1 Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho Inovar para competir. Competir para crescer. 2 Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho Inovar para competir. Competir para crescer. Brasília, dezembro de 2012 ©2012 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. Equipe Técnica Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI Marina Oliveira Supervisão de Publicação Joana Wightman Projeto Gráfico e diagramação Marco Lúcius Freitas (CDN Comunicação Corporativa) Juliano Cappadocio Batalha (CDN Comunicação Corporativa) Revisão G3 Comunicação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA Aguinaldo Nogueira Maciente Divonzir Arthur Gusso Paulo A. Meyer M. Nascimento Rafael Henrique Moraes Pereira ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Setor Bancário Norte, Quadra 1 - Bloco B Ed. CNC - 70041-902 / Brasília DF Tel.: (61) 3962-8700 www.abdi.com.br República Federativa do Brasil Dilma Rousseff Presidenta Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Damata Pimentel Ministro Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI Mauro Borges Lemos Presidente Maria Luisa Campos Machado Leal Diretora Otávio Silva Camargo Diretor Cândida Beatriz de Paula Oliveira Chefe de Gabinete Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República Wellington Moreira Franco Ministro Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA Marcelo Côrtes Neri Presidente Fernanda De Negri Diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura Sergei Suarez Dillon Soares Chefe de Gabinete 1 Apresentação É com grande satisfação que a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicam a primeira edição do Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho. Em nosso primeiro número, relatamos as discussões e debates realizados durante o evento de lançamento da Rede de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho, nos dias 24 a 26 de outubro de 2012, em Brasília. Nosso objetivo principal ao lançar esse boletim é o de divulgar para o público em geral — mas, em especial, para os integrantes da rede de pesquisa — o teor principal dos debates e apresentações realizados em nossos encontros presenciais. Esperamos ainda despertar em nossos leitores o interesse em conhecer mais os trabalhos desenvolvidos e a própria rede de pesquisa ao qual o boletim está vinculado. Nosso compromisso é o de produzir um boletim eletrônico para cada encontro presencial realizado. Em 2013, faremos três reuniões de trabalho. Desejamos a todos uma boa leitura e um excelente Ano-Novo! Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 7 2 Cenários para o emprego: antecipando tendências As relações existentes entre formação e mercado de trabalho são cada vez mais complexas e centrais para o desenvolvimento. Compreender melhor essa interação e, na medida do possível, antecipar tendências de futuro torna-se essencial para o planejamento tanto do Estado brasileiro quanto dos agentes privados. O cenário atual da economia nacional com nível de crescimento econômico relativamente modesto e situação de pleno emprego tem causado perplexidade em analistas de diferentes orientações teóricas e metodológicas. Ao lançar a Rede de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) esperam contribuir na articulação de diferentes áreas de conhecimento, com o objetivo de produzir análises à altura de uma realidade econômica e social extremamente heterogênea e multifacetada. Os investimentos de longo prazo das empresas e do governo desempenham uma função importante na definição das necessidades futuras de formação e qualificação profissional. O Plano Brasil Maior, atual política industrial brasileira, aposta na mudança do perfil da indústria com maior participação de produtos de maior valor agregado na pauta de exportações e no Produto Interno Bruto (PIB), de olho nas oportunidades criadas por grandes planos de investimentos como o do Pré-Sal. O trabalho realizado em conjunto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) sobre cenários possíveis para a economia brasileira nos próximos quinze anos e seus impactos na força de trabalho e na formação profissional ilustra bem a centralidade do investimento no planejamento de longo prazo da formação e da qualificação. Os quatro cenários possíveis levam em conta a situação geopolítica internacional e buscam situar o Brasil nesse contexto. O estudo foi apresentado pelo coordenador do Observatório Tecnológico do SENAI, Marcello Pio, no seminário de lançamento da Rede de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho, em outubro de 2012. Os cenários variam de acordo com o dinamismo da economia brasileira e internacional, levando em conta não apenas o crescimento econômico, mas a incorporação de Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 9 novas tecnologias e a inovação no período de 2013 a 2027. Cada um deles recebeu nome de um samba famoso cuja letra reflete o espírito mais ou menos otimista do cenário em questão. Do ponto de vista da formação de trabalhadores para a indústria, caso se confirme o “Sonho Meu”, o mais positivo dos resultados apontados, o desafio será garantir flexibilidade e a atualização frequente dos currículos, com grande demanda por ferramentas de ensino a distância e incorporação das modernas tecnologias da informação no processo de ensino/aprendizagem. A oferta da educação profissional teria de ser dividida igualmente entre a esfera pública e a privada para dar conta da totalidade da demanda. 10 O segundo cenário, “Brasileirinho”, mostra uma especialização da indústria nacional em áreas de média intensidade tecnológica, com a formação puxada pela esfera pública e a entrada de profissionais estrangeiros de alto e baixo nível de qualificação no país. Em “Deixa a vida me levar”, começam a aparecer alguns sinais de desindustrialização e suas consequências no mundo do trabalho. Nesse caso, a indústria passaria a ser um empregador pouco atrativo para as novas gerações. Em “O Mundo é um Moinho”, com as projeções mais pessimistas para o futuro do país e do mundo, a exploração dos recursos naturais acabaria se transformando no único motor da economia com consequências perigosas do ponto de vista ambiental e educacional — falta de recursos para o ensino em tempo integral e altos níveis de analfabetismo funcional. Um ponto importante a se observar com relação à possível escassez de profissionais qualificados apontada pelos cenários BNDES/SENAI é a falta de professores de Física, Química e Matemática. Nos três primeiros cenários mostrados, a falta desse tipo de trabalhador aparece como ponto de atenção, mesmo que a motivação da escassez seja diferente em cada um dos contextos. Tal situação de carência de professores com esse perfil só não ocorreria caso se confirmassem as piores expectativas de futuro para o Brasil e para o mundo. O trabalho realizado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG) para a ABDI, “Projeção do uso da mão de obra de Engenheiros no Brasil (2010– 2023)”, e apresentado no mesmo seminário pelo pesquisador Edson Domingues, reforça a relação direta entre grandes investimentos e a necessidade de formação e qualificação de recursos humanos. Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho O estudo usou a metodologia de equilíbrio geral computável para projetar quantos engenheiros de cada especialidade seriam demandados no Brasil entre 2010 e 2023, identificando o município onde os postos de trabalho específicos seriam criados. Nesse modelo, os resultados de geração de emprego estão diretamente associados à carteira de investimentos esperada por setor econômico e por região. A principal conclusão é de que o crescimento do número de empregos de engenheiros como média do estudo é mais acentuado que o aumento do PIB. Foram ressaltadas, entretanto, algumas limitações da metodologia. A principal é de que ela gera resultados com base no modelo e na estrutura atual da economia, portanto, não permite prever o surgimento de novos empregos em setores e localidades onde não existe nenhum na atualidade. Caso haja um aumento da inovação e um incremento da participação de setores com maior intensidade tecnológica na economia, existe a tendência de mudança no perfil dos postos de trabalho gerados que não seriam captados pelo modelo utilizado no estudo. O desafio de aumentar o grau de precisão de projeções de crescimento de emprego por tipo de ocupação, num cenário de grande complexidade, com muitas variáveis simultâneas, foi o fio condutor da apresentação do técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, Divonzir Gusso, no seminário de lançamento da rede. Ele observou que mudanças na estrutura de emprego vêm ocorrendo com maior intensidade a partir do ano 2000. O fato dos problemas estarem imbricados obriga a uma análise multidimensional da questão da geração de emprego. A proposta da rede de pesquisa está associada à necessidade de trabalho colaborativo entre os pesquisadores e suas instituições para tentar antecipar o que irá acontecer no Brasil nos próximos anos, em termos de mercado de trabalho, oferecendo subsídios para o planejamento educacional e a qualificação profissional. Segundo ele, existe um bom acervo de análises sobre os anos de 1980 e 1990 do século passado, em que o Brasil sofreu uma estagnação da geração de empregos, ao mesmo tempo em que houve um aumento da população economicamente ativa e uma concentração dessa força de trabalho nas grandes cidades, que pode servir como um dos pontos de partida de uma nova agenda de pesquisa na área. Ao colocar uma lupa sobre questões mal explicadas naquele período e fazer uma releitura dos conceitos criados para analisar as informações tendo em vista os avanços conseguidos nas bases de dados públicas, seria possível Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 11 perceber as direções nas quais a pesquisa precisa avançar para dar conta de antecipar tendências futuras. Uma área promissora de trabalho seria observar o fluxo dinâmico do trabalho e o que muda de lugar dentro das estruturas de emprego, afetando os níveis de remuneração. O pesquisador chamou a atenção para o fato de que a partir do ano 2000 houve uma recomposição da força de trabalho na indústria e uma elevação geral do nível médio de escolaridade da força de trabalho. Entretanto, é preciso observar melhor até que ponto o aumento da escolaridade significa que o trabalhador está mais qualificado para desempenhar suas funções cotidianas — outro ponto fundamental de uma nova agenda de pesquisa. Por outro lado, a indústria deverá deixar de puxar a geração de empregos no país, a médio e longo prazo, tornando imperativo conhecer melhor a dinâmica do setor terciário, bem como o deslocamento espacial e regional dos investimentos para poder prever com maior acuidade o cenário futuro no país. 12 A chefe do Departamento de Pesquisas Econômicas do BNDES, Ana Cláudia Além, que participou como debatedora do seminário de lançamento da rede, enfatizou a importância de pensar o emprego também do ponto de vista da qualidade dos postos de trabalho gerados. Segundo ela, a demanda por trabalho com níveis historicamente baixos de desemprego ajuda a qualificar tanto o emprego quanto o trabalhador, e esse deve ser o ponto central das investigações sobre formação e mercado de trabalho. Joana Silva, representante do Banco Mundial e debatedora no seminário, enfatizou o papel central do emprego no desenvolvimento dos países. A importância de capacidades cognitivas e sociais, além dos conhecimentos técnicos, é fundamental para preparar as pessoas para postos de trabalho de qualidade cada vez maiores. Segundo ela, é preciso inverter a lógica atual que vê o emprego como mera consequência do investimento. Em muitos casos, ele pode definir a decisão de determinada empresa de aportar recursos num empreendimento ou país. Seria preciso trazer a questão do emprego para a linha de frente de qualquer debate sobre desenvolvimento e investimento. Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 3 Qualificação profissional e competências cognitivas no mercado de trabalho brasileiro Antecipar tendências futuras do mercado de trabalho e ajustar as necessidades formativas a elas é um bom primeiro passo, mas o grande desafio brasileiro está na baixa atratividade da educação profissional para os jovens. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD) de 2007 mostram que 82% dos respondentes entre 15 e 17 anos não frequentavam cursos técnicos por falta de interesse. Relativizar o mito de que só o curso superior oferece boas oportunidades de desenvolvimento pessoal e renda pode ser, inclusive, um mecanismo importante para reduzir o descasamento entre a formação do trabalhador e as funções que desempenha. A segunda mesa redonda do seminário de lançamento da Rede de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho, em outubro de 2012, teve como foco a relação entre as competências cognitivas do trabalhador, a sua inserção no mercado de trabalho e a influência da qualificação sobre os seus rendimentos. Os técnicos de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Aguinaldo Nogueira Maciente e Paulo A. Meyer M. Nascimento, apresentaram uma proposta metodológica que permite detalhar o pool de competências cognitivas da força de trabalho. A proposta metodológica partiu do Código Brasileiro de Ocupações (CBO), que detalha as atividades desempenhadas pelo trabalhador nas suas funções diárias. Os pesquisadores do Ipea fizeram, então, uma correlação dessas atividades com as habilidades cognitivas necessárias para o exercício profissional. Os Estados Unidos possuem um modelo bem desenvolvido desse tipo de correlação que serviu de base para o trabalho. A metodologia utiliza ainda critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para agrupar municípios para, a partir daí, localizar no espaço territorial as competências cognitivas disponíveis. Com isso, é possível mapear a escassez ou abundância de determinadas habilidades na força de trabalho por região ou setor econômico. A proposta agrega também a possibilidade de verificar taxas de rotatividade e salário em determinada ocupações, colhendo, dessa forma, mais subsídios para avaliar a possível escassez ou excesso de oferta de perfis ocupacionais específicos. Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 13 A proposta metodológica está em desenvolvimento e será apresentada de forma mais aprofundada em um texto para discussão do Ipea. O pesquisador do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Eduardo Schneider, apresentou no mesmo seminário a metodologia desenvolvida para identificar pontos específicos de estrangulamento no mercado de trabalho das regiões metropolitanas. O trabalho tem por objetivo apontar áreas do saber nos quais os investimentos em qualificação profissional deveriam se concentrar e serve de apoio ao trabalho das comissões municipais de emprego. O DIEESE utiliza a Pesquisa Mensal de Emprego e Desemprego (PED) realizada em algumas regiões metropolitanas brasileiras. A metodologia está voltada para a análise dos grupos ocupacionais com o maior número de trabalhadores considerados subqualificados por possuírem escolaridade inferior à média dos demais trabalhadores na mesma função. Trata-se de uma adaptação de modelo criado nos Estados Unidos para análise de pessoal sobrequalificado. O estudo abrange as sete regiões metropolitanas brasileiras para as quais a PED é produzida (Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Salvador, Recife e Porto Alegre). 14 A vantagem da análise do DIEESE é que ela permite captar a dinâmica dos processos do mercado de trabalho, num contexto generalizado de aumento da escolaridade do trabalhador brasileiro. A principal conclusão é de que a maior parte dos postos de trabalho gerada nessas regiões não é para profissionais da mais alta qualificação. Outro ponto importante levantado está relacionado à renda do trabalhador. Os melhores ganhos salariais são obtidos por aquelas pessoas que possuem qualificação compatível com a função desempenhada. Significa dizer que o consumo de qualificação sem uma mudança nas funções cotidianas não necessariamente trazem retorno de renda ao trabalhador. Em quase todas as ocupações mapeadas, os sobrequalificados (com escolaridade superior à média daqueles com a mesma função) ganham menos do que as pessoas com qualificação compatível ao posto de trabalho ocupado. O estudo aponta a existência de três eixos de análise da educação profissional: educação, experiência e treinamento. Segundo Schneider, as três dimensões precisam ser levadas em conta quando se pensa no tema da qualificação profissional. Nesse sentido, não é possível aferir a qualidade Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho da força de trabalho dissociada da inserção de cada indivíduo no mercado, visto tratar-se de um conceito relativo. Por isso, o descasamento entre a formação e as atividades desempenhadas acaba gerando distorções no mercado de trabalho prejudiciais ao desenvolvimento do capital humano. Numa análise voltada para o ensino superior, o pesquisador Naércio Menezes Filho, professor da Universidade de São Paulo e do Insper/USP, apresentou resultados de um estudo utilizando dados de ocupação e formação do Censo Demográfico 2010 em comparação com dados do Censo 2000. O objetivo era identificar áreas em que há sinais de escassez de profissionais. A Medicina aparece como a área do conhecimento que mais obteve ganhos salariais, em função do número relativamente baixo de profissionais disponíveis no mercado. Outro ponto observado é de que não houve mudança significativa da distribuição das formações em nível superior numa comparação entre os dois Censos. Significa dizer que as escolhas de carreiras universitárias feitas pelos jovens hoje mudaram muito pouco numa comparação com os vestibulandos de 10 anos atrás. Isso pode indicar uma baixa disponibilidade de informações atualizadas para os jovens do Ensino Médio de maneira geral. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec) dominou os debates. O Diretor de Integração das Redes de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Marcelo Feres, observou que o programa prevê investimentos de R$ 24 bilhões até 2014 para garantir oito milhões de matrículas, sendo 5,6 milhões em cursos de curta duração, e 2,4 milhões de vagas para cursos técnicos. O grande desafio, segundo Feres, é mudar a lógica de planejamento da oferta desse tipo de curso, aproximando-a da demanda real da sociedade. O Ministério da Educação aposta na construção de uma ferramenta dinâmica que permitirá cruzar informações sobre oferta de cursos e demanda por qualificação e formação, por município. Com isso seria possível prever a necessidade de qualificação e formação da mão de obra especializada no território nacional. O chamado “Mapa da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil” passaria, então, a orientar a oferta de cursos por parte da rede federal e das instituições do Sistema S dela participantes. O desafio metodológico de construir tal ferramenta é gigantesco, visto que o esforço de análise conjunta de informações mistura várias fontes de dados, bem como áreas de conhecimento, e agrega ainda uma análise inteligente Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 15 dessa massa de informações para produzir os resultados esperados. A Rede de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho apoiará esse trabalho. Marcelo Feres ressaltou que o modelo adotado pelo Pronatec também facilita o controle dos egressos e acompanhamento da empregabilidade posterior dos alunos. Segundo ele, o alvo maior não é a simples certificação e diplomação das pessoas, mas garantir a inserção desse trabalhador em ocupações compatíveis com a qualificação realizada. Segundo ele, o Brasil está saindo de um modelo de escassez de oportunidades de formação para outro de abundância de oportunidades de escolha. Mas sem articular a oferta de qualificação com uma inserção de qualidade no mercado de trabalho, pode-se gerar na abundância o mesmo resultado dos períodos de escassez anteriores. 16 Luiz Müller, Diretor de Inclusão Produtiva do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ressaltou que a principal dificuldade encontrada para empregar os beneficiários do Brasil Sem Miséria que passaram por cursos do Pronatec é a confusão existente entre escolaridade e qualificação profissional. Segundo ele, em todos os países do mundo existem caminhos para a certificação de habilidades e competências adquiridas pelo trabalhador na prática, sem necessariamente exigir uma escolaridade formal correspondente à média dos profissionais do mesmo nível técnico. O Diretor do MDS lembrou ainda que nos anos de 1980 e 1990 houve a desvalorização de rotas de formação diferentes do Ensino Superior, reduzindo a atratividade de cursos técnicos e profissionalizantes de uma maneira geral. Por isso, o MDS tem feito um trabalho de diálogo permanente com os empregadores dos municípios onde há turmas do Pronatec Brasil Sem Miséria sobre a necessidade de tornar as exigências na hora da contratação mais condizentes com as funções desempenhadas pelo trabalhador no cotidiano. Com isso, o programa vem conseguindo uma empregabilidade média de 50% dos alunos qualificados e reduzido a 20% a perda de vagas ofertadas, média bem superior a registrada nos cursos técnicos e de qualificação em geral. Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 4 Demanda setorial por força de trabalho especializada Existe apagão de mão de obra especializada no Brasil? A pergunta que ocupou grande parte do noticiário sobre o tema da formação de pessoal qualificado a partir de 2008, motivada pelas reclamações da indústria sobre a falta de engenheiros, norteou parte das apresentações da terceira mesa do seminário de lançamento da Rede de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho, em outubro de 2012, no Ipea. Renato Pedrosa e Sérgio Queiroz, da Universidade de Campinas (Unicamp) mostraram os resultados do trabalho intitulado “Oferta e Demanda de Engenheiros e Outros Profissionais para o Setor de Óleo e Gás no Brasil”. Os pesquisadores procuraram identificar a existência ou não de escassez de mão de obra especializada para o setor até 2020. Eles buscaram, ainda, analisar a qualidade dos profissionais formados como uma dimensão fundamental da questão da escassez de mão de obra especializada. O trabalho partiu do levantamento da oferta atual e futura (2020) dos profissionais da Engenharia e da Geologia, áreas essenciais para o setor de petróleo e gás. Os dados foram cruzados com a demanda atual e projetada para os mesmos profissionais. Segundo o estudo, em 2009, o Brasil formou quase 39 mil engenheiros e 449 geólogos. Números satisfatórios para darem conta de um aumento anual estimado de demanda, tomando como base o crescimento registrado entre 2007 e 2008, quando foram gerados 30 mil novos empregos para engenheiros e 549 para geólogos. Os pesquisadores concluíram que, em termos quantitativos, não há sinais de “apagão” de engenheiros, mas podem faltar geólogos. No Brasil a quase totalidade dos cursos de Geologia são ofertados por universidades públicas, fazendo com que seja relativamente fácil para o governo resolver a questão, ampliando a oferta de vagas ou abrindo novos cursos. Numa comparação internacional, observa-se que o número de engenheiros formados no Brasil é aproximadamente 44% menor do que o correspondente para os EUA, mesmo levando em consideração o fato de a população brasileira ser 38% menor que a norte-americana. Foi ressaltado também que, dependendo do desempenho da economia, a demanda de engenheiros crescerá acima da oferta dos formandos da rede pública — de onde saem os alunos com melhor formação. Daí a importância de estimular a qualificação do sistema privado de ensino, responsável por uma parcela cada vez maior Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 17 da formação de pessoal qualificado para as áreas de Ciência e Tecnologia no Brasil. Uma análise da qualidade dos engenheiros formados à luz do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) mostra que cursos com desempenho menor no Exame agregam menos competência cognitiva aos seus alunos do que aqueles com notas mais altas na mesma avaliação. Os concluintes de 60% dos programas de engenharia têm média mais baixa no Exame do que a registrada pela elite de ingressantes nos melhores cursos do país. 18 Segundo Renato Pedrosa, a qualidade do Ensino Superior também está limitada em grande parte pelas competências não adquiridas pelos alunos no Ensino Básico. O pesquisador citou dados do último Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), publicado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, e observou que, entre 2001 e 2011, o Brasil aumentou significativamente o número de pessoas consideradas alfabetos básicos, enquanto os plenos ficaram mais ou menos estacionários. Vale ressaltar que o conceito de alfabetizado não está associado apenas a habilidades linguísticas, mas também matemáticas. Os dados levam à conclusão de que existe um grupo grande de alunos no ensino superior que não podem ser considerados alfabetizados plenos. Tais evidências sugerem a necessidade de avaliar melhor o impacto do alfabetismo, considerado em seu conceito mais amplo, sobre a qualidade da educação como um todo, como questão fundamental para o avanço da qualidade no Ensino Superior. Na avaliação do pesquisador, o Ensino Médio é o ponto de inflexão em termos de qualidade da educação básica. Virgínia Costa Duarte, gerente do Observatório SOFTEX, apresentou o estudo “Recursos Humanos em TI: Recomendações para Políticas Públicas”. O trabalho analisa a questão da escassez sob quatro dimensões, levando em conta a qualidade dos profissionais, a quantidade deles disponível, a atratividade dos empregos ofertados e as diferenças regionais. Do ponto de vista quantitativo, o estudo aponta para a escassez de pessoal de TI a partir de 2020. A pesquisadora explica que o problema no setor é agravado pelo fato da oferta de formação estar muito distribuída no território nacional, enquanto que os serviços estão muito concentrados em alguns municípios, dentro de poucos estados brasileiros. Isso faz com que a escassez seja sentida mais fortemente em alguns lugares, enquanto sobram profissionais em outros. Segundo ela, a precariedade do mercado de trabalho de software e de Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho serviços de TI (informalidade, produtividade baixa e margem líquida muito pequena) torna a mobilidade de profissionais de um local para outro pouco provável. A pesquisadora trouxe, ainda, uma perspectiva diferenciada para a discussão sobre a qualidade do profissional formado. Hoje, a maior parte das empresas nesse setor, segundo o SOFTEX, não está buscando o aluno excelente. Em parte porque não pode pagar o que ele vale, mas também porque desenvolve atividades pouco desafiantes para reterem esse tipo de estudante. O estudo registrou que houve queda do número de concluintes dos cursos profissionalizantes para o setor de TI ao longo da década de 2000, mas esses números começam a se recuperar. Houve ainda um aumento grande dos jovens profissionais com Ensino Superior incompleto, revelando uma prática das empresas de oferecer trabalho para os estudantes de graduação, muitas vezes para preencher funções de nível técnico. A tendência é que a maioria dos postos de trabalho gerados no curto prazo continue sendo para esse perfil de profissional, mas como é mais difícil encontrar pessoas formadas em nível técnico, as empresas contratam alunos de graduação. Nesse aspecto, a formação de tecnólogo acaba sendo atraente para esse segmento e oferece retorno financeiro mais compatível para o aluno do que o bacharelado. Segundo a especialista, o setor de TI preocupa-se mais com proficiência e experiência de trabalho do que com a escolaridade dos profissionais que contrata. Os pesquisadores Sábado Nicolau Girardi (Nescon/UFMG) e Fernanda Gonçalves Rodrigues (PUC–MG) falaram sobre a questão da escassez de pessoal especializado na Saúde. Eles lembraram que nesse segmento existe uma gama grande de formações diferentes com situações completamente diversas no mercado de trabalho. Existe uma escassez com relação aos médicos que tende a se agravar, mas não com relação aos demais profissionais — enfermeiros, nutricionistas, odontológos, psicólogos, entre outros. Os dados apresentados são da Estação de Pesquisa de Sinais do Mercado de Trabalho em Saúde, financiada pelo Ministério da Saúde e pelo CNPq. O objetivo da Estação de Pesquisa é gerar dados que permitam o cruzamento de informações sobre o mercado de trabalho em Saúde produzindo análises para apoiar as políticas públicas no setor. São identificados também desequilíbrios localizados no acesso à saúde, seja em áreas isoladas ou no meio de regiões metropolitanas onde a população tem dificuldade de receber atenção adequada. Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 19 Uma análise focada nas especialidades médicas mostra que há maior falta de determinados perfis de médicos, mais ainda em localidades específicas. O coordenador da Estação de Pesquisa observou que muitas atividades em saúde no Brasil são de exercício exclusivo dos médicos, agravando a escassez. Segundo Girardi, em outros países, o campo de atuação dos enfermeiros com Ensino Superior, por exemplo, é bem mais amplo do que o observado aqui. De acordo com ele, as corporações da área de saúde em geral não admitem a discussão sobre a falta de profissionais, em especial de médicos, por implicar num debate amplo sobre o papel de cada uma das formações no atendimento à população. As informações da Estação de Pesquisa mostram um incremento muito grande do emprego nas áreas de saúde desde 2000. Por isso, a expectativa salarial de um médico formado hoje não pode ser coberta por nenhuma remuneração assalariada. O emprego formal não é o principal rendimento desse profissional, que mantém um emprego assalariado como estratégia para garantir uma aposentadoria mínima. 20 Fernanda Gonçalves vem trabalhando com uma equação demográfica para acompanhar a vida profissional do médico desde sua formação e sua trajetória no mercado de trabalho. A pesquisadora também vem estudando a questão dos médicos migrantes que atuam no Brasil, apesar de muitas vezes não terem conseguido validar o diploma adquirido em outros países. O quadro de escassez em algumas regiões, entretanto, acaba viabilizando a atuação desses profissionais nessas condições. Um dos focos de preocupação é tentar prever quantos médicos de cada especialidade o Brasil precisará formar nos próximos anos, levando em consideração também a distribuição geográfica desses profissionais. A grande dificuldade é a falta de um parâmetro internacional por especialidade médica que possa ser usado como base para a projeção, indicando quantos ginecologistas, pediatras, cardiologistas etc. são necessários para atender adequadamente um número fixo de habitantes. A coordenadora da mesa e diretora da Diset–Ipea, Fernanda de Negri, observou com relação às Engenharias que, não importa qual o critério usado, o Brasil precisa formar mais engenheiros para que tenhamos um número de profissionais desse tipo mais compatível com a média internacional. Ela também chamou a atenção para a importância da Rede de Pesquisa desenvolver metodologias para captar nas projeções eventuais mudanças estruturais na economia, antecipando pressões futuras por formações específicas. Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho Hoje, a falta de pressão salarial em muitas ocupações mostrada pelas pesquisas causa preocupação, pois pode indicar que o mercado de trabalho não está disposto a pagar mais pelo profissional de qualidade. Entender melhor o que está por trás dessa situação também é um problema de pesquisa relevante para a Rede. O que se percebe, segundo a diretora do Ipea, é que houve um período de degradação do mercado de trabalho pela falta de crescimento econômico e a recuperação da década de 2000 provocou a sensação de escassez, pela mudança no mercado. Os participantes do debate enfatizaram a importância do Brasil adotar uma política de importação de recursos humanos qualificados como via importante de aprendizado tecnológico. Outro caminho apontado para resolver a eventual escassez de pessoal é uma mudança no modelo de negócios das empresas que promova a qualidade e o aumento da produtividade. 21 Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 5 Indicadores de Inovação, Competitividade e Produtividade do Trabalho O desafio de construir bons indicadores capazes de captar de forma eficiente o impacto das políticas públicas sobre a evolução da estrutura produtiva foi o foco da última mesa do seminário de lançamento da Rede de Pesquisa: Formação e Mercado de Trabalho, no Ipea, em outubro de 2012. Eduardo Viotti, consultor independente, apresentou o resultado de trabalho realizado para o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), no qual propõe um indicador de meta-síntese da inovação no Brasil. O pesquisador observou que na atualidade existe certa “fixação” das políticas públicas brasileiras e de outros países de apostarem em números de investimento em pesquisa e desenvolvimento como melhor indicador de inovação. Uma das razões para isso é o fato de se tratar de um dado consolidado com mais de 50 anos de existência, dando confiabilidade às informações. 22 Segundo Viotti, entretanto, esse indicador está calcado num modelo linear enraizado na cabeça dos formuladores de política que acreditam que do investimento em pesquisa e desenvolvimento resultam, necessariamente, inovações. A história do desenvolvimento industrial mostra que muitas tecnologias foram e continuam sendo introduzidas de forma independente da pesquisa científica no processo produtivo. No caso brasileiro, Viotti ressaltou que o modelo de desenvolvimento tecnológico é fundamentalmente dado por transferência tecnológica e pelo aperfeiçoamento de processos criados em outros países. O trabalho realizado para o CGEE e apresentado no seminário analisou o esforço da União Europeia para construir um novo indicador mais diretamente relacionado com a inovação na empresa para orientar junto com informações sobre o investimento em pesquisa e desenvolvimento, as políticas de inovação do bloco. O objetivo é em um único dado captar a dinâmica tecnológica, medindo a participação de empresas inovadoras e de rápido crescimento na economia. Esse grupo de empresas foi escolhido por ser de base tecnológica e estar associado a empreendimentos de spin off de universidades e centros de pesquisa. Para Viotti, tal indicador seria replicável Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho no Brasil usando as bases de dados do IBGE sobre empresas inovadoras, notadamente a PINTEC. Em seguida, Mário Salerno e Guilherme Amaral, do Observatório de Inovação e Competitividade da Universidade de São Paulo (OIC/USP), apresentaram o projeto tocado em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) para estabelecer um novo indicador internacional de competitividade mais adequado ao perfil de países heterogêneos como o Brasil. O trabalho iniciou com uma análise crítica dos indicadores existentes do Fórum Econômico Mundial e do IMD. O principal problema apontado é o fato de estarem baseados em pesquisas de opinião realizadas com empresários e, portanto, terem cunho subjetivo e qualitativo, além de serem susceptíveis às condições conjunturais apresentando grande alternância entre a posição dos países no ranking de um ano ao outro. A grande qualidade dos métodos existentes é permitirem a elaboração de um ranking comparativo entre países, baseado em indicador de fácil entendimento. A estratégia do projeto desenvolvido pela ABDI e o OIC/USP é produzir, a partir de dados oficiais, não apenas um indicador sintético, mas um conjunto de indicadores que possibilite as comparações entre países. O trabalho se desenvolve no âmbito da Federação Global dos Conselhos de Competitividade, do qual o Brasil é membro-fundador. Ao final, será produzida uma matriz de indicadores, no lugar de um ranking como é feito hoje pelo Fórum Econômico Mundial e o IMD. Mesmo que o ranking seja mais forte para atrair a atenção do público em geral, a matriz pode contribuir muito mais para o monitoramento e avaliação de políticas públicas, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Mariano Macedo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), abordou o tema da produtividade do trabalho. Usando como base estudos do Ipea de 2012, o palestrante mostrou que na década de 2000 a produtividade do trabalho no Brasil caiu ou apresentou aumentos muito pouco expressivos para os 48 setores econômicos monitorados pelo Sistema de Contas Nacionais. Os avanços observados aconteceram muito mais em termos físicos do que em valor agregado da produção. Segundo Macedo, a maior parte do crescimento econômico brasileiro na década passada (75%) deveu-se ao aumento de pessoal ocupado e só 25% a ganhos de produtividade. Trata-se de uma dinâmica inversa a registrada no período de 1940–2000, quando a produtividade respondeu por 56% do crescimento econômico brasileiro. Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 23 Macedo propôs a utilização de novos recortes analíticos para estudar a produtividade, usando a mesma base de dados para olhar diferentes segmentos das cadeias, buscando revelar possíveis gargalos de formação e qualificação do trabalhador. Na sua avaliação, a Rede de Pesquisa poderia estabelecer mecanismos de coordenação entre iniciativas de instituições diferentes com vistas a avanços e consensos básicos na análise e definição de indicadores de referência para avaliação de políticas públicas com impacto sobre a produtividade. O pesquisador do IBGE, Cristiano Santos, participou como debatedor e apresentou trabalho conjunto com o Instituto Endeavor Brasil. Eles vêm participando das discussões sobre o novo indicador de inovação da União Europeia analisado pelo consultor Eduardo Viotti e mostrado na mesma mesa do seminário. Brasil, Nova Zelândia, Dinamarca, Itália e Espanha testaram a viabilidade do indicador de inovação baseado em empresas de rápido crescimento proposto pela Comissão Europeia. Santos observou que a dúvida era avaliar até que ponto um indicador baseado apenas em um grupo de empresas de características tão particulares seria robusto o suficiente para medir a inovação como um todo. 24 A aproximação entre o IBGE e a União Europeia nesse tema começou pelo esforço da OCDE para estabelecer um arcabouço de indicadores para medir o empreendedorismo nos países. O grupo de Santos participa dessa discussão na OCDE representando o Brasil. A pergunta que se buscava responder com os testes era a seguinte: será que empresas de alto crescimento em setores inovadores da economia refletem a inovação na economia como um todo? O resultado infelizmente foi negativo para todos os países participantes dos testes. Os especialistas agora estão trabalhando com uma segunda opção para o indicador de inovação. No lugar de selecionar empresas de rápido crescimento em setores de alta intensidade tecnológica somente, eles irão ponderar o indicador de acordo com a intensidade de cada setor, pegando empreendimentos com as mesmas características de todas as cadeias produtivas. O técnico do IBGE informou que o Brasil está trabalhando para acrescentar à próxima rodada da PINTEC perguntas que permitam identificar empresas de alto crescimento, de acordo com a definição da União Europeia. O objetivo é trabalhar para termos um indicador comparável ao que está sendo pensado para a Europa, mas também desenvolver outros mais voltados para as preocupações específicas do país em termos de monitoramento e Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho avaliação de políticas de inovação e de empreendedorismo. No entanto, já para a pesquisa que está em campo neste momento e que será divulgada em 2013, há previsão de recortes na base da PINTEC para delimitar a abrangência da inovação nas empresas de alto crescimento (P&D, patentes, esforço em inovar etc.). Tais resultados serão apresentados em novembro de 2013 na publicação Estatísticas de Empreendedorismo 2011. O técnico do Ipea e diretor adjunto da DISET, Luiz Ricardo Cavalcante, reforçou as observações feitas pelo pesquisador Eduardo Viotti de que as informações sobre investimento em pesquisa e desenvolvimento são insuficientes para medirem a inovação. Segundo ele, o dado de investimento em P & D dá muito mais a medida do esforço de um país para promover a inovação do que propriamente dos resultados alcançados. Ele citou a Sondagem de Inovação da ABDI, observando que a pesquisa veio suprir a lacuna da PINTEC que só acontece a cada três anos. Os resultados da Sondagem, que já completou três anos de existência, estão sendo analisados em profundidade como ferramenta para elaboração de políticas públicas na área. Cavalcante enfatizou que a sustentabilidade de qualquer ciclo de crescimento está ligada ao aumento da produtividade do trabalho e do trabalhador e que o Brasil, em particular, precisa atacar essa questão. Ao falar da agenda de pesquisa da Diset, ele observou que questões de produção e de microeconomia, foco do trabalho da diretoria, têm convergido inevitavelmente para a discussão sobre produtividade. Um dos desafios de se desenvolver um indicador de produtividade é o fato de tratar-se de um fenômeno determinado por uma série de variáveis que interagem o tempo inteiro no mundo real. Um problema de pesquisa complexo e que exige um olhar multifacetado para produzir soluções adequadas. Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho 25 27 Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho Inovar para competir. Competir para crescer. 28 Boletim Eletrônico: Formação e Mercado de Trabalho