ID: 42085717 01-06-2012 Custo por aluno no secundário é 50% maior que no ensino superior Reitores usam indicador para classificar a “vergonha” do desinvestimento. Financiamento caiu 45% em seis anos. Ana Petronilho [email protected] O investimento do Estado por cada aluno do ensino básico e secundário é superior em mais de 50% àquele que é feito por cada estudante universitário. Este é apenas um principais indicadores que os reitores identificam para demonstrar a situação de sub-financiamento do ensino superior, que não hesitam em classificar como “uma vergonha.” Contas feitas, o investimento público no sector estará hoje 45% abaixo do que se verificava em 2006. Um aluno do superior representa hoje menos 1.957 euros de financiamento anual por parte do Estado do que um aluno do básico ou secundário. De acordo com o Orçamento do Estado de 2012, em média, um universitário custa 3.461 euros por ano. Já um aluno do 2º ciclo do básico ou do secundário, seja no público ou no privado, é financiado em 5.418 euros, segundo dados publicados pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no estudo “O Estado da Educação”, de 2011. A diferença diminui quando comparado o financiamento entre um estudante do superior com um aluno do 1º ciclo, mas ainda assim é inferior. Segundo o CNE, no 1º ciclo o custo é de 3.815 euros, mais 354 euros do que no superior. Diferenças de financiamento que os reitores dizem não compreender, e que classificam mesmo como “uma vergonha”. Até porque “o país só será competitivo e a economia só vai melhorar se os nossos jovens forem melhor qualificados”, sustenta António Cruz Serra, reitor da Universidade Técnica de Lisboa, que neste momento prepara a fusão com a Universidade de Lisboa e que já avisou que, havendo mais quebras no financiamento, o processo pára. Opinião partilhada pelo presidente da Agência de Avaliação e Acreditação (A3ES). Alberto Amaral considera “lamentável que ainda não se tenha percebido que o financiamento do superior é a chave para o desenvolvimento do país”. O reitor da UTL dá o exemplo do Instituto Superior Técnico, que este ano teve uma dotação de 37,5 milhões de euros para os seus onze mil estudantes, o que resulta num financiamento por aluno de cerca de 3.400 euros. Já na Universidade de Lisboa (UL), o vice-reitor António Vasconcelos Tavares dá o caso da Faculdade de Letras, onde cada aluno é financiado em 2.261 euros. E na Faculdade de Ciências e de Medicina (as áreas mais caras), os investimentos ficam-se nos 4.058 euros e 4.122 euros por aluno, respectivamente. Mas o baixo financiamento per capita é apenas um dos vários problemas que os reitores identificam. O valor do Orçamento do Estado, que dizem estar “45% abaixo da de 2006”, - isto porque “desde 2006 a dotação desceu 30% e simultaneamente as contribuições O reitor da Universidade Técnica de Lisboa, António Cruz Serra diz que o financiamento do superior em Portugal “é uma vergonha”. O vice-reitor da Universidade de Lisboa, António Vasconcelos Tavares revela que o financiamento de um aluno de Ciências é de 4.058 euros e de Medicina 4.122 euros. A pró-reitora da Universidade de Lisboa diz que a despesa das famílias subiu 8% em relação a 2005 e que há mais dificuldades em fazer face à despesa. para a CGA aumentaram 15%” sofreu este ano um corte de 9,6% na despesa consolidada em relação a 2011. Ou seja, cerca de 864 milhões. Um valor que a pró-reitora da UL, Luísa Cerdeira assegura que “fica muito aquém de sequer cobrir um valor dos salários dos docentes, investigadores e não docentes”. Ao Económico, Cerdeira explica que “na generalidade das universidades, entre 15% a 25% dos salários do pessoal já têm que ser pago das receitas próprias.” Além disso, o atraso da promulgação da Lei dos Compromissos já fez com que, pelo menos na UTL, tenha sido necessário abrir três concursos para concessão de três cantinas, revela Cruz Serra. “Em vez de fazer um concurso normal, para contratos anuais renováveis até três anos, abri concursos até 31 de Dezembro e naturalmente ficou mais caro.” Despesa das famílias aumentou 8% em relação a 2005 Os reitores defendem que, face à quebra no financiamento do Estado por cada aluno, aumenta o peso da despesa das famílias. Um universitário gasta, em média, cerca de 6.624 euros por ano, o que representa 552 euros por mês. Um valor que subiu 8% em relação a 2005, ano em que a despesa rondava os 6.127 euros por ano. Esta é uma das conclusões do estudo da pró-reitora da UL, Luísa Cerdeira, em parceria com a Gulbenkian, intitulado “CESTES – Os Custos dos Estudantes do Ensino Superior”, que vai ser apresentado no próximo dia 6 de Junho. Para a pró-reitora, que é especialista de financiamento do superior, “não há um grande acréscimo global na despesas, durante os últimos cinco anos”. No entanto, “tendo em conta o contexto actual e comparando o PIB ‘per capita’ das famílias de 2005 com o deste ano, o número de famílias com dificuldades em fazer face a esta despesa aumenta significativamente”, conclui Luísa Cerdeira. ■ Tiragem: 23019 Pág: 16 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,67 x 31,82 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 2 GOVERNO REGULAMENTA ESCOLARIDADE OBRIGATÓRIA E ADAPTA ID: 42085717 01-06-2012 Tiragem: 23019 Pág: 17 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 17,31 x 33,35 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 2 Paulo Figueiredo (arquivo) CÓDIGO DO TRABALHO O Governo aprovou ontem um novo regime de matrículas que se vai adaptar ao alargamento da escolaridade obrigatória, que passa dos 16 para os 18 anos, já no próximo ano lectivo. Segundo Nuno Crato, vão ser implementadas “várias modalidades” de matrículas: no ensino secundário regular, no ensino profissional e ainda a matrícula por disciplina, de modo a “conciliar o estudo com algum trabalho” fora da escola. Crato disse ainda que o diploma não vai ser divulgado para já porque “vai sofrer algumas alterações”. Na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros, Marques Guedes esclareceu que vão ser feitas adaptações ao Código de Trabalho, tendo em conta o novo limite da escolaridade obrigatória. A idade legal limite para um contrato de trabalho é de 16 anos, e vai manter-se, mas só será permitido aos empregadores contratar jovens que, com esta idade, tenham concluído a escolaridade obrigatória.