RTP / Antena 1 Açores
20112011-1010-26 01:00:46
PREFÁCIO: Um Livro da Socióloga Maria Beatriz da RochaRochaTrindade: "A SERRA E A CIDADE O TRIÂNGULO DOURADO DO
REGIONALISMO"
PREFÁCIO
UM LIVRO DA SOCIÓLOGA MARIA BEATRIZ ROCHA-TRINDADE
João Alves das Neves
SOBRE O MOVIMENTO REGIONALISTA DAS GENTES DA SERRA
Tendo-se notabilizado como professora universitária e especialista dos problemas da
Diáspora Portuguesa através do Mundo, Maria Beatriz Rocha-Trindade, doutorada em
Sociologia pela Universidade de Paris V (Sorbonne), fundadora e investigadora do
Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), da
Universidade Aberta de Portugal, lança agora o livro «A Serra e a Cidade – O Triângulo
Dourado do Regionalismo».
Não sendo de menosprezar diversas obras já publicadas, de outros autores, sobre o
Movimento Regionalista na Região da Beira-Serra, chega-nos o estudo que faltava,
referido especificamente aos concelhos de Arganil, Pampilhosa da Serra e Góis. A
documentação produzida pela autorizada estudiosa da nossa Emigração é
pormenorizada, fundamentada e cientificamente interpretada. Afinal, as questões da
Diáspora e do Regionalismo cruzam-se frequentemente, dado o contexto de
migrações internas característico nestes concelhos, conforme observou a autora no
decurso de duas dezenas de anos de investigações, tanto directamente no terreno,
como por intermédio de numerosos depoimentos que recolheu e de acções que pôde
acompanhar, como ainda por via de extensa pesquisa documental.
A primeira parte deste trabalho, que tivemos o privilégio de ler antes da sua
publicação, é dedicada a uma descrição da zona serrana: «A Serra: Vistas e
Perspectivas; Factos e Indicadores; As Aldeias da Serra». Por essas páginas fica-se a
conhecer a visão do visitante provindo do exterior e a impressão que lhe é transmitida
pela beleza da paisagem, frequentemente marcada pela nudez causada pelos
incêndios florestais. São todavia fornecidos outros dados de natureza quantitativa, que
provam a grave tendência para o despovoamento, causado pela falta de recursos
naturais e de emprego na região analisada.
O primeiro capítulo termina com o inventário das freguesias e povoações dos três
concelhos, que a autora conhece na sua maior parte.
O capítulo «Da Serra Para a Cidade» refere-se, como é logo indicado nas suas
primeiras linhas, à história das migrações das aldeias serranas para o exterior, em
termos de migrações internacionais e, sobretudo, de migração interna, particularmente
para a cidade de Lisboa e região circunvizinha. Narram-se factos característicos dos
primórdios da fixação na Capital e, inicialmente, a procura de empregos disponíveis,
muito embora pouco qualificados. Com o decorrer do tempo, descreve-se a tendência
para a especialização de profissões consoante as localidades de proveniência e o
sucesso que, em maioria, os naturais da Serra alcançaram nos diversos campos
profissionais.
A autora mostra de que modo a integração na grande cidade não fez esquecer os
problemas e as insuficiências das terras de origem. «Em Torno do Regionalismo» é um
capítulo inteiramente dedicado à explicação do fenómeno regionalista, quanto aos
seus objectivos genéricos e específicos, a sua forma de organização e de instituição e
resultando finalmente na proliferação das respectivas estruturas associativas, desde as
grandes Casas Regionais às mais pequenas das Ligas e Comissões de Melhoramentos,
a nível de freguesia e, até, de lugar.
Colocando-se seguidamente na situação presente, Maria Beatriz Rocha-Trindade
debruça¬ se sobre o funcionamento interno destas estruturas. «Entre a Serra e a
Cidade» evidencia o modo como os eventos regionalistas são planeados, organizados e
calendarizados ao longo do ano, por que forma são publicitados e localizados num ou
no outro dos pólos de interesse das populações serranas, consoante a época do ano.
É no mesmo capítulo que o leitor se pode melhor aperceber por que forma se
estabeleceram as pontes de solidariedade entre os residentes na região da Capital e os
conterrâneos que permaneceram nas terras de origem, em termos de combater o
isolamento e melhorar a sua qualidade de vida. Aí é também prestada a homenagem
da autora àqueles que designa como «Pais do Regionalismo» e, bem assim, às
personalidades da Serra que mais se distinguiram a nível nacional ou internacional.
O capítulo final «Novas Imagens da Serra» abrange um elenco alargado de questões,
tanto referidas ao presente como ao futuro previsível: a evolução e funcionalidades das
estruturas associativas, as novas configurações do movimento regionalista e a posição
a ser tomada quanto à questão fulcral da regionalização administrativa do País.
A este propósito, a investigadora procura resumir numa única frase a sua opinião
quanto ao papel actual do Regionalismo da Serra: «Aquilo que no passado poderia por
algumas pessoas ser considerado apenas como acessório ou lateral passou a ter duas
funções principais, nitidamente diferentes uma da outra: por um lado, visar a melhoria
da qualidade de vida dos mais idosos, quer os residentes nas aldeias quer aqueles que
a elas regressarão após a reforma; por outro, criar atractivos às populações mais
jovens, tanto os residentes como os visitantes por ocasião de férias, além de
proporcionar às crianças e jovens o gosto de estar na terra dos seus ascendentes».
Acrescente-se que a autora nos apresenta uma muito extensa bibliografia, incidindo
sobre todas as partes do conteúdo cuja leitura nos propõe e que assim
adequadamente o enriquece.
Feita esta breve apresentação da estrutura da obra, cabe-nos introduzir, sobre a
mesma, um conjunto de comentários.
Data de há muitos anos o conhecimento pessoal que temos de Maria Beatriz RochaTrindade. Os nossos percursos têm-se cruzado inúmeras vezes, em termos de
convívio social ou de colaboração profissional, em Portugal e no Brasil, em Lisboa, em
Arganil e noutros locais da Serra. Dessa convivência nasceu e frutificou uma sólida
amizade e um respeito mútuo por aquilo que cada um de nós sabe e conhece e cada
vez melhor procura saber e conhecer.
A obra que neste momento foi dada à estampa representa um esforço muito
considerável de estudo, de observação e de reflexão crítica, já que, ao contrário de nós
próprios, a autora não tem as suas raízes na Serra mas nos distantes Algarves. Não
pôde, assim, evocar memórias ou recorrer a conhecimentos prévios para compreender
a essência da origem serrana, sentir as dificuldades do isolamento, enfrentar a falta de
horizontes de esperança no futuro.
E, no entanto, conseguiu-o, à custa de uma investigação escrupulosa, de uma
metodologia adequada, de um esforço continuado de procura de uma realidade que
nem sempre é visível nem óbvia.
O título do seu trabalho parafraseia, invertendo-o, o de Eça de Queirós; e completa-o
com a metáfora do «triângulo dourado», trempe essa apoiada nas sedes de concelho
de Arganil, Góis e Pampilhosa da Serra. De facto, é nestes pontos que se situa a
estrutura- base do Regionalismo. Mas deve entender-se que o sugerido brilho do ouro
não é sinónimo de riqueza material (muito pelo contrário!) mas do esplendor da
coesão e da solidariedade entre conterrâneos.
De facto, a alma das gentes da Beira-Serra está intimamente ligada ao Regionalismo,
com tudo o que aí se congrega de eminentemente construtivo e solidário.
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Link: http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/comunidades/?k=PREFACIOUm-Livro-da-Sociologa-Maria-Beatrizda-Rocha-Trindade-A-SERRA-E-A-CIDADE-O-TRIANGULO-DOURADO-DO-REGIONALISMO----Joao-Alvesdas-Neves-12.rtp&post=36220
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