UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
INSTITUTO QUALLITAS DE PÓS GRADUAÇÃO
CURSO DE CLÍÌNICA E CIRURGIA DE ANIMAIS SELVAGENS E EXÒTICOS
HEMATOLOGIA DE RÉPTEIS
- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA-
Maria Cecília Lopes Bittencourt Falce
1
Campinas, fev. 2009
i
Maria Cecília Lopes Bittencourt Falce
Aluna do curso de pós-graduação de Clínica Médica e
Cirúrgica de Animais Selvagens e Exóticos
HEMATOLOGIA DE RÉPTEIS
- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -
2
Trabalho monogáfico de conclusão do curso de
Clínica Médica e Cirúrgica de Animais
Selvagens e Exóticos (TCC), apresentado ao
Instituto Quallitas de pós-graduação como
requisito parcial para a obtenção do título de pósgraduada em Clínica Médica e Cirúrgica de
Animais Selvagens e Exóticos, sob a orientação
da Profª. Nadia Almosny.
Campinas, fev. 2009
ii
HEMATOLOGIA DE RÉPTEIS
- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -
3
Elaborado por Maria Cecília Lopes Bittencourt Falce
Aluna do curso de Clínica Médica e Cirúrgica de
Animais Selvagens e Exóticos do Instituto Quallitas de pósgraduação.
Foi analisado e aprovado com grau:_______
Campinas, 10 de fevereiro de 2009.
_______________________________________________
Professor Avaliador.
4
Campinas, fev. 2009
iii
5
“A grandeza de uma nação pode ser julgada
pelo modo que seus animais são tratados.”
Mahatma Ghandi
iv
Resumo
A avaliação hematológica permite a determinação do estado de saúde dos répteis, assim
como resposta a tratamentos e outros fatores, mas deve ser analisada com cautela, pois há
grandes variações dos parâmetros normais entre as espécies, e, mesmo dentro delas, como
idade, sexo, estado nutricional, manejo. A hematologia consiste no estudo das células do
sangue, incluindo a série vermelha e a série branca. Na primeira os parâmetros avaliados
são: a contagem total de eritrócitos, o hematócrito e a contagem de hemoglobina. Além
disto, os padrões celulares são analisados, assim com inclusões e parasitas
6
intraeritrócitários, caso ocorram. Na segunda, as linhagens celulares são identificadas e
contabilizadas, assim, os parâmetros avaliados são: contagem total de leucócitos e a
contagem diferencial destes, dividida em heterófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e
linfócitos. A diminuição da série vermelha indica anemia. A anemia pode ser classificada
como hemorrágica (perda sanguínea), hemolítica (aumento da destruição das células) e não
regenerativas (diminuição na produção de células). Uma leucocitose é, em geral, resultante
de um processo infeccioso, mas também pode ocorrer após uma situação de estresse e após
uma situação de estresse e traumatismos. Assim como processos neoplásicos e
degenerativos. Por outro lado, uma leucopenia pode estar associada a doenças virais,
infecção bacteriana grave (septicemia avançada) e toxemias.
Palavras chave: Hemácias; Hemograma; Herpetologia; Leucócitos, Répteis.
v
Abstract
7
Hematologic evaluation helps in the establishment of the health status of reptiles as well as
in the evaluation following treatment and other factors. However, it must be used carefully
once there are great diferences in normal paramethers among species and even among
individuals due to age, sex, nutritional status, management, etc. Hematology consists in the
study of blood cells, including the red and the white cells. The parameters evaluated for the
red cells are the total red blood cell count, hematocrit and hemoglobin level. Besides that,
celular paterns as well as intracelular parasites and inclusions, if present, are evaluated. In
the evaluation of the white blood cells, cellular lineages are identified and counted to
obtain the total and differential white blood cell count, in order to quantify the heterophils,
eosinophils, basophils, monocytes and linfocytes. A decrease in the red cell parameters
indicate anemia. Anemia may be classified as hemorrhagic (blood loss), hemolitic (red cell
destruction) and non regenerative (decrease in the production of the cells). A leukocytosis
is, in general, a result of an infectious process but may also occur after a stressing situation,
after a stressing situation and thrauma or due to neoplastic or degenerative processes. On
the other hand, a leucopenia may be associated with viral diseases, severe bacterial
infections (advanced septicemia) and toxemias.
8
Keys word: Red blood cell, Cell blood count (CBC), Herpetology, Leukocyte, Reptile
vi
SUMÁRIO
Página RESUMO............................................................................................................v
ABSTRACT .......................................................................................................vii
LISTA DE TABELAS ........................................................................................viii
LISTA DE FIGURAS..........................................................................................ix
INTRODUÇÃO ..................................................................................................1
REVISÃO DA LITERATURA ...........................................................................3
1.Coleta e Conservação de Amostras..................................................................3
1.1. Coleta............................... ..........................................................................3
1.2 Conservação................................................................................................4
2. Hematopoiese e Morfologia ........................................................................5
2.1 Eritrócitos......................................................................................................5
2.2Leucócitos ....................................................................................................14
2.3 Trombócitos.................................................................................................25
3.Hemoparasitas ….............................................................................................15
3.1 Família Haemogregorinidae..........................................................................18
3.1.1 Hepatozoon.sp...........................................................................................19
3.1.2 Haemogregarina sp....................................................................................20
4.Perfil Hematológico nas diferentes ordens e subordens de répteis....................21
4.1Ordem Squamata.............................................................................................21
4.1.1 Subordem Ophidia......................................................................................21
9
4.1.2 Subordem Suaria........................................................................................24
4.2 Ordem Chelonia.............................................................................................25
4.3 Crocodylia.......................................................................................................27
5. Interpretação do Hemograma.............................................................................31
6. Interpretação do Leucograma.............................................................................33
7.Interpretação das variações em Trombócitos......................................................36
CONCLUSÃO.......................................................................................................36
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................37
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: valores hematológicos de referência para serpentes .......................................23
Tabela 2 :valores hematológicos para lagartos................................................................24
Tabela 3: valores hematológicos para quelônios.............................................................26
Tabela 4: valores hematológicos para crocodilianos.......................................................30
10
11
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Eritrócito de Brothrops atrox...........................................................................6
Figura 2: Heterófilo de Caiman crocudilus....................................................................8
Figura 3: Granulócito tipo I de Bitis arietans.................................................................9
Figura 4: Granulócito tipo II de Pythons curtus.............................................................9
Figura 5: Eosinófilo de Caiman crocodilus...................................................................9
Figura 6: Basófilode Boa c. Amaralli...........................................................................10
Figura 7: Linfócito de Iguana iguana............................................................................11
Figura 8: Monócito de Boa constrictor..........................................................................12
Figura 9: Azurófilo de Iguana iguana.........................................................................13
Figura 10: Trombócitos de Eunectes murinus .............................................................13
Figura 11: Inclusões virais em eritrócitos .....................................................................17
Figura 12: Hemoparasita da família Haemogregorinidae .............................................18
12
Figura 13: Venipunção veia caudal ventral.....................................................................21
Figura 14: Venipunção em veia caudal acesso lateral em Lagarto.................................24
Figura 15: Venipunção em veia caudal acesso lateral em Geochelone carbonari.........25
Figura16: Venipunção em Seio Occiptal em Caiman crocodilus..................................27
13
ix
INTRODUÇÃO
A Classe Reptilia é formada por aproximadamente 2.900 espécies. E inclui quatro
ordens: os escamosos (serpentes, lagartos e afins), os crocodilianos (crocodilos, aligatores,
caimões e afins), os quelônios (tartarugas e cágados) e os rincocéfalos (tuataras da
Nova Zelândia). Espalhados por quase todo o planeta, vivem, principalmente, em regiões
tropicas e subtropicais (HAWKEY & DENNET, 1989).
Assim, ressalta-se a importância do monitoramento como indicador de níveis de
qualidade, de alteração ambiental e doenças infecciosas. Algumas espécies animais,
chamadas espécies sentinelas, podem funcionar como indicadores da saúde dos
ecossistemas, aquelas que refletem as perturbações do meio ambiente, auxiliando em
levantamento rápido sobre o impacto ambiental e monitoramento em longo prazo que
objetiva o acompanhamento e avaliação da preservação ou degradação.
O conhecimento dos valores hematológicos normais de determinada espécie é
importante para elucidar diagnósticos de enfermidades que acometem os animais, tanto
mantidos em cativeiro como nos de vida livre. Estudos hematológicos em répteis são
14
escassos e, ao contrário do que acontece em mamíferos e aves, poucos trabalhos podem ser
citados (CAMPBELL,2004).
A criação destes animais vem crescendo substancialmente nas últimas décadas, seja
para a produção de couro, como exemplo a criação de crocodilianos, seja para a
recuperação de espécies ameaçadas de extinção, ou para a utilização destes animais como
“pets”. Esta última modalidade de criação, está trazendo estes animais cada vez mais para a
clínica veterinária, onde a necessidade de informações sobre alterações fisiológicas e
patológicas são crescentes (CAMPBELL,2004).
Neste contexto, o estudo da hematologia torna-se fundamental, uma vez que,
clinicamente, a determinação do estado de saúde de um réptil é baseada no exame físico,
valores hematológicos e bioquímicos, sendo o hemograma usado para detectar condições
como anemia, doenças inflamatórias, parasitemias, distúrbios hematopoeiéticos e
alterações hemostáticas. A hematologia também é considerada uma importante ferramenta
para a observação da resposta dos animais a doenças e tratamentos. As causas de anemias e
coagulopatias, por exemplo, são semelhantes àquelas manifestações em aves e mamíferos.
Muitos dos métodos usados nos estudos em mamíferos podem ser aplicados na
hematologia de répteis, incluindo anticoagulantes, determinação do volume globular,
mensuração de fibrinogênio e concentração de hemoglobina, contagem de eritrócitos e a
preparação do esfregaço sanguíneo. Grandes variações podem ocorrer em testes nos
diferentes laboratórios devido á diferentes técnicas utilizadas, tempo da amostra, manejo
15
animal, idade, esforço físico, estado nutricional, condição fisiológica, e mental,
sazonalidade e contenção química (HAWKEY & DENNET, 1989).
O presente estudo objetivou revisar a literatura da produção e morfologia das
células sanguíneas dos répteis, destacando as principais alterações que podem ser
encontradas hemograma, relacionando-as com suas respectivas alterações clínicas.
REVISÃO DE LITERATURA
1. Coleta e Conservação de Amostras
1.1 Coleta
Em animais, a coleta de material inicia-se no momento da contenção. Especialmente em
animais selvagens que são bastante sensíveis ao estresse que poderá alterar o resultado das
análises. A contenção física gera estresse e esse geralmente eleva o número de heterófilos,
a glicemia e diminui o número de linfócitos, além de outros valores sanguíneos. Por outro
lado, a contenção química também irá modificar alguns elementos do sangue. Muitos
tranqüilizantes e anestésicos gerais promovem relaxamento esplênico, por efeito
antiadrenérgicos e ocorre seqüestro de eritrócitos e conseqüentemente, do volume globular.
Assim, um animal sadio poderá “parecer” anêmico (ALMOSNY e MONTEIRO, 2007).
Variações importantes podem ocorrer em testes efetuados no laboratório, devido a
técnicas utilizadas e hora em que foi realizada a coleta, assim como manejo , a estação do
ano, a idade do animal, possível esforço físico, o estado de excitação, o estado de nutrição,
e condições ambientais (ALMOSNY e MONTEIRO, 2007).
16
Amostras de sangue para a hematologia e a bioquímica sérica podem ser coletadas por
vários métodos, e a escolha depende de peculiaridades das espécies, volumes de sangue
necessário, tamanho do animal, condição física do paciente e a preferência do coletor
(HAWKEY & DENNET, 1989).
O método de coleta de amostras será determinado pelo tamanho do animal e pelo
volume de sangue requerido para o teste em particular. Deve-se observar, ainda, a
importância de manter a integridade do animal após a coleta, por tratar-se, às vezes, de um
dos poucos exemplares da espécie (ALMOSNY e MONTEIRO, 2007).
1.2 Conservação
Para avaliações hematológicas, o sangue deve ser coletado em frasco com
anticoagulante. Embora seja o EDTA o anticoagulante preferido para exames
hematológicos, essa substância costuma causar hemólise em répteis, especialmente em
quelônios (CAMPBELL,2004).
Assim, é necessário utilizar um anticoagulante alternativo, como a heparina de lítio.
Ela dá uma aparência azul ao esfregaço sanguíneo e pode provocar a formação de
agregados de leucócitos e trombócitos, dificultando a contagem celular. Para reduzir esses
efeitos, a amostra de sangue deve ser processada imediatamente após a coleta e as lâminas
devem ser preparadas o mais rápido possível. Para evitar a interferência do anticoagulante
na coloração do esfregaço sanguíneo, pode-ser utilizar uma gota de sangue obtidas
diretamente da agulha, logo após a coleta (CAMPBELL,2004).
17
Em répteis a contagem global de células necessita de uma adaptação para a contagem em
câmaras de Neubauer, pois todas são nucleadas e deverão ser observadas e contadas em
uma única fase; diferente dos métodos usados para hemogramas de mamíferos, em que se
usam diluentes específicos para a hematimetria, leucometria global e plaquetometria. Esses
animais possuem eritrócitos e leucócitos nucleados e os elementos responsáveis pela
hemostasia são células nucleadas chamadas de trombócitos (ALMOSNY e MONTEIRO,
2007).
Em animais que possuem eritrócitos nucleados, o número dos elementos figurados
do sangue é obtido em uma única diluição que pode ser efetuada com soro fisiológico,
diluente de Marcano ou de Gowers, acrescido de corante Giemsa numa proporção de seis
gotas do corante para 10 ml de diluente como descrito por Almosny et al. Essa solução não
é estável, devendo ser efetuada no momento da confecção do exame(ALMOSNY e
MONTEIRO, 2007).
2. Hematopoiese e Morfologia
2.1 Eritrócitos
Este grupo de células é produzido na medula a partir de células da linhagem
eritróide (eritroblastos), mas, diferentemente dos mamíferos, estas podem ser geradas a
partir de outras fontes. Neste caso, o fígado e o baço são apontados como importantes
sítios hematopoiéticos secundários. Alguns estudos têm demonstrado que eritrócitos
maduros podem se dividir por mitose dentro da corrente sanguínea e também dentro da
18
medula. Está descrito que tais eritrócitos também podem se multiplicar por divisão
amitótica, podendo eventualmente gerar hemácias anucleados (GOULART,2004).
Os eritrócitos maduros são células elípticas com um núcleo oval e condensado no
centro. O citoplasma normal se cora uniformemente de rosa (RASKIN,1999). Aumento da
basofilia do citoplasma (policromasia), variações no tamanho da célula (anisiocitose), ou
mudanças na forma (poiquilocitose) podem ser indicativos de alterações nestas células
(RASKIN,1999). Porém, discreta poiquilocitose e anisiocitose podem ser consideradas
normais em muitos répteis (ROSSKOPF,1999).
Figura 1: Eritrócito extensão de sangue periférico de Brothrops atrox
Fonte: Almosny e Monteiro, material didático
Eritrócitos imaturos ocasionalmente podem ser encontrados na periferia sanguínea
dos répteis, especialmente em animais muito jovens ou que estão sofrendo a ecdise. Eles
são células irregulares com um grande núcleo central e citoplasma basofílico e menores do
que os eritrócitos maduros. Atividades mitóticas associadas aos eritrócitos são comuns na
periferia sanguínea dos répteis (HAWKEY & DENNET, 1989).
19
Inclusões circulares, pequenas e basofílicas freqüentemente são encontradas no
citoplasma de eritrócitos na periferia sanguínea do esfregaço em muitas espécies de répteis.
Estas inclusões geralmente representam artefatos da preparação da lâmina. Eletromicroscopia da imagem sugere que estas inclusões são organelas degeneradas (HAWKEY
& DENNET, 1989).
2.2 Leucócitos
Os granulócitos dos répteis são classificados em dois grupos, acidófilos e basófilos,
baseado na coloração das células. Os acidófilos são divididos em heterófilos e eosinófilos
(HAWKEY & DENNET, 1989).
O desenvolvimento dos granulócitos dos répteis é semelhante ao dos mamíferos e são
associados a espaços extravasculares do estroma reticular da medula óssea. Granulócitos
maduros migram para o endotélio celular dos sinusóides para entrar na corrente sanguínea.
Os estágios de maturação são semelhantes aos que ocorrem nas aves. As células maduras
diminuem em tamanho, e o citoplasma torna-se menos basofílico. Especificamente,
grânulos característicos aparecem nos mielócitos e metamielócitos, e aumentam de número
durante a maturação. A cromatina nuclear torna-se intensamente condensada com a
maturidade, e nas células em que o núcleo é lobulado, ele passa de arredondado para
segmentado (HAWKEY & DENNET, 1989).
Heterófilos
Estas células são facilmente identificadas por seu grande tamanho (10 a 23 µm) e
20
por numerosos grânulos citoplasmáticos fusiformes e eosinofílicos, representando cerca de
40% dos leucócitos sanguíneos totais (RASKIN, 1999). O núcleo é único e geralmente
oval, porém em alguns lagartos eles podem ser multilobulados (RASKIN, 1999).
A função dos heterófilos é análoga à dos neutrófilos, incluindo fagocitose e atividade
antimicrobiana (ROSSKOPF, 1999).
Figura 2: Heterófilo em extensão de sangue periférico de Caiman crocudilus
Fonte: MOURA et al, 1990
Em répteis os granulócitos não basofílicos são caracterizados como granulócitos
neutrofílicos (tipo I) e granulócito eosinofílico (tipo II) e não como heterófilos, pois ainda
não foram apresentadas evidências de que essas células estejam funcionalmente
relacionadas a algum correspondente em mamíferos. No granulócito neutrofílico, os
grânulos coram pobremente pelo Giemsa enquanto no granulócito eosinofílico, esses
apresentam coloração acidófila intensa. ((ALMOSNY e MONTEIRO, 2007).
Figura 3: Granulócito tipo II em extensão de sangue periférico de Bitis arietans
21
Fonte: Almosny e Monteiro, material didático
Figura 4: Granulócito tipo II em extensão de sangue periférico de Pythons curtus
Fonte: Almosny e Monteiro, material didático
Eosinófilos
Os eosinófilos representam 20% dos leucócitos totais dos répteis (RASKIN,1999).
Em grande parte dos répteis são grandes e circulares, possuem grânulos citoplasmáticos
eosinofílicos. Os grânulos, em muitas espécies, como em iguanas, coram-se em azul
(HAWKEY & DENNET, 1989). O núcleo geralmente é oval, único ou bilobado e
localizado excentricamente (RASKIN,1999).
Sua função está relacionada com a fagocitose de imunocomplexos e está associada
a infecções por parasitas (ROSSKOPF,1999).
22
Figura 5: Eosinófilo em extensão de sangue periférico de Caiman crocodilus
Fonte: MOURA et al, 1990
Basófilos
Os basófilos representam de 0 a 40% dos leucócitos totais (RASKIN,1999).
Geralmente são pequenos, mas o tamanho pode ser variado (7 a 20µm), são células
circulares, que contêm grânulos basofílicos e metacromáticos citoplasmáticos, o que pode
camuflar o núcleo. Quando está visível, o núcleo celular é posicionado ligeiramente
excêntrico, e não é lobulado (HAWKEY & DENNET, 1989).
Estudos mostram que os basófilos dos répteis reagem por degranulação, liberando
histamina (ROSSKOPF,1999).
Figura 6: Basófilo em extensão de sangue periférico de Boa c. amaralli
Fonte: Almosny e Monteiro, material didático
23
Linfócitos
A linfopoiese nos répteis é semelhante à dos mamíferos e aves. Os linfoblastos,
prolinfócitos e linfócitos maduros aparecem igualmente ao dos mamíferos e aves, e eles
podem ser encontrados em órgãos linfopoiéticos, como o baço (HAWKEY & DENNET,
1989).
São células com tamanho variado (5,5 a 14,5µm) e se assemelham ao dos
mamíferos. O citoplasma, geralmente, é levemente basofílico. Esta transformação celular é
denominada de linfócitos reativos. Os linfócitos podem conter pequenos grânulos
azurófilos citoplasmático. Sua prevalência é variada, mas freqüentemente maior que 50%
do total de leucócitos de iguanas e tartarugas marinhas. O núcleo é compacto e circular,
semelhante aos trombócitos (RASKIN,1999).
A função é similar aos linfócitos dos mamíferos, incluindo a produção de
imunoglobulinas e mediação na resposta imunológica celular (ROSSKOPF,1999).
Figura 7: Linfócito em extensão de sangue periférico de Iguana iguana
Fonte: Almosny e Monteiro, material didático
Monócitos
24
Os monócitos geralmente são as maiores células da periferia sanguínea dos répteis,
e eles se assemelham aos monócitos dos mamíferos. Possuem formas que variam de
circular à amebóide. O núcleo também varia em forma, estando entre oval e lobulado. A
cromatina nuclear dos monócitos é menos condensada e relativamente mais pálida, quando
comparado ao núcleo dos linfócitos. O abundante citoplasma dos linfócitos cora-se em azul
acinzentado, e pode aparecer levemente opaco, e conter vacúolos (HAWKEY & DENNET,
1989). Eles possuem a função de fagocitose e são importantes na resposta granulomatosa
de infecções microbianas (ROSSKOPF,1999).
Figura 8: Monócito em extensão de sangue periférico de Boa constrictor
Fonte: Almosny,N.R.P.; material didático
Azurófilos
Estas células só ocorrem em iguanas e em algumas espécies de cobras. Possuem a
25
função semelhante a dos monócitos, de onde derivam. O tamanho da célula e o núcleo são
semelhantes aos monócitos. Até 20% dos leucócitos totais são de azurófilos em Ball pytons
e iguanas. O citoplasma contêm inúmeros grânulos eosinofílicos finos e parecidos com
poeira, que dão á ele coloração vermelha alaranjada (RASKIN,1999).
Figura 9: Azurófilo em extensão de sangue periférico de Iguana iguana
Fonte: Almosny,N.R.P.;material didático
2.3 Trombócitos
A produção de trombócitos nos répteis é similar à das aves. A célula madura elíptica
é derivada de células precursoras arredondadas. Os trombócitos em desenvolvimento são
menores e o citoplasma é menos basofílico. Durante os últimos estágios de
desenvolvimento, a cromatina nuclear se torna mais densa e grânulos citoplasmáticos
específicos aparecem (HAWKEY & DENNET, 1989).
Figura 10: Trombócitos em extensão de sangue periférico de Eunectes murinus
26
Fonte: Almosny,N.R.P.; material didático
Os trombócitos dos répteis são células nucleadas, com formato que varia de elíptico
a fusiforme. O núcleo, centralmente posicionado, possui uma cromatina nuclear densa, que
se cora em roxo, enquanto que o citoplasma tipicamente é menos corado e contem poucos
grânulos azurofílicos. Trombócitos ativos são comuns e aparecem como agrupamentos de
células com citoplasmas irregulares e vacúolos (HAWKEY & DENNET, 1989).
Dentre suas múltiplas funções, podemos citar sua capacidade de fagocitose,
participando ativamente na defesa do organismo, a capacidade de transformar-se em
eritrócitos (GOULART, 2004), se houver um aumento na demanda de eritrócitos (PENDL,
2006), e sua participação nos processos de hemostasia (GOULART, 2004).
3.Hemoparasitas
Répteis são vertebrados ectotérmicos que são hospedeiros para uma variedade de
parasitas intraeritrocitários, incluindo protistas, procariontes, vírus e estruturas de
condições incertas. Poucas infecções sanguíneas em peixes, anfíbios e répteis provaram ser
patogênicas, ao contrário de muitos parasitas intra-eritrocitários de mamíferos e algumas
aves, os quais são patogênicos (DAVIES e JOHNSTON, 2000).
27
Quando existe a destruição ou a diminuição de habitats, a biodiversidade é perdida
e a perturbação na composição de espécies faz com que os processos ecológicos sejam
rompidos e conseqüentemente ocorra o surgimento de problemas sanitários. Em habitats
fragmentados, as populações de animais silvestres podem crescer temporariamente acima
do normal, favorecendo altas taxas de transmissão de doenças. As populações densas
podem enfrentar pressão direta e crescente de parasitas e doenças. Quando uma população
hospedeira é colocada em uma área de tamanho reduzido em função da destruição de
habitat, freqüentemente haverá deterioração da qualidade do habitat e da disponibilidade de
alimento, o que gerará um teor nutricional baixo, animais desnutridos, e conseqüentemente
maior suscetibilidade a infecções. Esse agrupamento em grande quantidade pode levar ao
estresse social em uma população, seguido de queda da resistência a doenças (PRIMACK e
RODRIGUES, 2001).
O aumento de ocorrência de doenças está entre as maiores ameaças a diversidade biológica
que resultam da atividade humana. A maioria das espécies enfrenta problemas que
aceleram a sua trajetória em direção à extinção, que são causadas pelo uso crescente dos
recursos naturais por uma população humana em expansão exponencial (PRIMACK e
RODRIGUES, 2001).
Na medicina de animais selvagens, os exames laboratoriais podem ser considerados
métodos para diagnosticar e prevenir doenças e inclusive servir como bioindicador de
qualidade ambiental, uma vez que a saúde do meio ambiente influencia na biologia e
28
ecologia dos organismos que vivem nele (ALMOSNY e MONTEIRO, 2007).
A pesquisa de parasitas em animais silvestres in situ é uma ferramenta para o estudo
sanitário de uma população e da qualidade do ambiente podendo assim compreender
determinadas relações entre os parasito-hospedeiro e o meio ambiente em que vivem
(ALMOSNY e SANTOS, 2001). Dentre as doenças infectoparasitárias que podem ser
diagnosticadas por meio de exames hematológicos estão as hemoparasitoses (VENTURIN
et al.,2007). No sangue de animais selvagens, podem ser encontradas várias espécies de
parasitas. Entretanto, devemos atentar para relação parasita-hospedeiro, o estresse, entre
outros fatores, antes de considerar a patogenicidade destes agentes. Nos biomas
preservados, parasitas estabelecem uma relação com seus hospedeiros, no entanto, a
interferência humana prejudica o bioma e conseqüentemente os animais. A destruição e
modificação dos diferentes habitats naturais vêm acarretando em emergência e reemergência de doenças infectoparasitárias (ALMOSNY e SANTOS, 2001).
Em geral, os hemoparasitas necessitam de um vetor mecânico para sua transmissão
como mosquitos, moscas, carrapatos e ácaros hematófagos. Estes vetores são considerados
hospedeiros definitivos e intermediários de diversas doenças (GOULART, 2004).
Os protozoários hemoparasitas representam grande importância para a medicina de répteis.
Os mais comuns são as hemogregarias (Hemogregarina, Hepatozoon e Karyolysus),
trypanosomas e o Plasmodium. Menos comuns são a Leishimais, Saurocytozoon,
Hemoproteus, Schellackia e os piroplasmídeos. Microfilárias também são achados comuns
29
em esfregaços sanguíneos de répteis (HAWKEY & DENNET, 1989), apesar de lacunas
sobre a fisiopatologia, epidemiologia e manifestações clínicas associadas a estas
enfermidades. Os parasitas também são encontrados em órgãos como pulmão, fígado,
pâncreas e baço (VENTURIN et al., 2007).
Algumas inclusões intracelulares em lagartos e serpentes podem ser relacionadas a
afecções virais, nesses casos, associadas a sinais clínicos como prostação e anorexia, ou
apenas a organelas degenaradas (ALMOSNY e MONTEIRO, 2007).
Figura 11: Inclusões virais em eritrócitos
Fonte: Almosny,N.R.P.; material didático
3.1 Família Haemogregorinidae
Os parasitas do grupo da família Haemogregorinidae, Haemogregarinas,
Hepatozoon e Karyolysus, cuja distinção morfológica das formas parasíticas intraeritrocitárias podem não ser consistentes, são consideradas pouco patogênicas, podendo
produzir discreta anemia (GOULART, 2004), apesar de espécies de Hepatozoon serem os
hemoparasitas mais abundantes em serpentes (MOÇO et al., 2002).
A transmissão para répteis, comprovada por projetos experimentais, está ligada ao
momento do repasto sanguíneo por mosquito (Culicídeos e Anofelídeos) ou outros vetores
30
invertebrados hematófagos (carrapatos, sanguessugas) infectados; ou por meio de ingestão
de presas (hospedeiro intermediário) que se alimentaram com vetores infectados ou pela
própria ingestão do invertebrado
(AMO et al., 2005). A transmissão congênita é outra forma que ocorre em serpentes fêmeas
com parasitemia intensa (LOWICHIK e YAEGER, 1987).
Em cativeiro, a parasitemia se eleva consideravelmente (VILAR et al., 2004;),
porém, os efeitos destes parasitos em hospedeiros de vida livre são pobremente conhecidos
(AMO et al., 2005).
As haemogregarinas ocupam metade do volume do eritrócito e destroem as células
sanguíneas causando anemia (AMO et al., 2005). Além disso, a presença de gametócitos
em eritrócitos indica a existência de esquizontes em órgãos onde podem causar danos
adicionais (AMO et al., 2005). As infecções severas podem estar associadas a quadros de
anemia, mas normalmente não apresentam sinais de fraqueza ou letargia concomitantes.
No entanto, as infecções por Haemogregarinas sp. e Hepatozoon sp. raramente estão
associadas com o desenvolvimento de quadros clínicos patológicos em répteis, apesar da
importância de correlacionar a presença de hemoparasitas com sinais clínicos
característicos (ALMOSNY e MONTEIRO, 2007).
Figura 12: Hemoparasita da família Haemogregorinidae em eritrócito
31
Fonte: Almosny,N.R.P.; material didático
3.1.1 Hepatozoon.sp
Em animais selvagens, segundo LIMA e SILVA (2004), o parasitismo intenso leva a
crer que o Hepatozoon caimani pode causar importante enfermidade no réptil Caiman
crocodilus yacare (jacaré do Pantanal), principalmente as resultantes de obstrução de
capilares, com conseqüente trombose e necrose tissular. No entanto, mais estudos são
necessários para determinar a importância do Hepatozoon caimani como patógeno.
Freqüentemente
os
gametócitos
de
Hepatozoon
caimani
foram
encontrados
extracelularmente ou emergindo dos eritrócitos no Caiman crocodilus yacare.
Especialmente em crocodilianos, infecções severas em animais jovens de diversas
espécies, em adição ao estresse e/ou a outros patógenos, podem contribuir para o aumento
da mortalidade (VENTURIN, 2007).
Em Podocnemis expansa. ex situ , quelônios aquáticos, os hemoprotozoários são
frequentemente observados. Já em serpentes, é possível observar uma relação entre
situações de intensa parasitemia por hemogregarinas e estomatites bacterianas de difícil
tratamento (GOULART, 2004).
32
Espécies de Hepatozoon que infectam lagartos geralmente desenvolvem a
mesma forma de ciclo em hospedeiros invertebrados e no ciclo que se desenvolvem em
serpentes. Isso ocorre por ser uma característica de espécies de Hepatozoon (SMITH,
1994).
3.1.2 Haemogregarina sp.
Os parasitas do gênero Haemogregarina afetam peixes, quelônios e outros
répteis. A Haemogregarina é pouco patogênica, normalmente encontrada em animais
sadios e apenas causam alterações (principalmente anemia) quando em infecções severas
(ARAÚJO et al., 1999).
Espécies identificadas com o gênero Haemogregarina baseadas apenas na morfologia
dos estágios intraeritrocitários em hospedeiros vertebrados não é considerado uma
caracterização precisa. A identificação do gênero deve ser baseada em hospedeiros
intermediários
(hospedeiros
vertebrados),
hospedeiros
definitivos
(hospedeiro
invertebrado) e a sua localização nos hospedeiros vertebrados e invertebrados (WILFORD,
1977).
4.Perfil Hematológico nas diferentes ordens e subordens de répteis
4.1 Ordem Squamata
4.1.1 Subordem Ophidia
As serpentes estão incluídas na ordem Squamata e compõem a subordem Ophidia,
33
atualmente com cerca de 2.900 espécies no mundo. As famílias de maior interesse em
cativeiro np Brasil são: Boidae (cobra-papagaio, jibóbia, sucuri, salamanta), Colubridae
(falsas corais, cobra dagua e as serpentes exóticas – milksnakes e cornsnakes), Viparidea
(cascavel, surucucu-pico-de-jaca e jararacas), Elapidae (corais verdadeiras) e a família
exótica Pitonidae (pitons) (Kolesnikovas, Grego & Albuqueruqe....).
Em serpentes grandes e médias a veia caudal é usada preferencialmente para a
coleta de sangue. O ponto para coleta encontra-se imediatamente caudal aos hemipênis,
nos machos, ou às cloacas nas fêmeas (ALMOSNY e MONTEIRO, 2007).
Figura 13: Venipunção veia caudal ventral
Fonte: Almosny,N.R.P.; material didático
As células comumente encontradas no sangue de serpentes são eritrócitos,
trombócitos e leucócitos. Os eritrócitos das serpentes são elípticos e nucleados, sendo as
suas formas imaturas, eritroblastos, comumente vistas em pequena quantidade e mais
arredondadas, com núcleo maior e citoplasma um pouco basofílico. Os trombócitos são
células nucleadas que variam de tamanho e forma, possuem núcleo central, com cromatina
34
mais homogênea do que a dos eritrócitos, e citoplasma azul pálido e agranular. Os
trombócitos têm tendência a se agregar e participam do mecanismo de coagulação.
Segundo Alleman et al. (1999), dentre os leucócitos de serpentes, pode-se citar os
linfócitos, os azurófilos, os heterófilos e os basófilos. Os eosinófilos são encontrados em
quelônios e lagartos, mas a sua presença em serpentes necessita de maiores estudos. Os
linfócitos são os leucócitos mais encontrados no sangue das serpentes e são células
mononucleares, menores que os eritrócitos. Seu núcleo tem menor padrão de cromatina
densa e seu citoplasma é basofílico.
Os azurófilos são o segundo leucócito mais
encontrado no sangue de serpentes. Possuem o citoplasma vacuolizado e núcleo central a
excêntrico. Os heterófilos são leucócitos eosinofílicos grandes, de núcleo excêntrico e com
grânulos citoplasmáticos de esféricos a fusiformes. Podem ser encontrados heterófilos
íntegros ou degranulados. Os basófilos são células pequenas e esféricas, com grande
número de grânulos basofílicos no seu citoplasma. Sua função em serpentes,
provavelmente, é a mesma que nos mamíferos, pois eles possuem imunoglobulinas na
superfície e liberam histamina na degranulação (GREGO, ALVES, ALBUQUERQUE &
FERNANDES, 2006).
35
TABELA 1: VALORES HEMATOLÓGICOS DE REFERÊNCIA PARA SERPENTES
BRASILEIRAS MANTIDAS EM CATIVEIRO NO INSTITUTO BUTANTAN
Jibóia
(Boa constrictor)
Jararaca
(Bothrops jararaca)
Cascavel
(Crotalus durissus)
Eritrócitos totais (106/
mm3)
487+/- 61
257, 82 +/- 116,9
386,84 +/- 28,65
Hematócrito (%)
23,6 +/- 0,63
20,01 +/- 1,09
24,40 +/- 1,26
Hemoglobina (g/dL)
9,82 +/- 1,2
5,17 +/- 0,25
6,82 +/- 0,31
VCM (fL)
49,34 +/- 6,89
67,97 +/- 7,02
65,92 +/- 6,38
HCM (Pg/célula)
19,59 +/- 2,17
17,16 +/- 2,09
18,41 +/- 1,74
CHCM (g/L)
36,82 +/- 0,19
26,17 +/- 0,97
28,21 +/- 1,41
3,35 +/- 0,83
9,26 +/- 3,08
2,23 +/- 0,35
Heterófilos(103/
mm3)
9,62 +/- 1,75
9,17 +/- 6,00
8,83 +/- 0,74
Linfócitos(103/ mm3)
68,37 +/- 4,52
10,51 +/- 5,32
65,28 +/- 21,19
Azurófilos(103/ mm3)
21,25 +/- 3,93
61, 42 +/- 11,7
14,06 +/- 2,44
Basófilos(103/ mm3)
0,75 +/- 0,61
8,64 +/- 4,2
1,5 +/- 0,67
Trombócitos(103/
mm3)
11,25 +/- 0,0083 10,51 +/- 5,32
Leucócitos
(103/ mm3)
Totais
4,9 +/- 0,73
Fonte: Kolesnikovas, C.K.M;Grego,K.F; e L.C. Rameh de Albuquerque. In Tratado de Animais Selvagens.
São Paulo: Roca, 2007. Cap 8, p 75.
4.1.2 Subordem Suaria
36
Os lagartos, ou sáurios constituem o grupo com as mais variadas condições
morfológicas dentro da classe Reptilia. Compreendem desde os minúsculos geckos aos
gigantes dragões-de-komodo; do venenoso monstro-de-gila às inofensivas cobras-de-vidro,
dos mais especializados aos mais versáteis répteis. Esta subordem é constituída por um
total de 19 famílias, totalizando 4.675 espécies das quais somente duas espécies, os
monstrs-de-gila, são venenosas (GOULART, 2004).
O local mais utilizado para a coleta de em lagartos seja a veia coccígena ventral.
Amostras de sangue também podem ser coletadas da veia abdominal ventral, do seio
orbital, corte de unhas e do plexo axilar. (MURRAY, 1999).
Figura 14: Venipunção em veia caudal acesso lateral em Lagarto
Fonte: Almosny,N.R.P.; material didático
TABELA 2 :VALORES HEMATOLÓGICOS PARA IGUANA (Iguana iguana) E TEIÚ
(Tupinambis teguixim)
Iguana
Teiú
(Tupinambis teguixim)
(Iguana iguana)
Eritrócitos totais (106/ mm3)
1,56
1,05
Hematócrito (%)
37
32
Hemoglobina (g/dL)
9,6
9,2
VCM (fL)
271,2
416
HCM (Pg/célula)
80,4
179,6
CHCM (g/L)
28,0
33
37
Leucócitos Totais (/ µL)
10.810
17.700
Heterófilos(/ µL)
4.350
6.400
Neutrófilo (/ µL)
1.010
-
Linfócitos(/ µL)
5.090
9.100
Monócitos(/ µL)
580
1.400
Basófilos(/ µL)
360
600
Eosinólfilos (/ µL)
540
300
Fonte: Goulart,C.E.S; Tratado de Animais Selvagens. São Paulo: Roca, 2007. Cap 7, pg 64
4.2 Ordem Chelonia
Dentre os animais conhecidos como répteis existem aproximadamente 6.400 espécies,
divididas em quatro ordens. A ordem Testudinata, da qual fazem parte tartarugas,
jabutis e cágados, pode ser encontrada em diversos habitats e vem sofrendo impacto
com a pressão humana e a degradação ambiental. Calcula-se que, das 290 espécies de
testudines conhecidas, 166 estão ameaçadas de extinção (RAPHAEL, 2003).
A coleta de sangue, em espécies de quelônios, pode ser realizada nas veias jugular,
braquial, coccígena ventral, coccígena dorsal, por cardiocentese, e nos seios orbital,
postoccipital venoso (MURRAY, 1999).
Figura 15: Venipunção em veia caudal acesso lateral em Geochelone carbonaria
38
Fonte: Pachaly; material didático
TABELA 3: VALORES DE REFERÊNCUA PARA CHELONIA
Jabuti
Tartaruga-de-orelha- Tartaruga cabeçuda
Caretta caretta
(Geochelone
vermelha
(Trachemys scripta)
carbonaria)
Eritrócitos totais (106/
mm3)
2,05 +/- 2,83
0,84
0,84+/- 0,086
Hematócrito (%)
75 +/- 6
80
29,5+/- 7,3
Hemoglobina (g/L)
29,1 +/- 8,2
29,9
8,6 +/- 2
VCM (fL)
346,6 +/-184,7
397,9
1106,2+/- 413,1
HCM (Pg/célula)
136,6 +/- 18
108,1
348,0 +/- 58
CHCM (g/L)
306 +/- 18
296
29,5 +/- 4,9
Leucócitos Totais (103/
mm3)
7.140 +/- 3.470
13.960
4.249,3 +/- 1586,7
Heterófilos(103/ mm3)
1.760 +/- 1,6
5.020
21790,3 +/- 738,5
Neutrófilos
980 +/- 760
580
-
Linfócitos(103/ mm3)
3.330+/-1.780
3.300
800,8 +/- 602,6
Monócitos(103/ mm3)
180 +/- 190
240
560,5+/- 422,9
Basófilos(103/ mm3)
1.380+/- 1.770
3.800
4,2+/- 15,2
Eosinófilos
500+/-820
152
Fonte: Cubas, P.H & Baptistotte, C.....pg 104 e 107
594,7+/-477,6
4.3 Crocodylia
Os crocodilianos encontram-se divididos em três subfamílias, oito gggeneros e 23
39
espécies (BASSETTI, 2007).
Para nós, sul-americanos, os representantes mais comumente abordados são os
jacarés conhecidos também pelo nome de caiman(GOULART,2004).
Em crocodilianos, amostras de sangue são coletadas da veia supraorbital caudal,
por cardiocentese e da veia coccígena ventral (MURRAY, 1999).
Figura16: Venipunção em Seio Occiptal em Caiman crocodilus.
Fonte: Pachaly; material didático
Os sete tipos de elementos figurados conhecidos hoje, no sangue de crocodilianos,
foram descritos em Crocodilus rhombifer. O autor relatou a presença de eritrócitos,
trombócitos, linfócitos típicos e atípicos, monócitos pequenos e grandes, granulócitos,
compreendendo as formas acidófilas (eosinófilos e neutrofilóides) e basófilas.
Os eritrócitos apresentaram forma elíptica. O citoplasma é abundante, ocupando
cerca de 80% da célula, apresentando-se acidófilo, de tonalidade rósea ou alaranjada. O
núcleo, basófilo, de cromatina condensada, apresenta predominantemente a forma elíptica
e ocupa a posição central da célula. Eritrócitos de maior tamanho com núcleos esféricos
40
vesiculosos e formas arredondadas também são ocasionalmente encontrados. Além da
forma elíptica típica predominante, foram observados eritrócitos menores com aspecto "em
gota" e núcleo de cromatina condensada, aspecto característico da fase final da citocinese
(MOURA et al, 1999).
Os trombócitos são predominantemente elípticos, podendo também apresentar, às
vezes, forma menos alongada. O citoplasma hialino pode variar em volume, sendo
preferencialmente mais abundante nos pólos. Em outros casos é escasso. Em certos
trombócitos, nota-se nitidamente a presença de alguns gránulos azurófilos no citoplasma.
(MOURA et al, 1999).
Os heterófilos apresentam tamanho grande e forma de esférica a oval ou irregular.
O citoplasma de maneira geral é abundante, repleto de grânulos compactos, cuja acidofilia
varia na sua intensidade, dependendo do aspecto do grânulo, corando-se na tonalidade
rósea escura ou salmão. Quanto à morfologia, os grânulos mostram aspectos extremamente
variados, tanto no que se refere à intensidade de cor, quanto a sua forma, podendo ser
esféricos, fusiformes intensamente corados, ou ainda em forma de bastão, de baqueta ou
oval.
O núcleo esférico, em geral vesiculoso, à de localização excêntrica ou
periférica(MOURA et al, 1999).
O eosinófilo em geral possui forma esférica. O citoplasma é abundante e
homogeneamente preenchido por grânulos acidófilos, compactos, aproximadamente
esféricos, ovais ou alongados, corados em róseo, de tonalidade relativamente homogênea.
41
O núcleo, de cor violeta, é geralmente esférico ou lenticular e está situado em posição
excêntrica, podendo se apresentar eventualmente bilobulado(MOURA et al, 1999).
Os basófilos possuem forma esférica e são de tamanho menor quando comparados
aos demais leucócitos granulócitos. O citoplasma apresenta poucos grânulos, quando
comparado aos demais tipos de granulócitos, de forma esférica, fortemente basófilos, de
tamanho variável e, quando dispostos sobre o núcleo, podem até impossibilitar a distinção
do seu contorno (MOURA et al, 1999).
Os linfócitos apresentam grande variação quanto ao tamanho e á forma. É frequente
a presença de células de aspecto irregular ou mesmo esféricas. O citoplasma é escasso,
basófilo, com grânulos azurófilos, exibindo comumente projeções citoplasmáticas
(MOURA et al, 1999).
O monócito azurófilo apresenta formato esférico, podendo as vezes mostrar
contorno irregular. No citoplasma intensamente basófilo, observam-se grânulos
citoplasmáticos fortemente basófilos e azurófilos. O núcleo basófilo, grosseiramente
esférico, em geral com contorno irregular, ocupa posição excêntrica (MOURA et al, 1999)
42
TABELA 4: VALORES HEMATOLÓGICOS PARA CROCODILIANOS
(Caiman latirostris)
Paleosuchus palpebrous
machos
fêmeas
Eritrócitos totais (106/
mm3)
0,57 – 0,75
0,49-0,77
0,4-0,9
Hematócrito (%)
23-32
25-32
16-28
Hemoglobina (g/L)
7,2-10
8,7-11
6,2-8,8
VCM (fL)
353-479
318-481
180-530
HCM (Pg/célula)
111-153
115-177
98
CHCM (g/L)
28-33
25-37
23-38
Leucócitos
(103/ mm3)
Totais
4,1-9,8
2,7-13,5
Heterófilos(103/
mm3)
40-81
1.726-6.253
1,4-6,2
Linfócitos(103/ mm3)
15-54
333-4286
0,2-10,1
Eosinófilos(103/
mm3)
0-4
0-632
0,05-0,48
Monócito(103/ mm3)
0-2
0-110
0,03-0,23
Basófilos(103/ mm3)
0-1
0-142
0,05-0,48
Fonte: Bassetti,L.A.....pg120
5. Interpretação do Hemograma
Quando avaliamos a resposta hematológica dos répteis, fatores externos como a
43
condição ambiental, podem aumentar ou inibir a resposta do animal à doença (HAWKEY
& DENNET, 1989).
A contagem total e relativa de células sanguíneas pode variar grandemente em
função de diversos fatores, tais como: o tamanho da célula, a idade do animal, o sexo, a
época do ano, além de fatores patológicos, nutricionais e ambientais. Este fato cria para o
clínico uma dificuldade maior para a interpretação de resultados em exames hematológicos
(GOULART,2004).
5.1. Interpretação do Eritrograma
A avaliação laboratorial dos eritrócitos dos répteis envolve a determinação do
Volume Globular (VG), da contagem total de eritrócitos (He) e da concentração de
hemoglobina (Hb) (HARVEY, 1997).
O VG normal para a maioria dos répteis varia entre 20% e 40%. Valores menores
que 20% sugerem anemia, e maiores do que 40% sugerem hemoconcentração ou
policitemia (HAWKEY & DENNET, 1989). Além disto, o endoparasitismo pode causar
diminuição do Vg e da contagem total de eritrócitos (STACY & WHITAKER, 2000). Em
geral, os valores da concentração de hemoglobina normais variam entre 5,5 e 12 g/dL
(RASKIN, 1999).
As causas de anemia nos répteis são semelhantes às descritas em aves e mamíferos.
A anemia pode ser classificada como hemorrágica (perda sanguínea), hemolítica (aumento
da destruição das células) e não regenerativas (diminuição na produção de células)
44
(HAWKEY & DENNET, 1989). A anemia hemorrágica geralmente é resultante de injúrias
traumáticas ou de parasitas sugadores de sangue, entretanto, outras causas como
coagulopatias e lesões ulcerativas, podem ser consideradas. A anemia hemolítica pode ser
resultado de septicemia, parasitemia ou toxemia. E as anemias não regenerativas
geralmente estão relacionadas às doenças inflamatórias crônicas, especialmente as
associadas a agentes infecciosos. Outras causas podem ser relacionadas como doença renal
crônica, desordens hepáticas, neoplasias, químicas e, possivelmente, hipotireoidismo
(HAWKEY & DENNET, 1989).
Porém, caracterizar anemia em répteis requer um critério muito mais complexo do
que nas demais classes de animais superiores. Primeiro, precisamos considerar a época do
ano. É normal encontrarmos valores de contagem total da série vermelha, mais baixos no
meio do inverno. Neste período, espera-se também uma contagem relativa de eritroblastos,
próxima de zero. Assim que o fotoperíodo e a temperatura aumentam, as atividades
metabólicas se aceleram e neste momento podemos esperar contagem absoluta da série
vermelha ainda baixa, mas com o surgimento de eritroblastos policromatófilos em
proporções relativas que podem alcançar até 5%. No verão, o número de eritrócitos
circulantes tende a se estabilizar em patamares mais elevados e a contagem relativa de
eritroblastos tende a diminuir (GOULART, 2004).
Discreta poiquilocitose e anisiocitose são consideradas normais na maioria dos
répteis. Porém, de moderada a severa são encontradas em anemias regenerativas e em
45
outras desordens eritrocitárias. Campbell diz que pontilhados basofílicos podem ocorrer
durante a resposta à anemia, deficiência de ferro ou intoxicação por chumbo. Eritrócitos
hipocromáticos são sugestivos de anemia por deficiência de ferro ou perda sanguínea
crônica (ROSSKOPF,1999).
Parasitas sanguíneos são achados comuns nos esfregaços sanguíneos dos répteis, e a
maioria se encontra intraeritrocitariamente (PENDL, 2006).Na maioria dos répteis, mesmo
com infecções elevadas, raramente ocorrem manifestações clínicas (JOHNSON &
BENSON, 1996). Em algumas circunstâncias, entretanto, uma anemia de moderada a
severa pode ser desenvolvida e pode exacerbar uma condição patológica de diferente
etiologia (PENDL, 2006).
6. Interpretação do Leucograma
A avaliação do leucograma envolve a determinação da contagem total e diferencial
dos leucócitos, levando-se em consideração o exame da morfologia e da coloração das
células (HAWKEY & DENNET, 1989).
Uma leucocitose é, em geral, resultante de um processo infeccioso, mas também
pode ocorrer após uma situação de estresse, após uma situação de estresse e traumatismos.
Processos neoplásicos e degenerativos também podem causar discreta leucocitose. Por
outro lado, uma leucopenia pode estar associada a doenças virais, infecção bacteriana
grave (septicemia avançada) e toxemias (GOULART,2004).
Heterofilia e Heteropenia
46
Hibernação e estresse são fatores que diminuem e aumentam, respectivamente o número de
heterófilos circulantes. Os heterólfilos dos répteis são classificados como células
inflamatórias, assim, geralmente aumentam em casos de sépsis e necrose. Além disto, os
valores sempre aumentam em neoplasias e leucemias mielóides. Como nas aves e outras
espécies exóticas, heterófilos anormais encontrados no esfregaço sanguíneos de répteis são
utilizados na detecção de doenças infecciosas. Heterófilos tóxicos apresentam um aumento
na basofilia do citoplasma, vacuolização e grânulos citoplasmáticos anormais. Estas células
sugerem resposta inflamatória severa à infecção (especialmente bacteriana) e a outros
processos patológicos (ROSSKOPF,1999).
Eosinofilia e Eosinopenia
O número circulante de eosinófilos é influenciado por fatores ambientais, como as
alterações sazonais. O número de eosinófilos diminui durante os meses de verão, e
aumentam durante a hibernação. A eosinofilia pode ser associada à infecções parasitária e
estimulações do sistema imunológico (HAWKEY & DENNET, 1989).
Basofilia
A basofilia está associada á infecções virais e parasitárias (HAWKEY & DENNET,
1989). O número de basófilos aumenta com a infecção por hemoparasitas (ROSSKOPF,
1999). Variações sazonais em seus valores são mínimas (HAWKEY & DENNET, 1989).
Linfocitose e Linfopenia
Variações sazonais demonstraram que o número de linfócitos aumenta com o verão
47
e diminui com o inverno. O sexo também influencia no valor circulante de linfócitos.
Fêmeas de algumas espécies possuem o número maior do que os machos (ROSSKOPF,
1999).
A
linfopenia
freqüentemente
está
associada
à
desnutrição
ou
ocorre
secundariamente, a um grande número de doenças causadas pelo estresse e pela
imunossupressão. A linfocitose ocorre durante a cicatrização de feridas, doenças
inflamatórias, infecções parasitárias e virais. E também ocorre durante a ecdise. A presença
de linfócitos reativos sugere estimulação do sistema imunológico (HAWKEY & DENNET,
1989).
Monocitose
O número de monócitos não é influenciado por variações sazonais (ROSSKOPF,
1999). A monocitose geralmente está associada à necrose de tecidos como reportado em
pássaros (CUADRADO et al, 2002). E sugere doenças inflamatórias, principalmente
inflamação granulomatosas (HAWKEY & DENNET, 1989).
7. Interpretação das variações em Trombócitos
Trombócitos com núcleos polimorfos podem ser associados com doenças
inflamatórias graves. Trombócitos reativos são freqüentemente encontrados em condições
septicêmicas
severas
como
a
septicemia
por
Salmonella
(ROSSKOPF,1999).
Trombocitopenia em répteis geralmente é resultado de excessiva utilização ou deficiente
produção (HAWKEY & DENNET, 1989), ela é observada em casos de coagulação
48
intravascular disseminada. A hematologia reporta que em répteis é freqüentemente descrito
uma discreta quantidade de trombócitos reativos, o que ser um alerta para o clínico de um
problema em potencial (ROSSKOPF,1999).
CONCLUSÃO
A hematologia é uma ferramenta fundamental para a avaliação das condições
clínicas dos animais, inclusive dos répteis. Variações nos valores de eritrócitos podem
indicar anemia ou policitemia, que são classificadas de acordo com as alterações clínicas
apresentadas. Além disto, o estudo do eritrograma pode revelar a presença de
hemoparasitas, que são achados comuns nestes animais. Da mesma maneira, o aumento do
número de leucócitos totais pode nos indicar processos infecciosos, entre outros, e a
leucopenia indica doenças virais.
As informações acima descritas representam uma visão geral de trabalhos
realizados por pesquisadores respeitados. Porém, é fato que ainda existe muito pouca
pesquisa de base para fins conclusivos. Há de se considerar também que o perfil
hematológico de répteis pode sofrer uma grande variação fisiológica, decorrente de vários
fatores, como já foi citado anteriormente.
É recomendável que o clínico utilize as tabelas apresentadas em literatura sempre
com muita cautela e que sempre que possível realize pesquisas hematológicas periódicas
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em animais clinicamente sadios a fim de se elaborar um perfil hematológico para aquela
espécie em determinada região e situação.
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