Goiânia, terça-feira, 10 de Setembro de 2013
Goiânia
Motoristas mantém greve de ônibus
Assembleia realizada na madrugada decidiu por manutenção da paralisação até
pagamento de salários
Motoristas da empresa Reunidas decidiram por continuar a paralisação do transporte
coletivo iniciada da manha da última segunda-feira (9). A decisão foi tomada em assembleia
realizada durante a madrugada na garagem da empresa.
Eles rejeitaram a proposta da Viação Reunidas de pagar o restante do salário na próxima
segunda-feira (16), condicionada ao retorno imediato dos trabalhadores as suas atividades.
De acordo com os motoristas, eles só voltam às atividades após receberem o restante do
pagamento do mês de agosto.
Transporte Coletivo
Greve atinge 140 mil passageiros
Salário volta a ser pago pela metade e motoristas da Reunidas decidem por
paralisação
Passageiros aguardam ônibus na manhã de ontem sem saber de paralisação: revolta
Hoje o dia deve ser de mais transtornos para os mais de 140 mil passageiros de ônibus da
região Noroeste de Goiânia e de outros sete municípios, o chamado Arco Oeste do sistema
de transporte coletivo da região metropolitana da capital. A greve iniciada ontem, de forma
repentina, pelos motoristas da Viação Reunidas, que atende a área, não havia chegado ao
fim até o fechamento desta edição, aprofundando a crise no transporte que vem punindo os
passageiros e que se tornou mote das manifestações de junho. Todos os ônibus da Reunidas
permaneciam na garagem e não havia nenhuma indicação de que os motoristas encerrariam
a paralisação na manhã de hoje.
Os motoristas decidiram pela paralisação ainda na garagem da empresa, às 4 horas da
manhã de ontem, em protesto pelo parcelamento do salário. Eles receberam apenas 45% dos
vencimentos no 5º dia útil. Sem os ônibus da Reunidas, os motoristas da Rápido Araguaia,
que atendem as mesmas linhas, ficaram com medo de represálias por parte dos passageiros e
resolveram também paralisar o serviço. Quando era por volta de 11 horas, os motoristas da
Rápido Araguaia começaram a retomar o serviço. Os da Reunidas continuaram com os
braços cruzados.
O parcelamento do salário não é novidade para os motoristas da Reunidas. No mês passado,
a empresa fez o pagamento em duas vezes, irritando os funcionários, que chegaram a
ameaçar uma greve não concretizada. A Reunidas alega uma grave crise financeira,
acentuada pela manutenção da tarifa de ônibus em R$ 2,70. Em maio, a passagem havia
aumentado para R$ 3, mas o governo estadual e a Prefeitura de Goiânia decidiram congelar
a tarifa no valor anterior após protestos da população e uma decisão da Justiça (veja
quadro). No dia 16 de julho, as empresas anunciaram que iriam quebrar se não houvesse
reajuste. No final de agosto, sugeriram subsídio do poder público.
No final da tarde de ontem, apenas os ônibus da Rápido Araguaia atendiam as 74 linhas do
Arco Oeste. E mesmo os motoristas da Rápido já avisaram: se houver alguma depredação de
ônibus, também param.
Em uma tentativa de acordo, a Reunidas afirmou que se os motoristas voltassem ao
trabalho, o restante do salário será pago dentro de cinco dias. Em entrevista ao POPULAR,
os representantes da empresa pontuam que acumularam 235 títulos de pagamento a
fornecedores protestados na Justiça.
Para que não sobrecarregue a frota da Rápido Araguaia, a Companhia Metropolitana de
Transportes Coletivos (CMTC) propôs às outras três empresas que dividem o sistema (HP,
Cootego e Metrobus) um remanejamento dos ônibus de outras linhas, para atender os
passageiros atingidos pela paralisação. Representantes das mesmas devem se reunir hoje
para analisar a proposta.
“É a solução mais rápida, para o usuário que enxergamos, pelo menos até a análise dos
estudos de custo”, afirmou o presidente da CMTC, Ubirajara Alves Abbud.
De acordo com Décio Caetano, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte
Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia (Setransp), a medida iria apenas remediar o
problema. “Esse manejo na operação causaria transtornos para todos os usuários do sistema.
Precisamos de soluções a longo prazo, antes que essas greves aconteçam também em outras
empresas”, diz.
Abbud afirma que, pelo menos por enquanto, não haverá punição para a Reunidas. “Vamos
esgotar todas as soluções administrativas antes de partir para uma suspensão de concessão”.
Crise
O Setransp e a Reunidas justificam que a situação vivida hoje pelos passageiros da Reunidas
é fruto da crise financeira que atinge as cinco empresas concessionárias de transporte
coletivo na região metropolitana, agravada com congelamento da tarifa e o serviço de
Ganha Tempo, em que o usuário pode utilizar uma mesma passagem em até três ônibus no
período de duas horas e meia.
De acordo com a CMTC, as planilhas de custo do sistema operacional, que apontam uma
tarifa no valor de R$ 3,12 para manter o equilíbrio financeiro e econômico do sistema, ainda
estão em análise pelo grupo de estudo formado pelos principais órgãos do setor.
Caetano destaca ainda que, segundo os estudos, o congelamento das tarifas vai gerar um
prejuízo de R$ 40 milhões até o final do ano e isso já está repercutindo nas empresas. “Não
está difícil apenas para a Reunidas, mas o caso dela é mais delicado devido os longos
itinerários de suas linhas e pela divisão de lucros com a Metrobus. Qualquer empresa no seu
lugar não sustentaria essa situação”.
Quanto a necessidade de subsídio pelo poder público, Abbud afirma que é consenso entre os
representantes do setor, mas explica que “até agora não se definiu de onde sairá este
recurso”.
Motoristas irritados
“Ficaremos parados até que nos paguem o salário integral, que é nosso direito. Como todo
mundo, temos nossas contas a pagar, e receber apenas 45% dos vencimentos, sem nenhum
aviso prévio, é, no mínimo, injusto”, destacou o motorista Marcelo Alves Celestino, portavoz do grupo, que se concentrou em frente à garagem da Reunidas, na Rua Padre Burnier,
no Parque Industrial Paulista. Era por volta do meio-dia e Marcelo informou que, até então,
nenhum comunicado oficial por parte da empresa ainda havia sido feito. “Infelizmente,
quem sai prejudicado são os 300 mil passageiros que precisam dos nossos serviços na
Região Noroeste”, acrescentou.
De acordo com Marcelo, dos R$ 1,4 mil mensais a serem pagos, os motoristas da Reunidas
receberam entre R$ 400 e R$ 600. “É a segunda vez que isso acontece. Da primeira, no mês
passado, resolvemos dar um voto de confiança à empresa, que, de novo, age da mesma
forma. Se não fizermos nada, isso pode acabar virando hábito”, argumenta ele.
“É uma falta de respeito com todos usuários, que foram abandonados”, diz passageiros
PMs fazem segurança no Terminal Padre Pelágio, à noite
A presença maciça da Polícia Militar (PM) nos terminais impediu que qualquer
tentativa de depredação de ônibus pudesse acontecer na volta para casa ontem, no fim
do dia. Somente no Terminal Padre Pelágio havia oito viaturas da PM e uma do
Batalhão de Choque circulando a todo momento, no começo da noite.
No Terminal da Praça A havia dois grupos de policiais militares parados em frente as duas
entradas da estação do transporte coletivo. No Terminal do Dergo o clima era de
tranquilidade, contrastando com a revolta dos passageiros que aguardavam sentados no chão
a condução chegar. Não foram registrados tumultos relativos à paralisação de ontem até o
fechamento desta edição.
Por volta das 19h30, a cozinheira Angélica Aragão, de 57 anos, esperava no Terminal do
Dergo o ônibus que a levaria de volta para Santo Antônio de Goiás, onde mora. Ela estava
parada na estação há mais de 2 horas. Diabética, ela reclamava da falta de informações a
respeito do horário em que finalmente embarcaria. “Não posso ficar muito tempo sem
comer pelo problema de saúde que tenho. Isso aqui é revoltante”, disse.
Lucivânia Evangelista Roque, de 23 anos, não se conformava com a situação imposta. Ela
levanta diariamente às 5 horas e vem para a capital, onde trabalha como auxiliar de limpeza
na Maternidade Dona Íris.
“Estamos aqui sem comer, porque no terminal não tem lanchonete. Não podemos usar o
banheiro, porque é um nojo. Pelo menos consegui sentar, mas olha os outros: tem um monte
de gente no chão”
Prejuízos
“É uma falta de respeito com todos os usuários, que foram abandonados, hoje (ontem), nos
pontos de ônibus, sem a menor satisfação”, reclamou o pedreiro Jonas dos Santos Araújo, de
46 anos, que, por volta das 8h50, ainda esperava pelo transporte em um ponto de ônibus da
Avenida do Povo, na Vila Mutirão.
“Sei que os motoristas estão no direito deles, mas deveriam ao menos avisar. Agora, por
exemplo, não sei se espero mais ou se desisto e já volto para a casa; de qualquer forma, o
prejuízo já aconteceu”,completou o maqueiro Lucas Conceição da Silva, de 22 anos, desde
às 6h30 no mesmo ponto, à espera do ônibus para se deslocar até o trabalho.
No Terminal Padre Pelágio - vazio no final da manhã -, a aposentada Jovelina Pires Fraga,
de 81 anos, dizia-se sentir “ilhada”, sem saber o que fazer. De volta da casa da filha, no
Jardim Novo Mundo, ela precisava pegar o ônibus até o Jardim Cerrado 4, onde mora. Sem
solução e cansada de esperar, a idosa teve de optar por um táxi - não sem, antes, negociar a
corrida. “Ele está querendo cobrar 40 reais, mas acho que não dá isso tudo, não”, comentou
com a reportagem. No final das contas, o motorista do veículo decidiu cobrar pelo
taxímetro. E lá foi dona Jovelina, conseguindo manter, ainda, algum bom-humor: “Se eu
não tiver dinheiro que dê, chegando lá dou um jeito de arrumar, está certo, moço?”
1.3920Paralisação da Reunidas
Greve dos motoristas da Reunidas iniciada ontem atingiu passageiros de 8 municípios na
região metropolitana de Goiânia.
10 de setembro de 2013 (terça-feira)
Público atendido:
■ 140 mil pessoas
Municípios afetados:
■ Goiânia, Guapó, Trindade, Abadia de Goiás, Goianira, Nova Veneza, Brazabrantes, Santo
Antônio de Goiás
Terminais abastecidos pelas linhas da Reunidas:
■ Praça A, Dergo, Padre Pelágio, Trindade, Vera Cruz, Recanto do Bosque, Goiânia Viva e
Parque Oeste
Saiba mais:
■ A Reunidas tem 153 carros, 211 motoristas, 600 funcionários e atende 74 linhas, passando
por 1.683 pontos de paradas na área oeste.
Transporte em crise
Falta de soluções se arrasta desde maio
10 de setembro de 2013 (terça-feira)
■ 21 de maio - Reunião da Câmara Deliberativa define aumento da tarifa de R$ 2,70 para
R$ 3
■ 12 de junho - Após decisão judicial, tarifa volta para R$ 2,70
■ 17 de junho - Proposto aumento da tarifa para
R$ 2,85
■ 19 de junho - Prefeito Paulo Garcia e governador Marconi Perillo congelam a tarifa em
R$ 2,70
■ 9 de julho - Empresas anunciam fim do serviço Citybus para conter custos
11 de julho - CDTC proíbe fim do Citybus
■ 16 de julho - Setransp anuncia crise do transporte em reunião no Palácio das Esmeraldas
e dá ultimato: solução precisa vir até agosto. Grupo é formado para analisar caso
■ 24 de julho - Grupo de trabalho se reúne pela primeira vez, mas discussão é sobre Passe
Livre Estudantil
■ 29 de julho - Empresas notificam CDTC e CMTC por solução da crise e alegam
descumprimento do contrato
■ 1º de agosto - Empresas decidem manter planilha de férias em 37 linhas
■ 5 de agosto - Em nova reunião, grupo de trabalho decide por atualização dos custos do
transporte coletivo, com trabalho sobre planilhas das empresas
■ 7 de agosto - Reunidas paga só 50% do salário e motoristas ameaçam greve para o dia 13
■ 13 de agosto - Motoristas não entram em greve e Reunidas paga os outros 50%
■ 29 de agosto - 42 dias após dar ultimato, empresas apresentam as planilhas e pedem tarifa
a R$ 3,12
■ 9 de setembro - Reunidas paga só 45% do salário e motoristas entram em greve até que
se pague o restante
Download

Sem título1