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Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho
Inovar para competir. Competir para crescer.
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Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho
Inovar para competir. Competir para crescer.
Brasília, dezembro de 2012
©2012 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI
Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Equipe Técnica
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI
Marina Oliveira
Supervisão de Publicação
Joana Wightman
Projeto Gráfico e diagramação
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Juliano Cappadocio Batalha (CDN Comunicação Corporativa)
Revisão
G3 Comunicação
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Divonzir Arthur Gusso
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Rafael Henrique Moraes Pereira
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Chefe de Gabinete
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República
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Ministro
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA
Marcelo Côrtes Neri
Presidente
Fernanda De Negri
Diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura
Sergei Suarez Dillon Soares
Chefe de Gabinete
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Apresentação
É com grande satisfação que a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicam a
primeira edição do Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho. Em
nosso primeiro número, relatamos as discussões e debates realizados durante
o evento de lançamento da Rede de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho, nos dias 24 a 26 de outubro de 2012, em Brasília.
Nosso objetivo principal ao lançar esse boletim é o de divulgar para o público
em geral — mas, em especial, para os integrantes da rede de pesquisa — o
teor principal dos debates e apresentações realizados em nossos encontros
presenciais. Esperamos ainda despertar em nossos leitores o interesse em
conhecer mais os trabalhos desenvolvidos e a própria rede de pesquisa ao
qual o boletim está vinculado. Nosso compromisso é o de produzir um boletim eletrônico para cada encontro presencial realizado. Em 2013, faremos
três reuniões de trabalho. Desejamos a todos uma boa leitura e um excelente
Ano-Novo!
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Cenários para o emprego:
antecipando tendências
As relações existentes entre formação e mercado de trabalho são cada vez
mais complexas e centrais para o desenvolvimento. Compreender melhor
essa interação e, na medida do possível, antecipar tendências de futuro
torna-se essencial para o planejamento tanto do Estado brasileiro quanto
dos agentes privados. O cenário atual da economia nacional com nível
de crescimento econômico relativamente modesto e situação de pleno
emprego tem causado perplexidade em analistas de diferentes orientações
teóricas e metodológicas. Ao lançar a Rede de Pesquisa: Formação e
Mercado de Trabalho, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
(ABDI) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) esperam
contribuir na articulação de diferentes áreas de conhecimento, com o
objetivo de produzir análises à altura de uma realidade econômica e social
extremamente heterogênea e multifacetada.
Os investimentos de longo prazo das empresas e do governo desempenham
uma função importante na definição das necessidades futuras de formação
e qualificação profissional. O Plano Brasil Maior, atual política industrial
brasileira, aposta na mudança do perfil da indústria com maior participação
de produtos de maior valor agregado na pauta de exportações e no Produto
Interno Bruto (PIB), de olho nas oportunidades criadas por grandes planos
de investimentos como o do Pré-Sal.
O trabalho realizado em conjunto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI) sobre cenários possíveis para a economia brasileira nos
próximos quinze anos e seus impactos na força de trabalho e na formação
profissional ilustra bem a centralidade do investimento no planejamento
de longo prazo da formação e da qualificação. Os quatro cenários possíveis
levam em conta a situação geopolítica internacional e buscam situar o
Brasil nesse contexto.
O estudo foi apresentado pelo coordenador do Observatório Tecnológico
do SENAI, Marcello Pio, no seminário de lançamento da Rede de Pesquisa:
Formação e Mercado de Trabalho, em outubro de 2012. Os cenários variam
de acordo com o dinamismo da economia brasileira e internacional, levando
em conta não apenas o crescimento econômico, mas a incorporação de
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novas tecnologias e a inovação no período de 2013 a 2027. Cada um deles
recebeu nome de um samba famoso cuja letra reflete o espírito mais ou
menos otimista do cenário em questão.
Do ponto de vista da formação de trabalhadores para a indústria, caso se
confirme o “Sonho Meu”, o mais positivo dos resultados apontados, o desafio
será garantir flexibilidade e a atualização frequente dos currículos, com
grande demanda por ferramentas de ensino a distância e incorporação das
modernas tecnologias da informação no processo de ensino/aprendizagem.
A oferta da educação profissional teria de ser dividida igualmente entre a
esfera pública e a privada para dar conta da totalidade da demanda.
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O segundo cenário, “Brasileirinho”, mostra uma especialização da indústria
nacional em áreas de média intensidade tecnológica, com a formação
puxada pela esfera pública e a entrada de profissionais estrangeiros de alto
e baixo nível de qualificação no país. Em “Deixa a vida me levar”, começam
a aparecer alguns sinais de desindustrialização e suas consequências no
mundo do trabalho. Nesse caso, a indústria passaria a ser um empregador
pouco atrativo para as novas gerações. Em “O Mundo é um Moinho”,
com as projeções mais pessimistas para o futuro do país e do mundo, a
exploração dos recursos naturais acabaria se transformando no único motor
da economia com consequências perigosas do ponto de vista ambiental e
educacional — falta de recursos para o ensino em tempo integral e altos
níveis de analfabetismo funcional.
Um ponto importante a se observar com relação à possível escassez de
profissionais qualificados apontada pelos cenários BNDES/SENAI é a falta
de professores de Física, Química e Matemática. Nos três primeiros cenários
mostrados, a falta desse tipo de trabalhador aparece como ponto de
atenção, mesmo que a motivação da escassez seja diferente em cada um
dos contextos. Tal situação de carência de professores com esse perfil só
não ocorreria caso se confirmassem as piores expectativas de futuro para o
Brasil e para o mundo.
O trabalho realizado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG) para
a ABDI, “Projeção do uso da mão de obra de Engenheiros no Brasil (2010–
2023)”, e apresentado no mesmo seminário pelo pesquisador Edson
Domingues, reforça a relação direta entre grandes investimentos e a
necessidade de formação e qualificação de recursos humanos.
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O estudo usou a metodologia de equilíbrio geral computável para projetar
quantos engenheiros de cada especialidade seriam demandados no Brasil
entre 2010 e 2023, identificando o município onde os postos de trabalho
específicos seriam criados. Nesse modelo, os resultados de geração
de emprego estão diretamente associados à carteira de investimentos
esperada por setor econômico e por região. A principal conclusão é de que
o crescimento do número de empregos de engenheiros como média do
estudo é mais acentuado que o aumento do PIB.
Foram ressaltadas, entretanto, algumas limitações da metodologia. A
principal é de que ela gera resultados com base no modelo e na estrutura
atual da economia, portanto, não permite prever o surgimento de novos
empregos em setores e localidades onde não existe nenhum na atualidade.
Caso haja um aumento da inovação e um incremento da participação de
setores com maior intensidade tecnológica na economia, existe a tendência
de mudança no perfil dos postos de trabalho gerados que não seriam
captados pelo modelo utilizado no estudo.
O desafio de aumentar o grau de precisão de projeções de crescimento de
emprego por tipo de ocupação, num cenário de grande complexidade, com
muitas variáveis simultâneas, foi o fio condutor da apresentação do técnico
de planejamento e pesquisa do Ipea, Divonzir Gusso, no seminário de
lançamento da rede. Ele observou que mudanças na estrutura de emprego
vêm ocorrendo com maior intensidade a partir do ano 2000.
O fato dos problemas estarem imbricados obriga a uma análise
multidimensional da questão da geração de emprego. A proposta da
rede de pesquisa está associada à necessidade de trabalho colaborativo
entre os pesquisadores e suas instituições para tentar antecipar o que irá
acontecer no Brasil nos próximos anos, em termos de mercado de trabalho,
oferecendo subsídios para o planejamento educacional e a qualificação
profissional. Segundo ele, existe um bom acervo de análises sobre os
anos de 1980 e 1990 do século passado, em que o Brasil sofreu uma
estagnação da geração de empregos, ao mesmo tempo em que houve um
aumento da população economicamente ativa e uma concentração dessa
força de trabalho nas grandes cidades, que pode servir como um dos
pontos de partida de uma nova agenda de pesquisa na área. Ao colocar
uma lupa sobre questões mal explicadas naquele período e fazer uma
releitura dos conceitos criados para analisar as informações tendo em
vista os avanços conseguidos nas bases de dados públicas, seria possível
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perceber as direções nas quais a pesquisa precisa avançar para dar conta
de antecipar tendências futuras.
Uma área promissora de trabalho seria observar o fluxo dinâmico do
trabalho e o que muda de lugar dentro das estruturas de emprego, afetando
os níveis de remuneração. O pesquisador chamou a atenção para o fato de
que a partir do ano 2000 houve uma recomposição da força de trabalho na
indústria e uma elevação geral do nível médio de escolaridade da força de
trabalho. Entretanto, é preciso observar melhor até que ponto o aumento
da escolaridade significa que o trabalhador está mais qualificado para
desempenhar suas funções cotidianas — outro ponto fundamental de uma
nova agenda de pesquisa.
Por outro lado, a indústria deverá deixar de puxar a geração de empregos
no país, a médio e longo prazo, tornando imperativo conhecer melhor a
dinâmica do setor terciário, bem como o deslocamento espacial e regional
dos investimentos para poder prever com maior acuidade o cenário futuro
no país.
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A chefe do Departamento de Pesquisas Econômicas do BNDES, Ana Cláudia
Além, que participou como debatedora do seminário de lançamento da
rede, enfatizou a importância de pensar o emprego também do ponto
de vista da qualidade dos postos de trabalho gerados. Segundo ela, a
demanda por trabalho com níveis historicamente baixos de desemprego
ajuda a qualificar tanto o emprego quanto o trabalhador, e esse deve ser
o ponto central das investigações sobre formação e mercado de trabalho.
Joana Silva, representante do Banco Mundial e debatedora no seminário,
enfatizou o papel central do emprego no desenvolvimento dos países. A
importância de capacidades cognitivas e sociais, além dos conhecimentos
técnicos, é fundamental para preparar as pessoas para postos de trabalho
de qualidade cada vez maiores. Segundo ela, é preciso inverter a lógica
atual que vê o emprego como mera consequência do investimento. Em
muitos casos, ele pode definir a decisão de determinada empresa de aportar
recursos num empreendimento ou país. Seria preciso trazer a questão do
emprego para a linha de frente de qualquer debate sobre desenvolvimento
e investimento.
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Qualificação profissional e
competências cognitivas no
mercado de trabalho brasileiro
Antecipar tendências futuras do mercado de trabalho e ajustar as
necessidades formativas a elas é um bom primeiro passo, mas o grande
desafio brasileiro está na baixa atratividade da educação profissional para os
jovens. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD) de 2007
mostram que 82% dos respondentes entre 15 e 17 anos não frequentavam
cursos técnicos por falta de interesse. Relativizar o mito de que só o curso
superior oferece boas oportunidades de desenvolvimento pessoal e renda
pode ser, inclusive, um mecanismo importante para reduzir o descasamento
entre a formação do trabalhador e as funções que desempenha.
A segunda mesa redonda do seminário de lançamento da Rede de
Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho, em outubro de 2012, teve
como foco a relação entre as competências cognitivas do trabalhador, a
sua inserção no mercado de trabalho e a influência da qualificação sobre os
seus rendimentos. Os técnicos de planejamento e pesquisa do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Aguinaldo Nogueira Maciente e Paulo
A. Meyer M. Nascimento, apresentaram uma proposta metodológica que
permite detalhar o pool de competências cognitivas da força de trabalho.
A proposta metodológica partiu do Código Brasileiro de Ocupações (CBO),
que detalha as atividades desempenhadas pelo trabalhador nas suas
funções diárias. Os pesquisadores do Ipea fizeram, então, uma correlação
dessas atividades com as habilidades cognitivas necessárias para o exercício
profissional. Os Estados Unidos possuem um modelo bem desenvolvido
desse tipo de correlação que serviu de base para o trabalho.
A metodologia utiliza ainda critérios do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) para agrupar municípios para, a partir daí, localizar
no espaço territorial as competências cognitivas disponíveis. Com isso, é
possível mapear a escassez ou abundância de determinadas habilidades
na força de trabalho por região ou setor econômico. A proposta agrega
também a possibilidade de verificar taxas de rotatividade e salário em
determinada ocupações, colhendo, dessa forma, mais subsídios para avaliar
a possível escassez ou excesso de oferta de perfis ocupacionais específicos.
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A proposta metodológica está em desenvolvimento e será apresentada de
forma mais aprofundada em um texto para discussão do Ipea.
O pesquisador do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE), Eduardo Schneider, apresentou no mesmo
seminário a metodologia desenvolvida para identificar pontos específicos
de estrangulamento no mercado de trabalho das regiões metropolitanas. O
trabalho tem por objetivo apontar áreas do saber nos quais os investimentos
em qualificação profissional deveriam se concentrar e serve de apoio ao
trabalho das comissões municipais de emprego.
O DIEESE utiliza a Pesquisa Mensal de Emprego e Desemprego (PED)
realizada em algumas regiões metropolitanas brasileiras. A metodologia
está voltada para a análise dos grupos ocupacionais com o maior número
de trabalhadores considerados subqualificados por possuírem escolaridade
inferior à média dos demais trabalhadores na mesma função. Trata-se
de uma adaptação de modelo criado nos Estados Unidos para análise de
pessoal sobrequalificado. O estudo abrange as sete regiões metropolitanas
brasileiras para as quais a PED é produzida (Belo Horizonte, São Paulo, Rio
de Janeiro, Distrito Federal, Salvador, Recife e Porto Alegre).
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A vantagem da análise do DIEESE é que ela permite captar a dinâmica dos
processos do mercado de trabalho, num contexto generalizado de aumento
da escolaridade do trabalhador brasileiro. A principal conclusão é de que
a maior parte dos postos de trabalho gerada nessas regiões não é para
profissionais da mais alta qualificação.
Outro ponto importante levantado está relacionado à renda do trabalhador.
Os melhores ganhos salariais são obtidos por aquelas pessoas que possuem
qualificação compatível com a função desempenhada. Significa dizer que
o consumo de qualificação sem uma mudança nas funções cotidianas não
necessariamente trazem retorno de renda ao trabalhador. Em quase todas
as ocupações mapeadas, os sobrequalificados (com escolaridade superior à
média daqueles com a mesma função) ganham menos do que as pessoas
com qualificação compatível ao posto de trabalho ocupado.
O estudo aponta a existência de três eixos de análise da educação
profissional: educação, experiência e treinamento. Segundo Schneider, as
três dimensões precisam ser levadas em conta quando se pensa no tema da
qualificação profissional. Nesse sentido, não é possível aferir a qualidade
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da força de trabalho dissociada da inserção de cada indivíduo no mercado,
visto tratar-se de um conceito relativo. Por isso, o descasamento entre a
formação e as atividades desempenhadas acaba gerando distorções no
mercado de trabalho prejudiciais ao desenvolvimento do capital humano.
Numa análise voltada para o ensino superior, o pesquisador Naércio
Menezes Filho, professor da Universidade de São Paulo e do Insper/USP,
apresentou resultados de um estudo utilizando dados de ocupação e
formação do Censo Demográfico 2010 em comparação com dados do
Censo 2000. O objetivo era identificar áreas em que há sinais de escassez
de profissionais. A Medicina aparece como a área do conhecimento que
mais obteve ganhos salariais, em função do número relativamente baixo
de profissionais disponíveis no mercado. Outro ponto observado é de que
não houve mudança significativa da distribuição das formações em nível
superior numa comparação entre os dois Censos. Significa dizer que as
escolhas de carreiras universitárias feitas pelos jovens hoje mudaram muito
pouco numa comparação com os vestibulandos de 10 anos atrás. Isso
pode indicar uma baixa disponibilidade de informações atualizadas para os
jovens do Ensino Médio de maneira geral.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec)
dominou os debates. O Diretor de Integração das Redes de Educação
Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Marcelo Feres,
observou que o programa prevê investimentos de R$ 24 bilhões até 2014
para garantir oito milhões de matrículas, sendo 5,6 milhões em cursos
de curta duração, e 2,4 milhões de vagas para cursos técnicos. O grande
desafio, segundo Feres, é mudar a lógica de planejamento da oferta desse
tipo de curso, aproximando-a da demanda real da sociedade.
O Ministério da Educação aposta na construção de uma ferramenta dinâmica
que permitirá cruzar informações sobre oferta de cursos e demanda por
qualificação e formação, por município. Com isso seria possível prever
a necessidade de qualificação e formação da mão de obra especializada
no território nacional. O chamado “Mapa da Educação Profissional e
Tecnológica no Brasil” passaria, então, a orientar a oferta de cursos por
parte da rede federal e das instituições do Sistema S dela participantes.
O desafio metodológico de construir tal ferramenta é gigantesco, visto que o
esforço de análise conjunta de informações mistura várias fontes de dados,
bem como áreas de conhecimento, e agrega ainda uma análise inteligente
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dessa massa de informações para produzir os resultados esperados. A Rede
de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho apoiará esse trabalho.
Marcelo Feres ressaltou que o modelo adotado pelo Pronatec também
facilita o controle dos egressos e acompanhamento da empregabilidade
posterior dos alunos. Segundo ele, o alvo maior não é a simples certificação
e diplomação das pessoas, mas garantir a inserção desse trabalhador em
ocupações compatíveis com a qualificação realizada. Segundo ele, o Brasil
está saindo de um modelo de escassez de oportunidades de formação
para outro de abundância de oportunidades de escolha. Mas sem articular
a oferta de qualificação com uma inserção de qualidade no mercado de
trabalho, pode-se gerar na abundância o mesmo resultado dos períodos de
escassez anteriores.
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Luiz Müller, Diretor de Inclusão Produtiva do Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, ressaltou que a principal dificuldade encontrada
para empregar os beneficiários do Brasil Sem Miséria que passaram por
cursos do Pronatec é a confusão existente entre escolaridade e qualificação
profissional. Segundo ele, em todos os países do mundo existem caminhos
para a certificação de habilidades e competências adquiridas pelo
trabalhador na prática, sem necessariamente exigir uma escolaridade
formal correspondente à média dos profissionais do mesmo nível técnico.
O Diretor do MDS lembrou ainda que nos anos de 1980 e 1990 houve
a desvalorização de rotas de formação diferentes do Ensino Superior,
reduzindo a atratividade de cursos técnicos e profissionalizantes de uma
maneira geral.
Por isso, o MDS tem feito um trabalho de diálogo permanente com os
empregadores dos municípios onde há turmas do Pronatec Brasil Sem
Miséria sobre a necessidade de tornar as exigências na hora da contratação
mais condizentes com as funções desempenhadas pelo trabalhador no
cotidiano. Com isso, o programa vem conseguindo uma empregabilidade
média de 50% dos alunos qualificados e reduzido a 20% a perda de vagas
ofertadas, média bem superior a registrada nos cursos técnicos e de
qualificação em geral.
Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho
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Demanda setorial por força
de trabalho especializada
Existe apagão de mão de obra especializada no Brasil? A pergunta que
ocupou grande parte do noticiário sobre o tema da formação de pessoal
qualificado a partir de 2008, motivada pelas reclamações da indústria
sobre a falta de engenheiros, norteou parte das apresentações da terceira
mesa do seminário de lançamento da Rede de Pesquisa: Formação e
Mercado de Trabalho, em outubro de 2012, no Ipea. Renato Pedrosa e
Sérgio Queiroz, da Universidade de Campinas (Unicamp) mostraram os
resultados do trabalho intitulado “Oferta e Demanda de Engenheiros e
Outros Profissionais para o Setor de Óleo e Gás no Brasil”. Os pesquisadores
procuraram identificar a existência ou não de escassez de mão de obra
especializada para o setor até 2020. Eles buscaram, ainda, analisar a
qualidade dos profissionais formados como uma dimensão fundamental
da questão da escassez de mão de obra especializada.
O trabalho partiu do levantamento da oferta atual e futura (2020) dos
profissionais da Engenharia e da Geologia, áreas essenciais para o setor de
petróleo e gás. Os dados foram cruzados com a demanda atual e projetada
para os mesmos profissionais. Segundo o estudo, em 2009, o Brasil formou
quase 39 mil engenheiros e 449 geólogos. Números satisfatórios para darem
conta de um aumento anual estimado de demanda, tomando como base
o crescimento registrado entre 2007 e 2008, quando foram gerados 30 mil
novos empregos para engenheiros e 549 para geólogos. Os pesquisadores
concluíram que, em termos quantitativos, não há sinais de “apagão” de
engenheiros, mas podem faltar geólogos. No Brasil a quase totalidade dos
cursos de Geologia são ofertados por universidades públicas, fazendo com
que seja relativamente fácil para o governo resolver a questão, ampliando
a oferta de vagas ou abrindo novos cursos.
Numa comparação internacional, observa-se que o número de engenheiros
formados no Brasil é aproximadamente 44% menor do que o correspondente
para os EUA, mesmo levando em consideração o fato de a população
brasileira ser 38% menor que a norte-americana. Foi ressaltado também
que, dependendo do desempenho da economia, a demanda de engenheiros
crescerá acima da oferta dos formandos da rede pública — de onde saem os
alunos com melhor formação. Daí a importância de estimular a qualificação
do sistema privado de ensino, responsável por uma parcela cada vez maior
Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho
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da formação de pessoal qualificado para as áreas de Ciência e Tecnologia
no Brasil.
Uma análise da qualidade dos engenheiros formados à luz do Exame Nacional
de Desempenho de Estudantes (Enade) mostra que cursos com desempenho
menor no Exame agregam menos competência cognitiva aos seus alunos do
que aqueles com notas mais altas na mesma avaliação. Os concluintes de
60% dos programas de engenharia têm média mais baixa no Exame do que
a registrada pela elite de ingressantes nos melhores cursos do país.
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Segundo Renato Pedrosa, a qualidade do Ensino Superior também está
limitada em grande parte pelas competências não adquiridas pelos alunos no
Ensino Básico. O pesquisador citou dados do último Indicador de Alfabetismo
Funcional (Inaf), publicado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG
Ação Educativa, e observou que, entre 2001 e 2011, o Brasil aumentou
significativamente o número de pessoas consideradas alfabetos básicos,
enquanto os plenos ficaram mais ou menos estacionários. Vale ressaltar
que o conceito de alfabetizado não está associado apenas a habilidades
linguísticas, mas também matemáticas. Os dados levam à conclusão de que
existe um grupo grande de alunos no ensino superior que não podem ser
considerados alfabetizados plenos. Tais evidências sugerem a necessidade
de avaliar melhor o impacto do alfabetismo, considerado em seu conceito
mais amplo, sobre a qualidade da educação como um todo, como questão
fundamental para o avanço da qualidade no Ensino Superior. Na avaliação do
pesquisador, o Ensino Médio é o ponto de inflexão em termos de qualidade
da educação básica.
Virgínia Costa Duarte, gerente do Observatório SOFTEX, apresentou o estudo
“Recursos Humanos em TI: Recomendações para Políticas Públicas”. O trabalho
analisa a questão da escassez sob quatro dimensões, levando em conta a
qualidade dos profissionais, a quantidade deles disponível, a atratividade dos
empregos ofertados e as diferenças regionais. Do ponto de vista quantitativo,
o estudo aponta para a escassez de pessoal de TI a partir de 2020. A
pesquisadora explica que o problema no setor é agravado pelo fato da oferta
de formação estar muito distribuída no território nacional, enquanto que os
serviços estão muito concentrados em alguns municípios, dentro de poucos
estados brasileiros. Isso faz com que a escassez seja sentida mais fortemente
em alguns lugares, enquanto sobram profissionais em outros.
Segundo ela, a precariedade do mercado de trabalho de software e de
Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho
serviços de TI (informalidade, produtividade baixa e margem líquida
muito pequena) torna a mobilidade de profissionais de um local para
outro pouco provável. A pesquisadora trouxe, ainda, uma perspectiva
diferenciada para a discussão sobre a qualidade do profissional formado.
Hoje, a maior parte das empresas nesse setor, segundo o SOFTEX, não
está buscando o aluno excelente. Em parte porque não pode pagar o que
ele vale, mas também porque desenvolve atividades pouco desafiantes
para reterem esse tipo de estudante.
O estudo registrou que houve queda do número de concluintes dos cursos
profissionalizantes para o setor de TI ao longo da década de 2000, mas
esses números começam a se recuperar. Houve ainda um aumento grande
dos jovens profissionais com Ensino Superior incompleto, revelando uma
prática das empresas de oferecer trabalho para os estudantes de graduação,
muitas vezes para preencher funções de nível técnico. A tendência é que
a maioria dos postos de trabalho gerados no curto prazo continue sendo
para esse perfil de profissional, mas como é mais difícil encontrar pessoas
formadas em nível técnico, as empresas contratam alunos de graduação.
Nesse aspecto, a formação de tecnólogo acaba sendo atraente para esse
segmento e oferece retorno financeiro mais compatível para o aluno do
que o bacharelado. Segundo a especialista, o setor de TI preocupa-se mais
com proficiência e experiência de trabalho do que com a escolaridade dos
profissionais que contrata.
Os pesquisadores Sábado Nicolau Girardi (Nescon/UFMG) e Fernanda Gonçalves
Rodrigues (PUC–MG) falaram sobre a questão da escassez de pessoal especializado
na Saúde. Eles lembraram que nesse segmento existe uma gama grande de
formações diferentes com situações completamente diversas no mercado de
trabalho. Existe uma escassez com relação aos médicos que tende a se agravar,
mas não com relação aos demais profissionais — enfermeiros, nutricionistas,
odontológos, psicólogos, entre outros. Os dados apresentados são da Estação de
Pesquisa de Sinais do Mercado de Trabalho em Saúde, financiada pelo Ministério
da Saúde e pelo CNPq.
O objetivo da Estação de Pesquisa é gerar dados que permitam o cruzamento de
informações sobre o mercado de trabalho em Saúde produzindo análises para
apoiar as políticas públicas no setor. São identificados também desequilíbrios
localizados no acesso à saúde, seja em áreas isoladas ou no meio de regiões
metropolitanas onde a população tem dificuldade de receber atenção adequada.
Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho
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Uma análise focada nas especialidades médicas mostra que há maior falta
de determinados perfis de médicos, mais ainda em localidades específicas.
O coordenador da Estação de Pesquisa observou que muitas atividades em
saúde no Brasil são de exercício exclusivo dos médicos, agravando a escassez.
Segundo Girardi, em outros países, o campo de atuação dos enfermeiros
com Ensino Superior, por exemplo, é bem mais amplo do que o observado
aqui. De acordo com ele, as corporações da área de saúde em geral não
admitem a discussão sobre a falta de profissionais, em especial de médicos,
por implicar num debate amplo sobre o papel de cada uma das formações
no atendimento à população.
As informações da Estação de Pesquisa mostram um incremento muito
grande do emprego nas áreas de saúde desde 2000. Por isso, a expectativa
salarial de um médico formado hoje não pode ser coberta por nenhuma
remuneração assalariada. O emprego formal não é o principal rendimento
desse profissional, que mantém um emprego assalariado como estratégia
para garantir uma aposentadoria mínima.
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Fernanda Gonçalves vem trabalhando com uma equação demográfica
para acompanhar a vida profissional do médico desde sua formação e sua
trajetória no mercado de trabalho. A pesquisadora também vem estudando
a questão dos médicos migrantes que atuam no Brasil, apesar de muitas
vezes não terem conseguido validar o diploma adquirido em outros países.
O quadro de escassez em algumas regiões, entretanto, acaba viabilizando
a atuação desses profissionais nessas condições. Um dos focos de
preocupação é tentar prever quantos médicos de cada especialidade o Brasil
precisará formar nos próximos anos, levando em consideração também
a distribuição geográfica desses profissionais. A grande dificuldade é a
falta de um parâmetro internacional por especialidade médica que possa
ser usado como base para a projeção, indicando quantos ginecologistas,
pediatras, cardiologistas etc. são necessários para atender adequadamente
um número fixo de habitantes.
A coordenadora da mesa e diretora da Diset–Ipea, Fernanda de Negri,
observou com relação às Engenharias que, não importa qual o critério usado,
o Brasil precisa formar mais engenheiros para que tenhamos um número
de profissionais desse tipo mais compatível com a média internacional. Ela
também chamou a atenção para a importância da Rede de Pesquisa desenvolver
metodologias para captar nas projeções eventuais mudanças estruturais na
economia, antecipando pressões futuras por formações específicas.
Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho
Hoje, a falta de pressão salarial em muitas ocupações mostrada pelas pesquisas
causa preocupação, pois pode indicar que o mercado de trabalho não está
disposto a pagar mais pelo profissional de qualidade. Entender melhor o que
está por trás dessa situação também é um problema de pesquisa relevante
para a Rede. O que se percebe, segundo a diretora do Ipea, é que houve um
período de degradação do mercado de trabalho pela falta de crescimento
econômico e a recuperação da década de 2000 provocou a sensação de
escassez, pela mudança no mercado.
Os participantes do debate enfatizaram a importância do Brasil adotar uma
política de importação de recursos humanos qualificados como via importante
de aprendizado tecnológico. Outro caminho apontado para resolver a
eventual escassez de pessoal é uma mudança no modelo de negócios das
empresas que promova a qualidade e o aumento da produtividade.
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Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho
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Indicadores de Inovação,
Competitividade e
Produtividade do Trabalho
O desafio de construir bons indicadores capazes de captar de forma eficiente o impacto das políticas públicas sobre a evolução da estrutura produtiva
foi o foco da última mesa do seminário de lançamento da Rede de Pesquisa:
Formação e Mercado de Trabalho, no Ipea, em outubro de 2012. Eduardo
Viotti, consultor independente, apresentou o resultado de trabalho realizado para o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), no qual propõe
um indicador de meta-síntese da inovação no Brasil.
O pesquisador observou que na atualidade existe certa “fixação” das
políticas públicas brasileiras e de outros países de apostarem em números de investimento em pesquisa e desenvolvimento como melhor
indicador de inovação. Uma das razões para isso é o fato de se tratar
de um dado consolidado com mais de 50 anos de existência, dando
confiabilidade às informações.
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Segundo Viotti, entretanto, esse indicador está calcado num modelo linear
enraizado na cabeça dos formuladores de política que acreditam que do
investimento em pesquisa e desenvolvimento resultam, necessariamente,
inovações. A história do desenvolvimento industrial mostra que muitas tecnologias foram e continuam sendo introduzidas de forma independente da
pesquisa científica no processo produtivo. No caso brasileiro, Viotti ressaltou que o modelo de desenvolvimento tecnológico é fundamentalmente
dado por transferência tecnológica e pelo aperfeiçoamento de processos
criados em outros países.
O trabalho realizado para o CGEE e apresentado no seminário analisou o esforço da União Europeia para construir um novo indicador mais diretamente relacionado com a inovação na empresa para orientar junto com informações sobre o investimento em pesquisa e desenvolvimento, as políticas
de inovação do bloco. O objetivo é em um único dado captar a dinâmica
tecnológica, medindo a participação de empresas inovadoras e de rápido
crescimento na economia. Esse grupo de empresas foi escolhido por ser de
base tecnológica e estar associado a empreendimentos de spin off de universidades e centros de pesquisa. Para Viotti, tal indicador seria replicável
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no Brasil usando as bases de dados do IBGE sobre empresas inovadoras,
notadamente a PINTEC.
Em seguida, Mário Salerno e Guilherme Amaral, do Observatório de Inovação e Competitividade da Universidade de São Paulo (OIC/USP), apresentaram o projeto tocado em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) para estabelecer um novo indicador internacional
de competitividade mais adequado ao perfil de países heterogêneos como
o Brasil. O trabalho iniciou com uma análise crítica dos indicadores existentes do Fórum Econômico Mundial e do IMD. O principal problema apontado é o fato de estarem baseados em pesquisas de opinião realizadas
com empresários e, portanto, terem cunho subjetivo e qualitativo, além de
serem susceptíveis às condições conjunturais apresentando grande alternância entre a posição dos países no ranking de um ano ao outro. A grande
qualidade dos métodos existentes é permitirem a elaboração de um ranking
comparativo entre países, baseado em indicador de fácil entendimento.
A estratégia do projeto desenvolvido pela ABDI e o OIC/USP é produzir, a
partir de dados oficiais, não apenas um indicador sintético, mas um conjunto de indicadores que possibilite as comparações entre países. O trabalho se desenvolve no âmbito da Federação Global dos Conselhos de Competitividade, do qual o Brasil é membro-fundador. Ao final, será produzida
uma matriz de indicadores, no lugar de um ranking como é feito hoje pelo
Fórum Econômico Mundial e o IMD. Mesmo que o ranking seja mais forte
para atrair a atenção do público em geral, a matriz pode contribuir muito
mais para o monitoramento e avaliação de políticas públicas, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil.
Mariano Macedo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), abordou o
tema da produtividade do trabalho. Usando como base estudos do Ipea de
2012, o palestrante mostrou que na década de 2000 a produtividade do
trabalho no Brasil caiu ou apresentou aumentos muito pouco expressivos
para os 48 setores econômicos monitorados pelo Sistema de Contas Nacionais. Os avanços observados aconteceram muito mais em termos físicos
do que em valor agregado da produção. Segundo Macedo, a maior parte
do crescimento econômico brasileiro na década passada (75%) deveu-se ao
aumento de pessoal ocupado e só 25% a ganhos de produtividade. Trata-se
de uma dinâmica inversa a registrada no período de 1940–2000, quando
a produtividade respondeu por 56% do crescimento econômico brasileiro.
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Macedo propôs a utilização de novos recortes analíticos para estudar a
produtividade, usando a mesma base de dados para olhar diferentes segmentos das cadeias, buscando revelar possíveis gargalos de formação e
qualificação do trabalhador. Na sua avaliação, a Rede de Pesquisa poderia
estabelecer mecanismos de coordenação entre iniciativas de instituições diferentes com vistas a avanços e consensos básicos na análise e definição de
indicadores de referência para avaliação de políticas públicas com impacto
sobre a produtividade.
O pesquisador do IBGE, Cristiano Santos, participou como debatedor e
apresentou trabalho conjunto com o Instituto Endeavor Brasil. Eles vêm
participando das discussões sobre o novo indicador de inovação da União
Europeia analisado pelo consultor Eduardo Viotti e mostrado na mesma
mesa do seminário. Brasil, Nova Zelândia, Dinamarca, Itália e Espanha testaram a viabilidade do indicador de inovação baseado em empresas de
rápido crescimento proposto pela Comissão Europeia. Santos observou
que a dúvida era avaliar até que ponto um indicador baseado apenas em
um grupo de empresas de características tão particulares seria robusto o
suficiente para medir a inovação como um todo.
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A aproximação entre o IBGE e a União Europeia nesse tema começou pelo
esforço da OCDE para estabelecer um arcabouço de indicadores para medir
o empreendedorismo nos países. O grupo de Santos participa dessa discussão na OCDE representando o Brasil. A pergunta que se buscava responder
com os testes era a seguinte: será que empresas de alto crescimento em
setores inovadores da economia refletem a inovação na economia como
um todo? O resultado infelizmente foi negativo para todos os países participantes dos testes. Os especialistas agora estão trabalhando com uma
segunda opção para o indicador de inovação. No lugar de selecionar empresas de rápido crescimento em setores de alta intensidade tecnológica
somente, eles irão ponderar o indicador de acordo com a intensidade de
cada setor, pegando empreendimentos com as mesmas características de
todas as cadeias produtivas.
O técnico do IBGE informou que o Brasil está trabalhando para acrescentar
à próxima rodada da PINTEC perguntas que permitam identificar empresas
de alto crescimento, de acordo com a definição da União Europeia. O objetivo é trabalhar para termos um indicador comparável ao que está sendo
pensado para a Europa, mas também desenvolver outros mais voltados
para as preocupações específicas do país em termos de monitoramento e
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avaliação de políticas de inovação e de empreendedorismo. No entanto,
já para a pesquisa que está em campo neste momento e que será divulgada em 2013, há previsão de recortes na base da PINTEC para delimitar a
abrangência da inovação nas empresas de alto crescimento (P&D, patentes,
esforço em inovar etc.). Tais resultados serão apresentados em novembro
de 2013 na publicação Estatísticas de Empreendedorismo 2011.
O técnico do Ipea e diretor adjunto da DISET, Luiz Ricardo Cavalcante, reforçou as observações feitas pelo pesquisador Eduardo Viotti de que as informações sobre investimento em pesquisa e desenvolvimento são insuficientes para medirem a inovação. Segundo ele, o dado de investimento em P &
D dá muito mais a medida do esforço de um país para promover a inovação
do que propriamente dos resultados alcançados. Ele citou a Sondagem de
Inovação da ABDI, observando que a pesquisa veio suprir a lacuna da PINTEC que só acontece a cada três anos. Os resultados da Sondagem, que já
completou três anos de existência, estão sendo analisados em profundidade como ferramenta para elaboração de políticas públicas na área.
Cavalcante enfatizou que a sustentabilidade de qualquer ciclo de crescimento está ligada ao aumento da produtividade do trabalho e do trabalhador e que o Brasil, em particular, precisa atacar essa questão. Ao falar
da agenda de pesquisa da Diset, ele observou que questões de produção
e de microeconomia, foco do trabalho da diretoria, têm convergido inevitavelmente para a discussão sobre produtividade. Um dos desafios de
se desenvolver um indicador de produtividade é o fato de tratar-se de um
fenômeno determinado por uma série de variáveis que interagem o tempo
inteiro no mundo real. Um problema de pesquisa complexo e que exige um
olhar multifacetado para produzir soluções adequadas.
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Inovar para competir. Competir para crescer.
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