O PRANTO DE MARIA PARDA
de Gil Vicente
O Pranto de Maria Parda.
Fundamentalmente o itinerário de uma privação.
Privação dolorosa, insustentável. Privação que impõe a figuração da Morte.
E aqui vem Mário de Sá Carneiro.
Da falta á irrisão. À ascese.
Maria Parda no barco de Dionísio, à volta do mundo, do vinho e do teatro.
Com Caronte e Rimbaud.
Maria do Céu Guerra
Ficha Técnica e Artística
Texto: Gil Vicente
Encenação: Maria do Céu Guerra
Elenco: Maria do Céu Guerra
Adereços: Vitor Sá Machado | Luz: Manuel Mendonça
A BARRACA
Largo de Santos 2, 1200-808 Lisboa Tel: 213965360/5275 Fax: 213955845
E-mail: [email protected] Site: http://www.abarraca.com
Padecia neste tempo o reino de Portugal calamitoso aperto de fome. Porque, quanto mais
corria o ano de 22, em que vamos, tanto maior era o trabalho.
Crescia a falta, gastando e comendo o povo esse pouco pão que havia.
Castela não podia ajudar, porque a esterilidade no ano de 21 fora igual nela.
De França não vinha nada, respeito das guerras que trazia o imperador.
Os pobres do reino acudiam todos a Lisboa arrastando consigo as suas tristes famílias,
persuadidas da força da necessidade que poderiam achar remédio onde estavam o rei e os
grandes. Mas aconteciam casos lastimosos. Muitos caíam e ficavam mortos e sem sepultura
pelos caminhos, de fracos e desalentados.
Os que chegavam a Lisboa pareciam desenterrados, pálidos nos sembrantes, débiles e sem
força nos membros. Dinheiro não aceitavam de esmola, porque não achavam que comprar com
ele. Só pão queriam; e este não havia quem o desse.
Porque algum que às escondidas se vendia, era a quatrocentos e cinquenta réis o alqueire; o
centeo a duzentos réis,; o milho a cento e cincoenta, que para aquele tempo era como um
prodígio.
Frei Luis de Sousa, Anais de D. João III, com prefácio do Prof. M. Rodrigues Lapa, Lisboa, 1938,
pp. 64-65
CRÍTICAS:
Que me recorde, vi este monólogo interpretado por Aura Abranches, Palmira Bastos, etc. e
sempre saí lamentando que um texto tão interessante resultasse tão chato. Pois com a Maria do
Céu Guerra, de tal modo a recriação é feita por dentro de tudo aquilo que diz, ainda a esta
hora eu podia estar lá, a vê-la que, tenho a certeza, não estaria chateado. Tá dito.
Victor Pavão dos Santos
in O Jornal
(...) O seu monólogo é como um delírio que culmina na cerimónia do testamento, louco,
grandiloquente, com a mania das grandezas que só a demência pode conceber. Mas a
linguagem é dos nossos dias, e dos nossos dias são os provérbios proferidos e os ditos libertinos
do texto.
Através de Maria Parda ouve-se um coro de outros bêbados. Que reflectem os males de uma
cidade assediada pela fome e pela sede:
A BARRACA
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“ Eu só quero prantear
Este mal que a muitos toca...”
Maria Parda não pode ter outro fundo que Lisboa, a Lisboa da Ribeira e de Alfama, a Lisboa da
Rua do Cata-que-farás, da Mouraria, da Praça dos Canos e da capelinha do Espírito Santo.
Um mundo que se debruça no fabuloso estuário do Tejo – com a Ribeira à direita e à esquerda
Almada, Barreiro e Alcochete. Um mundo que se confina por terra na Arruda dos Vinhos,
Abrantes e Atouguia, nas “costas” de Lisboa e que tem “na outra banda” o “glorioso Seixal,
senhor de outros Seixais”. Um mundo que reza às Santas da Atouguia e da Abrigada.
Um pequeno mundo para quem trabalha todo um império, mesmo em períodos de carestia, um
mundo que ainda manda, mas às custas de “Entre Douro e Minho” e que não reconhece
cidadania aos habitantes de outros “planetas” (...).
Luciana Stegagno Picchio
Céu Guerra distinguida com prémio UNESCO
A actriz Maria do Céu Guerra, da Companhia A BARRACA, recebeu ontem, em Sevilha, O Prémio
UNESCO, instituído para distinguir espectáculos do Festival de Artes Cénicas da Expo’92. Dos 50
mil espectáculos apresentados ao longo da Expo’92, o júri internacional seleccionou 25, entre
os quais a peça de Gil Vicente Pranto e Testamento de Maria Parda, encenado e interpretado
pela actriz portuguesa.
in Diário de Notícias, 11/10/92
Prémio Unesco da Expo de Sevilha em 92, entre 50 000 espectáculos, transformou-se há muito
tempo num símbolo internacional da Cultura Portuguesa.
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