ASSOCIATIVISMO JUVENIL E PLURALISMO CULTURAL ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE ASSOCIAÇÕES DO CONCELHO DE ODIVELAS VALENTE, Maria Madalena Duarte ([email protected]) RESUMO O estudo que se apresenta integra-se na temática do associativismo juvenil e pluralismo cultural e incide nas associações do concelho de Odivelas que incluem jovens oriundos de outras culturas que não a portuguesa. A abordagem do associativismo juvenil implicou algum enquadramento teórico no domínio da sociologia da juventude e do associativismo. Procurou-se conhecer também o papel que as associações poderão exercer no reconhecimento da identidade cultural dos jovens. Por conseguinte neste estudo são valorizados os vectores do pluralismo cultural e da integração social. Da pesquisa efectuada pretendeu-se inferir sobre a importância da acção das associações juvenis na educação não formal dos jovens: como facilitadora do desenvolvimento pessoal, na medida em que poderão ajudar a formar uma juventude mais sadia, portadora de ideais e de significado para a sua existência; na formação para a cidadania, como fonte de estímulo à participação social, envolvendo-os na solução dos problemas da comunidade. O associativismo surge, assim, como um meio de coesão e locomoção para os jovens. O associativismo pode preparo jovem para a vida, para o trabalho e para o tornar um cidadão activo, capaz de planificar, de decidir, de intervir no meio onde se encontra inserido e na sociedade. O voluntariado na associação apresenta-se como um processo efectivo na sociedade. Neste interagir, o jovem exprime a sua identidade pessoal e cultural e partilha as diferentes identidades pessoais e culturais dos outros membros da associação, contributo fundamental para o desenvolvimento do valor da tolerância e do pluralismo cultural. PALAVRAS-CHAVE Associativismo juvenil, pluralismo cultural, coesão, locomoção. Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas Qual o contributo do associativismo juvenil para o desenvolvimento pessoal e para a cidadania de jovens de diferentes culturas, no âmbito da pluralidade cultural e integração social foi o que se pretendeu inferir neste estudo. XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte O que é a Juventude? Haverá uma definição? Como a caracterizar? “A juventude é um mito ou quase mito que os próprios media ajudam a difundir e as notícias que estes veiculam a propósito da cultura juvenil ou de aspectos fragmentados dessa cultura (manifestações, modas, delinquência, etc.) encontram-se afectados pela forma como tal cultura é socialmente definida” (Pais, 1996: 27), no entanto verificou-se que a definição de juventude não é linear nem única. Por um lado, pressupõe homogeneidade (por ser uma faixa etária, caracterizada por comportamentos similares, um grupo que comunga interesses e aspirações próprias da idade); por outro, a diversidade (apresenta-se como um conjunto composto por diferentes tecidos sócio-culturais). Encontramos na definição de cultura juvenil um sentido de convergência (unidade) e de divergência, (diversidade) simultaneamente. Noutra perspectiva o conceito está associado à dimensão de problema social, pela crise de valores e pelo conflito de geração próprios da sua natureza (Pais, 1990: 676). Conde (1990: 685-687) estuda o perfil sócio-cultural desta geração e as manifestações identitárias da juventude. Afirma que um aspecto nuclear da identidade social dos jovens tem a ver com as relações que estabelecem com os diferentes meios sociais e o valor que lhes atribuem. Estas relações são complexas para a sua identidade uma vez que integram em simultâneo aspectos claramente distintivos do perfil sócio-cultural dos jovens e outros que não diferenciam as gerações. O jovem, enquanto tal, desenvolve o seu autoconhecimento e descobre-se a si mesmo na relação e interacção com os outros. Enquanto pessoa só se realiza na sua própria auto-realização livre, e esta desenvolve-se na comunidade, através das relações sociais, e no mundo que o rodeia. É fundamental o jovem descobrir a sua identidade pessoal e cultural para se tornar apto para o valor da tolerância. Este valor nasce do convívio entre diferentes grupos ou pessoas, da fraternidade e relação entre elas e é um factor importante numa sociedade pluricultural. A descoberta da tolerância, não é incompatível com a identidade. Pelo contrário, valoriza-a, conduz à auto-estima e torna-se caminho de descoberta dos valores e do pluralismo cultural. Esta diversidade cultural é um bem e um valor a preservar, onde todos coexistem respeitando as regras comuns, as identidades e as diferenças próprias de cada um. O pluralismo cultural é, por isso, um recurso educativo (Carmo, 2001: 180-181) onde cada cultura mantém a sua identidade, em que XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte o diálogo e a relação passam pela compreensão, pela partilha e pela participação na sociedade. Contexto da investigação empírica Esta apetência de descoberta do outro, do diferente, da importância da solidariedade manifestada nos jovens, levou a que se procedesse a um estudo sobre o associativismo juvenil. Existem associações mono e pluriculturais. Esta diversidade originou questões tais como: qual a abertura das associações juvenis à pluralidade cultural? de que modo é que as associações acolhem elementos de outras origens culturais? como respeita a associação a identidade cultural dos seus membros? de que forma contribui para a coeducação dos jovens? qual o papel desempenhado pela associação para o desenvolvimento da cidadania nos jovens? Para um conhecimento mais sistemático destas questões, uma fase exploratória englobou associações dos concelhos de Amadora e Odivelas com a finalidade de reunir elementos identificativos para uma delimitação da área de estudo, optando-se, a posteriori, pelo concelho de Odivelas. Este Concelho possui um associativismo heterogéneo. A população imigrante é de 1,8%. Nas escolas dos 2º e 3º Ciclos e do Ensino Secundário, a população de outra origem cultural que não a portuguesa é de 11,6%. O associativismo no Concelho abrange diversos tipos de associações, sendo as juvenis o terceiro grupo no quadro do associativismo, nestas associações a percentagem de jovens de outras origens culturais que frequentam as associações é de 7,4%. Dentro do associativismo juvenil, o tipo mais representativo é o de associações de estudantes, seguindo-se as associações de escuteiros e, por último, as associações de âmbito cultural. Perante a diversidade associativa, optamos por seleccionar tipos diferenciados de associações, de modo a poder determinar se a ideologia da associação interferia ou não no acolhimento e relação com jovens de outras culturas minoritárias. O presente estudo foi aplicado a oito associações. Duas de âmbito cultural e seis de escuteiros: Associação de Escoteiros de Portugal, agrupamentos do Corpo Nacional de Escutas e núcleos da Associação de Guias e Escuteiros da Europa, dentro de cada tipo, escolhemos as que apresentavam maior diversidade de jovens provenientes de outras origens culturais que não a portuguesa. XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte A metodologia seguida foi a do inquérito por entrevista semidirigida cuja finalidade era inferir sobre a importância da associação na integração e desenvolvimento pessoal e da cidadania de jovens de outras origens culturais que não a portuguesa. Os inquéritos por entrevistas foram aplicados aos dirigentes associativos das oito associações e a dez jovens de outra origem cultural que não a portuguesa. Nas 8 associações entrevistadas existem 471 associados. Destes, 81 jovens, isto é 17%, são de outras origens culturais, distribuídos por diferentes países, conforme se pode ver na figura. 1000 390 100 54 10 9 8 3 1 Po rtu gu es es Sa nt om en se s Ita lia no s 1 In di an os 1 Ch in es es Fr an ce se s G ui ne en se s an os An go l Br as ile iro s C ab ov er di an os 1 1 3 Figura 1 – Origem cultural dos jovens nas associações juvenis1 Das 8 associações, 7 integram jovens de outras origens culturais; 3 possuem jovens de outras culturas nos órgãos de direcção. Da análise das entrevistas inferiu-se que o acolhimento é feito de forma positiva. A associação está aberta à pluralidade cultural, que surge como elemento enriquecedor. Os dirigentes associativos defendem que ter presente outra culturas e conhecer outros princípios é importante pois possibilita aprender a respeitar o diferente, a ser tolerante e a trabalhar em espiritualidade, se quisermos utilizar as palavras dos dirigentes associativos. Não significa que não se tenham registado algumas dificuldades. Elas exprimem-se em situações de conflito. Nestas alturas o jovem chega a proferir expressões racistas, ainda que momentaneamente, tal como nos foi esclarecido pelos 1 O elevado número de angolanos, comparativamente às outras origens culturais, é devido à existência de uma associação angolana. XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte dirigentes cito “Racismo, isso é relativo... acontece quando surge o conflito, então aparece a palavra cigano, ou preto, ou macaco, isto não é do sangue. Porque depois são amigos quando se esquecem do motivo da zanga” (Entrevista, A 2). Coesão e identidade cultural A Psicologia Social tem demonstrado a influência que os grupos têm na formação do indivíduo. A uniformidade de atitudes que aí se encontram resulta muitas vezes de discussões internas entre os seus membros. As associações adquirem grande importância para os jovens por nelas poderem realizar actividades e atingir objectivos que só são possíveis de concretizar em dinâmicas de grupo, onde simultaneamente cada indivíduo sente que tem um papel a desempenhar. Neste sentido, a coesão corresponde às forças reguladoras e congregadoras dos elementos que pertencem a um determinado grupo (ingroup) distinguindo-os dos outros grupos (outgroup) (cf. Carmo, 2000: 128, 142). O grupo é importante para o indivíduo. Esta poderá ser fundamental para a integração social. Na semelhança e na diferença, a vivência em grupo, a realização de actividades são factores excelentes para desenvolver a solidariedade e reafirmar a pertença ao grupo no momento em que o jovem se ajusta às mudanças principais da sua vida. Nesta perspectiva, a associação, nas actividades que desenvolve, promove a coesão e surge, simultaneamente, como núcleo central de integração social, uma vez que no conhecer e viver em grupo, o jovem deverá aprender a viver em sociedade. Neste sentido a aprendizagem pode facilitar a coesão social. “Temos casos de crianças, com problemas de relacionamento na escola, e psicólogos aconselharam os pais a metê-las nos escuteiros. (...) sentimos que houve melhoria. A criança também sente um apego e disposição para estar com os outros miúdos e connosco” (Entrevista, A6). A associação dá um forte contributo para o desenvolvimento pessoal. Os mais novos referem, por um lado, a importância do desporto aventura para o seu desenvolvimento pessoal. Por outro, afirmam também que a associação contribui para a ajuda e para uma melhor aceitação dos outros. O auxílio na aprendizagem ou aperfeiçoamento da língua é também um dos aspectos referidos “percebo melhor o português” (Entrevista, J6). Os mais velhos apontam diferenças inclusive no seu local de trabalho, uma vez que, dizem, os escuteiros os ajudaram na capacidade de raciocinar XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte sob “diferentes aspectos” e de reconhecer a importância que tem o respeito e a tolerância para o desenvolvimento do trabalho em equipa. O associativismo surge, assim, como um meio de coesão e locomoção para os jovens. Neste espaço de coesão, o jovem identifica-se com o grupo e nele descobre o seu eu a sua afectividade. Este processo é um meio facilitador de aprendizagem e um contexto socializador, para além do espaço escolar. Na concretização das actividades auto-responsabiliza-se e aprende o sentido de complementaridade. Segundo Taylor (1998: 52), existe uma estreita relação entre identidade e reconhecimento. A identidade é formada em parte pela existência ou inexistência do reconhecimento. O grupo e a associação poderão ter um papel preponderante no reconhecimento e desenvolvimento da identidade dos diferentes jovens, factor fundamental na formação do eu numa sociedade pluricultural. Por conseguinte, a pluralidade cultural na associação surge como uma mais valia, contribuindo significativamente para a identidade do jovem, na formação da autonomia, tolerância, responsabilidade: “o que eu sou, tem uma grande influência da associação” (Entrevista, J4). É, assim, normal que o jovem como pessoa singular se valorize humanamente. Este é portador de uma multivariedade de heranças culturais, recebendo e aprendendo de ambas as culturas com que convive. As associações juvenis ao contribuir para uma coeducação livre, onde o jovem aprende a respeitar o diferente e o valor da solidariedade e da cidadania, contribuem para uma sociedade que preserva o pluralismo cultural (Carmo, 2001: 180). Locomoção – adaptação à sociedade O conceito de locomoção apresenta-se ligado à cidadania. É um processo dinâmico que se concretiza nas associações por meio das actividades específicas que promovem. A “associação promove o bem-estar, o contacto com a natureza e estimula uma série de acções com objectivos específicos para que uma nova atitude apareça por um mundo melhor” (Entrevista, J3) Os jovens expressam de modo vivencial o seu enriquecimento pelo facto de frequentarem a associação: “aprendi a partilhar e a conhecer outra cultura” (Entrevista, J3); “aprendi a partilhar, a realizar trocas culturais e a interessar-me por estudar e conhecer” outras culturas (Entrevista, J4). XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte Nas actividades desenvolvidas pela associação os jovens de origens culturais minoritárias participam da mesma forma que os jovens de origem cultural portuguesa nas actividades da associação. Este facto passa pela descoberta da complementaridade no trabalho em grupo, onde se faz o aproveitamento das capacidades de cada um, aprendendo a respeitar-se, a promoverem-se e a desenvolver a responsabilidade: “ajudaram-me a promover”, se tenho o cargo que tenho no trabalho é devido ao que aprendi nos escoteiros” (Entrevista, J6). A aprendizagem de cidadania desenvolve-se através da participação de todos os jovens na vida da associação. O trabalho em grupo é um meio de descoberta e aprendizagem do diferente. As associações apresentam uma forte componente coeducativa no que respeita à aprendizagem da cidadania, essencialmente nos vectores de âmbito social. Quadro 1 – Associativismo e desenvolvimento para a cidadania Referências das entrevistas aos Referências das entrevistas aos Jovens Dirigentes associativos Serviço à comunidade Mais disponível na ajuda aos outros Não deitar lixo no chão Respeito pelo espaço Mais amigo dos animais vadios Projectos de empreendimento ao nível ecológico Participar na sociedade Na formação dos jovens Educar para a ecologia, vizinhos, rua e amigos Intervenção comunitária Respeito pela cultura/ pessoas Somos todos iguais; Não é por ser de outra cultura que me põem e parte Sou mais responsável na escola, uso inteligência Ser responsável para passar Maior consciencialização dos direitos e deveres O conceito de cidadania surge assim, no sentido em que cada indivíduo adquire igualdade de direitos e deveres na sociedade. “Na associação comecei a ser mais autónomo e responsável” (Entrevista, J9); “com a associação aprendi a apreender projectos na natureza, ao nível mais ecológico e no trabalho comunitário.” (Entrevista, J3). Esta atitude tem o sentido de transformar o Mundo. Esta acepção é, afinal, a cidadania enquanto conceito XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte ligado à valorização de cada pessoa, à sua identidade, ao seu desenvolvimento pessoal, por consequência ligado à coesão social, onde cada jovem se pode afirmar. É por isso uma cidadania activa (Ambrósio, 2001: 52). O desenvolvimento para a cidadania está bem patente na vida associativa. Ambos os inquiridos, dirigentes associativos e jovens, possuem expectativas de cidadania marcadamente sociais, conforme se vê no quadro. As associações escolheram indicadores sociais2 no valor de 92,5% e os jovens optaram por indicadores sociais na ordem dos 84%, como se vê no quadro. Quadro 2 – Indicadores de cidadania comuns a ambos os grupos. Expectativa Indicadores de cidadania Concretizar os direitos Pessoais Dirigentes associativos 6 4 Construir a sociedade 3 2 Desenvolver a comunidade 3 4 Respeitar o outro 3 2 Ser solidário 2 4 Ser voluntário 2 2 Ter justiça igual para todos 3 2 Ter liberdade de expressão 2 1 Trabalhar em cooperação 2 4 Zelar pelo bem comum 3 1 Cuidar da família 3 2 Ser um filho responsável 1 1 humanos Sociais Jovens Estamos em condições de inferir que as associações juvenis têm-se revelado verdadeiras escolas de auto conhecimento, identidade pessoal e cultural, verdadeiros espaços de aprendizagem da responsabilidade, compromisso social que envolve o jovem na construção activa da cidadania e da solidariedade, “há toda uma consciencialização para o compromisso, todos são peças fundamentais para a realização da actividade, independentemente de este ser o guia, ou de ser o coordenador do que se vai fazer, todos somos necessários para o desenvolvimento daquilo, um acto isolado não faz nada” (Entrevista, A5). Para analisar a expectativa de cidadania foi apresentada aos dirigentes associativos e jovens uma lista de conceitos de cidadania. No quadro transcreve só os que foram referidos por ambos os inquiridos. 2 XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte Neste interagir de responsabilidades dentro do grupo, o jovem exprime a sua identidade pessoal e cultural e partilha as diferenças pessoais e culturais. Este pode ser um grande contributo para o desaparecimento de preconceitos sem alterar as suas referências culturais. As alterações verificadas no seu comportamento traduzem-se no melhoramento da sua destreza cognitiva, assim como na eficácia da articulação entre o pensamento e a expressão verbal. Efectivamente, a maioria dos jovens identifica-se com a sua cultura de origem, embora apontem uma ou mais culturas (outras) das quais se sentem fazer parte. A vivência associativa torna-se então um factor enriquecedor para o desenvolvimento pessoal num espírito de pluriculturalidade: a associação torna-se um espaço onde o jovem aprende a conhecer e partilhar diferentes culturas. Este facto conduz a que as relações pluriculturais vividas pelos jovens passem para além do espaço associativo. Neste espaço o jovem aprende e é sensível ao respeito por qualquer cultura. Estas conclusões confirmam as expectativas avançadas no início da investigação, relativamente à importância da vida associativa no desenvolvimento pessoal, na integração social e na aprendizagem para a cidadania, num contexto pluricultural. Conclusões Numa sociedade cada vez mais caracterizada pelo fenómeno social da multiculturalidade torna-se imperativo congregar todos os meios que possam conduzir a uma prática educacional pluricultural. Neste quadro, é premente ensinar o jovem a ser pessoa, a relacionar-se em liberdade com o semelhante e a respeitá-lo na sua diversidade. Se a escola tem um valor inestimável na formação e educação dos jovens, as associações surgem como um espaço privilegiado, enquanto agentes de educação não formal, para o desenvolvimento pessoal, descoberta da sua identidade e participação cívica. As associações, por meio das actividades que desenvolvem, ajudam o jovem a reduzir e desfazer preconceitos, levando-o a descobrir que não existem culturas superiores mas sim culturas diferentes no seu modo de comunicar e de viver. O jovem aprende a desenvolver valores de cidadania, de solidariedade e de tolerância. Os bairros onde se situam as associações convertem-se em espaços de manifestação das actividades juvenis e de aplicação da aprendizagem feita. Desta forma, o estatuto do jovem, ao ser reconhecido pela comunidade local, pode XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte desenvolver-se e elevar-se, constituindo-se num elemento de referência e de respeito. A comunidade, por seu lado, pode funcionar como fertilizante na germinação de verdadeiros cidadãos. Sempre que o jovem se envolve e responsabiliza pelo seu desenvolvimento e pelo desenvolvimento da comunidade onde está inserido, contribui activamente para um mundo melhor, mais ecológico, mais justo e mais tolerante. Esta é uma forma de educação para a cidadania activa, que passa pelo reconhecimento dos direitos e deveres próprios de toda a pessoa. O associativismo educa ao mesmo tempo para o reconhecimento das diferenças e para a integração social numa sociedade pluricultural. Não obstante os níveis de participação no associativismo terem ainda uma expressão fraca em Portugal, os jovens que o integram afirmam ter oportunidades e possibilidades de usufruir certos privilégios cujo acesso é mais difícil para os restantes jovens: praticam com mais facilidade desportos de aventura, campismo, relacionam-se com outros jovens e divertem-se de forma sadia. No estudo desenvolvido sobre o associativismo juvenil, as associações seleccionadas são maioritariamente escutistas, pois o seu número é elevado no concelho de Odivelas. Apesar de serem ainda poucos os jovens de origens culturais minoritárias que frequentam as associações, não podemos deixar de verificar os benefícios que daí têm colhido. As associações têm-se revelado verdadeiras escolas de autoconhecimento, identidade pessoal e cultural, verdadeiros espaços de aprendizagem da responsabilidade, compromisso social que envolve o jovem na construção activa da cidadania e da solidariedade. Neste espaço o jovem aprende e é sensível ao respeito por qualquer cultura. Estas conclusões confirmam as expectativas avançadas no início da investigação, relativamente à importância da vida associativa no desenvolvimento pessoal, na integração social e na aprendizagem para a cidadania, num contexto pluricultural. Bibliografia AMBRÓSIO, Teresa (2001), Educação – um Futuro a Construir, in Educação e Associativismo – Para Além da Escola..., Lisboa, Conselho Nacional de Educação/Conselho Nacional de Juventude, pp. 44-56. XV Colóquio AFIRSE – Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educação? Associativismo Juvenil e Pluralismo Cultural – Estudo Exploratório Sobre Associações do Concelho de Odivelas VALENTE, Maria Madalena Duarte CARMO, Hermano (2000), Interve nçã o Social com Gr upos, Lisboa, Universidade Aberta. CARMO, Hermano (2001), Educação Intercultural: Uma Estratégia para o Desenvolvimento, in Diversidade e Multiculturalidade, Actas da 2ª Conferência Desenvolvimento Comunitário e Saúde Mental, Lisboa, ISPA, pp. 175-193. CONDE, Idalina (1990), Identidade Nacional e Social dos Jovens, in Análise Social, Vol. XXV, (108 – 109), (4ª, 5ª). pp. 675 – 693. PAIS, José Machado (1990), A Construção Sociológica da Juventude – Alguns Contributos, in Análise Social, Vol. XXV, (105 – 106), (1ª, 2ª). pp. 139 – 165. PAIS, José Machado (1996), Culturas Juvenis, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda/reimpressão. TAYLOR, Charles, et al., (1998), Multiculturalismo, Lisboa, Instituto Piaget.