Maria José de Sena, Reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Profa. Juliene Barros No filme O Rei Leão, Mufasa, ensinando a Simba sobre o ciclo da vida, diz que o tempo entre um reinado e outro se põe e se levanta como o sol. O sol desta tarde de segundafeira, 14/05/2012, se porá junto com o reitorado do ilustríssimo Prof. Valmar Correia de Andrade, para abrir a aurora de um novo tempo em que celebramos ares culturais de mudança, pois uma grande mulher, nascida no Engenho Cajabuçu, no Cabo de Santo Agostinho, assume a cadeira principal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, depois de cem anos. A mim coube a missão honrosa e difícil de apresentá-la! O verbo apresentar, segundo o acervo vocabular da língua portuguesa, apresenta pelo menos 19 significados diferentes, dentre os quais se incluem mostrar, fazer conhecido, trazer a público e tantos outros. Quando, porém, confronto este verbo, mesmo em sua plenitude, com a profissional a ser apresentada hoje, vejo como todos os seus significados são ainda precários e incipientes diante dela. Talvez isso se dê porque o currículo da professora Maria José de Sena é conhecido por esta comunidade acadêmica e para muito além dela, já que todas as atividades de sua carreira têm uma contrapartida prática, que, de forma ou de outra, interferiu na vida desta instituição e da sociedade pernambucana ao longo de seus 19 anos dedicados a UFRPE, tornando-a, portanto, acima de qualquer apresentação formal. Uma outra razão porque atestamos o acanhamento dos significados do verbo apresentar diante da Profa. Maria José de Sena é porque ela é impronunciável em palavras. Maria é sinônimo de vida... vivida, sentida, sofrida, sorrida, corrida. Maria é sinônimo de vida. E não de palavras. Se expuséssemos um vídeo com flashes de um dia de trabalho dela aqui na UFRPE, a veríamos por inteiro. Ao longo das 15 ou 18 horas diárias que tem dedicado a esta Casa, atendendo a alunos, professores, técnicos, a demandas externas diversas, e tantos outros compromissos acadêmicos como, ministrar aulas na graduação e na pós-graduação, ministrar palestras, participar de eventos, poderíamos visualizar de forma mais aproximada sua capacidade incomum de trabalho e de se metamorfosear em muitas funções ao longo do dia. Ela é, como bem dissera Adélia Prado, desdobrável. Como, porém, a vida não prescinde das palavras, por mais imperfeitas que sejam, lançaremos mão delas para apresentar Maria neste ritual solene e histórico, tomando o verbo apraesentare em sentidos que nos sopra o antigo Latim, como Significar, Figurar na imaginação dos presentes, Recomendar à consideração e estima. É o que as acanhadas palavras que aqui pronuncio têm por objetivo. Fazer Maria significar aos olhos do público; recomendá-la à consideração e à estima de todos os presentes; figurá-la na imaginação de todos nós. E tal não será possível sem entendermos de partida que este ritual consolida a inscrição de nossa Reitora empossada como Representante Primeira desta Casa, pelos próximos quatro anos, este ritual consolida sua primeiridade em relação a todos nós que fazemos a UFRPE. Estamos aqui para reconhecer neste gesto concreto, porém de grande simbolismo, que a Professora Maria cuidará de nosso fazer diário como líder maior, tarefa para a qual sua história mostra que ela está pronta. Seu currículo evidencia uma profícua trajetória acadêmica. Cursou três graduações, Licenciatura em Ciências Biológicas, pela UNICAP, Licenciatura em Ciências Agrícolas, pela UFRPE, e Medicina Veterinária, também pela UFRPE. Após isso, buscou especialização e aperfeiçoamento em áreas diferentes. Natural foi que o conhecimento construído nesta vasta formação de base dispensasse o mestrado, fazendo-a ingressar diretamente no doutorado, na área de Medicina Veterinária preventiva e epidemiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Isso tudo já prenunciava a capacidade de múltiplos olhares tão necessária à rapidez e à pluralidade do conhecimento no mundo contemporâneo. Deu início a sua trajetória acadêmica em 1991, como professora colaboradora do Departamento de Medicina Veterinária, ingressando como professora efetiva em março de 1993. E aí teve uma atuação marcante. Foi supervisora da Área de Medicina Veterinária Preventiva/DMV, Presidente da Comissão de Ensino/DMV, Presidente da Comissão Permanente de Pessoal Docente, Membro da Comissão de Implantação do programa de Atividades Docentes, Coordenadora de Estágios da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, e Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária. Neste último cargo pode ser lembrado um jeito de trabalho que faz de Maria Maria. Reunião de pais e mestres, dinâmicas de grupo para motivar alunos, chamada com diário de classe no bar da curva para trazer os alunos de volta às salas de aula. Tanto zelo, tanto cuidado mudou visivelmente a imagem e os resultados do curso de Medicina Veterinária naquele momento e evidenciou sua capacidade para compromissos maiores. Como assumir, em 2004, a Pró-reitoria de Ensino de Graduação, permanecendo nas duas gestões do Professor Valmar Correa de Andrade. Sem medo de vestir a camisa, como se diz popularmente, ela devolveu à Pro-reitoria de ensino de graduação o simbolismo de alma de uma instituição de ensino superior, como deve ser. Durante este período, foi Coordenadora dos concursos públicos de provas e títulos para docentes do ensino superior da UFRPE, Presidente da Câmara de Ensino, Conselheira da Câmara de Política, Conselheira do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão - CEPE, conselheira do Conselho Universitário/CONSU. E sua atuação não se restringiu à UFRPE. Em nível nacional, foi membro da Comissão de Acompanhamento do Sistema de Seleção Unificada - SISU/MEC, Coordenadora do Fórum Regional de Pró-Reitores de Graduação, Presidente do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Graduação - FORGRAD, no período 2009-2010, período em que encaminhou discussões junto ao MEC que culminaram com ganhos para as IFES como a expansão do Programa de Educação Tutorial-PET, para as Unidades de Ensino resultante do Programa de Expansão do Ensino Superior. Como membro do FORGRAD, iniciou em 2004 a discussão sobre a criação de um programa nos moldes do PIBIC direcionado aos estudantes dos Cursos de Licenciatura, o que resultou na criação do Programa Institucional de iniciação a Docência PIBID, dentre outras conquistas. A projeção dada à Pro-Reitoria de Ensino de Graduação levou Maria a ser cotada mais de uma vez para assumir cargos importantes no Ministério da Educação, o que ela não aceitou, por seu compromisso com os trabalhos aqui iniciados. E sobre esses compromissos deve ser destacado seu empenho com as Unidades Acadêmicas fora da sede. As homenagens recorrentes como paraninfa, patronesse, nome da turma, professora homenageada de praticamente todas as turmas de concluintes até o momento mostram o quanto ela tem sido presente na vida dos alunos e professores e das Unidades de Garanhuns e de Serra Talhada. O apoio unânime da Classe de Técnicos em Educação da Unidade Acadêmica de Garanhuns, na última eleição, é uma prova inequívoca de reconhecimento a uma atuação que sempre esteve além da pasta que pela qual ela respondia. Encarnação moderna de Athena, deusa do trabalho na mitologia grega, Maria sempre enfrentou jornadas que seriam esgotantes para qualquer outro mortal. Reuniões diversas, atendimento coletivo e particular às diferentes classes, verdadeiras reuniões em trânsito, telefonemas de trabalho o tempo inteiro ao longo das viagens faz com que a reverenciemos, pois sua trajetória de trabalho é orgulho para a classe docente; sua versatilidade intelectual é inspiração para a classe discente; seu zelo pelo bom andamento desta Casa é modelo para sua tão amada classe de técnicos em educação. Resta dizer ainda do respeito e do carinho que tem por ela o grande número de colaboradores dos serviços terceirizados, aqueles a quem ela sempre tratou com o mesmo zelo que os demais membros da comunidade acadêmica. Talvez isso não caiba nos meios de catalogação oficiais como currículos oficiais ou biografia acadêmica, mas um dos maiores feitos profissionais de Maria foi a lição de maturidade, de respeito pelo nome e pela imagem da UFRPE, de amor verdadeiro por esta Instituição que ela deu a todos nós durante a candidatura a Reitoria. Quando o “vale tudo” começou a embalar a disputa e expor publicamente nossa dignidade de Universidade que trabalha muito, mas que mesmo assim tem problemas, Maria deu uma lição de compromisso com o nome desta Casa. Acuidade intelectual, capacidade gestora, compromisso profissional, perfil gerencial, visão empreendedora e sensibilidade humana são, portanto, os constituintes básicos de sua identidade profissional. Imagino a alegria de seus professores do Colégio Estadual do Moreno e do Colégio Dom Jaime Câmara, onde ela começou seus estudos. É de lá que devem vir o amor, o respeito, e a dedicação pela escola pública, que ela tem demonstrado tão vivamente. Nada disso, porém, deve parecer surpresa para sua mãe e seus irmãos que aqui se fazem presentes. Pois eles devem ter sido testemunhas de quando ainda muito jovem, Maria saia, madrugada, para acompanhar seu pai, o saudoso José Martins de Sena, nos trabalhos do campo. Chegar 5 horas da manhã de domingo e feriado para trabalhar na UFRPE apenas reafirma Maria para ela mesma. É Maria desdobrada em Maria. Portanto, estar na Reitoria hoje parece um caminho natural, quer dizer, natural para quem tem a força de trabalho que ela tem, e o dom para liderar que ela demonstra. Milton Nascimento, aliás, já profetizara que ser Maria é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta... Mesmo quando mistura a dor e a alegria, possui ainda a estranha mania de ter fé na vida. Ao vê-la ao lado de seu companheiro de vida Antão Marcelo, Milton Nascimento mais uma vez diria que Maria, a super-profissional aqui apresentada, é uma mulher que merece viver e amar, como outra qualquer do planeta. Assim, numa evocação à primeiridade de uma outra Maria, aquela que foi a primeira aos olhos de Deus entre todas as mulheres, a nossa Maria também passa a compor a partir de agora uma galeria mais que ilustre. Está ao lado de Raquel de Queirós, primeira mulher a tomar assento na Academia Brasileira de Letras; Benedita da Silva, primeira mulher negra a assumir uma cadeira no Senado Federal; Dilma Rousseff, primeira mulher a assumir a presidência da república no Brasil, para nada dizer das outras que fincaram bandeiras em muitos espaços de poder aqui e em outros países. Seu nome já está entre as grandes. Mas isso é só o começo. Maria sabe que não deve se conformar ao papel de moldura nas paredes da história, pois sua missão é colaborar para incluir na galeria da cidadania e da dignidade social homens e mulheres pernambucanos, adultos, crianças e jovens que ainda aguardam a eficiência redentora da educação em suas vidas. No caso específico das mulheres, tenho certeza que em sua gestão não passarão desapercebidas as estatísticas referentes ao grande número de mulheres assassinadas por ano em Pernambuco, na maioria dos casos por ex-companheiros, ou aquelas ainda em fase infanto- juvenil que estão morrendo socialmente pelo estigma da prostituição que se instalou nos arredores do Porto de Suape. E ela poderá incentivar ações nesta direção, e em relação a tantos outros desafios e metas que surgirão, porque seu currículo não se encontra nas bibliotecas, não se fez em laboratórios simplesmente, está na vida prática desta Universidade e deste Estado. Seu suor, sua energia, sua alegria e mesmo suas lágrimas, de emoção e às vezes de desapontamento, constituem hoje nossa Universidade com a mesma força que as paredes de concreto que elevam nossos edifícios. Assim, com a certeza de que esta apresentação não se conclui aqui, termino com uma retomada do começo, do princípio, das raízes matriciais que, juntamente com os contornos sociais vividos, moldaram a profissional aqui apresentada e a inserem no ciclo da vida aludido no primeiro parágrafo. E neste começo, ainda com a emoção do dia das mães celebrado ontem, encontro uma outra mulher digna de reverência, Dona Brazilina Maria da Conceição Sena, Mãe da grande Professora Maria José de Sena. Reverências a ambas em nome de todas as mulheres e de todos os homens aqui presentes! Seja bem vinda, Profa. Maria! Receba a energia materializada no aplauso de todos os que te respeitam, de todos os que te admiram, de todos os que, como eu, têm a honra de te conhecer de perto! Obrigada!