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Geral
Aná­po­lis, de 11 a 17 de janeiro de 2013
Tragédia em 2008
Delegado indicia piloto por homicídio
doloso em acidente que matou quatro
Sinistro aconteceu em 2008. Após manobra acrobática perigosa, avião explodiu na pista do Aeroporto Civil de Anápolis,
deixando o saldo de quatro mortos
Claudius Brito
O
Delegado de Polícia Manoel Vanderic Correa Filho
concluiu, e remeteu ao
Poder Judiciário, o inquérito sobre o acidente aéreo
ocorrido em Anápolis no
dia 28 de novembro, no
Aeroporto Civil JK, o qual
resultou na morte de quatro pessoas: Carlos Alberto Pires Gonçalves; José
Maria Cajango Araújo,
Odair José Pereira de Sousa e Fabrício Tavares da
Silva. Além de uma pessoa que ficou com lesões
corporais graves: Rogério
Pereira Rosa.
Na peça que seguiu
para o Judiciário, o delegado indiciou por homicí- Destroços da aeronave que caiu e pegou fogo na pista do Aeroporto JK
dio doloso, Luiz Henrique
sua capacidade máxima um plano de vôo local. Nos
Neves da Silva, um dos mando da aeronave.
Para o delegado Manoel de ocupantes e com o tan- dados obtidos com a degrasobreviventes da tragédia
e que estaria no comando Vanderic Filho, entretan- que de combustível cheio. vação do GPS, após a decoda aeronave N400SA, mo- to, além do testemunho Nestas condições (disse lagem a aeronave cruzou a
delo BE58, fabricado pela de Rogério Pereira, outras ele) não poderia ter sido BR-153 nas proximidades
Beechcraft Corporation. evidências apontaram que feita a manobra e, ainda, do Loteamento Jardim São
Em entrevista ao Jornal era Luiz Henrique quem a uma altitude cerca de Paulo e Santa Clara e, em
CONTEXTO, o delegado estava pilotando, já que um décimo do recomen- seguida, sobrevoou outros
Manoel Vanderic Filho ele encontrava-se sentado dável. Esses fatos colabo- bairros, vindo a cruzar a
relatou que a investiga- no lado esquerdo da aero- raram para a conclusão da vertical da BR 153, um
ção sobre o caso começou nave - local destinado ao tese de homicídio doloso, pouco antes da Avenida
pouco depois do acidente. piloto - e José Maria Ca- uma vez que, segundo o Brasil Sul. Também passou
Mas, somente em agosto jango à direita, local que é delegado, Luiz Henrique próximo ao Porto Seco, gaconhecia as condições da nhando altura e velocidadeste ano, chegou ao 6º destinado ao copiloto.
aeronave e era um piloto de. Na Vila Operária, já em
Distrito Policial, onde é
experiente. Ele teria as- descida, foi executada uma
O acidente
titular.
O laudo produzido sumido o risco de provo- curva mais acentuada, viConforme narrou o
bacharel, ao longo da in- pelo CENIPA, segundo o car o acidente, no que se sando enquadrar a pista do
vestigação que instruiu o delegado, foi fundamen- convencionou chamar de aeroporto, quando foi atingida a velocidade máxima
inquérito, várias testemu- tal para a conclusão do dolo eventual.
no circuito (359 km\h). Em
inquérito,
em
razão
das
Conforme
o
relatório
do
nhas foram ouvidas, denseguida, ainda conforme o
informações
coletada
pelo
CENIPA,
o
primeiro
imtre elas o sobrevivente Rorelatório do CENIPA, “após
aparelho
de
GPS,
enconpacto
da
aeronave
contra
gério Pereira Rosa, técnico
de manutenção aeronáu- trado pelos técnicos, cuja o solo ocorreu a aproxima- realizar uma passagem
tica, contratado por uma degravação, feita nos Es- damente 1.200 metros da baixa ao lado da pista 25 a
empresa terceirizada para tados Unidos, descreveu cabeceira 25 do Aeropor- cerca de 10 metros do solo,
trabalhar na reforma da uma série de informações to JK, sobre a grama, a 20 o piloto efetuou uma suaeronave. Ele afirmou, no importantes sobre a tra- metros da lateral esquerda bida, executou o início de
depoimento, que o avião jetória e a velocidade do da pista. Após o primeiro uma manobra acrobática
estava sendo pilotado por avião. O que provocou impacto, a aeronave subiu denominada tounneaux,
Luiz Henrique. Este, por a queda, e a explosão da e voltou a descer, impac- girando para a esquerda,
sua vez, na época, ouvi- aeronave, teria sido uma tando o solo novamente, perdendo altura e colidindo pelo Centro de Inves- manobra acrobática cha- dentro dos limites da pista, do contra o solo.
No relatório, Luiz Hentigação e Prevenção de mada de “tounneaux”, onde deslizou por cerca de
através
do
qual
o
piloto
340
metros,
até
parar
um
rique,
piloto e operador do
Acidentes Aeronáuticos
faz
um
giro
completo
em
pouco
mais
além
da
cabeavião,
informou
que “quem
(CENIPA), órgão ligado ao
torno
do
seu
eixo.
O
proceira
07.
O
relatório
aponpilotava
a
aeronave
era o triComando da Aeronáutica
blema
destacou
Manota
que
a
aeronave
decolou
pulante
que
estava
no
assenBrasileira, atribuiu a José
el
Vanderic
Filho
é
que
sem
apresentação
de
plano
to
da
direita”,
se
referindo
a
Maria Cajango Araújo - falecido no acidente - o co- a aeronave estava com a de vôo, para a realização de José Maria Cajango Araújo.
Delegado Manoel Vanderic Filho, condutor do inquérito policial que apurou as causas do desastre
Agravantes
No relatório da CENIPA constam, ainda,
outras agravantes que
se somaram à tragédia:
o avião, comprado nos
Estados Unidos, havia
perdido o registro norteamericano. Em vistoria
realizada pela Agência
Nacional de Aviação Civil, no dia 17 de setembro de 2008, o aparelho
não passou pela referida
vistoria, por não estar
comprovada a revisão
dos motores. A ANAC
- Agência Nacional de
Aviação Civil - teria,
então, apresentado um
relatório com os problemas a serem solucionados antes de nova
vistoria, mas, conforme
narrou o delegado, essas exigências não foram
atendidas. Com isso,
não possuía a matrícula
brasileira, chamada de
Certificado de Aeronavegabilidade. Além, ainda,
de não ser homologada
para manobras acrobáticas. Portanto, a aeronave
tinha situação irregular.
O CENIPA esclareceu
que José Maria Cajango
Araújo era qualificado,
experiente e estava com
as suas licenças regula-
res. Já Luiz Henrique,
estava com o Certificado de Capacidade Física suspenso pela ANAC
desde maio de 2007.
Além do que, em seu
histórico, constava que
ele já havia se envolvido em, pelo menos, dois
outros acidentes.
Processo
O delegado Manoel
Vanderic Filho ressaltou
que o inquérito encaminhado ao Judiciário foi
repassado ao Ministério
Público, que decidirá
em relação à formulação da denúncia. Caso
acate a tese apresentada de homicídio doloso,
o indiciado deverá ir a
júri popular. Caso o MP
entenda que não houve
dolo e que o crime foi
de homicídio culposo,
o julgamento será feito numa Vara Criminal.
Na hipótese de dolo, as
penas poderiam chegar
a 40 anos, em razão dos
quatro óbitos. Em ambas
as situações, entretanto,
será garantida a ampla
defesa para o indiciado,
que sustenta a sua inocência no fato de que
não estaria no comando
do avião.
Justiça para se evitarem novas tragédias
O executivo Edson Tavares, pai
de Fabrício Tavares da Silva, um
dos mortos na tragédia, relata que
no dia fatal estava saindo do Porto Seco quando soube do acidente
ocorrido no Aeroporto e que um
dos ocupantes era o seu cunhado
Carlinhos (Carlos Alberto Pires
Gonçalves) era um dos ocupantes.
Cerca de 20 minutos depois de estar no local, teve conhecimento de
que o seu filho Fabrício, também,
estava no avião e teve o corpo carbonizado.
Tavares lembra que pouco depois do acidente foi procurado
pela família de Luiz Henrique para
que ajudasse a conseguir, junto a
uma operadora de plano de saúde,
pele para ser usada na cirurgia de
reconstituição de partes do corpo
do piloto e um dos donos da aeronave e, dessa forma, colaborou
para a sua recuperação.
Entretanto, ressaltou que nada
tira o direito dos familiares das
vítimas de acompanharem o caso
e que as informações sobre a conclusão do inquérito, que indicou
Luiz Henrique, o piloto, reforçam
o que outras pessoas diziam e o
que mostraram cenas gravadas do
acidente. Ou seja, disse: “imperícia e negligência”.
Estudioso de aviação, Edson Tavares observa que “em nenhuma
hipótese, a manobra poderia ser
feita com seis pessoas e cerca de
300 litros de combustível no tanque”. “Foi uma irresponsabilidade gigante”, asseverou. Ele afirma
que não tem nenhum sentimento
de vingança. Apenas, quer que a
Justiça chegue a uma conclusão
e impute as responsabilidades,
inclusive, “dando todo o direito
de defesa que é garantido constitucionalmente”. Além do que, há
uma preocupação para que casos
como este, que comoveu Anápolis
e o Brasil, devido à sua ampla repercussão, não ocorram mais. “O
Brasil tem um Código Aéreo muito
rígido e isso pode ser um exemplo”,
pontuou, acrescentando que é um
sentimento de muita dor para as
famílias das vítimas, assim como,
também, do indiciado. “Mas é preciso que a Justiça faça a sua parte e
nós vamos acompanhar tudo bem
de perto, o que é nosso direito enquanto familiares”.
Tavares adiantou que pretende
pedir o recolhimento do passaporte de Luiz Henrique, a fim de
evitar que o mesmo deixe o País
para não responder ao processo.
Conforme disse, Luiz Henrique
teria imóvel nos Estados Unidos
e já teria se desfeito de alguns
bens. Para ele, foi louvável a conclusão de inquérito por parte do
6º Distrito Policial e, agora, vai
acompanhar a decisão a ser dada
pelo Ministério Público e que vai
direcionar o caso. “Pode demorar
muito, mas, de qualquer forma,
começa a se fazer justiça ao acidente que marcou profundamente a minha vida e de outras famílias”, concluiu.
Edson Tavares, pai de Fabrício, uma das vítimas no acidente
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