METEORITOS Introdução à meteorítica e uma visão geral dos meteoritos brasileiros Higor Martinez Oliveira 2 PREFÁCIO Este livro foi escrito com o intuito principal de contribuir para a divulgação da meteorítica no Brasil, um assunto ainda muito desconhecido e pouco compreendido por grande parte das pessoas, apesar do crescente esforço em divulgar esta ciência, seja por meio de projetos, campanhas, eventos, e até mesmo na internet; bem como fornecer dados e informações sobre os meteoritos encontrados e catalogados no Brasil. Meteoritos são fragmentos de diversos corpos sólidos do Sistema Solar, que vagaram por milhões / bilhões de anos pelo espaço sideral até chegarem na superfície da Terra. O estudo dos meteoritos é uma importante fonte para se obter informações sobre a origem e evolução de todo o nosso Sistema. Para se ter uma ideia, alguns meteoritos são tão antigos quanto o Sistema Solar. Apesar de sua vasta área territorial, o Brasil possui poucos exemplares encontrados e catalogados. Até o fechamento deste livro (17/08/2015), o Brasil contava com apenas 69 meteoritos catalogados, um número extremamente pequeno, principalmente se compararmos com países de área territorial semelhante e que já catalogaram até 25 vezes mais meteoritos. Isso se deve à diversos fatores, até mesmo climáticos, mas também pela carência de informação sobre os meteoritos no país. Porém, vale destacar que o Brasil, apesar de sua pequena coleção de meteoritos, possui exemplares que figuram entre os mais raros e importantes do mundo. Entre os destaques da coleção nacional, podemos citar: Angra dos Reis, que deu origem à classe dos meteoritos angritos e que permaneceu por muito tempo como o único do gênero; Santa Catharina, meteorito com maior teor de níquel do mundo; Ibitira, um eucrito com vesículas e o Governador Valadares, o único meteorito marciano brasileiro. Logo, esta obra tem como intuito fornecer dados e informações, em diversos aspectos, que serão descritos no decorrer deste livro, sobre os meteoritos brasileiros, produzindo um diagnóstico geral dos meteoritos no Brasil e fazendo uma breve introdução à meteorítica, trazendo conteúdos básicos da área de uma forma simplificada. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço todos que contribuíram diretamente ou indiretamente para a realização, publicação e divulgação deste livro. Agradeço, em especial, à André Moutinho, por todo o suporte dado e também por fornecer grande parte das imagens utilizadas, principalmente dos meteoritos brasileiros. Também à professora Maria Elizabeth Zucolotto, pelo grande apoio dado desde o início, e ainda pelas imagens fornecidas, inclusive a fotomicrografia da capa deste livro e também a da página de abertura. Ainda meus agradecimentos especiais para Leila Manttovanni e Katia Veiga, que não mediram esforços para me ajudar, e muito, nos últimos anos e também para a minha professora, Valni dos Reis Gonçalves, apoiadora e companheira de várias viagens e jornadas científicas. Agradeço ainda, minha grande amiga Thyelle Dias, por todo o apoio e força que me dá. 4 ÍNDICE INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 07 1- PRINCIPAIS TIPOS DE METEORITOS....................................................................... 08 1.1- Meteoritos rochosos....................................................................................... 08 1.1.1- Condritos................................................................................................. 09 1.1.2- Acondritos............................................................................................... 12 1.2- Meteoritos sideritos........................................................................................ 16 1.3- Meteoritos siderólitos..................................................................................... 19 1.3.1- Palasitos................................................................................................. 19 1.3.2- Mesosideritos.......................................................................................... 19 2- A QUEDA DE UM METEORITO.................................................................................. 21 2.1- Quedas e achados brasileiros....................................................................... 22 3- TAMANHO DOS METEORITOS BRASILEIROS......................................................... 24 4- DISTRIBUIÇÃO DOS METEORITOS BRASILEIROS................................................. 27 4.1- Brasil desconhece seus meteoritos............................................................... 30 5- OS METEORITOS BRASILEIROS.............................................................................. 31 5.1- Meteorito Bendegó........................................................................................ 31 5.2- Meteorito Angra dos Reis.............................................................................. 32 5.3- Meteorito Ibitira.............................................................................................. 33 5.4- Meteorito Governador Valadares................................................................... 34 5.5- Meteorito Santa Catharina............................................................................. 34 5.6- Meteorito Vicência......................................................................................... 34 5.7- Outros meteoritos importantes....................................................................... 35 5.8- Quadro de informações gerais....................................................................... 35 6- CRATERAS METEORÍTICAS...................................................................................... 38 6.1- Crateras meteoríticas no Brasil..................................................................... 40 7- ASTEROIDES.............................................................................................................. 41 7.1- O evento de Chelyabinsk............................................................................... 44 8- IDENTIFICANDO METEORITOS................................................................................ 45 8.1- Crosta de fusão............................................................................................. 45 8.2- Forma indefinida............................................................................................ 45 8.3- Densidade...................................................................................................... 45 8.4- Regmaglitos................................................................................................... 46 8.5- Magnetismo................................................................................................... 46 8.6- Interior dos meteoritos................................................................................... 46 8.7- Presença de ferro e níquel............................................................................ 46 8.8- Presença de côndrulos.................................................................................. 47 9- DÚVIDAS FREQUENTES............................................................................................ 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 51 5 “Os meteoritos são pequenas caixas pretas codificadas com acontecimentos passados há 4,5 bilhões de anos que nos foram entregues diretamente do espaço”. Heide, F. and Wlotzka, F. (1995) 6 INTRODUÇÃO Meteoritos são fragmentos de corpos sólidos do Sistema Solar, que foram desagregados de asteroides, cometas, da Lua, de Marte, dentre outros corpos de origem, e que após vagarem por milhões ou bilhões de anos no espaço, cruzam a atmosfera terrestre e chegam até a superfície. Quando estes corpos ainda estão no espaço, são denominados meteoroides. Quando penetram na atmosfera terrestre, com velocidades que variam de 11 a 72 Km/s, o atrito com o ar faz com que produzam um efeito luminoso, denominado meteoro (popularmente conhecido como “estrela cadente”). Caso algum fragmento chegue até a superfície, denomina-se então meteorito. Quando a queda de um meteorito é observada, classifica-se o meteorito como queda (ex.: o meteorito Vicência, que caiu em 2013), já se o meteorito foi simplesmente encontrado no campo, ele é classificado como achado (ex.: o meteorito Bendegó, encontrado em 1784). A maioria dos meteoritos catalogados são classificados como achado. Basicamente existem três tipos de meteoritos: rochosos, metálicos e mistos. Sendo os rochosos os mais comuns e os mistos os mais raros. A grande maioria dos meteoroides são completamente antes de chegar na superfície. No entanto, alguns corpos conseguem vencer a passagem atmosférica, por conta de seu tamanho ou velocidade baixa, e costumam produzir, além de um grande meteoro (denominado bólido), estrondos e assovios. As quedas de meteoritos acontecem aleatoriamente, portanto podem cair em qualquer lugar da superfície terrestre e em qualquer momento. Apesar da Terra ser diariamente bombardeada por cerca de 40 toneladas de material cósmico (estimativa da NASA), grande parte dos fragmentos se desintegram completamente antes de chegar à superfície, e dos que chegam até o solo, poucos são descobertos, já que cerca de 2/3 caem no mar e outros caem em áreas desabitadas ou de difícil acesso. Como os meteoritos são fragmentos de diversos corpos do Sistema Solar, quando são estudados podem trazer diversas informações sobre a origem e evolução destes corpos. Existem meteoritos que são mais antigos do que o próprio Sistema Solar, portanto podem servir de fonte para o estudo da nebulosa que originou o nosso sistema. O estudo dos meteoritos não se restringe apenas aos astrônomos. Eles são estudados por diversos profissionais, dos mais diversos ramos da ciência, como geólogos e biólogos. No Brasil, 69* meteoritos já foram descobertos e catalogados oficialmente junto à Sociedade Meteorítica. Número extremamente baixo se comparado ao de países com área territorial semelhante, como os Estados Unidos e a Austrália, que já catalogaram oficialmente 1.754* e 666* meteoritos, respectivamente. (* Dados cadastrados no Meteoritical Bulletin até 17/08/15). O pequeno número de meteoritos brasileiros catalogados é consequência de diversos fatores, dentre eles, a carência de informação da população, a falta de uma legislação que defina a propriedade dos meteoritos, e também as condições naturais: o clima quente e úmido favorece o intemperismo, que faz com que os meteoritos sejam confundidos com rochas terrestres, já que vão perdendo suas características mais notáveis, além disso, parte do país possui grandes matas nativas, o que dificulta a busca de meteoritos nestas áreas. No decorrer deste livro, serão apresentados conceitos básicos relacionados à meteorítica, juntamente com uma descrição e análise, nos mais diversos aspectos, dos meteoritos brasileiros catalogados. 7 1- PRINCIPAIS TIPOS DE METEORITOS Os meteoritos são divididos basicamente em três tipos: rochosos (aerólitos), formados basicamente de silicatos, metálicos (sideritos), formados basicamente de ferro-níquel e mistos (siderólitos), formados basicamente por ferro-níquel e silicatos. Estes três tipos são subdivididos em classes, e estas classes podem ser subdivididas em grupos menores. Os meteoritos rochosos são os mais comuns, correspondem a cerca de 92,8% dos meteoritos conhecidos. Os metálicos são mais raros e correspondem a cerca de 5,7% dos meteoritos. E os mistos, tipo básico mais raro, perfazem apenas 1,5% dos meteoritos conhecidos. O gráfico abaixo apresenta os meteoritos brasileiros de acordo com os três tipos básicos de meteoritos: rochoso (aerólito), metálico (siderito) e misto (siderólito). A coleção brasileira é composta de 33 meteoritos rochosos, 35 meteoritos metálicos e 1 meteorito misto. METEORITOS BRASILEIROS- PRINCIPAIS TIPOS BÁSICOS 1% ROCHOSOS 51% 48% METÁLICOS MISTOS 1.1- Meteoritos rochosos Os meteoritos rochosos são divididos em condritos e acondritos, sendo os condritos o tipo mais comum de meteorito, correspondendo a maior parte das quedas observadas e coletadas. Basicamente, os meteoritos condritos são aqueles que possuem côndrulos, pequenas esferas de minerais que variam de 0,1 a 4 mm, no entanto, existem alguns meteoritos do tipo condrito que não apresentam côndrulos. Os condritos possuem composição muito semelhante ao do Sol, com exceção dos elementos voláteis. Seus principais componentes são minerais como olivina e piroxênios, além de ferro e níquel, cuja quantidade varia para cada tipo de condrito. São meteoritos rochosos que não sofreram diferenciação, ou seja, não foram fundidos no interior do corpo parental. Estes meteoritos são muito antigos, possuem de 4,55 a 4,6 bilhões de anos, portanto, são importantes fontes para o estudo da origem e evolução do Sistema Solar. Os meteoritos acondritos são meteoritos que não possuem côndrulos, e são bem mais raros do que os meteoritos condritos, correspondendo a cerca de 7% dos meteoritos rochosos. São meteoritos que sofreram diferenciação (total ou parcial), possuem texturas distintas e são originários de processos ígneos. Como são formados por material fundido recristalizado, são importantes para o estudo das fontes de calor que existiram no início do Sistema Solar. A classe dos acondritos inclui meteoritos oriundos de grandes asteroides, como Vesta, da Lua e de Marte, portanto são importantes para entender os processos de origem e evolução destes e de outros corpos, como a própria Terra. São provenientes do manto ou crosta do corpo parental. 8 O gráfico abaixo apresenta os meteoritos rochosos brasileiros, divididos entre os dois tipos básicos: condritos e acondritos. Os meteoritos rochosos catalogados no Brasil estão divididos da seguinte maneira: 29 meteoritos condritos e 4 meteoritos acondritos. METEORITOS BRASILEIROS- TIPOS BÁSICOS DE METEORITOS ROCHOSOS 12% CONDRITOS ACONDRITOS 88% 1.1.1- Condritos Os meteoritos condritos estão divididos em classes: Enstatita condrito (E), Condritos ordinários (OC), Condritos carbonáceos (C), Kakangaritos (K) e Rumurutitos (R), sendo estas duas últimas classes as menores. Algumas classes se dividem ainda em grupos menores. A classificação leva em conta critérios como: quantidade e distribuição de ferro, petrologia, mineralogia e os isótopos de oxigênio. Sobre os principais grupos de condritos: Enstatita condrito (E) Trata-se de um grupo raro de meteoritos, correspondendo a 2% dos meteoritos rochosos. Estão divididos em dois grupos: alto teor de ferro (EH) e baixo teor de ferro (EL). Condritos carbonáceos (C) Os meteoritos deste tipo são considerados os mais primitivos, seus elementos são os que mais se aproximam da composição do Sol. Possuem pouco ou nenhum ferro e estão divididos em oito tipos, descritos resumidamente abaixo: -Tipo CI: Considerados os mais primitivos do Sistema Solar e não possuem côndrulos. -Tipo CM: São os mais abundantes entre os carbonáceos e com côndrulos bem formados. -Tipo CO: Possuem côndrulos pequenos em grande quantidade. -Tipo CV: Possuem côndrulos grandes e em grande quantidade. -Tipo CK: Em geral possuem tipo petrográfico 5 e côndrulos em abundância. -Tipo CR: Se diferenciam dos demais tipos por apresentar grande quantidade de metal. -Tipo CH: Corresponde a um tipo raro de condrito carbonáceo com alto teor de ferro. -Tipo CB: Uma das características deste tipo é a presença de côndrulos centimétricos. Condritos ordinários (OC) Trata-se do tipo mais comum de meteorito. Podem ser classificados em: H (alto teor de ferro – de 25 a 30%), L (baixo teor de ferro – de 20 a 25%) e LL (muito baixo teor de ferro). Destes três grupos, o L é o que corresponde a maior parte dos meteoritos ordinários. A classificação conta 9 ainda com um parâmetro que varia de 3 a 6, que define, entre outros aspectos, a diferenciação dos côndrulos, sendo que, 3 indica que os côndrulos são muito bem definidos, 4 côndrulos bem definidos, 5 côndrulos diferenciáveis e 6 côndrulos mal definidos. CONDRITOS BRASILEIROS: Os meteoritos brasileiros rochosos condritos são todos do tipo condrito ordinário (OC). O gráfico abaixo apresenta os meteoritos brasileiros rochosos do tipo condrito divididos de acordo com o teor de ferro H, L ou LL, indicando o número de exemplares e a porcentagem correspondente de cada um dos tipos. METEORITOS BRASILEIROS- CONDRITOS ORDINÁRIOS POR TEOR DE FERRO 2; 7% 14; 48% H L LL 13; 45% Abaixo, o gráfico dos meteoritos brasileiros rochosos do tipo condrito divididos pelo tipo petrológico: 3,4,5 ou 6. “Outros tipos” são meteoritos como o Mafra e o Vicência, que recebem a classificação como 3-4 e 3-2, respectivamente. O gráfico indica o número de exemplares, seguido da porcentagem correspondente de cada categoria. METEORITOS BRASILEIROS- CONDRITOS ORDINÁRIOS POR TIPO PETROLÓGICO 2; 7% 1; 3% Tipo 3 9; 31% 7; 24% Tipo 4 Tipo 5 Tipo 6 Outros tipos 10; 35% 10 Condritos ordinários, tipos petrológicos: A) Tipo petrológico 3 B) Tipo petrológico 4 C) Tipo petrológico 5 D) Tipo petrológico 6 A) Interior do meteorito brasileiro Buritizal, não catalogado oficialmente. Trata-se de um condrito ordinário do tipo H3. Note como os côndrulos são bem definidos. Crédito: © André Moutinho. B) Interior do meteorito brasileiro Marília, um condrito ordinário do tipo H4. Crédito: © André Moutinho. C) Interior do meteorito brasileiro Varre-Sai, condrito ordinário do tipo L5. Crédito: © André Moutinho. D) Interior do meteorito brasileiro Putinga, condrito ordinário do tipo L6. Crédito: © André Moutinho. Imagens obtidas no site: http://www.meteorito.com.br 11 O gráfico a seguir mostra os meteoritos brasileiros rochosos do tipo condrito ordinário por tipo químico (H, L e LL), para cada tipo petrológico. As colunas coloridas apresentam a quantidade de meteoritos dos tipos H (em azul), L (em laranja) e LL (em cinza) para os tipos petrológicos 3, 4, 5, 6 e os tipos 3-4 e 3-2 presentes na coleção brasileira. CLASSIFICAÇÃO DOS METEORITOS CONDRITOS ORDINÁRIOS BRASILEIROS L LL TIPO 4 TIPO 5 0 1 TIPO 3-4 0 0 1 TIPO 6 0 0 1 TIPO 3 0 0 0 1 2 3 3 5 6 6 H TIPO 3-2 1.1.2- Acondritos Inicialmente foram classificados de acordo com a quantidade de cálcio (Ca), sendo então divididos em dois grupos: ricos e pobres em cálcio. Os ricos, apresentam de 5% a 25% de cálcio ou mais, os pobres, menos de 3% de cálcio. Estão divididos também em: METEORITOS (HED): São meteoritos oriundos do grande asteroide Vesta, que possui 530 quilômetros de diâmetro. A origem dos meteoritos HED (Howarditos, eucritos e diogenitos), como sendo de um mesmo corpo parental, foi confirmada pela missão Dawn, da NASA. Howarditos (HOW) São semelhantes aos solos regolíticos da Lua, e por conta da grande quantidade de cálcio apresentam uma crosta de fusão bem escura e brilhante. Eucritos (EUC) Também apresentam crosta de fusão bem brilhante, se destacando do interior cinza claro. Trata-se do tipo mais comum de meteorito acondrito. Diogenitos (DIO) São originários de regiões mais profundas, abaixo da crosta. Angritos (ANG) Esta classe é nomeada segundo o meteorito brasileiro Angra dos Reis, que foi por mais de um século o único meteorito do tipo. Consta no Meteoritical Bulletin (até 17/08/2015) apenas 23 meteoritos angritos em todo o mundo, no entanto o angrito brasileiro se diferencia dos demais exemplares. 12 Aubritos (AUB) São meteoritos pobres em ferro, apresenta o interior esbranquiçado e, em geral, crosta de fusão bege. Ureilitos (URE) Existem evidências que sugerem que os Ureilitos sofreram violentos choques, capaz de transformar grafite em diamante. Inclusive, em 1888, foi descoberto diamantes em um meteorito deste tipo que caiu na Rússia em 1866. Brachinitos (BRA) São meteoritos diferentes dos demais acondritos, e inicialmente eram classificados como “anômalos”. Consta no Meteoritical Bulletin (até 17/08/2015) 38 exemplares catalogados no mundo todo. METEORITOS MARCIANOS (SNC): Os meteoritos marcianos são fragmentos que foram ejetados do planeta Marte e chegaram até a superfície terrestre. Interações gravitacionais entre os corpos do Sistema Solar causam perturbações que podem resultar em colisões cósmicas. Logo no início da formação Sistema Solar, tais colisões certamente foram muito mais frequentes e envolveram massas muito maiores, por isso não é difícil de imaginar que alguns corpos, razoavelmente grandes, foram destruídos e dispersos em tais eventos. Hoje, as colisões são menos enérgicas, mas ainda podem ejetar pequenos pedaços de um grande corpo atingido por um objeto menor, basta que os fragmentos sejam ejetados a uma velocidade que exceda a velocidade de escape de tal corpo. As sondas Viking, enviadas pela NASA para estudar Marte em 1976, mediram as quantidades de diferentes gases da atmosfera rarefeita do planeta vermelho, e a composição isotópica de oxigênio analisada neste tipo de meteorito, coincide com as medições realizadas pelas sondas. Estes meteoritos trazem informações sobre os processos que ocorreram durante a história de Marte. Os meteoritos marcianos com datação mais nova, por exemplo, mostram evidências de que o vulcanismo ocorreu em Marte até 180 milhões de anos atrás. Alguns meteoritos mostram também evidências de interação com água. Na década de 1970, a sonda Viking analisou também rochas do solo marciano, mas não encontrou indícios de vida. Em 1996, uma equipe de cientistas anunciou a possível descoberta de vida microbiana no meteorito marciano ALH84001. Entre as evidências, estavam: a comprovação da existência de água, minerais formados em baixas temperaturas que continham pequenas quantidades de compostos orgânicos e minúsculas estruturas que se parecem fósseis de bactérias. Depois de anos de intenso estudo e debate, com os novos dados que suportam ambos os lados, a questão ainda não está resolvida. Contudo, David S. McKay, líder da equipe de cientistas, defende a teoria da existência de vida primitiva em Marte: “Estou convencido de que encontramos no meteorito sinais de vida biológica primitiva em Marte. Quem quiser que prove que estamos errados. ” . A- Meteorito ALH84001. B- Microscopia que mostra estruturas que podem ser fósseis microorganismos. A B Crédito: NASA 13 Shergotitos Trata-se do tipo mais comum de meteorito marciano. São bem antigos, possuem cerca de 4,5 bilhões de anos. São rochas vulcânicas ricas em basalto e rochas ferruginosas. O primeiro exemplar caiu em Shergotty, na Índia, no ano de 1865. Nakhlitos O primeiro meteorito do grupo caiu em Nakhla, no Egito, em 1911, e dizem que um fragmento atingiu e matou um cachorro. Apresentam tonalidade esverdeada devido aos cristais olivina e diopsídio. Provavelmente são formados por processos ígneos intrusivos. O meteorito brasileiro Governador Valadares é um meteorito marciano do tipo nakhlito. Chassignitos O primeiro exemplar caiu em Chassigny, em 1815, na França. São, provavelmente, formados no interior de Marte e são semelhantes aos Nakhlitos quanto à composição, no entanto são mais ricos em feldspatos. Existem 154 meteoritos marcianos catalogados oficialmente no mundo todo (dados do Meteoritical Bulletin, até 17/08/2015). METEORITOS LUNARES: Meteoritos lunares são fragmentos ejetados da superfície lunar por meio de impactos, que foram capturados pelo campo gravitacional da Terra e chegaram até a superfície. Composição química, rácios de isótopos, mineralogia e textura dos meteoritos lunares são idênticos aos de amostras coletadas na Lua durante as missões Apollo. Tomados em conjunto, estas características são diferentes das de qualquer tipo de rocha terrestre (mesmo os meteoritos lunares apresentando algumas semelhanças com algumas rochas da Terra) ou de qualquer outro tipo de meteorito. Existem 223 meteoritos lunares catalogados em todo o mundo (dados do Meteoritical Bulletin, até 17/08/2015), e em geral foram encontrados na Antártica ou em desertos, pois a chance de encontrar um meteorito lunar em um ambiente de clima temperado é muito remota. Não há registros de meteoritos lunares que tiveram sua queda observada, uma vez que devem ter caído na Terra há milhares de anos atrás. Basálticos São meteoritos de origem vulcânica, proveniente dos mares lunares (planícies basálticas, vastas e escuras). Brechas regolíticas Trata-se das rochas mais antigas, da época de formação do satélite e têm origem nas terras lunares. São formadas de regolito lunar, que é uma camada de rochas e pó fragmentado, devido aos inúmeros e violentos impactos que aconteceram na Lua. A grande maioria das rochas lunares são brechas. ACONDRITOS BRASILEIROS A coleção brasileira de meteoritos possui quatro acondritos, os quais estão apresentados na tabela abaixo, com o seu respectivo tipo. METEORITO Angra dos Reis Governador Valadares Ibitira Serra de Magé TIPO Angrito Marciano Nakhlito Eucrito Eucrito 14 A) Meteorito condrito Vicência B) Meteorito acondrito Angra dos Reis C) Meteorito condrito Vicência D) Meteorito acondrito Ibitira E) Fotomicrografia condrito Clovis F) Fotomicrografia acondrito A. dos Reis A) Meteorito brasileiro condrito LL3.2, Vicência. Crédito © André Moutinho. B) Meteorito brasileiro acondrito do tipo angrito, A. dos Reis. Crédito Maria Elizabeth Zucolotto. C) Côndrulos do meteorito Vicência, LL3.2. Crédito © André Moutinho. D) Interior do meteorito acondrito Ibitira. Crédito © André Moutinho. E) Fotomicrografia do meteorito condrito H3.6 Clovis. Crédito Maria Elizabeth Zucolotto. F) Fotomicrografia do meteorito acondrito tipo angrito, Angra dos Reis. Crédito Maria Elizabeth Zucolotto. 15 1.2- Meteoritos sideritos Os meteoritos sideritos (metálicos) perfazem cerca de 6% dos meteoritos. São oriundos do núcleo do corpo parental e constituídos basicamente por uma liga de ferro-níquel, apresentando pequenas quantidades de minerais. Uma das principais características deste tipo de meteorito, o que permite que sejam diferenciados das demais rochas terrestres, é o seu elevado peso. A densidade de um siderito é de cerca de 7g/cm³ a 8g/cm³, para fins de comparação, a água possui densidade de 1g/cm³ e um meteorito condrito, cerca de 3,21g/cm³ a 3,4g/cm³. São também mais resistentes, do que qualquer outro tipo de meteorito, ao processo de intemperismo (conjunto de processos mecânicos, químicos e biológicos que ocasionam a desintegração e a decomposição das rochas), portanto depois da queda são preservados por muito mais tempo, o que permite sua descoberta depois de muitos anos. A grande maioria dos sideritos catalogados não tiveram queda observada. Uma curiosidade interessante, é que os sideritos foram utilizados por civilizações antigas, para cunhar armamentos e outros instrumentos. Existem dois tipos de classificação para este tipo de meteorito: classificação estrutural e classificação química. Classificação estrutural: Feita de acordo com a estrutura apresenta pelo meteorito quando atacado com nital (solução de ácido nítrico e álcool), podendo apresentar linhas entrelaçadas, linhas paralelas ou nenhuma estrutura evidente a olho nu. Cada estrutura está relacionada à largura da lamela de kamacita, que está ligada com a quantidade de níquel do meteorito. Veja a tabela abaixo: TEOR DE NÍQUEL Superior a 16% 6,5% a 15% 4,5% a 6,5% CLASSIFICAÇÃO Ataxitos (D) - não apresentam estrutura evidente a olho nu e constitui o tipo mais raro. Octahedritos (O) - estrutura mais comum apresentada nos sideritos. Apresenta lamelas entrelaçadas, seguindo uma orientação octaédrica. É o chamado ''padrão de Widmanstatten”. Hexaedrito (H) - apresenta linhas finas paralelas, conhecidas como ''linhas ou bandas de Neumann''. Os meteoritos sideritos octahedritos estão divididos em 6 subgrupos, de acordo com a largura das lamelas de kamacita: SUBGRUPO Octahedritos muito grosseiros Octahedritos grosseiros Octahedritos médios Octahedritos finos Octahedritos finíssimos Octahedritos plessíticos SIGLA LARGURA DE KAMACITA (mm) Ogg Og Om Of Off Opl 3,3 a 50 1,3 a 3,3 0,5 a 1,3 0,2 a 0,5 < 0,2 < 0,2 16 Classificação química: está relacionada à análise de elementos como germânio, gálio, e irídio, que divide os meteoritos metálicos em 14 grupos quimicamente distintos: IAB, IC, IIAB, IIC, IID, IIE, IIF, IIG, IIIAB, IIICD, IIIE, IIIF, IVA, IVB. Existe ainda os sideritos “não agrupados”, que não se encaixam em nenhum dos 14 grupos químicos. Os meteoritos brasileiros Barbacena, Bocaiuva, Campinorte e Piedade do Bagre, são exemplos de meteoritos não agrupados. A classificação estrutural e química dos meteoritos sideritos podem ser associadas. A tabela abaixo traz a classificação estrutural, com as respectivas classificações químicas que estão associadas. CLASSIFICAÇÃO ESTRUTURAL Hexaedritos Ataxitos Octahedritos muito grosseiros Octahedritos grosseiros Octahedritos médios Octahedritos finos Octahedritos finíssimos Octahedritos plessíticos SIGLA H D Ogg Og Om Of Off Opl CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA ASSOCIADA IIAB, IIG IIF, IVB IIAB, IIG IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF IID, IIICD, IIIF, IVA IIC, IIICD IIC, IIF SIDERITOS BRASILEIROS O gráfico abaixo apresenta a distribuição dos meteoritos sideritos da coleção brasileira, por classificação química. A coleção brasileira de meteoritos possui 35 sideritos catalogados. METEORITOS BRASILEIROS- SIDERITOS POR CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 17 A) Meteorito São João Nepomuceno B) Meteorito Santa Catharina C) Meteorito Santo Antônio do Descoberto D) Meteorito Faina E) Meteorito Canyon Diablo F) Meteorito Bendegó A) Interior do siderito brasileiro, São João Nepomuceno, um octaedrito fino IVA. É possível notar o padrão de Widmanstatten. B) Interior do siderito brasileiro, Santa Catharina, do tipo ataxito. C) Interior do siderito brasileiro, do tipo hexaedrito IIAB, Santo Antônio do Descoberto. D) Meteorito brasileiro Faina, siderito do tipo octaedrito IAB completo. E) Fragmento individual do meteorito Canyon Diablo, octaedrito grosseiro IAB, proveniente do corpo que deu origem à famosa cratera de Berringer. F) Bendegó, octaedrito grosseiro IC, maior meteorito brasileiro com 5,36 t. Crédito das imagens: © André Moutinho. Extraído de: www.meteorito.com.br. 18 1.3- Meteoritos siderólitos Dos três tipos básicos de meteoritos, os siderólitos (mistos) constituem o tipo mais raro, correspondendo a aproximadamente 1% dos meteoritos. Dos mais de 50.000 meteoritos catalogados no mundo todo, pouco mais de 300 são siderólitos. São provenientes do manto do corpo parental e são constituídos de 50% de ferro e 50% de silicatos, aproximadamente. Podem ser divididos em dois grupos: palasitos e mesosideritos. 1.3.1- Palasitos São formados entre o núcleo metálico e o manto inferior do corpo parental diferenciado. São belos meteoritos, apresentando cristais de olivina junto ao ferro. As quantidades de olivina e ferro não são obrigatoriamente divididas de forma igual, alguns palasitos apresentam mais silicatos e outros se assemelham com meteoritos sideritos, por apresentarem mais ferro. Os palasitos são divididos em três grupos, conforme exemplifica a tabela abaixo: GRUPO ALGUMAS CARACTERÍSTICAS Olivinas ricas em magnésio; A liga de ferro-níquel tem composição semelhante ao dos sideritos IIIAB. O teor de níquel é mais elevado do que no grupo principal; a olivina é rica em ferro. Composição isotópica parecida com sideritos IIF. Existência, em pequena quantidade, de clinopiroxênio. Grupo principal Grupo Eagle Station Palasitos piroxênios 1.3.2- Mesosideritos Apesar de serem constituídos aproximadamente pela mesma quantidade de ferro e silicatos, se diferenciam dos palasitos por serem compostos por uma mistura de fragmentos de diferentes corpos parentais. O gráfico abaixo apresenta os meteoritos siderólitos, do tipo palasito e mesosiderito, encontrados no mundo todo (dados do Meteoritical Bulletin, registrados até 21/07/2015). SIDERÓLITOS, POR TIPO, ENCONTRADOS NO MUNDO 103; 32% 218; 68% PALASITOS MESOSIDERITOS SIDERÓLITOS NO BRASIL No Brasil, o meteorito Quijingue, encontrado na Bahia no ano de 1984, é o único meteorito do tipo siderólito descoberto e catalogado. Trata-se de um palasito com massa de 59 kg. 19 A) Meteorito Quijingue B) Meteorito Esquel C) Meteorito Vaca Muerta D) Meteorito Imilac E) Meteorito Bondoc F) Meteorito Brahin A) Fatia do meteorito siderólito brasileiro, do tipo palasito, Quijingue. Crédito: © André Moutinho, via www.meteorito.com.br. B) Fatia polida do meteorito palasito argentino Esquel, exposto no Royal Ontario Museum. Crédito: Wikipédia, enviado por Captmondo. C) Meteorito mesosiderito encontrado em Vaca Muerta, Chile. Crédito: Wikipédia, por Brocken Inaglory. D) Fatia do meteorito palasito Imilac. Crédito: http://www.arizonaskiesmeteorites.com/ E) Meteorito mesosiderito Bondoc. Crédito: http://meteoritegallery.com/bondoc-mesosiderite-b4/. F) Meteorito palasito, Brahin, fatia de 32,6 gramas. Crédito: © André Moutinho, via www.meteorito.com.br. 20 2- A QUEDA DE UM METEORITO Os meteoroides penetram na atmosfera terrestre com velocidades de 11 Km/s a 72 Km/s. A velocidade de entrada vai depender se o meteoroide está no mesmo sentido de rotação da Terra (meteoro com baixa velocidade), ou se está no sentido contrário ao de rotação da Terra (meteoro com alta velocidade). Após penetrarem na atmosfera, os meteoroides vão sendo freados e perdem velocidade. Além disso, o atrito com o ar os tornam incandescentes. No caso de objetos maiores, a queda do meteorito é marcada por um bólido, que pode ser tão brilhante quanto a Lua ou o Sol, podendo ainda deixar rastros de fumaça no céu. Vale ressaltar, que um observador que esteja na exata região da queda do meteorito não conseguirá observar o bólido. Ele vai observar apenas uma bola brilhante crescente e sem cauda. Em 2010, o agricultor Germano da Silva Oliveira, presenciou a queda de um meteorito, na zona rural de Varre-Sai, no Rio de Janeiro, ele descreve que observou uma nuvem avermelhada rodando, que em seguida explodiu e produziu alguns estrondos menores. Posteriormente, ele encontrou um fragmento de cerca de 600 gramas. Rastro de fumaça deixado pelo meteorito que caiu em Chelyabinsk, nos Montes Urais, Rússia. Crédito de imagem: Alex Alishevskikh - Flickr: Meteor trace, via Wikipédia. Devido à resistência do ar, são formadas ondas de choque, criando explosões sônicas que podem levar à fragmentação do corpo. Isto acontece a aproximadamente 10 Km de altitude, e a partir de então o meteorito atinge o “ponto de retardamento”, e passa a cair em queda livre. A atmosfera terrestre só é capaz de frear de forma total meteoroides de até 10 toneladas. Quando um meteorito tem sua queda observada, como o Varre-Sai, Vicência, Angra dos Reis, por exemplo, ele é denominado queda. Se ele for simplesmente encontrado no campo, ele é denominado achado. A maior parte dos meteoritos são achados, visto a raridade de presenciar a queda de um deles. 21 2.1- Quedas e achados brasileiros O gráfico abaixo apresenta os dados sobre o número de quedas e achados da coleção brasileira de meteoritos. METEORITOS BRASILEIROS - QUEDAS E ACHADOS 24; 35% QUEDAS ACHADOS 45; 65% O gráfico abaixo apresenta as quedas e achados dos meteoritos brasileiros, por tipo: condrito, acondrito, siderito e siderólito. Note que, nenhum dos meteoritos brasileiros sideritos catalogados tiveram queda observada. Os sideritos são mais raros, no entanto, por serem mais resistentes ao intemperismo, podem ser encontrados mesmo depois de muitos anos, por isso lideram o número de achados. Já os condritos ordinários, são o tipo mais comum de meteorito, logo, há maiores chances de presenciar sua queda. No entanto, são menos resistentes ao intemperismo, e são mais difíceis de serem identificados muito tempo depois de terem caído. Todos os acondritos brasileiros, com exceção do Governador Valadares, tiveram queda observada. Os acondritos praticamente só são recuperados logo depois da queda. QUEDAS E ACHADOS POR TIPO 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 QUEDAS ACHADOS CONDRITOS ACONDRITOS SIDERITOS SIDERÓLITOS 22 O gráfico a seguir traz o número de quedas e achados em tempo cronológico, de 1784, com a descoberta do meteorito Bendegó, até 04 de julho de 2015. Com exceção dos séculos XVIII, que está representado de forma total, e XIX, que está representado em dois períodos, 1800 a 1849 e 1850 a 1899, os séculos XX e XXI estão divididos em décadas. Dos 69 meteoritos brasileiros, 2 deles não apresentam informações do ano em que foram encontrados, portanto o gráfico traz as informações do ano da queda ou achado de 67 meteoritos brasileiros. QUEDAS E ACHADOS - DE 1784 A 2015 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Séc. XVIII 1800 a 1850 a 1900 a 1910 a 1920 a 1930 a 1940 a 1950 a 1960 a 1970 a 1980 a 1990 a 2000 a 2010 a 1849 1899 1909 1919 1929 1939 1949 1959 1969 1979 1989 1999 2009 2015 QUEDAS ACHADOS Algumas quedas brasileiras Varre-Sai: Na tarde do dia 19, o Sr. Germano Oliveira observava algumas nuvens de cor avermelhada, que pareciam estar rodando no céu, em seguida houve uma forte explosão, seguida de três outras explosões de intensidade menor do que a primeira. No dia seguinte, o agricultor encontrou uma pedra escura, que pesava cerca de 600 gramas e tinha pouco mais de 10 centímetros. O Museu Nacional recolheu uma amostra de 50 gramas e levou para análise, constatando ser um meteorito do tipo condrito. Além deste primeiro fragmento, outros foram identificados posteriormente, inclusive um no Espírito Santo. Há quase duas décadas o Brasil não presenciava um evento como este. Putinga: Um estranho acontecimento deixou grandes nuvens de fumaça, que cobriram o céu ensolarado. Seguido de grande barulho, a população sentiu muito medo. Era quatro e meia da tarde de domingo, do dia 16 de agosto de 1937, toda Putinga estava reunida para comemoração do padroeiro da cidade, São Roque, até que se ouviram estampidos, como fogos de artifício. Várias foram as suposições, de castigo de Deus a fim do mundo, mas um médico italiano, ali domiciliado, Dr. Vicenzo Guaragna, sabia que, com certeza, aquele evento presenciado pela população se tratava da queda de um meteorito. No dia seguinte, cerca de 200 quilos de pedras foram retirados de buracos com profundidade de cerca de 1 a 2 metros. A chuva de meteoritos, talvez a maior delas já ocorrida no Brasil, atingiu o município vizinho, Ilópolis e parte de Soledade. Especula-se que pelo menos 1.000 quilos ainda se encontram perdidos entre as matas de pinheiro da região. Hoje, nada se sabe de grandes fragmentos, como um de 55 quilos, que foi na época, exposto na sede do jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre. 23 3- TAMANHO DOS METEORITOS BRASILEIROS A atmosfera terrestre é bombardeada por material cósmico todos os dias. Cientistas estimam que cerca de 40 toneladas de material meteorítico atinge a atmosfera terrestre diariamente. Em uma noite, por exemplo, é possível observar alguns meteoros cruzando distintas regiões do céu, são os meteoros esporádicos, ou seja, que não são previstos e acontecem a qualquer momento. Em determinadas épocas a taxa de meteoros pode aumentar drasticamente, quando acontecem as chuvas de meteoros, que diferente dos meteoros esporádicos, possuem datas certas para acontecerem e parecem surgir de uma determinada constelação. Das 40 toneladas de material cósmico que atingem diariamente a atmosfera terrestre, a grande maioria possui milímetros, ou tamanhos menores, de diâmetro e se desintegra completamente durante a passagem atmosférica. No passado, durante a formação da Terra, a queda de grandes meteoritos acontecia com frequência, formando crateras meteoríticas e provocando até mesmo extinções em massa. A tabela a seguir, traz a relação do tamanho do corpo que penetra na atmosfera e o tempo médio para que aconteça tais impactos. TAMANHO DO CORPO (diâmetro) 0,001 mm (1 mícron) 1 mm 1m 100 m 10 Km TEMPO MÉDIO DE IMPACTO A cada 30 microssegundos A cada 30 segundos A cada 12 meses A cada 100.000 anos A cada 100.000.000 O tamanho dos meteoritos pode variar de microgramas, no caso de micrometeoritos, até algumas toneladas. O maior meteorito encontrado até hoje, o Hoba-West, possui cerca de 60 toneladas. Ele foi encontrado na Namíbia, África. O gráfico* abaixo apresenta a massa total dos meteoritos catalogados no Brasil. METEORITOS BRASILEIROS- MASSA TOTAL 6% 1% Até 1Kg 9% 20% >1Kg até 10Kg >10Kg até 50Kg 14% >50Kg até 100Kg 29% 21% >100Kg até 500Kg >500Kg até 1t >1t 24 O gráfico* a seguir apresenta a massa total dos meteoritos brasileiros por tipo básico, rochosos (condritos e acondritos), sideritos e siderólitos. Em geral, os sideritos são maiores do que os demais tipos de meteoritos, devido sua maior resistência à passagem atmosférica. MASSA TOTAL DOS METEORITOS BRASILEIROS, POR TIPO 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Até 1Kg >1Kg até 10Kg CONDRITOS >10Kg até 50Kg >50Kg até 100Kg ACONDRITOS >100Kg até 500Kg SIDERITOS >500Kg até 1t >1t SIDERÓLITOS *Observação: Os dados obtidos no Meteoritical Bulletin podem estar arredondados e podem apresentar o peso total conhecido do meteorito (incluindo mais de um fragmento). O gráfico apresenta os dados de 66 meteoritos brasileiros, uma vez que 3 meteoritos não possuem informação de massa na página do Meteoritical Bulletin. Como anteriormente dito, os meteoritos sideritos, em geral, são maiores do que os demais tipos de meteorito, já que possuem maior resistência para atravessar a atmosfera terrestre. A lista abaixo traz os dez maiores meteoritos encontrados no mundo, sendo todos eles sideritos. O maior meteorito brasileiro, Bendegó, que possui 5,36 t, já não faz mais parte desta lista, no entanto, na época em que foi descoberto (1784), era o segundo maior do mundo. Hoje o Bendegó é o 16º maior meteorito no mundo. METEORITO / LOCALIZAÇÃO Hoba (Namíbia) Campo del Cielo - Eu Chaco (Argentina) Cape York - Ahnighito (Groelândia) Armanty - Xinjiang (China) Bacubirito - Sinaloa (México) Cape York - Agpalilik (Groelândia) Mbosi - Rungwe (Tanzânia) Campo del Cielo - Chaco (Argentina) Willamette (Estados Unidos) Chupaderos - Chihuahua (México) MASSA ANO 60 t 37 t 30,9 t 28 t 22 t 20,1 t 16 t 14,8 t 14,4 t 14,1 t 1920 1969 1894 1898 1863 1963 1930 2005 1902 1852 25 Meteorito Hoba. Crédito: Eugen Zibiso, via Wikipédia. A tabela abaixo traz os maiores meteoritos brasileiros (maiores massas). Vale ressaltar, que a massa apresentada para os meteoritos abaixo pode considerar vários fragmentos do meteorito em questão, ou seja, nem todos são uma única massa. METEORITO Santa Catharina Bendegó Campinorte Santa Luzia Itapuranga Nova Petrópolis Putinga Porto Alegre Patos de Minas (octa) Pará de Minas MASSA ANO 7t 5,36 t 2t 1,92 t 628 Kg 305 Kg 300 Kg 200 Kg 200 Kg 116,3 Kg 1875 1784 1992 1921 ? 1967 1937 2005 1925 1934 TIPO Siderito IAB-ung Siderito IC Siderito não agrupado Siderito IIAB Siderito IAB-MG Siderito IIIAB Condrito L6 Siderito IIIE Siderito IAB complexo Siderito IVA 26 4- DISTRIBUIÇÃO DOS METEORITOS BRASILEIROS Das 27 unidades federativas do Brasil (26 estados e 1 distrito federal), apenas 15 estados possuem pelo menos um meteorito encontrado e catalogado. Isso se deve a diversos fatores, entre eles, a carência de informação sobre o assunto, ausência de uma legislação que regule a propriedade de meteoritos e também das condições naturais – o clima quente e úmido faz com que o processo de intemperismo se acelere, assim os meteoritos acabam sendo confundidos com as demais rochas da região. O Brasil possui 516 milhões de hectares de florestas, o equivalente a cerca de 60% do território nacional (dados do IBGE 2012), as grandes áreas de florestas também dificultam a busca e coleta de meteoritos. O gráfico apresentado a seguir, mostra o número de meteoritos descobertos por estado, seguido da respectiva porcentagem correspondente à coleção nacional. Os estados que não constam no gráfico não possuem nenhum meteorito encontrado e catalogado. METEORITOS BRASILEIROS DESCOBERTOS POR ESTADO Bahia 4; 6% Ceará 5; 7% 4; 6% Goiás 4; 6% Maranhão Mato Grosso Mato Grosso do Sul 8; 12% Minas Gerais 7; 10% 1; 1% 2; 3% 3; 4% 1; 2% 20; 30% 2; 3% 1; 2% Pará Paraná Pernambuco Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Santa Catarina São Paulo 4; 6% 1; 2% O gráfico abaixo apresenta o número de meteoritos descobertos por região brasileira, seguido da respectiva porcentagem correspondente à coleção nacional de meteoritos. METEORITOS BRASILEIROS DESCOBERTOS POR REGIÃO 1; 2% REGIÃO NORTE 16; 24% 14; 21% 9; 13% 27; 40% REGIÃO NORDESTE REGIÃO CENTRO-OESTE REGIÃO SUDESTE REGIÃO SUL 27 O seguinte gráfico traz a distribuição dos meteoritos brasileiros por tipo (acondritos, condritos, sideritos e siderólitos), em cada uma das unidades da federação. Os estados que não constam no gráfico não apresentam meteoritos catalogados. METEORITOS BRASILEIROS, POR TIPO, DISTRIBUÍDOS POR ESTADO 14 12 10 8 6 4 2 0 Acondrito Condrito Siderito Siderólito A distribuição dos meteoritos brasileiros, por massa, em cada um dos quinze estados brasileiros, que já catalogaram pelo menos um meteorito, está representada pelo gráfico abaixo. Três meteoritos brasileiros não possuem informação de massa no Meteoritical Bulletin, portanto, não constam no presente gráfico. METEORITOS BRASILEIROS, POR MASSA, DISTRIBUÍDOS POR ESTADO 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Até 50 Kg >50 Kg até 100 Kg >100 Kg até 500 Kg >500 Kg até 1t > 1t 28 A distribuição dos registros de quedas e achados, por estado brasileiro, apresenta-se da seguinte forma: REGISTRO DE QUEDAS E ACHADOS POR ESTADO 16 14 12 10 8 6 4 2 0 QUEDAS ACHADOS MAPA DE DISTRIBUIÇÃO Os 69 (sessenta e nove) meteoritos brasileiros catalogados estão representados no mapa abaixo pelos pontos em vermelho. As estrelas indicam as crateras meteoríticas no Brasil. 29 4.1- Brasil desconhece seus meteoritos O Brasil possui uma área territorial de 8.516.000 Km², no entanto apenas 69 meteoritos já foram encontrados e catalogados oficialmente, sendo que em alguns países com área territorial semelhante já foram catalogados 25 vezes mais meteoritos do que no Brasil. Os meteoritos caem aleatoriamente na Terra, distribuindo-se equitativamente pela superfície. Por isso, devem existir muitos meteoritos espalhados pelo país. No entanto, alguns fatores contribuem para o pequeno número de meteoritos descobertos no Brasil. Primeiramente, ainda existe uma grande carência de informação nessa área, grande parte das pessoas desconhece o valor científico e a importância dos meteoritos, bem como identifica-los. Nos últimos anos, projetos e campanhas de divulgação da meteorítica no país, como o projeto “Meteoritos Brasileiros” do Museu Nacional, estão contribuindo para a disseminação da informação sobre os meteoritos no Brasil e vem alcançando resultados. Outro fator que dificulta a descoberta de meteoritos no país é o clima e as condições naturais. O clima quente e úmido contribui para o rápido intemperismo (conjunto de processos que ocasionam a desintegração e a decomposição das rochas) dos meteoritos, fazendo com que eles sejam confundidos com as demais rochas terrestres. Vale ressaltar ainda, que cerca de 60% do território brasileiro é coberto por florestas, que acabam dificultando a busca e coleta dos meteoritos; isso pode ser exemplificado com o mapa da página anterior, note que a região norte do país, onde existem densas florestas, como a Amazônica, possui apenas um meteorito catalogado. Já em outras regiões, o número de meteoritos mostra-se bem mais elevado. Além disso, o Brasil não conta com uma legislação que regule a propriedade dos meteoritos. Isso contribui para que muitos meteoritos brasileiros acabem sendo vendidos para o exterior, sem serem estudados e catalogados por uma instituição. O quadro abaixo apresenta informações sobre o número de meteoritos catalogados em outros países, com área territorial semelhante ou inferior (no caso da Índia e Chile) à do Brasil. Apenas para fins de comparação, a área territorial (Km²) foi dividida pelo número de meteoritos catalogados, tendo como resultado um número Y de Km² para cada 1 meteorito, denominado “Índice de meteoritos” (apenas para fins de comparação). METEORITOS PELO MUNDO ÁREA TERRITORIAL METEORITOS CATALOGADOS “ÍNDICE DE METEORITOS” Brasil 8.515.767 Km² 69 Estados Unidos 9.371.174 Km² 1.754 Austrália 7.692.024 Km² 677 Índia 3.287.590 Km² 137 Chile 756.945 Km² 715 1 meteorito para cada ~123.416 Km². 1 meteorito para cada ~5.342 Km². 1 meteorito para cada ~11.361 Km². 1 meteorito para cada ~23.997 Km². 1 meteorito para cada ~1.058 Km². PAÍS 30 5- OS METEORITOS BRASILEIROS Apesar dos poucos meteoritos descobertos e catalogados, o Brasil possui exemplares muito importantes, e alguns deles figuram entre os mais raros do mundo. 5.1- Meteorito Bendegó O meteorito Bendegó é um dos meteoritos brasileiros mais conhecidos, sendo o maior da coleção brasileira, com 5.360 quilos. Descoberto em 1784, época em que ainda se discutia a origem extraterrestre dos meteoritos, foi por muito tempo o maior meteorito em exposição no mundo, depois de providenciado o seu transporte para o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, após um século de sua descoberta. A notícia do achado de Bendegó chegou em diversos países, e viajantes famosos, como os naturalistas alemães Johann Spix e Carl Martius, visitaram o meteorito, que foi um dos primeiros no mundo a ter a origem extraterrestre reconhecida. A história do meteorito Bendegó, desde sua descoberta até sua chegada no Museu Nacional, é bem interessante: O meteorito foi descoberto por um garoto, Domingos da Motta Botelho, em 1784, enquanto campeava gado. O garoto percebeu que a pedra, grande e estranha, era diferente das demais rochas que havia na região. Depois de contar a descoberta para o seu pai, este um súdito ao governo, comunicou às autoridades que havia na região de Monte Santo uma “grande pedra”, na qual achava que podia conter elementos como prata e ouro. D.Rodrigo, governador na época, impressionado com a descoberta, pediu em 1785, um ano depois do achado, o transporte da rocha para a capital Salvador. Bernardo Carvalho da Cunha foi o encarregado para realizar o transporte. Ele, em conjunto com 30 homens, após escavar ao redor do meteorito, conseguiu colocá-lo em uma carreta que havia sido construída exclusivamente para realizar o translado. A carreta era puxada por doze juntas de bois, que caminhavam vagarosamente por uma estrada que foi pavimentada até o Riacho Bendegó. Iniciado o transporte, tudo ocorria como planejado. Porém, ao se deparar com a descida do leito do riacho Bendegó, a carreta ganhou velocidade, pois não tinha freios, e correu o morro abaixo desenfreadamente, indo parar dentro do leito do riacho junto com o meteorito. Com o fracasso, abandonaram a missão. Comunicado sobre a falha no transporte, D. Rodrigo enviou amostras do meteorito para Portugal. O fracasso arruinou o transporte do meteorito, mas foi ele que também permitiu que o Bendegó permanecesse no Brasil, pois talvez, este poderia ter sido levado para Portugal, ou até mesmo destruído em busca de metais preciosos. A notícia obviamente chegou a várias partes do mundo. Atraiu visitantes como A. F. Mornay em 1810, que suspeitou que a rocha poderia se tratar de um meteorito e foi até Monte Santo, onde encontrou o meteorito no mesmo lugar em que haviam deixado, e confirmou então a sua suspeita. Mornay recolheu algumas amostras, que foram enviadas a Wollaston, da Real Sociedade de Londres. Outros visitantes foram Spix e Martius, em 1820, estes recolheram cerca de 10 quilos dos fragmentos e espalharam por diversos museus ao redor do mundo. O meteorito que havia então caído no riacho, na tentativa de locomoção para Salvador, permaneceu lá por 102 anos, quando Dom Pedro II tomou conhecimento de que aquela pedra era um meteorito, e providenciou o seu transporte para o Rio de Janeiro. A remoção para o Rio teve apoio da Sociedade Brasileira de Geografia, e uma comissão foi criada para recuperar e dar início ao transporte do Bendegó. A comissão era formada pelo oficial 31 aposentado da Guerra do Paraguai, Sr. José Carlos de Carvalho, e por dois engenheiros. A remoção do meteorito iniciou-se em 7 de setembro de 1887. A comissão estudou e analisou o melhor trajeto para o transporte do meteorito até a estação férrea de Jacuricy. Embora o caminho escolhido fosse o mais curto, foi necessário reestruturar as estradas, que estavam em péssimas condições. Um relatório do transporte de Bendegó, juntamente com detalhes sobre a geografia local e as dificuldades enfrentadas, foi escrito pelo capitão Carvalho, em duas versões, inglês e português. Carvalho projetou uma carreta que se locomovia conforme as condições da estrada, com rodas de madeira para andar no solo e rodas metálicas para andar em trilhos. O transporte começou em 25 de novembro e até o dia 7 de dezembro havia andado apenas 17 quilômetros. O Rio Tocas foi o primeiro desafio a ser enfrentado na viagem. Com dois dias de chuva, o leito do rio encheu, atrapalhando o transporte e tornando o caminho escorregadio, o que ocasionou a queda do Bendegó em um rio, devido o descarrilamento da carreta. Trabalharam um dia sem parar para continuar a viagem. Porém, depois de superar esta dificuldade novos desafios apareceram, como grandes subidas inclinadas. Consta no relatório, que uma árvore, após ceder-se, fez com que rebentassem os cabos que ajudavam a subir uma árdua ladeira, fazendo com que o meteorito caísse novamente, mas agora, este descera até o meio da ladeira, segurando o carretão. Se o meteorito não tivesse segurado o carretão, este iria cair em uma grota profunda. Não pense que após esse processo todo o Bendegó chegou rapidamente no Rio de Janeiro, caiu mais sete vezes, interrompendo a viagem. Além disso, a viagem precisou parar por mais quatro vezes para substituir eixos que se romperam. Avançavam cerca de 900 metros por dia, para percorrer um trajeto de 113 Km, do ponto em que caiu pela primeira vez, no Riacho Bendegó, até a estação de Jacuricy. Depois de 116 dias, em 14 de maio de 1888 o meteorito chegou até a estação. Dois dias depois assentou-se o marco de chegada, denominado “Barão de Guahy”. Em seguida, o meteorito foi de trem até Salvador, onde chegou no dia 22 de maio. Lá foi pesado e constatou-se que tinha então 5,36 toneladas, ficou em exposição em Salvador por alguns dias, sendo que no dia 1 de junho embarcou para Recife e em seguida para o destino final. Chegou ao Rio de Janeiro apenas no dia 15 de junho e foi recebido pela Princesa Isabel e entregue ao Arsenal de Marinha da Corte. Nas oficinas do arsenal fizeram cortes para o estudo do Bendegó, que foi transportado para o Museu Nacional em 27 de novembro de 1888, onde se encontra até os dias de hoje. 5.2- Meteorito Angra dos Reis O meteorito caiu em janeiro de 1869, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, em frente à Igreja do Bonfim, na Praia Grande. A queda foi testemunhada por Joaquim Carlos Travassos e dois de seus escravos, que recuperaram dois fragmentos a cerca de 2 metros de profundidade. Um dos fragmentos ficou com o sogro de Travassos, que passou para as próximas gerações da família, e foi perdido, o outro foi doado para o Museu Nacional. Este chegou a ser furtado em 1997 por dois norte-americanos, Ronald Edward Farrelle e Frederick Marselli. Eles foram até o Museu Nacional com sua coleção de meteoritos para supostamente realizar uma troca de espécimes, o que é comum. Enquanto observavam os meteoritos brasileiros, furtaram o meteorito Angra dos Reis e colocaram uma réplica em seu lugar. O meteorito foi recuperado pela astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto, curadora de meteoritos no Museu Nacional, que percebeu que o Angra dos Reis legítimo havia sido trocado por uma réplica. Ronald Edward Farrelle e Frederick Marselli, já estavam no aeroporto, prontos para embarcar, quando a astrônoma impediu que eles deixassem o país levando o meteorito. 32 Com muita dificuldade ela convenceu os policiais federais a procurarem por eles, e depois de um bom tempo o meteorito foi encontrado em uma caixa, dentro de uma meia, em um sapato na mala, com a numeração, que o identifica, raspada. A tentativa de furto não foi por um motivo qualquer. O meteorito Angra dos Reis figura entre os mais raros do mundo, e é muito valioso. Ele deu origem à classe dos meteoritos Angritos, e por mais de cem anos permaneceu como o único meteorito deste tipo. Atualmente já existem 23 meteoritos angritos catalogados em todo o mundo, mas o Angra dos Reis se difere de todos eles, provavelmente porque é originado de um corpo parental diferente dos demais. Estudos revelam que o meteorito possui 4,56 bilhões de anos, logo tem um grande valor científico. O fragmento doado ao Museu Nacional tinha cerca de 446 gramas, mas hoje restam apenas 61 gramas deste meteorito, devido à utilização para pesquisas e doações. Por conta do encaixe dos dois fragmentos encontrados na época, especula-se que exista um terceiro fragmento do meteorito na baía. 5.3- Meteorito Ibitira O meteorito teve sua queda presenciada no dia 30 de junho de 1957, por volta das 17h, na Fazenda Monjolo, em Martinho Campos, próximo de Ibitira, Minas Gerais. Este meteorito possui uma interessante história pois foi recuperado graças a um programa de busca. Enquanto o astrônomo amador Sr. Salles Lemos dirigia-se para Belo Horizonte, avistou a passagem de um bólido seguindo para oeste. O bólido era avermelhando, tornando-se prateado; ouviu-se então um barulho semelhante a trovão e uma longa trilha de fumaça foi deixada no céu durante e após a sua passagem. Salles, sócio do Clube de Estudos Astronômicos César Lattes, hoje o CEAMIG, avisou o clube, que tomou diversas providências, como o envio de cartas circulares a todas as prefeituras municipais que estavam em um raio de 100 Km de Belo Horizonte e pedindo pelos jornais informações às pessoas que presenciaram o evento. Foram recebidas mais de trinta cartas com informações sobre o evento, o que foi crucial para determinar a trajetória real do bólido. Foram selecionadas 19 cartas para a realização de uma entrevista com o auxílio de instrumentos como mapas e bússolas, tendo todas as informações registradas. Depois de analisada as informações, as pesquisas foram direcionadas para a região de Martinho Campos, onde se presumia ter caído o meteorito. Determinou-se posteriormente que o local da queda era Ibitira, onde observadores locais relataram ter observado a explosão do bólido e a queda de fragmentos. Uma busca, sem sucesso, foi feita no campo com o intuito de encontrar os fragmentos do meteorito. Em 3 de agosto, em uma segunda tentativa, descobriram que um agricultor tinha achado um fragmento, que foi entregue a um farmacêutico local. O meteorito de 2,5 Kg foi recuperado em um buraco de 20 cm de diâmetro e 25 cm de profundidade. O meteorito que tinha uma crosta de fusão preta brilhante, típica de acondritos, apresentava vesículas no seu interior, o que o diferenciava de qualquer outro meteorito. Uma análise realizada pelo Instituto Tecnológico de Belo Horizonte não o classificou como meteorito. A publicação e reconhecimento foi dada em dezembro de 1957, no Meteoritical Bulletin de número 6. O Ibitira é um meteorito muito raro, apresentando muito valor para os estudos científicos e para colecionadores, por conta de suas diversas particularidades. 33 5.4- Meteorito Governador Valadares Não se sabe muito sobre o achado desse meteorito. Sabe-se que foi encontrado por um garimpeiro, por volta de 1958, próximo de Governador Valadares, Minas Gerais. Consta apenas um fragmento de 158 gramas, bem preservado, mostrando praticamente nenhum sinal de que tenha ficado exposto ao tempo, o que sugere que foi encontrado não muito tempo depois de sua queda. Possui crosta de fusão preta brilhante e vítrea, que cobre quase toda a sua superfície. O meteorito Governador Valadares é o único meteorito marciano encontrado no Brasil e é classificado como Nakhlito. 5.5- Meteorito Santa Catharina O meteorito Santa Catharina teria sido encontrado em 1875, na ilha de São Francisco do Sul. É considerado o meteorito com maior teor de níquel do mundo, com 66,5%. A princípio pensaram que se tratava de uma mina de níquel, e cerca de 25 toneladas foram exportadas para a Inglaterra, restando pouquíssimo material. O trecho abaixo, escrito por Orville Derby, diz respeito ao meteorito Santa Catharina: "Atribui-se a sua descoberta ao Sr. Manuel Gonçalves da Rosa, no ano de 1875, mas parece incrível que estando apenas 3 a 4 quilômetros distante de um centro populoso não fôsse conhecido antes pelo povo do lugar. O certo é que o Sr. Rosa, julgando ter uma mina de ferro, tirou concessão e por seu intermédio vieram amostras para a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde foram analisadas pelos Profs. Guignet e Osório de Almeida, que publicaram nos "Comptes Rendus" de 1876 uma notícia acompanhada por uma nota do Prof. Damour. No entanto, continuava a exploração do suposto depósito até esgotar o local, sendo, conforme me informou o próprio Sr. Rosa, o metal exportado para a Inglaterra onde foi fundido para extração do níquel. O mesmo senhor informa que o livro da Mesa de Rendas de São Francisco do Sul acusou a saída de 25 000 quilogramas. Era, portanto, a maior massa de ferro nativo cujo pêso tem sido verificado, pôsto que não era reunido em uma só massa. O maior bloco encontrado foi do pêso de cêrca de 2 250 quilogramas. Vários outros de menores dimensões, completaram o pêso total exportado do lugar. Infelizmente, êstes blocos foram reduzidos a fragmentos para facilitar o transporte e a maior parte foi fundida para extração do níquel antes de ser reconhecido o grande interêsse científico que se liga a êste ferro. Entretanto, acham-se conservadas amostras em quase tôdas as principais coleções de meteoritos". 5.6- Meteorito Vicência O meteorito Vicência é um dos meteoritos mais novos da coleção brasileira e possui uma interessante história. A queda do meteorito aconteceu no dia 21 de setembro de 2013, e foi presenciada pelo Sr. Adeilson, enquanto trabalhava em frente da sua marcenaria, em Borracha, distrito do município de Vicência, que fica a cerca de 120 Km de Recife, capital de Pernambuco. Por volta das 15h, Sr. Adeilson abaixou-se para pegar algo no chão, quando de repente escutou um barulho muito alto de alguma coisa que tinha acabado de cair bem próximo dele. Apesar de não saber ao certo o que tinha acontecido, ele logo notou uma pedra escura a menos de 1 metro dele. Um lado da “pedra” ainda estava quente, e o outro já frio. Muitos vizinhos que estavam em frente de suas casas presenciaram a queda do meteorito. Diferentemente do que muitos pensam, eles ouviram apenas o barulho do impacto do meteorito no solo, não avistando nenhuma bola de fogo no céu, o que é comum quando um observador está próximo do local da queda de um meteorito. Um ou dois vizinhos estavam no local exato da queda alguns minutos antes. 34 André Moutinho, grande colecionador de meteoritos, e a astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto, curadora de meteoritos no Museu Nacional, tomaram conhecimento sobre a queda do meteorito e foram até Borracha. Chegando lá, no dia 28, encontraram o Sr. Adeilson, que já estava famoso na vila pelas diversas entrevistas concedidas para portais de notícias, canais de TV e rádios locais. Felizmente, o meteorito ainda estava em suas mãos, apesar das várias ofertas de compra que foram negadas por ele, como a de um morador local que ofereceu uma moto em troca do meteorito. Eles procuraram por outros fragmentos do meteorito, apesar da grande dificuldade, já que as montanhas eram cobertas por plantações de cana de açúcar, ensinaram ainda os moradores locais a identificarem meteoritos, oferecendo uma recompensa para os que encontrassem. Tentaram também descobrir a direção do bólido, para traçar o campo de dispersão. Para isso, tentaram entrevistar moradores que estavam afastados da zona de impacto, no entanto, ninguém diz ter visto o bólido ou algum sinal de fumaça no céu no dia 21 de setembro. Apenas tiveram algumas pistas de que um ruído teria sido ouvido em uma cidade próxima. No dia seguinte, conversaram com o prefeito de Vicência, Maria Elizabeth disse que forneceria uma réplica do meteorito para cidade e voltaria para organizar uma exposição de meteoritos, se pudessem comprar o meteorito do Sr. Adeilson. Em seguida, voltaram para a casa do Sr. Adeilson, que aceitou vender o meteorito. O meteorito Vicência possui 1540 gramas, é um condrito ordinário do tipo LL3.2, o que o torna um meteorito raro, já que existem apenas mais três quedas na história de meteoritos deste tipo de condrito primitivo. Já foram feitas trocas deste meteorito com diversas instituições do mundo, entre elas: Universidade do Novo México, Universidade do Arizona, Museu Nacional- UFRJ, Universidade da Califórnia e Smithsonian Institution. O meteorito também foi destaque no artigo publicado pelo Meteoritics and Planetary Science, em junho de 2015: “The Vicência meteorite fall: A new unshocked (S1) weakly metamorphosed (3.2) LL chondrite”. 5.7- Outros meteoritos importantes O Brasil possui ainda outros meteoritos importantes, o Serra de Magé, que teve queda presenciada em 1983 e possui 1800 gramas, é um meteorito acondrito do tipo eucrito e possui crosta de fusão verde. O São João Nepomuceno é o segundo meteorito siderito rico em sílica, só existem dois meteoritos no mundo, incluindo ele, que fazem parte dos meteoritos siderofilos, classe que alguns pesquisadores classificam os meteoritos que apresentam uma matriz de ferro-níquel com minerais de bronzita e tridimita. O meteorito tem massa de 15,3 Kg e foi encontrado em 1960. 5.8- Quadro de informações gerais A lista a seguir apresenta o nome, ano (da queda ou achado), localidade, tipo e massa dos 69 meteoritos brasileiros catalogados oficialmente. Informações sobre a lista: -Os nomes destacados em cinza, são daqueles meteoritos que tiveram queda observada. -Na coluna do tipo do meteorito, se estiver destacado de amarelo, quer dizer que o meteorito é acondrito; de laranja, condrito; de azul, siderito e de verde, siderólito. -Os pontos “?” indicam que não há informação. 35 Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 NOME Angra dos Reis Avanhandava Balsas Barbacena Bendegó Blumenau Bocaiuva Cacilandia Campinorte Campos Sales Casimiro de Abreu Conquista Cratheús (1931) Cratheús (1950) Cruz Alta Faina Governador Valadares Ibitira Iguaraçu Indianópolis Ipiranga Ipitinga Itapicuru-Mirim Itapuranga Itutinga Lavras do Sul Macau Mafra Maria da Fé Marília Minas Gerais Minas Gerais (B) Morro do Rocio Nova Petrópolis Palmas de Monte Alto Pará de Minas Paracutu Parambu Paranaíba Patos de Minas (hexaedrito) Patos de Minas (octaedrito) Patrimônio Piedade do Bagre Pirapora ANO LOCAL TIPO MASSA 1869 1952 1974 1918 1784 1986 1965 ? 1992 1991 1947 1965 1914 1909 2008 2011 1958 1957 1977 1989 1972 1989 1879 ? 1960 1985 1836 1941 1987 1971 1888 2001 1928 1967 1954 1934 1980 1967 1956 1925 1925 1950 1922 1888 Rio de Janeiro São Paulo Maranhão Minas Gerais Bahia Santa Catarina Minas Gerais Brasil Goiás Ceará Rio de Janeiro Minas Gerais Ceará Ceará Rio Grande do Sul Goiás Minas Gerais Minas Gerais Paraná Minas Gerais Paraná Pará Maranhão Goiás Minas Gerais Rio Grande do Sul Rio Grande do Norte Santa Catarina Minas Gerais São Paulo Minas Gerais Minas Gerais Santa Catarina Rio Grande do Sul Bahia Minas Gerais Brasil Ceará Mato Grosso do Sul Minas Gerais Minas Gerais Minas Gerais Minas Gerais Minas Gerais Angrito H4 IIIAB Não agrupado IC IVA Não agrupado H6 Não agrupado L5 IIIAB H4 IVA IIC IIAB IAB complexo Nakhlito Eucrito H5 IIAB H6 H5 H5 IAB-MG IIIAB L5 H5 L3-4 IVA H4 L6 H4 H5 IIIAB IIIAB IVA IAB Complexo LL5 L6 IIAB IAB Complexo L6 Não agrupado IIAB 1500 G 9.33 KG 41 KG 9.03 KG 5.36 T ? 64 KG ? 2T 23.68 KG 25 KG 20.35 KG 27.5 KG 367 G 48 KG 440 G 158 G 2.5 KG 1200 G 14.85 KG 7 KG 7 KG 2.02 KG 628 KG 3.2 KG 1000 G 1500 G 600 G 18 KG 2.5 KG 1224 G 42.6 G 369 G 305 KG 97 KG 116.3 KG ? 2 KG 100 KG 32 KG 200 KG 2.12 KG 59 KG 6.18 KG 36 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 Pontes e Lacerda Porangaba Porto Alegre Putinga Quijingue Rio do Pires Rio Negro Sanclerlandia Santa Bárbara Santa Catharina Santa Luzia Santa Vitória do Palmar Santo Antônio do Descoberto São João Nepomuceno São José do Rio Preto Sapopema Serra de Magé Sete Lagoas Soledade Uberaba Uruaçu Varre-Sai Veríssimo Vicência Vitória da Conquista 2013 2015 2005 1937 1984 1991 1934 1971 1873 1875 1921 2003 2011 1960 1962 2010 1923 1908 1986 1903 1992 2010 1965 2013 2007 Mato Grosso São Paulo Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul Bahia Bahia Paraná Goiás Rio Grande do Sul Santa Catarina Goiás Rio Grande do Sul Goiás Minas Gerais São Paulo Paraná Pernambuco Minas Gerais Rio Grande do Sul Minas Gerais Goiás Rio de Janeiro Minas Gerais Pernambuco Bahia IIIAB L4 IIIE L6 Palasito L6 L4 IIIAB L4 IAB Complexo IIAB L3 IIAB IVA-an H4 IVA Eucrito H4 IAB-MG H5 IAB-MG L5 IIIAB LL3.2 IVA 224 G 976 G 200 KG 300 KG 59 KG 118 G 1310 G 279 KG 400 G 7T 1.92 T 50.4 KG 52.15 KG 15.3 KG 927 G 12 KG 1800 G 350 G 68 KG 40 KG 72.5 KG 2.5 KG 14 KG 1540 G 10.5 KG 37 6- CRATERAS METEORÍTICAS As crateras meteoríticas, ou crateras de impacto, são formadas quando um planeta ou satélite é atingido por grandes asteroides. Apenas meteoroides de até 10 toneladas são freados pela atmosfera terrestre; os asteroides maiores do que isto manterão parte da sua velocidade cósmica. Os corpos acima de 100 toneladas, por exemplo, mantêm 50% da sua velocidade cósmica. Observando a Lua com um telescópio ou binóculo é possível observar inúmeras crateras na superfície (a “face oculta” da Lua possui ainda mais crateras!), que são resultado do intenso bombardeio de meteoritos que o nosso satélite sofreu há bilhões de anos atrás. Mas crateras meteoríticas não ocorrem apenas na Lua, as sondas espaciais já mostraram que todos os planetas rochosos e satélites do Sistema Solar apresentam sinais de impacto de grandes asteroides. Atualmente, são conhecidas cerca de 200 crateras meteoríticas espalhadas pelo mundo. No entanto, a Terra, assim como a Lua, provavelmente sofreu no passado um grande bombardeio de meteoritos, mas as crateras desapareceram devido ao processo de erosão, vulcanismo e tectônica de placas. A descoberta da primeira cratera meteorítica na Terra aconteceu por volta de 1870, no Arizona, hoje conhecida como Cratera do Meteoro ou Cratera de Barringer. A princípio, acreditavase que a cratera era na verdade um vulcão extinto. Porém, existiam pedaços metálicos ao seu redor, que posteriormente foram identificados como meteoritos por um comerciante de minerais, que publicou um artigo descrevendo detalhadamente a cratera. Na década de 1920, Barringer supôs que existia um grande meteorito enterrado no fundo da cratera. Ele investiu muito dinheiro em busca do meteorito, mas não encontrou nada. Em geral, meteoritos com velocidade final de até 4 Km/s atingem o solo e produzem uma cratera com diâmetro superior ao do meteorito; fragmentos do meteorito e do solo serão lançados para todas as direções. Caso o meteorito tenha uma velocidade final superior a 4 Km/s, o que é possível apenas se ele tiver mais de 10 toneladas, nenhum fragmento do meteorito é encontrado no interior, por conta da explosão provocada. No entanto, vale ressaltar que o impacto causado por um meteorito quando atinge o solo dependerá de diversos fatores, como a velocidade, massa, tipo de solo em que ocorrerá a queda, resistência, etc. Cratera do Meteoro, ou Cratera de Barringer. Crédito: NASA. 38 O mapa a seguir traz as crateras meteoríticas descobertas em todo o mundo, as quais estão representadas pelos pontos vermelhos: Crédito: http://www.passc.net/EarthImpactDatabase/Worldmap.html Entre as maiores crateras meteoríticas do mundo, podemos destacar: NOME Vredefort Chicxulub Sudbury Popigai Acraman Manicouagan Morokweng Kara Beaverhead Tookoonooka Charlevoix Siljan Kara-Kul Montagnais Chesapeake Bay Mjolnir LOCALIDADE África do Sul Yucatán, México Ontário, Canadá Rússia Sul da Austrália Quebec, Canadá África do Sul Rússia Estados Unidos Austrália Canadá Suécia Tajiquistão Canadá Estados Unidos Mar de Barents DIÂMETRO IDADE (Ma) 160 Km 150 Km 130 Km 90 Km 90 Km 85 Km 70 Km 65 Km 60 Km 55 Km 54 Km 52 Km 52 Km 45 Km 40 Km 40 Km 2023 ± 4 64.98 ± 0.05 1850 ± 3 35.7 ± 0.2 ~590 214 ± 1 145 ± 0.8 70.3 ± 2.2 ~600 128 ± 5 342 ± 15 376.8 ± 1.7 <5 50.50 ± 0.76 35.3 ± 0.1 142 ± 2.6 39 6.1- Crateras meteoríticas no Brasil No Brasil já foram identificadas e comprovadas 6 crateras meteoríticas, as quais estão listadas na tabela abaixo: NOME Araguainha Colônia Riachão Ring Serra da Cangalha Vargeão Dome Vista Alegre IDADE LOCAL DIMENSÃO 254.7 +/- 2.5 Milhões de anos 5-36 Milhões de anos < 200 Milhões de anos < 300 Milhões de anos < 70 Milhões de anos < 65 Milhões de anos Mato Grosso São Paulo Maranhão Tocantins Santa Catarina Paraná 40 Km 3.6 Km 4.5 Km 12 Km 12 Km 9.5 Km As estrelas (em amarelo) no mapa abaixo representam as crateras meteoríticas brasileiras: Existem ainda algumas estruturas que não foram reconhecidas como crateras meteoríticas, algumas delas estão listadas abaixo: NOME São Miguel do Tapuio Piratininga Inajah Ubatuba Santa Maria IDADE Pré-abertura do Atlântico 117 +/- 17 (?) Pleistoceno (?) LOCAL Piauí São Paulo Pará São Paulo Piauí DIMENSÃO ~20 Km 12 Km 6 Km 1 Km 10 Km 40 7- ASTEROIDES Asteroides são corpos metálicos e rochosos que orbitam o Sol, não possuem atmosfera e são muito pequenos para serem considerados planetas. São conhecidos como “planetas secundários”, e dezenas de milhares deles estão localizados no Cinturão de Asteroides, entre as órbitas de Marte e Júpiter. Acredita-se que os asteroides sejam materiais primordiais que foram impedidos pela forte gravidade de Júpiter de se agregarem para a formação de um planeta, quando o Sistema Solar estava em formação, há 4,6 bilhões de anos. Estima-se que se todos os asteroides fossem comprimidos em uma única massa, seria formado um corpo de aproximadamente 1.500 quilômetros de diâmetro, o que é menor do que a Lua. O tamanho dos asteroides conhecidos varia de 1 metro a 1.000 quilômetros, como por exemplo Ceres, que possui cerca de 950 quilômetros de diâmetro. Aproximadamente 16 asteroides conhecidos possuem diâmetro igual ou superior a 240 quilômetros. Geralmente apresentam formato irregular, embora alguns sejam quase esféricos. A maior parte dos asteroides do Cinturão Principal possuem órbita elíptica e estável, levando de três a seis anos para completar uma volta em torno do Sol; realizam também movimento de rotação, muitas vezes bastante irregular. Mais de 150 asteroides são conhecidos por terem uma pequena lua, sendo que alguns apresentam duas luas. Existem ainda asteroides binários, ou seja, quando dois asteroides de tamanhos similares orbitam um ao outro. São divididos em três classes de composição: C, S e M. Eles são classificados de acordo com a refletividade, brilho intrínseco e composição. O tipo C, condrito, é o mais comum, representando mais de 75% dos asteroides. Possuem aparência escura e composição semelhante à do Sol, porém são pobres em hidrogênio, hélio e outros elementos voláteis. Os asteroides do tipo C orbitam regiões externas do cinturão principal e estão entre os objetos mais antigos do Sistema Solar. Os do tipo S apresentam composição mista, ferro e silicatos, são relativamente brilhantes e dominam o interior do cinturão principal. Por fim, os asteroides do tipo M, apresentam composição metálica e são relativamente brilhantes, habitam a região média do cinturão principal. Asteroide 243 Ida e sua lua, fotografados pela sonda Galileo. Crédito de imagem: NASA/JPL. 41 Os asteroides que possuem órbita que passa próxima da Terra são denominados NEOs (Near Earth Objects, do inglês) ou NEAs (Near Earth Asteroids, do inglês). Mais de 10.000 asteroides “NEOs” já foram identificados, cerca de 860 deles possuem mais de 1 Km de diâmetro, e mais de 1.400 são classificados como potencialmente perigosos, ou seja, aqueles que podem apresentar alguma ameaça para a Terra. O gráfico ao lado apresenta o número de asteroides próximos da Terra descobertos ao longo dos anos, de 1980 até junho de 2015. Em azul estão representados todos os asteroides descobertos próximos da Terra, e em vermelho, os grandes asteroides com órbita próxima da Terra que foram descobertos durante este período. Crédito: JPL / NASA. Ao lado, o número total de descobertas de asteroides próximos da Terra por tamanho. Crédito: JPL / NASA. Em 1999, em uma reunião em Turim, na Itália, sobre asteroides próximos da Terra, introduziu-se a Escala de Torino. A escala vai de 0 a 10 e é utilizada para quantificar o risco de um impacto de um determinado NEO. 42 SEM PERIGO (ZONA BRANCA) NORMAL (ZONA VERDE) MERECE ATENÇÃO DOS ASTRÔNOMOS (ZONA AMARELA) 0- A probabilidade de colisão é zero, ou muito próxima de zero. Se aplica também a pequenos objetos, como meteoros, que se queimam na atmosfera terrestre. 1- A chance de colisão é improvável e não merece a atenção e preocupação pública. Novos estudos e observações geralmente costumam fazer o objeto cair para nível 0. 2- Merece a atenção dos astrônomos, mas não há motivo para preocupação ou interesse público, a colisão é muito improvável. 3- Chance de 1% ou mais de colisão, com capacidade de destruição local. Requer atenção e interesse público se o impacto ocorrer em menos de uma década. No entanto, novos estudos podem fazer o objeto cair para nível 0. 4-Chance de 1% ou mais de colisão, com capacidade de devastação regional. Requer atenção e interesse público se o impacto ocorrer em menos de uma década. No entanto, novos estudos podem fazer o objeto cair para nível 0. 5- O impacto representa uma séria ameaça, podendo causar devastação regional. Atenção crítica por astrônomos, para determinar conclusivamente se a colisão irá acontecer. Pode ser concedido planejamento de contingência pelo governo, caso o impacto ocorra em menos de uma década. AMEAÇADOR (ZONA LARANJA) 6- Representa ameaça grave, mas ainda incerto de causar uma catástrofe global. Atenção crítica por astrônomos, para determinar conclusivamente se a colisão irá acontecer. Pode ser concedido planejamento de contingência pelo governo, caso o impacto ocorra em menos de uma década. 7- Ameaça sem precedentes, mas ainda incerto de catástrofe global. Para tal ameaça, requer planejamento de contingência internacional. 43 8- Colisão certa, capaz de destruição localizada se ocorrer em terra e possivelmente um tsunami se ocorrer no oceano. Tais eventos podem ocorrer, em média, entre 1.000 anos. COLISÃO CERTA (ZONA VERMELHA) 9- Colisão certa, capaz de devastação regional sem precedentes para um impacto em terra. Um grande tsunami pode ser provocado caso o impacto seja no oceano. Tais eventos ocorrem, em média, entre 10.000 a 100.000 anos. 10- Colisão certa, capaz de causar uma catástrofe climática global, que pode ameaçar o futuro da civilização. 7.1- O evento de Chelyabinsk No dia 15 de fevereiro de 2013, por volta das 9h20 (horário local), um grande meteoroide adentrou na atmosfera terrestre sobre a Rússia, formando um imenso bólido brilhante que cruzou o sul dos montes Urais, explodindo sobre a cidade de Chelyabinsk. A queda do meteorito deixou um imenso rastro de fumaça que podia ser visto a quilômetros da cidade. A onda de choque provocada pela explosão quebrou centenas de janelas, mais de 1.200 pessoas ficaram feridas, alarmes de carros dispararam, e telefones celulares tiveram o funcionamento afetado. Pelo menos 6 cidades da região foram afetadas. Ao entrar na atmosfera terrestre, o meteoroide tinha aproximadamente 10.000 toneladas e 17 metros de diâmetro, liberando 500 quilotons de energia, o que equivale a mais de 30 vezes a bomba de Hiroshima. A explosão foi detectada por sensores de infrassom em outros continentes e o bólido foi brilhante o suficiente para projetar sombras. Cerca de 100 Kg em fragmentos pesando menos de 1 g a 1,8 quilos foram encontrados. E em agosto do mesmo ano, mergulhadores encontraram a massa principal do meteorito no lago Chebarkul. O fragmento pesa 570 Kg e possui cerca de 1,5 metro de comprimento. No mesmo dia do evento, o asteroide 2012 DA14 passava bem próximo da Terra, no entanto a possibilidade de os dois eventos estarem relacionados foi descartada pelos cientistas. Alguns meses depois, pesquisadores da Universidade Complutense de Madrid, Carlos e Raul de la Fuente Marcos, por meio de simulações e estatísticas, concluíram que o meteorito que caiu em Chelyabinsk pode ser originário do asteroide 2011 E040. Na imagem ao lado, massa principal do meteorito Chelyabinsk, que tem massa de 570 Kg e está exposto no Chelyabinsk State Museum of Local History. Crédito de imagem: Andrey Yarantsev, Science/AAAS. 44 8- IDENTIFICANDO METEORITOS Para diferenciar um meteorito das demais rochas terrestres requer o conhecimento de algumas características típicas dos meteoritos. Vale ressaltar, que não existe uma característica específica que caracteriza claramente se uma rocha é ou não um meteorito, existem muitos minerais e rochas terrestres que são comumente confundidos com meteoritos (meteorwrongs). 8.1- Crosta de fusão Durante a passagem atmosférica as camadas externas do meteorito fundem-se e vaporizam, ao chegar na superfície é possível notar apenas uma fina camada (em geral de 1 a 2 mm) deste material fundido, denominado crosta de fusão. A crosta de fusão em geral é preta, mas pode apresentar outras colorações como cinza, marrom e verde. Todo meteorito recém caído irá apresentar uma crosta de fusão evidente, que com o passar do tempo em ambiente terrestre vai ficando mais clara e se perdendo. Na imagem¹ acima é possível notar a crosta de fusão escura se destacando do interior mais claro do meteorito condrito Avanhandava. 8.2- Forma indefinida Meteoritos não possuem uma forma definida, até mesmo porque antes de entrarem na atmosfera terrestre sofrem grandes alterações de formato devido as colisões cósmicas. Depois, quando penetram na atmosfera terrestre, sofrem os efeitos da ablação (queima) e geralmente fragmentação. Contudo, não são fininhos e compridos, nem redondinhos e polidos por fora, e raramente apresentam formatos aerodinâmicos. Na imagem² ao lado, uma massa do meteorito Henbury que lembra um pássaro. 8.3- Densidade Em geral, os meteoritos são um pouco ou muito mais pesados do que uma rocha terrestre de tamanho similar, já que a grande maioria apresenta ferro e níquel, variando apenas a quantidade em cada tipo de meteorito. Os metálicos são cerca de 3-4 vezes mais pesados do que uma rocha terrestre de tamanho similar, pois são basicamente constituídos por ferro e níquel, apresentando uma densidade de ~ 7 a 8 g/cm³. ¹ ² Crédito de imagens: Museu Nacional UFRJ. 45 8.4- Regmaglitos Em geral, os meteoritos apresentam sulcos e depressões na superfície (regmaglitos), que se assemelham com marcas de dedos deixadas em uma massa de modelar. Os regmaglitos são consequência da ablação (queima) durante a passagem atmosférica. Meteoritos que sofrem fragmentação no final do percurso de queda apresentam menos regmaglitos, como por exemplo os meteoritos rochosos. Já nos meteoritos metálicos essa característica costuma ser bem mais evidente. Note na imagem³ ao lado os diversos regmaglitos na superfície do meteorito siderito Pirapora. 8.5- Magnetismo Praticamente todos os meteoritos são atraídos por ímã, uma vez que a grande maioria deles possui ferro em sua composição; são raras as exceções de meteoritos que não apresentam essa propriedade. Nos meteoritos metálicos, obviamente, a atração é bem mais forte. Contudo, vale lembrar que nem toda pedra atraída por ímã é um meteorito. Existem inúmeras rochas terrestres que são atraídas por ímã. 8.6- Interior dos meteoritos Na grande parte das quedas (cerca de 86%) os meteoritos apresentam o interior mais claro, semelhante a cor de cimento, com pequenos pontos de ferrugem (amarronzados), por conta da oxidação em ambiente terrestre das partículas de ferro. Essas características, acima citadas, são válidas para a maioria dos meteoritos, que são os rochosos do tipo condrito. Nos meteoritos metálicos, segundo tipo básico mais 'popular', o interior apresenta-se completamente prateado como aço. Lembre-se ainda: o interior dos meteoritos é compacto, ou seja, sem vesículas (buracos) como uma esponja. 8.7- Presença de ferro e níquel Como já dito, a grande maioria dos meteoritos contém ferro e níquel. Quando lixados vão exibir o interior com pontinhos prateados (no caso da grande parte dos meteoritos rochosos), ou inteiramente prateado como aço (no caso dos meteoritos metálicos). A quantidade de pontinhos prateados nos meteoritos rochosos varia de acordo com a quantidade de ferro destes meteoritos. Nos meteoritos do tipo metálico, o interior será sempre prateado como aço. 46 Veja as imagens abaixo, uma fatia do meteorito Patrimônio, rochoso do tipo condrito, com pintinhas prateadas, e a outra uma fatia do meteorito Campo del Cielo, do tipo metálico, com o interior completamente prateado como aço. 8.8- Presença de côndrulos Como também já dito anteriormente, os meteoritos rochosos do tipo condrito são os mais abundantes. Uma das características deste tipo de meteorito são os côndrulos, esférulas ovais ou elipsoidais de minerais. Os côndrulos estão presentes apenas nos meteoritos do tipo condrito, sendo que alguns poucos meteoritos deste tipo não apresentam côndrulos. Em alguns tipos de condrito eles são muito bem definidos, como nos condritos do tipo 3. Nos condritos do tipo 4 já são bem definidos, e chegando nos condritos do tipo 6, os côndrulos são mal definidos. Na imagem acima, côndrulos definidos do meteorito Vicência (LL 3.2). Crédito: © André Moutinho, www.meteorito.com.br ¹ ² ³ Crédito de imagens: Museu Nacional http://www.museunacional.ufrj.br/exposicoes/geologia/exposicao/meteoritos 47 Exceções Existem alguns meteoritos que não apresentam as características apresentadas anteriormente (exceto a crosta de fusão, regmaglitos, forma indefinida). Estes meteoritos são bem raros e praticamente só são recuperados logo após a queda. Meteorwrongs Meteorwrongs são rochas que as pessoas pensam que são meteoritos, mas que na verdade não passam de pedregulhos terrestres. Nos laboratórios de análises de meteoritos, para cada mil rochas analisadas 99% não são meteoritos, mas sim rochas terrestres que por algum motivo foram confundidas com meteorito. O fluxograma abaixo (ref. M. Elizabeth Zucolotto) é um interessante meio que elimina a maioria destes meteorwrongs. Acha que tem um meteorito? Para ter valor e ser reconhecido oficialmente como meteorito, o mesmo precisa ser submetido a uma análise em um laboratório e então, ser autenticado, sendo que são poucos os laboratórios que fazem esse tipo de serviço em todo o mundo. No Brasil, o Museu Nacional faz esse tipo de trabalho. Logo, você deverá enviar uma amostra de pelo menos 30 gramas (ou 20% do suposto meteorito) para o Museu Nacional-UFRJ, cujo endereço segue no fluxograma acima. Depois do estudo do suposto meteorito pela Instituição, se for mesmo um meteorito, ele será submetido à aprovação junto ao Meteoritical Society (Sociedade Meteorítica). Este comitê, que se reúne algumas vezes no ano, analisa os pedidos de aprovação de nomes; ao ser aprovado, todas as informações do meteorito passam a constar na página do Meteoritical Bulletin. 48 9- DÚVIDAS FREQUENTES Onde os meteoritos tendem cair? Não existe nenhum lugar em que há uma tendência maior ou menor para um meteorito cair. Eles caem aleatoriamente na Terra, ou seja, podem cair em qualquer ponto da superfície e a qualquer momento. Na Antártida e nos desertos encontram-se mais meteoritos pelo fato de que nestes ambientes o intemperismo (processo que modifica as características dos meteoritos, dificultando a sua descoberta) ocorre de forma mais lenta. Também são ambientes em que um meteorito recém caído, por exemplo, se destaca facilmente devido a crosta de fusão. Quanto vale um meteorito? Muitos pensam que qualquer meteorito vale uma verdadeira fortuna, mas não é bem assim. Existem os que valem muito, e que consequentemente são mais raros (ex.: marcianos e lunares), mas em geral os outros meteoritos não são tão valiosos assim. O valor de um meteorito vai depender de diversos fatores, entre eles: aparência estética, tipo, raridade, peso, se ele é uma queda ou um achado, se ele foi catalogado junto ao Meteoritical Society, etc. Vale ressaltar também que os meteoritos não possuem uma cotação específica. Outro fator que influencia o valor do meteorito é o peso total, quanto mais se tem de um determinado meteorito, menor o preço. Por exemplo, um meteorito siderito de peso total 10 Kg vale mais do que um meteorito siderito de 2 t. Os meteoritos são radioativos? Não, os meteoritos não são radioativos. É legal a exportação ou importação de meteoritos? No Brasil não existe nenhuma legislação que proíba a exportação ou importação de meteoritos. Mas na Argentina, por exemplo, os meteoritos pertencem ao governo, sendo proibido o comércio de meteoritos. A exportação de meteoritos provenientes do Canadá, África do Sul, Namíbia e da Austrália é proibido, ou requer licença para isso. Alguém já foi atingido ou morto por um meteorito? Não existem relatos de mortes provocadas por meteoritos, pelo menos desde que foi reconhecido que meteoritos são extraterrestres. Mas um cachorro já morreu atingido por um meteorito marciano, em Nakhla, no Egito, em 1911. E vacas também já foram mortas em Macau, em 1836. Uma também já foi morta na Venezuela, em 1972. Em 2013, em Borracha (Pernambuco), um meteorito caiu a cerca de 1 metro de distância de um homem que estava trabalhando. Observei a passagem de um bólido, o meteorito caiu perto? Muito provavelmente não! Pois quando vemos um bólido desaparecer atrás de uma montanha, geralmente ele percorre muitos quilômetros adiante, pois estão em uma posição bem alta, entre 100 e 10 quilômetros de altitude. Quando o meteorito está caindo bem próximo do observador, ele não vê uma bola de fogo passando no céu! Onde posso encontrar um meteorito? O melhor lugar para se achar um meteorito é onde já se achou outro, nos chamados campos de dispersão. Os meteoritos explodem a uma altura de aproximadamente 10 quilômetros, depois caem em queda livre até a superfície, espalhando fragmentos ao longo da sua trajetória, denominada elipse de dispersão, que pode atingir quilômetros. Portanto, em um lugar que já foi encontrado um meteorito é possível encontrar outros fragmentos de tal queda. 49 Onde posso caçar meteoritos? Como já dito no item anterior, o melhor lugar para se achar um meteorito é onde já se achou outro, nos chamados campos de dispersão. Durante a queda, a cerca de 10 quilômetros da superfície, os meteoritos explodem, espalhando fragmentos no decorrer de sua trajetória em queda livre, formando as chamadas “elipses de dispersão”, que podem ter quilômetros de extensão. Os fragmentos maiores do meteorito caem na frente, e os menores atrás. Em um campo de dispersão podemos procurar por fragmentos de uma queda recente, o que é melhor já que não estarão intemperizados, ou de uma queda ou achado antigo. No entanto, como o Brasil possui poucos meteoritos conhecidos, existem poucos campos de dispersão (que se tem conhecimento). Para começar a caça aos meteoritos você deverá escolher o local, lembrando que se for procurar em algum campo de dispersão é necessário estudar um pouco sobre a história do meteorito e onde foi achado, vale lembrar que algumas áreas são bastante difíceis para se procurar por meteoritos. Pode ser importante buscar por informações históricas sobre a queda ou achado, assim como procurar por pessoas que possam ter alguma informação. Entre os equipamentos básicos que se deve levar, podemos citar: detector de metais, mapa, e ferramentas para fazer algumas escavações. Estude as características principais dos meteoritos para identificar possíveis “candidatos”. Lembre-se que meteoritos que tiveram sua queda recente irão apresentar uma fina crosta bem escura por fora, e se caíram há muito tempo estarão meio oxidados, a crosta de fusão pode ter sido completamente ou parcialmente perdida e/ou alterada, havendo mudanças na sua coloração, devido a ação do ambiente terrestre. Lembre-se ainda que a grande maioria dos meteoritos são atraídos por ímã, sendo que a atração é mais forte nos meteoritos metálicos, e em geral os meteoritos são um pouco ou muito mais densos do que uma rocha terrestre de tamanho similar (um meteorito metálico pesa cerca de 3-4 vezes mais que uma rocha terrestre). A forma mais comum de procurar por meteoritos é com o auxílio de um detector de metais. Apesar de ser mais usado para procurar meteoritos sideritos, é possível procurar por alguns condritos também. Divida a área de busca entre os membros que estão participando da caçada, para que ela possa ser explorada ao máximo, de modo que as pessoas não fiquem desorientadas passando sempre pelo mesmo local, e deixando de passar em outros. Um modo bem tradicional é fazer uma fileira de pessoas ligeiramente afastadas que vão andando e procurando em linha reta por possíveis meteoritos. 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS André Moutinho, meteorito Vicência. Disponível em: <http://www.meteorito.com.br/meteoritos.php?action=view&pg=207&ct=&idT=2> Acesso em 12 de agosto de 2015. Earth Impact Database. Disponível em: <http://www.passc.net/EarthImpactDatabase/> Acesso em 8 de agosto de 2015. IG, Meteorito atinge região central da Rússia e deixa quase mil feridos. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-02-15/meteorito-atinge-regiao-central-da-russia-edeixa-400-feridos.html> Acesso em 15 de agosto de 2015. M. Elizabeth Zucolotto, Brasil desconhece seus meteoritos. Disponível em <http://meteoritos.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=48:brasil-desconheceseus-meteoritos&catid=35:meteoritos-brasileiros&Itemid=54> Acesso em 2 de agosto de 2015. Meteoritos Brasil, identificação de meteoritos. Disponível em <http://meteoritosbrasil.weebly.com/identificaccedilatildeo.html> Acesso em 15 de agosto de 2015. NASA, Asteroids: overview. Disponível em: <http://solarsystem.nasa.gov/planets/profile.cfm?Object=Asteroids> Acesso em 15 de agosto de 2015. NASA, Cratering. Disponível em: <https://solarsystem.nasa.gov/deepimpact/science/cratering.cfm> Acesso em 13 de agosto de 2015. NASA, Meteors and meteorites overview. Disponível em: <https://solarsystem.nasa.gov/planets/profile.cfm?Object=Meteors> Acesso em 22 de julho de 2015. NASA, The Martian meteorite compendium. Disponível em <http://curator.jsc.nasa.gov/antmet/mmc/> Acesso em 26 de julho de 2015. NASA, The Torino impact hazard scale. Disponível em: <http://neo.jpl.nasa.gov/torino_scale.html> Acesso em 14 de agosto de 2015. NEO – JPL, Near Earth Object Program. Disponível em: <http://neo.jpl.nasa.gov/> Acesso em 15 de agosto de 2015. NORTON, Richard. Rocks from Space. 2.ed. Mountain Press Publishing Company, 1998. 447 p. The Meteoritical Society, Meteoritical Bulletin. Disponível em: <http://www.lpi.usra.edu/meteor/index.php> Acesso em 10 de julho de 2015. Sofia Moutinho, busca implacável. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2013/11/busca-implacavel> Acesso em 11 de agosto de 2015. ZUCOLOTTO, M. Elizabeth; FONSECA Ariadne C.; ANTONELLO Loiva L. Decifrando os meteoritos. 1.ed. Museu Nacional- Série Livros 52, 2013. 160 p. 51 HIGOR MARTINEZ OLIVEIRA Apaixonado por astronomia desde os 7 anos de idade, em 2011, com 13 anos, criou um blogue de astronomia para compartilhar informações gerais sobre a área. A partir de então, passou a dedicar-se aos estudos independentes em astronomia e um ano depois ganhava sua primeira medalha, de ouro, na OBA – Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, o que o motivou mais ainda. Tomou conhecimento sobre os meteoritos com a campanha “Tem um ET no seu quintal? ”, que contou com a distribuição de cartazes sobre o tema nas escolas participantes da OBA. Assim, criou um site para contribuir na divulgação e popularização da meteorítica no Brasil. De 2012 até 2014, foi premiado mais de 10 vezes em olimpíadas científicas. Entre os prêmios, 3 medalhas de ouro na Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas, 1 medalha de ouro e 1 de prata na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, 1 medalha de bronze na Mostra Brasileira de Foguetes e 3º colocado do Brasil, na categoria ensino médio, no Concurso de Astronomia para Estudantes do Laboratório Nacional de Astrofísica. Futuramente pretende se tornar astrônomo e se dedicar a pesquisas na área de astronomia planetária. Profª Valni Gonçalves, Astronauta Marcos Montes e Higor Martinez durante a participação na VI Jornada de Foguetes. 52