UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – UFCSPA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA Cibele Silva Molski de Ávila Validação Cultural do Questionário Post–Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) para população brasileira. Porto Alegre 2014 Cibele Silva Molski de Ávila Validação Cultural do Questionário Post–Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) para população brasileira. Dissertação submetida ao Programa de PósGraduação em Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre como requisito para a obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Ajácio Bandeira de Mello Brandão Coorientadora: Profa. Dra. Rita Mattiello Porto Alegre 2014 Cibele Silva Molski de Ávila VALIDAÇÃO CULTURAL DO QUESTIONÁRIO POST–LIVER TRANSPLANT QUALITY OF LIFE (PLTQ) PARA POPULAÇÃO BRASILEIRA. Dissertação de Mestrado submetida à Comissão Julgadora do Programa de PósGraduação em Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Grau de Mestre em Medicina. Área de Concentração: Hepatologia. Aprovada em _______ de __________ de 2014. Banca examinadora: _______________________________________ Dr (a). ___________________________________ _______________________________________ Dr (a). ___________________________________ _______________________________________ Dr (a). ___________________________________ ______________________________________ Porto Alegre 2014 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus. Pelas pessoas que foram colocadas em meu caminho que me apoiaram e colaboraram para a realização desta dissertação; por superar os obstáculos a mim impostos; por não desistir quando tudo parecia impossível de se realizar. Aos meus pais, Orlando e Neiva, por todo amor que sempre me dedicaram, responsáveis por tantos ensinamentos. Muito obrigada por todo apoio, dedicação e incentivo. Ao meu marido, João Alexandre, meu companheiro e melhor amigo, obrigada pela paciência, compreensão e amor. A minha irmã Cíntia, que será sempre minha amiga. Ao meu orientador, Dr. Ajácio Bandeira de Mello Brandão, obrigada pela contribuição intelectual, estímulo contínuo, disponibilidade e atenção. A minha coorientadora, Dra. Rita Mattiello, obrigada pelo incentivo, paciência e dedicação. A minha colega e amiga, Renata Medeiros, pelo apoio, dedicação e contribuição nas coletas e organizações de dados. Aos funcionários do Programa de Pós- Graduação, em especial a Luciani Spencer, pelas palavras de otimismo, carinho e dedicação de sempre. A secretária do Ambulatório de Transplantes da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Jozi Sutil, pelo apoio e carinho dedicado nas longas manhãs de coleta de dados. Aos médicos do Grupo de Transplante Hepático coordenado pelo Dr. Guido Cantisani, pela paciência no aguardo das consultas e compreensão durante as entrevistas com os pacientes. Aos mestres e professores do Serviço de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre pelo convívio e aprendizado. Aos membros da banca que gentilmente aceitaram o convite para avaliar o trabalho. Em especial, agradeço a todos os pacientes que de maneira pronta e gentil aceitaram responder aos questionários propostos, tornando possível a realização deste trabalho. A todos aqueles que mesmo não sendo citados aqui fizeram ou fazem parte da minha vida e torcem ou contribuem para o meu progresso pessoal e profissional. RESUMO Objetivo: Validar o Questionário post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) na população brasileira. Pacientes e Métodos: A tradução e a adaptação cultural foram realizadas de acordo com as normas internacionais para validação de questionários. A validade foi mensurada mediante a validade convergente (correlações entre os domínios do pLTQ com aqueles do WHOQOL-Bref). A confiabilidade foi avaliada determinando-se a consistência interna (coeficiente α de Cronbach), sensibilidade à mudança (tamanho do efeito), reprodutibilidade (coeficiente de correlação intraclasse), e os efeitos teto e chão. Resultados: Foram avaliados 160 transplantados hepáticos, com média de idade de 56,9±10,4 anos, a maioria (62,5%) homens e transplantados por carcinoma hepatocelular (49,4%) atendida no ambulatório de hospital terciário no Sul do Brasil. Na etapa de tradução e de adaptação cultural, foram modificadas apenas duas questões. A média do escore total do pLTQ foi 5,58 ±0,9, com efeito mínimo/máximo < 20%. O coeficiente α de Cronbach para o escore total foi 0,91 (IC 95%: 0,89-0,93), variando de 0,51 a 0,77 nos domínios. A sensibilidade à mudança de 0,84 e reprodutibilidade foi de 0,90. A correlação entre os domínios do pLTQ e aqueles do WHOQOL-Bref foram aceitáveis (r=0,40). Para as dimensões semelhantes, as correlações entre WHOQOL-Bref e pLTQ foram estatisticamente significantes (p<0,001). Conclusão: A versão em Português do Brasil do pLTQ demonstrou bom desempenho psicométrico do instrumento, sugerindo que é uma ferramenta útil para uso no contexto cultural brasileiro. DESCRITORES: Qualidade de vida; Transplante Hepático; Estudos de validação. ABSTRACT Objective: To validate the questionnaire post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) in the Brazilian population. Patients and Methods: The translation and cultural adaptation were performed according to international standards for validation of questionnaires. The validity was measured by convergent validity (correlations between the domains of pLTQ with those of the WHOQOL-Bref). The reliability was evaluated by determining the internal consistency (Cronbach's coefficient α), sensitivity to change (effect size), reproducibility (coefficient of interclass correlation), and the ceiling and floor effects. Results: 160 liver transplanted patients were evaluated, with an age average between 56.9 ± 10.4 years, the majority (62.5%) men and transplanted for hepatocellular carcinoma (49.4%) attended in the outpatient clinic of a tertiary hospital in the South of Brazil. In the stage of translation and cultural adaptation were modified only two questions. The average of pLTQ was 5.58 ± 0.9 with minimum / maximum effect <20%. In the global scores the coefficient α of Cronbach for the total score was 0.91 (95% CI: 0.89-0.93), ranging 0.51 to 0.77 in the domains. The sensitivity to change of 0.84 and the reproducibility was 0.90. The correlation among the domains of pLTQ and those of the WHOQOL-Bref were acceptable (r = 0.40). For the similar dimensions, the correlations between WHOQOL-Bref and pLTQ were statistically significant (p <0.001). Conclusion: The Portuguese version from Brazil’s pLTQ demonstrated good psychometric performance of the instrument, suggesting it as a useful tool for using in the Brazilian cultural context. KEYWORDS: Quality of life; Liver Transplantation; Validation studies. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características Demográficas dos Transplantados Hepáticos ............................ 54 Tabela 2 - Características do Post Liver Transplant Quality of Life Questionnaire (pLTQ) na população Brasileira....................................................................................... 55 Tabela 3 - Correlação dos escores do questionário WHOQOL-Bref com o instrumento Post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ)....................................................... 56 LISTA DE ABREVIATURAS -C Coeficiente Alfa de Cronbach ABTO Associação Brasileira de Transplante de Órgãos CCEB Critério de Classes Econômicas Barsil CIC Coeficiente Intra-classe CLDQ Chronic Liver Disease Questionnaire EQ-5D Euro-QOL FPQ Ferrans and Powers Questionnaire IPAQ International Physical Activity Questionnaire LDQOL Liver Disease Quality of Life MELD Model for End-Stage Liver Disease NHP Nottingham Health Profile NIDDKQOL National Institute of Diabetes, Digestive and Kidney Diseases Liver Transplantation Questionnaire NIH National Institutes of Health OMS Organização Mundial da Saúde pLTQ post-Liver Transplant Quality of Life QV Qualidade de Vida QVRS Qualidade de Vida relacionada à Saúde SF-36 36-item Medical Outcomes Study, Short-Form General Health Survey SUS Sistema Único de Saúde TE tamanho do efeito TxEQ-D Transplant Effects Questionnaire TxH Transplante Hepático WHOQOL- Bref World Health Organization Quality of Life – Bref SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13 2 REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................................... 14 2.1 TRANSPLANTE HEPÁTICO.................................................................................. 14 2.1.1 Histórico........................................................................................................... 14 2.1.2 Sobrevida pós-transplante hepático ................................................................ 15 2.1.3 Qualidade de vida depois do transplante hepático.......................................... 16 2.1.4 Qualidade de Vida Relacionada à Saúde........................................................ 18 2.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS INSTRUMENTOS MEDIÇÃO QVRS................ 19 2.2.1 Processo de Tradução .................................................................................... 20 2.2.2 Propriedades Psicométricas ............................................................................ 20 2.2.2.1 Confiabilidade ........................................................................................... 21 2.2.2.2 Validade .................................................................................................... 21 2.2.2.2.1 Validade de Conteúdo ........................................................................ 21 2.2.2.2.2 Validade de Critério............................................................................ 22 2.2.2.2.3 Validade de Constructo ...................................................................... 22 2.3 QUESTIONÁRIOS GENÉRICOS & ESPECÍFICOS .............................................. 23 2.3.1 Instrumentos genéricos ................................................................................... 23 2.3.2 Instrumentos específicos................................................................................. 24 2.4 ADAPTAÇÃO CULTURAL ..................................................................................... 25 3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 28 4 OBJETIVOS ................................................................................................................. 29 4.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................ 29 4.2 OBJETIVO ESPECÍFICO....................................................................................... 29 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 30 6 ARTIGO EM PORTUGUÊS.......................................................................................... 37 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS ......................................................... 61 ANEXOS.......................................................................................................................... 62 ANEXO A - QUESTIONÁRIO “POST LIVER TRANSPLANT QUALITY OF LIFE” ............................................................................................................................ 63 ANEXO B - QUESTIONÁRIO SOBRE QUALIDADE DE VIDA APÓS TRANSPLANTE DE FÍGADO.................................................................................................................. 70 ANEXO C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO..................... 74 ANEXO D - WHOQOL ABREVIADO............................................................................ 75 ANEXO E - CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA BRASIL ........................ 78 ANEXO F - INQUÉRITO MUDANÇAS......................................................................... 81 ANEXO G - FICHA DE COLETA.................................................................................. 82 ANEXO H - CONTATO AUTORES .............................................................................. 85 13 1 INTRODUÇÃO O transplante hepático (TxH) fornece uma medida terapêutica definitiva para pacientes em estágio final de doença hepática1. Nas últimas décadas, tem ocorrido melhoras incrementais no paciente e na sobrevida do enxerto2. Devido a este aumento na sobrevida, a preocupação com a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) desses indivíduos passou a tornar-se essencial. A avaliação da qualidade de vida (QV) é uma ferramenta que auxilia no diagnóstico e na atenção global à saúde do indivíduo3. Atualmente, muitos esforços têm sido direcionados para avaliar o bem-estar geral, os aspectos sociais, físicos para uma melhor QVRS dos pacientes4. A QV fornece uma melhor medida do impacto de eventos sobre o bem-estar geral do paciente e pode auxiliar na avaliação do impacto do tratamento no dia a dia da vida de um paciente5,6. A aplicação dos instrumentos de medida de QVRS está limitado a alguns critérios que incluem: validade, fácil interpretação, formas alternativas, reprodutibilidade, capacidade de sofrer adaptação cultural e linguística7. Quando tais instrumentos são desenvolvidos em outros países que não o país no qual serão aplicados, a adequação do processo de validação (tradução para o idioma local e adaptação para uso no contexto cultural do país em questão) é tão importante quanto a seleção do instrumento8. As versões locais desses questionários devem ser equivalentes, linguística, avaliativa e operacionalmente, com as originais. Em transplantados hepáticos, não existe questionário específico validado para a população brasileira, somente para portadores de doenças hepáticas. Devido à ausência de questionário específico para avaliação de QV em transplantados hepáticos, estudos têm utilizado questionários genéricos e questionários específicos de doentes hepáticos crônicos7. Pesquisadores americanos desenvolveram um questionário específico para pacientes transplantados post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) 9. O instrumento demonstrou ser válido e consistente na população de origem. Apesar da sua importância clínica, o instrumento ainda não foi validado na população brasileira. 14 2 REVISÃO DA LITERATURA Nesta revisão, analisa-se, fundamentalmente, as consequências do TxH na QV dos pacientes e a necessidade de se dispor de um instrumento adequado para avaliá-la. Considerando que o objetivo do estudo foi o de validar, para o Português, instrumento norte-americano desenvolvido para avaliar a QV de transplantados hepáticos, revisaram-se, também, tópicos relacionados com as técnicas de validação de questionários. 2.1 TRANSPLANTE HEPÁTICO 2.1.1 Histórico O professor Thomas Starzl realizou os primeiros TxH, em humanos, na Universidade do Colorado em 1963, mas, apenas em 1967, conseguiu registrar sobrevida de um ano depois do procedimento. Nos anos subsequentes, relativamente poucos TxH foram realizados, sendo que a sobrevida em um ano era apenas em torno de 30% nos final dos anos 70 e início dos 80. Com a introdução da ciclosporina no TxH, uma droga imunossupressora até então empregada no transplante renal, os resultados do TxH passaram a ser significativamente melhores10. Os avanços registrados a partir de então motivaram o National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos a convocar, em 1983, uma reunião de consenso para discutir essa forma de tratamento. Na época, cerca de 500 TxH haviam sido realizados em centros norte-americanos e europeus. A conclusão do encontro foi a de que o TxH não deveria ser mais considerado um tratamento experimental e que poderia ser incorporado na prática médica11. Essa reunião iniciou a era moderna do TxH e resultou no estabelecimento de vários centros que passaram a realizar o procedimento em todo o mundo. A partir de então, foram registrados significativos 15 avanços nas técnicas cirúrgicas e anestésicas, nos cuidados intensivos, nos esquemas de imunossupressão, e na prevenção e no tratamento de infecções póstransplante, o que resultou em melhoras dos desfechos nos anos subsequentes10. Um outro marco na história do TxH foi registrado em 1987, quando Folkert Belzer, da Universidade de Wisconsin, apresentou uma nova solução de preservação de órgãos chamada, na época, de solução UW-Belzer. O grande avanço representado por esta solução foi a possibilidade de preservar o fígado por mais tempo que as soluções disponíveis, tornando, então, possível a utilização de um maior número de enxertos12. Na América Latina, o primeiro TxH, com sucesso, foi realizado no Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo, em 198513. No Rio Grande do Sul, o primeiro TxH em adultos foi realizado em 1991 pelo Grupo de Transplante Hepático da Santa Casa de Porto Alegre. Naturalmente, os anos iniciais do TxH foram destinados ao aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas, anestésicas, de cuidados intensivos e tratamento das complicações pós-operatórias, especialmente as infecções oportunistas. À medida que se estabeleceu um melhor controle dessas condições, outro foco de interesse surgiu concernente a estes pacientes: a QV após o transplante durante os anos de vida ganhos com o procedimento14. Portanto, nos dias atuais, o TxH é a medida terapêutica definitiva para pacientes em estágio final de doença hepática tendo dois grandes objetivos: prolongar a sobrevida e melhorar a QV1. 2.1.2 Sobrevida pós-transplante hepático Na Europa, em pacientes transplantados por doenças hepáticas crônicas (n=66.677), entre 1998-2012, a sobrevida em 5 e 10 anos foi de 74% e 64%, respectivamente15, enquanto que, nos Estados Unidos, a sobrevida atuarial em 5 anos, de pacientes transplantados entre 1997-2000 com doador falecido, foi de 65,1% (IC 95% 64,3%-65,8%)16. No Brasil, dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) apontam que, em 67% dos transplantes realizados, a sobrevida em quatro anos do paciente e do enxerto foi de 70% e de 68%, respectivamente17. Na experiência do Grupo de Transplante Hepático da Santa 16 Casa de Porto Alegre, com 436 pacientes transplantados com doador falecido, cerca de 61% dos pacientes sobreviveram, em média, 14,6 anos18. 2.1.3 Qualidade de vida depois do transplante hepático Paralelamente ao aumento na sobrevida dos transplantados hepáticos, a comunidade transplantadora passou a preocupar-se com a QVRS desses indivíduos, sendo importante lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade19. A avaliação da QV pode fornecer uma melhor medida das implicações de tais eventos sobre o bem-estar geral do paciente e auxiliar na avaliação do impacto do tratamento no dia a dia da vida de um transplantado5,6. Portanto, a avaliação da QV é uma ferramenta que auxilia no diagnóstico e na atenção global à saúde do indivíduo4. Na última década, o interesse na QV, depois do TxH, tem aumentado significativamente, o que pode ser ilustrado pelo fato do banco de dados MEDLINE identificar mais publicações utilizando os termos de busca “transplante hepático " e ''qualidade da vida", desde 2000, do que nas duas décadas anteriores. Instrumentos genéricos direcionados para QV têm sido utilizados para avaliação tanto em candidatos a TxH quanto em receptores20. Um estudo prospectivo mostrou que as limitações nas atividades dos pacientes devido a problemas de saúde física tendem a melhorar marcadamente após o primeiro ano de TxH21, enquanto que uma revisão apontou que pacientes que se submetem ao TxH recuperam sua capacidade de levar uma vida normal alguns meses após a cirurgia, mas às custas de seguir um tratamento imunossupressor para a vida toda e necessitar acompanhamento regular22,23. Adicionalmente, é importante que sigam uma dieta equilibrada e exercício físico regular para impedir, restringir ou atrasar potenciais complicações cardiovasculares, que influenciam o prognóstico a longo prazo22. No entanto, outros estudos observaram que, embora a QV e a função física melhorem após o transplante, 17 muitos pacientes permanecem com limitações, tais como fadiga, dificuldade em andar e incapacidade laboral21,24. Quando se compararam transplantados hepáticos que realizavam ou não atividade física regular antes do transplante, observou-se que os primeiros tinham uma QV melhor em relação aos que não a realizavam25. Estes dados levantam a questão sobre a inatividade causada por problemas de saúde concomitantes e viceversa, porque é indiscutível que muitas doenças crônicas (como, por exemplo, hipertensão arterial, diabete mellitus e/ou insuficiência cardíaca) resultam em redução da performance individual26. Certamente, a percepção total da QV aumenta após o TxH, mas permanece mais baixa em comparação à população em geral27. Outro estudo26 avaliou a QV e a atividade física em transplantados hepáticos em comparação com a população em geral. O estudo foi do tipo caso-controle e realizado por meio de dois questionários: 36-item Medical Outcomes Study, ShortForm General Health Survey (SF-36) para QV e International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) para estimar a atividade física. Os autores observaram que os transplantados hepáticos apresentaram QV e capacidade atividade física inferiores à população em geral. Portanto, o TxH possibilita a recuperação integral do estado de saúde, mas, em alguns pacientes, podem persistir problemas físicos e sociais. Assim, são importantes as intervenções destinadas a melhorar programas de reabilitação, apoio psicossocial normal e acompanhamento em todas as fases de tratamento a fim de dar aos pacientes uma vida mais satisfatória após o transplante26. As causas de inatividade após o TxH, comumente, são incapacidade física, desemprego e aposentadoria precoce28, mas o TxH bem sucedido permite a um número considerável de pacientes retornar à atividade laborativa, reassumindo suas funções sociais29. Recentemente, foi publicada revisão sistemática de publicações, a partir do início do milênio, com o objetivo de investigar a QV, em longo prazo, após o TxH em adultos, em comparação com pacientes em fase pré-operatória, com a população em geral e com outros tipos de transplantes30. As variáveis de QV foram: saúde física, saúde mental e funcional, trabalho e saúde sexual. Foram incluídos vinte e três estudos (5.402 pacientes). As conclusões foram muitas: a) a QV, depois do TxH, é superior em relação ao período pré-operatório em até 20 anos de pósoperatório; b) mais complicações pós-operatórias previram escores piores de QV, 18 especialmente nos domínios físicos; c) os benefícios nos domínios funcionais persistem a longo prazo, com a independência no autocuidado e na mobilidade; d) as taxas de emprego se recuperaram em curto prazo, mas declinam após 5 anos e se diferem significativamente entre as várias etiologias da doença hepática; e) a QV global melhora para níveis semelhantes ao da população em geral, mas a função física permanece pior; f) a participação em atividade física pós-transplante está associada à melhora dos resultados da QV nos receptores de TxH em comparação com a população em geral; e g) a melhora da QV é semelhante independente do órgão transplantado (pulmão, rim ou coração). A heterogeneidade entre os estudos não permitiu uma análise quantitativa. Observou-se que a taxa de sobrevida póstransplante foi de 51-92% até 10 anos e de 37-56% com 18 a 20 anos30. 2.1.4 Qualidade de Vida Relacionada à Saúde No contexto da prática clínica, o interesse pela QV está relacionado àqueles aspectos afetados pela doença ou tratamento, daí o termo “Qualidade de Vida relacionada à Saúde (QVRS)”. Estes aspectos podem incluir inclusive consequências indiretas da doença, como, por exemplo, o desemprego ou dificuldades financeiras31. A QVRS descreve as repercussões que a doença e seu tratamento ocasionam no estilo de vida, equilíbrio psicológico e grau de bem-estar do paciente, segundo ele mesmo julgue e valorize32. Também definida como o termo “valor atribuído à vida”, ponderado pelas deteriorações funcionais, as percepções e condições sociais que são induzidas pela doença, agravos, tratamentos e a organização política e econômica do sistema assistencial33. Tendo em vista a variabilidade do conceito, as escalas de QVRS incluem medidas de capacidade funcional, do estado de saúde, de bem-estar psicológico, de redes de apoio social, de satisfação e estado de ânimo de pacientes. Diversos instrumentos têm sido utilizados para mensurar a QVRS, a maioria deles desenvolvida, principalmente, na Europa e Estados Unidos. Em relação ao campo de aplicação, estes podem ser divididos em dois grandes grupos: genéricos e específicos31. Instrumentos genéricos são desenvolvidos com a finalidade de refletir 19 o impacto de uma doença sobre a vida do paciente, e podem ser aplicados a várias populações. Os instrumentos específicos, por sua vez, são capazes de avaliar de forma pontual determinados aspectos da QVRS, proporcionando uma maior sensibilidade na detecção de melhora ou piora do aspecto em estudo34,35. O resultado dos cuidados de saúde pode ser dividido em três categorias fundamentais: sobrevivência (quanto tempo as pessoas vivem), custo (quais os custos de intervenção) e QV (como as pessoas vivem). Enquanto QV é um resultado importante e estabelecido de cuidado de saúde36,37 – a sua medição em receptores de TxH não foi padronizada ou rigorosamente estudada. No entanto, a medição da QV tem a capacidade de obter ''uma apreciação completa do impacto da doença e do tratamento"36, dada a sua dependência em relação à perspectiva do paciente. A premissa de transplante de órgãos em geral e, em particular, do TxH, é a de devolver às pessoas um estado de saúde que lhes permita serem produtivas, com uma existência plena. Este é o enfoque principal da medida da QV20. 2.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS INSTRUMENTOS MEDIÇÃO QVRS A avaliação da QV pode ser feita por meio de duas abordagens básicas: por questionários genéricos ou por questionários específicos para a doença32,38,39. Quando o objetivo do estudo é avaliar a QV em geral, pode optar-se por um questionário genérico. Porém, caso o objetivo do estudo seja avaliar apenas a frequência, intensidade e duração dos sintomas de uma determinada doença, deve optar-se por um questionário específico. Quando o objetivo é avaliar a QVRS, é correto escolher um questionário multidimensional específico para a doença, que irá analisar outras dimensões além dos sintomas físicos, tais como o impacto sobre as atividades sociais, emocionais e/ou outras atividades diárias. A seleção do instrumento deve ser determinada pelo seu conteúdo e contexto de uso, já que não há ferramentas de avaliação únicas; deve ser procurado, portanto, aqueles que melhor se adequam à meta desejada, uma vez que cada instrumento tem as suas vantagens e suas desvantagens40. 20 O questionário quando traduzido e validado em outro idioma deve ter aplicação prática e geral, para poder ser aplicado, posteriormente, em diferentes locais, sem perder a suas características básicas41,42. 2.2.1 Processo de Tradução A primeira etapa de um processo de tradução formal de um instrumento envolve dois ou mais tradutores trabalhando separadamente ou em conjunto, para produzir uma versão consensual do questionário. Outra abordagem é o método de retrotradução ou tradução inversa, que também deve ser acordado, com a participação de, pelo menos, duas pessoas proficientes no idioma no qual o instrumento foi publicado, que tem o objetivo de traduzir o texto recém-traduzido para língua de origem e conferir a equivalência semântica43,44. Estudos de validação têm usados recomendações para tradução dos questionários44,45, que deverão ser sistematicamente seguidos40,43,46. O processo de tradução e retrotradução deve ter foco principal na avaliação da equivalência semântica40,47. É conveniente usar palavras mais adequadas, em uma maior amplitude de áreas geográficas e regiões culturais, pois, raramente, um instrumento será utilizado somente no país ou região cultural em que foi criado ou adaptado para uso40. 2.2.2 Propriedades Psicométricas A validação de um questionário também deve seguir etapas bem definidas, para que sua utilidade seja comprovada e segura para aplicação em pesquisa clínica, o que ocorre com a mensuração das propriedades avaliação clínica, chamada “propriedades psicométricas”, que tem por objetivo medir os constructos da QVRS48,49. Diferentes requisitos psicométricos devem ser abordados no processo de validação linguagem, tais como: confiabilidade e validade50. 21 2.2.2.1 Confiabilidade Confiabilidade é a primeira característica que um instrumento deve possuir. Refere-se ao grau em que a aplicação repetida de um instrumento em um mesmo sujeito produz resultados iguais, ou seja, indica a reprodutibilidade de uma medida51. A confiabilidade pode ser avaliada pela consistência interna, reprodutibilidade e validade discriminante. A validade pode ser avaliada pelo valor de conteúdo, de critério e de constructo48,49. A resposta à intervenção é considerada como uma propriedade distinta e separadas as propriedades psicométricas de validade e confiabilidade nos questionários de QV, para avaliar questões relacionadas com a sua sensibilidade32,52. 2.2.2.2 Validade A validade de um instrumento pode ser definida como a sua capacidade de realmente medir aquilo que se propõe a medir. Há três tipos principais de validade: de conteúdo, de critério e de constructo31. 2.2.2.2.1 Validade de Conteúdo Refere-se ao julgamento sobre se o instrumento realmente abrange os diferentes aspectos do seu objeto de medição e não contém elementos que possam ser atribuídos a outros objetos. Um instrumento deve ter representados todos os itens do domínio da variável que se deseja medir. Há duas maneiras de se avaliar a validade de conteúdo: a representatividade do conjunto de itens escolhidos e o tipo de construção usado para medir o conceito em questão53. 22 2.2.2.2.2 Validade de Critério Evidência que mostra a extensão na qual os escores de um instrumento são relacionados a uma medida de critério. Avalia-se o grau com que o instrumento discrimina sujeitos que diferem em determinada(s) característica(s) de acordo com um critério padrão31. 2.2.2.2.3 Validade de Constructo É a evidência de que uma interpretação proposta dos escores baseada no referencial teórico está associada ao constructo a ser mensurado. O método mais comum para se obter a validade de constructo inclui o exame de relações lógicas que poderiam existir com outras medidas e/ou padrão de escores para grupos conhecidos. Para medir a validade de constructo, pode-se utilizar: a evidência correlacional – estabelece em que grau o instrumento se correlacionará (validade convergente) ou não se correlacionará (validade divergente) com outros que medem o mesmo constructo, demonstrando que o instrumento é válido para avaliar o que se pretende. A validade convergente avalia a sensibilidade do instrumento, por meio das correlações do escore total com os domínios quantitativos e desses entre si. A validade divergente, a especificidade31,54. A elaboração de um instrumento de medida é um processo complexo e demorado. No entanto, temos disponível uma gama enorme de instrumentos, porém de origem europeia e/ou americana. Para utilizá-los, o pesquisador deve fazer, além da tradução, a adaptação cultural dessa medida, segundo um conjunto de etapas padronizadas para atingir a equivalência idiomática, cultural e conceitual, assim como avaliar as propriedades psicométricas do instrumento em questão55. 23 2.3 QUESTIONÁRIOS GENÉRICOS & ESPECÍFICOS Em doenças hepáticas crônicas, o instrumento de QV específico da doença avalia estado físico e mental do paciente relacionado a sintomas, tratamento e prognóstico da enfermidade em questão. As ferramentas comumente usadas na avaliação de QV são Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ)56, Liver Disease Quality of Life (LDQOL) 57 , Transplant Effects Questionnaire (TxEQ-D) 58 , Ferrans and Powers Questionnaire (FPQ)59 e National Institute of Diabetes, Digestive and Kidney Diseases Liver Transplantation Questionnaire (NIDDKQOL) 60. Instrumentos genéricos de QV, como Medical Outcomes Short Form-36 (SF-36) 61 , EuroQOL (EQ-5D)62 e Nottingham Health Profile (NHP)63, são utilizados para avaliar domínios amplos de QV. Avaliações de QV genéricas e específicas da doença em paralelo facilitam análise da QV global e quantitativa30. 2.3.1 Instrumentos genéricos São aqueles desenvolvidos com a finalidade de refletir o impacto de uma doença sobre a vida do paciente, e podem ser aplicados a várias populações. Podem avaliar o perfil de saúde e as medidas que indicam a preferência do paciente por determinado estado de saúde, tratamento ou intervenção. Os instrumentos genéricos são úteis para comparar a QVRS entre pacientes com diferentes doenças crônicas, ou mesmo para avaliar a QVRS de uma única população em relação a uma doença. Como são globais, eles podem não detectar situações importantes experimentadas por pacientes com doenças específicas a um mesmo grupo de pessoas depois de um momento34,35. Dentre os instrumentos genéricos, o SF-36 parece ser o mais utilizado para avaliar QV em receptores de TxH. O número de estudos longitudinais utilizando o SF-36 é limitado; no entanto, vários estudos têm demonstrado capacidade de resposta do instrumento para mudanças na saúde ao longo do tempo, por meio de melhorias nos escores após o transplante64,65,66. A capacidade do SF-36 para 24 detectar as diferenças consideráveis na área da saúde entre pacientes em fase terminal de doença hepática e receptores de transplante ainda deixa dúvidas sobre a sensibilidade do SF-36 para detectar pequenas alterações ao longo do tempo. Além disso, a medição com o SF-36 não identificou diferenças significativas na QV em pacientes transplantados que permanecem com cuidados intensivos prolongados ou necessidade de hemodiálise em comparação com aqueles com recuperação e sem complicações67. Da mesma forma, outros estudos demonstraram a falta de correlação entre a QV medido em pacientes que aguardam o transplante e a gravidade da doença hepática avaliada pelo escore de gravidade Model for EndStage Liver Disease (MELD)5,69. Estes resultados destacam possíveis deficiências no SF-36 para capturar os aspectos relevantes da saúde e específicos para o TxH20. 2.3.2 Instrumentos específicos Os instrumentos específicos, por sua vez, são capazes de avaliar de forma pontual determinados aspectos da QVRS, proporcionando uma maior sensibilidade na detecção de melhora ou piora do aspecto em estudo34,35. No Brasil, de nosso conhecimento, não existe um questionário validado para avaliar QV em transplantados hepáticos, somente para portadores de doenças hepáticas. Assim, para avaliar a QV depois do TxH, os pesquisadores têm utilizado questionários genéricos69,70. Nenhum dos instrumentos atuais desenvolvidos para esse público em específico aborda aspectos-chave para pacientes transplantados, incluindo questões relacionadas como queixas pós-cirúrgicas, dor na ferida operatória, formação de hérnia, cicatrizes e desfiguração. Além disso, os pacientes podem experimentar estresses relacionados a preocupações com eventuais complicações associadas da anestesia geral, o próprio processo ou preocupações com a transmissão de doenças por meio do doador. Receptores de TxH também podem ter ansiedade relacionada à falência do enxerto, aguda ou crônica. O risco de câncer, infecções oportunistas, outros efeitos colaterais de agentes imunossupressores (por exemplo, surgimento de 25 diabetes mellitus), e o risco de recorrência da doença de fígado primária são outras preocupações altamente relevantes20. Além disso, o panorama das possíveis complicações mudou ao longo do tempo devido ao aumento na utilização de enxertos com critérios expandidos, ou seja, enxertos que, anteriormente, não eram considerados adequados para uso, mas que, em face da discrepância entre o número de candidatos sobrepujar muito o de doadores, têm sido empregados. Por exemplo, os transplantes intervivos, bem como doação após morte cardíaca, estão associados com o aumento das taxas de complicações biliares, o que pode resultar em efeitos negativos significativos sobre a QV71. Em um certo sentido, o TxH tornou-se vítima de seu próprio sucesso, resultando em uma maior demanda no contexto de uma limitada oferta de doadores de órgãos adequados. Como consequência dessa discrepância crescente, os receptores mais doentes estão a receber enxertos com critérios expandidos, definidos, genericamente, como enxertos de qualidade intrínseca inferior72,73,74. Embora o uso de enxertos com critérios expandidos em pacientes mais doentes possam se associar com taxas de sobrevida aceitáveis, muitos desses pacientes necessitam de retransplante ou sobrevivem com complicações crônicas – portanto, com QV diminuída. Além disso, preditores de risco em pacientes transplantados, incluindo a etiologia da doença hepática, idade do receptor e associado a comorbidades têm mudado ao longo das últimas duas décadas. Como o campo da transplantação continua a evoluir, resultados de QV relatados pelo paciente precisam ser sensíveis às consequências de diferentes tipos de enxerto, fatores técnicos e cirúrgicos, em tratamento com imunossupressores e características de receptores que podem afetar a sobrevida20. 2.4 ADAPTAÇÃO CULTURAL Historicamente, a adaptação de instrumentos elaborados em uma outra cultura e/ou idioma se detinha à simples tradução do original ou, excepcionalmente, à comparação literal desta com uma retradução. Há algum tempo, sugere-se que a avaliação semântica constitua apenas um dos passos necessários ao processo de adaptação cultural8,44. Recomenda-se que o processo seja uma combinação entre 26 um componente de tradução literal de palavras e frases de um idioma ao outro, e um processo meticuloso de sintonização que contemple o contexto cultural e estilo de vida da população-alvo da versão47,75. A medição da QVRS, com frequência, pressupõe a utilização de um questionário desenvolvido originalmente em outro contexto cultural. Nesse caso, é necessário adaptar o instrumento a língua ou cultura em que pretenda utilizá-lo, mediante um processo de adaptação cujo objetivo principal deve ser o de preservar o conteúdo semântico no uso habitual da linguagem da nova tradução, atingindo, assim, uma equivalência de significados dos questionários em ambas culturas76. A adaptação cultural é o processo no qual produz um instrumento equivalente adaptado para outra cultura40. Portanto, é diferente de tradução, que é um processo simples. A tradução não demonstra o significado no contexto. A adaptação cultural pode significar, às vezes, mudanças na estruturação dos itens no questionário e na modelagem, próprios domínios para preservar as hipóteses dos constructos76. A proposta de Herdman et al.77 na área de desenvolvimento de instrumentos de aferição sobre QV se alicerça em uma interessante revisão sobre o tema, na qual os autores identificam a pletora terminológica encontrada na literatura e a confusão que a consequente superposição gera entre os pesquisadores da área7. No primeiro de dois importantes artigos, também apontam quatro perspectivas que tendem a reger os programas de investigação de adaptação cultural7. A primeira, denominada ”ingênua” (naive), se baseia apenas no processo de tradução simples e informal do instrumento original. A segunda, denominada “relativista”, afirma a impossibilidade do uso de instrumentos padronizados em diferentes culturas e propõe que somente aqueles concebidos localmente devam ser utilizados. Nesse caso, a noção de equivalência não é pertinente e, por extensão, a possibilidade de interlocução. A terceira perspectiva, cunhada de “absolutista”, assume que a cultura tem um impacto mínimo nos constructos a serem mensurados e que estes são invariantes em diferentes contextos. Em termos metodológicos, a ênfase é toda no processo de tradução e retradução do instrumento. A última perspectiva, denominada “universalista”, não assume a priori que os constructos são os mesmos em diferentes culturas. Nesse sentido, é necessário primeiro investigar se um conceito efetivamente existe ou se é interpretado similarmente na nova cultura, para, depois, se estabelecer sua equivalência cultural por meio de metodologia própria47. 27 Posteriormente, Herdman et al.77 propõem um roteiro básico. Assumindo a postura ”universalista”, apresentam um modelo de avaliação do processo de adaptação cultural que abrange a apreciação de equivalência entre o instrumento original e aquele a ser adaptado. Definições e detalhes são oferecidos a respeito de seis tipos, a saber, equivalência conceitual, de item, semântica, operacional, de mensuração e funcional47. 28 3 JUSTIFICATIVA Em números absolutos, o Brasil é um dos países que mais realiza TxH em adultos, a maioria deles custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em consequência, há um importante contingente de pessoas vivendo com um fígado transplantado, dos quais ainda desconhecemos a QV, um dos objetivos do procedimento. Tal lacuna deve-se ao fato de inexistirem instrumentos adequados, confiáveis e de fácil aplicação. Pesquisadores norte-americanos desenvolveram um questionário específico para pacientes transplantados, denominado post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ)9, que demonstrou ser válido e consistente na população de origem, mas ainda não validado na população brasileira. Portanto, justifica-se realizar a validação linguística e adaptação cultural do questionário “postLiver Transplant Quality of Life (pLTQ)” em um grupo representativo de transplantados hepáticos para uso em nosso meio. 29 4 OBJETIVOS 4.1 OBJETIVO GERAL Realizar adaptação cultural para Língua Portuguesa do Questionário postLiver Transplant Quality of Life (pLTQ) em um grupo representativo de pacientes adultos transplantados hepáticos na população brasileira. 4.2 OBJETIVO ESPECÍFICO Avaliar o desempenho no questionário de qualidade de vida em pacientes transplantados hepáticos realizado por diferentes etiologias de hepatopatia e com diferentes graus de insuficiência hepática por meio das propriedades psicométricas. 30 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Neuberguer J. What is the real gain after liver transplantation? Liver Transplant. 2009:15 (Suppl 2):S1-S5. 2. Roberts MS, Angus DC, Bryce CL, Valenta Z, Weissfeld L. 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Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, Brasil 2. Instituto de Pesquisas Biomédicas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil 3. Grupo de Transplante Hepático do Complexo Hospitalar da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, Brasil Autoria Cibele Molski: coleta de dados, análise de dados/interpretação, desenho do artigo, revisão crítica do artigo Rita Mattiello: concepção/desenho, análise de dados, revisão crítica do artigo Ajácio Brandão: concepção/desenho do artigo, análise de dados/interpretação, revisão crítica do artigo Palavras-chaves: Qualidade de vida; Transplante Hepático; Estudos de validação. Correspondência: Ajácio Brandão Rua Eng. Álvaro Nunes Pereira 400, apto 402 Porto Alegre, CEP 90570-110, RS, Brasil Telephone: + 555132253682 Fax: + 555132253682 E-mail: [email protected] Conflitos de Interesse Os Autores declaram não haver conflito de interesses. 39 RESUMO Objetivo: Validar o Questionário post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) na população brasileira. Pacientes e Métodos: A tradução e a adaptação cultural foram realizadas de acordo com as normas internacionais para validação de questionários. A validade foi mensurada mediante a validade convergente (correlações entre os domínios do pLTQ com aqueles do WHOQOL-Bref). A confiabilidade foi avaliada determinando-se a consistência interna (coeficiente α de Cronbach), sensibilidade à mudança (tamanho do efeito), reprodutibilidade (coeficiente de correlação intraclasse), e os efeitos teto e chão. Resultados: Foram avaliados 160 transplantados hepáticos, com média de idade de 56,9±10,4 anos, a maioria (62,5%) homens e transplantados por carcinoma hepatocelular (49,4%) atendida no ambulatório de hospital terciário no Sul do Brasil. Na etapa de tradução e de adaptação cultural, foram modificadas apenas duas questões. A média do escore total do pLTQ foi 5,58 ±0,9, com efeito mínimo/máximo < 20%. O coeficiente α de Cronbach para o escore total foi 0,91 (IC 95%: 0,89-0,93), variando de 0,51 a 0,77 nos domínios. A sensibilidade à mudança de 0,84 e reprodutibilidade foi de 0,90. A correlação entre os domínios do pLTQ e aqueles do WHOQOL-Bref foram aceitáveis (r=0,40). Para as dimensões semelhantes, as correlações entre WHOQOL-Bref e pLTQ foram estatisticamente significantes (p<0,001). Conclusão: A versão em Português do Brasil do pLTQ demonstrou bom desempenho psicométrico do instrumento, sugerindo que é uma ferramenta útil para uso no contexto cultural brasileiro. DESCRITORES: Qualidade de vida; Transplante Hepático; Estudos de validação. 40 INTRODUÇÃO O transplante hepático (TxH) é uma opção terapêutica eficaz para pacientes em estágio final de doença hepática1, sendo que, nos Estados Unidos, por exemplo, são feitos, aproximadamente, 6000 transplantes2 cada ano e, no Brasil, em torno de 17003. Estudos reportam sobrevida de 73%-75%4,5 em 5 anos, de 68%-72% em 106,7, e de 48%-56% em 18 anos7,8. Portanto, há um aumento na população de transplantados hepáticos, que requerem acompanhamento – em junho de 2011, havia, nos Estados Unidos, aproximadamente, 63.000 transplantados hepáticos vivos9. Contudo, é importante considerar que os pacientes submetidos a TxH requerem cuidados permanentes, muito em razão de complicações clínicas que costumam ocorrer depois do procedimento10. À medida que a sobrevida e os aspectos clínicos relacionados ao Tx apresentaram melhoras expressivas, o foco de atenção passou a ser, também, a qualidade de vida (QV), defininda pelo Organização Mundial da Saúde (OMS)11 como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade” e, principalmente, a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), que descreve as repercussões que a doença e seu tratamento ocasionam no estilo de vida, equilíbrio psicológico e grau de bem estar do paciente segundo ele mesmo julgue e valorize12. Revisões sistemáticas e metanálises, avaliando pacientes transplantados hepáticos a curto e longo prazo, mostraram que, em geral, o procedimento melhora a QVRS13-15. Entretanto, até recentemente, inexistia um questionário específico para avaliar a QVRS disponível em pacientes transplantados hepáticos. Com este objetivo, Saab e cols. desenvolveram, nos Estados Unidos, o post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ)16, que demonstrou ser instrumento válido e consistente para avaliação da QVRS na população de origem. A aplicação dos instrumentos de medida de QVRS está limitada à validade e à confiabilidade do questionário nas diferentes populações17. Quando desenvolvidos em outros países que não o país no qual serão aplicados, a adequação do processo de validação (tradução para o idioma local e adaptação para uso no contexto cultural do país em questão) é fundamental18. 41 O objetivo desse estudo foi traduzir para o Português do Brasil o pLTQ desenvolvido nos Estados Unidos16, adaptá-lo à realidade brasileira e validá-lo em uma coorte de pacientes submetidos a TxH, em um centro de referência no Sul do Brasil. PACIENTES E MÉTODOS Pacientes Entre setembro 2012 a janeiro de 2013, incluiu-se uma amostra de conveniência de transplantados hepáticos, com idade superior a 18 anos, atendidos no ambulatório do Serviço de Transplante Hepático da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Foram excluídos da análise pacientes com incapacidade cognitiva, submetidos a transplante duplo fígado-rim e ou em tratamento de infecção pelo vírus da hepatite C. Questionários O post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) é um instrumento relativamente rápido e de fácil aplicação. Avalia fatores específicos para os pacientes submetidos a TxH, considerando sintomas, humor, comprometimento das atividades vida diária, nível de energia e cuidados com o transplante que podem afetar a vida desses indivíduos. É constituído por 32 questões, distribuídas em oito domínios, sendo a resposta em forma de escala de Likert de 7 pontos: de 1 (todo tempo) a 7 (nunca). O pLTQ apresenta um escore por domínio e um total, com caráter multidimensional, avaliando a percepção geral da QV após TxH. O escore em cada domínio é obtido pela soma das respostas e dividido pelo número de questões compreendidas. O escore total é obtido pela soma dos domínios e dividido pelo número de itens 16. 42 WHOQOL-Bref, um questionário que avalia a QV versão resumida, composto por 26 questões, subdivididas em quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente, e já validado em Português19. Processo de tradução e validação O estudo foi realizado em duas etapas: validação linguística do post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ)16 e a avaliação das propriedades psicométricas. Validação Linguística A tradução e adaptação cultural foram realizadas conforme as recomendações internacionais para validação de questionários de acordo com a seguinte sequência20: 1) Tradução inicial: os itens da versão em Inglês do pLTQ foram traduzidos para a Língua Portuguesa do Brasil por dois profissionais da saúde, bilíngues, independentes e cientes do objetivo desta pesquisa, que realizaram uma tradução conceitual e não estritamente literária. As traduções foram comparadas pelos tradutores e por um dos autores originais do questionário, sendo constituída uma tradução consensual; 2) Avaliação da tradução por retrotradução: a tradução consensual para o Português foi vertida para o Inglês por dois tradutores bilíngues, independentes, cientes do objetivo da pesquisa e diferentes dos dois anteriores. Posteriormente, foi realizada a comparação dessas versões com o instrumento original em Inglês e as avaliações da tradução indicaram equivalência e reconciliação dos itens, com equivalência semântica entre as traduções; 3) Avaliação da equivalência cultural (piloto/pré-teste): com finalidade de identificar as questões eventualmente não compreendidas por nossa população, a versão final da tradução do instrumento foi aplicada em 10 participantes (estudo piloto). 43 Validação psicométrica As propriedades psicométricas estudadas foram validade e a confiabilidade. A validade foi avaliada pela validade convergente, avaliando se os domínios mensurados no pLTQ correlacionavam-se bem com os domínios equivalentes do WHOQOL-Bref. A validade do pLTQ foi avaliada determinando-se: correlações específicas entre os itens, total e por domínios. A confiabilidade foi avaliada determinando-se: a) consistência interna utilizando-se coeficiente alfa de Cronbach [α – C]); b) a sensibilidade à mudança (se o instrumento é capaz de identificar diferenças na QV entre as entrevistas, medindose o tamanho do efeito [TE]); c) reprodutibilidade (se o instrumento produz resultados similares, assumindo-se que as condições são as mesmas, medindo-se a correlação intraclasses [IC])21; d) e os efeitos teto e chão. A consistência interna foi avaliada em todo o grupo, porém a sensibilidade e reprodutibilidade dependeram das respostas do Inquérito de Mudanças (InM). No grupo “Mudaram”, calculou-se o TE, enquanto que, no grupo “Não Mudaram”, calculou-se o CIC. Também estimou-se a proporção de participantes com os escores maiores e menores (efeitos teto e chão) para estabelecer o poder discriminatório do instrumento22. Este valor deve ser < 15%23-25. A aplicação dos instrumentos, quando os pacientes vinham ao ambulatório para suas consultas clínicas habituais, foi realizada por meio de entrevista, efetivada por dois pesquisadores previamente treinados para a sua aplicação. A reavaliação ou reteste consistiu na aplicação do questionário em duas ocasiões com um intervalo médio de um mês entre os dois. Na ocasião, era realizada uma avaliação clínica e subjetiva com a autoavaliação do nível de saúde e QVRS, utilizando-se a escala Likert de cinco pontos, chamada de Inquérito de Mudanças (InM), para avaliar a mudança geral entre as duas consultas. Para análise, os pacientes foram divididos em dois subgrupos: “com mudanças” (indicaram melhora ou piora entre as duas consultas) e “sem mudanças” (não percebem mudanças). Dessa forma, foi possível verificar a sensibilidade a mudanças e a reprodutibilidade do pLTQ. Foram 44 considerados expostos a uma percepção de saúde negativa e QVRS negativa aqueles que avaliam como sendo “muito pior” ou “pior”. Característica geral da população O estado nutricional foi definido por meio do Índice de Massa Corporal (IMC) e categorizado como: <18,4 baixo peso; ≥18,5 - 24,9 eutrófico; ≥25,0 - 29,9 sobrepeso e ≥30,0 obesidade26. O nível socioeconômico foi determinado por meio do Critério de Classificação Econômica Brasil 27 , versão 2009, que identifica 5 classes econômicas (A,B,C,D,E), segundo a combinação de elementos seguintes: educação do chefe de família, posse de certos itens materiais, e contar com empregado mensalista. O escore de gravidade Model for End-Stage Liver Disease (MELD) foi utilizado para avaliar a gravidade da doença hepática no momento do transplante, utilizando-se, para o seu cálculo, a fórmula proposta pela United Network for Organ Sharing (UNOS)28. O tempo, em meses, transcorrido entre o transplante e a aplicação do questionário foi categorizado em: 0 até <6 meses; 6 até 12 meses; e > 12 meses. A presença ou ausência de co-morbidades foram registradas, com ênfase os diagnósticos de diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, osteoporose e obesidade. O tamanho amostral calculado foi de 160 participantes, tendo em vista a inclusão de cinco participantes para cada item do instrumento. Análise Estatística As variáveis categóricas foram descritas por frequências absolutas e relativas, e as variáveis continuas foram descritas mediante médias e desvio padrão ou mediana e intervalo interquartil, conforme a distribuição das variáveis. A validade convergente foi medida avaliando se os domínios medidos no post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ)16 se correlacionaram bem com os domínios equivalentes em um instrumento genérico de QV, o WHOQOL-Bref 20 . As 45 correlações foram estudadas por meio da correlação de Spearman (r) e consideramos aceitáveis as correlações com valores de r>0,2 29. A confiabilidade foi testada mediante a consistência interna e percentagem dos efeitos teto e chão. Para avaliarmos a consistência interna do instrumento, utilizamos o Coeficiente Alfa de Cronbach (α – C), considerando adequados os valores ≥ 0,5 25. A reprodutibilidade foi estimada mediante da determinação do coeficiente de correlação intraclasse (CIC) entre as entrevistas no subgrupo “sem mudanças”, considerando aceitáveis valores 0,60 24 . A sensibilidade à mudança foi estimada calculando o tamanho do efeito das diferenças entre as duas entrevistas. O Tamanho Efeito (TE) foi calculado nos indivíduos transplantados de hepático categorizados como “mudaram” a partir do Inquérito de Mudanças (InM). A interpretação clássica dos valores de TE é: 0,2 = TE pequeno; 0,5 = TE médio; 0,8 = TE grande. O nível de significância adotado foi de 5%. Aspectos Éticos Incialmente, enviou-se um e-mail ao autor principal pela criação e validação do pLTQ (SS) solicitando-se autorização para traduzir e validar o instrumento para o Português do Brasil. Após a autorização, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Todos os respondentes assinaram um termo de consentimento no momento da entrevista. RESULTADOS O estudo incluiu um total 160 participantes e 4 foram excluídos por motivo incapacidade cognitiva e/ou não quiseram participar. As características gerais da amostra estudada estão apresentadas na Tabela 1. A maioria dos pacientes era do sexo masculino 100 (62,5%), idade média de 56,7 46 anos (DP± 10,4 anos), 50,6% possuíam escolaridade, pelo menos, até Ensino Fundamental. Tradução Linguística Para a realização da equivalência idiomática e equivalência conceitual, foi sugerida a inclusão de explicação em um item (colocada entre parênteses) para melhor compreensão e modificada em outro item a palavra “irritadiço” por “irritado”. Foram, também, discutidas as questões em relação a sua validade de face e de conteúdo. O questionário foi aplicado por entrevista, não foi observada dificuldade dos pacientes em escolher as respostas. O tempo médio de aplicação do pLTQ foi de 14 minutos. A pontuação média do escore total questionário foi de 5,58 ±0,9 e por domínios: emocional 5,0±1,2; preocupação 5,2±1,2; medicação 6,0±1,0; capacidade física 5,4±1,2; saúde 6,3±0,9; rejeição 4,7±1,9; financeiro 6,5±0,9 e dor 5,15±1,3. Propriedades psicométricas As características psicométricas gerais do pLTQ estão descritas na Tabela 2. Validade As correlações pesquisadas aparecem na Tabela 3. Foram encontradas correlações significativas entre os escores do WHOQOL-Bref e do post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ), tanto nas pontuações globais quanto nas suas dimensões equivalentes. O valor de MELD, tempo de transplante, tipo de indicação para o transplante, e comorbidades não se correlacionaram com a pontuação pLTQ. 47 Confiabilidade, reprodutibilidade e sensibilidade à mudança O valor de -C no domínio total foi 0,91(0,89-0,93), sendo que todos os domínios apresentaram valores de -C ≥0,50. O tamanho do efeito, a reprodutibilidade, foi 0,90 (0,74-0,96). A sensibilidade à mudança (coeficiente de correlação intraclasse) foi de 0,84. O efeito chão foi observado somente no domínio Rejeição e Financeiro. Porém, em todos os domínios, incluindo o escore total, apresentou efeito teto 3. DISCUSSÃO A versão em Português do Brasil do pLTQ demonstrou bom desempenho psicométrico do instrumento, sugerindo que é uma ferramenta útil para uso no contexto cultural brasileiro. O instrumento mostrou ser válido e confiável para avaliação da QVRS em transplantados hepáticos adultos com valores semelhantes aos achados originais do instrumento original. A versão avaliada do pLTQ, apesar do baixo nível de escolaridade e da classe econômica dos pacientes avaliados, apresentaram fácil compreensão do instrumento, e o tempo de aplicação médio foi de 14 minutos, o que sugere que o questionário é factível de ser aplicado nessa população. Há similaridades entre os nossos achados com os de Saab e cols16. A confiabilidade da versão traduzida do questionário, estimada pelo valor de Alfa de Cronbach – 0,91 – foi boa, comparativamente ao pLTQ original, de 0,93 16. Todos os domínios mostraram valores aceitáveis (Alfa de Cronbach ≥ 0,50), indicando que a versão traduzida do questionário pode ser considerada, em seu todo, uma ferramenta confiável para avaliar a QV de transplantados hepáticos em nosso meio. Os menores escores (efeito chão) foram observados nos domínios Rejeição e Financeiro, sendo as médias desses dois domínios mais baixas na versão traduzida. O encontro, em nosso estudo, de menor média no domínio financeiro talvez possa 48 ser atribuído ao sistema de saúde brasileiro em que, diferente do que ocorre nos Estados Unidos, os medicamentos utilizados depois dos transplantes são fornecidos gratuitamente pelo Estado. Assim, os pacientes – em princípio – não se preocupam com essas despesas. Tanto a reprodutibilidade quanto a sensibilidade estiveram dentro de faixas consideradas aceitáveis (0,90 e 0, 84, respectivamente). O WHOQOL-Bref e pLTQ apresentaram correlações significativas, tanto nas pontuações globais quanto nas suas dimensões equivalentes (físico e psicológico), demonstrando, dessa forma, que o instrumento apresenta características similares de QV. Porém, há preocupações específicas para a população transplantada hepática que pode afetar a QV dos doentes e não pode, simplesmente, ser abordada de um instrumento genérico de QV, como efeitos adversos de medicamentos imunossupressores, rejeição, e a capacidade de pagar pelos cuidados e por acompanhamento. Logo, o instrumento é capaz de capturar fatores específicos para transplantados hepáticos que, geralmente, não são abordados por questionários genéricos16. Associações entre o pLTQ e o escore MELD no dia do transplante não foram significativas, assim como outras variáveis avaliadas, como tempo transcorrido entre o transplante e a aplicação do questionário, indicação para o transplante e presença de comorbidades no pós-operatório. Em nossa coorte, a média do MELD no dia do transplante foi 16,3; o que, então, parece corroborar os achados de Rodrigue et al.30, que mostraram que o impacto do escore MELD na QV depois do TxH tem relevância quando > 25, ou seja, indicativo de doença hepática de maior gravidade. Uma limitação de nosso estudo pode ter sido a inclusão de pacientes de um único centro de transplantes da região Sul do Brasil. Contudo, é um centro em atividade desde 1991, com mais de 1.000 transplantes realizados e com resultados satisfatórios no que se refere à sobrevida de pacientes e enxertos31. No período pós-operatório imediato do TxH, os pacientes estão sujeitos a uma série de intercorrências associadas, principalmente, ao uso de doses maiores de imunossupressores e ao ato cirúrgico em si, assim que é esperado que sua QVRS seja mais afetada nesse período, sendo, então, importante entender as mudanças de QVRS ao longo do tempo a TxH32. Para transplantadores e hepatologistas, o questionário validado e disponível no Brasil se tornará um importante instrumento para clínicos e pesquisadores, uma vez que não se dispõe, 49 em nosso meio, até então, um instrumento específico para avaliar e monitorar a condição física e emocional dos pacientes transplantados. Desta forma, avaliações periódicas dos pacientes poderão ser feitas e aqueles com piores escores de QV poderão ser identificados e, eventualmente, receber suporte especializado. Em conclusão, a versão em Português do Brasil do pLTQ demonstrou bom comportamento nas propriedades psicométricas avaliadas: validade convergente, consistência interna, sensibilidade à mudança e reprodutibilidade. Consequentemente, a versão do pLTQ parece adequada e aplicável para os pacientes transplantados hepáticos de diferentes etiologias e graus de gravidade da doença, o que apoia a utilização dessa versão, agora, disponível na Língua Portuguesa do Brasil. 50 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 1. 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Disponível em:http://www.unos.org/ 29. Ebel RL. Essentials of educational measurement. New Jersey: Prentice Hall; 1972. 30. Rodrigue JR, Nelson DR, Reed AI, Hanto DW, Curry MP. Is Model for EndStage Liver Disease score associated with quality of life after liver transplantation? Progr Transplant. 2011;21(3):207-14. 31. Machado A, Fleck Jr AM, Marroni CA, Zanotelli ML, Cantisani G, Brandão A. Impacto f MELD score implementation on liver allocation: experience at a Brazilian center. Ann Hepatol.2013;12:440-7. 32. Gross CR, Malinchoc M, Kim WR, Evans RW, Wiesner RH, Petz JL, et al. Quality of life before and after liver transplantation for cholestatic liver disease. Hepatology.1999;29:356-64. 53 54 TABELAS Tabela 1 - Características Demográficas dos Transplantados Hepáticos _____________________________________________n=160________ Idade (anos), média ± DP 56,9 ± 10,4 Gênero (masculino), n (%) 100 (62,5) Escolaridade, n (%) Analfabeto 0(0) Ensino Básico 3(1,9) Ensino Fundamental 81(50,6) Ensino Médio 72(45,0) Ensino Superior 4(2,5) Nível socioeconômico, n(%) Classe A 35(21,9) Classe B 29(18,1) Classe C 42(26,3) Classe D 43(26,9) Classe E 11(6,9) MELD, média ± DP 16,3 ± 6,3 Tempo de transplante (meses), mediana 73,5 (25,5-119,7) (IQ 25-75) Tempo de transplante, n(%) 0 até <6 meses 15(9,4) 6 até 12 meses 14(8,8) > 12 meses 131(81,9) Indicação de transplante, n(%) Carcinoma Hepatocelular 79(49,4) Cirrose Alcoólica 15(9,4) Cirrose Criptogênica e DHGNA 11(6,9) Hepatite B 8(5) Hepatite C 29(18,1) Hepatite Fulminante 3(1,9) Outros 15(9,4) DP: desvio padrão; MELD: Model for End-stage Liver Disease; IQ: intervalo interquartil; DHGNA: Doença hepática gordurosa nãoalcóolica. Outros: Colangite Esclerosante Primária, Cirrose autoimune, Doença policística, Cirrose Biliar Primária e Metástase carcinoma neuroendócrino. 55 Tabela 2 - Características do Post Liver Transplant Quality of Life Questionnaire (pLTQ) na população Brasileira Escores do pLTQ Variáveis Total Domínio Emocional Preocupações Medicação Capacidade Física Saúde Rejeição Financeiro Dor 32 5,58 ± 0,9 4 5,0 ± 1,2 7 5,2 ± 1,2 4 6,0 ± 1,0 6 5,4 ± 1,2 4 6,3 ± 0,9 2 4,7 ± 1,9 2 6,5 ± 0,9 3 5,15 ± 1,3 Efeito chão, n (%) 0(0) 0(0) 0(0) 0(0) 0(0) 0(0) 11(6,9) 1(0,6) 0(0) Efeito teto, n (%) 3(1,9) 9(5,6) 14(8,8) 48(30) 12(7,5) 56(35) 39(24,4) 118(73,8) 15(9,4) 0,91(0,89-0,93) 0,69(0,61-0,76) 0,77(0,72-0,82) 0,59(0,48-0,69) 0,72(0,64-0,78) 0,59(0,48-0,69) 0,69(0,58-0) 0,51(0,33-0,64) 0,51(0,36-0,63) 0,93 0,78 0,85 0,70 0,79 0,66 0,72 0,64 0,60 Itens, n Média ± dp -C, média IC95% -C,média* pLTQ: Post Liver Transplant Quality of Life Questionnaire. -C: Coeficiente de alfa Cronbach. * dados do artigo original do Post Liver Transplant Quality of Life Questionnaire 56 Tabela 3 - Correlação dos escores do questionário WHOQOL-Bref com o instrumento Post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) Variáveis Total Domínios do WHOQOL-Bref Total Físico Psicológico r(p) Escores do pLTQ, r(p) Domínio Capacidade Física Emocional r(p) r(p) 0,40(<0,001*) 0,37 (<0,001*) pLTQ: post-Liver Transplant Quality of Life WHOQOL-Bref: World Health Organization Quality of Life – Bref * Correlação de Pearson 0,26 (0,001*) 57 ANEXO ARTIGO Versão em Inglês do questionário Post-Liver Transplant Quality of Life Questionnaire Perguntas e escala de respostas do Post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ). Post-Liver Transplant Quality of Life Questionnaire This questionnaire is designed to find out how you have been feeling during the past four weeks. You will be asked about your symptoms and mood related to you being a liver transplant recipient. In addition, you will be asked about how being a liver transplant recipient affects your daily activities, energy level, and how much the post liver transplantation followup care affects your life. Please complete all of the questions and select only one response for each question. 1. In the past four weeks, how often have you felt concerned about having short and/or longterm memory loss? 2. In the past four weeks, how often have you felt depressed? 3. In the past four weeks, how often have you been irritable? 4. In the past four weeks, how often have you been more worried than usual about your current health state? 5. In the past for weeks, how often have you felt anxious? 6. In the past four weeks, how often have you had a problem following instructions for taking your transplant medications? 7. In the past four weeks, how often have you felt troubled about needing to make special arrangements because of frequent doctor visits? 8. In the past four weeks, how often have you felt concerned about needing to have multiple blood draws? 9. In the past four weeks, how often have you felt the need to clarify everything with the doctor or transplant coordinator? 10. In the past four weeks, how often have you been bothered by having to take too many medications? 11. In the past four weeks, how often have you felt limited in your ability to carry out daily activities (housework, personal hygiene, etc)? 12. In the past four weeks, how often have you been concerned about having decreased muscle strength? 13. In the past four weeks, how often have you been bothered by changes in your sleep patterns? 14. In the past four weeks, how often have you been concerned about the length of recovery from your transplant surgery? 15. In the past four weeks, how often have you been troubled by the fear of having your disease recur? 16. In the past four weeks, how often have you been concerned about potentially having a shortened lifespan? 17. In the past four weeks, how often have you been concerned about the cost of your transplant medications? 18. In the past four weeks, how often have you had trouble with medical billing for transplant expenses? 19. In the past four weeks, how often have you had joint or back pain? 20. In the past four weeks, how often have you been concerned about learning to walk after your surgery? 21. In the past four weeks, how often have you been concerned about being able to 58 drive? 22. In the past four weeks, how often have you been concerned about your family worrying about your illness or state of health? 23. In the past four weeks, how often have you been worried about being a burden on your family members? 24. In the past four weeks, how often have you been concerned about having to take better care of your health? 25. In the past four weeks, how often have you feared that your transplanted liver would be rejected? 26. In the past four weeks, how often have you been worried about developing an infection due to being immunosuppressed (decreased ability for your body to fight off infections) as a consequence of being on antirejection medications? 27. In the past four weeks, how often have you been concerned about developing complications from taking your medications incorrectly or forgetting to take them? 28. In the past four weeks, how often have you been worried about having difficulty returning to work? 29. In the past four weeks, how often have you experienced pain related to your liver transplant surgery? 30. In the past four weeks, how often have you been bothered by side-effects from your transplant medications? 31. In the past four weeks, how often have you been bothered by having long waits for doctor appointments? 32. In the past four weeks, how often have you experienced numbness or tingling? Answers 1. All of the time (daily) 2. Most of the time (about 5 times a week) 3. Good bit of the time (2 to 4 times a week) 4. Some of the time (once a week) 5. A little of the time (close to every other week or twice in a 4 week period) 6. Hardly any of the time (once in a 4 week period) 7. None of the time Fonte: Saab et al. 59 Versão em Português do questionário Post-Liver Transplant Quality of Life Questionnaire Post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ)-BR piloto (como o instrumento foi utilizado para tradução e adaptação cultural). Questionário sobre qualidade de vida após transplante de fígado Este questionário foi concebido para descobrir como você vem se sentindo nas últimas quatro semanas. Você será perguntado sobre seus sintomas e humor em relação à sua condição de receptor de transplante de fígado. Também, será indagado em que medida ser um receptor de transplante de fígado afeta sua vida diária e seu nível de energia, e em que grau os cuidados posteriores ao transplante de fígado afetam a sua vida. Responda a todas as questões e selecione somente uma resposta para cada uma delas. 1. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com ter perda de memória de curto e/ou longo prazo? 2. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu deprimido? 3. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu irritado? 4. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você esteve mais preocupado do que o usual quanto ao seu atual estado de saúde? 5. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu ansioso? 6. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve problemas em seguir as instruções para tomar as medicações de transplante? 7. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu incomodado por ter que fazer arranjos especiais em função de consultas médicas frequentes? 8. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por ter que tirar sangue várias vezes? 9. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você sentiu a necessidade de esclarecer tudo com o médico ou o coordenador do transplante? 10. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se incomodou por ter que tomar muitos remédios? 11. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu limitado em sua capacidade de realizar atividades diárias (tarefas caseiras, higiene pessoal etc.)? 12. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por ter menos força muscular? 13. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você foi incomodado por mudanças em seus padrões de sono? 14. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado pela duração da recuperação da sua cirurgia de transplante? 15. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você foi perturbado por medo de que sua doença volte a ocorrer (reincida)? 16. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com talvez ter um tempo de vida menor? 17. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você foi afetado pelo custo da sua medicação de transplante? 18. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve problemas com as contas médicas das despesas de transplante? 19. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve dores nas articulações ou nas costas? 20. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por ter que aprender a caminhar após a cirurgia? 21. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado em relação à sua capacidade de dirigir? 60 22. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado pela apreensão da sua família quanto à sua doença ou estado de saúde? 23. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com ser um fardo para seus familiares? 24. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por ter de tomar mais conta da sua saúde? 25. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve medo de que seu fígado transplantado seja rejeitado? 26. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com desenvolver uma infecção devido a estar imunodeprimido (capacidade reduzida do seu corpo de combater infecções) como consequência de estar sob medicação antirrejeição? 27. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por desenvolver complicações em virtude de tomar sua medicação incorretamente ou esquecer de tomá-la? 28. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com ter dificuldades para voltar ao trabalho? 29. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve dor relacionada à sua cirurgia de transplante de fígado? 30. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você foi incomodado por efeitos colaterais da sua medicação de transplante? 31. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu incomodado por longas esperas para consultas médicas? 32. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você sentiu dormências ou latejamentos? Respostas 1. Todo o tempo (diariamente) 2. A maior parte do tempo (cerca de 5 vezes por semana) 3. Uma boa parte do tempo (de 2 a 4 vezes por semana) 4. As vezes (uma vez por semana) 5. Poucas vezes (cerca de uma vez a cada duas semanas, ou duas vezes em 4 semanas) 6. Quase nunca (uma vez a cada período de 4 semanas) 7. Nunca 61 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS Atualmente, há um crescente interesse em avaliar a QVRS em diferentes cenários. Em consequência, estão sendo desenvolvidas ferramentas que permitam aos profissionais da saúde avaliar, de forma confiável e reprodutível, a QVRS, de modo que possam ser usadas no âmbito assistencial, almejando igualdade de condições com as outras medidas de avaliação em saúde. A avaliação da QVRS tem como objetivo central oferecer uma atenção em saúde de maior qualidade, de acordo com as necessidades das pessoas, visando ao seu “completo bem-estar físico, mental e social”19. Levando-se em consideração que a população de transplantados hepáticos, geralmente, está sujeita a várias situações consideradas de risco para inúmeros desfechos, em comparação com a população em geral e considerando, também, sua QVRS pode ser comprometida, torna-se necessário entender as mudanças de QVRS ao longo do tempo no acompanhamento desses pacientes. A versão traduzida do pLTQ, culturalmente adaptada e validada para a população brasileira poderá ser útil nas pesquisas clínicas subsequentes envolvendo pacientes transplantados hepáticos, uma população de pacientes que vêm aumentando marcadamente, a qual, no que se refere à sobrevida, experimenta avanços consideráveis. 62 ANEXOS 63 ANEXO A - QUESTIONÁRIO “POST LIVER TRANSPLANT QUALITY OF LIFE” 64 65 66 67 68 69 70 ANEXO B - QUESTIONÁRIO SOBRE QUALIDADE DE VIDA APÓS TRANSPLANTE DE FÍGADO Este questionário foi concebido para descobrir como você vem se sentindo nas últimas quatro semanas. Você será perguntado sobre seus sintomas e humor em relação à sua condição de receptor de transplante de fígado. Também, será indagado em que medida ser um receptor de transplante de fígado afeta sua vida diária e seu nível de energia, e em que grau os cuidados posteriores ao transplante de fígado afetam a sua vida. Responda a todas as questões e selecione somente uma resposta para cada uma delas. Escala: 1 2 3 4 5 6 7 Todo o tempo (diariamente) Na maior parte do tempo (cerca de 5 vezes por semana) Uma boa parte do tempo (de 2 a 4 vezes por semana) Às vezes (uma vez por semana) Poucas vezes (cerca de uma vez a cada duas semanas, ou duas vezes em 4 semanas) Quase nunca (uma vez a cada período de 4 semanas) Nunca 1. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com ter perda de memória de curto e/ou longo prazo? 1 Todo o tempo 2 3 4 5 6 Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase parte do parte vezes nunca tempo do tempo 2. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu deprimido? 7 Nunca 1 Todo o tempo 7 Nunca 2 3 4 5 6 Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase parte do parte vezes nunca tempo do tempo 3. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu irritado? 1 Todo o tempo 2 3 4 5 6 7 Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca parte do parte vezes nunca tempo do tempo 4. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você esteve mais preocupado do que o usual quanto ao seu atual estado de saúde? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 5. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu ansioso? 1 Todo o tempo 2 Na maior parte do tempo 3 Em boa parte do tempo 4 Às vezes 5 Poucas vezes 6 Quase nunca 7 Nunca 71 6. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve problemas em seguir as instruções para tomar as medicações de transplante? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 7. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu incomodado por ter que fazer arranjos especiais em função de consultas médicas frequentes? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 8. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por ter que tirar sangue várias vezes? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 9. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você sentiu a necessidade de esclarecer tudo com o médico ou o coordenador do transplante? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 10. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se incomodou por ter que tomar muitos remédios? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 11. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu limitado em sua capacidade de realizar atividades diárias (tarefas caseiras, higiene pessoal etc.)? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 12. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por ter menos força muscular? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 13. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você foi incomodado por mudanças em seus padrões de sono? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 14. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado pela duração da recuperação da sua cirurgia de transplante? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 15. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você foi perturbado por medo de que sua doença volte a ocorrer (reincida)? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 16. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com talvez ter um tempo de vida menor? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 72 17. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você foi afetado pelo custo da sua medicação de transplante? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 18. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve problemas com as contas médicas das despesas de transplante? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 19. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve dores nas articulações ou nas costas? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 20. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por ter que aprender a caminhar após a cirurgia? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 21. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado em relação à sua capacidade de dirigir? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 22. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado pela apreensão da sua família quanto à sua doença ou estado de saúde? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 23. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com ser um fardo para seus familiares? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 24. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por ter de tomar mais conta da sua saúde? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 25. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve medo de que seu fígado transplantado seja rejeitado? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 26. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com desenvolver uma infecção devido a estar imunodeprimido (capacidade reduzida do seu corpo de combater infecções) como consequência de estar sob medicação antirrejeição? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 27. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu afetado por desenvolver complicações em virtude de tomar sua medicação incorretamente ou esquecer de tomá-la? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca 73 tempo do tempo 28. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se preocupou com ter dificuldades para voltar ao trabalho? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 29. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você teve dor relacionada à sua cirurgia de transplante de fígado? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 30. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você foi incomodado por efeitos colaterais da sua medicação de transplante? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 31. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu incomodado por longas esperas para consultas médicas? 1 2 3 4 5 6 7 Todo o Na maior Em boa Às vezes Poucas Quase Nunca tempo parte do parte vezes nunca tempo do tempo 32. Nas últimas quatro semanas, com que frequência você sentiu dormências ou latejamentos? 1 Todo o tempo 2 Na maior parte do tempo 3 Em boa parte do tempo 4 Às vezes 5 Poucas vezes 6 Quase nunca 7 Nunca 74 ANEXO C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO “Validação Cultural do Questionário post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) para a população brasileira”. Versão TCLE 17.06.12 Não existe um questionário validado para a população brasileira que avalie a qualidade de vida em pacientes transplantados de fígado, sendo assim uma necessidade de mais estudos que atendam este assunto. Dessa forma, você está sendo convidado a participar do projeto da pesquisa intitulado “Validação Cultural do Questionário post-Liver Transplant Quality of Life (pLTQ) para a população brasileira.”, desenvolvido em Porto Alegre sob responsabilidade da fisioterapeuta Cibele Silva Molski. O estudo pretende testar questionários que ajudem a melhorar o entendimento de como a vida dos transplantados de fígado é comprometida com a doença, assim como o tratamento adequado pode melhorar essa situação. Para testar corretamente os questionários será preciso que respondam os questionários em dois momentos diferentes. É necessário completar os questionários em duas ocasiões para que os pesquisadores possam contar com as informações que precisam para completar a pesquisa. O tempo de aplicação dos questionários será 20-40 minutos dependendo da objetividade do participante ao informar suas respostas. Os questionários abordam temas que possam afetar na sua qualidade de vida. A pesquisa não interferirá com o tratamento indicado no ambulatório de transplante de fígado no qual você está sendo acompanhado, pelo que a participação na pesquisa não representa riscos e nem custos, e também que o presente estudo pode contribuir para melhorar a repercussão transplante de fígado em indivíduos com este problema e nas suas famílias. Os dados coletados durante o estudo serão tratados em conjunto, ficando resguardado o anonimato dos participantes, e que pelo fato da participação na pesquisa ser voluntária, caso você decida não continuar participando, apenas precisa informar aos pesquisadores da sua decisão sem que isso interfira com o seu acompanhamento no ambulatório de transplante de fígado. Em caso de dúvidas e eventos adversos ligar: Investigador Principal: Cibele Silva Molski Telefone: 51-8534.3674 Em caso de questões sobre a pesquisa e sobre os direitos dos pacientes envolvidos ou sobre problemas decorrentes da pesquisa: Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto AlegreCoordenador: Dr. Cláudio Telöken Telefone: 3214.8571 Ao assinar abaixo, você confirma que leu as afirmações contidas neste termo de consentimento, que foram explicados os procedimentos do estudo, que teve a oportunidade de fazer perguntas, que está satisfeito com as explicações fornecidas e que decidiu participar voluntariamente deste estudo. Uma via será entregue a você e outra será arquivada pelo investigador principal. Porto Alegre, _____de________________________________de__________. Nome do participante_______________________________________________ Assinatura participante_______________________________________________ Assinatura do responsável pelo projeto___________________________________ 75 ANEXO D - WHOQOL ABREVIADO Instruções Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde e outras áreas de sua vida. Por favor, responda a todas as questões. Se você não tem certeza sobre que resposta dar em uma questão, por favor, escolha entre as alternativas a que lhe parece mais apropriada. Esta, muitas vezes, poderá ser sua primeira escolha. Por favor, tenha em mente seus valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós estamos perguntando o que você acha de sua vida, tomando como referência as duas últimas semanas. Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma questão poderia ser: Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos outros o apoio de que necessita nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4 se você recebeu "muito" apoio como abaixo. Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio. 76 Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta. As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas semanas. As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer certas coisas nestas últimas duas semanas. 77 As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas. As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas nas últimas duas semanas. Alguém lhe ajudou a preencher este questionário?.................................................................. Quanto tempo você levou para preencher este questionário?.................................................. 78 ANEXO E - CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA BRASIL O Critério de Classificação Econômica Brasil, enfatiza sua função de estimar o poder de compra das pessoas e famílias urbanas, abandonando a pretensão de classificar a população em termos de “classes sociais”. A divisão de mercado definida abaixo é de classes econômicas. CORTES DO CRITÉRIO BRASIL CLASSE A1 A2 B1 B2 C1 C2 D E PONTOS 42-46 35-41 29-34 23-28 18-22 14-17 8-13 0-7 PROCEDIMENTO NA COLETA DOS ITENS É importante e necessário que o critério seja aplicado de forma uniforme e precisa. Para tanto, é fundamental atender integralmente as definições e procedimentos citados a seguir: Para aparelhos domésticos em geral devemos Considerar os seguintes casos: · Bem alugado em caráter permanente · Bem emprestado de outro domicílio há mais de 6 meses · Bem quebrado há menos de 6 meses Não considerar os seguintes casos · Bem emprestado para outro domicílio há mais de 6 meses · Bem quebrado há mais de 6 meses · Bem alugado em caráter eventual · Bem de propriedade de empregados ou pensionistas Televisores 79 Considerar apenas os televisores em cores. Televisores de uso de empregados domésticos (declaração espontânea) só devem ser considerados caso tenha(m) sido adquirido(s) pela família empregadora. Rádio Considerar qualquer tipo de rádio no domicílio, mesmo que esteja incorporado a outro equipamento de som ou televisor. Rádios tipo walkman, conjunto 3 em 1 ou microsystems devem ser considerados, desde que possam sintonizar as emissoras de rádio convencionais. Não pode ser considerado o rádio de automóvel. Empregada doméstica Considerar apenas os empregados mensalistas, isto é, aqueles que trabalham pelo menos 5 dias por semana, durmam ou não no emprego. Não se esquecer de incluir babás, motoristas, cozinheiras, copeiras, arrumadeiras, considerando sempre os mensalistas. Note bem: o termo empregado mensalistas se refere aos empregados que trabalham no domicílio de forma permanente e/ou continua, pelo menos 5 dias por semana, e não ao regime de pagamento do salário. Máquina de Lavar Considerar máquina de lavar roupa, somente as máquinas automáticas e/ou semiautmáticas.O tanquinho NÃO deve ser considerado. Videocassete e/ou DVD Verificar presença de qualquer tipo de vídeo cassete ou aparelho de DVD. Banheiro O que define o banheiro é a existência de vaso sanitário. Considerar todos os banheiros e lavabos com vaso sanitário, incluindo os de empregada, os localizados fora de casa e os da(s) suíte(s). Para ser considerado, o banheiro tem que ser privativo do domicílio. Banheiros coletivos (que servem a mais de uma habitação) não devem ser considerados. Automóvel Não considerar táxis, vans ou pick-ups usados para fretes, ou qualquer veículo usado para atividades profissionais. Veículos de uso misto (lazer e profissional) não devem ser considerados. Geladeira e Freezer No quadro de pontuação há duas linhas independentes para assinalar a posse de geladeira e freezer respectivamente. A pontuação será aplicada de forma independente: Havendo geladeira no domicílio, independentes da quantidade serão atribuídos os pontos (4) correspondentes a posse fé geladeira; 80 Se a geladeira tiver um freezer incorporado – 2ª. porta – ou houver no domicílio um freezer independente serão atribuídos os pontos (2) correspondentes ao freezer.As possibilidades são: Não possuir geladeira Possuir geladeira simples (não duplex) e não possui freezer Possui geladeira de duas portas e não possui freezer Possui geladeira de duas portas e possui freezer Possui freezer mas não geladeira (caso raro, mas aceitável) 0 pontos 4 pontos 6 pontos 6 pontos 2 pontos Sistema de pontos: 0 1 2 3 4 Televisão em cores Rádio Banheiro Automóvel Empregada mensalista Máquina de lavar Videocassete e/ou DVD Geladeira Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex) Q1 Grau de Instrução do Chefe da Família (1)Analfabeto/ Primário incompleto- Analfabeto /Até a 3ª Série Fundamental (2)Primário completo/ Ginasial incompleto-Até a 4ª Série Fundamental (3)Ginasial completo/ Colegial incompleto-Fundamental completo (4)Colegial completo/Superior incompleto-Médio completo (5)Superior completo-Superior completo 81 ANEXO F - INQUÉRITO MUDANÇAS Gostaríamos de saber como você se sentiu nos últimos trinta dias e para isso fizemos algumas perguntas que gostaríamos que você respondesse; Por favor, preste atenção a cada questão; Pense em como as coisas têm sido para você nos últimos trinta dias; Escolha a resposta que pareça mais certa para você; Não há respostas certas ou erradas; O que você acha e pensa é o que importa; Por exemplo: Nos últimos trinta dias, você achou que sua alimentação esteve: Muito pior / pior/ nem pior, nem melhor/ melhor/ muito melhor 1) Como tu te sentes, em relação a tua saúde, desde a última consulta? 1. muito pior 2. pior 3. nem pior, nem melhor 4. melhor 5. muito melhor 2) De modo geral como você considera a sua qualidade de vida? 1. muito pior 2. pior 3. nem pior, nem melhor 4. melhor 5. muito melhor 82 ANEXO G - FICHA DE COLETA 1- Data avaliação:_____________ Data da próxima consulta:________________ 2- Código de identificação:_________ 3- Iniciais do nome:____________ 4- Nome Completo:________________________________________________________ 5- Data de nascimento:___________________ 6- Idade: _______________________IH: ______________________Sexo: M (0) F(1) 7- Naturalidade:_________________________________ 8- Endereço:__________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 9- Número: ____________ Complemento: ___________ 10- Bairro: _________________________________________ 11- Cidade: ________________________________________ Estado : ______ 12Telefone(DDD) : Nome para contato: Telefone 01 Telefone 02 Telefone 03 Telefone 04 Telefone 05 Telefone 06 13- Cor da pele: branco (0) não-branco (1) 14- IMC: __________ Peso: _____________ Altura:______________ 15- Doença(s) de base(s): Hepatite C (0) Hepatite B (1) Carcinoma Hepatocelular (2) Cirrose Alcoolica (3) Cirrose Criptogênica e NASH (4) Colangite Esclerosante Primária (5) Hepatite Fulminante (6) Outros (7)_____________________________________________ Mais de uma indicação (8)_____________________________________________________ 16- Cálculo MELD no dia do transplante: <10 (0) 10-19 (1) 20-29(2) ≥40 (4) 30-39 (3) 83 17- Caso não identifique o valor do MELD, coletar as seguintes informações para obter o cálculo: Bt____ Cr____ INR_____ Na_____ 18- Tempo de transplante:_________________ 19- Data do transplante: __________________ 20- Re-transplante? Não (0) Sim (1) 21- Comorbidades: obesidade(3) HAS(0) IRC (4) DM(1) osteoporose (2) outros(5)_______________________ 22- Caso sim para comorbidade IRC na questão anterior, tratamento com diálise? Não (0) Sim (1) 23- Uso de medicações antidepressivas? Não (0) Sim (1) 24- Uso de medicações para dormir? Não (0) Sim (1) Não possui este dado (2) Não possui este dado (2) 25- Uso de medicação para dor continuamente? Não (0) Sim (1) Não possui este dado (2) 26- Presença de encefalopatia? Não (0) 27- Presença de ascite? Não (0) Sim (1) Sim (1) Não possui este dado (2) Não possui este dado (2) 28- Presença de rejeição do enxerto? Não (0) Sim (1) Não possui este dado (2) 29- Caso responda sim na questão anterior, está respondendo ao tratamento? Não (0) Sim (1) 30- Dados da última consulta médica, algum acompanhamento especial ou consulta de rotina? Consulta de rotina (0) Especial (1) 31- Data da última consulta médica __________________ 32- Caso responda especial na questão 30, descreva o motivo: _______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 33- Admissão hospitalar no último ano acima de 24 horas? Não (0) Sim , internação para realização de exames(1) Sim, internação clínica (2) 34- No prontuário apresenta algum problema familiar em que a assistente social tenha que interferir? Não (0) Sim (1) 35- Caso responda sim na questão anterior, o problema foi solucionado? Não (0) Sim (1) 36- Descreva dados pendentes para coletar na entrevista: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 84 37- Dados preenchidos do prontuário por: C (0) R (1) 38- Check list: a- Ficha de coleta b- TCLE c- Questionário pLTQ d- Questionário WHOQOL e- Critério Classificação Econômica Brasil f- Questionário para o Reteste - Inquérito Mudanças 39- Perguntar ao paciente no final da entrevista: O Sr(a) achou o questionário com alguma pergunta difícil ou termo complicado de compreender? Qual?(pLTQ) ________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ O Sr(a) possui mais alguma observação relevante a fazer sobre o questionário? (pLTQ) ________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 40- Entrevista realizada por: C (0) R (1) 85 ANEXO H - CONTATO AUTORES From: Saab, Sammy, M.D. [mailto:[email protected]] Sent: Tue 4/3/2012 3:57 PM To: Rita Mattiello Subject: RE: post-liver transplant quality of life Questionnaire Thank you for your interest. I am delighted to hear you will be using the questionnaire.Best wishes Sammy Saan ____________________________________________________________________ From: Rita Mattiello [[email protected]] Sent: Friday, April 27, 2012 7:23 PM To: Saab, Sammy, M.D. Subject: RE: post-liver transplant quality of life Questionnaire Dear Doctor Saan, We would like to begin the validation process. Is it possible for you to send us a copy of the official version of the questionnaire? Thank you Rita Mattiello, PhD From: Saab, Sammy, M.D. [[email protected]] Sent: Tuesday, May 01, 2012 1:45 PM To: Rita Mattiello Subject: RE: post-liver transplant quality of life Questionnaire thank you for your interest in our questionnaire. Sammy Saab, MD, MPH, AGAF Associate Professor of Medicine and Surgery Assistant Professor of Nursing Head, Outcomes Research in Hepatology David Geffen School of Medicine at UCLA -----Original Message----From: Rita Mattiello [mailto:[email protected]] Sent: Thursday, August 09, 2012 7:04 AM To: Saab, Sammy, M.D. Subject: Brazilian version of Post-liver transplant quality of life Questionnaire Dear Dr. Saab, We are performed the process of linguistic validation and we are sending you a copy of the backtranslation of the questionnaire so you can evaluate it. Needless to say that, unless you state the contrary, your name will be included in our future publications that involve the validation of the questionnaire. Thank you for your cooperation and we will be looking forward to your replay. From: Saab, Sammy, M.D. [[email protected]] Sent: Tuesday, Ago 09, 2012 9:00 PM To: Rita Mattiello Subject: RE: Brazilian version of Post-liver transplant quality of life Questionnaire Very exciting. Congratulations! I know this was a lot of work