AVALIAÇÃO DE TRABALHO DE IMPLEMENTO DE DESTRUIÇÃO DE RESTOS CULTURAIS DO ALGODOEIRO* Luis Eduardo Pacifici Rangel1, Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva2, Walsir Orlando Lussietti3. (1) Embrapa Algodão, Rua São Paulo, 790, Distrito Industrial, Primavera do Leste, MT. e-mail: [email protected] ,(2) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário, 58107-720 Campina Grande, PB, e-mail: [email protected] , (3) Remagril Máquinas, Rondonópolis, MT. RESUMO A destruição de soqueiras do algodoeiro é um procedimento necessário para a manutenção da sanidade da cultura ao longo dos anos. Essa atividade é controlada através de lei federal e fiscalizada pelos órgãos competentes de cada Estado. A carência de equipamentos adequados e eficientes para esta operação tem demandado vários estudos. No ano de 2002, com recursos do Facual foi desenvolvido um protótipo de equipamento agrícola, de concepção simples, montado no hidráulico do trator, acionado pela tomada de força que utiliza princípio da roçadeira para a trituração da parte aérea das plantas e do rotovator (enxada rotativa) para atuar sobre o perfil cultural do solo, na fileira do algodão, para a destruição parcial das raízes. O protótipo foi avaliado quanto a sua eficiência operacional na destruição dos restos culturais do algodão no município de Campo Verde. O delineamento experimental utilizado foi o blocos ao acaso com parcelas sub-subdividida com quatro repetições. As varáveis estudadas foram o número de soca residual após a passagem do protótipo, profundidade de corte ou movimentação de solo, tamanho médio das partículas deixadas pelo protótipo e a rebrota do algodoeiro. Os resultados demonstraram que a máquina foi eficiente na destruição localizada de soqueiras sendo necessário, no entanto, o aperfeiçoamento da mesma para rendimento de trabalho e potência. Para o Sistema de Plantio Direto o protótipo deverá sofrer alguns ajustes, pois, realiza a movimentação do solo o que não é recomendável para esta prática. INTRODUÇÃO Os procedimentos de destruição dos restos culturais do algodoeiro ao final do ciclo de cultivo se tornaram estratégia fundamental para a sobrevivência da cultura. O aparecimento de pragas como o bicudo (Anthonomus grandis), além de outros insetos que se alojam nos restos culturais do algodoeiro e várias doenças podem causar prejuízos ao agricultor, aumentando o uso de defensivos (Adkisson 1972; Walker 1986) Os procedimentos de destruição de restos culturais, ou soqueiras como são comumente chamados, fazem parte do sistema de produção do algodoeiro nos cerrados. Segundo a Portaria Ministerial nº 77 de 23 de junho de 1993, é obrigatória a destruição de restos culturais do algodoeiro até 31 de agosto sob penalidades previstas no código penal (Art.259). Cada estado produtor de algodão pode referendar ou prorrogar o prazo para a realização deste procedimento de acordo com suas capacidades operacionais (Freire et al., 1993). Para a realização eficiente da destruição dos restos culturais muitos agricultores utilizam implementos pesados de preparo do solo, como as grades aradoras e grades niveladoras (Silva et al., 1997; Carvalho 1983). Estes implementos movimentam o solo desagregando-o formando uma camada compactada na sub-superfície e eliminando a cobertura vegetal que protege contra a erosão. Implementos deste tipo não condizem com as novas estratégias do Sistema de Plantio Direto e Cultivo * Projeto financiado pelo Facual Mínimo que estão sendo disponibilizadas para a maior sustentabilidade da cotonicultura nos cerrados (Freire et al., 1993; Gassen & Gassen 1996) . Para uma destruição eficiente e sustentável é necessário que se tenha agilidade no processo, com o menor número de operações possíveis, eficiência no trabalho (destruição sem rebrota) e com pouca ou sem movimentação do solo (Silva et al., 1997). Neste contexto desenvolveu-se um protótipo de implemento agrícola para a destruição de restos culturais do algodoeiro com vistas a criar uma alternativa para o sistema tradicional e implementar um cultivo mínimo na cultura do algodoeiro. Este protótipo foi submetido a testes de campo para avaliação de sua eficiência na destruição dos restos culturais do algodão constituindo-se no objetivo do presente trabalho. MATERIAL E MÉTODOS No ano de 2002, com recursos do Facual foi desenvolvido um protótipo de equipamento agrícola, de concepção simples, montado no hidráulico do trator, acionado pela tomada de força do trator que utiliza o princípio da roçadeira para a trituração da parte aérea das plantas e do rotovator (enxada rotativa) para atuar sobre o perfil cultural do solo, na fileira do algodão, para a destruição parcial das raízes. O protótipo foi avaliado quanto a sua eficiência operacional na destruição dos restos culturais, em fazenda de produtor, em sistema de plantio direto do algodão sobre palhada de milho, com a cultivar CNPA ITA 90, no município de Campo Verde. MT. A fonte de potencia para a tração foi um trator da marca Valtra® (2002) com 110 HP. A rotação de trabalho do trator foi de 1850 rpm e a marcha utilizada no deslocamento foi a 2ª Reduzida. A densidade de plantio na área do experimento era de 10 plantas/m linear em média. A massa verde constatada na área foi de 1788 g (m2)-1 de algodão. A altura média das plantas estava em torno de 81,11 cm enquanto o diâmetro caulinar ficou em 1,15 cm em média. O protótipo apresenta uma largura de 1,77 m e o distanciamento entre o centro das facas foi de 1m. sendo dispostas em conjunto de três facas grandes e três pequenas, as menores medem 18 cm enquanto as maiores 21 cm, compondo assim um sistema de dois discos sobre um eixo horizontal. O protótipo possui uma caixa de transmissão acoplada, que transforma a rotação do trator em rotação de trabalho no eixo porta facas. O protótipo foi desenvolvido para atuar simultaneamente em roço e na forma de enxadas rotativas nas fileiras do algodão. A avaliação, no entanto, contou apenas com a segunda parte do conjunto, uma vez que a operação do roço já havia sido avaliado. A velocidade de deslocamento do conjunto trator x protótipo foi fixada em 1,12 m s-1 e a eficiência teórica de trabalho figurou em torno de 0,7 ha hora-1. Para determinar a eficiência operacional do equipamento foram considerados os seguintes fatores: rotação de trabalho – RPM (1150 e 730 RPM), altura das soqueiras - SOQ (18,9 cm - altura convencional do roço na fazenda; 11,52 – menor altura de trabalho da roçadeira; 29,1- maior altura proporcional) e altura de trabalho do protótipo – H (altura de trabalho rente ao solo e altura 5 cm superior obtida em um dispositivo de regulagem). As variáveis analisadas foram: número soqueiras residuais após a passagem da máquina, profundidade de corte da máquina ou movimentação de solo, tamanho médio das partículas deixadas pela máquina e a rebrota do algodoeiro. O delineamento foi em blocos ao caso com parcelas sub-subdividida, onde a parcela inicial seria a rotação de trabalho (RPM), a subparcela a altura de trabalho (H) e a subparcela dentro da subparcela (sub-subparcela) a altura de soqueiras do algodoeiro (SOQ). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados dos testes para as variáveis profundidade do sulco de trabalho e tamanho da partícula produzida foram significativos quando submetidos às três fontes de variação: rotação por minuto (RPM), altura de trabalho da máquina (H) e altura de corte das soqueiras (SOQ). A variável “número de resíduos no solo” mostrou diferenças significativas apenas para o fator RPM enquanto as demais variáveis mostraram-se diferentes significativamente para todos os demais fatores ou fontes da variação. A exceção ficou representada pela variável ”tamanho da partícula” que não demonstrou apresentar diferenças significativas quando submetido a diferentes RPM. A altura de corte das soqueiras (SOQ) foi outro fator submetido à avaliação e demonstrou provocar variações nos parâmetros profundidade do sulco de trabalho e tamanho da partícula produzida. A altura de roçada das soqueiras é um fator que vem sendo trabalhado para definir novas formas de destruição de restos culturais. Neste experimento, alturas maiores proporcionaram a remoção dos resíduos culturais incluindo as raízes. A altura de trabalho da máquina foi um fator que alterou a movimentação do solo e o tamanho das partículas destruídas. Este fato pode determinar a aplicabilidade da máquina em sistemas de plantio diferentes ou mesmo em diferentes texturas de solo, fato a ser observado em próximos ensaios. As avaliações finais de rebrota de soqueiras, foram concluídas sem que se notasse nenhum índice de rebrota nas áreas de teste, sendo esta variável desconsiderada pela eficiência do protótipo para esta variável. Observou-se também a necessidade de um treinamento prévio do operador do trator para alinhar o protótipo sobre as fileiras do algodão com vistas a realizar a destruição das plantas com eficiência. CONCLUSÕES Os resultados demonstraram que o protótipo foi eficiente na destruição localizada de soqueiras sendo necessário, no entanto, o aperfeiçoamento do mesmo para rendimento de trabalho e potência. Para o Sistema de Plantio Direto o protótipo deverá sofrer alguns ajustes pois realiza a movimentação do solo o que não é recomendável para esta prática. O trabalho do protótipo na linha de plantio exige treinamento e muita atenção do operador do trator. Tabela 1. Comportamento do protótipo na operação de destruição de soqueira em campo de algodão, no município de Campo Verde, MT, 2002. Fator testado RPM H de trabalho Altura de SOQ Nível do fator 1150 rpm 730 rpm 0 cm 5 cm 18,9 cm 11,5 cm 29,1 cm Resíduos de soqueiras (un) 7,18 A 3,77 B 5,60 A 5,35 A 5,75 A 5,93 A 4,75 A Movimentação do solo (cm) 6,58 A 4,81 B 8,10 A 3,29 B 6,34 A 5,21 B 5,53 B Valores seguidos das mesmas letras na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Tamanho da partícula (cm) 19,16 A 17,85 A 23,71 A 13,30 B 20,8 A 16,6 B 18,02 AB Figura 1. Fotos do protótipo acoplado ao trator, em operação e o resultado do trabalho em campo de algodão pós colheita. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADKISSON, P.L. Use of cultural pratices in insect pest management. In: Implementing pratical peste managment strategies. Texas: Proc. Natl. Ext. Insect, Pest Manage Workshoy, 1972. CARVALHO, L.H. Arrancador de soqueira de algodão tipo Leme. Campinas: Fundação Cargill, 1983. 10p. FREIRE, E.C. SANTOS, A.M. dos; ARANTES, E.M.; PARO, H. Diagnóstico da cultura do algodão em Mato Grosso. Cuiabá: EMPAER-MT; Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1993. 59p. (EMBRAPACNPA. Documentos, 6). GASSEN, D.N.; GASSEN, F.R. Plantio direto a caminho do futuro. Passo Fundo: Aldeia Sul, 1996. 207p. SILVA, O.R.R.F.; VASCONCELOS, O.L.; SOARES, J.J.; CARVALHO, O.S.; QUEIROZ, J.C.; PAULA, D.F. de. Avaliação de diferentes métodos de destruição de restos culturais do algodoeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 1., 1997, Fortaleza. Anais... Campina Grande: EMBRAPA-CNPA. 1997. p. 387-390. WALKER, J.K. Controle cultural do bicudo. In: BARBOSA, S.; LUKEFAHR, M.J.; BRAGA SOBRINHO, R. O bicudo do algodoeiro. Brasília: EMBRAPA-DDT, 1986. p.159-183.