MACHADO, Maria Cristina Gomes. O decreto de Leôncio de Carvalho e os pareceres de Rui Barbosa em debate. A criação da escola para o povo no século XIX. In STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Camara(orgs.). Histórias e memórias da educação no Brasil, vol II: séculos XIX. Petrópolis, RJ: vozes, 2005. pp. 91 -103. INTRODUÇÃO 1. As intensas transformações na Europa no âmbito do desenvolvimento da grande indústria: período de crises do capitalismo. As repercussões dessas nos países do novo mundo: adequação às novas exigências do capitalismo imperialista e monopolista. 2. Ao Brasil impôs-se a necessidade de modernização: transformar e modificar a forma de trabalho, o que exigia modernizar a sociedade civil. O isso significava? O que destaca-se na duas últimas décadas do Império? O DEBATE SOBRE A CRIAÇÃO DA ESCOLA PARA O POVO 3. Vários projetos na Câmara dos Deputados. O que marca esses projetos? A condição de servir como modelo às províncias a partir do Município da Corte. Ainda sob a justificativa do Ato Adicional de 1834. 4. Os projetos do período: Paulino José Soares de Souza (1870); Antonio Candido Cunha Leitão(1873); João Alfredo Corrêa de Oliveira (1874); Leôncio de Carvalho [Decreto n. 7.247] (1879); Pareceres/projeto de Rui Barbosa (1882 – 1883), Almeida de Oliveira (1882): Barão de Mamoré (1886). Informações de Primitivo Moacyr, 1937). O que existe de comum entre eles: a concordância da urgência de implementação pelo Estado, inclusive assumindo a parte financeira; não implementação; e engavetamento. 5. A autora afirma que destacam-se a proposta Leôncio de Carvalho [Decreto n. 7.247] (1879) e os Pareceres/projeto de Rui Barbosa (1882 – 1883): urgência do investimento em instrução pública; e sua condição de abrangência. Em que se diferenciam dos outros projetos? Se na forma e no conteúdo, o que isso significa? A condição de Decreto – aplicação imediata em tudo aquilo que não dependesse de despesas orçamentárias. O segundo analisava detidamente o projeto de Carvalho. Quanto ao conteúdo: reformar desde o jardim de infância até o superior. Tratam da organização das escolas, dos conteúdos e dos métodos. 6. Por quê defesa do investimento em educação? Formação do eleitor, anunciando a futura universalização do voto. A demanda de educação dos libertos (amor ao trabalho – Analete Schelbauer, 1998). 7. Como foi realizada a abolição no Brasil? A preocupação da instrução dos libertos se apresenta já a partir da Lei do Ventre Livre (1871): trabalhador livre e pobre, e filhos de escravos. A lei determinava responsabilidade dos senhores de escravos. As dificuldades segundo Ina von Binzer (1994): a falta de mestres-escolas no interior. 8. O debate não era só político (Deputados), mas também civil, como indicam as atas dos Congressos Agrícolas do Rio de Janeiro e Recife em 1878: educação e treinamento para incorporação ao trabalho regular na cafeicultura. O DECRETO N. 7.247 DE LEÔNCIO DE CARVALHO DE 1879 9. O conteúdo do projeto: disposições que deveriam estar nos regulamentos da instrução primária e secundária, nos regulamentos dos exames preparatórios nas províncias; e nos estatutos das Faculdades de Direito e Medicina, e das escolas politécnicas. Cumprimento imediato a determinações e soluções que exigissem aumento de gastos, sendo as outras dependentes de discussão e aprovação dos Deputados. Da análise do projeto de LEÔNCIO DE CARVALHO pela Comissão de Instrução Pública na Câmara resultou os Pareceres/Projeto Rui Barbosa. 10. Por que a pressa de LEÔNCIO DE CARVALHO na implementação do projeto? A imposição da responsabilidade da Lei do Ventre livre (os libertos em idade escolar), o que se depreende da ausência da proibição do escravo frequentar a a escola, como aparecida na Reforma Couto Ferraz de 1854. (MOACYR, 1937). O que explica o silêncio de LEÔNCIO DE CARVALHO sobre o ingênuo (=criança escrava liberta)? Já considerava livre ou por pressão dos escravocratas. 11. A polêmica do Decreto: ensino livre (com inspeção oficial e responsabilidade de informações); frequência livre; abolição da obrigatoriedade do ensino religioso. 12. Por que LEÔNCIO DE CARVALHO defendeu em seu projeto a liberdade de ensino? Aumentar o número de escolas, estimular a livre concorrência e assim melhorar a qualidade de ensino. O significado da liberdade de ensino: abertura de escolas, pensamento e não interferência do Estado em matéria educacional (GONÇALVES, 2000). Ainda, “defesa dos princípios liberais nos negócios brasileiros” (combinação de política conservadora com preparação de uma sociedade baseada na liberdade individual). 13. A princípio da obrigatoriedade dos 7 aos 14 anos impunha a ampliação das vagas escolares, condicionada à distância da escola. Quem podia contratava um preceptor ou escola particular. As multas aos responsáveis obrigou o legislador a pensar solução para os meninos e meninas pobres, como por exemplo, o fornecimento de vestuário e material escolar. 14. Organização das escolas primárias: primeiro e segundo graus; co-educação dos sexos até os 10 anos; criação de caixa econômica escolar. 15. As disciplinas nas escolas primárias de primeiro grau (domínio de instrumentos culturais fundamentais da sociedade letrada) e de segundo grau (ciência e questões práticas e de trabalho) (ver página 96). 16. A previsão de Jardim de Infância para crianças de 3 a 7 anos, bibliotecas e museus pedagógicos, disposições do funcionamento das escolas. Criação de caixas escolares nos municípios (contribuições para aumentar as verbas da educação). Permitia ao Governo: subvenção a escolas particulares renomadas desde que atendessem meninos pobres; criação de cursos para adultos analfabetos, criação de escolas normais nas províncias; reconhecer diploma de escolas particulares que atendessem as disciplinas exigidas para o ensino superior; criação de escolas profissionais que respondessem às demandas das indústrias predominantes no Município da Corte e em cidades importantes das províncias. 17. Definia os conteúdos para as instituições de Ensino Superior, os requisitos para o corpo docente, salários e aposentadorias. Permitia a livre frequência. As exames eram livres da necessidade de matrícula. OS PARECERES/PROJETO DE RUI BARBOSA 18. A denominação do documento de Rui Barbosa: “Reforma do Ensino Secundário e Superior”, em 1882, “Reforma do Ensino Primário e várias Instituições Complementares da Instrução Pública”, de 1883. 19. Repúdio a tudo o que existia e reorganização total da escola segundo a exigências dos novos tempos. Demonstro a condição do ensino popular por meio das estatísticas. A alteração da situação caótica exigia a intervenção do Estado com financiamento e fiscalização. Defendia a criação do Ministério da Instrução Pública. Optou pelo controle da educação por parte do Estado, sobretudo, na emergência de se organizar nacionalmente o ensino em todos os níveis (orçamento e aos conteúdos fundamentais ao cultivo da inteligência humana). 20. Não identificou controle com monopólio. Entendeu fundamental a liberdade de ensino. Liberdade que favoreceu a Igreja Católica. Em que sentido? 21. Contrário à liberdade absoluta de ensino. Necessária a presença do Estado. 22. Liberdade para todas as crenças na promoção do ensino. O ensino oficial não deveria dificultar o ensino livre. Mas não é a solução. A solução está no papel do Estado, na escola estatal. Investimento em instrução no período: 1,99% do orçamento geral. 23. Ensino gratuito é condição da obrigatoriedade numa população que em sua maioria não entendia os benefícios da escolaridade. Ensino obrigatório com frequência obrigatória. 24. Determinou o fim do ensino religioso. O ensino religioso é de responsabilidade da família e da religião, e não deve ocupar lugar no horário das outras disciplinas. A escola pública não deveria fornecer o ensino religioso. Ao máximo seria abrir as portas para que outras fizessem e fora do horário escolar. 25. Propôs o “Métodos das Coisas”, mas discordo da forma como aparecia no Decreto LEÔNCIO DE CARVALHO: matéria em separado. 26. Os princípios da proposta de Rui Barbosa: gratuidade, obrigatoriedade e laicidade do ensino. O ensino das ciências físicas e naturais desde o jardim de infância. De que forma? O papel da escola: desenvolver no aluno o gosto pelo estudo e sua aplicação. Conteúdo escolar: ciência elementar; amor à pátria e ao trabalho. O método e o quadro de disciplinas explicam essas metas. 27. Outras defesas: criação de escolas normais, caixas econômicas escolares, higiene escolar (organização do prédio, da iluminação, mobília adequada, livros adequados, número adequado de alunos... Formar a criança para a sociedade e utilidade da pátria. Enfim, uma busca de “equilíbrio entre a formação humanística e científica). 28. O que aconteceu com a reforma LEÔNCIO DE CARVALHO e com os Pareceres/Reforma Rui Barbosa segundo Primitivo Moacyr? CONSIDERAÇÕES FINAIS 29. No Império a obrigatoriedade não foi implementada. Instrução permaneceu tarefa da família. O crescimento da demanda por escola e mobilização da sociedade pela alteração do processo produtivo (trabalho livre) e necessidade de construção de uma unidade nacional. Os novos contornos da sociedade com imigração. 30. A escola primária para o povo foi uma construção histórica em meio às lutas das contradições da sociedade brasileira. Os projetos representam momentos dessas lutas. A inspiração das reformas: as soluções dos países capitalistas mais avançados. 31. As contradições indicam a ausência de um contexto favorável à implantação da escola pública para o povo, condições que só se concretizaram na segunda metade do século XX. Que condições são essas?