3 A IMPORTÂNCIA DO ORFANATO JESUS MARIA JOSE NA VIDA DAS CRIANÇAS INTERNAS Maria das Dorês de Souza Gonçalves1 Aluna do Curso de Pedagogia da URCA Amanda Kelly Gouveia Romualdo2 Aluna do Curso de Pedagogia da URCA RESUMO O estudo apresentado buscou reconstituir a história de uma instituição educacional de grande importância para a região do Cariri cearense, em especial para a cidade de Juazeiro do Norte. O interesse pelo tema abordado nasceu pelo fato que a pesquisadora foi da instituição no período que funcionava como externato, no ano de 1998, para receber reforço escolar, onde participou’ de outras atividades oferecidas, como teatro, aula de música, e pintura. Permaneceu na instituição até ano de 2000. Durante sua vida educacional na instituição passou a ter uma admiração pelo trabalho lá realizado, pois com todas as dificuldades encontradas. A pesquisa de base qualitativa baseia – se no referencial teórico – metodológico das pesquisas acerca das instituições educacionais. Foi possível concluir que relatar a história e a importância do Orfanato, na perspectiva de uma educação institucional para reconstituir a história de um lugar é de suma importância para conhecer a história da educação. Um estudo desta natureza permitiu: investigar a história de criação de uma instituição de educação infantil, bem como, analisar a prática pedagógica do orfanato. Palavras – Chave: Educação – História da Educação – Instituições Educacionais INTRODUÇÃO O estudo apresentado buscou reconstituir a história de uma instituição educacional de grande importância para a região do Cariri cearense, em especial para a cidade de Juazeiro do Norte. O mesmo está sendo elaborado durante a realização do Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri – URCA. A ideia deveu – se ao 1 2 Aluna do Curso de Pedagogia da URCA. Aluna do Curso de Pedagogia da URCA 4 fato de termos sido aluna, no caso, Maria das Dôres, da instituição, bem como morarmos nas proximidades da instituição que funciona ainda hoje. O Orfanato se localizava em uma casa doada por um político da época, e os recursos que recebidos, desde a sua criação, eram oriundos de doações da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte – CE, e de outras instituições. Em seu início, a educação era ofertada pelas beatas do Padre Cícero3 e alguns professores disponibilizados pela prefeitura. No seu início, as referidas mulheres, na instituição faziam um trabalho de repassar as matérias escolares. O Orfanato, também, introduzia na vida dessas crianças valores éticos e morais, para que assim pudessem ingressar no meio social. O público alvo era crianças órfãs como também aquelas que os pais não tinham condições financeiras de sustenta - las, passando assim essa responsabilidade para o orfanato. O interesse pelo tema abordado nasceu pelo fato que a pesquisadora foi da instituição no período que funcionava como externato, no ano de 1998, para receber reforço escolar, onde participou’ de outras atividades oferecidas, como teatro, aula de música, e pintura. Permaneceu na instituição até ano de 2000. Durante sua vida educacional na instituição passou a ter uma admiração pelo trabalho lá realizado, pois com todas as dificuldades encontradas. A pesquisa de base qualitativa baseia – se no referencial teórico – metodológico das pesquisas acerca das instituições educacionais. Neste sentido buscou referenciar – se nos estudos de Magalhaes, que afirma que a educação envolve todos os meios de ensinar e aprender, é um fato observado em todas as instituições educacionais: 3 As Beatas são mulheres que seguem inicialmente Padre Ibiapina e tempos depois reaparecem como seguidoras das ações do Padre Cícero, conforme pesquisou Zuleide Fernandes de Queiroz (2014), em artigo publicado no Congresso de História da Educação do Ceará, em 2014. “A pesquisa, iniciada em 2013, teve por objetivo registrar a história de vida das beatas – professoras em tempos do Padre Cícero. Tomando como base o estudo de Nobre (2011, p. 08), o tempo e espaço aqui refletido tem início, ainda no período de Ibiapina, mais precisamente em 1866, quando encontramos o registro de uma beata – professora, chamada Josefa Santana. Este artigo se insere no tempo do Império, mais precisamente em 1872, quando Padre Ibiapina, de acordo com Paz (1998) “chegou a fundar vinte e duas Casas de caridade entre 1862 a 1883 (ano de sua morte), sendo quatro casas apenas no Vale do Cariri. Ainda visto com reservas pelas autoridades eclesiásticas, devido a seu trabalho pouco ortodoxo, pela sua autonomia frente a Igreja (...)”. (PAZ, 1998, pp. 42 – 440)”. 5 A educação como processo multivetorial e continuado de (in)formação e de desenvolvimento da pessoa realiza-se por uma interação “consciente” das questões humanas e sociais, num permanente equilíbrio ambiental. (MAGALHÃES 2004, p.15). A noção de instituição corresponde a uma memória, um processo histórico, uma tradição em permanente atualização. A pedagogia institucional busca melhorar o encontro pedagógico em várias dimensões, como lugar, tempo, o espaço. A pedagogia institucional não consiste apenas à instituição em enquanto espaço físico, mas também as relações dos sujeitos com a instituição, seus projetos de vida, sua identidade, memórias, destinos e projetos. As instituições educativas vêm com uma identidade que não diferencia, significativamente, com as circunstâncias geográficas e históricas, mas é na relação que estabelece com o público, com a realidade que está inserida, na forma como a cultura interpreta e relaciona-se como contexto na sua multidimensionalidade que cada uma desenvolve a sua própria identidade. Desta forma ainda que articuladas ou não de forma sistêmica, as mesmas mostram uma conformidade com base na junção com o contexto. Na sua ação concreta e do quotidiano, como na dimensão temporal, as instituições educativas, sendo instâncias complexas e multifacetadas, engendram e desenvolvem culturas, representações, formas de organização, relacionamento e ação que se constituem em fatores de diferenciação e de identidade. Inseridas em contextos geográficos e em tempos históricos marcados por fatores de natureza sociocultural, conjunturas e circunstâncias históricas específicas, estas instituições, se bem que estruturadas por uma matriz de base e perseguindo objetivos comuns, existencial de forma própria e este quadro existencial fomenta representações e apropriações, elas mesmas diferenciadas (MAGALHÃES 2004, p. 69). Nosella e Buffa (2009) justificam a importância de estudar história de instituições. Os autores nos instigam ao indagar sobre o porque do estudo da história das instituições educacionais, falam do significado e convidam pesquisadores e futuros pesquisadores ao estudo da temática. Afirmam que: 6 (...) não se trata apenas de desenterrar histórias e, vultos significativos do passado da instituição escolar estudada. Ainda que a busca do passado apresente sempre um sutil e instigante fascínio, tal motivação não é suficiente para justificar tanto trabalho de pesquisa e tanto emprego de energias; quando muito, pode alimentar, nos educadores, saudade de um passado que, frequentemente, parece ter sido mais glorioso. Do outro lado, essas pesquisas – como, aliás, qualquer outra – por si só, não formam educadores comprometidos com as transformações sociais desejadas, simplesmente porque não determinam o livre – arbítrio dos homens. Entretanto, um instrumento para uma nova compreensão da história, da escola, eleva o conhecimento de seus profissionais; portanto, aumenta a responsabilidade de suas ações. (NOSELLA e BUFFA, 2009, p. 13). Foi neste encontro e descobrindo o significado que buscamos reconstituir a história do Orfanato Jesus Maria José. A HISTÓRIA DO ORFANATO JESUS MARIA E JOSÉ A instituição em questão é o Orfanato Jesus Maria José, fundado pelo Padre Cícero Romão Batista na cidade de Juazeiro do Norte - Ceará, com a intenção de abrigar as várias crianças que chegavam a sua casa, algumas órfãs e outras trazidas pelos pais que não tinham condições de criá-las. O Padre viu a necessidade de criar uma instituição que abrigasse essas crianças. Na ocasião contou com a ajuda da beata Mocinha e a beata Maria de Jesus, que passaram a ensinar para as crianças que faziam parte da instituição práticas educativas e religiosas. 7 FONTE: Arquivo do Orfanato Jesus Maria José (s/d) Sentido a necessidade de uma ampliação por conta das várias crianças e adolescentes que chegavam Pe. Cícero transferiu o Orfanato para um prédio que lhe foi doado, que funcionava como casa de campo do Dr. Floro Bartolomeu da Costa. Neste novo espaço passou a abrigar somente as crianças do sexo feminino. As beatas tinham como responsabilidade prover regras para um bom convívio no ambiente interno, introduzindo costumes, crenças, valores éticos e morais para que assim as mesmas pudessem ter um bom convívio social. As beatas não mais tendo condições de dar continuidade ao trabalho, Padre Cícero entra com um pedido às freiras franciscanas para darem continuidade à obra. Porém, estas não aceitaram o convite por questões superiores. Com isso o mesmo faz outro pedido, agora ao Bispo Dom Francisco de Assis Pires, para que as Filhas de Santa Tereza de Jesus assumissem a obra, tendo as mesmas assumido o Orfanato no ano de 1935, dando continuidade ao trabalho depois da morte de seu fundador, e seguindo até os dias de hoje. FONTE: Orfanato Jesus Maria José (s/d) 8 Na gestão das Filhas de santa Teresa o Orfanato passou a realizar um trabalho pedagógico, não tendo somente o papel de educar, mas também a missão de criar as crianças que lá chegavam. Na época de sua fundação em 1916, não tendo o número de escolas necessárias para abrigar a demanda do ensino na cidade, Padre Cícero Romão Batista que atuava como prefeito da cidade, viu a necessidade de instalar uma escola, no qual foi disponibilizado pela prefeitura professores para dar - lhes a assistência necessária na educação, surgindo assim uma das primeiras escolas de Juazeiro do Norte. Os conteúdos transmitidos na sala de aula (português, matemática, ciências e estudos sociais), tinham como finalidade despertar o interesse das crianças para outros meios, tanto para sua vida pessoal e social, para que assim tivessem também uma perspectiva de um ensino superior, como fala a ex - interna Cícera (2014). FONTE: Orfanato Jesus Maria José (s/d) Com o tempo devido às dificuldades que foram surgindo, O orfanato deixou de receber as crianças em tempo integral e passou assim a atuar auxiliando no desenvolvimento infanto-juvenil da sua comunidade a luz dos referenciais do novo modo de atuar com as crianças a partir do Estatuto da criança e do adolescente. De acordo com o Estatuto da Criança e dos Adolescentes (1990) como apresentado no 3° artigo do mesmo: A criança e adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, sem prejuízo da 9 proteção integral de que trata essa lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, afim de lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condição de liberdade e dignidade (ECA, 1990, p. 5) Em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescentes o Orfanato nos dias de hoje se propõe a realizar atividades educacionais e artísticas no contra turno escolar, assim dado continuidade a educação, a fim de atender e garantir os direitos destas crianças e adolescentes. CONCLUSÕES É importante lembrar que desde o início do trabalho e depois com a morte de seu fundador Pe. Cícero Romão Batista, as Irmãs4 deram continuidade ao trabalho, vivendo apenas das doações que recebiam, e mesmo quando não puderam mais continuar com o internato, passaram a receber as crianças da comunidade, dando-lhes a oportunidade de ter um contato com a arte, oferecendo oficinas de pintura, aulas de danças, música, e não esquecendo da educação, concediam reforço escolar, encontrando assim outro meio de dar continuidade ao trabalho. Atualmente a instituição conta com a parceria da Secretaria do Município de Juazeiro do Norte, oferece educação regular para as crianças da comunidade e realiza atividades voltadas a formação geral das crianças. O estudo tem possibilitado relatar a história e a importância do Orfanato, na perspectiva de uma educação institucional para crianças pobres de Juazeiro do Norte, bem como acompanhar o cotidiano escolar da instituição na sua relação com a identidade e cultura local. Referências 4 Designação comum atribuída entre si pelos religiosos ou maçons. 10 CAVALCANTE, Maria Juraci Maia; QUEIROZ, Zuleide Fernandes; ARAUJO, Edvar Costa de; HORLANDO, Patrícia Helena Carvalho. História da educação comparada Discursos, ritos e símbolos da educação popular, cívica e religiosa. Fortaleza Ceará: Edições UFC,2011. MAGALHÃES, Justino Pereira. Tecendo Nexos- História das Instituições Educativas. Editora universitária São Francisco, 2004. NOSELLA, Paolo e BUFFA, Ester. Instituições escolares: por que e como pesquisar. Campinas, SP: Editora Alínea, 2009. OLIVEIRA, Amália Xavier. O Padre Cícero que eu conheci - Verdadeira história de Juazeiro. In: Memória do Orfanato Jesus Maria José. Juazeiro do Norte: 1916-1996. QUEIROZ, Zuleide Fernandes de. Em cada sala um altar, em cada quintal uma oficina- o tradicional e o novo na história da educação tecnológica no cariri cearense. Fortaleza, Ceará: Edições UFC,2008. VALE, Tereza. Memória do orfanato Jesus Maria e José. Juazeiro do norte. 27de junho de 2014. Site: QUEIROZ, Zuleide Fernandes de. Ensinando história da educaçãodocearáedocariricearense:pesquisaeensinonagraduação.Juazeiro do norte,20 mai.2008.Disponível em: www2.saced.ufu.br/clubhe06/anais/arquivos/95ZuluideFernandesQuiroz.pdf.acesso em 04 jul.2014.