentivo à pesquisa, aos amigos do
GTECCOM e do MIDIACOM, especialmente ao Prof. Milton Flores e a minha família.
v
RESUMO
Neste trabalho, é realizada a conceituação de uma Cidade Digital, descrita a
abordagem tradicional para a sua construção, seus objetivos, tecnologias,
aplicações e desafios. São também apresentados exemplos de Cidades Digitais no
Brasil e no mundo. O custo e o esforço da implantação de Cidades Digitais são
justificados através da descrição dos benefícios trazidos pela banda larga e pela
inclusão digital, com dados do Brasil e do mundo.
É apresentada uma proposta de metodologia para auxiliar na implantação de
uma cidade digital discutindo modelos técnicos e de negócios para garantir o
funcionamento dos serviços e das aplicações, assim como a sustentabilidade de
todo o projeto.
Para a validação da metodologia, é apresentado um projeto real onde, a partir
de um diagnóstico das telecomunicações do governo municipal de uma cidade,
descobriu-se que era possível a implantação de uma Cidade Digital apenas com os
recursos disponíveis e parte da economia gerada pela diminuição dos custos da
telefonia no novo ambiente.
Palavras-chave: cidade digital, inclusão digital, banda larga, Internet
vi
ABSTRACT
In this dissertation, it held the concept of a Digital City, described the
traditional approach to its construction, its objectives, technologies, applications and
challenges. We also present examples of Digital Cities in Brazil and worldwide. The
cost and effort of deploying Digital Cities are justified by describing the benefits
brought by broadband and digital inclusion, with data from Brazil and the world.
It presents a proposed methodology to assist in the implementation of a digital
city discussing technical and business models to ensure the operation of services
and applications as well as the sustainability of any project.
To validate the methodology, presents a real project where, from a diagnosis
of telecommunications of the municipal government of a city, it was discovered that it
was possible the deployment of a Digital City with only the resources available and
part of the savings generated by decrease the cost of telephony in the new
environment.
Keywords: Digital City, Digital Divide, broadband, Internet.
vii
SUMÁRIO
1
2
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 17
1.1
Desafios de uma Cidade Digital ............................................................................................. 17
1.2
Motivação do Desenvolvimento desta dissertação .............................................................. 18
1.3
Objetivo Geral ....................................................................................................................... 18
1.4
Objetivos específicos ............................................................................................................. 19
1.5
A metodologia de desenvolvimento desta dissertação ........................................................ 19
1.6
Os principais resultados do trabalho .................................................................................... 20
1.7
A organização do texto.......................................................................................................... 20
CONTEXTUALIZAÇÃO ..................................................................................................................... 23
2.1
Conceituação ......................................................................................................................... 23
2.2
Situação Atual da Banda Larga no Brasil ............................................................................... 25
2.2.1
2.3
Importância da Banda Larga ................................................................................................. 29
2.4
O Sistema Brasileiro de TV Digital ......................................................................................... 31
2.4.1
2.5
3
4
Novas Metas de Universalização ................................................................................... 28
A interatividade ............................................................................................................. 32
Cidades Digitais no Brasil e no Mundo .................................................................................. 34
2.5.1
Amsterdam .................................................................................................................... 34
2.5.2
São Francisco e Vale do Silício ....................................................................................... 36
2.5.3
Piraí Digital .................................................................................................................... 37
2.5.4
Conclusões..................................................................................................................... 39
TRABALHOS RELACIONADOS ......................................................................................................... 41
3.1
Modelo para a América Latina .............................................................................................. 41
3.2
Modelo para a Grécia ............................................................................................................ 45
3.3
Modelo do Governo de Minas Gerais ................................................................................... 50
3.4
Licitação de Cidade Digital do Ministério das Comunicações ............................................... 53
3.5
Comparação entre os modelos apresentados ...................................................................... 54
ABORDAGENS TRADICIONAIS ADOTADAS NA CONSTRUÇÃO DE CIDADES DIGITAIS.................... 57
4.1
Telecentros ............................................................................................................................ 57
4.2
Aplicações.............................................................................................................................. 58
4.2.1
Aplicações de Vídeo ...................................................................................................... 58
4.2.2
Sistemas Corporativos do Governo ............................................................................... 61
viii
4.2.3
Serviços públicos disponíveis aos cidadãos................................................................... 62
4.2.4
Telefonia IP e VoIP......................................................................................................... 62
4.2.5
Rádio Móvel Profissional ............................................................................................... 64
4.3
4.3.1
Backbone ou Backhaul .................................................................................................. 65
4.3.2
Distribuição ................................................................................................................... 67
4.3.3
Acesso............................................................................................................................ 68
4.4
5
Arquitetura de Cidade Digital ................................................................................................ 65
Tecnologias ............................................................................................................................ 69
4.4.1
aDSL – asymmetrical Digital Subscriber Line ................................................................. 69
4.4.2
PLC – Power Line Communication................................................................................. 72
4.4.3
IEEE 802.11 - Wireless Local Area Network .................................................................. 75
4.4.4
WiMAX........................................................................................................................... 79
4.4.5
TETRA - Terrestrial Trunked Radio ................................................................................. 83
4.4.6
Redes de Telefonia Celular ............................................................................................ 86
4.4.7
Conclusão ...................................................................................................................... 86
METODOLOGIA DE IMPLANTAÇÃO ............................................................................................... 88
5.1
Estabelecimento dos objetivos ............................................................................................. 89
5.2
Levantamento de informações do município ....................................................................... 90
5.3
Definição do Público Alvo...................................................................................................... 92
5.4
Definição das Aplicações ....................................................................................................... 92
5.5
Definição dos Serviços ........................................................................................................... 93
5.6
Definição do Modelo Econômico .......................................................................................... 95
5.6.1
Cobrança dos serviços ................................................................................................... 96
5.6.2
Autossustentabilidade................................................................................................... 97
5.6.3
Locais de acesso público ............................................................................................... 98
5.6.4
Previsão dos benefícios ................................................................................................. 99
5.7
Definição do Modelo Técnico.............................................................................................. 100
5.7.1
Acesso.......................................................................................................................... 101
5.7.2
Distribuição ................................................................................................................. 102
5.7.3
Backhaul ...................................................................................................................... 103
5.7.4
Data Center ................................................................................................................. 103
5.8
Definição do Modelo de Gestão.......................................................................................... 105
5.8.1
Obtenção de Recursos................................................................................................. 105
5.8.2
Construção da Cidade Digital ...................................................................................... 107
ix
5.8.3
Operação da Cidade Digital ......................................................................................... 107
5.8.4
Monitoração ................................................................................................................ 108
5.8.5
Segurança Lógica ......................................................................................................... 109
5.8.6
Captive Portal .............................................................................................................. 110
5.9
Levantamento da Infraestrutura existente ......................................................................... 111
5.10
Localização geográfica......................................................................................................... 112
5.11
Ferramentas ........................................................................................................................ 112
5.11.1
Radio Mobile ............................................................................................................... 112
5.11.2
GPS – Global Positioning System................................................................................. 113
5.11.3
Google Earth ................................................................................................................ 113
5.11.4
Analisador de espectro................................................................................................ 114
5.12
Implantação, homologação e disponibilização para o uso ................................................. 115
6 ESTUDO DE CASO: VIABILIZAÇÃO ECONÔMICA DE UMA ESTRUTURA DE CIDADE DIGITAL A
PARTIR DA REDUÇÃO DE CUSTOS DO USO DA TELEFONIA PELO GOVERNO MUNICIPAL .................. 117
6.1
6.1.1
Levantamento e Caracterização da Situação Atual ..................................................... 118
6.1.2
Análise dos Dados Coletados ...................................................................................... 119
6.1.3
Elaboração das Recomendações ................................................................................. 120
6.1.4
Elaboração e seleção dos cenários compatíveis com os objetivos da Organização ... 121
6.1.5
Elaboração dos Planos de Ação ................................................................................... 121
6.1.6
Seleção e detalhamento do cenário vencedor............................................................ 122
6.2
7
Metodologia de trabalho Adotada ...................................................................................... 117
Caso da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro ................................................................. 122
6.2.1
Levantamento e Caracterização da Situação Atual ..................................................... 122
6.2.2
Análise dos Dados Coletados ...................................................................................... 127
6.2.3
Elaboração das Recomendações ................................................................................. 130
6.2.4
Elaboração e seleção dos cenários compatíveis com os objetivos da Organização; .. 131
6.2.5
Elaboração dos Planos de Ação ................................................................................... 138
6.2.6
Seleção e detalhamento do cenário vencedor............................................................ 145
CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS .............................................................. 148
7.1
Conclusões........................................................................................................................... 148
7.2
Sugestões de trabalhos futuros........................................................................................... 149
7.2.1
Cidade Digitais em Municípios limítrofes .................................................................... 149
7.2.2
Contabilização de utilização de recursos .................................................................... 149
7.2.3
Projeto e localização de equipamentos de rede sem fio ............................................ 150
x
7.2.4
8
Gestão de Cidades Digitais .......................................................................................... 150
Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 151
ANEXO I – Marco Regulatório Brasileiro ............................................................................................. 156
ANEXO II - Programas de Incentivo no Brasil ...................................................................................... 163
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Penetração de acessos Banda Larga por região. .................................................................... 27
Figura 2: Diagrama esquemático de um Sistema de TV Digital [30] ..................................................... 32
Figura 3: Interface 1.0 da DDS ............................................................................................................... 35
Figura 4: Interface 3.0 da DDS ............................................................................................................... 35
Figura 5: Diagrama da rede atual de Piraí ............................................................................................. 39
Figura 6: infraestrutura sem fio e com fio 2003. Fonte: Banco Mundial .............................................. 42
Figura 7: Modelo para a adoção de Celular x WiFi em acessos de banda larga [5] .............................. 44
Figura 8: Adoção de Celular 3G x WiFi (México, 2008) ......................................................................... 44
Figura 9: Os níveis básicos de modelos de negócios [3] ....................................................................... 47
Figura 10: Os cenários de modelos de negócios para a Grécia [3] ....................................................... 49
Figura 11: O modelo de negócios proposto [3]..................................................................................... 50
Figura 12: Projeto típico de Cidade Digital do Governo de Minas Gerais [33] ..................................... 52
Figura 13: Rede Corporativo-Comunitária [33] ..................................................................................... 54
Figura 14: Câmera de vídeo com equipamento de rádio WiMAX ........................................................ 59
Figura 15: Software de Reconhecimento Facial .................................................................................... 60
Figura 16: Backbone Nacional ............................................................................................................... 67
Figura 17: Exemplo de distribuição e acesso ........................................................................................ 68
Figura 18: Espectro de potência do aDSL [40] ...................................................................................... 71
Figura 19: Distância x vazão máxima no aDSL [40] ............................................................................... 71
Figura 20: Arquitetura do Sistema PLC [40] .......................................................................................... 73
Figura 21: PLC como "last inch" [40] ..................................................................................................... 74
Figura 22: Redes Ad-Hoc e com infraestrutura [42].............................................................................. 76
Figura 23: ESS Extended Service Set [42] ............................................................................................... 76
Figura 24: Representação dos canais 802.11 na banda de 2,4 GHz [42] .............................................. 78
Figura 25: A família IEEE 802 e sua relação com o modelo OSI [42] ..................................................... 78
Figura 26: Reconhecimento dos quadros transmitidos [42] ................................................................. 79
Figura 27: Tipos de sistemas WiMAX [43] ............................................................................................. 80
Figura 28: WiMAX Móvel [43] ............................................................................................................... 80
Figura 29: Camadas de Protocolo do WiMAX [43] ................................................................................ 81
Figura 30: área de serviço do WIMAX [43]............................................................................................ 82
Figura 31: Eficiência espectral do WiMAX [43] ..................................................................................... 83
Figura 32: Crescimento cumulativo de contratos TETRA no mundo [37] ............................................. 84
Figura 33: Interfaces de rede do padrão TETRA [38] ............................................................................ 84
Figura 34: Faixa de Renda ..................................................................................................................... 96
Figura 35: Faixa de Renda x Densidade Populacional ........................................................................... 98
Figura 36: modelo técnico ................................................................................................................... 100
Figura 37: Utilização de circuito dedicado à Internet.......................................................................... 109
Figura 38: Exemplo de Enlace de rádio projetado através do software Radio Mobile ....................... 113
Figura 39: Representação dos enlaces de rádio entre o Corcovado, a Escola de Engenharia da UFF e o
Morro da Boa Vista através do Google Earth...................................................................................... 114
xii
Figura 40: Imagem de espectro de rádio na faixa de 5 GHz obtida através do software Chanalyzer e
hardware WiSpy. ................................................................................................................................. 115
Figura 41: Redecomep Estendida ........................................................................................................ 129
Figura 42: Cenário Futura da RC-Híbrida............................................................................................. 137
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Total de conexões de Banda Larga no Brasil ......................................................................... 26
Tabela 2: Países com a maior quantidade de acessos de banda larga no mundo ................................ 27
Tabela 3: Densidade de Banda Larga (por 100 hab.) ............................................................................ 29
Tabela 4: Magnitude estimada do impacto da Banda Larga ................................................................. 30
Tabela 5: Comparação das tecnologias 3G celular x WiFi ..................................................................... 42
Tabela 6: Características básicas de modelos de negócios [3].............................................................. 46
Tabela 7: comparação dos modelos local e regional para a implantação da banda larga [3] .............. 48
Tabela 8: Responsabilidades definidas no Modelo de Negócios [33] ................................................... 51
Tabela 9: Característica do Modelo do Programa Minas Digital........................................................... 51
Tabela 10: Recursos do Projeto de Cidade Digital [33] ......................................................................... 54
Tabela 11: Padrões associados às tecnologias xDSL ............................................................................. 70
Tabela 12: Principais padrões da família 802.11 ................................................................................... 77
Tabela 13: comparação do WiFi com o WiMAX .................................................................................... 81
Tabela 14: Modulação, largura de banda e vazão dos canais ............................................................... 85
Tabela 15: Serviços x Usuários .............................................................................................................. 95
Tabela 16: Modelo de Aplicações e de Serviços ................................................................................... 95
Tabela 17: Modelo Econômico .............................................................................................................. 99
Tabela 18: Modelo Técnico ................................................................................................................. 104
Tabela 19: Fonte de recursos .............................................................................................................. 106
Tabela 20: Modelo de Gestão ............................................................................................................. 111
Tabela 21: Quantidade de recursos de telefonia na PCRJ................................................................... 123
Tabela 22: Comparação entre a solução PV e a RC-Híbrida ................................................................ 145
Tabela 23: Resumo da redução de custos em telefonia ..................................................................... 146
Tabela 24: Resoluções ANATEL sobre WiMAX .................................................................................... 159
Tabela 25: Prazos para a instalação do backhaul................................................................................ 160
Tabela 26: Capacidades mínimas de transmissão do backhaul .......................................................... 160
Tabela 27: Composição do Kit Telecentro........................................................................................... 164
Tabela 28: Participação do BNDES no PMAT ...................................................................................... 167
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS
aDSL
asymmetrical Digital Suberscriber Line
ANATEL
Agência Nacional de Telecomunicações
ANEEL
Agência Nacional de Energia Elétrica
AP
Access Point
AU
Access Unit
BS
Base Station
BSS
Basic Service Set
CAPEX
Capital Expenditure
CDMA
Code Division Multiple Access
CNMI
Central Network Management Interface
CSMA/CA
Carrier Sense Multiple Access with Collision Avoidance
CSMA/CD
Carrier Sense Multiple Access with Collision Detection
DMO
Direct Mode Operation
DOU
Diário Oficial da União
DSLAM
Digital Subscriber Line Access Multiplexer
DSSS
Direct-Sequence Spread-Spectrum (DSSS) link layer
DTED
Digital Terrain Elevation Data
DTN
Delay Tolerant Network
DWDM
Dense Wavelength Division Multiplexing
EaD
Ensino à Distância
ENEM
Exame Nacional do Ensino Médio
ERB
Estação Rádio Base
ETSI
European Telecommunications Standards Institute
EUA
Estados Unidos da América
EXPA
Equipe de Execução do Plano de Ação
FHSS
Frequency-Hopping Spread-Spectrum
FIRJAN
Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
FSK
Frequency Shift Keying
GESAC
Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão
GHz
Giga Hertz
GTECCOM
Laboratório de Gestão em Tecnologia da Informação e
xv
Comunicação
GTOPO30
Global Topographic Data
HR/DSSS
High-Rate / DSSS
Idec
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
ISI
Inter System Interface
LAN
Local Area Network
LOS
Line Of Sight
MCT
Ministério da Ciência e Tecnologia
MIMO
Multiple Input Multiple Output
Minicom
Ministério das Comunicações
MMI
Man Machine Interface
NLOS
No Line Of Sight
OECD
Organization for Economic Co-operation and Development
OFDM
Orthogonal Frequency-Division Multiplexing
ONG
Organização Não Governamental
OPEX
Operational Expenditure
OTE
the Hellenic Organization for Telecommunication
PABX
Private Automatic Branch Exchange
PDA
Personal Digital Assistant ou Handheld
PEI
Peripheral Equipment Interface
PGMU
Plano Geral de Metas para a Universalização do serviço
telefônico fixo comutado prestado no regime público
PLC
Power Line Communication
PME
Pequenas e Médias Empresas
PMR
Private / Professional Mobile Radio
PON
Passive Optical Network
PoP
Point-of-Presence
PST
Postos de Serviços de Telecomunicações
RDSI
Rede Digital de Serviços Integrados
Redecomep Redes Comunitárias de Ensino e Pesquisa
RFI/C
Request for Information and Content
RFC
Request for Coments
RFP
Request for Proposal
xvi
RNP
Rede Nacional do Ensino e Pesquisa
RTPC
Rede Telefônica Pública Comutada
SBTVD
Sistema Brasileiro de Televisão Digital
SCM
Serviço de Comunicação Multimídia
SDH
Synchronous Digital Hierarchy
SLP
Serviço Limitado Privado
SME
Secretaria Municipal de Educação
SRTM
Shuttle Radar Topography Mission
SS
Subscriber Station
STFC
Serviço de Telefonia Fixa Comutada
SU
Subscriber Unit
TETRA
Terrestrial Trunked Radio
TETRA
The TETRA Memorandum of Understanding
MoU
TIC
Tecnologias da Informação e Comunicação
UCA
Um Computador por Aluno
UFF
Universidade Federal Fluminense
URA
Unidade Remota de Assinante
WiFi
Wireless Fidelity
WiMAX
Worldwide Inter-operability for Microwave Access
WLAN
Wireless Local Area Network
WMAN
Wireless Metropolitan Area Network
ZIP
Zoning Improvement Plan
17
1 INTRODUÇÃO
1.1 Desafios de uma Cidade Digital
Atualmente, o Brasil possui diversas operadoras e provedores que
disponibilizam acessos à Internet, por diversos meios e tecnologias como fibra
óptica, satélite, aDSL - asymmetrical Digital Suberscriber Line, rádio e via a rede de
telefonia celular. Aliado a isso, observa-se um grande crescimento do acesso à
Internet demonstrando que há uma grande demanda para esse tipo de serviço.
Pode-se então imaginar que a quantidade de acessos à Internet cresce no país,
impulsionada pelos benefícios alcançados, sem a necessidade de projetos de
incentivo do governo, mas, no caso brasileiro, surgem diversos problemas de
solução mais complexa:
• Locais distantes, como na Amazônia, não recebem banda de Internet de
qualquer forma exceto por satélite;
• Cidades no interior do país que, embora recebam banda de Internet, a mesma
é restrita (baixa taxa de transmissão) por falta de interesse comercial de
provedores, pois, em princípio, a demanda não justifica os custos para a
atualização dos recursos instalados;
• Cidades que, embora existam diversos provedores de acesso à Internet,
possuem áreas sem cobertura de Internet, pois a renda dos moradores
dessas áreas não cria um atrativo comercial aos provedores. A esses locais,
podemos chamar de “Buracos Negros Digitais”;
• Parte da população que, embora resida em local onde há cobertura de acesso
à Internet, não possui condições financeiras para contratar o serviço;
18
• Locais com baixa densidade populacional não tem Internet por falta de
interesse comercial (falta de escala) de prestadores em implantar uma
infraestrutura para poucos usuários.
Fora esses problemas citados, voltados para a rede de acesso à Internet, a
falta de condições financeiras da população para a aquisição de computadores
também pode diminuir o crescimento da Internet no país. Uma barreira mais sutil
pode ser causada pela falta de instrução de parte da população que pode, nem ao
menos consegue enxergar os benefícios trazidos pelo acesso a rede mundial de
computadores, que, por isso, não se esforça para acessá-la.
1.2 Motivação do Desenvolvimento desta dissertação
O histórico das cidades digitais mostra que algumas delas tiveram seu
funcionamento encerrado [2], quando o esperado era o seu crescimento. Outras,
têm seu foco apenas na inclusão digital, quando a possibilidade de serviços é
bastante extensa.
Participando de eventos de Cidades Digitais, é possível notar a existência de
um grande contingente de prefeitos, secretários municipais e técnicos com o
interesse em conhecer e implantar esse tipo de projeto em seu município, mas ainda
sem o conhecimento do significado de uma “Cidade Digital”, seus benefícios, riscos,
custos e o caminho para alcançá-la.
Um elemento motivador do desenvolvimento dessa dissertação é elaborar um
modelo de implantação de Cidade Digital e, principalmente, uma metodologia para
alcançá-la, que se mostre sustentável e sirva como uma infraestrutura para diversos
serviços existentes ou que ainda venham a ser criados. Espera-se que esta
dissertação se torne uma ferramenta útil para quem deseja conhecer e implantar
uma Cidade Digital.
1.3 Objetivo Geral
O objetivo geral deste trabalho é o desenvolvimento de uma metodologia
genérica para a implantação de Cidades Digitais, através das boas práticas da
engenharia, substituindo os métodos empíricos atualmente utilizados para o projeto
19
de uma cidade digital, podendo ser adaptados às condições locais – econômicas,
geográficas, objetivos do governo – cobrindo inclusive as áreas de mais baixo poder
aquisitivo e baixa densidade demográfica, onde a solução deste tipo de problema é
mais complexa.
1.4 Objetivos específicos
Os objetivos específicos deste trabalho são:
• Definição de Cidade Digital;
• Orientar o estabelecimento dos objetivos de uma Cidade Digital;
• Descrição das principais aplicações e seus benefícios em uma Cidade Digital;
• Descrição das principais tecnologias utilizadas em uma Cidade Digital;
• Detalhamento de um modelo de implantação de Cidade Digital e metodologia
baseado nas melhores práticas da engenharia;
• Aglutinar em um só documento assuntos relacionados a Cidade Digital,
incluindo as principais tecnologias, fontes de financiamento e metodologia de
implantação.
1.5 A metodologia de desenvolvimento desta dissertação
A metodologia utilizada no desenvolvimento desta dissertação consiste de:
• Pesquisa na literatura científica de projetos, modelos e metodologia de
implantação de cidades digitais;
• pesquisa de casos implantados de cidade digital no mundo e, principalmente,
no Brasil;
• análise dos problemas encontrados nas diversas implantações estudadas,
análise de oportunidades técnicas (novas tecnologias ou antigas a preços
agora
acessíveis)
e
econômicas
(incentivos
do
governo
surgidos
ultimamente);
• busca de possibilidade de redução de custos e aumento de receitas das
prefeituras, elaboração de uma metodologia, desenvolvimento do modelo,
implantação/simulação do modelo.
20
A participação em eventos voltados para o tema de Cidade Digital foi uma
componente fundamental para a consecução desta dissertação, principalmente no
entendimento das dificuldades dos responsáveis nos municípios pela implantação de
projetos de Cidades Digitais.
1.6 Os principais resultados do trabalho
Os principais resultados desta dissertação são a conceituação de Cidade
Digital, a descrição das possibilidades de aplicações e as tecnologias que as
suportam e, principalmente, a proposta de uma metodologia para diminuir os riscos
e auxiliar na obtenção de um projeto com melhor relação de custo/benefício,
adequação às necessidades locais e maior vida útil da rede e dos serviços.
Apresenta também o caso real onde, em um projeto municipal de redução de custos
em telefonia, identificou-se que a possível redução seria suficiente para a
implantação de uma Cidade Digital.
1.7 A organização do texto
O capítulo 2 - CONTEXTUALIZAÇÃO apresenta a conceituação do tema de
Cidade Digital, descreve a situação atual de banda larga no Brasil, detalha a
importância da banda larga no desenvolvimento local e exemplifica algumas Cidades
Digitais no Brasil e no mundo, com ênfase a Amsterdam, primeira cidade digital no
mundo. O capítulo 3 - TRABALHOS RELACIONADOS descreve os modelos de
cidades digitais encontrados na literatura técnica e modelos propostos pelo governo
no Brasil. O capítulo 4 - ABORDAGENS TRADICIONAIS ADOTADAS NA
CONSTRUÇÃO DE CIDADES DIGITAIS descreve os Telecentros, embrião das
cidades digitais, as aplicações e tecnologias utilizadas nas cidades digitais, assim
como a sua arquitetura básica. O capítulo 5 – METODOLOGIA DE IMPLANTAÇÃO
descreve os passos para o projeto e a implantação da cidade digital. O capítulo 6 ESTUDO DE CASO: VIABILIZAÇÃO ECONÔMICA DE UMA ESTRUTURA DE
CIDADE DIGITAL A PARTIR DA REDUÇÃO DE CUSTOS DO USO DA TELEFONIA
PELO GOVERNO MUNICIPAL onde, em um caso real, identificou-se que a
economia dos custos da telefonia do governo municipal, juntamente a recursos já
existentes ou planejados, seria suficiente para viabilizar a implantação de uma
Cidade Digital. O capítulo 7 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS
21
FUTUROS encerra a dissertação e apresenta as possibilidades de continuação de
pesquisa neste tema.
O
22
ANEXO I – Marco Regulatório Brasileiro descreve as leis e normas
relacionadas à implantação de cidades digitais. 0 - ANEXO II - Programas de
Incentivo no Brasil descreve os principais programas governamentais que podem
auxiliar, direta ou indiretamente na implantação de cidades digitais.
23
2 CONTEXTUALIZAÇÃO
2.1 Conceituação
O conceito de Cidade Digital existe desde 1994 com o planejamento e a
posterior implantação na cidade de Amsterdam da DDS – De Digitale Stadt [1]. Mas,
o que pode ser entendido como uma Cidade Digital?
É comum o entendimento de Cidade Digital estar associado a Inclusão Digital
e a tecnologia de redes sem fios, especialmente WiFi, embora os objetivos possam
ser bem mais amplos e inúmeras outras tecnologias possam ser utilizadas.
O conceito de Cidade Digital pode ser entendido de quatro formas principais:
1. Provimento de acesso sem fio à Internet para toda a comunidade, sem
depender de serviços oferecidos por operadoras de telecomunicações [58]. O
acesso normalmente é gratuito e por tecnologia de rede sem fio servindo
como uma das mais importantes ferramentas de inclusão digital;
2. Existência de uma rede municipal de comunicação de dados ubíqua, através
da qual o governo municipal pode processar suas aplicações e disponibilizar
informações às empresas e aos munícipes. A rede possui características de
garantia de QoS (Quality of Service) para suportar aplicações em Portal para
o cidadão, telefonia sobre VoIP (Voice over IP), imagens de segurança, de
monitoração de trânsito, entre outras;
3. É a aplicação do conceito de “Terra Digital” no âmbito de uma cidade [15]. Em
[16], encontra-se descrito o conceito de Terra Digital como uma nova onda de
inovação tecnológica que permite capturar, armazenar, processar e exibir
uma quantidade sem precedentes de informações sobre o planeta e uma
24
grande variedade de fenômenos, tanto do meio ambiente quanto culturais.
Muitas dessas informações serão georreferenciadas;
4. Portais Web usando cidades físicas como uma metáfora para information
spaces [19]. Através deles, cidadãos e visitantes podem acessar serviços
administrativos do governo, obter informações sobre a infraestrutura física da
cidade, participar de comunidades sociais e realizar negócios.
O conceito de Cidade Digital pode ser ampliado em vários sentidos:
• Tipo da área coberta – quando há acesso às redes em áreas rurais, pode-se
estender o conceito para Município Digital. As pessoas e os negócios de
áreas rurais podem necessitar do acesso à Internet mais do que os residentes
nas cidades, compensando o isolamento físico a locais como escolas, lojas,
empresas e órgãos do governo;
• Geográfico – Não apenas uma cidade ou município, o conceito pode englobar
uma metrópole com vários municípios, estados, país ou mesmo todo o
planeta1;
• Infraestrutura de rede – diversas tecnologias, além do WiFi, podem ser
utilizadas para a implantação de cidades digitais, como aDSL (asymmetrical
Digital Suberscriber Line), PLC (Power Line Communication) e PON (Passive
Optical Network);
• Aplicação – além do acesso à Internet, uma cidade digital pode ser utilizada
para aplicações de gestão do município – trânsito, segurança, limpeza, saúde
e educação – e aplicações privadas;
• Abrangência governamental – mais do que servir a uma cidade ou município,
os estados ou o governo federal podem se beneficiar de uma cidade digital. A
cobertura da União Européia seria um exemplo abrangência ainda mais
ampla;
• Modelo de negócio – Além do acesso gratuito, alguns serviços podem ser
cobrados dos munícipes e de empresas;
1
No futuro, as viagens espaciais e as DTN – Delay Tolerant Network tornarão possível aumentar ainda mais a
abrangência do conceito de Cidade Digital [45].
25
• Utilização – não apenas para a utilização normal, mas também para
experimentos de cientistas e desenvolvedores em TIC – Tecnologia da
Informação e Comunicação;
• Modelo de Informações – a disponibilização de informações sobre o município
relacionadas através de diversos atributos como geográficos, temporais e
econômicos pode propiciar a criação de novas aplicações úteis ao
desenvolvimento local;
• Objetivo – inclusão digital, alavancar o desenvolvimento econômico, melhora
dos serviços prestados pelo governo, lazer e outros;
• Construção da rede – além da opção mais óbvia da construção da rede pelo
governo municipal, a mesma pode ser realizada pela iniciativa privada sob a
forma de concessão. O subsídio pode ser uma forma de incentivar
provedores a crescer a sua rede ao invés da criação de uma segunda rede;
• Gerência, operação e manutenção – pode ser realizado pelo governo ou
terceirizado para governos de outras cidades ou para a iniciativa privada;
2.2 Situação Atual da Banda Larga no Brasil
O Brasil, atualmente, possui pouco mais de 11 milhões de acessos de banda
larga, conforme mostra a Tabela 1, onde quase 70% deles são da tecnologia aDSL
seguido, de longe, dos acessos entregues por TV por assinatura e cerca de meio
milhão com acesso através de tecnologia de rádio. Frente ao total, a quantidade de
acessos via satélite (21 mil em 2007) [40] e de banda larga móvel das operadoras de
celular (4.618 mil no 1T09) [40] ainda é pouco significativa, onde o custo, no caso do
acesso satélite, juntamente com a disponibilidade, no caso das operadoras de
celular, parecem ser os maiores impedimentos para o seu crescimento. Existem
ainda conexões IP dedicadas utilizadas no mercado corporativo.
26
Tabela 1: Total de conexões de Banda Larga no Brasil
Tecnologia
1°
trim.
2008
2° trim. 3° trim. 4° trim. 1° trim. 2° trim. 3° trim.
2008
2008
2008
2009
2009
2009*
ADSL
(milhares)
5.936
6.322
6.706
7.001
7.256
7.494
7.588
TV Assinatura
(milhares)
1.943
2.100
2.431
2.589
2.680
2.835
3.020
Outros
(Rádio)
(milhares)
405
415
420
420
424
425
500
Total
(milhares)
8.284
8.837
9.557
10.010 10.360 10.754
11.108
4,39
4,67
5,04
Acessos/ 100
hab.
5,26
5,43
5,62
5,80
Fonte: Operadoras, ABTA e Teleco, não inclui satélite e IP dedicado
* Estimativa preliminar da Teleco - 2009.
Apesar de o Brasil estar na 9ª posição quando o critério é a quantidade de
acessos
de
banda
larga,
conforme
mostra a
Tabela
2,
a relação
de
aproximadamente 6 acessos por cada 100 habitantes, detalhado na Tabela 1, coloca
o Brasil longe do primeiro mundo, onde essa relação é acima de 30, conforme a
Tabela 3, e ainda abaixo da média mundial.
27
Tabela 2: Países com a maior quantidade de acessos de banda larga no mundo
Outro problema além da pouca quantidade de acessos para a população é
sua má distribuição. A Figura 1 mostra que a penetração dos acessos de banda
larga nas regiões nordeste e norte é muito mais baixa do que no resto do país. Esta
defasagem é facilmente explicada pelos baixos índices de renda dessas regiões,
tornando um mercado pouco atrativo às grandes operadoras de telecomunicações e
provedores de acesso à Internet.
Figura 1: Penetração de acessos Banda Larga por região.
Fonte: Atlas Brasileiro de Telecomunicações 2008
Embora o desafio do Brasil de levar o acesso à Internet a uma posição de
primeiro mundo seja enorme, o crescimento anual da quantidade de acesso
28
demonstrado na Tabela 2 (32,7% de 2007 para 2008) demonstra que o país
caminha nessa direção.
2.2.1
Novas Metas de Universalização
Uma das formas encontradas para acelerar a inclusão digital no Brasil foi a
troca da obrigação das concessionárias de telefonia fixa da implantação de
Telefones de Uso Público (TUPs) pelo compromisso de implantar infraestrutura de
banda larga a todos os municípios brasileiros. A ANATEL aprovou em 21 de
dezembro de 2007 a substituição dos Postos de Serviços de Telecomunicações
(PSTs) urbanos, previstos no Plano Geral de Metas para a Universalização (PGMU)
do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC) – por backhaul de banda larga [56].
Com a alteração, as concessionárias do serviço telefônico fixo deverão, até
dezembro de 2010, levar a rede de banda larga até a sede de todos os municípios
brasileiros e a cerca de três mil localidades. Os PSTs previstos em áreas rurais
serão mantidos. A proposta da ANATEL prevê que:
• 20% dos municípios sejam atendidos até junho de 2008;
• 40%, até dezembro de 2008;
• 80%, até dezembro de 2009;
• 100%, até dezembro de 2010.
A velocidade da banda larga deve ser no mínimo:
• 2 Mbps para localidades com até 5 mil habitantes;
• 4 Mbps para localidades com mais de 5 mil habitantes;
• 8 Mbps para municípios com até 20 mil habitantes;
• 16 Mbps para municípios com até 40 mil habitantes;
• 32 Mbps para municípios com até 60 mil habitantes;
• 64 Mbps para municípios acima de 60 mil habitantes.
As concessionárias também assumiram o compromisso de oferecer
gratuitamente acesso banda larga a 55 mil escolas públicas urbanas até 2025.
Através de carta à ANATEL [57], o IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor esclarece “Com essa troca, não foram impostas regras de
29
compartilhamento no uso desta infraestrutura: mesmo que existam redes locais já
instaladas (por pequenos provedores ou pelo próprio poder público local), as
concessionárias não serão obrigadas a interconectar sua infraestrutura com estas
redes para permitir o escoamento do tráfego, o que, na prática, induzirá a uma
situação onde estas redes locais passarão a competir em situação profundamente
desigual com os serviços de banda larga oferecidos pelas concessionárias de STFC.
O resultado previsível é de aumento da concentração, diminuição da concorrência e,
conseqüentemente, o estabelecimento de tarifas mais altas.”, previsão que parece
ser realista.
Tabela 3: Densidade de Banda Larga (por 100 hab.)
2.3 Importância da Banda Larga
O governo federal brasileiro tem uma grande preocupação com a inclusão
digital da população, por isso, lançou diversos programas como o “Cidadão
Conectado - Computador para Todos” [46] e o “Computador portátil para
professores” [47].
Geralmente, é difícil mensurar o impacto direto da adoção de uma
infraestrutura de banda larga na economia e no desenvolvimento local, embora
exista o sentimento de que a infraestrutura de banda larga traz um forte impacto
30
positivo [3], exemplificando com o caso de Arjeplog, na Suécia. Arjeplog, uma cidade
de 3.300 habitantes próxima ao Círculo Polar Ártico tinha a economia baseada na
mineração do chumbo e na silvicultura (estudo para a manutenção, o
aproveitamento e o uso racional das florestas). A implantação da banda larga
contribuiu para a criação de novos empregos pela indústria automobilística que criou
um centro de testes de inverno.
Em [14], é apresentado o resultado de um estudo realizado nos EUA com o
objetivo de mensurar o impacto da adoção da banda larga na economia. O estudo
foi realizado entre 1998 e 2002 através de técnicas econométricas comparando
áreas, identificadas pelo código ZIP (correspondente ao CEP do Brasil), com e sem
a disponibilidade de banda larga. Para esse estudo foram analisados 22.390 ZIP –
Zone Improvement Plan (correspondente ao CEP no Brasil), e suas respectivas
informações econômicas e demográficas dos órgãos oficiais. Durante o período,
foram acompanhadas as informações econômicas de acordo com a disponibilidade
de banda larga, renda, nível educacional e área rural x urbana.
O resultado do estudo demonstra que a adoção de banda larga intensifica o
desempenho e o crescimento econômico e que seus impactos são reais e
mensuráveis. Por outro lado, o estudo não detectou impacto no crescimento dos
salários. A Tabela 4 descreve o impacto estimado na economia.
Tabela 4: Magnitude estimada do impacto da Banda Larga
Indicador Econômico
Resultados
Empregos
A banda larga adicionou aproximadamente 1-1,4% à taxa de
crescimento, 1998-2002
Novos negócios (número de
empresas)
A banda larga adicionou aproximadamente 0,5-1,2% à taxa de
crescimento, 1998-2002
Aluguéis de residências (valor Crescimento de 6% ou mais em 2000 nos locais onde a banda
dos aluguéis)
larga estava disponível a partir de 1999
Divisão de segmento de
mercado
A banda larga adicionou aproximadamente 0,3-0,6% ao
mercado de empresas do setor de TI, 1998-2002
A banda larga reduziu a fatia de pequenas empresas (<10
empregados) em aproximadamente 1,3-1,6%, 1998-2002
À primeira vista, crescimentos da ordem de 1% podem parecer pequenos,
mas são significativos nesse universo onde a taxa típica de crescimento é de apenas
1 dígito. Por exemplo, a taxa global de crescimento analisada foi de 5,2% entre 1998
31
e 2002, sendo assim, 1% é um impacto sensível. Mas para que os impactos
positivos surjam na economia, é necessário que a banda larga seja realmente
utilizada e que não apenas esteja disponível.
2.4 O Sistema Brasileiro de TV Digital
A televisão, devido a sua grande penetração nos lares brasileiros [31] mostrase como uma importante ferramenta na disseminação de informações à população,
principalmente a parte mais carente que não tem acesso às facilidades da
informática e da Internet. Visando democratizar a informação por meio do acesso à
tecnologia digital, muito mais do que simplesmente disponibilizar um sistema de
televisão de melhor qualidade do que o analógico, foi instituído a partir do Decreto
Presidencial 4.901, de 26 de novembro de 2003, o Projeto Sistema Brasileiro de
Televisão Digital. Na época, existiam três padrões de televisão digital terrestre: o
americano ATSC-T, o europeu DVB-T e o japonês ISDB-T.
No Brasil, o Governo decidiu realizar uma pesquisa para ter sua própria
tecnologia para a TV digital, com o objetivo de escolher o padrão mais adequado à
sua própria realidade [31]. Ao invés de simplesmente comprar os direitos de uma
televisão digital, o governo decidiu criar o Sistema Brasileiro de Televisão Digital,
com características brasileiras. “um projeto não apenas para aqueles que podem
pagar por um serviço a cabo ou por satélite” conforme discurso do ministro das
Comunicações, Hélio Costa [31]. A Figura 2 detalha o diagrama esquemático de um
sistema de televisão digital.
32
Figura 2: Diagrama esquemático de um Sistema de TV Digital [30]
Foi realizado um estudo comparando os 3 principais padrões de televisão
digital e, baseado no ISDB-T, foi desenvolvido no Brasil o padrão SBTVD/ISDB-Tb,
que difere do original principalmente pelo emprego da compressão de vídeo MPEG4 AVC (mais avançada que a MPEG-2 utilizada no ISDB-T), imagem apresentada
em 30 quadros por segundo mesmo em dispositivos portáteis (o ISDB-T oferece
apenas 15 quadros por segundo para dispositivos portáteis) e suporte para
interatividade usando o middleware (software intermediário entre hardware da TV e
programas aplicativos) chamado "Ginga".
2.4.1 A interatividade
A interatividade pode ser pensada como uma possibilidade do usuário exercer
influência sobre o conteúdo ou a forma da comunicação e é detalhada nos níveis a
seguir [58]:
•
Nível 0: A ação do espectador resume-se a ligar e desligar o aparelho, regular
o volume, brilho ou contraste e trocar de canal;
• Nível 1: A facilidade de gravação de programas é inserida de alguma forma à
televisão;
•
Nível 2: O telespectador pode interferir no conteúdo enviando informações a
partir de telefones, por fax ou por correio eletrônico;
33
•
Nível 3: Pode-se participar do conteúdo em tempo real, escolhendo ângulos
de câmeras e diferentes encaminhamentos das informações;
•
Nível 4: Possibilidade a gravação dos conteúdos por programa e não por
tempo definido; congelar a tela e reiniciar a partir de um programa sendo
executado ao vivo; acesso à Internet via set-top box, porém com páginas
desenvolvidas em linguagem específica para acesso via televisão. A partir
deste nível de interatividade é necessário um canal de retorno ligando o
telespectador à emissora. Para esse nível, um acesso equivalente ao de uma
linha discada (33,6 Kbps) é suficiente;
•
Nível 5: O telespectador pode participar da programação enviando vídeo de
baixa qualidade originado por intermédio de uma webcam ou filmadora
analógica. Torna-se necessário um canal de retorno com largura de banda
maior, como por exemplo, um acesso banda larga de 128 Kbps;
•
Nível 6: A maior largura de banda do canal de retorno oferece a possibilidade
de envio de vídeo de alta qualidade, semelhante ao transmitido pela
emissora;
•
Nível 7: Neste nível, o telespectador passa a se confundir com o transmissor,
de forma semelhante ao que acontece na Internet hoje, onde qualquer usuário
pode publicar um site.
A partir no nível 4 de interatividade, o canal de retorno torna-se essencial.
Quanto maior o nível de interatividade requerida, maior será a banda e qualidade
necessárias a esse canal.
Os sistemas atuais de TV digital são fortemente baseados no emprego das
redes telefonia fixa. Pesquisa-se um modelo de uma rede que disponibilize o canal
de retorno para a TV Digital no Brasil. Para garantir o sucesso da interatividade, o
canal de retorno dever ser confiável, tanto do ponto de vista de segurança, com a
possibilidade do uso de criptografia, quanto de manutenção da taxa de transmissão
sob diversas circunstâncias.
Algumas propostas têm sido feitas em relação ao meio, incluindo o uso da
linha telefônica, uso de telefonia celular, uso de comunicação em linhas de
distribuição (power line communications - PLC), utilização de sistemas de formação
34
de redes ad hoc, utilização de radiofreqüência, em faixa aberta ou na faixa
reservada à transmissão de televisão.
Um projeto de Cidade Digital pode contribuir para o crescimento da
interatividade da TV Digital através da disponibilização de um canal de retorno
confiável, de banda larga e com baixo custo, pois o mesmo será dividido por
diversas aplicações e não apenas dedicado à interatividade.
2.5 Cidades Digitais no Brasil e no Mundo
Nesta seção, são apresentados alguns projetos de Cidade Digital que se
destacaram e que foram objeto de estudos publicados em artigos científicos. O caso
de Amsterdam, por ser o primeiro no mundo, dando uma visão histórica do tema, o
caso de Piraí - RJ, por ser o primeiro e o mais debatido no Brasil e os do Vale do
Silício – EUA demonstrando algumas possibilidades de insucesso mesmo em um
dos países mais ricos e que mais detém conhecimento em TIC.
2.5.1 Amsterdam
A primeira Cidade Digital surgiu em Amsterdam – Países Baixos em janeiro
de 1994 com a DDS – De Digitale Stadt [1]. O projeto foi elaborado por iniciativa do
centro cultural e político “De Balie”, do governo Municipal e de uma organização de
ativistas em computação da Universidade de Amsterdam chamados “Hacktic” que
publicava uma revista sobre o assunto [13]. Teve como objetivos criar uma esfera
eletrônica que permitisse a participação, discussão e troca de informações.
As informações da Prefeitura de Amsterdam foram abertas ao público através
da conexão entre os sistemas internos de informação e à Internet. Isso mudou a
organização pública, uma vez que os serviços públicos tornaram-se, de repente,
acessíveis ao grande público.
O momento escolhido para a criação da Cidade Digital foi determinado pelas
eleições locais que viabilizaram o suporte financeiro de sua implantação,
estabelecendo uma ponte entre a Prefeitura e os cidadãos.
A Figura 3 exibe a 1ª interface da Cidade Digital, por onde os usuários podiam
acessar os seus serviços. Ela foi substituída em 1994 pela DDS 2.0 e em 1995 pela
interface DDS 3.0 conforme a Figura 4.
35
Figura 3: Interface 1.0 da DDS
No final dos anos 90, a DDS começou a ter forte concorrência de outros
provedores de Internet grátis, como o Hotmail e universidades. A estrutura
institucional alterou-se pela criação de uma fundação e passou a ser subsidiada por
atividades como consultoria e web-design, desenvolvidas pela própria Cidade Digital
no lugar de fundos governamentais. No início dos anos 2000 a DDS deixou de
existir, de acordo com seu formato original, havendo ainda parte dela como uma
entidade comercial.
Figura 4: Interface 3.0 da DDS
36
2.5.2 São Francisco e Vale do Silício
Em meados de 2005, a cidade São Francisco instituiu a TechConnect como
uma estratégia para promover a inclusão digital através do acesso à Internet e
computadores a preços acessíveis, principalmente à população de baixa renda,
treinamento e suporte para a comunidade e disponibilidade de conteúdo relevante.
Em setembro de 2005, a TechConnect lançou uma RFI/C (Request for
Information/Comments) determinando que o acesso de banda larga à Internet a
preços acessíveis é essencial para unir os residentes em São Francisco às
oportunidades sociais, informacionais, educacionais e econômicas. Posteriormente,
apesar da cidade de São Francisco possuir uma infraestrutura de banda larga
baseada em aDSL, fibra óptica e por cabo, a RFI/C passou a designar “acesso de
banda larga sem fio” ao invés de “acesso de banda larga”. Não foram supridos às
empresas interessadas, os dados de locais onde ainda não existia banda larga como
renda, etnia e localização geográfica.
Em dezembro de 2005, a cidade lançou a RFP (Request for Proposal)
adotando um modelo com as seguintes características:
• os custos de construção, operação e manutenção não seriam de
responsabilidade da cidade;
• o serviço de nível básico seria gratuito;
• a cobertura da área livre da cidade deveria ser de, no mínimo, 95%;
• a cobertura dos 1º andares e térreos das áreas construídas, residenciais e
comerciais, deveria ser de, no mínimo, 90%;
• a partir do 2º andar a cobertura deveria ser de, no mínimo, 90%, mas apenas
para o perímetro das construções;
• os serviços considerados como “Premium” seriam pagos, mas de valor inferior
aos praticados pelos serviços alternativos.
Os problemas começaram a surgir pela topografia da cidade, repleta de
colinas, pela alta densidade urbana com prédios demandando soluções específicas
e pelo não detalhamento de “serviços alternativos”, pois durante o período de estudo
e licitação surgiram serviços como o aDSL da AT&T a U$13 mensais.
37
Em resposta a RFP, a cidade recebeu 6 propostas que foram analisadas e
classificadas em possíveis 80 pontos, além de entrevistas orais, onde o consórcio da
Earthlink com a Google foi vitorioso. Somando seis meses de discussão sobre o
contrato, o mesmo foi assinado apenas em janeiro de 2007. Ainda havia a
necessidade de aprovação do contrato por dois órgãos municipais levando a
negociações, encerradas apenas em outubro de 2007 sobre, por exemplo, a estética
das antenas e se realmente a cidade deveria construir e operar uma rede própria.
Devido a demora, a Earthlink retirou-se do projeto que continuou voltado para o
fornecimento de computadores e treinamento para a população de baixa renda, não
cobrindo mais a solução de rede sem fio.
Em [2], são detalhados os projetos de Cidade Digital previstos, porém nem
todos implantados, para a área da baía de São Francisco, nos Estados Unidos.
2.5.3 Piraí Digital
O projeto de Piraí – RJ é o exemplo mais discutido no Brasil quando o
assunto é cidades digitais. Considerada primeira cidade digital do Brasil, Piraí
lançou-se nesse projeto para contornar uma situação difícil do município.
Em meados dos anos 90, a privatização da distribuidora de energia elétrica
Light e o fechamento da fábrica de papel Piraí eliminaram aproximadamente 1.200
empregos diretos no município de Piraí. Nesse momento, o prefeito estruturou um
programa com o objetivo de, analisando os potenciais do município, encontrar um
caminho para o desenvolvimento local. Um dos pontos mais importantes verificados
foi que Pirai é o município do Rio de Janeiro que possui, em suas terras, a maior
extensão da rodovia Presidente Dutra, que interliga a cidade do Rio de Janeiro a
São Paulo, trazendo um grande potencial logístico. A infraestrutura para a recepção
de novas empresas, como transportes, água e energia elétrica estavam presentes,
mas faltavam recursos de comunicação – telefone e Internet. Em 1996, a própria
prefeitura tinha à disposição de sua gestão apenas 2 linhas telefônicas e dois
computadores. Iniciou-se o projeto de cidade digital que teve um forte cunho
educacional levando a Internet a todas as escolas locais, e social, através da
implantação de diversos telecentros. Implantou-se um condomínio industrial, criouse um pólo de piscicultura e foi incentivada a formação de cooperativas.
38
Apesar de o Plano Diretor ter sido iniciado em 1997, o programa “Piraí –
Município Digital” foi lançado apenas em abril de 2002, quando foi encaminhada
uma proposta para a implementação da uma rede educacional no valor aproximado
de R$1,5 milhão ao BNDES. Essa a proposta foi recusada. Em junho de 2002 foi
formalizado um convênio entre a prefeitura e a Universidade Federal Fluminense
para o desenvolvimento de um projeto educacional envolvendo escolas, laboratórios,
bibliotecas e interligando-os por meio digital. Percebeu-se então que, os recursos do
PMAT para a interligação das secretarias, sem alteração significativa do volume
financeiro, poderiam suprir a implantação da rede educacional [48].
A estrutura atual da rede da Piraí conta com:
• 103 prédios
• 4 Telecentros
interligados
• 8.000 computadores
• 10 Hotspots
conectados
As tecnologias empregadas na implantação da cidade digital de Piraí foram:
• WiFi
• Radiaflex (distribuição do sinal
sem
fio
através
de
cabos
irradiantes Radiaflex é marca
registrada da Radio Frequency
Systems)
• VDSL
• PLC – Power Line
Communication
• Fibra Óptica
39
Os principais serviços disponíveis são:
• Internet
• Streaming
• Intranet
• Sistemas Gestão Integrados
• VoIP
• E-mail cidadão
• Portal da
• Telessaúde / Telemedicina
Educação
A Figura 5 ilustra a rede atual do município de Piraí interligando os prédios
públicos e escolas da região, além de hotspots para o acesso da população.
Figura 5: Diagrama da rede atual de Piraí
Piraí participa do projeto UCA – Um Computador por Aluno [50], onde em
julho de 2007 entregou 5.500 laptops a cada um dos alunos e 500 laptops aos
professores da rede municipal.
2.5.4 Conclusões
Os casos apresentados de Cidades Digitais podem demonstrar que o
envolvimento do governo, em suas diversas esferas, mas principalmente na
municipal é importante para o sucesso do projeto, mas também a sua falta de
agilidade pode comprometê-lo. Normalmente, estão voltados para a área de
40
educação e disponibilização de banda larga à população de mais baixa renda que,
sem esse auxílio, não teria como contratar o serviço por meios próprios.
Ignorar peculiaridades da localidade, como sua topografia ou a falta do
conhecimento detalhado do público alvo e de seus anseios também pode
comprometer o sucesso do projeto.
Encontrar a fonte de recursos para a sustentabilidade da Cidade Digital é
essencial para atrair investidores privados e manter a operação, pois o sucesso
inicial não garante a perpetuação do projeto.
A análise não demonstra, mas sugere que quanto mais carente for a
localidade de implantação do projeto de Cidade Digital, maior será a oportunidade
de desenvolvimento da economia e da educação local.
41
3 TRABALHOS RELACIONADOS
Apesar de o tema Cidades Digitais ser atual, com diversos exemplos no Brasil
e no mundo, é escassa a sua literatura sobre modelos e metodologias para a sua
implantação. Neste capítulo, são apresentados os modelos para a criação de
Cidades Digitais encontrados em artigos publicados por pesquisadores e por
documentos do governo brasileiro.
3.1 Modelo para a América Latina
Em [5] é descrito que países da América Latina tiveram um grande atraso na
implantação da telefonia fixa, onde a implantação de redes celulares foi a forma
encontrada para aproximar esses países dos padrões de telefonia do primeiro
mundo, conforme a Figura 6. Esse atraso da implantação da telefonia fixa acabou
deixando uma rede física limitada para a implantação de acesso à Internet em banda
larga. A TV a cabo, uma alternativa de infraestrutura para banda larga, também teve
pouca penetração.
42
Figura 6: infraestrutura sem fio e com fio 2003. Fonte: Banco Mundial
A limitação da rede física, assim como o crescimento da quantidade de
telefones móveis nos países analisados [5] sugere para a América Latina um modelo
de banda larga baseado em tecnologia sem fio. A Tabela 5 faz uma comparação das
tecnologias de banda larga baseada na rede celular com a tecnologia WiFi. Exceto
em segurança e em penetração, a comparação é favorável ao WiFi, principalmente
na taxa de transmissão (Mbps) e no preço do serviço, fator importantíssimo quando
se analisa o uso da tecnologia por uma população de baixa renda. O custo elevado
dos equipamentos das tecnologias 3G certamente propiciarão valores de serviços
mais elevados do que os da tecnologia WiFi.
Tabela 5: Comparação das tecnologias 3G celular x WiFi
Fatores
Descrição
Cellular
(EV/DO –
EDGE)
Pontuação
0–7
WiFi
Pontuação
0–7
Confiabilidade
Tempo em que o sistema
está ativo (%)
98%
6
100%
6
Velocidade
Mbits/s
1.8 Mbits/s
(HSPA)
2
11
Mbits/S
5
Segurança
Probabilidade de que a rede
tenha a segurança violada
5%
(%)
5
25%
3
Penetração
Disponibilidade geográfica
45% (2005)
3
743
hotspots
1
U$ 68,00
1
U$ 29,00
4
Preço
Pontuação
total
Cobrança mensal para uso
ilimitado
Média das pontuações
individuais
3
4
Fontes: GSM World (2007), Digiworld América Latina (2007) (Telefónica, 2007), e JiWire, 2008).
Foi construído apenas para o México um modelo, baseado no software
iThink®, para auxiliar a determinação do padrão da difusão das tecnologias de
43
banda larga sem fio. O modelo, exemplificado na Figura 7 é composto por 3 partes:
duas são as tecnologias exploradas e a terceira corresponde a diferentes fatores
que podem alterar o padrão de adoção das tecnologias, como, por exemplo: o
tamanho do mercado, os preços atuais e previstos dos serviços, a qualidade dos
serviços, o histórico do crescimento do 2G e a renda média da população. O modelo
assume premissas como que o 3G celular substitui a tecnologia WiFi. É esperado
que as grandes desigualdades de renda resultem em uma maior adoção da
tecnologia WiFi do que a tecnologia 3G.
O modelo descrito gera uma simulação para 36 meses do crescimento de 3G
e WiFi exibida na Figura 8 onde os cálculos mostram um crescimento
significativamente maior do WiFi. Enquanto a população de maior renda fará uma
opção entre as tecnologias, à população de menor renda, resta apenas a tecnologia
mais barata.
44
Figura 7: Modelo para a adoção de Celular x WiFi em acessos de banda larga [5]
Figura 8: Adoção de Celular 3G x WiFi (México, 2008)
45
O modelo é focado nas áreas urbanas, indicando o acesso à Internet pelas
pessoas de mais baixa renda através de estabelecimentos comerciais com
tecnologia WiFi. O artigo salienta que enquanto nas áreas rurais o problema é a falta
total de acesso, nas áreas urbanas o problema é pela falta de conhecimento da
tecnologia, baixa renda e ausência de computadores e que sem o apoio do governo,
locais com a população de mais baixa renda, certamente se tornarão buracos no
“mapa digital”.
3.2 Modelo para a Grécia
Em [3] é proposto um modelo de negócios para a exploração ótima das redes
de banda larga metropolitanas na Grécia.
A disponibilidade de acessos DSL na Grécia (menos de 10%) é a mais baixa
entre os países da OECD enquanto em outros países como a Bélgica e a Coréia
essa taxa alcança 100%. Isso é um dado significativo, uma vez que praticamente
100% dos acessos à Internet da Grécia são da tecnologia DSL. A quantidade de
acessos por cada 100 habitantes é de quase 3 [3] (dado de junho de 2006), sendo a
mais baixa da Europa. Embora essa relação seja baixa, o índice de crescimento é
bastante expressivo. É destacado no artigo [3] que o pequeno potencial de
crescimento de serviços de banda larga e a exclusão tecnológicas a que as áreas
mais remotas do país são submetidas limitaram o crescimento da rede de banda
larga. Outro obstáculo à disseminação da banda larga era a pouca concorrência,
uma vez que praticamente toda a infraestrutura de backbone e de acesso era de
apenas uma operadora pública, OTE – The Hellenic
Organization for
Telecommunication, atualmente privatizada. A inexistência de uma estrutura
regulatória para o provimento de serviços em telecomunicações inibia o surgimento
de operadoras privadas. Além disso, a atividade de provedores nas áreas rurais e
em pequenas cidades da Grécia é muito limitada, uma vez que o investimento em
infraestrutura de telecomunicações nessas áreas não é considerado lucrativo.
Foram pesquisadas implantações de cidades digitais no mundo para orientar
o desenvolvimento do modelo para a Grécia. A Tabela 6 lista as características
básicas de alguns projetos.
46
Tabela 6: Características básicas de modelos de negócios [3]
Modelos de Negócios
Operadora do
governo
Operadora local (do
município, da
comunidade, etc)
Operadora privada
Consórcio
Rede de fibra
2
apagada
Conexões de última
milha
Fundos do Governo
Modelo
irlandês
Stokab
Amsterdan
CANARIE
(Canadá)
Viena
LocalRet Wellington
x
X
X
X
x
X
X
X
X
Fundos privados
Collocation Facilities
Leasing to
telecommunications
providers
Supply of services
UTOPIA
X
X
X
x
X
x
X
x
X
x
X
X
X
X
X
x
X
X
x
X
X
X
X
x
x
x
x
x
x
X
X
x
x
x
x
X
X
O modelo desenvolvido para a Grécia tem os seguintes objetivos:
• Determinar o papel do governo municipal e da província;
• Garantir a competição saudável;
• Definir o grau de envolvimento do setor privado;
• Garantir a viabilidade de uma rede óptica metropolitana pública;
• Assegurar os recursos para a operação, manutenção e expansão;
• Promover a competição pelo oferecimento de melhores serviços com custos
mais atrativos aos cidadãos.
O modelo possui basicamente três níveis, conforme mostra a Figura 9, onde o
primeiro determina que organização (pública ou privada) explora os equipamentos
passivos da rede (basicamente fibras e dutos). O segundo nível define quem provê e
explora os equipamentos ativos da rede, os comutadores e roteadores. O terceiro
nível determina quem oferece o acesso, os serviços e o conteúdo.
2
Fibra apagada – Serviço de locação de fibras ópticas já implantadas, mas sem os equipamentos de ponta.
47
Figura 9: Os níveis básicos de modelos de negócios [3]
A Tabela 7 detalha as vantagens e desvantagens da implantação desse
modelo.
Para que se encontre o modelo ótimo, é necessário considerar que:
• A competição entre os provedores de serviço é benéfica aos consumidores
não apenas financeiramente, mas também por aumentar o portfólio de
serviços;
• Na Grécia, a maioria dos provedores de serviço não tem condições
financeiras
de
construir
e
manter
suas
próprias
infraestruturas
de
telecomunicações;
• Se um único provedor detém e gerencia sozinho um nível da rede, torna-se
difícil garantir um tratamento igualitário aos vários provedores dos outros
níveis.
48
Tabela 7: comparação dos modelos local e regional para a implantação da banda larga [3]
Um dos pontos fundamentais do modelo é a disponibilização de dutos e
construção de novos para a passagem dos recursos de rede. Esses dutos podem
ser fornecidos em rodovias, estradas de ferro, pontes por concessionárias de
rodovias, empresas de energia elétrica, de telefonia etc. Assim, é mais adequado
que o nível 1 da rede fique sob uma administração pública, deixando a competição
atuar nos dois níveis acima. São comparados em [3] os modelos em nível local,
regional e nacional, onde deveria ser criada uma empresa, responsável pela
elaboração do modelo de exploração da banda larga, municipal, regional ou
nacional, conforme a Figura 10.
49
Figura 10: Os cenários de modelos de negócios para a Grécia [3]
O resultado da comparação foi favorável ao modelo nacional devido à várias
características:
• Uma administração nacional evitaria dificuldades técnicas e econômicas na
interconexão de redes regionais e municipais;
• Os provedores de serviços estariam sujeitos as mesmas políticas em
qualquer local do país;
• Redes em áreas menos competitivas subsidiariam outras localizadas em
áreas mais competitivas;
• Simplificação do gerenciamento pela padronização;
• Os provedores de serviços poderiam oferecer seus serviços nacionalmente.
Assim o modelo proposto ficou conforme a Figura 11, onde haveria uma
grande empresa pública responsável pelo nível 1 em nível nacional e ampla
competição nos níveis 2 e 3 do modelo.
50
Figura 11: O modelo de negócios proposto [3]
3.3 Modelo do Governo de Minas Gerais
No dia 18 de setembro de 2009, foi lançado pelo Governo de Minas Gerais, o
“Programa Minas Digital” [33] para levar acesso à Internet a mais de 200 municípios
de menos de 20 mil habitantes. Tem como diretrizes “Promover a alfabetização
digital e universalização do uso da Internet, permitindo acesso a informações gerais
e específicas do Estado, nas áreas econômica e social, a todos os cidadãos.
Espera-se ao final do projeto a promoção da inclusão digital no Estado de Minas
Gerais“.
O programa tem como desafios o fato de que, dos 853 municípios, há 350
com menos de 20 mil habitantes que não possuem acesso regular à Internet, assim
como a falta de backhaul e a falta de infraestrutura interna de distribuição do sinal
nos municípios.
No Plano de Negócios adotado, o Governo de Minas Gerais doa ao município
os equipamentos após a implantação da infraestrutura. A operação da rede é
realizada por uma ONG (Organização Não Governamental) conveniada com o
município para esse fim. Por sua vez, a ONG contrata uma provedora de SCM
(Serviço de Comunicação Multimídia) para gerenciar a rede. A Tabela 8 detalha as
responsabilidades do Modelo de Negócios adotado.
51
A ONG se obriga por contrato a pagar o link de acesso à Internet, a
comercializar os acessos em 2.4 GHz aos cidadãos e a reservar 10 % do
faturamento bruto para expansão e manutenção da rede.
Tabela 8: Responsabilidades definidas no Modelo de Negócios [33]
Entidade
Responsabilidade
•
Governo de Minas
•
Operadora de
Telecomunicações
•
•
•
Provedor local ou
Regional
Responsável pelos investimentos no segmento de acesso wireless
(Rede dentro do município)
Repassa os ativos para as Prefeituras que outorga a operação a
provedores/Operadoras, que passam a ser responsáveis pela operação
e manutenção das redes sob a tutela do Governo e mediante
cumprimento de regras de utilização;
Investimentos no segmento de interconexão com sua rede;
Operação em alguns casos
Praticar preço diferenciado, reservar parcela do faturamento para
expansão e manutenção da rede, pagar link, operar comercialmente a
rede.
Coordenado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia, o programa exige do
município a contrapartida de criar e manter espaços gratuitos de inclusão digital,
além de implementar as ações do projeto TEIA – Tecnologia, Empreendedorismo e
Inovação Aplicados, da mesma secretaria.
O Governo de Minas custeará a implantação da rede, que será operada pelo
município ou por uma empresa por este contratada, que deverá manter espaços
gratuitos como os Telecentros e oferecer os serviços a preços compatíveis aos de
mercado.
Baseada na tecnologia WiFi Mesh, as características principais do modelo
adotado pelo Programa Minas Digital estão detalhadas na Tabela 9.
Tabela 9: Característica do Modelo do Programa Minas Digital
Tecnologia Padrão
Rádio Ponto-a-Ponto
Backbone
Cobertura
Spread Spectrum 5,8 GHZ
Mesh 5,8 GHZ
WiFi Mesh 2,4 GHZ
Proposição básica (sujeita a adaptações)
até 5 mil habitantes
1 ERB
de 5 a 10 mil habitantes
2 ERBs
de 10 a 20 mil habitantes
3 ERBs
As etapas de Implantação são as abaixo listadas:
1º. Etapa – Projeto e instalação da ERB
2º. Etapa – Instalação dos pontos de acesso (usuários)
3º. Configuração e ativação da rede do município
52
4º. Configuração da saída Internet – backhaul (gateway)
Para a obtenção do Backhaul para a implantação da Cidade Digital, o
Programa recomenda:
• Negociações com operadoras de STFC (Serviço de Telefonia Fixa
Comutada), operadoras de celular, concessionárias espelho (operadoras de
telecomunicações entrantes em nível nacional ou regional) e espelhinho (em
nível local);
• Fomento a expansões de redes existentes;
• Soluções diversificadas para cada município a ser atendido.
• O Estado absorve parcela deste provimento através de empresas publicas
que dispõem de infraestrutura de telecomunicações com a utilização das
fibras da Eletronet, administradas em Minas Gerais pela Infovias, subsidiária
da CEMIG.
A Figura 12 detalha um projeto típico de uma Cidade Digital incentivada pelo
Programa.
Figura 12: Projeto típico de Cidade Digital do Governo de Minas Gerais [33]
53
3.4 Licitação de Cidade Digital do Ministério das Comunicações
Nesta seção, são descritas as principais características do edital de
contratação do projeto “Cidade Digital” do Ministério das Comunicações. Essa
licitação pode ser entendida como um Modelo de Cidade Digital na visão do governo
federal brasileiro, uma vez que determina parâmetros para a sua construção.
O Ministério das Comunicações desenvolveu o projeto “Cidades Digitais”, que
consiste na implantação de infraestruturas de comunicação para acesso à Internet
de alta velocidade nos municípios, baseada nas novas tecnologias sem fio
(Wireless). No entendimento do Ministério das Comunicações, essas tecnologias
encontram-se já amadurecidas e padronizadas, e que apresentam, como principais
características, flexibilidade, simplicidade e mobilidade, proporcionando rapidez na
implantação e custo de instalação e manutenção inferior ao das soluções
tradicionais.
O projeto tem como justificativas motivacionais a garantia do acesso à
Internet a todos os cidadãos brasileiros, democratizando os meios de acesso à
informação e ao conhecimento, levando às comunidades carentes e ao interior do
país o acesso gratuito à Internet de alta velocidade. Deve também suportar diversas
tecnologias emergentes de voz, dados e vídeo sobre IP e estar preparada para as
novas demandas, que requeiram troca de informações em tempo real, como ensino
à distância, telemedicina, videoconferência, telefonia e outras aplicações em
benefício da educação, da saúde e da segurança dos brasileiros.
O desenvolvimento desse projeto foi baseado em informações históricas de
projetos de cidades digitais implantadas ou em fase de implantação em Minas
Gerais, nos municípios de Belo Horizonte, Tiradentes e Barbacena, do Rio de
Janeiro, em Piraí, Rio das Flores e Mangaratiba, de São Paulo, em Aparecida e do
Paraná, em Santa Cecília do Pavão.
Espera-se que o projeto proporcione o desenvolvimento sócio-econômico e
cultural de cada localidade atendida, fortalecendo o pacto federativo com a
modernização administrativa nas três esferas de governo.
A Tabela 10 descreve as quantidades mínimas e máximas que devem ser
contratadas pela licitação.
54
Tabela 10: Recursos do Projeto de Cidade Digital [33]
Item
I
II
III
IV
V
VI
Descrição
Site survey – trabalho técnico e especializado de
dimensionamento da infraestrutura de comunicação
Radiobase central (ERB)
Radiobase de acesso
Gerenciador da infraestrutura de comunicação
Solução de compartilhamento de sinal interno
Torre de radiobase
qtde.
qtde.
mínima máxima
160
3.000
160
160
160
160
16
1.500
3.500
500
3.500
500
Os padrões principais a serem utilizados são o WiFi (802.11b/g) e o WiMAX
(802.16d/e).
A Figura 13 representa uma Rede Corporativo-Comunitária, resultado da
combinação dos dois tipos de redes.
Figura 13: Rede Corporativo-Comunitária [33]
3.5 Comparação entre os modelos apresentados
O modelo para a América Latina [5], fortemente baseado no México traz
características semelhantes às brasileiras onde também houve um atraso da
implantação da telefonia fixa, embora tenha havido no Brasil um crescimento
55
significativo após as privatizações das operadoras de telecomunicações, e pouca
penetração da TV a cabo. As comparações entre as tecnologias de banda larga
baseada na rede celular com a tecnologia WiFi mostram-se também adequadas à
realidade brasileira, onde são raros os planos de uso ilimitado de banda larga em
3G. O problema da falta de rede de acesso nas áreas rurais e de baixa renda e de
falta de conhecimento da tecnologia nas áreas urbanas também é encontrado ao
Brasil. O modelo demonstra a tendência do crescimento do uso de banda larga em
3G pela população mais rica e da tecnologia WiFi pelo resto da população. Falta ao
modelo, talvez por não ter sido o seu objetivo, um detalhamento para a sua
implantação.
Devido a algumas características específicas do Brasil, talvez o modelo para
a Grécia [3] não seja o mais adequado devido a, por exemplo:
• Um dos maiores obstáculos que o modelo para a Grécia pretende enfrentar, o
fato de praticamente toda a infraestrutura de backbone e de acesso ser uma
única operadora, já foi resolvido no Brasil através das privatizações, onde são
encontrados diversos provedores de backbone e de acesso;
• O fato da responsabilidade do nível 1 estar concentrado em apenas uma
única empresa (no caso estatal) aumenta o risco, uma vez que, se essa
empresa não tiver um bom desempenho, todo o projeto pode ter seu
desempenho limitado ou até mesmo comprometido;
• Em um país de dimensões continentais como o Brasil, uma administração
centralizada pode ser uma desvantagem, dificultando o entendimento e as
adequações às regionalidades;
• As diferenças geográficas e econômicas das diversas regiões do Brasil
impedem que um mesmo projeto seja utilizado nacionalmente;
• Esse modelo não leva em conta os recursos de infraestrutura de
telecomunicações já existentes de domínio de empresas privadas.
Um dos problemas brasileiros é a distribuição do atendimento dessas
operadoras, havendo locais sem qualquer tipo de atendimento, exceto através de
satélite, e outros com diversas opções. O fato de que a implantação em áreas rurais
não mostrar-se lucrativo repete-se no caso brasileiro.
56
O modelo do governo de Minas Gerais [33] é voltado basicamente à inclusão
digital sem levar em conta a vasta possibilidade de outras aplicações que poderiam
ser implementadas, mas exigiriam diferenciais no hardware e software para o seu
funcionamento. Sua simplicidade é uma virtude, embora o limite às pequenas
cidades.
O modelo descrito pela Licitação de Cidade Digital do Ministério das
Comunicações [17] é voltado não apenas para a inclusão digital, mas também para
aplicações mais sofisticadas. Baseia-se fortemente em recursos de comunicação
sem fio e não leva em conta os recursos já existentes no local.
Como pode ser visto no Capítulo 5, o modelo sugerido nesta dissertação
busca aproveitar os recursos já existentes no local, como dutos, cabos de fibra, etc,
assim como o atendimento através de diferentes recursos como WiFi ou diretamente
por fibra óptica no caso de clientes próximos ao caminho da fibra, assim como em
grandes usuários. Descreve também um modelo de negócios com diferentes formas
de cobranças dos serviços dos clientes e uma metodologia para a sua implantação.
57
4 ABORDAGENS TRADICIONAIS ADOTADAS NA CONSTRUÇÃO
DE CIDADES DIGITAIS
Este capítulo tem como objetivo descrever como atualmente são implantadas
as Cidades Digitais. Começa pelo Telecentro, embrião das Cidades Digitais no
Brasil, continuando com a arquitetura, as aplicações mais utilizadas e as tecnologias
empregadas.
4.1 Telecentros
No Brasil, os antecessores das Cidades Digitais foram os Telecentros.
Nesses locais são disponibilizados computadores com acesso à Internet ao público,
mas em um conceito diferente de LAN House. No Telecentro, geralmente, a gestão
é realizada por líderes do Centro Comunitário local e o acesso à Internet é gratuito,
embora com tempo limitado para dar oportunidade a todos. Há o incentivo da
realização de outras atividades no Telecentro, não apenas relacionada à Internet ou
Computação, mas a integração da comunidade, lazer e cursos. Muitas vezes, os
cursos ministrados por alguém na comunidade são convertidos para um modelo que
possa ser apresentado através de mídia eletrônica com o auxílio de pessoas
atuantes no Telecentro. Todas essas atividades realizadas no Telecentro colaboram
com a sustentabilidade do mesmo, sem depender exclusivamente do acesso à
Internet.
A implantação de Telecentros e de Cidades Digitais ganhou grande impulso
quando estudos verificaram uma relação entre a disponibilidade de acesso à Internet
e o desenvolvimento do local [48].
58
4.2 Aplicações
Esta
seção
descreve
algumas
aplicações,
úteis
à
administração
governamental, e que podem utilizar a de da Cidade Digital como infraestrutura para
o seu funcionamento.
4.2.1 Aplicações de Vídeo
A transmissão de vídeo sobre os recursos de Cidades Digitais pode ser
utilizada para diversas aplicações. Possui requisitos mais rígidos do que a
transmissão de dados, consequentemente, exigindo recursos diferenciados da rede
de comunicação, aumentando também o custo de implantação. A qualidade das
imagens depende fundamentalmente da aplicação a que se destina e ao
equipamento onde a mesma será exibida. Por exemplo, uma aplicação de
reconhecimento facial precisa capturar uma imagem de alta resolução para ser
capaz de comparar com imagens armazenadas enquanto que uma aplicação de
monitoração do trânsito (Figura 14) onde o objetivo seja verificar o fluxo de
automóveis pode utilizar uma resolução baixa. Para assistir um vídeo em uma tela
pequena como as utilizadas nos telefones celulares ou IPod, uma resolução baixa é
suficiente, mas a imagem, com
tamanho, torna-se ruim.
a mesma resolução em um monitor de maior
59
Figura 14: Câmera de vídeo com equipamento de rádio WiMAX
4.2.1.1 Reconhecimento facial
O reconhecimento facial é uma técnica moderna onde, através de uma
câmera em local de movimento de pessoas, imagens dos transeuntes são
capturadas e processadas por poderosos sistemas comparando os rostos
identificados nas imagens com os de pessoas já armazenados que, por algum
motivo,
normalmente
ligados
à
segurança,
precisem
ser
encontradas.
É
normalmente utilizado em locais de grande fluxo de pessoas como aeroportos,
estações rodoviárias e de trens. Essa aplicação pode inclusive simular mudança de
penteado, cor de cabelo, utilização ou retirada de óculos ou chapéu para aumentar o
índice de acerto. Pode ser útil, por exemplo, na identificação de baderneiros em
jogos de futebol.
A Figura 15 exibe a tela de um software de reconhecimento facial em
operação.
60
Figura 15: Software de Reconhecimento Facial
4.2.1.2 Vigilância Eletrônica através de Câmeras de Vídeo
Garantir a segurança em cidades e em empresas tem sido um desafio
crescente, principalmente no Brasil. O aumento do contingente envolvida na
segurança, nem sempre é economicamente viável, além de não ser garantia da
solução do problema. Diversas entidades têm encontrado na vigilância eletrônica
através de câmeras de vídeo uma ferramenta importante para aprimorar sua
segurança física.
Centrais de monitoração concentram as imagens recebidas por diversas
câmeras distribuídas pelas cidades, permitindo que seus operadores tomem
conhecimento de fatos que necessitem acionar rapidamente a força policial ou o
prestador de serviço de segurança particular, conforme o caso. Algumas câmeras
permitem que o operador na central possa direcionar as câmeras para a posição que
tenha interesse no momento, acionar o zoom para aproximar ou afastar o campo de
visão ou até mesmo comunicar-se por voz com uma pessoa no local, obviamente
exigindo recursos de microfone e de alto-falante na central e junto à câmera. Esse
tipo de aplicação permite que o mesmo contingente de pessoal consiga controlar
uma área mais ampla, além de gerar evidências de acontecimentos que podem ser
resgatadas e analisadas posteriormente. Para isso, um sistema de armazenamento
e recuperação das imagens é necessário.
61
4.2.1.3 Supervisão do trânsito
A supervisão do trânsito é outro grande usuário de aplicações de vídeo,
permitindo que os operadores identifiquem veículos enguiçados ou acidentados
imediatamente, acionem o socorro e, através de acordo com emissoras de rádios e
televisão, divulguem rapidamente aos motoristas as melhores rotas a serem
seguidas. Através da rádio e televisão ou pela Internet, o motorista pode avaliar qual
o melhor caminho a seguir antes de iniciar a sua viagem. Para isso, é necessário
que os sistemas de trânsito x televisão x Internet estejam interligados.
4.2.1.4 Videoconferência
A Videoconferência
traz
a
possibilidade
de
reuniões
à
distância,
economizando o tempo do transporte, especialmente útil empresas internacionais,
em grandes cidades e em reuniões com um grande número de participantes.
4.2.1.5 Ensino à Distância
No contexto de uma Cidade Digital, o EaD (Ensino à Distância) facilita a
solução de problemas como a escassez e o absenteísmo de professores, aulas em
locais de difícil acesso e o treinamento dos próprios professores onde, muitas vezes,
é difícil reuni-los.
Há diversas modalidades de EaD:
• Baseado em aulas transmitidas diretamente para diversas turmas em
diferentes locais, sendo sua dinâmica semelhante ao ensino presencial;
• Baseado em aulas gravadas, permitindo ao aluno assisti-las no horário mais
apropriado para a sua agenda;
• Através de ferramentas que permitam aos alunos interagir com o professor,
realizando perguntas e respondendo questionamentos;
• Através de ferramentas para a distribuição de documentos para estudo
(textos, apresentações, filmes, solicitação de elaboração de trabalhos etc) e o
recolhimento do material gerado pelos alunos, com recursos para controlar
datas de entregas, receber e consolidar notas dos alunos, calcular médias de
notas das turmas.
4.2.2 Sistemas Corporativos do Governo
A interligação dos diversos órgãos do governo municipal através de uma rede
de comunicação de dados permite a unificação de seus sistemas computacionais.
62
Essa unificação pode traduzir-se em agilidade na recuperação de informações,
informações mais confiáveis, operação e gerência centralizada, economia de
recursos e rapidez na implantação de novos sistemas.
O acesso dos órgãos do governo à Internet, atualmente, é imprescindível para
diversas tarefas, principalmente no governo federal que, através do e-Gov,
disponibiliza aplicações na Internet para todo o Brasil.
4.2.3 Serviços públicos disponíveis aos cidadãos
Em uma Cidade Digital, onde os órgãos do governo estão interligados e os
cidadãos têm acesso à Internet, torna-se viável a disponibilização de serviços
públicos de forma automatizada. A quantidade de possibilidades de serviços é
grande, como consultas, cálculos e geração de segunda via para o pagamento de
impostos, agendamento de consultas médicas e acesso aos resultados de exames,
matrícula e acompanhamento de notas de alunos da rede pública, consultas e
reclamações sobre a iluminação pública, sinais de trânsito, recolhimento de lixo,
entre outros.
4.2.4 Telefonia IP e VoIP
A utilização da Telefonia IP e VoIP pode trazer, além de uma economia
significativa de custos, uma melhoria da gestão e dos processos. O governo
municipal pode, por exemplo, interligar todos os seus órgãos, em diferentes
endereços através de Telefonia IP. Dessa forma, é possível usufruir dos seguintes
benefícios:
• As ligações entre os terminais do governo municipal não trafegarão por
operadoras, economizando o valor correspondente a tarifação das mesmas;
• Pode ser feito um plano de numeração único, facilitando a comunicação
interna e externa do governo;
• Órgãos ou pessoas que mudem seu local de trabalho podem levar consigo
seus números telefônicos;
63
• Diversas facilidades, antes restritas apenas aos usuários de um PABX3 –
Private Automatic Branch Exchange, podem ser disponibilizadas para toda
rede, como siga-me, conferência etc;
• O usuário poderá cadastrar-se em qualquer terminal da rede, levando consigo
o número e todas as facilidades a ele configuradas, usufruindo dos recursos
de mobilidade;
• Os técnicos responsáveis pela telefonia tem a possibilidade de, em um único
local, configurar qualquer equipamento VoIP da rede;
• Podem ser gerados relatórios de utilização individual de terminais ou
usuários, consolidando por órgãos, abastecendo os respectivos gestores de
informações necessárias ao controle de custos e procedimentos.
Teoricamente, o servidor de Telefonia IP pode estar localizado em qualquer
local da Internet, mas é importante analisar que, em caso de interrupção do acesso
à Internet, a comunicação de voz pode ser completamente interrompida ou,
dependendo da topologia e dos equipamentos utilizados, apenas as funções básicas
manter-se-ão em funcionamento.
O serviço de VoIP pode ser utilizado de maneiras distintas na Cidade Digital:
1. Usuários podem utilizar serviços de operadoras de VoIP como o Skype, tendo
a Cidade Digital apenas como a rede de acesso à Internet. Neste caso, os
usuários são, normalmente, individuais ou pequenas empresas;
2. Uma entidade, privada ou pública, pode gerir a Telefonia IP na Cidade Digital,
interligando terminais e PABX, fazendo uso de um servidor de Telefonia IP
próprio ou de terceiros;
3
PABX – Central telefônica privada que possibilita conexões, de origem externa, a um dado terminal (“ramal”)
de forma automática, prescindindo de atendimento intermediário (telefonista) usado em casos de centrais
privadas mais limitadas, onde isto é necessário. Este tipo de chamada é conhecido como “Discagem Direta a
Ramal” – DDR, e os números que designam ramais que podem recebê-las constituem as “faixas DDR”. O PABX
permite a comunicação sem custo entre os ramais instalados em um mesmo endereço e o compartilhamento
de troncos analógicos ou E1s para iniciar ou receber ligações telefônicas externas a ele. Tem como facilidades a
geração de relatórios de ligações por ramal, entrantes e saintes, siga-me, chefe-secretária, e diversas
facilidades adicionais. Como desvantagens, há o custo de aquisição (ou locação), instalação e de manutenção.
64
3. PABX podem ser interligados a troncos IP4 de operadoras, substituindo os
troncos analógicos 5ou os troncos digitais conhecidos como E16.
A comunicação de voz é sensível quanto ao atraso e ao jitter, exigindo uma
qualidade mínima da rede, logo as aplicações de voz demandam diferentes
equipamentos e softwares de uma rede projetada apenas para dados, trazendo
normalmente custos mais altos.
4.2.5 Rádio Móvel Profissional
As aplicações de rádio móvel profissional (PMR – Private / Professional
Mobile Radio) são utilizadas principalmente pelo governo em suas forças de
segurança – polícia, corpo de bombeiros, guarda municipal e defesa civil - mas
também em aeroportos, portos, operadoras de energias e outros segmentos que
precisem de mobilidade aos seus funcionários em áreas amplas. As pessoas podem
fazer chamadas individuais ou para grupos. Os sistemas mais modernos, que são
digitais, permitem que o mesmo seja integrado a uma rede de comunicação de
dados e ao sistema telefônico público, pois seus terminais, além de poderem realizar
/ receber ligações para a rede de telefonia fixa ou celular, podem enviar / receber
informações e processá-las. Por exemplo, uma ferrovia que tenha suas locomotivas
equipadas com rádios móveis modernos pode monitorar as condições das mesmas
como, por exemplo, velocidade, temperatura do motor, etc – sem a intervenção do
maquinista. Em outro exemplo, voltado para a segurança, um policial pode através
4
Tronco IP – Circuito de comunicação de dados interligando operadora de telecomunicações aos cliente, por
onde trafegam canais de voz digitalizada sobre o protocolo IP.
5
Tronco Analógico – É uma linha individual com a característica de estar conectada em um PABX. Do ponto de
vista do serviço oferecido traz diversas vantagens sobre as linhas individuais. Por exemplo, várias linhas
conectadas ao PABX podem estar sob o mesmo número (disca-se para apenas um número, mas na realidade
são várias linhas conectadas no PABX, permitindo várias ligações simultâneas utilizando o mesmo número).
Além disso, é possível integrar todas as linhas em uma mesma conta. É cobrada assinatura, assim como na
linha individual.
6
Tronco Digital / E1 - serviço que supre até 30 canais de voz digitalizados e multiplexados em um circuito de
dados de 2 Mbps, utilizado na ligação entre o PABX de um cliente e uma central pública da operadora. Traz
vantagens sobre o tronco analógico, como a melhor qualidade de voz, maior rapidez no completamento das
ligações e mais facilidades como o identificador de chamadas. Sua assinatura é normalmente um valor inferior
ao da assinatura de 30 troncos analógicos. Algumas operadoras oferecem gratuidade pela assinatura de
troncos digitais para clientes com alto tráfego.
65
do seu rádio pode consultar a placa de um automóvel para verificar se o mesmo é
roubado, desde que seja implantado um aplicativo para esse fim.
Os terminais dessa tecnologia podem ser equipados com localizador baseado
em GPS (Global Positioning System), permitindo que sua posição – latitude e
longitude – seja enviada a uma central, onde o operador ou um sistema
automatizado pode ter uma visão global do posicionamento de todos os terminais ou
de algum especificamente.
As possibilidades de interconexão das redes de PMR com uma rede
corporativa de dados e voz, a Internet ou a rede telefônica pública possibilita que
essa aplicação seja integrada a um projeto de Cidade Digital, destinando sua
utilização apenas às empresas e forças de segurança do governo ou também às
empresas privadas que necessitem desse serviço.
4.3 Arquitetura de Cidade Digital
A arquitetura de uma rede de comunicação de dados usualmente é dividida
em backbone, distribuição e acesso.
4.3.1 Backbone ou Backhaul
O Backbone, rede de transporte ou, mais modernamente chamado, infovias,
tem o objetivo de interconectar o ponto principal da Cidade Digital à rede mundial de
computadores. É a parte da infraestrutura que possui as maiores capacidades de
transmissão com equipamentos do tipo Carrier Class (confiabilidade necessária a
grandes
operadoras
de
telecomunicações)
e
redundâncias
de
recursos.
Normalmente utiliza DWDM (Dense Wavelength Division Multiplexing) transmitindo
dezenas de Gbps, multiplicando a capacidade das fibras ópticas, e SDH
(Synchronous Digital Hierarchy).
Os cabos de fibra óptica dos backbones, comumente seguem junto às linhas
de transmissão de energia elétrica, como no caso das infovias do estado do Pará
[27], aos oleodutos e gasodutos, às ferrovias ou rodovias.
Em locais com menos recursos de infraestrutura, os backbones são formados
por equipamentos e enlaces de rádio digital ou até mesmo por enlaces de satélites
66
em caso de locais remotos, como na Amazônia. Nesses casos, a banda é na ordem
de MHz, com o custo proporcionalmente maior e a disponibilidade mais baixa.
A obtenção do backhaul com a banda necessária a custos razoáveis pode ser
um dos maiores desafios da implantação de uma Cidade Digital. Enquanto nos
grandes centros há grande concorrência entre as operadoras, no interior muitas
vezes apenas uma operadora atende o local. Em diversos locais, não há o
atendimento das grandes operadoras e a solução é um acesso via satélite ou a
implantação de enlaces via rádio terrestre de cidades vizinhas, quando há alguma
atendida nas proximidades.
Como o backhaul é uma grande preocupação do governo, pois pode dificultar
a inclusão digital no interior do país, surgiu a ideia de utilizar os recursos de
operadoras de transmissão elétrica e das operadoras de telecomunicações para
criar um grande backbone de Internet do Governo. Atualmente discute-se a forma de
sua implantação, através da antiga Telebrás, da criação de uma nova empresa ou
de entregar a gestão desses recursos às grandes operadoras de telecomunicações.
A Figura 16 mostra como seria o backbone unindo-se recursos de fibra óptica
das empresas de transmissão de energia elétrica e da Petrobrás.
67
Figura 16: Backbone Nacional
Os municípios a até 100 Km de distância do backbone poderiam ser
atendidos pelo mesmo sem grandes dificuldades, ficando evidente a importância
desse projeto, mas também fica claro que o mesmo, sozinho, não é suficiente para
atender todo o país. Grandes áreas no interior do nordeste e de Minas Gerais, na
Amazônia e no centro-oeste continuam sem o atendimento do backhaul. Essas
áreas, não por coincidência, são as com menor densidade populacional e renda do
país.
4.3.2 Distribuição
A distribuição tem como objetivo levar a banda recebida do backbone às
localidades atendidas e vice-versa. São utilizados equipamentos tipo Carrier Class
com bandas intermediárias, na ordem de dezenas a centenas de Mbps. A
distribuição costuma utilizar tecnologias de fibra óptica, mais modernamente sendo
68
utilizados enlaces de rádio WiMAX em locais onde as necessidades de banda são
baixas (dezenas de Mbps) ou WiFi 802.11a para pequenas cidades.
Figura 17: Exemplo de distribuição e acesso
A Figura 17 exemplifica a distribuição sendo realizada através da tecnologia
802.11a e o acesso através de 802.11g.
A seleção da tecnologia e o dimensionamento dos equipamentos da
distribuição são essenciais para o sucesso de um projeto de uma Cidade Digital. A
soma do tráfego gerado pelos equipamentos de acesso pode ser expressiva em um
projeto de uma grande cidade ou uma cidade menor, mas com grandes demandas
de banda. Nesses casos, a distribuição será um projeto a parte, semelhante a um
projeto de uma rede metropolitana de uma grande operadora de telecomunicações
que poderá utilizar tecnologias como o Carrier Ethernet, MPLS (Multi Protocol Label
Switching), SDH e DWDM.
Caso a rede de distribuição não seja bem dimensionada, não apenas o
acesso à Internet será lento, mas também as próprias aplicações intra-municipais
poderão ter o seu desempenho comprometido.
4.3.3 Acesso
O Acesso é o conjunto de equipamentos e circuitos que tem o objetivo de
transportar a banda de comunicação entre cada ponto de distribuição da rede do
69
provedor a todos os clientes. A quantidade de pontos atendidos, isto é, os clientes, e
seu espalhamento tornam essa parte da rede a mais cara tanto em função do OPEX
quanto em função do CAPEX.
No acesso, a quantidade de tecnologias disponíveis é grande, como PON,
aDSL, WiFi 802.11b e 802.11g, através de cabos coaxiais, tecnologias por redes
celulares, PLC e linha telefônica discada. No Brasil, é muito utilizado o aDSL pelas
grandes operadoras e WiFi pelos pequenos provedores. Internet através de cabo
coaxial ainda é pouco utilizada, pois diferente dos Estados Unidos, onde já havia
uma grande rede de TV por cabo, a brasileira ainda é pequena.
O acesso via satélite é utilizado em fazendas, obras de infraestrutura e
comunidades isoladas onde o custo só é viabilizado pela ausência de opções.
4.4 Tecnologias
Esta seção descreve as principais tecnologias utilizadas na infraestrutura de
Cidades Digitais, principalmente no acesso.
Para que se tenha idéia da disseminação, a Tabela 1 exibe a quantidade de
conexões implantadas das principais tecnologias de banda larga utilizadas no Brasil.
Existem ainda conexões IP dedicadas (mercado corporativo), acessos via
satélite (21 mil em 2007) e acessos de banda larga móvel das operadoras de celular
(4.618 mil no 1T09), quantidades pouco significativas frente às registradas na Tabela
1.
4.4.1 aDSL – asymmetrical Digital Subscriber Line
O aDSL, chegando a marca de 8 milhões de acessos instalados, é atualmente
a principal tecnologia de banda larga utilizada no Brasil, conforme a Tabela 1.
O aDSL faz parte da família de tecnologias xDSL, onde Tabela 11 detalha
seus padrões e as suas principais características.
70
Tabela 11: Padrões associados às tecnologias xDSL
A principal função do aDSL é o aproveitamento do cabeamento telefônico
(última milha) das operadoras de telecomunicações para a criação de uma rede de
acesso do serviço de banda larga. Em uma única linha telefônica é possível o
tráfego simultâneo de uma conversação e alguns Mbps de dados em ambos os
sentidos. Por características dos serviços interativos disponíveis na Internet, onde o
usuário final envia pequenas mensagens de solicitação ao servidor, recebendo como
resposta mensagens mais longas na forma de arquivos de dados, sons ou imagens
digitalizadas e sequências de vídeo, a banda do aDSL é assimétrica com o
download (tráfego da rede para o usuário) superior ao upload (tráfego do usuário
para a rede). Por essa razão, conforme demonstra a Figura 19, a maior parte da
banda do aDSL é dedicada ao download.
71
Figura 18: Espectro de potência do aDSL [40]
Um par de modens aDSL e um par trançado são utilizados na ligação do
usuário ao nó da rede da operadora. Splitters são utilizados em ambas as pontas
para a separação do tráfego de dados da comunicação por voz. Diferente dos
acessos à Internet por linha discada, o tráfego de dados do aDSL não atravessa a
rede telefônica, mas apenas compartilha a rede externa (cabos telefônicos,
subterrâneos ou aéreos) instados nas ruas.
A indutância e capacitância dos pares metálicos são os maiores limitadores
da utilização da rede externa para o acesso de banda larga. A Figura 19 mostra a
diminuição da vazão de dados conforme cresce a distância entre o usuário e o nó da
rede da operadora.
Figura 19: Distância x vazão máxima no aDSL [40]
Pela Figura 19 é possível notar que apenas os clientes até uma distância de 5
Km da estação telefônica conseguem ser atendidos por essa tecnologia. É comum
ultrapassar essa barreira com a utilização de URA – Unidade Remota de Assinante
72
equipadas para comunicação de dados. A URA é um gabinete, normalmente
instalada em calçadas próximas aos assinantes, interligada à central telefônica
através de fibra óptica, provida de equipamentos de energia, monitoração, voz e,
opcionalmente, dados. A comunicação com os assinantes é realizada através de par
metálico. Quando equipada com DSLAM - Digital Subscriber Line Access
Multiplexer, a URA permite atender clientes, com um serviço aDSL, em um raio de
5Km, sem contar a distância da URA à central telefônica. O DSLAM é um conjunto
de modens interligados aos pares metálicos dos assinantes do serviço e à rede de
dados da operadora.
4.4.2 PLC – Power Line Communication
A transmissão de dados e voz sobre a rede de energia elétrica não é uma
novidade, sendo utilizada pelas empresas de energia elétrica desde a década de 20
com sistemas chamados OPLAT - Ondas Portadoras em Linhas de Alta Tensão para
a telemetria, tele-controle e comunicação de voz.
A partir do conhecimento do OPLAT, foi desenvolvido o PLC – Power Line
Communication [36], que é uma tecnologia de transmissão de dados sobre os
circuitos elétricos que alimentam de energia nossas residências, indústrias e
escritórios. É conhecido também como PLC - Power Line Carrier, PDSL - Power line
Digital Subscriber Line, PLT - Power Line Telecom e PLN - Power Line Networking.
BPL - Broadband over Power Lines é o termo utilizado quando o circuito de
comunicação é utilizado para acesso à Internet.
A rede elétrica é a maior rede implantada no país, maior do que a de água e
esgotos e do que a telecomunicações. Sua utilização para a transmissão de dados
seria extremamente útil para a inclusão digital e a construção de Cidades Digitais.
Nessa visão, seria a solução de acesso à Internet em um país como o Brasil, mas há
algumas limitações.
• Os sinais de comunicação de dados na frequência utilizada pelo PLC sofrem
uma grande atenuação nos circuitos elétricos, tornando sua utilização prática
a uma distância de apenas poucos quilômetros;
73
• Os sinais de comunicação de dados não atravessam os transformadores,
muito
utilizados
nas
redes
elétricas,
obrigando
a
utilização
outros
equipamentos para ultrapassá-los.
Por causa desses fatores, ainda não é possível a utilização da tecnologia PLC
para backbones e distribuição, mas para o acesso. Assim, a tecnologia PLC é usada
de duas formas:
• Implantação de uma rede de acesso à Internet em uma determinada região,
utilizando-se a rede de alta e de baixa tensão da companhia elétrica local,
com acopladores evitando o tráfego de dados pelos transformadores e
chegando aos consumidores finais por sua rede elétrica. A Figura 20 exibe a
arquitetura de um sistema PLC, integrando a rede elétrica, desde a geração
até o consumidor final, com a rede Internet.
• Formação de uma “rede local” dentro de um prédio sobre uma ou mais fases
da rede elétrica, conhecido como “last inch”, conforme demonstra a Figura 21.
Figura 20: Arquitetura do Sistema PLC [40]
74
Figura 21: PLC como "last inch" [40]
O PLC é padronizado por diversos organismos como o IEEE 1675, através
dos documentos em elaboração pelos grupos de trabalho P1675, P1775 e P1901,
OPERA - Open PLC European Research Alliance, ETSI PLT e POWERNET.
O PLC pode ser dividido em duas camadas principais, a Camada física e a
camada de controle de acesso ao meio - MAC. A camada física define as técnicas
de modulação para transmitir os dados sobre as linhas de energia e a camada MAC
define a estratégia de compartilhamento do meio.
A camada física do PLC utiliza as técnicas de modulação FSK para baixas
taxas de transmissão, CDMA para taxas de até 1 Mbps e OFDM para altas taxas de
transmissão. A camada MAC utiliza os protocolos CSMA/CD e CSMA/CA para o
controle de acesso ao meio.
Atualmente, a tecnologia PLC permite oferecer comercialmente o acesso de
até 200 Mbps e distâncias de até 1,5 Km sem repetidores. Toda a transmissão é
criptografada uma vez que o meio é compartilhado.
75
4.4.3 IEEE 802.11 - Wireless Local Area Network
802.11 é um conjunto de padrões definidos pelo IEEE que suportam WLAN –
Wireless LAN, isto é, rede local sem fio. Também conhecido por WiFi, marca criada
pela WiFi Alliance que tem como objetivo certificar WLAN baseadas no padrão
802.11. A principal vantagem das redes sem fio é a mobilidade, isto é, o usuário da
rede pode estar em movimento.
Embora seja dito em [42] que “Redes sem fio não substituem redes
cabeadas”, são diversos os exemplos onde as redes sem fio substituem as redes
cabeadas pela rapidez de implantação, flexibilidade e pela dificuldade de passagem
de cabos principalmente em prédios antigos ou de preservação histórica. A
diminuição dos custos e a maior facilidade de sua implantação também são fatores
que favorecem o crescimento das redes sem fio.
O padrão 802.11 permite a equipamentos, especialmente os móveis como
notebooks e PDA, enviar e receber dados entre si e com outros equipamentos
conectados em rede. Funciona em 3 diferentes modos:
1. Infraestrutura – neste modo, a comunicação se dá entre os equipamentos
usuários da rede (notebooks, PDA) sempre através dos equipamentos de
infraestrutura da rede (AP – Access Point, roteadores). A comunicação não é
realizada diretamente entre dois equipamentos usuários da rede. Os AP não
se comunicam entre si ou com a Internet pela interface aérea, mas através de
uma rede cabeada;
2. Ad-Hoc – neste modo, a comunicação se dá diretamente entre os
equipamentos sem uma infraestrutura de rede intermediária como AP –
Access Point ou roteadores;
3. Mesh – neste modo os equipamentos usuários se comunicam com os
equipamentos de infraestrutura e esses últimos têm a possibilidade de
comunicar-se entre si, podendo criar uma rede em malha, dependendo da
topologia da distribuição dos equipamentos.
76
Figura 22: Redes Ad-Hoc e com infraestrutura [42]
A área de cobertura de um AP é chamado de Hot Spot e tem
aproximadamente um raio de 100m quando utilizada uma antena omnidirecional.
Essa área pode mudar conforme o ganho e a direcionalidade das antenas utilizadas.
Um BSS – Basic Service Set é um grupo de estações comunicando entre si,
com ou sem infraestrutura em uma área, normalmente pequena, como um escritório
ou uma residência. Para a cobertura de maiores áreas é necessário a combinação
de vários BSS em um ESS – Extended Service Set. O ESS é criado pelo
encadeamento de vários BSS como mostra a Figura 23.
Figura 23: ESS Extended Service Set [42]
Atualmente, praticamente todos os notebooks e diversos outros aparelhos
como PDAs são vendidos já equipados com interfaces de rede sem fio 802.11b e g.
Alguns já com o padrão 802.11n e poucos com o padrão 802.11a. Dessa forma,
para o acesso, torna-se mais adequado a utilização dos padrões b, g e n, enquanto
para a comunicação entre APs em uma rede WiFi Mesh e para enlaces ponto-aponto deve-se utilizar o padrão 802.11a, menos disseminado entre notebooks. A
frequência mais baixa do padrão b e g (2,4 GHz) em relação ao padrão 802.11a (5
GHz), torna a comunicação dos dois primeiros menos sensível à interferências e
77
obstáculos, mais adequado assim ao acesso e o último para onde há linha de
visada.
O padrão inicial 802.11 de 1999, limitado a 2 Mbps, foi aperfeiçoado estando
definidos atualmente as seguintes alternativas:
Tabela 12: Principais padrões da família 802.11
Padrões
Frequências
802.11b
802.11g
2400-2483,5 MHz
Técnica de
Modulação
Taxa de
Dados
DSSS
até 11 Mbit/s
DSSS,
OFDM
até 54 Mbit/s
OFDM
até 54 Mbit/s
OFDM
até 150 Mbps/s
5150-5350 MHz
802.11a
5470-5725 MHz
5725-5850 MHz
802.11n
2400-2483,5 MHz
Alguns dos mais importantes padrões da família 802.11 são:
• 802.11e: adiciona recursos de QoS - Quality of Service para suportar
aplicações de multimídia com os padrões 802.11b, 802.11g e 802.11a
• 802.11n: maior vazão através do recurso de MIMO (Multiple Input, Multiple
Output antennas)
• 802.11i: Aprimoramento da segurança
• 802.11ae: gerenciamento de QoS
• 802.1x: Padrão de autenticação baseada na porta, inicialmente utilizado em
redes com fio, depois adaptados a WLAN
• 802.11s: Redes Mesh Networking. Extended Service Set (ESS)
O padrão 802.11 divide a banda em canais, assim como no rádio e TV
comercial. A banda de 2,4000 -2,4835 GHz é dividida em 13 canais de 22 MHz,
espaçados de 5 MHz, conforme mostra a Figura 24. Como a largura de banda do
canal é maior que o espaçamento, há uma sobreposição dos canais com os seus 1º
e 2º canais adjacentes, possibilitando a utilização simultânea de apenas 3 canais,
em uma WLAN, sem interferência.
78
Figura 24: Representação dos canais 802.11 na banda de 2,4 GHz [42]
A família 802 abrange as camadas física e de enlace, conforme mostra a
Figura 25. O padrão 802.11 é apenas mais uma camada de enlace a utilizar o
encapsulamento 802.2/LLC. A base das especificações do padrão 802.11 inclui o
802.11 MAC e duas camadas físicas: a FHSS - Frequency-Hopping SpreadSpectrum e a DSSS - Direct-Sequence Spread-Spectrum link layer. Revisões
posteriores do padrão 802.11 adicionaram novas possibilidades de camadas físicas,
como, por exemplo, o padrão 802.11b que especifica o HR/DSSS - High-Rate /
DSSS e o padrão 802.11a baseado no OFDM (Orthogonal Frequency Division
Multiplexing). O uso de ondas de rádio requer uma camada física complexa.
Figura 25: A família IEEE 802 e sua relação com o modelo OSI [42]
Diferente de outros protocolos de camada de enlace, o 802.11 incorpora o
reconhecimento positivo. Todos os quadros transmitidos devem ser reconhecidos,
senão o quadro é considerado perdido. A Figura 26 demonstra a comunicação entre
duas estações em uma rede ad-hoc.
79
Figura 26: Reconhecimento dos quadros transmitidos [42]
4.4.4 WiMAX
O WiMAX – Worldwide Interoperability for Microwave Access é um sistema de
comunicação sem fio que permite computadores e outros equipamentos de
comunicação a se conectarem a redes de alta velocidade, como a Internet, através
de ondas de rádio como meio de comunicação. É definido pelo IEEE na família de
normas 802.16, a princípio para sistemas fixos e posteriormente, também para
sistemas móveis. Existe também o WiMAX Fórum, criado com o objetivo de
promover e certificar compatibilidade e interoperabilidade de produtos para Redes
Sem Fio de Banda Larga.
O WiMAX foi primeiramente utilizado para as redes sem fio metropolitanas
(WMAN), mas seu alcance permite atualmente a utilização também para a cobertura
de áreas rurais.
Utiliza-se o WiMAX ponto-a-ponto com antenas direcionais ou pontomultiponto com antenas omnidirecionais ou direcionais de grande abertura horizontal
(60° ou mais). A Figura 27 ilustra a utilização de sistemas ponto-a-ponto e multiponto
com o WiMAX.
80
Figura 27: Tipos de sistemas WiMAX [43]
Sistemas de banda larga sem fio em grandes áreas são normalmente
compostos por BS – Base Station ou AU – Access Unit, SS – Subscriber Station ou
SU – Subscriber Unit, comutadores e gateways, onde os BS são os equipamentos
de infraestrutura conectados à rede de distribuição e aos usuários finais. Os SS são
os equipamentos instalados no ambiente do cliente, sejam equipamentos fixos,
instalados em prédios ou residências, ou placas em notebooks. Os gateways podem
conectar o sistemas WiMAX à Internet, a rede pública de telefonia ou broadcast de
IPTV. A Figura 28 mostra o exemplo do WiMAX móvel, onde um assinante em um
automóvel movimenta-se através da cobertura de várias BS com antenas
omnidirecionais e a conexão pode ser mantida através da função de hand-off, como
em uma rede de telefonia celular.
Figura 28: WiMAX Móvel [43]
O padrão WiMAX especifica a interface aérea, a camada física (PHY) e a
camada de enlace (MAC) conforme a Figura 29. Foi desenvolvido já com o objetivo
81
de suprir o sistema com recursos de segurança e de QoS permitindo a sua utilização
por aplicações críticas e de streaming.
Figura 29: Camadas de Protocolo do WiMAX [43]
O padrão 802.16 inicial previa a utilização de sistemas com linha de visada
operando na faixa de rádio de 10 a 66 GHz. Para permitir a operação sem linha de
visada, foi criada a especificação 802.16a para a operação na faixa de 2 a 11GHz. O
WIMAX permite largura de banda maior que 20 MHz, possibilitando taxas de
transmissão acima de 120 Mbps.
O WIMAX traz diversas vantagens comparando-se com o WIFi. Na Tabela 13
são listadas algumas das principais.
Tabela 13: comparação do WiFi com o WiMAX
Característica
Alcance
Cobertura
Taxa de transmissão
QoS
802.11 (WiFi)
Tipicamente até 100 m
Projetado para transmissões
em ambiente fechado
54 Mbps por canal (2,7
bps/Hz)
Controle descentralizado
802.16 (WiMAX)
Até 50 Km
Otimizado para as variações
da transmissão em espaço
aberto
Acima de 100 Mbps por
canal (5,0 bps/Hz ou mais)
Controle centralizado
82
A cobertura através do rádio ocorre quando uma área geográfica recebe um
sinal de rádio acima de um nível especificado. O padrão WiMAX pode operar até 50
Km com linha de visada (LOS) e até 8 Km sem linha de visada (NLOS). Na prática,
as células são limitadas a aproximadamente 9,5 Km [43].
Há uma relação entre a taxa de transmissão dos dados e a distância entre a
BS e as SS. Conforme o tipo da modulação torna-se mais eficiente (mais bits por
Hertz), melhor deve ser a qualidade do canal, reduzindo a distância máxima entre o
transmissor e o receptor. Conforme a distância aumenta de um fator de 10 no
espaço aberto, o sinal cai por um fator de 1.000, enquanto que ao atravessar
paredes ou pisos, o sinal pode cair por um fator de 100.000 ou mais.
Figura 30: área de serviço do WIMAX [43]
A Figura 30 ilustra a taxa de transmissão máxima para as comunicações de
WiMAX fixo e móvel. Um canal de rádio WiMAX de largura de banda de 20 MHz
provê uma taxa de transmissão de até 75 Mbps (estando próximo da estação base)
enquanto a taxa decai conforme a distância a estação base aumenta.
A Figura 31 exibe a eficiência espectral do WiMAX comparada
tecnologias de banda larga sem fio.
a outras
83
Figura 31: Eficiência espectral do WiMAX [43]
A seguir, é apresentada a evolução do padrão IEEE 802.16:
802.16
- serviço de banda larga fixo na faixa de 10-66 GHz
802.16a
- adiciona a faixa de 2-11 GHz
802.16c
- adiciona os perfis da faixa de 10-66 GHz
802.16d
- adiciona os perfis da faixa de 2-11 GHz
802.16-2004 - substitui as normas 802.16, 802.16a, 802.16c e 802.16d
802.16e
- adiciona banda larga móvel na faixa de 2-6 GHz, incluindo
gerência de mobilidade, hand-off e o modo de power saving sleep
802.16f
- define as MIB – Managemeng Information Base do WIMAX
802.16g
- define o plano de gerenciamento
802.16m
- oferecerá velocidades máximas de download e upload de 120
Mbps e 60 Mbps, respectivamente.
4.4.5 TETRA - Terrestrial Trunked Radio
Desde que o ETSI disponibilizou o padrão TETRA no mercado mundial, ele
tem sido a principal escolha de tecnologia para aplicações de PMR – Private /
Professional Mobile Radio para redes públicas de segurança, desenvolvendo-se
tanto em aplicações como em tecnologia [37].
84
Figura 32: Crescimento cumulativo de contratos TETRA no mundo [37]
Em 1994, foi criado a TETRA MoU - The TETRA Memorandum of
Understanding, associação que representa usuários, fabricantes, integradores,
desenvolvedores de aplicações e agências de telecomunicações para incentivar a
aderência e adoção do padrão.
Figura 33: Interfaces de rede do padrão TETRA [38]
O TETRA possui 8 padrões de interfaces de rede, detalhados na Figura 33. A
interface aérea (1) - trunking, utilizada entre os terminais dos usuários e a estação
base TETRA. A interface (2) DMO - Direct Mode Operation, utilizada na
comunicação direta entre os terminais de usuários. A interface (3) PEI - Peripheral
Equipment Interface para a conexão de equipamentos de usuário (PDA,
controladores) aos terminais TETRA. A interface (4) MMI - Man Machine Interface –
para a comunicação do usuário ao terminal TETRA. A interface (5) entre o núcleo de
infraestrutura de rede e os terminais remotos de despacho. A interface (6) CNMI Central Network Management Interface, que é utilizada para o estabelecimento e
manutenção das comunicações necessárias às funções de gerenciamento da rede
TETRA. A interface (7) ISI - Inter System Interface, necessária para a integração de
85
infraestruturas de fabricantes diferentes. A interface (8) é um gateway para redes
externas RTPC, RDSI e IP.
A Tabela 14 detalha as vazões possíveis de acordo com a modulação o os
tipos de canais utilizados no sistema TETRA.
Tabela 14: Modulação, largura de banda e vazão dos canais
Modulação
25
KHz
π/4 DQPSK
15,6
π /8 D8PSK
24,3
Tipo do canal
50
100
KHz
KHz
150
KHz
4-QAM
11
27
58
90
16-QAM
22
54
116
179
64-QAM
33
80
175
269
64-QAM
44
107
233
359
64-QAM
66
160
349
538
Um sistema TETRA pode ser formado por diversas estações base, cada uma
comunicando-se com terminais em um raio de até 58 Km. A comunicação é
codificada, preservando a privacidade e permitindo chamadas para um ou vários
usuários simultaneamente.
É possível imaginar que os mesmos serviços poderiam ser prestados pela
rede de telefonia celular ou como o prestado pela empresa Nextel. Uma das
principais diferenças é que os terminais TETRA podem comunicar-se diretamente
entre si e não apenas através de estações base. A outra é que, por ter sido criado
visando prestar serviços às forças de segurança, o TETRA deve ter uma alta
disponibilidade. Como exemplo, durante o apagão de energia elétrica de novembro
de 2009 no Brasil [49], as ERBs localizadas fora de estação e sem telealimentação
desligaram-se. Um sistema TETRA bem planejado deve possuir estações e enlaces
redundantes, assim como alternativas a rede comercial de energia, estando
preparado para manter-se em operação e oferecer comunicação aos bombeiros,
polícia e defesa civil mesmo durante momentos de emergência, quando essas
forças são mais necessárias.
86
4.4.6 Redes de Telefonia Celular
O artigo [5] descreve que as tecnologias 3G baseadas em redes celulares não
serão as mais adequadas à inclusão digital e na América Latina, principalmente por
causa de seu custo. A tendência recente da extinção de planos de Internet móvel
ilimitada força a mudança de planos das empresas que tinham esse fator como prérequisito para o funcionamento de seus serviços em equipamentos móveis.
Alan Hadden, presidente da Global Mobile Suppliers Association, diz "Planos
ilimitados não são viáveis no longo prazo". As operadoras se viram da noite para o
dia carregadas de tráfego de vídeo, redes sociais e intensa navegação, diferente do
baixo volume de dados consumido anteriormente pelas limitações dos serviços de
segunda geração [44]. Em junho 2010, a AT&T, segunda maior operadora de
telefonia celular dos Estados Unidos encerrou seus planos de dados ilimitados
justificando que o consumo mensal limitado a 2 GB atenderia a 98% de seus
clientes. Uma semana depois, a O2, operadora de telefonia celular da Telefônica
tomou a mesma providência.
O que foi concebido como um serviço auxiliar, porém, acabou se tornando a
principal porta de acesso à Internet. "Os modems são hoje a Internet principal de
mais de 80% dos clientes", diz Fiamma Zarife, diretora de serviços de valor
agregado e roaming da Claro. Os motivos são a pouca oferta e concorrência nos
serviços de Internet fixa pelas redes de telefonia ou de TV paga [44].
O acesso 3G pode ser entendido como uma porta de entrada da população
na Internet, mas os custos e a limitação de banda serão obstáculos para o uso em
uma real inclusão digital, onde a rede fixa pode ser mais barata e eficiente.
4.4.7 Conclusão
Entende-se que o maior entrave ao crescimento de acessos aDSL no Brasil é
o fato do cabeamento telefônico estar, em quase sua totalidade,
em poder de
apenas duas operadoras de telecomunicações e as negociações do unbundling não
tenham se tornado uma realidade.
O unbundling permitiria que os pares telefônicos fossem alugados a terceiros
para que esses oferecessem serviços como o de telefonia fixa e aDSL, estimulando
a concorrência, uma vez que não seria necessário que uma prestadora de serviço
87
em telecomunicações tivesse a propriedade de uma rede cabeada para oferecer
serviços em uma determinada localidade.
Apesar de a tecnologia PLC vir sendo amplamente discutida, sua aplicação
ainda não está amplamente difundida. Por outro lado, as tecnologias sem fio – WiFi
e WiMAX – são encontradas em diversos exemplos de implantação do acesso de
Cidades Digitais, tendo como atrativos a rapidez de implantação e custos baixos em
relação à criação de uma rede física.
A tecnologia TETRA vem sendo adotada no Brasil, criando inúmeras
possibilidades de incorporação dessas redes em projetos de Cidades Digitais.
88
5 METODOLOGIA DE IMPLANTAÇÃO
Esse capítulo tem como objetivo servir de guia para o responsável pelo
planejamento de uma Cidade Digital, detalhando os passos principais e descrevendo
alternativas, servindo também como um check-list do projeto.
Uma Cidade Digital engloba diversos setores da sociedade – governo,
cidadãos, estudantes, empresários, fornecedores - assim como várias áreas de
conhecimento – gestão de governo, economia, informática, telecomunicações,
segurança pública, tornando-se um projeto complexo de engenharia. Normalmente,
uma pequena cidade não possui recursos humanos especializados para esse tipo de
tarefa, onde o auxílio de uma consultoria para guiá-la nesse processo pode ser
importante. Mesmo em grandes cidades, uma consultoria com o conhecimento de
Cidade Digital pode ser útil, uma vez que os projetos são mais complexos e com o
custo bem superior aos de pequenas cidades, logo se devem buscar benefícios
proporcionalmente maiores.
O planejamento deve-se iniciar com um pré-projeto onde são estabelecidos
os objetivos da Cidade Digital, identificados ou definidos seus usuários e serviços
principais, os sistemas de operação e gerência, esboçado o projeto físico com a
topologia, os possíveis equipamentos com a respectiva qualificação e quantificação,
estimados os custos de implantação e manutenção e os respectivos caminhos para
captação de recursos.
Com o pré-projeto, é possível adaptar a Cidade Digital às possibilidades da
Prefeitura e submetê-lo às entidades de fomento para captação de recursos. Após a
submissão e aprovação de verbas para a criação da Cidade Digital, o pré-projeto
deve ser detalhado, tornando-se um projeto, uma vez que, com valores e datas
concretos, é possível especificar os equipamentos a serem utilizados, as
89
capacidades, a quantidade e tipo dos usuários a serem atendidos e as posições
geográficas dos equipamentos e suas coberturas.
Neste capítulo são apresentados, junto a metodologia, os modelos genéricos
de gestão, econômico, de aplicação e de serviços, divididos entre pequena e grande
cidade. Como há uma enorme diversidade de cidades no Brasil – topografia,
quantidade e densidade de habitantes, vocação econômica, escolaridade,
disponibilidade de recursos de comunicação, transportes, etc – há necessidade de
adaptá-lo à realidade local. Por isso, não é traçado um limite entre cidade pequena e
grande, uma vez que sempre haverá cidades médias, com características
intermediárias.
5.1 Estabelecimento dos objetivos
O primeiro passo do planejamento de uma Cidade Digital é o estabelecimento
dos objetivos para a mesma. Para isso, é importante que se conheça os potenciais –
turismo, cultura, indústria, serviços da cidade. Por exemplo, um município que
possua sua pecuária desenvolvida, pode ter seu projeto de Cidade Digital
abrangendo não apenas a área urbana, mas também a área rural, propiciando a
implantação de sistemas de rastreamento bovino, ferramenta exigida por diversos
países da Europa para autorizar a importação de carne bovina. Uma cidade com
potencial turístico pode ter como principais objetivos o atendimento de acesso à
Internet em hotéis, centros de convenção e locais públicos, assim como o
desenvolvimento de conteúdo para a divulgação de seus atrativos.
Os potenciais do município podem estar ocultos, necessitando, em alguns
casos, de um estudo para encontrá-los e desenvolvê-los. Um Plano de
Desenvolvimento do Município pode auxiliar, identificando e quantificado os
potenciais, orientando como e onde um projeto de Cidade Digital poderia ajudar no
desenvolvimento desses potenciais.
Os objetivos mais comuns em projetos de cidade digitais costumam ser:
disponibilização de acesso à Internet (órgãos públicos, escolas, população, turistas,
empresas), interligação dos órgãos públicos disponibilizando uma infraestrutura para
a automatização de processos governamentais e a implantação de VoIP para órgãos
governamentais.
90
5.2 Levantamento de informações do município
O levantamento de informações do município é importante por diversas
razões:
• Subsidiar o projeto de Cidade Digital para que o mesmo seja o mais
adequado às necessidades locais;
• Manter dados que permita uma comparação dos cenários anterior e posterior
a implantação, demonstrando os impactos da Cidade Digital na economia,
educação, no turismo local, etc;
• Demonstrar o retorno do investimento do projeto de Cidade Digital;
• Servir de base para a correção de rumos ou expansão do projeto ou como
subsídio para o planejamento de outros projetos de Cidade Digital.
O levantamento de informações pode ser realizado junto aos próprios órgãos
governamentais, dados do IBGE, entidades de classes, representantes da indústria,
comércio e serviço, Universidades e ONGs locais.
A seguir, são listados algumas informações essenciais para o projeto de
Cidade Digital:
• Físico
o Topografia da região
o Proximidade com outras Cidades Digitais (A discussão com o governo
estadual e com os municípios vizinhos também pode ser útil,
reaproveitando-se soluções e diminuindo os custos)
• Governo
o Aplicações atuais e previstas que podem utilizar os serviços da Cidade
Digital
o Custos atuais de TIC que podem reduzidos pela utilização da Cidade
Digital
• Instituições de ensino e pesquisa
o Quantidade, localização e possíveis demandas dessas instituições sobre a
infraestrutura da Cidade Digital
• Habitantes
91
o Quantidade, faixa etária, escolaridade, poder aquisitivo, distribuição pelo
município
• Fornecedores e recursos atuais
o Acessos dedicados à Internet através de grandes operadores
o Redes de pesquisa
o Serviços de banda larga disponíveis na região – tecnologia e seus custos
• Barreiras existentes para a disseminação da banda larga:
o Indisponibilidade do serviço de banda larga
o Custo dos serviços atuais de banda larga
o Indisponibilidade de computadores
o Falta de conhecimento do público local sobre informática
o Falta de conteúdo interessante ao público local
• Empresas – ramos de atividades, necessidades de comunicação, potencial de
implantação de novas aplicações, disponibilidade de recursos para o
pagamento de serviços de comunicação
A variação no tempo das informações abaixo pode auxiliar na análise dos
resultados da implantação da Cidade Digital.
• PIB Local
• Renda média da população
• Escolaridade média
• Nota média no ENEM dos alunos locais
• Custos dos serviços de banda larga
• Arrecadação de impostos – IPTU, ICMS, ISS
• Estatísticas de violência
• Empresas – quantidade, criação de novas, fechamento
• Índice de desemprego local
• Custos governamentais com TIC
• Percentual de residências atendidas com serviço de banda larga
• Percentual da população com acesso ao serviço de banda larga
• Serviços governamentais disponibilizados através da Cidade Digital / Internet
92
5.3 Definição do Público Alvo
De acordo com os objetivos definidos, faz-se necessário estabelecer o público
alvo da Cidade Digital. Provavelmente, os próprios órgãos do governo municipal,
escolas públicas ou privadas, hospitais, população de baixa renda, turistas, PME –
Pequenas e médias empresas, fazendas, entre outros. É importante definir quem
precisa estar conectado a rede metropolitana ou simplesmente à Internet, quem
poderá pagar pelos serviços, integralmente ou subsidiado.
No caso do governo municipal, a análise dos custos com telecomunicações
(voz e dados), mostrando os maiores ofensores, podem indicar os melhores
candidatos ao uso da Cidade Digital.
Não deve ser objetivo de uma Cidade Digital competir com as empresas de
serviços em telecomunicações e em Internet, por isso, a população e empresas que
já estejam (bem) atendidas e tenham como pagar os custos dos serviços, não fazem
parte, obrigatoriamente, do público alvo da Cidade Digital.
5.4 Definição das Aplicações
A interligação de órgãos públicos municipais faz-se necessário, pois
comumente os mesmos não estão reunidos em um mesmo prédio ou próximos, mas
distribuídos pelo município. Sua interligação permite a implantação de processos e
sistemas que agilizam o atendimento dos munícipes, a administração do governo
local e a redução de seus custos. Em grandes cidades, onde costuma haver órgãos
do governo estadual ou federal, sua inclusão no projeto de Cidade Digital pode
estender a agilização dos processos e a economia de recursos a essas outras
esferas.
A crescente violência nas grandes cidades torna as aplicações de vídeo
monitoramento através de câmeras de segurança essenciais, onde os custos de sua
implantação podem ser facilmente justificados com a diminuição dos índices de
criminalidade. Mesmo em cidades pequenas, principalmente nas turísticas e
históricas, com monumentos a preservar, os seus custos podem ser viabilizados.
Sistemas para câmeras monitorando o tráfego usualmente são necessários
para grandes cidades. Podem ser disponibilizadas não apenas aos órgãos de
93
controle do trânsito, mas também ao público em geral que, antes de sair de casa ou
do escritório, pode verificar as condições do tráfego que encontrará, antecipando ou
postergando a saída e planejando o caminho a ser percorrido. Em cidades
pequenas, costumam ser necessárias apenas em condições especiais, quando são
atravessadas por um grande fluxo de veículos de cidades vizinhas.
Novos serviços públicos podem ser disponibilizados aos munícipes como a de
previsão de chegada de ônibus em suas paradas. O munícipe poderá utilizar esse
serviço de sua residência, nos pontos de ônibus ou de equipamentos móveis com
acesso à Internet. A Cidade Digital pode disponibilizar esse serviço através de
dispositivos instalados nos objetos a serem monitorados, no caso, os ônibus.
Quando a localidade possuir uma área rural produtiva, as aplicações podem
ser estendidas com o Rastreamento de gado, Logística de recolhimento de produtos
e distribuição de insumos, contato direto do produtor com os consumidores.
Aplicações
concessionárias
de
de
fiscalização,
transporte
como
urbano,
a
monitoração
também
podem
de
horários
de
beneficiar-se
da
infraestrutura de uma Cidade Digital.
5.5 Definição dos Serviços
De acordo com os objetivos estabelecidos para a Cidade Digital, serão
definidos os serviços iniciais que serão prestados na Cidade Digital. Diz-se aqui
“serviços iniciais”, pois a infraestrutura de uma Cidade Digital deve ser capaz de
suportar uma grande diversidade de serviços, e, certamente, novos serviços serão
implantados com o passar do tempo. Serviços que tragam uma possibilidade de
impactos no desempenho da rede ou que exijam parâmetros críticos no fluxo de
dados, necessitam de avaliação da viabilidade para definir as possíveis
necessidades de alteração de equipamentos, software, circuitos, aplicações, etc.
O serviço mais óbvio, mas não obrigatório, é o acesso a Internet.
É importante que se definam todos os serviços que deverão ser prestados na
Cidade Digital, pelo menos em um horizonte de médio prazo, para que a rede não
fique rapidamente obsoleta ou traga um desempenho abaixo das expectativas,
podendo frustrar os usuários e comprometer o sucesso de todo o projeto.
94
Além o acesso à Internet, com o estabelecimento de uma interligação de
órgãos do governo, é possível a implantação de VoIP ou Telefonia IP, vídeoconferência, TV IP Corporativa, sistemas de gestão governamental unificados,
acesso ao público de sistemas governamentais, hospedagem de sites, transporte de
imagens para segurança pública e muitos outros.
Nesta fase, é elaborado o relacionamento dos serviços com os respectivos
usuários através da elaboração de uma lista das entidades usuárias da rede, os
serviços que provavelmente irão utilizar e seus dimensionamentos. Essas
informações serão essenciais para, na etapa do projeto físico, dimensionar,
qualificar e quantificar os enlaces e equipamentos de rede.
São considerados tanto os serviços básicos como acesso à Internet para
navegação e troca de mensagens, como serviços sofisticados VoIP, vídeo e outros
que podem necessitar de garantias da rede de comunicação para o seu
funcionamento adequado. Mesmo o acesso à Internet pode ser considerado um
serviço sofisticado quanto o cliente tiver ao seu dispor garantias superiores ao
público em geral, trazendo normalmente um custo superior.
Serviços que disponibilizam requisitos mais rigorosos, como, por exemplo,
para aplicação de VoIP, costumam trazer maiores custos em equipamentos e
softwares, que normalmente não se viabilizam em pequenos projetos. Por isso, em
pequenas cidades a ideia é que se tenham inicialmente apenas os serviços básicos.
No caso do VoIP, é importante realizar a comparação entre o custo da telefonia,
comparando-se com os novos custos (CAPEX e OPEX) da Telefonia IP.
Normalmente, apenas um grande volume de tráfego telefônico local e de longa
distância costumam compensar a mudança.
A Tabela 15 é um exemplo de como esse cruzamento de informações pode
ser realizado.
95
Tabela 15: Serviços x Usuários
Adm.
Central
Acesso à Internet
(Mbps)
Telefonia IP (ramais)
Vídeo-conferência
(qtde. salas)
Imagens segurança
(qtde. câmeras)
Cobertura sem fio
(APs)
Educação Saúde Praças
12
1
2
2
200
30
60
2
2
10
1
2
10
6
8
5
20
5
2
A Tabela 15 deve ser mais detalhada conforme a necessidade, por exemplo,
dividindo-se a Saúde em Secretaria de Saúde, Hospitais (separar em grande, médio
e pequeno porte se houver necessidade), postos de saúde, etc. Quanto mais
detalhado, melhor será o resultado final do projeto.
A Tabela 16 exemplifica as aplicações e serviços para pequenas e grandes
cidade e deve ser detalhada conforme a realidade do projeto.
Tabela 16: Modelo de Aplicações e de Serviços
Modelo de Aplicações e de Serviços
Pequenas cidades
Aplicações
Serviços
• Principalmente acesso à
Internet;
• Interligação dos órgãos
municipais;
• VoIP para longa distância.
• Básicos e, dependendo da
necessidade, serviços
sofisticados, com garantias de
desempenho.
Grandes cidades
• Acesso à Internet;
• interligação dos órgãos públicos,
possivelmente estaduais e
federais de dados e voz;
• vídeos de segurança e de
trânsito;
• Marcação de consultas, acesso a
impostos e outros serviços ao
cidadão, entre outras aplicações.
• Básicos e sofisticados, com
garantias de desempenho.
5.6 Definição do Modelo Econômico
O Modelo Econômico da Cidade Digital é o que irá garantir a viabilidade de
sua implantação e a autossustentabilidade do projeto, isto é, que a Cidade Digital
poderá manter-se com recursos próprios gerados por seus serviços sem necessitar
do recebimento de verbas periódicas do governo. Deve-se ressaltar que o governo
96
tem inúmeros programas de incentivo, descritos no ANEXO II - Programas de
Incentivo no Brasil, que podem auxiliar a construção de uma Cidade Digital
(CAPEX), mas não de sua manutenção (OPEX).
5.6.1 Cobrança dos serviços
O modelo de Cidade Digital utilizado em alguns locais tem os seus serviços
gratuitos podendo criar uma injustiça na sociedade, uma vez que os custos são
reais. Alguém os pagará através de impostos, criando o risco dos mais pobres
subsidiarem os mais ricos. Esse modelo pode simplesmente inviabilizar a sua
sustentabilidade da Cidade Digital.
Nesta dissertação é sugerido o modelo conforme as faixas de renda de cada
localidade.
A Figura 34 ilustra o modelo sugerido para a cobrança dos serviços da Cidade
Digital, sem especificar os limiares exatos, que serão calculados durante o
detalhamento de cada projeto.
Figura 34: Faixa de Renda
Na linha “a” encontram-se os habitantes e pequenos negócios, normalmente
informais, de baixíssimo poder aquisitivo que, sem o auxílio governamental não teria
acesso aos serviços oferecidos através da Internet. A aquisição de computadores ou
mesmo a contratação de uma linha telefônica é realizada com dificuldade por esse
público. Aqui, a gratuidade dos serviços de Internet é praticamente a única opção de
acesso dessa população.
97
Na linha “b” encontra-se o público que, com muito esforço ou com auxílio
governamental, tem condição de adquirir um computador e utiliza ocasionalmente a
Internet por acesso discado. Para esse público, a cobrança integral dos serviços
poderia inviabilizar o seu uso, sendo o subsídio uma ferramenta que permitiria a
popularização do acesso à Internet. O subsídio provê alguma contribuição para a
sustentabilidade da rede e faz o cidadão valorizar mais os serviços disponibilizados.
Nas linhas “c” e “d” encontram-se as classes que utilizam ou tem a
possibilidade de arcar com os custos a contratação de um acesso de um provedor
comercial via aDSL, rádio ou outra tecnologia. A cobrança dessa faixa de público é
importante não apenas para a sustentabilidade da rede, mas também para que o
projeto de Cidade Digital não inviabilize provedores comerciais indo de encontro a
objetivos como o de fomentar o desenvolvimento da economia local. Aqui são
oferecidos os serviços básicos e os mais sofisticados, com garantia de desempenho
e valor mais alto.
5.6.2 Autossustentabilidade
A autossustentabilidade de uma Cidade Digital pode ser obtida de diversas
formas, não excludentes.
• Através da redução de custos governamentais, por exemplo, utilizando a rede
da Cidade Digital para o tráfego telefônico corporativo da Prefeitura.
É importante mencionar que as Prefeituras costumam ter orçamentos vultosos
para áreas da saúde, educação, segurança e transportes. Pequenos
percentuais da redução de custos desses orçamentos por conta das novas
aplicações que utilizem a nova infraestrutura de comunicações podem ser
capazes de suprir os custos da Cidade Digital em todo ou em parte;
• Através da cobrança total ou subsidiada de serviços;
• Através da cobrança do uso da infraestrutura por outras empresas para novos
serviços e aplicações.
Além dos serviços normais disponibilizados aos cidadãos, empresas e ao
próprio município, serviços especiais podem ser oferecidos aos provedores e
às operadoras, como o aluguel de fibra apagada, dutos e torres (próprios e
não obtidos em acordo), etc. Isso, além de auxiliar na autossuntentabilidade
da Cidade Digital pode aumentar o campo de atuação de provedores,
98
aumentando a quantidade de aplicações e serviços disponíveis aos clientes e
abaixando os preços.
• Através ganhos em impostos e em taxas.
O provável aumento dos impostos e taxas recolhidos pelo município,
proveniente do desenvolvimento da economia local, pode ser, em parte,
direcionado à sustentabilidade da Cidade Digital;
• Através de cobrança de propaganda de terceiros na Cidade Digital.
O Captive Portal (página do login inicial da Cidade Digital) e as páginas de
outras aplicações muito acessadas pelo cidadão podem conter propaganda
que ajude a sustentabilidade do projeto.
É importante notar que o ganho em impostos e taxas, ou a economia de
custos atuais, pode ser claro nos primeiros momentos, mas após algum tempo, os
mesmos podem ser incorporados ao orçamento do município, “encerrando” a fonte
de recursos para a Cidade Digital.
5.6.3 Locais de acesso público
A Figura 35 faz o cruzamento da faixa de renda da população com a
densidade populacional, fatores que podem influenciar na seleção da tecnologia a
ser utilizada no projeto de Cidade Digital.
Figura 35: Faixa de Renda x Densidade Populacional
Nos quadrantes a3, a4, b3 e b4, onde a faixa de renda é baixa e a densidade
populacional é alta, a utilização de Telecentros é uma ferramenta importante de
99
inclusão social, pois a proximidade facilita o deslocamento das pessoas aos
Telecentros e a disponibilidade de computadores minimiza a dificuldade de
aquisição dos mesmos. Já nos quadrantes c3, c4, d3 e d4, onde a faixa de renda é
mais alta, a utilização de LAN Houses é mais recomendada, pois o público pode
pagar pela utilização e, certamente será mais exigente na disponibilidade de
melhores computadores, impressoras, equipamentos de multimídia, nos horários
mais convenientes e na largura de banda. Nos quadrantes localizados nas colunas 1
e 2 a utilização de Telecentros e LAN Houses é possível, mas em menor quantidade
e com maior preocupação quanto a localização, pois a distância às residências dos
usuários pode inviabilizar o funcionamento.
5.6.4 Previsão dos benefícios
O atingimento dos objetivos da Cidade Digital certamente trará benefícios aos
cidadãos, empresas locais, governo, etc. Outros benefícios podem surgir, não como
um objetivo direto da Cidade Digital, mas pela facilidade da existência da
infraestrutura para a implantação de novas aplicações. A previsão dos benefícios e
sua quantificação é importante para verificar se os objetivos foram alcançados e,
principalmente, para justificar o investimento do projeto junto aos diversos níveis
governamentais, entidades de fomento e empresas privadas.
A Tabela 17 exemplifica um modelo para pequenas e grandes cidade e deve
ser detalhada conforme a realidade do projeto.
Tabela 17: Modelo Econômico
Modelo Econômico
Pequenas cidades
Cobrança dos
serviços
Autossustentabilidade
Locais de acesso
público
• Serviços básicos gratuitos
para a população carente.
Serviços sofisticados pagos.
• Receita de serviços pagos e
inserção de propagandas no
Captive Portal;
• Receita proveniente da
economia de recursos;
• Receita proveniente do
incremento do recolhimento de
impostos.
• Telecentros para as camadas
de renda mais baixa. LAN
Houses para as outras
camadas.
Grandes cidades
• Serviços básicos gratuitos para a
população carente. Serviços
sofisticados pagos ou subsidiados
para a população (pessoas físicas
e jurídicas) de baixa renda.
• Receita de serviços pagos e
inserção de propagandas no
Captive Portal;
• Receita proveniente da economia
de recursos;
• Receita proveniente do
incremento do recolhimento de
impostos.
• Telecentros para as camadas de
renda mais baixa. LAN Houses
para as outras camadas.
100
5.7 Definição do Modelo Técnico
A definição do modelo técnico é muito importante, não apenas porque o
sistema deve estar apto a suportar todo tráfego gerado pelos seus usuários, mas
também por ter que alcançar a qualidade necessária às aplicações, atingir todos os
usuários, por cabo ou sem fio, conforme a necessidade, estar preparado para a
expansão e ter um custo (CAPEX e OPEX) dentro das possibilidades do município.
A densidade populacional, isto é, a distribuição dos cidadãos e das empresas
pela área do município é importante na decisão da solução técnica de atendimento
de uma rede de comunicação. A Figura 36 representa um gráfico da densidade
populacional e a seguir é feita a descrição das soluções mais adequadas para cada
faixa.
Figura 36: modelo técnico
Na coluna 1, onde a densidade populacional é muito baixa, a utilização de
estações satélite certamente será mais barata do que a implantação de uma
infraestrutura terrestre (backbone) para a transmissão do sinal a um pequeno
público a uma grande distância das redes terrestres de telecomunicações, exceto
em locais próximos de linhas de transmissão, oleodutos, etc, que possuam cabos de
fibra óptica de onde seja possível transportar o sinal através de tecnologia sem fio
como o WiMAX. Neste contexto pode-se incluir fazendas no interior do Mato Grosso,
aldeias indígenas na Amazônia, mineração e obras de infraestrutura.
101
Na coluna 2 são incluídas as áreas rurais de estados como São Paulo e Rio
de Janeiro, onde as distâncias permitem que o acesso à Internet seja levado por
rádio terrestre a partir de um local que possua um backbone, como por exemplo,
fibras ópticas em rodovias, com custo menor e banda maior do que o serviço via
satélite. Nas localidades, o sistema pode ser acessado pelos usuários através de
WiFi. Podem-se incluir aqui também áreas mais afastadas, ainda dentro dos grandes
centros como indústrias instaladas nas periferias.
Na coluna 3 são incluídas áreas residenciais ou comerciais onde há a
predominância de casas e pequenas construções, onde é comum a utilização de
acesso à Internet por Cabo coaxial ou aDSL. A solução por rádio também é
adequada. Em teoria, o PLC é adequado para esse tipo de utilização, embora ainda
não seja comum encontrarmos esse tipo de implantação.
Na coluna 4, encontram-se os grandes centros com prédios, áreas de
comunidade com uma grande quantidade de pessoas por habitações e áreas de
comércio com uma grande quantidade de pequenas empresas. Nessas áreas, a
utilização de fibra óptica já é viável pelas pequenas distâncias e grande quantidade
de clientes. As soluções de aDSL e rádio também são adequadas. Em comunidades
carentes, que normalmente tem um padrão caótico de construção, o acesso via
rádio é o mais adequado.
5.7.1 Acesso
Em grandes cidades, certamente a combinação de várias tecnologias será o
ideal para a disponibilização do acesso:
• Grandes clientes próximos ao caminho da fibra devem ser atendidos pela
mesma;
• Para os grandes clientes fora do caminho da fibra, deve ser realizado um
estudo de viabilidade entre o lançamento da fibra e uma opção concorrente,
como o acesso por WiMAX;
• Em comunidades, o atendimento por WiFi costuma ser mais viável tanto
tecnicamente quanto financeiramente;
• Os Telecentros podem ser atendidos por uma rede WiFi ou por uma
Subscriber Unit WiMAX, dependendo do porte do Telecentro e da carga de
102
tráfego da rede WiFi no local, de modo a não tornar tanto o telecentro quanto
os acesso próximos muito lentos;
• Em grandes áreas abertas, a utilização de WiFi Mesh pode ser a melhor
solução;
• Os recursos atuais como aDSL e de provedores via fibra e rádio devem ser
combinados para a maior abrangência da Cidade Digital. Caso esses tenham
os seus preços muito acima do desejado para esse tipo de serviço, a
tendência é que baixem seus preços acompanhando o resto da cidade digital
ou que tenham serviços superiores.
Cidades pequenas podem ter praticamente todo o seu acesso através de
WiFi, banda de 2,4 GHz, com a colocação de Access Points em locais estratégicos.
Os locais de colocação dos Access Points podem ser prédios públicos, podendo
atender desktops através de cabeamento ethernet em opção aos recursos sem fio.
Telecentros e usuários de áreas rurais, a grandes distâncias podem ser atendidos
por WiMAX ou por WiFi com antenas direcionais.
5.7.2 Distribuição
Em grandes cidades a opção mais adequada para a distribuição é através de
fibras ópticas. As mesmas devem atender diretamente os grandes clientes como a
sede do governo, hospitais, Universidades, estádios de esportes e grandes
empresas. Pode também servir como suporte para equipamentos de WiMAX e de
aDSL, pulverizando o serviço no entorno da fibra.
A topologia da rede de fibra vai depender da distribuição dos usuários do
local, mas o fechamento em anel é um recurso importante para o aumento da
disponibilidade, embora traga aumento de custos.
Acordos com os proprietários de dutos e postes para a passagem de cabos
de fibra óptica serão importantes para viabilizar os custos do projeto, podendo trazer
benefícios também para essas empresas através da franquia dos serviços ou de
pares de fibras apagadas.
Em cidades pequenas, a utilização da distribuição através de recursos sem fio
pode ser adequada. Locais rurais com propriedades a grandes distâncias da
chegada do backbone, provavelmente utilização WiMAX. Por outro lado, em cidades
103
pequenas, com distâncias reduzidas, a utilização do WiFi, preferencialmente na
banda de 5 GHz, pode ser adequada para a distribuição.
5.7.3 Backhaul
O principal fator para a definição do Backhaul em uma Cidade Digital será a
disponibilidade de recursos. Em grandes cidades, normalmente há opção de
operadora local para a conexão e da tecnologia. A concorrência faz reduzir o custo
da contratação, mas para aumentar a disponibilidade da rede, no caso de aplicações
com maior nível de criticidade, é adequada a contratação de mais de um circuito, de
operadoras diferentes e passando por caminhos diferentes sem compartilhar
qualquer recurso.
Em muitas localidades, encontra-se apenas uma opção de backhaul. Não
havendo interesse de outras operadoras na implantação de novos recursos, o
disponível será contratado, mas, provavelmente, com o crescimento do uso da
Internet no local, na próxima licitação haverá novos interessados.
No caso de não haver disponibilidades de recurso de backhaul ou no caso da
opção anterior mostrar-se técnica ou economicamente inviável, é possível:
• Trazer a banda de Internet de um local próximo através de WiMAX;
• Lançar fibra junto a rodovia, estrada de ferro, oleoduto, linhas de transmissão
em acordo com a operadora da mesma.
Ambas as opções trazem um alto CAPEX para o projeto, embora o OPEX
seja relativamente baixo, tornando essa situação adequada aos tipos de
financiamentos envolvidos em projetos de Cidade Digital e de Inclusão Social.
Em último caso, pode ser utilizada a solução via satélite, embora traga
restrições de banda e alto OPEX para o projeto, mas pode ser implantada
rapidamente e em qualquer local do território nacional.
5.7.4 Data Center
Em princípio, os servidores que suportam a Cidade Digital podem ficar
localizados em qualquer lugar onde haja acesso à Internet, porém, isso pode ser um
risco caso a Cidade Digital perca a sua conexão com a grande rede. Por exemplo,
104
um servidor de Telefonia IP localizado fora da Cidade Digital deixaria toda a cidade
sem comunicação no caso de interrupção do backhaul. Caso o mesmo fosse
localizado dentro dos recursos da rede da Cidade Digital, a comunicação externa
(para fora da cidade) poderia ser interrompida, mas internamente continuaria a
funcionar normalmente.
Os órgãos municipais de grandes cidades podem ter seu próprio Data Center,
mas pequenas cidades podem ter dificuldade de viabilizar um Data Center próprio
pelo custos de montagem e, principalmente, de mão de obra especializada,
sugerindo uma solução terceirizada.
Com mais informações, durante o decorrer do planejamento, é possível
detalhar m Modelo Técnico como na Tabela 18.
Tabela 18: Modelo Técnico
Modelo Técnico
Pequenas cidades
Acesso
Distribuição
Backhaul
Data Center
Infraestrutura de
energia
Infraestrutura para a
implantação de
equipamentos
• Principalmente baseada em
802.11b, aproveitando
recursos de provedores já
existentes.
• Através de 802.16 ou 802.11a
mesh para pequenas
distâncias.
• Negociação com o provedor
local. Se não houver, acordo
com empresas de transmissão
de energia, oleodutos, etc ou
trazem a banda através de
802.16 de cidades próximas.
Em último caso, acesso por
satélite.
• Local, conectado diretamente
ao backhaul e a distribuição,
com os servidores das
aplicações mais importantes.
• Normalmente apenas
comercial com proteção.
• Acordo com condomínios de
prédios, operadores de
telecomunicações possuidoras
de torres e fazendeiros para a
instalação / utilização de torres
Grandes cidades
• Baseado em 802.11b, mas com
forte utilização de fibra óptica em
grandes empresas e prédios com
grande consumo de banda.
802.16 para clientes isolados com
maior necessidade de tráfego.
Aproveita os recursos de
provedores já existentes.
• Baseado em circuitos ópticos.
Utiliza também 802.16 para
localidades isoladas e de
pequeno tráfego.
• Ampla oferta de banda.
Preferência para a contratação de
acessos redundantes de
diferentes provedores.
• Uso de diversos Data Center
locais ou remotos.
• Comercial com proteção mais
redundância em toda a
distribuição e nos principais locais
de acesso.
• Acordos para o aproveitamento
de dutos de empresas elétricas,
de trânsito, Metrô e
aproveitamento de postes de
distribuidoras de energia e de
105
Modelo Técnico
Pequenas cidades
para a implantação de
equipamentos de rádio.
Grandes cidades
empresas de telefonia para a
passagem de cabos de fibra
óptica. Acordos para
disponibilização de locais para a
implantação de equipamentos de
802.11 e 802.16.
5.8 Definição do Modelo de Gestão
É importante a definição do modelo de gestão, pois dele dependerá a
contratação dos serviços de projeto, implantação e operação, assim como a origem
dos recursos e a sustentabilidade. Devem-se definir as funções que a prefeitura
pode realizar e as que deve contratar, adequando o planejamento aos requisitos de
licitações.
É importante ressaltar que a gestão da Cidade Digital, de sua concepção à
operação deve ser acompanhada por uma equipe preparada para tal empreitada,
uma vez que se trata de um problema de engenharia complexo que envolve, dentre
outros, a avaliação das aplicações, seus usuários e o tráfego gerado, estudos de
propagação para instalação de redes sem fio, projetos de redes ópticas suportando
a rede sem fio e os grandes usuários, obras de construção civil para a passagem de
cabeamento óptico ou metálico, estruturas para a instalação de antenas, sistemas e
processos para a operação, gerenciamento e contabilidade de utilização de
recursos, além de conhecimento de tecnologias de telecomunicações para a seleção
das soluções utilizadas.
5.8.1 Obtenção de Recursos
É fundamental para a implantação da Cidade Digital que a obtenção de
recursos seja coerente com os objetivos definidos e as necessidades identificadas.
Isso pode ser verificado através de uma ferramenta como a Tabela 19.
106
Tabela 19: Fonte de recursos
Fonte do Recurso
Implantação de Telecentros
Aquisição de Computadores
Destino
Programa de implantação de
Telecentros do Ministério das
Comunicações
para professores
para alunos
para os cidadãos
Aquisição de sistemas e de servidores
Treinamento
Aquisição de equipamentos de Rede
PMAT
PMAT
Da equipe técnica
Do público
Implantação da rede
Consultoria na elaboração e no
desenvolvimento do projeto
Os programas de incentivo listados, disponibilizando recursos para aquisição
de equipamentos de informática e de comunicação de dados, aquisição e
desenvolvimento de software e de sistemas de informação, capacitação de recursos
humanos através de treinamento, execução de serviços técnicos especializados,
adequação de infraestrutura física e outros demonstra o interesse do governo na
inclusão social e na modernização administrativa.
Um fator limitador, presente em todos os programas analisados é que os
recursos são destinados apenas à aquisição, seja de equipamentos, software,
infraestutura ou serviços, mas nunca para aluguel, locação ou serviços continuados.
Essa característica dos programas viabiliza os modelos de negócio onde o município
implanta sua própria rede, mas não os modelos onde o município contrata uma rede
de terceiros ou os serviços da Cidade Digital.
Na iniciativa privada é muito comum a contratação dos serviços de terceiros
ao invés da criação de sua própria infraestrutura, principalmente na área de TIC,
onde os rápidos avanços da tecnologia tornam os equipamentos, sistemas e
processos obsoletos em pouco tempo. A locação dos equipamentos e contratação
dos serviços com os equipamentos em comodato é uma forma encontrada para
proteger-se da obsolescência, uma vez que os contratos com os prestadores de
serviços podem garantir níveis de serviços ao invés de equipamentos específicos.
Como exemplo, pode-se citar o tempo de resposta de um sistema automatizado
como um nível de serviço garantido em contrato. O prestador do serviço deverá
107
manter esse parâmetro dentro dos seus limites, mesmo que para isso deve atualizar
os servidores, aumentar a taxa de comunicação de circuitos de dados, etc.
5.8.2 Construção da Cidade Digital
A construção de uma Cidade Digital em um pequeno município normalmente
é composta principalmente de enlaces de rádio, trazendo a necessidade de acordos
para a disponibilização de locais para a implantação de antenas e torres com os
próprios órgãos municipais, condomínios de prédios residenciais e comerciais,
fazendeiros e provedores já existentes. Como a mão de obra para a implantação
desse tipo de rede não está disponível nos órgãos municipais, é recomendada a
contratação de uma empresa para esse fim. Não obrigatoriamente esta empresa
fará posteriormente a operação da rede, uma vez que o serviço é bem diferente.
Em grandes cidades, além das necessidades citadas para redes sem fio, uma
rede terrestre de fibra óptica representa um papel importante na distribuição e no
atendimento de grandes clientes e seu custo pode ser bastante significativo frente
ao valor total do projeto. Os próprios recursos dos órgãos municipais de empresas
de prestação de serviços público podem baratear significativamente a construção da
rede óptica através da utilização de dutos, postes viadutos, túneis metrôs, rodovias,
etc. A exemplo do que faz a RNP – Rede Nacional de Pesquisa, em troca da
facilidade pela passagem do cabo, a empresa pode ter direito a utilização de um ou
mais pares da fibra do cabo, trazendo vantagem para todos por permitir a
viabilização do projeto.
5.8.3 Operação da Cidade Digital
Grandes cidades, usualmente possuem órgão ou empresa municipal para
cuidar de assunto de TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação. Pode ser útil
a utilização dessa empresa ou órgão para a operação da cidade digital, pois
certamente precisarão estar em contato próximo com a operação da Cidade Digital.
Cidades pequenas costumam ter provedores de acesso à Internet ou prestadores de
serviços em telefonia que podem assumir a operação da Cidade Digital e,
provavelmente, terão mais oportunidade de vencer uma licitação pela economia de
custos de já estarem localizados na cidade, evitando custos de deslocamento que,
certamente, empresas de outros locais vão ter.
108
A gerência de Falhas, de Configuração, de desempenho, de segurança e de
contabilidade deve estar contida dentro da operação da Cidade Digital.
5.8.4 Monitoração
O conceito de monitoração da Cidade Digital pode ser bem mais amplo do
que o entendido pela monitoração de redes de comunicação. A monitoração mais
importante é sobre os parâmetros relacionados aos objetivos da Cidade Digital,
evidenciando se os mesmos estão sendo alcançados e em que grau. Assim, se um
dos objetivos é o desenvolvimento de novos negócios, o índice local de abertura de
novas empresas pode ser um atributo monitorado. Se a melhoria da educação local
está prevista nos objetivos, o acompanhamento das notas do ENEM – Exame
Nacional do Ensino Médio é um parâmetro candidato a ser monitorado. Da mesma
forma o crescimento da economia (PIB local), a agilização dos processos
governamentais (índices de atendimento dos cidadãos em determinados serviços),
segurança (índices de assaltos, roubos) redução de custos (custos mensais dos
órgãos) etc.
A Figura 37 exibe o exemplo de um gráfico com a monitoração de um circuito
de acesso à Internet, mostrando o tráfego subdivido pelas aplicações que o
originaram. Ele é importante para detalhar como estão a ocupação do circuito,
ociosidades ou congestionamentos, aplicações que mais demandam tráfego e
necessidades de expansão do sistema. A possibilidade de monitoração por hosts
também é importante para o acompanhamento de servidores, detecção e problemas
e identificação de usuários ou aplicações ofensoras.
109
Figura 37: Utilização de circuito dedicado à Internet
A própria página da administração municipal pode ser um excelente meio de
divulgação do atingimento (ou não) das metas da Cidade Digital, contribuindo para
justificar o prosseguimento do projeto.
5.8.5 Segurança Lógica
Atualmente, a legislação brasileira prevê punições para crimes através de
redes de computadores, por exemplo, troca de material de pedofilia, disseminação
de vírus na Internet ou invasão de sistemas com algum prejuízo, como apagar
arquivos. Por isso, é importante que todos os usuários da Cidade Digital sejam
identificados. De outra forma, um crime que aconteça na rede e não seja possível a
identificação do autor, torna a prefeitura ou a empresa responsável pela Cidade
Digital passível da punição.
A identificação de servidores públicos e de alunos de escolas é simples,
podendo ser realizada através de sua matrícula ou outro código apropriado
juntamente com uma senha. A identificação dos munícipes e, principalmente dos
visitantes, é um pouco mais complexa. A identificação do munícipe pode estar
relacionada ao IPTU de sua residência, permitindo que, em caso de atraso do
pagamento do imposto, a gratuidade ou o subsídio no acesso à Internet seja
retirado. Na identificação dos visitantes é importante a agilidade no processo de
cadastramento, já que muitas vezes o tempo de visita ao município é curto. Assim,
110
em um quiosque no local de acesso público é possível fazer o cadastramento com a
apresentação de documentos.
Além segurança, a identificação é essencial para a gerência e a operação da
rede, onde é possível limitar o acesso aos sistemas corporativos, sites na Internet,
configuração de QoS para determinadas aplicações, privilégios no acesso para
usuários com demandas especiais e gratuidade ou subsídio para usuários carentes.
Diferente dos sistemas sem fio para pequenos usuários, onde o usuário
precisa apenas possuir a chave de acesso do access point, em grandes redes, é
necessário que o sistema de segurança tenha uma visão total da rede, permitindo
aos usuário “logar” e fazer roaming entre quaisquer access points (desde que
tenham permissão). É importante que o operador tenha uma visão centralizada,
evitando que o mesmo tenha que alterar a configuração de diversos equipamentos
pela introdução ou retirada de cada usuário.
O sistema de segurança deve, não apenas permitir o acesso dos usuários aos
serviços e aplicações a que tenham direito, mas também fazer o registro das
utilizações para a contabilidade de recursos e, principalmente, criando uma trilha de
auditoria para a análise posterior de qualquer problema ocorrido. A utilização do
Captive Portal pode ser útil na identificação do usuário para a posterior liberação dos
acessos. O acesso ao Captive Portal é livre, permitindo inclusive que o pretendente
ao uso da rede possa fazer o seu cadastramento para uma posterior confirmação de
informações e liberação, conforme os processos definidos.
5.8.6 Captive Portal
O Captive Portal é um mecanismo que obriga um usuário que se conecta em
uma rede acessar uma determinada página web (a Captive Portal). Esse mecanismo
pode ser útil pode diversas razões na implantação de uma Cidade Digital:
• Segurança – através do Captive Portal o usuário pode se cadastrar,
obrigando assim que todo usuário da rede seja conhecido pela administração;
• Administração da Rede – divulgação de informações de problemas na rede,
alteração de procedimentos e outras;
111
• Sustentabilidade – O fato de todo usuário ser obrigado a visualizar o Captive
Portal, permite a negociação de publicidade de empresas do governo ou
particulares, contribuindo com a sustentabilidade da Cidade Digital;
• Cobrança – Em uma Cidade Digital com serviços pagos, o Captive Portal
pode garantir que apenas os usuários com os pagamentos regularizados
possam usufruir os mesmos.
A Tabela 20 exemplifica um modelo de gestão genérico a ser detalhado
conforme a realidade local.
Tabela 20: Modelo de Gestão
Modelo de Gestão
Pequenas cidades
Projeto da Cidade
Digital
Construção da rede
Operação da rede
• Contratação de consultoria
especializada e envolvimento
dos gestores municipais.
• Licitação de empresa para a
construção da rede.
• Licitação de empresa para a
operação de rede.
Grandes cidades
• Contratação de consultoria
especializada e envolvimento dos
gestores e dos técnicos
municipais.
• Licitação de empresa para a
construção da rede.
• Licitação de empresa para a
operação de rede ou utilização de
empresa municipal de TIC, se
houver.
5.9 Levantamento da Infraestrutura existente
Para o início da parte física do Pré-projeto, deve-se levantar que recursos já
existentes ou com a implantação já planejada é possível contar:
• Backhaul: Que empresa poderá fornecer e em que locais a saída IP da
Cidade Digital? Redes governamentais em parceria com empresas de
transmissão de energia, oleodutos ou gasodutos, concessionárias de rodovias
ou operadoras de telecomunicações. A existência de mais de um fornecedor
pode diminuir os custos por gerar competição em uma licitação e aumentar a
confiabilidade do projeto, por possibilitar a criação uma redundância no
acesso;
• Telefonia: Ligações de VoIP para fora da Cidade Digital pode ser realizada
através de E1 de operadoras, desde que implante-se um gateway ou
diretamente através de troncos IP, facilidade que começa a ser implantadas
pelas grandes operadores de telecomunicações. É necessário identificar as
112
empresas que oferecem esses serviços e em que locais será possível
acessá-lo e a que custo;
• Dutos e postes: São os recursos onde se pode, com relativa facilidade, lançar
cabos de fibra óptica, atendendo locais com grande necessidade de banda ou
formando o backbone da rede. A implantação de dutos, ou mesmo a
implantação de cabos de fibra óptica, diretamente enterrados, tem um custo
muito superior do que quando já há dutos ou postos no local;
• Serviços atuais: Como a Cidade Digital vem a agregar e não a concorrer com
os serviços em funcionamento, é importante conhecê-los. A existência de
aDSL, Internet a cabo e outros pode fazer parte do projeto de Cidade Digital,
sem gerar custos, ou com baixo custo através de subsídios.
5.10 Localização geográfica
Nesta etapa, devem-se localizar geograficamente as entidades envolvidas de
modo a criar uma visão da distribuição das necessidades. Após a demarcação das
entidades, deve-se introduzir a infraestrutura já existente ou planejada que pode ser
aproveitada, tal como dutos e cabos de fibra óptica ou serviços já existentes. Esse
trabalho pode ser realizado com a ajuda de softwares como o Google Earth [52]. É
importante conhecer a topografia do local, onde o levantamento pode ser auxiliado
por softwares especializados como o Radio Mobile [55], mesmo que essas
informações precisem posteriormente ser confirmadas através de um site survey
com pessoal especializado.
5.11 Ferramentas
Nesta seção são apresentadas algumas ferramentas que podem ser
utilizadas para auxiliar o planejamento de Cidades Digitais, principalmente para os
recursos de rede sem fio.
5.11.1 Radio Mobile
O Radio Mobile [55] é um software de auxílio do planejamento de enlaces de
rádio. Através dele é possível informar as características do enlace – localização,
tipo e ganho das antenas, potência do transmissor – que, juntamente com um mapa
113
virtual, prevê o desempenho de enlaces, perdas, informa a ocorrência de obstáculos,
etc. A Figura 38 exibe o projeto de um enlace de rádio realizado com o Radio
Mobile.
Figura 38: Exemplo de Enlace de rádio projetado através do software Radio Mobile
Para a criação do mapa virtual, é necessário informar ou obter os dados de
elevação
através
de
download
de
um
sítio
especializado,
http://edc.usgs.gov/products/elevation/gtopo30/gtopo30.html
ou
como
o
o
http://www.cplus.org/rmw/dataen.html. O software Radio Mobile aceita os formatos
SRTM, DTED e GTOPO30.
5.11.2 GPS – Global Positioning System
Através de um aparelho receptor de GPS, é possível obter a latitude,
longitude e altitude dos pontos importantes ao projeto de Cidade Digital, durante um
levantamento, facilitando a sua localização posterior em mapas ou em imagens de
satélites.
Alguns
permitem
gravar
percursos
realizados
e
transportá-los
automaticamente para mapas digitais.
5.11.3 Google Earth
Através do Google Earth [52] é possível acessar imagens obtidas de satélites,
do ponto de visão na altitude mais conveniente ao usuário, marcar pontos para
representação de prédios, equipamentos, e outros recursos importantes, marcar e
calcular distâncias de caminhos, etc. A Figura 38 exemplifica sua utilização na
representação de um enlace de rádio.
114
Figura 39: Representação dos enlaces de rádio entre o Corcovado, a Escola de Engenharia da UFF e o Morro da Boa Vista
através do Google Earth
5.11.4 Analisador de espectro
Um analisador de espectro pode auxiliar no levantamento de campo,
identificando sinais – potência, frequência e localização – que podem vir a criar
interferência na rede a ser implantada. Pode também, após a implantação da nova
rede, verificar se as características obtidas estão conforme as planejadas nos
projetos de enlaces de rádio. A Figura 40 ilustra a medição do espectro de rádio na
faixa de 5 GHz.
115
Figura 40: Imagem de espectro de rádio na faixa de 5 GHz obtida através do software Chanalyzer e hardware WiSpy.
5.12 Implantação, homologação e disponibilização para o uso
O acompanhamento dos prazos, da qualidade do projeto e do cumprimento
dos requisitos é essencial para o atingimento dos objetivos da Cidade Digital. Como
vistoem2.5.2
116
São Francisco e Vale do Silício, o atraso do projeto pode frustrar investidores
interessados, comprometendo a implantação ou a sustentabilidade da Cidade
Digital. Mesmo que o serviço, em parte ou no todo seja terceirizado, é necessário
haver representantes do município acompanhando e verificando prazos, custos,
qualidade, adequação, etc.
Antes do início da entrega e disponibilização do sistema ou parte, é
necessária a homologação dos recursos implantados para a conferência que o
prestador do serviço entregou o que foi contratado e testes do sistema para que
problemas iniciais não frustrem as expectativas dos usuários.
117
6 ESTUDO DE CASO: VIABILIZAÇÃO ECONÔMICA DE UMA
ESTRUTURA DE CIDADE DIGITAL A PARTIR DA REDUÇÃO DE
CUSTOS DO USO DA TELEFONIA PELO GOVERNO MUNICIPAL
Esse capítulo descreve o caso em que o GTECCOM - Laboratório de Gestão
em Tecnologia da Informação e Comunicação da UFF – Universidade Federal
Fluminense realizou em 2009 um projeto com o objetivo de reduzir os custos da
telefonia da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro. Apesar de ser voltado para a
telefonia e não para a comunicação de dados, durante o desenvolvimento do
projeto, identificou-se a existência de recursos técnicos, como dutos e cabos de fibra
óptica que, juntamente com a redução dos custos em telefonia, seria possível
viabilizar técnica e financeiramente a criação de uma Cidade Digital para o
município.
A primeira seção deste capítulo descreve a metodologia utilizada no
desenvolvimento
do
projeto
enquanto
a
segunda
descreve
as
principais
características da telefonia da PCRJ, as principais alternativas para a telefonia no
município, uma comparação entre as alternativas assim como a possibilidade da
implantação da Cidade Digital, a origem dos recursos para a sua implantação e o
plano de ação para cada uma das alternativas.
Descreve-se então, a partir de um caso real, a possibilidade de geração de
recursos para a implantação de uma Cidade Digital através de diferentes alternativas
da telefonia corporativa do município.
6.1 Metodologia de trabalho Adotada
A metodologia aqui apresentada foi desenvolvida pela GTECCOM para
utilização em organizações de médio e grande porte, governamentais ou privadas.
118
Foi utilizada em projeto de Redução de Custos em Telefonia [51] na FIRJAN –
Federação das Indústrias do Rio de Janeiro.
6.1.1 Levantamento e Caracterização da Situação Atual
Nesta tarefa realiza-se o levantamento da situação atual do órgão ou empresa
analisada com o intuito de propiciar o entendimento do ambiente, obter as
informações para compreender e mensurar os problemas atuais, assim como para
verificar, através de simulações, se os novos cenários traçados através das
mudanças propostas atingiriam os objetivos almejados pelos gestores. É essencial a
formalização desses dados comparativos para a posterior verificação da eficácia da
implantação das recomendações realizadas por esse projeto.
Compreende as seguintes atividades:
•
Reunião com os gestores da organização para que esses transmitam os
objetos do projeto, sua visão das oportunidades de melhora, dos riscos e das
mudanças já programadas;
•
Levantamento da organização: objetivos e principais funções, estrutura,
clientes internos e externos, etc;
•
Elaboração de um questionário gerencial sobre os serviços de telefonia fixa e
móvel e o envio para os gestores da organização;
•
Visita aos principais setores da organização;
•
Entrevistas com os principais dirigentes, Gestores e Técnicos definidos em
comum acordo com o patrocinador do projeto dentro da organização;
•
Solicitação, organização e compilação de informações obtidas com
fornecedores de serviços de telecomunicações;
•
Pesquisa junto aos fornecedores de serviços de telecomunicações de
produtos e serviço disponíveis;
•
Compilação das informações obtidas, a saber:
o Topologia da rede de telefonia e de dados;
o Tipos de PABX, fornecedor, tarifadores e sua localização;
o Faturas dos acessos telefônicos (E1, faixa DDR, Linhas Individuais e
Móveis) em papel e em meio eletrônico;
119
o Relatórios dos acessos por setor da organização;
o Relatório da localização física dos recursos: linhas individuais, E1 e
PABX;
o Quantidade e tipo de aparelhos de serviços móveis detalhados por
operadora e por setor;
o Detalhamento do sistema de gestão da telefonia fixa e móvel;
o Contratos da telefonia fixa, móvel e de manutenção dos equipamentos
relacionados;
o Normas e penalidades no uso da telefonia fixa, telefonia móvel e
comunicação de dados;
o Estrutura do setor responsável pelo controle da telefonia.
•
Consolidação dos dados dos questionários gerenciais respondidos e das
visitas realizadas;
•
Levantamento da rede de comunicação de longa distância da Organização
para o entendimento de soluções de VoIP – Voz sobre IP já existentes ou
para a sua inclusão nos cenários possíveis;
•
Elaboração de relatório sobre a situação atual da telefonia na organização:
volumes e distribuição dos recursos, dos custos, principais problemas
identificados, principais dificuldades dos usuários;
•
Elaboração de relatório com a visão geral da comunicação de dados na
Organização.
6.1.2 Análise dos Dados Coletados
Nessa tarefa, as informações levantadas, organizadas e compiladas, devem
ser analisadas no contexto específico da Organização, procurando traçar cenários
possíveis que atendam os objetivos do projeto.
Durante a análise devem ser selecionados os principais serviços de telefonia
e identificados os setores que são os maiores ofensores do serviço e custo da
telefonia, trazendo uma maior oportunidade de redução de custos. As análises
devem ser realizadas principalmente nesses setores selecionados, enquanto para os
demais, deve ser apresentada uma visão geral.
120
Compreende as seguintes atividades:
•
Identificação dos principais processos na gestão da telefonia;
•
Identificação das áreas e serviços maiores ofensores ao custo e ao
funcionamento adequado do sistema;
•
Identificação de problemas técnicos como equipamentos inadequados às
necessidades da Organização, equipamentos tecnologicamente defasados
e/ou com dificuldades ou altos custos de manutenção;
•
Procura de oportunidades de redução de custos e de melhoria dos processos;
•
Elaboração do Diagnóstico;
•
Avaliação sobre a possibilidade de negociação de contratos existentes;
•
Avaliação das possíveis reduções em função dos valores praticados pela
operadora de telefonia fixa e móvel;
•
Verificação da possibilidade da integração da rede de dados e de voz,
trazendo redução de custos, melhoria nos processos ou expansão dos
serviços prestados.
6.1.3 Elaboração das Recomendações
De posse do conhecimento do ambiente, dos principais problemas e das
oportunidades de melhoria, deve ser elaborado o relatório de recomendações
contendo os pontos encontrados, seus riscos ou conseqüências e as respectivas
recomendações para a sua solução. O relatório deve ser elaborado também em
forma de apresentação para que seja discutido com os gestores da organização
para a conferência das informações e para o aprimoramento das recomendações.
Compreende as seguintes atividades:
•
Detalhamento dos riscos, consequências e elaboração das recomendações
para cada ponto encontrado;
•
Verificação da consistência entre as recomendações elaboradas;
•
Elaboração da visão geral da rede de comunicação de dados;
•
Redação do relatório de recomendações e de sua apresentação;
•
Apresentação do Projeto para os gestores da organização e seus convidados
com discussão sobre os pontos e as respectivas recomendações;
121
•
Correção das recomendações conforme as novas informações apresentadas
durante a discussão com os gestores.
6.1.4 Elaboração e seleção dos cenários compatíveis com os objetivos da
Organização
Nesta fase são traçados os possíveis cenários para a telefonia na
organização, aproveitando-se recursos existentes ou planejando novas aquisições,
mantendo ou alterando processos e ferramentas de controle, integração ou não das
redes de dados e voz, mantendo ou trocando os serviços e os próprios prestadores
de serviços, etc.
Compreende as seguintes atividades:
•
Brainstorm das possíveis soluções, tecnologias, processos, serviços e
cenários;
•
Esboço dos possíveis cenários;
•
Detalhamento dos cenários, seus limites, custos e dificuldades de
implantação, possibilidade de redução de custos mensais, benefícios e
atingimento dos objetivos do projeto;
•
Seleção dos cenários viáveis e com melhores condições de implantação e de
atingimento dos objetivos. De preferência, não mais do que três cenários.
A seleção do “melhor” cenário ou o “mais adequado” não é realizada nesse
momento, pois dependerá não apenas de suas características, mas também de
estratégias dos gestores e acionistas da organização.
6.1.5 Elaboração dos Planos de Ação
Para cada um dos cenários selecionados, deve ser elaborado um plano de
ação para a sua implantação, prevendo:
•
Um fluxo de caixa de acordo com a disponibilidade dos recursos financeiros
para a implantação e as condições dos fornecedores de produtos e serviço;
•
Coexistência do sistema antigo com o novo sistema por um período de tempo
para que os serviços não sejam interrompidos;
•
Cronograma contendo o tempo de projeto, licitação, aquisição de produtos e
serviços, entrega dos produtos e serviços, testes, ajustes e homologação. No
caso de órgãos públicos, é necessário estimar o tempo para possíveis
recursos às licitações;
•
Informação aos clientes internos e externos dos novos números e processos
da telefonia.
122
6.1.6 Seleção e detalhamento do cenário vencedor
Nesta fase, com o plano de ação e informações detalhadas de cada um dos
cenários, a diretoria da organização pode fazer a seleção do cenário mais adequado
a sua cultura, estratégia, objetivos e conjuntura. Nem sempre a melhor solução
técnica será a mais adequada à organização naquele momento.
Compreende as seguintes atividades:
•
Discussão da alta gestão da organização para a determinação do cenário
mais adequado;
•
Detalhamento e revisão dos pontos e recomendações, de acordo com o
cenário escolhido;
•
Detalhamento do plano de ação do cenário escolhido em um planejamento de
implantação.
6.2 Caso da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Esta seção apresenta o caso real onde a economia de custos de telefonia e
recursos já existentes viabilizariam a criação de uma Cidade Digital. São descritos
os objetivos, as principais informações levantadas e sua análise, os cenários
traçados, seus planos de ação resumidos e a comparação entre os cenários, de
acordo com a metodologia descrita em 6.1.
6.2.1 Levantamento e Caracterização da Situação Atual
O objetivo principal do projeto foi a identificação de oportunidade da
realização de uma economia substancial dos recursos gastos em telefonia, assim
como da elaboração de um plano de ação para orientar a sua implantação,
disponibilizando verba para a aplicação em áreas fim da Prefeitura, como educação,
saúde e transportes.
Alguns poucos números podem exibir a magnitude da telefonia na PCRJ –
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. São, em números aproximados, 89.000
servidores públicos distribuídos por 1.900 endereços que utilizam 13.000 terminais
fixos (linhas ou ramais) e 2.000 terminais móveis em uma infraestrutura de voz com
o custo de 33 milhões de reais anuais [53].
123
Na PCRJ a principal demanda por comunicação de voz é entre os setores de
uma mesma secretaria ou unidade, pois muitas vezes estão dispostos em diferentes
endereços físicos na cidade ou porque o serviço prestado necessita de mobilidade
aos servidores que trabalham nas ruas os responsáveis por obras e pela iluminação
pública. A comunicação entre diferentes secretarias ou unidades também é
necessária.
A comunicação externa é direcionada principalmente para a própria cidade do
Rio de Janeiro, pois poucas são as ligações de longa distância nacionais ou
internacionais. A maioria do interesse de tráfego da Prefeitura é corporativo, isto é,
interno aos órgãos e empresas da prefeitura.
A maioria das faturas de telefonia da PCRJ, recebidas das operadoras de
telecomunicações, ainda é gerada em papel, e não em meio digital, praticamente
impossibilitando a consolidação, análise detalhadas e gerenciamento de quaisquer
aspectos.
A gestão da telefonia utiliza um modelo descentralizado, onde cada órgão
escolhe e implanta a sua própria solução e métodos de gestão.
A Tabela 21 exibe a quantidade de recursos disponíveis na PCRJ.
Tabela 21: Quantidade de recursos de telefonia na PCRJ
Recurso
Quantidade
aproximada (em
unidades)
Linhas individuais
5.050
Troncos analógicos
290
Voice Net
2.100
Voice Net +
1.100
Ramais DDR
2.400
Números chave de troncos digitais
( E1)
21
Troncos digitais (E1)
73
Telefone móvel
3.380
124
Alguns endereços da Prefeitura abrigam diferentes setores e, cada um, com
uma diferente solução para a telefonia. O CASS – Centro Administrativo São
Sebastião é o endereço principal, onde há representantes de praticamente todos os
setores da Prefeitura. Por isso, é o local onde é encontrada a maior quantidade de
recursos de telefonia da Prefeitura. Há um PABX principal com capacidade de até
3.000 ramais. Está interligado à uma operadora de telecomunicações através de 20
troncos digitais com DDR – Discagem Direta a Ramal, permitindo até 600 ligações
simultâneas. Muitos funcionários da PCRJ, por necessitarem de locomoção pelos
prédios do CASS, utilizam telefones móveis.
No DataCenter da Prefeitura, localizado no CASS, encontram-se os principais
computadores servidores da PCRJ e um sistema que permite o acesso à rede
corporativa através de comunicação discada. Esse sistema, através de 8 troncos
digitais, permite o recebimento de até 240 ligações simultâneas para acesso discado
à rede corporativa.
A educação é a setor da Prefeitura com maior dispersão geográfica. São
1.314 escolas e creches. Utiliza 2.491 Linhas Individuais e 1 tronco digital na sede
da respectiva secretaria. A maioria das escolas e creches possui 2 linhas individuais.
O tráfego telefônico é primordialmente entre as escolas, creches e a
Secretaria, havendo também alguma necessidade da comunicação das creches com
os pais dos alunos.
6.2.1.1 Situação da Comunicação de Dados e de Informática
Embora a avaliação detalhada da área de TIC – Tecnologia da Informação e
Comunicação da PCRJ estivesse fora do escopo do projeto do GTECCOM, a
telefonia no mundo caminha para a integração com a área de informática. Por essa
razão, mesmo que não se deseje realizar essa integração imediatamente, não é
adequado propor uma solução para telefonia sem algum conhecimento, mesmo que
superficial, da situação da área de comunicação de dados. Na Prefeitura a gestão e
operação de TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação (exceto telefonia) é
centralizada em um órgão.
A Rede de Comunicação de Dados da Prefeitura tem como objetivo a
interligação dos endereços para o acesso às aplicações corporativas e à Internet.
125
Baseia-se principalmente no serviço SLDD – Serviço por Linha Dedicada Digital,
com velocidades entre 64 K e 512 Kbps. Para atender a algumas escolas utiliza
adicionalmente o serviço Frame Relay e VPN sobre aDSL. É utilizado também o
acesso discado à rede corporativa.
6.2.1.2 Apreciação de Projetos de Banda Larga
Na época do desenvolvimento do projeto do GTECCOM existiam diversas
iniciativas relacionadas a projetos de banda larga na PCRJ. A origem, objetivos e
natureza desses projetos são diferentes, mas, sem dúvida, sua apreciação foi
oportuna porque alguns deles poderiam contribuir para a redução de custos em
telefonia e também na melhoria operacional do serviço.
6.2.1.3 Conexão de Notebooks de professores à Internet
Em dezembro de 2008, a SME – Secretaria Municipal de Educação lançou o
edital para uma licitação para o fornecimento do serviço de Internet de Banda Larga
3G para 26.315 notebooks de professores da rede municipal. O objetivo era que o
professor
pudesse
utilizar
a
Internet
como
uma
ferramenta
auxiliar
no
desenvolvimento do ensino e, para isso, acessá-la da sua residência. O valor
estimado para a licitação foi de R$31.546.422,00 por um contrato de 12 meses. A
licitação foi impugnada pela TNL PCS S/A (Oi) e pela Claro, sendo adiada Sine Die.
Essa licitação não contemplou a disponibilização de acesso em banda larga
nas escolas, que é outro problema da Prefeitura, e que beneficiaria não apenas
professores, mas também funcionários e os alunos, objetivo final da SME.
Mesmo em uma hipótese otimista, onde a SME obtivesse desconto de 50%
sobre o valor estimado para a licitação, este valor ainda seria expressivo para uma
solução de apenas 12 meses. Esse montante, ou parte dele, poderia ser utilizado
para a implantação de uma rede própria da Prefeitura, com uma vida útil muito
superior a 1 ano, além de outros benefícios.
Uma solução de acesso à Internet para escolas e professores em suas
residências, por si só justifica um estudo sócio-econômico sobre este universo,
identificando fatores como: proximidade da residência às escolas e conexão à
Internet já existente na residência do professor. Deve também avaliar o grau de
complementariedade desse projeto junto aos demais projetos de banda larga
mencionados a seguir, uma vez que outras soluções podem compartilhar recursos e
126
custos. Esse estudo poderia também analisar a viabilidade da utilização de uma
solução sem fio, onde algumas escolas podem servir de base para tecnologias sem
fio, como WiFi ou WiMAX, em expansão mundialmente.
6.2.1.3.1 Licitação para conexão de Escolas à Internet utilizando Banda Larga
No final de 2008 foi realizada uma licitação para a conexão de 928 unidades
escolares à Internet utilizando conexão em banda larga ou móvel. Essa licitação
previa 165 conexões a 1 Mbps de download e 100 Kbps de upload e 602 conexões
móveis com taxas entre 40 e 100 Kbps de download e upload. Em cada unidade,
devia ser instalado um computador para acesso à rede a ser fornecido pela PCRJ. A
velocidade proposta para conexão à Internet foi bastante modesta, não atendendo
aos requisitos aplicáveis em banda larga.
O custo total previsto, incluindo o computador, foi de aproximadamente R$
3.800.000,00 para um contrato de 24 meses.
A licitação não foi realizada totalmente, permanecendo a maior parte das
escolas sem acesso à Internet através de banda larga.
6.2.1.3.2 Redecomep
A Redecomep é um projeto vinculado ao MCT – Ministério da Ciência e
Tecnologia, que visa implantar uma estrutura metropolitana de alta velocidade,
interligando instituições de ensino e pesquisa. Para viabilizar esse projeto, outras
entidades foram convidadas a participar, diluindo os custos e cedendo recursos
como dutos para a passagem de cabos de fibra óptica, recebendo em troca três
pares de fibra apagada [26]. A PCRJ foi convidada a participar do projeto, cedendo
dutos da RIOLUZ, da CET-RIO e da Linha Amarela para a passagem do
cabeamento. Da mesma forma foram convidadas a Supervia e o Metrô.
A rede seria composta de 1 anel central e 5 anéis secundários totalizando
235Km de cabos de fibra óptica. Encontra-se atualmente na fase de projeto
executivo, e toda a fibra deveria estar lançada em um prazo de 6 meses.
A Redecomep chegaria a 29 endereços da Prefeitura e passar a menos de
1Km de 40 outros endereços. A Redecomep mostrou-se como uma oportunidade
excelente para a Prefeitura conectar seus endereços, possibilitando a integração de
voz e dados, uma vez que o cabo de fibra chega aos principais endereços.
127
6.2.2 Análise dos Dados Coletados
O modelo de gestão descentralizado da telefonia:
• Favorece o desenvolvimento da telefonia nos órgãos com conhecimento e
boa gestão sobre essa área;
• dificulta a elaboração de um perfil da telefonia na PCRJ, necessário ao
desenvolvimento de soluções globais;
• diminui o poder de negociação da PCRJ com os fornecedores de serviços e
produtos de telefonia, uma vez que os contratos são setoriais.
A utilização do mesmo endereço e recursos de telefonia comuns por diversos
órgãos da Prefeitura dificulta que os custos sejam repassados proporcionalmente
aos setores usuários.
A dispersão física dos endereços, as características de distribuição de
recursos e de tráfego, principalmente na área da educação, favorece a utilização do
serviço PABX Virtual7. Substituindo-se as Linhas individuais por PABX Virtual
diminui-se o valor da assinatura e o tráfego corporativo passa a ter custo zero. A
redução pode ser superior a 50% ao custo atual.
Um link de rádio de freqüência não licenciada a 10 Mbps, com visada direta e
curta distância, tem um custo da ordem de R$4.400,00, incluindo todos os
equipamentos necessários. Caso fossem instalados 928 enlaces, o custo total seria
de R$4.083.200,00, portanto compatível com o total previsto na licitação. Por outro
lado, com R$4.000.000,00 é possível lançar pelo menos 200 Km de fibra óptica
apagada, o que possivelmente seria suficiente para complementar os enlaces da
Redecomep, apresentada em 6.2.2.1, de modo a conectar as escolas e outros
setores da Prefeitura em várias regiões do município do Rio de Janeiro. A conexão
das escolas à Redecomep poderia proporcionar redução de custos na telefonia uma
vez que o tráfego corporativo seria cursado em uma rede própria e os terminais não
7
PABX Virtual – É o serviço onde cada “linha telefônica” conectada à operadora funciona como um ramal de
PABX. A grande vantagem desse serviço é que os ramais, mesmo em endereços diferentes, podem ligar entre si
discando apenas os últimos dígitos de seu número, com tarifa zero dentro em um mesmo grupo (contratação
sob um mesmo CNPJ). Implementa também outras facilidades disponíveis em PABX convencionais. Paga-se
assinatura por ramal, embora com valor menor do que a da LI. Podem ser utilizados PABX convencionais pela
operadora, embora os ramais disponibilizados ao cliente estejam dentro do conceito de PABX Virtual.
128
pagariam assinatura. Além disso, possibilitaria a utilização de aplicações de banda
larga, como videoconferência, ensino a distância entre outras. Devem ser
dimensionados os custos de manutenção da rede.
6.2.2.1 A Redecomep estendida
O GTECCOM realizou uma análise preliminar do custo de interligar os 150
principais endereços (alguns já contemplados no projeto original) da Prefeitura à
Redecomep. Esses pontos são aqueles que possuem vários recursos de telefonia e,
portanto, devem ser os maiores geradores de custo. O valor necessário para a
interligação foi estimado em R$3.000.000,00, incluindo alguns endereços em regiões
distantes do traçado original, como Guaratiba e Santa Cruz. Além dos custos da
implantação da rede, a Prefeitura deveria prover os equipamentos de comunicação
de dados, com custo estimado em R$1.000.000,00. A partir desse ponto, a
Redecomep incluindo os 150 principais pontos da Prefeitura será referenciada como
Redecomep Estendida.
Alguns benefícios advindos dos endereços estarem interligados à Redecomep
Estendida são:
• Disponibilização de largura de banda (velocidade de circuito de dados)
superior a 1 Gbps, muito acima da largura de banda utilizada atualmente;
• Redução de custos através da substituição de grande parte dos circuitos de
dados hoje contratados às operadoras de telecomunicações;
• Possibilidade de implantar PABX equipados com Interface de VoIP – Voz
sobre protocolo IP ou telefones IP que podem trafegar a voz corporativa sobre
o anel, praticamente anulando o custo de comunicação corporativa via
operadora;
• Serve de plataforma para a disponibilização de novas aplicações como:
o Telemedicina;
o Videoconferência;
o Ensino a distância;
o Internet sem fio para endereços fora da Redecomep Estendida;
o Monitoramento de centenas de locais do município utilizando câmeras;
o Implantação de sala de gerenciamento para a Prefeitura;
o Portal interativo do cidadão;
129
o Backhaul de uma eventual rede sem fio a ser implantada no município.
A Figura 41 ilustra a abrangência da Redecomep, em amarelo e vermelho e,
em azul, os novos pontos da Redecomep Estendida.
Figura 41: Redecomep Estendida
Apenas endereços com poucas linhas individuais, como as escolas, ficariam
fora da Redecomep Estendida.
Um segundo projeto, utilizando a Redecomep como infraestrutura para a
implantação de equipamentos de comunicação sem fio, poderia integrar os
endereços restantes da Prefeitura, disponibilizando acesso à Internet aos
professores com laptops em suas residências, economizando R$30.000.000,00
anuais previstos inicialmente para esse acesso através do projeto “Conexão de
Notebooks de Professores à Internet” descrito na seção 6.2.1.3.
6.2.2.2 Conclusão
Dentro dos projetos apreciados, a Redecomep aparece como a melhor
candidata a oferecer suporte à interconexão dos principais pontos da Prefeitura.
130
Principalmente quando é incluída a extensão aqui proposta em que, com cerca de
R$4.000.000,00, os 150 principais endereços da Prefeitura estariam interligados. A
rede poderia ser expandida, considerando também a localização de pontos que
permitissem a visada a locais mais distantes, que seriam acessados por enlaces de
rádio, se isso fosse mais econômico. Todos os setores da Prefeitura poderiam ser
atendidos, disponibilizando largura de banda (velocidades) muito mais elevada que
as definidas nas licitações analisadas, propiciando a implantação de novas e
importantes aplicações.
Novas aplicações e serviços poderiam ser disponibilizados para a Prefeitura e
para os munícipes. Serviços ligados a telemedicina, por exemplo, como
informatização de hospitais, implantação de prontuário eletrônico, marcação de
consultas, cirurgias com assistência remota, e uma infinidade de outros.
As escolas também poderiam ser beneficiadas. Algumas já fazem parte do
projeto Redecomep, e outras poderiam ser incluídas. Para que todas fossem
incluídas, seria necessário um investimento inferior ao valor previsto para a licitação
da conexão dos notebooks (item 6.2.1.3) por um ano. Mas é importante lembrar que
há outras fontes de financiamento para projetos deste tipo, como iniciativas de
Cidade Digital através do MCT.
Entendemos que a Prefeitura conta hoje com diversas iniciativas com
escopos diferentes, mas com um único objetivo: prover infraestrutura de
comunicação de dados corporativa e de acesso à Internet para o tráfego de dados,
voz e imagem. Caso fosse possível uma ação transversal que agregasse todos
esses esforços em uma única visão destas demandas, seria possível atender a
estas demandas de forma eficiente, eficaz e econômica.
6.2.3 Elaboração das Recomendações
As recomendações geradas nessa tarefa não serão aqui apresentadas, uma
vez que se relacionam principalmente à telefonia, com pouco valor para o foco
dessa dissertação.
131
6.2.4 Elaboração e seleção dos cenários compatíveis com os objetivos da
Organização;
Através dos levantamentos e análises realizadas, foram identificadas as duas
soluções mais adequadas à realidade encontrada na Prefeitura:
A primeira é a solução baseada em PABX Virtual, denominada daqui em
diante simplesmente PV;
A segunda é a solução baseada em PABX interligados através de uma rede
de comunicação de dados, ramais de PABX Virtual e terminais móveis. Os
endereços com uma grande quantidade de terminais contarão com PABX
enquanto que os endereços com poucos terminais serão equipados com
ramais de PABX Virtual. Doravante essa solução será denominada como RCHíbrida.
A solução de PV já é utilizada parcialmente na Prefeitura através de um
serviço oferecido pela operadora de telecomunicações Oi denominado Voice Net8,
no entanto, a Prefeitura não se beneficia completamente das características
oferecidas por esse serviço.
A solução RC-Híbrida, durante os levantamentos, não era utilizada pela
Prefeitura. Apesar de existirem diversos PABX na PCRJ, estes não se encontram
interligados por canais dedicados. Os PABX na PCRJ são conectados à operadora
de telecomunicações, que tarifa todas as ligações telefônicas realizadas. Essa seção
apresenta e compara essas opções.
6.2.4.1 A solução PV (PABX Virtual)
A solução PV é a utilização de ramais de PABX Virtual para atender todas as
demandas de comunicação de voz, fixa e móvel, da Prefeitura. Todos os recursos
de telefonia da Prefeitura que não forem PABX Virtual são retirados.
O serviço pode também integrar aparelhos móveis. Nesse caso, o aparelho
móvel funciona como um ramal da rede corporativa.
8
Voice Net (ou Voice Net +) – Nome comercial da Oi para o PABX Virtual. Quando é adicionada a capacidade de
integração fixo-móvel, o serviço passa a ser chamada Voice Net +.
132
Esta solução traz economia na assinatura, de valor inferior aos das linhas
individuais e dos troncos, e no tráfego, já que as ligações corporativas não são
tarifadas. O tráfego entre os ramais fixos de um mesmo grupo é sempre gratuito.
Entre ramais móveis e entre fixos e móveis do mesmo grupo, o tráfego é gratuito até
um limite estabelecido em contrato. Após o limite, o tráfego é tarifado normalmente.
Pode-se ainda ter uma redução adicional dependente dos valores que serão
praticados por minuto, para os diferentes tipos de tráfego.
Nessa modalidade de serviço, toda a gestão operacional da telefonia como a
instalação e a manutenção de ramais, programação de facilidades, fornecimento de
conta, controle de chamadas e outras é realizada pelo provedor de serviços. Isso
pode ser uma vantagem ou uma desvantagem, dependendo da agilidade do
contratado em realizar as solicitações e da urgência da implantação das solicitações.
É importante frisar que, normalmente, o fornecedor do serviço não se responsabiliza
pela instalação e manutenção do cabeamento interno ao prédio do cliente.
Essa solução baseia-se em apenas um provedor do serviço, concentrando o
risco da qualidade na execução do serviço. Não prevê a convergência entre dados e
voz, que é uma tendência mundial. A atualização da solução depende unicamente
de decisão do fornecedor do serviço.
6.2.4.2 A solução RC-Híbrida (Rede Corporativa – Híbrida)
A solução RC-Híbrida é uma forma de interligar todos os terminais telefônicos
da PCRJ, por diferentes tecnologias, fazendo com que as ligações corporativas
ocorram a custo zero. A RC-Híbrida é composta por PABX interligados entre si,
ramais de PABX Virtual, uma Rede de Comunicação de Dados e Terminais Móveis
integrados.
• PABX interligados entre si
Os endereços da PCRJ que necessitam de 209 ou mais terminais receberão um
PABX, interligado aos outros PABX através de uma rede de comunicação de
9
A quantidade mínima de 20 ramais definindo os locais que devem ser equipados com PABX, foi escolhida
levando-se em conta a modularidade dos equipamentos disponíveis no mercado, a utilização apenas de E1,
evitando os troncos analógicos e a comparação dos custos das assinaturas de PABX Virtual em relação aos
custos de locação de PABX. Os E1 possuem diversas vantagens em relação aos troncos analógicos como uma
melhor qualidade de voz, maior rapidez no completamento das ligações, disponibilidade do serviço de
identificação de chamadas sem custo adicionais, entre outras.
133
dados da PCRJ. Dessa forma, as ligações entre os PABX não cursarão através
de operadoras de telecomunicações, não havendo tarifação das mesmas. Os
PABX estarão conectados também à rede pública, através de sistemas E1 de
uma ou mais operadoras de telefonia fixa, para o recebimento e a realização de
ligações externas. Os ramais dos PABX poderão opcionalmente ser móveis,
onde os usuários poderão movimentar-se dentro da área coberta por uma rede
WiFi do endereço a ser implantada ou adaptada para esse fim. A necessidade da
PCRJ foi estimada em aproximadamente 62 PABX.
• PABX Virtual
Os endereços da PCRJ com necessidade de menos de 20 terminais receberão
ramais de PABX Virtual. Esses ramais, além de realizarem ligações entre si,
poderão também realizar ligações a custo zero para ramais dos PABX através de
interligação entre os dois sistemas, onde os ramais PV executarão a função de
tronco.
No futuro, os endereços servidos por rede de banda larga poderão migrar os
ramais de PABX Virtual para telefones IP.
• Rede de Comunicação de Dados
Essa rede, em sua maior parte baseada na Redecomep e em sua extensão
proposta, servirá como uma infraestrutura para a interligação dos PABX,
transportando as ligações através de voz digitalizada com a tecnologia VoIP.
Devido a alta capacidade da tecnologia óptica utilizada na Redecomep, essa
rede poderá servir a muitas outras aplicações além do simples transporte da voz.
• Terminais Móveis
Os terminais móveis da PCRJ, contratados com operadora(s) de telefonia móvel
farão ligações a custo zero entre si. As ligações entre a parte fixa e a parte móvel
da RC-Híbrida será cursada através de conversores de ligações10 (fixo-móvel →
10
Conversão fixo-móvel em móvel-móvel – Onde há PABX, as chamadas fixo-móvel podem ser tratadas
adequadamente nestes equipamentos, com auxílio de hardware adicional (conversor), para que sejam vistas
no equipamento da Operadora mais à frente como chamadas móvel-móvel, e tarifadas nesta categoria, o que
implica em queda de custo, em razão do valor mais baixo da tarifa móvel-móvel em relação a fixo-móvel, como
praticado pelas Operadoras.
134
móvel-móvel), conectados à terminais móveis, a serem adaptados em alguns
PABX selecionados da PCRJ.
Os PABX, assim como os equipamentos da Redecomep podem ser
comprados ou locados conforme a conveniência da PCRJ. A qualidade na
elaboração desses contratos é fundamental para que a PCRJ tenha a garantia de
um bom serviço de telecomunicações.
Deve ser elaborado um plano de numeração para todos os terminais da RCHíbrida no intuito de facilitar os usuários em suas ligações e a manutenção pelo
pessoal técnico, próprio ou terceirizado.
Os PABX possuem tarifadores que possibilitam registrar todas as chamadas
cursadas na rede, e compará-las com as especificadas na conta fornecida pela
operadora.
Nessa solução, a própria Prefeitura é responsável em realizar a gerência
operacional do serviço.
Os PABX modernos podem utilizar uma tecnologia denominada VoIP que
possibilita a sua interligação à operadora ou a outros PABX utilizando a rede de
comunicação de dados da corporação. Essa tecnologia hoje já é considerada
vencedora e está sendo disseminada tanto nas redes corporativas quanto nas redes
públicas e móveis. Ela permite o uso de aplicações multimídia e convergentes como
teleconferência, vídeo, IPTV, Contact Center, etc. em conjunto com as aplicações de
telefonia. Essas aplicações já são utilizadas hoje e certamente, em futuro bem
próximo, estarão mais disseminadas.
Caso haja atraso na ativação da Redecomep, as ligações corporativas podem
cursadas temporariamente através E1 de interligação do PABX ao STFC – Sistema
Telefônico Fixo Comutado, como qualquer outra ligação externa. Neste caso todas
as ligações, inclusive as corporativas, serão tarifadas e deverá ser reavaliada a
quantidade de E1 necessária. É possível, através de negociações com a(s)
operadora(s) selecionada(s), obter tarifas mais baixas, ou mesmo isenção, para
essas ligações.
135
Esta solução, apesar da complexidade de implantação, traz os benefícios
advindos da convergência de dados e voz, dilui o risco na execução dos serviços por
contar com mais de um fornecedor, e possibilita o registro e conseqüentemente o
controle e gestão do tráfego.
O estabelecimento da convergência entre voz e dados, torna possível a
implantação de um Contact Center onde o cliente pode ser atendido por telefone,
fax, e-mail ou chat, independente de sua localização e possui suas informações
reunidas em um único banco de dados, acelerando o atendimento e a solução de
problemas. O recurso de Contact Center pode ser utilizado para, além do suporte à
telefonia, o atendimento aos servidores públicos pela área de RH e outras
aplicações.
6.2.4.3 Utilização da Redecomep na Solução Corporativa
Conforme já mencionado, a Redecomep apresenta-se como uma excelente
oportunidade para interligar diversos setores da Prefeitura. Ela é financiada, além da
Prefeitura, por outros órgãos governamentais e privados. Essa rede já passará por
alguns dos principais endereços da Prefeitura e poderá ser utilizada em sua
topologia original.
Atualmente, um grande número de instituições públicas ou privadas utiliza
uma infraestrutura dedicada para suportar sua rede corporativa. Os benefícios
trazidos por essa implantação são inequívocos.
Os recursos necessários para a implantação da Redecomep Estendida
podem vir adicionalmente de outras fontes de financiamento que não a Prefeitura. O
Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável pela Redecomep, está implantando
infraestrutura de redes metropolitanas de alta velocidade em todas as capitais do
Brasil. Várias já estão em funcionamento e podem inclusive ser visitadas por
gestores da Prefeitura do Rio.
A Prefeitura pode basear a sua infraestrutura de telefonia em outras soluções
e posteriormente migrar para tecnologia baseada em fibra óptica, por exemplo, em
uma 1ª fase, a interligação dos PABX pode ser realizada por E1 das operadoras. Na
2ª fase, a interligação pode ser realizada através da Redecomep. Na 3ª fase, locais
136
com ramais de PABX Virtuais podem migrá-los para telefones IP interligados pela
rede de fibra óptica.
6.2.4.4 Potencial da RC-Híbrida
A implantação da solução RC-Híbrida, além dos serviços de telefonia já
descritos, pode ser utilizada como uma infraestrutura para uma grande quantidade
de outros serviços. Em um futuro próximo, havendo o interesse dos gestores da
PCRJ, a Redecomep Estendida pode vir a ser utilizada para interligar os pontos
principais de uma rede de rádio, atingindo os endereços da PCRJ não acessados
pela rede óptica. A essa nova configuração de rede denomina-se de Redecomep
Expandida.
Neste Cenário Futuro, os endereços da PCRJ cobertos pela parte rádio da
RC-Híbrida, poderão utilizar os mesmos serviços que os pontos da parte óptica, pois
novas tecnologias de rádio, com recursos de garantia de qualidade, permitem
suportar serviços de voz, imagem, vídeo, etc.
A parte rádio da RC-Híbrida, pela possibilidade de cobertura do todo o
município, pode ser utilizada para o acesso dos professores da rede municipal à
Internet, a partir de suas residências, objetivo almejado pela SME.
No Cenário Futuro é possível migrar todos os ramais de PABX Virtual para
telefones IP, homogeneizando a solução, trazendo as vantagens da telefonia IP e,
dependendo dos valores dessa migração, diminuindo os custos.
A Figura 42 ilustra como seria o Cenário Futuro da RC-Híbrida da PCRJ.
137
Figura 42: Cenário Futura da RC-Híbrida
Outras utilizações da RC-Híbrida, no “Cenário Futuro” podem ser:
• Disponibilização de acesso à Internet e aplicativos corporativos aos
servidores municipais que necessitam se movimentar pela cidade ou em suas
residências;
• Servir aos projetos de Inclusão Digital, disponibilizando o acesso à Internet
em Telecentros, comunidades e coberturas de áreas como a realizada no
Projeto “Orla Digital” na Praia de Copacabana;
• Trafegar imagens de câmeras de segurança ou para a monitoração do
trânsito;
• Trafegar informações para o controle de sinais de trânsito;
• Aulas à distância nas escolas a partir de um ponto central;
• Exames remotos. Como exemplo, a implantação de ultrasonografia remota na
Prefeitura de Porto Alegre – RS obteve uma redução do absenteísmo das
138
gestantes de 60 para 8% e a redução do tempo na fila do exame de 90 para
30 dias.
Os custos para a implantação do “Cenário Futuro” não estão contemplados
neste trabalho, por não fazer parte de seu escopo, mas certamente, a economia
gerada pela implantação da RC-Híbrida contribuirá para a sua viabilização. Da
mesma forma, não está contemplada a economia gerada pela retirada de circuitos
de dados atualmente contratados com as operadoras de telecomunicações, que
serão substituídos pela parte rádio da RC-Híbrida no “Cenário Futuro”.
6.2.5 Elaboração dos Planos de Ação
Foi desenvolvido um plano de ação dividido em 3 conjuntos de medidas. O
primeiro é composto das medidas que devem ser tomadas independentemente da
solução técnica adotada. Os outros dois são compostos pelas medidas que devem
ser adotadas em função da opção técnica escolhida, a PV ou a RC-Híbrida.
6.2.5.1 Ações a Serem Adotadas Independentemente da Solução Técnica
Ações Imediatas
1. Instituição de uma área Gestora de Telefonia, seleção de seus membros,
definição de objetivos, escopo e competência;
139
2. Instituição de uma área de Operação e Manutenção da Telefonia,
responsável pelo acompanhamento dos projetos em telefonia, help-desk em
telefonia, manutenção de rede interna, configuração dos equipamentos,
fornecimento de informações técnicas para decisões da área Gestora de
Telefonia e para a elaboração de editais, administração de tarifação, contatos
com os fornecedores, etc. Parte ou todas essas funções podem ser
terceirizadas;
3. Negociação com a operadora atual de telefonia para isentar o pagamento as
assinaturas dos troncos digitais e das faixas de ramais de DDR;
4. Solicitação à operadora atual de telefonia para que o envio das listagens das
faturas seja através de mídia digital em forma customizada;
5. Elaboração de um estudo sobre o comportamento do tráfego, através das
faturas em mídia digital, para o conhecimento em detalhe das componentes
desse tráfego;
6. Solicitação de relatórios de tráfego de todos os troncos digitais da Prefeitura
às respectivas operadoras para o conhecimento em detalhe do tráfego.
Curto Prazo
1. Assepsia na telefonia com a verificação dos contratos, dentro ou não da
validade, se os recursos cobrados realmente estão em uso, por quais setores
da Prefeitura e correspondência entre o setor usuário com o cadastro na
operadora (relatório de acessos por CNPJ), com posterior correção das
distorções, se houver;
2. Elaboração de catálogo de ramais da Prefeitura. Pode haver uma versão
aberta ao público na Internet, apenas com os números dos setores de
atendimento ao público, e outra versão apenas disponível aos servidores na
Intranet com os números de todos os ramais;
3. Divulgar internamente o plano de migração da telefonia em comum acordo
com os fornecedores dos serviços.
Médio Prazo
1. Acompanhamento da implantação dos ramais de PABX Virtual, da retirada
dos recursos atuais e confirmar na conta seguinte se retirada foi registrada.
140
Longo Prazo
Não foram identificadas atividades de longo prazo diferenciadas com relação
às outras.
Contínuo
1. Conferência da vinculação dos recursos aos respectivos usuários;
2. Manutenção de catálogo de ramais da Prefeitura nas versões aberta ao
público na e disponível apenas aos servidores, conforme alterações dos
recursos ou setores.
6.2.5.2 Solução PABX Virtual
Imediato e Curto Prazo
Na solução PV - PABX Virtual impõe-se a realização de um edital cuja
eficácia em atender adequadamente às necessidades da PCRJ dependerá dos
seguintes passos:
1. Determinar a organização de equipe que coordenará e realizará os trabalhos
necessários à execução deste plano de ação, doravante denominada Equipe
de Execução do Plano de Ação, abreviadamente EXPA;
2. Realizar reuniões prévias com as operadoras potencialmente capazes de
fornecer os serviços demandados, notadamente as que o fazem hoje, com
vistas principalmente a levantar dados que permitam realizar estudo de
tráfego, por endereço ou setor a ser atendido, e por tipo de tráfego, tão
preciso quanto possível;
3. Fazer os levantamentos necessários, no âmbito das unidades da PCRJ, que
permitam realizar um estudo detalhado de demanda por serviços de telefonia,
direcionado principalmente à identificação das necessidades de terminais
fixos e móveis.
4. Concluir os estudos mencionados em (2) e (3), e especificar no edital, cujo
termo de referência terá como objeto a contratação do serviço PV.
a. Na cláusula objetivo do termo de referência do edital a ser realizado,
de forma clara, mas com a maior abrangência possível, os objetivos a
serem alcançados dentro da prestação do serviço PV.
141
b. Na cláusula especificação do termo de referência do edital a ser
realizado, no mínimo o seguinte:
i. As quantidades necessárias de terminais fixos e móveis por
endereço;
ii. A especificação detalhada de PABX para cada local onde a
Prefeitura
entenda
ser
necessário,
mesmo
que
seu
funcionamento esteja dentro do modelo de PABX Virtual. Neste
caso, a utilização do PABX e não da central pública pode trazer
algumas vantagens adicionais sobre o serviço PABX Virtual “de
prateleira”;
iii. As facilidades necessárias que irão complementar o serviço
básico de telefonia, como por exemplo, DDR, captura de
chamadas,
chamada
em
espera,
transferência,
cadeado
eletrônico, identificador de chamadas entre outras.
iv. Interceptação, por pelo menos por 60 dias, para as linhas
retiradas ou que tiverem a numeração alterada.
5. Não descuidar da inclusão, no edital, de cláusulas de sanção relativas a
eventuais atrasos na disponibilização do serviço PV. É desejável que essas
cláusulas
caracterizem
eventos
claramente
definidos,
associados
a
obrigações das contratadas cujo cumprimento deverá ser acompanhado.
6. Deve ser inserido no edital conforme seção acima nesse mesmo capítulo, um
cronograma que descreva as etapas do plano de migração do serviço atual
para o serviço PV, contendo os principais eventos e datas mencionados,
preparados sob controle da EXPA definida acima.
Médio e Longo Prazo
1. Terminada a licitação, a EXPA deve acompanhar os eventos da implantação
do serviço PV contratado, conforme cronograma mencionado;
2. A EXPA deverá manter a área gestora da telefonia posicionada sobre os
eventos previstos no cronograma e, principalmente sobre os possíveis
desvios ou imprevistos, para que esta possa tomar as medidas cabíveis com
base em cláusulas de sanção contidas no edital.
142
6.2.5.3 Solução Rede Corporativa
Imediato
1. Negociação com a atual operadora de telefonia para unificar todos os ramais
de PABX Virtual já contratados em um único grupo. O benefício será que as
ligações entre os ramais entre os grupos atuais tornar-se-ão a custo zero
imediatamente, sem a necessidade de aguardar a implantação do restante da
solução;
2. Seleção de um contrato atual com operadora móvel vantajoso para ser
ampliado em 32 terminais para a ativação dos conversores fixo-móvel no
PABX principal da Prefeitura. Reconfiguração do PABX principal para o início
do uso efetivo do recurso;
Curto Prazo
1. Dimensionamento das quantidades de ramais fixos, ramais móveis (caso essa
opção seja adotada) e de telefones móveis para cada setor e endereço da
Prefeitura.
2. Definição dos pontos que integrarão a rede óptica da Prefeitura,
complementares aos pontos já previstos na Redecomep;
3. Definição da forma de atendimento de cada endereço. Por PABX onde houver
a necessidade de mais de 20 ou por PABX Virtual onde houver a necessidade
de menos de 20 ramais;
4. Detalhamento do projeto dimensionando a quantidade de E1, de conversores
de chamada fixo-móvel e de ramais de PABX Virtual para a integração com
os PABX para cada endereço;
5. Elaboração do Plano de numeração para a Prefeitura;
Médio Prazo
1. Elaboração e lançamento de editais para a contratação de:
a. PABX Virtual. O edital deve prever uma possibilidade de contratação
de mais ramais que o dimensionado, possibilitando o atendimento do
crescimento das necessidades da Prefeitura neste mesmo edital, assim
como para a integração com os PABX. Lembrar dos contratos de
PABX Virtual ainda dentro do prazo de validade;
143
b. Redes WiFi para os locais onde a Prefeitura tenho optado pela
utilização de ramais móveis.
c. Telefonia móvel, incluindo os terminais que devem ser conectados aos
conversores nos PABX. Lembrar dos contratos de telefonia móvel
ainda dentro do prazo de validade;
d. Locação de PABX;
e. Projeto e construção da extensão da Redecomep. A participação da
IPLAN nesta ação é essencial, pois a rede óptica criada poderá
suportar parte das atuais funções da rede de dados gerida pelo IPLAN.
2. Acompanhamento da implantação dos ramais de PABX Virtual, da telefonia
móvel e dos PABX;
3. Elaboração de editais para a contratação de:
a. Projeto e construção da extensão da Redecomep. A participação da
IPLAN nesta ação é essencial, pois a rede óptica criada poderá
suportar parte das atuais funções da rede de dados gerida pelo IPLAN;
b. E1 para interligação aos PABX à(s) operadora(s) para o tráfego local;
c. Tráfego de longa distância originado nos PABX;
d. Locação de equipamentos e gerência da rede óptica da Prefeitura
sobre a Redecomep Estendida.
4. Solicitar e acompanhar a retiradas dos recursos de telefonia substituídos pela
nova rede. Confirmar através das próximas contas a retirada dos recursos;
5. Acompanhamento da implantação dos outros serviços licitados;
6. Acompanhamento da ativação da interligação entre os PABX, os ramais de
PABX Virtual e os terminais móveis;
7. Acompanhamento da construção da Redecomep Estendida;
8. Levantamento das necessidades de comunicação de dados da Prefeitura
para a integração de voz e dados sobre a Redecomep Estendida. Esta
atividade é opcional, dependendo do interesse da Prefeitura em realizar a
integração das duas redes (voz e dados);
144
9. Acompanhamento da implantação dos equipamentos e da gerência da rede
óptica da Prefeitura;
10. Realizar teste piloto para verificar todas as facilidades contratadas.
Longo Prazo
1. Interligação dos PABX sobre a rede óptica da Prefeitura através da ativação
das interfaces IP, retirando o tráfego corporativo das operadoras;
2. Ativação dos nós de dados sobre o anel ótico da Prefeitura, solicitando a
retirada dos recursos antigos (SLDD, Frame Relay, aDSL, acesso discado,
etc). Esta atividade é opcional, havendo apenas caso a Prefeitura tenha
decidido integrar as redes de voz e dados;
3. Elaboração do Projeto para que a Rede da Prefeitura chegue a todos os seus
endereços, cobrindo os pontos fora da rede óptica. O projeto definirá se esses
novos acessos serão óticos, de rádio, através de circuitos contratados de
operadoras de telecomunicações ou uma combinação dessas possibilidades;
4. Licitação e acompanhamento da implantação do restante da Rede da
Prefeitura, complementar a rede óptica com a retirada dos recursos atuais
(SLDD, Frame Relay, aDSL, acesso discado, etc).
Contínuo
1. Conferência das contas recebidas das operadoras de telecomunicações
contra os dados obtidos pelos tarifadores;
2. Análise do tráfego dos PABX, a partir dos dados obtidos pelos tarifadores e
de relatórios de perdas gerados pela operadora, com o intuito de ajustar os
recursos dos PABX à demanda;
3. Apropriação de Contas recebidas dos fornecedores em telecomunicações aos
respectivos setores usuários, incluindo os custos de tráfego, equipamentos e
serviços;
4. Análise pelo setor de operação da telefonia e decisão pelo setor gestor da
telefonia sobre a implantação de novos serviços.
145
6.2.6 Seleção e detalhamento do cenário vencedor
Neste item, as duas soluções elaboradas são comparadas na Tabela 22 nos
requisitos considerados mais importantes.
Tabela 22: Comparação entre a solução PV e a RC-Híbrida
Requisito
Solução PV
Solução RC-Híbrida
Complexidade
de contratação
Mais simples, pois será
necessária a elaboração de um
único objeto a ser contratado.
Mais complexa, pois será necessária a
elaboração de diversos objetos a serem
contratados.
Risco de
insucesso na
contratação
Alto, pois praticamente há um
único fornecedor em condições
de atender a esse projeto,
minimizando a possibilidade de
redução do custo em uma
negociação.
Baixo, pois a maioria dos serviços a serem
contratados conta com diversos fornecedores
capazes de atendê-los, aumentando a
concorrência e, consequentemente, a
qualidade do serviço a custos mais baixos.
Risco de
insucesso na
implantação
Alto, pois praticamente toda a
implantação ficará sob
responsabilidade de um único
fornecedor.
Baixo, pois a implantação dos recursos como
PABX, PABX Virtual e terminais móveis podem
ocorrer de forma independente. O atraso de
um fornecedor não afetará toda a solução.
Risco de
insucesso na
operação
Alto, pois praticamente toda a
operação ficará sob
responsabilidade de um único
fornecedor.
Baixo, pois a divisão da operação entre mais
de um fornecedor diminui o risco de problemas
que afetem toda a solução.
Facilidades
Adicional à telefonia básica, há
um conjunto de
aproximadamente 20 facilidades
com o custo já incluído. A
configuração das facilidades
depende inteiramente do único
fornecedor.
O conjunto de facilidades adicionais é
significativamente maior e a configuração das
mesmas pode ser realizada pela equipe de
operação da Prefeitura.
Evolução
Não são conhecidos planos para
que o serviço de PABX Virtual
evolua para a convergência de
voz e dados ou que permita a
essa plataforma suportar novos
serviços além dos baseados em
voz.
Essa solução já nasce convergente, permitindo
a implantação de novos serviços nos pontos
atendidos pela rede de fibra óptica com a
possibilidade de crescimento da abrangência,
caso seja implantada a expansão através dos
recursos de rádio descritos.
Gestão
operacional
A gestão operacional (ativação
de ramais, atribuição de classes,
alocação de créditos e outros
procedimentos) é de atribuição
da operadora, livrando a
Prefeitura dessas tarefas.
A gestão operacional da rede é realizada pela
Prefeitura, o que implica em manter uma
equipe especializada, própria ou terceirizada.
146
Requisito
Solução PV
Solução RC-Híbrida
Conferência de
contas
telefônicas
O PABX Virtual não possui
recurso para se conferir o tráfego
telefônico cobrado pela
operadora corresponde ao
tráfego real da Prefeitura.
Os PABX possuem tarifadores que possibilitam
registrar todas as chamadas cursadas na rede
para a posterior comparação com o
detalhamento das contas fornecidas pelas
operadoras, garantindo que a Prefeitura
pagará apenas o tráfego efetivamente cursado.
Esse recurso não estará disponível nos locais
atendidos por PABX Virtual.
Gestão da
telefonia
Embora executada pela
Prefeitura, depende da
Operadora para o fornecimento
de dados necessários.
É facilitada pela Prefeitura ter o domínio de
todas as informações referentes ao sistema de
telefonia, exceto aos pontos atendidos por
PABX Virtual que possuem as mesmas
limitações que a solução PV.
Estima uma redução de custo próxima de 63%.
Redução de
custo de
telefonia
Estima-se uma redução de custo
próxima a 43%.
Há também a possibilidade de redução dos
custos da rede de dados através da
substituição de alguns circuitos pela
Redecomep estendida. O cálculo dessa
redução não foi realizado por não estar no
escopo do projeto.
Foi estimado o custo de telecomunicações para a alternativa PV e para a RCHíbrida e os resultados foram comparados com a situação atual. As estimativas
foram realizadas considerando-se os valores de tabela dos produtos e serviços, sem
levar em conta, por sua imprevisibilidade, as possíveis reduções adicionais em uma
disputa no processo de licitação. Por essa razão a redução pode ser maior. Obtevese para a solução PV cerca de 43% de redução, enquanto que para a solução RCHíbrida cerca de 63%. A Tabela 23 apresenta o resumo da redução de custo para
cada uma das duas soluções e, no caso de um atraso da implantação da
Redecomep, qual seria a redução obtida com a RC-Híbrida.
Tabela 23: Resumo da redução de custos em telefonia
Solução
Desembolso
Redução
R$
Redução
%
Atual
33.686.077,32
0,00
0
PABX Virtual
18.019.830,58
14.710.790,74
43
RC-Híbrida
12.332.687,77
21.353.389,55
63
RC-Híbrida sem a Redecomep
25.601.506,52
8.084.570,80
24
147
Levando-se em conta que a RC-Híbrida poderia trazer uma maior economia,
prepararia a Prefeitura para o futuro na área de TIC e ainda viabilizaria a
implantação de uma Cidade Digital, ela demonstra ser a solução mais adequada à
prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. A seleção do cenário vencedor não é uma
decisão puramente técnica, envolvendo outros fatores como o interesse e a vocação
da organização para gerir e operar essa área ou entregá-las a operação à terceiros.
A solução escolhida pela Prefeitura foi a PV, baseada no PABX Virtual,
conforme comprova o edital de licitação da telefonia PCRJ [52], lançado alguns
meses após o encerramento do projeto de redução de custos em telefonia. Entendese que a Prefeitura selecionou essa solução para concentrar o seu foco nas
atividades fim de uma prefeitura – educação, saúde, urbanização, etc – mesmo que
não seja a solução que mais bem atende os objetivos de TIC.
É importante frisar que ambas as soluções trazem uma melhoria operacional
da telefonia e economia significativa de recursos financeiros.
148
7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS
7.1 Conclusões
Nesta dissertação foram apresentados os conceitos de Cidade Digital, as
possibilidades de ampliação dos conceitos, aumentado a complexidade e os
benefícios do projeto e os desafios para a sua implantação. Segue com a justificativa
da importância da implantação de redes de banda larga, passando pela inclusão
digital, e da sua situação no Brasil e em comparação com o 1° mundo. Foram
relatados importantes projetos de Cidades Digitais no Brasil e no mundo, suas
principais características, forças e fraquezas.
Foram descritos os modelos de Cidades Digitais encontrados na literatura
técnica e em projetos de incentivo do governo e, posteriormente, analisados
conforme sua adequação à realidade brasileira.
Foram detalhadas as abordagens de Cidades Digitais, suas principais
aplicações, os telecentros, arquitetura e tecnologias que as suportam e discutido o
porquê do crescimento da utilização de algumas em detrimento de outras.
As
principais
normas,
portarias
e
resoluções
referentes
direta
ou
indiretamente ao assunto de Cidades Digitais são apresentadas em anexo, dando
um retrato do marco regulatório brasileiro. Os principais programas de incentivo no
Brasil que podem auxiliar na implantação de um projeto de Cidade Digital e uma
análise dos mesmos, também são apresentadas em anexo.
A partir da análise dos trabalhos relacionados e das características
encontradas no Brasil, foi apresentado um modelo – econômico, de gestão, de
aplicação e técnico – para a implantação de Cidades Digitais, adequado à realidade
nacional, dividido em pequenas e grandes cidades, que deve ser detalhado para a
149
implantação conforme a realidade local. Apresenta-se também uma metodologia
genérica para a orientação dos interessados na elaboração de um projeto de Cidade
Digital, assim com algumas ferramentas de auxílio para esse tipo de projeto.
Ao final, apresentou-se um estudo de caso de um projeto que tinha o objetivo,
em princípio, de reduzir o custo de telefonia em um governo municipal. O
detalhamento de sua análise mostrou ser possível, não apenas alcançar os objetivos
iniciais, mas também viabilizar a criação de uma Cidade Digital, suprindo a telefonia,
reduzindo os custos e criando uma infraestrutura para a implantação de diversas
aplicações e serviços com benefícios para o governo municipal, a população e
empresas locais.
A Implantação de uma Cidade Digital não é um processo simples nem barato,
mas pode ser acessível, principalmente com o auxílio de programas governamentais
e trazer frutos para a gestão governamental, para a educação e para o
desenvolvimento da economia local e dos cidadãos.
7.2 Sugestões de trabalhos futuros
Diversas podem ser as formas de aprofundar esta dissertação, uma vez que o
tema Cidades Digitais é bastante amplo e multidisciplinar.
7.2.1 Cidade Digitais em Municípios limítrofes
A proximidade geográfica de dois ou mais municípios pode trazer benefícios
para ambos em um projeto de cidade digital, pelo compartilhamento de recursos e
de serviços disponibilizados. A implantação torna-se mais complexa pela divisão de
custos (CAPEX e OPEX), de responsabilidades e do atendimento nos serviços
proporcionados.
7.2.2 Contabilização de utilização de recursos
Assim como na área da Saúde, o atendimento de cidadãos de um município
por postos de saúde e hospitais de outro município é tema de muita discussão, o
mesmo pode acontecer em cidades digitais, pois comumente pessoas deslocam-se
entre diferentes municípios, como por exemplo, moram em uma cidade e trabalham
em outra. Fará sentido contabilizar os recursos gastos por esses cidadãos e fazer
um encontro de contas ou cobrar o outro município.
150
7.2.3 Projeto e localização de equipamentos de rede sem fio
A escolha e a localização de antenas e rádios em um projeto de uma cidade
digital é uma tarefa bastante complexa, uma vez que é necessário levar-se em
conta:
•
A quantidade de a distribuição dos usuários e do tráfego entre os access
points;
•
A movimentação dos usuários, distâncias, velocidades, horários e
concentração;
•
Os requisitos das aplicações e equipamentos, que podem variar para
cada usuário – banda, QoS, etc;
•
A topografia do local;
•
A interferência dos equipamentos já existentes.
Há atualmente diversos softwares para esse tipo de levantamento, sendo
alguns gratuitos. A análise/desenvolvimento/adaptação dos softwares para esse fim,
juntamente com o detalhamento de uma metodologia para a sua implantação é uma
forma de prosseguir o atual trabalho.
7.2.4 Gestão de Cidades Digitais
Com o crescimento da quantidade de Cidades Digitais, aplicações suportadas
e usuários, sua importância cresce, tornando-se essencial na vida dos cidadãos da
mesma forma que o abastecimento de energia elétrica e de água. Isto torna a gestão
de fundamental importância para a garantia da autossustentabilidade, da segurança,
do crescimento, do atingimento dos objetivos, dos requisitos das aplicações, etc.
Como esse ambiente torna-se cada vez mais complexo, sua gestão exige cada vez
mais técnicos preparados, ferramentas e metodologias adequadas.
151
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155
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[55] http://radiomobile.pe1mew.nl/
[56] Decreto Presidencial 6.424/08.
[57] Carta Coex 165/09 do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
ao Ilmo. Sr. Ronaldo Mota Sardenberg, Presidente da ANATEL. São Paulo,
22 de junho de 2009.
[58] Ribeiro, Anna. Uso de Redes Mesh como Solução para o Canal de Retorno
da TV Digital Interativa. Dissertação de Mestrado em Engenharia de
Telecomunicações, UFF. Outubro de 2007.
156
ANEXO I – Marco Regulatório Brasileiro
Neste anexo, são descritas as normas, portarias e resoluções que regem os
serviços relacionados a telecomunicações e a Internet no que tange ao
funcionamento de Cidades Digitais.
No Brasil, os órgãos reguladores dos assuntos que envolvem a Cidade Digital
são a ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações, o Ministério das
Comunicações e, no que tange a tecnologia PLC - Power Line Communication,
também a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica.
WiFi
As redes WiFi utilizam frequências que não precisam de autorização para
serem utilizadas.
As condições de uso destas frequências no Brasil estão estabelecidas pelo
Regulamento sobre Equipamentos de Radiocomunicação de Radiação Restrita.
(seções IX e X), reeditado pela resolução 506 de 01/07/2008 da Anatel.
Solução para rede municipal sem fio
A partir de 26 de março de 2007, os 5.561 municípios de todo o País, já
dispõem de uma solução regulatória para prover acesso do cidadão a uma rede
comunitária municipal de telecomunicações, com tecnologia sem fio WiFi, de baixo
custo.
157
As prefeituras municipais poderão disponibilizar uma rede desse tipo de forma
indireta, por meio de empresas públicas ou privadas, autorizadas pela ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações para prestar o serviço SCM - Serviço de
Comunicação Multimídia; ou de forma direta, por meio de uma licença do Serviço de
Rede Privado, submodalidade do SLP - Serviço Limitado Privado, de interesse
restrito.
O serviço SCM é prestado em regime de mercado, enquanto uma rede
privada do SLP é gratuita para seus usuários e a outorga da autorização tem custo
reduzido (R$ 400,00, conforme Resolução 387).
O Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações aprovou a
proposta
de
Autorização
para
Prestação
ou
Execução
de
Serviço
de
Telecomunicações, com o objetivo de atender as demandas da municipalidade por
serviços relativos à educação, cultura e informação via acesso a portal/site da
prefeitura (intranet).
A Agência oferece,
com a aprovação da matéria, alternativas
na
regulamentação em vigor para as constantes solicitações de Prefeituras Municipais.
O estudo para solução do problema considerou a singularidade da entidade
“prefeitura municipal” – cujas atividades orgânicas são regidas pela Constituição
Federal – e as específicas do setor de telecomunicações, regidas pela Lei Geral de
Telecomunicações/LGT e todo o arcabouço regulatório dela originado.
Nos estudos e análises técnicas constatou-se que, já há algum tempo e
favorecidas pelo avanço tecnológico na área de acesso sem fio à Internet,
prefeituras instalaram sistemas de telecomunicações em frequência de radiação
restrita, para possibilitar aos seus cidadãos acesso aos sistemas do órgão municipal,
seus serviços em geral, além de prover acesso à rede mundial de computadores.
Uso próprio – Observou-se, também, que prefeituras executam – por meio de
balcões, mesas, guichês, Call Center, terminais de auto-atendimento, bibliotecas,
consultórios, telecentros de acesso ao seu sítio na Internet – serviços classificados
como de uso próprio, relacionados aos munícipes, para quem, em última análise,
eles são destinados.
158
São canais pelos quais a prefeitura atende à municipalidade sem nada cobrar,
em observância à sua missão constitucional. Em sua maioria, as formas de
atendimento relacionadas podem ser substituídas por acesso remoto pelo
computador individual do cidadão.
159
WiMAX
A Tabela 24 lista as resoluções da ANATEL referentes ao WiMAX, com as
suas respectivas frequências.
Tabela 24: Resoluções ANATEL sobre WiMAX
Faixa
Regulamentação
Frequências
(MHz)
Comentário
2,6 GHz
Res. 429 (13/02/06)
2.500-2.530 (FDD)
2.570-2.620 (TDD)
2.620-2.650 (FDD)
Compartilhada
com o MMDS
Res. 416 (14/10/05)
3.400 a 3.600
em licitação
Res. 506 (01/07/08)
Seção X
5.150-5.350
5.470-5.725
Não precisa de
licença
3,5 GHz
5 GHz
Metas de implementação da infraestrutura de rede de suporte do STFC para
conexão em banda larga
O Decreto Presidencial N° 6.424 de 04/04/08
[34] altera e acresce
dispositivos ao Anexo do Decreto no 4.769, de 27 de junho de 2003, que aprova o
Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo Comutado
prestado no Regime Público – PGMU, especificando as metas de implementação da
infraestrutura de rede de suporte do STFC para conexão em banda larga.
Define Backhaul como a infraestrutura de rede de suporte do STFC para
conexão em banda larga, interligando as redes de acesso ao backbone da
operadora e define obrigações de instalação de backhaul às concessionárias em
suas respectivas áreas geográficas de concessão.
Quanto à instalação do backhaul, a Tabela 25 mostra os prazos e os
respectivos percentuais de atendimento.
160
Tabela 25: Prazos para a instalação do backhaul
Prazo de instalação do
backhaul– até:
31/12/08 31/12/09 31/12/10
nas sedes dos municípios e
localidades ainda não atendidas
40%
80%
100%
Quanto à capacidade de transmissão do backhaul, a Tabela 26 exibe os
valores mínimos relativos à quantidade de habitantes do município ou localidade.
Tabela 26: Capacidades mínimas de transmissão do backhaul
A capacidade mínima
de transmissão do
backhaul
Localidades com até
5.000 habitantes
Localidades com mais
de 5.000
Municípios até 20.000
habitantes
Municípios entre 20.001
e 40.000 habitantes
Municípios entre 40.001
e 60.000 habitantes
Municípios com mais de
60.000 habitantes
capacidade mínima
nas respectivas
sedes
capacidade mínima de
transmissão (municípios que só
puderem ser atendidos via
satélite)
2 Mbps
4 Mbps
8 Mbps
2 Mbps
16 Mbps
4 Mbps
32 Mbps
8 Mbps
64 Mbps
16 Mbps
As capacidades mínimas de transmissão deverão considerar o enlace de
maior capacidade e não poderão ser compartilhadas com outros municípios.
Os custos relacionados com o cumprimento dessas obrigações são
suportados exclusivamente pelas concessionárias [35].
PLC – Power Line Communications
A ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, através da Resolução
Normativa N° 375 de 25 de agosto de 2009 regulamenta a utilização das instalações
de distribuição de energia elétrica como meio de transporte para a comunicação
digital ou analógica de sinais. A Resolução permite que prestadores do Serviço PLC,
161
detentores de autorização da ANATEL, façam uso das instalações de distribuição de
energia elétrica para a transmissão analógica ou digital de sinais para prover os
serviços de telecomunicações de Internet, vídeo, voz, entre outros, incluindo
Broadband over Power Line – BPL.
As distribuidoras de energia elétrica não podem desenvolver atividades
comerciais com o uso do PLC, exceto para seu uso privativo nas atividades de
distribuição de energia elétrica, aplicação em projetos sociais, científicos ou
experimentais.
A destinação do uso das instalações de distribuição de energia elétrica para o
desenvolvimento das atividades comerciais com o uso da tecnologia PLC deve ser
tratada de forma não discriminatória e a preços livremente negociados entre as
partes [29].
Dos Serviços: A Broadband PLC permite o provimento de diversos serviços
de dados, vídeo e voz, que são exatamente os mesmos que podem ser providos
pelas outras tecnologias de broadband. O modelo adotado pela ANATEL para o
mercado Brasileiro não exige nenhuma regulamentação adicional para a prestação
dos serviços, utilizando a tecnologia PLC.
Dos produtos: Os produtos utilizados nas redes PLC necessitam receber
certificação da ANATEL. Esta certificação irá buscar garantir dentre outras, a
compatibilidade funcional, a compatibilidade eletromagnética, segurança elétrica e
atendimento aos requisitos de emissão de freqüências, objetivando minimizar
interferências em outros sistemas.
162
Definições Importantes para o entendimento da Regulamentação
Serviço de Comunicação Multimídia (SCM); ou de forma direta, por meio de
uma licença do Serviço de Rede Privado, submodalidade do Serviço Limitado
Privado (SLP), de interesse restrito.
Power Line Communications (PLC): sistema de telecomunicações que utiliza
a rede elétrica como meio de transporte para a comunicação digital ou analógica de
sinais, tais como: Internet, vídeo, voz, entre outros, incluindo Broadband over Power
Line – BPL [29].
Prestador de Serviço de PLC: toda pessoa jurídica detentora de autorização
nos termos da regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel
para a exploração comercial de serviço de telecomunicações utilizando a tecnologia
PLC [29].
Distribuidora: Agente titular de concessão ou permissão federal para prestar o
serviço público de distribuição de energia elétrica [29].
Equipamento de Radiocomunicação de Radiação Restrita: Termo genérico
aplicado a equipamento, aparelho ou dispositivo, que utilize radiofreqüência para
aplicações
diversas
em
que
a
correspondente
emissão
produza
campo
eletromagnético com intensidade dentro dos limites estabelecidos no Regulamento
sobre Equipamentos de Radiocomunicação de Radiação Restrita. Eventualmente,
pode estar especificado neste Regulamento um valor de potência máxima de
transmissão ou de densidade de potência máxima em lugar da intensidade de
campo
163
ANEXO II - Programas de Incentivo no Brasil
Neste anexo são descritos os principais programas de incentivo no Brasil que
podem, direta ou indiretamente, contribuir com a inclusão digital e a criação de
Cidades Digitais.
Telecentros
O Ministério das Comunicações possui um programa de instalação de
Telecentros [18], disponível às prefeituras, com o objetivo principal de promover o
desenvolvimento social e econômico das comunidades atendidas, reduzindo a
exclusão social e criando oportunidades aos cidadãos.
O projeto destaca as atividades a serem desenvolvidas no Telecentro:
1. Uso livre dos equipamentos;
2. Acesso à Internet;
3. Cursos de informática básica;
4. Curso de navegação na internet;
5. Realização de oficinas de capacitação e oficinas diversas que possam utilizar
as TICs disponíveis no Telecentro;
6. Produção
e
compartilhamento
de
conhecimento
coletivo
(conteúdos
produzidos a partir das capacitações);
7. Realização de atividades sócio-culturais para mobilização social e/ou
divulgação do conhecimento;
8. Oficinas de alfabetização digital.
O projeto orienta ainda para o uso livre dos equipamentos e utilização
preferencial de softwares de plataforma aberta e não proprietária, conforme as
diretrizes do Governo Federal.
164
O Projeto fornece o “Kit Telecentro” composto de:
Tabela 27: Composição do Kit Telecentro
Tipo do material
Equipamentos de Informática
Equipamento Audiovisual
Mobiliários
Descrição
01 servidor de telecentro
10 estações de trabalho
11 estabilizadores
01 roteador sem fio
01 impressora a laser
01 câmera para monitoramento remoto
01 projetor multimídia
21 cadeiras
01 mesa do professor
01 armário baixo
11 mesas para computador
01 mesa para impressora
O projeto exige da Prefeitura uma contrapartida de:
• espaço físico com metragem mínima de 48 m2;
• infraestrutura adequada (água potável, iluminação, sanitários, acessibilidade
aos portadores de necessidades especiais);
• provedor de acesso à Internet em banda larga ou viabilizar condições para tal;
• linha telefônica para contato com o Ministério das Comunicações e suporte
técnico;
• sustentabilidade do telecentro;
• no mínimo 1 assistente técnico e a constituição de um Conselho Gestor.
Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac)
Criado em 2002 pelo Ministério das Comunicações em Portaria nº 256 e em
portaria 483, de 12 de agosto de 2008, teve aprovada a norma 02/2008 – para o
Programa GESAC, cujo objetivo é “promover a inclusão social por meio da inclusão
digital”, sendo destaque:
• Serviços: Acesso gratuito a ferramentas de tecnologia da informação e
comunicação (TIC),
especialmente conectividade,
recursos
digitais
e
capacitação para multiplicadores, em todo o território brasileiro, por meio de
165
uma plataforma de rede, serviços e aplicações, para promover inclusão digital
e ações de governo eletrônico;
• Proponentes: órgão da administração pública direta ou indireta, de qualquer
esfera de governo, bem como entidade da sociedade civil sem fins lucrativos,
que apresenta a proposta para utilização dos recursos e serviços
disponibilizados em razão do Programa;
• Público Alvo: comunidades localizadas nos 5.565 municípios do Brasil, que
possuam dificuldades de acesso aos serviços e recursos oferecidos pelo
Programa
e
similares,
priorizando
os
de
baixo
IDH
(Índice
de
Desenvolvimento Humano).
• Fases do programa:
o Fase I – Provê acesso via satélite, para 25.000 terminais a um centro
de gerência a Internet e um serviço de suporte aos usuários do tipo
0800;
o Fase II – Provê o funcionamento de 3.200 pontos de presença
distribuídos por todo o território nacional;
o Fase III – Promover o uso intensivo do programa, promovendo
demandas para integração das comunidades, novos serviços do tipo
VoIP, telemedicina, bibliotecas digitais, vídeos educativos, segurança
pública, uso de software livre, entre outros.
PMAT – Programa de Modernização da Administração Tributária e Gestão dos
Setores Sociais Básicos
O Programa de Modernização da Administração Tributária foi criado em 2007
pelo BNDES como fomento de inclusão social com o objetivo de promover ações
voltadas à melhoria da qualidade do gasto público e ao aumento da eficiência nas
demais esferas de atuação das prefeituras.
O PMAT é executado pelo BNDES e por agentes delegados que são o Banco
do Brasil, Caixa Econômica Federal, CaixaRS e BDMG, com os seguintes objetivos:
• Contribuir para a ampliação das receitas próprias do Município;
166
• Controle dos gastos correntes e de investimentos;
• Racionalização do uso dos recursos públicos;
• Melhoria da qualidade do atendimento ao cidadão;
• Maior transparência na ação governamental.
São exemplos de ações financiáveis:
• Revisão da Planta Genérica de Valores
• Cadastro Imobiliário / Multifinalitário
• Sistemas de Informação Georreferenciadas
• Capacitação
• Sistemas Informatizados
• Adequação de Espaço Físico
• Equipamentos de Apoio à Fiscalização
• Modernização da Gestão da Saúde
• Modernização da Gestão da Educação
• Modernização da Gestão da Assistência Social
• Modalidades de financiamentos:
Operações acima de R$ 6 milhões – Municípios com mais de 333 mil hab.
Taxa de Juros:
• Custo Financeiro: TJLP
• Remuneração Básica do BNDES: 0,9% a.a.
• Taxa de Risco de Crédito: 1% a.a.
• Prazos:
o Utilização: Até 24 meses
o Carência: Até 24 meses
o Amortização: Até 72 meses
• Participação Máxima do BNDES:
o Até 90% dos itens financiáveis (Pop. >50.000 hab.)
o Até 100% dos itens financiáveis (Pop. <=50.000 hab.)
167
• Valor do Financiamento:
o Limitado, simultaneamente, a R$ 30 milhões ou R$18,00 por habitante
Tabela 28: Participação do BNDES no PMAT
Itens Financiáveis
Participação
do BNDES
Tecnologia da Informação e Equipamentos de Informática:
Aquisição de hardware e de redes de computação e de
comunicação e aquisição e desenvolvimento de software e sistemas
de informação, inclusive para implantação e acesso à Internet;
Capacitação de Recursos Humanos:
Desenvolvimento de programas de treinamento, atualização e
reciclagem de pessoal, participação em cursos e seminários e visitas
técnicas;
Serviços Técnicos Especializados:
Execução de serviços para desenvolver atividades do projeto,
inclusive sistemas de organização e gerência, base cadastral e de
tecnologia da informação;
Equipamentos de Apoio à Operação e Fiscalização:
Aquisição de equipamentos operacionais, de comunicação e outros
bens móveis e operacionais;
Infraestrutura Física:
Adequação de ambientes físicos, através da melhoria de instalações
e de programas operacionais e de atendimento ao cidadão.
35%
25%
35%
25%
20%
O PMAT não financia:
• construção e reaparelhagem de escolas, unidades de saúde e de
atendimento;
• obras de infraestrutura não voltadas para a melhoria da eficiência da
administração;
• programas de desligamento de servidores;
• aquisição ou arrendamento de bens imóveis e benfeitorias;
• aquisição de máquinas e equipamentos usados;
• despesas com manutenção de atividades e de custeio da Administração
Municipal, inclusive com pessoal ativo e inativo;
• gastos com desapropriação ou aquisição de terrenos;
• aluguel ou leasing de equipamentos.
168
Situação em 2009 do PMAT:
• 375 municípios;
• Total de R$ 772 milhões em operações propostas;
• Total de R$ 707 milhões contratadas;
• Valor médio: R$ 1,97 milhão.
PNAFM - Programa Nacional de Apoio à Modernização Administrativa e Fiscal
Programa de financiamento da Caixa Econômica Federal semelhante ao
PMAT, com o objetivo de aumento das receitas dos municípios, para a melhoria da
qualidade dos gastos públicos e para a melhor gestão e atendimento dos setores
sociais básicos tais como, saúde, educação e assistência social.
Objetivo geral do PNAFM:
• apoiar o Governo Brasileiro na busca da estabilidade macroeconômica por
meio do equilíbrio fiscal auto-sustentável, fundamentado em uma política
transparente e eficiente na gestão da receita e do gasto público municipal. O
gestor do Programa é o Ministério da Fazenda, por meio da Unidade de
Coordenação de Programas - UCP.
Ações contempladas pelo PNAFM:
• o PNAFM contempla ações que visem a modernização da gestão
administrativa e fiscal, tais como capacitação de técnicos e gestores
municipais, implementação de ações e sistemas destinados ao controle da
arrecadação, atendimento ao cidadão, comunicação de dados, controle
financeiro, recursos humanos, consultorias, aquisição de equipamentos de
informática, infraestrutura e geoprocessamento referenciado. Ele ainda
possibilita ao município a elaboração e implementação de Plano Diretor,
Cadastro Multifinalitário e Planta Genérica de Valores.
Dos recursos do Programa:
• US$ 1,1 bilhão, são originários do Banco Interamericano de Desenvolvimento
- BID. O município poderá participar do PNAFM aplicando recursos próprios, a
169
título de contrapartida, em igual montante. No entanto, a contrapartida
financeira, que é a parte da contrapartida aplicada principalmente em
investimentos básicos, é variável conforme a população e a localização do
município, comforme política própira da Caixa Econômica Federal.
Orgão executor do PNAFM:
• Caixa Econômica Federal.
Licitação de Cidade Digital do Ministério das Comunicações
Através do edital nº 027/2008 [17], iniciou-se o processo de contração de, no
mínimo, 160 Cidades Digitais em várias localidades do Brasil, tendo como objeto “a
contratação
de
serviços
e
equipamentos
necessários
à
implantação
de
infraestruturas básicas de comunicação para acesso à Internet de alta velocidade,
nos municípios em nível nacional, com uso de tecnologias sem fio para transmissão
de dados, voz e imagens, que suportem a realização de teleconferências,
telemedicina e teleaulas em nível nacional”.
O Minicom espera, com os indicativos dos projetos experimentais concluídos e em
andamento, bem como o comportamento dos preços dos produtos de tecnologia da
informação e comunicação, demonstrar que os investimentos no projeto poderão
baixar a patamares muito significativos, com a execução direta, através da
contratação de empresas especializadas, mediante licitação pública na modalidade
de pregão por meio presencial.
A distribuição das 160 cidades digitais por todo o Brasil obedecerá a três critérios:
distribuição paritária de 26 cidades digitais entre os Estados, com a destinação de
uma para cada Estado; distribuição de 34 cidades digitais, proporcional à população
de cada Estado e a distribuição de 100 cidades digitais, proporcional ao número de
municípios de cada Estado.
Serão formadas, segundo as características e demandas de cada município, 3 tipos
de redes.
170
1. Redes Corporativas visando à conexão de telecentros, escolas, centros de
saúde, bibliotecas, estabelecimentos de segurança pública, centros de cultura
e outros equipamentos públicos, dos governos federal, estadual e municipal.
2. Redes Ponto-a-Ponto visando o tráfego de dados pertinentes à prefeitura,
mediante compartilhamento do ponto GESAC, nas localidades não atendidas
pela Rede Corporativa.
3. Redes Comunitárias visando o atendimento de comunidades com alto índice
de vulnerabilidade social, franqueando o acesso gratuito à Internet.
O pregão nº 027/2008 realizar-se-ia em 03 de novembro de 2008, mas em 16 de
outubro de 2008, foi publicado no DOU o aviso de revogação do mesmo. A mídia
informa que o pregão seria relançado em 2009.
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LUIZ EDUARDO FONTES MELLO DE ALMEIDA CIDADES DIGITAIS