1 Processos de Aprendizagem e suas Implicações para Atividades Inovadoras: Evidências de uma Empresa Recém-graduada (Start-up) e de outra Consolidada Autoria: Silvana de Souza Werneck, Luciana Manhães Marins, Ricardo Mendanha Piquet de Alcantara, Assis Luiz Mafort Ouverney Resumo Este artigo enfoca o relacionamento entre processos de aprendizagem e suas implicações para o engajamento em atividades inovadoras. Esse exame é feito a partir de duas empresas: uma recém-graduada, atuante na indústria de óleo e gás (PipeWay Engenharia Ltda); e outra já estabelecida na indústria metal-mecânica automotiva (Timken de Nova Friburgo, RJ). A análise realiza-se à luz de uma estrutura analítica, disponível na literatura, sobre processos de aprendizagem tecnológica, a qual é adaptada para as empresas escolhidas, até então não examinadas na literatura. O estudo examina como os processos de aprendizagem influenciam o desenvolvimento tecnológico empresarial. Constatou-se que a introdução de processos de aprendizagem em uma empresa não está limitada pela sua idade. Os resultados sugerem que: (i) a idade relativamente mais avançada não limita o desenvolvimento de inovações, como no caso da Timken; (ii) o fato de uma empresa ser jovem pode acelerar a evolução de seus processos de aprendizagem, como no caso da PipeWay. Em ambos os casos, as evidências sugerem que a introdução desses processos decorre da emergência de uma visão empreendedora, materializada em esforços deliberados em processos de aprendizagem. 1. Introdução Competências tecnológicas são os recursos necessários para que uma firma possa gerar e gerenciar mudanças técnicas em suas atividades, conforme destaca Bell (1984). Dentre tais recursos, destacam-se os conhecimentos tácito e explícito, bem como as estruturas e relações institucionais internas e externas às firmas. Acumular competências é fundamental para que uma empresa torne-se capaz de realizar atividades inovadoras, de forma que obtenha e sustente uma posição competitiva em seu mercado de atuação. A trajetória de acumulação de competências tecnológicas de uma empresa é marcada por processos de aprendizagem subjacentes. Esses processos permitem o acúmulo crescente de conhecimentos e habilidades e, assim, determinam a trajetória de acumulação de competências tecnológicas das firmas. A acumulação de competências tecnológicas e os processos de aprendizagem subjacentes têm sido abordados nos últimos vinte anos por duas correntes da literatura: a relacionada a empresas localizadas em países de industrialização tardia e a relacionada a empresas sediadas em países localizados na fronteira tecnológica. Os processos de aprendizagem são insumos necessários à capacidade de acumulação tecnológica. Diferentes empresas possuem curvas de capacitação tecnológica diferentes devido aos diferentes processos de acumulação, segundo Figueiredo (2001). O presente estudo tem por objetivo examinar os processos de aprendizagem identificados ao longo da trajetória de duas empresas: PipeWay Engenharia Ltda e Timken de Nova Friburgo, demonstrando o impacto de tais processos no desenvolvimento tecnológico, condicionante para a inserção competitiva das mesmas no mercado. A PipeWay foi escolhida por ser uma empresa recém-graduada de uma incubadora tecnológica (o Instituto Gênesis da PUC-RJ), criada no ano de 1998. Por ter sido gerada em um centro de excelência tecnológica, a empresa em questão, desde seu surgimento, esteve integrada a esse lócus de criação, o qual possibilitou um maior contato com atividades intensivas em conhecimento tecnológico. Atuante no setor de óleo e gás, a PipeWay presta serviços de limpeza e inspeção de dutos, utilizando uma ferramenta inovadora: o pig. 2 A Timken, subsidiária do grupo norte-americano The Timken Company, atua no setor metalmecânico automotivo, produzindo colunas de direção. Sua seleção deu-se não somente em função de seu porte, como também por sua natureza: empresa consolidada no mercado há mais de vinte anos. Adicionalmente, a Timken localiza-se no município de Nova Friburgo / RJ - uma região dominada pela indústria têxtil. No estudo original, o período de análise estendeu-se de 1998 a 2003 para a PipeWay, e de 1980 a 2003 para a Timken. Para fins comparativos, neste artigo, o período de análise restringir-se-á aos anos de 2000 a 2003. Este artigo está estruturado em seis seções. Na Seção 2, são apresentados os conceitos e as estruturas analíticas que guiam o estudo. O método do estudo é apresentado na Seção 3. O exame dos processos de aprendizagem e suas implicações para o engajamento em atividades inovadoras nas empresas estudadas é realizado na Seção 4. Por fim, na Seção 5, são apresentadas as conclusões do estudo. 2. Modelos Conceituais e Analíticos 2.1. Acumulação de Competências Tecnológicas Acumular competências tecnológicas é fator decisivo para o desempenho competitivo empresarial. Conforme afirma Figueiredo (2001), esse fator é ainda mais crítico para empresas atuantes em economias em industrialização, denominadas empresas emergentes. As empresas que operam em contextos econômicos mais evoluídos são detentoras de técnicas mais avançadas e estão engajadas em atividades mais complexas. Tais empresas constituem a fronteira tecnológica. Enquanto as empresas da fronteira tecnológica já possuem competências tecnológicas inovadoras, nas empresas emergentes essas competências devem ser construídas e acumuladas. Somente constituindo e sustentando sua base de competências tecnológicas, as empresas emergentes poderão aproximar-se da fronteira tecnológica, conforme argumentado por Lall (1992), Bell e Pavitt (1995), Kim (1998) e Figueiredo (2001). Para tanto, essas firmas devem engajar-se em processos de aprendizagem tecnológica. Neste estudo, o conceito empregado é o desenvolvido por Bell e Pavitt (1993), que as definem como os recursos necessários para gerar e gerir a mudança técnica, incorporados em indivíduos e sistemas organizacionais. Essa definição é utilizada por possuir sentido abrangente o suficiente para descrever trajetórias de acumulação tecnológica, atentando para as dimensões técnica e organizacional. Além disso, a definição está contextualizada para as características de empresas emergentes. Ao se tratar das competências tecnológicas, é necessário que sejam distinguidos os conceitos de capacidade de produção e capacitação inovadora. Conforme o fazem Bell e Pavitt (1993), deve-se considerar a diferença entre as competências de rotina – competências para usar – e as competências inovadoras – competências para mudar. O conceito de capacidade de produção relaciona-se às competências de rotina, que são os recursos para produzir bens e serviços em determinado nível de eficiência, utilizando-se uma combinação de fatores: habilidades, equipamentos, especificações de produtos e de produção, sistemas e métodos organizacionais. A capacitação inovadora, por sua vez, incorpora recursos adicionais e distintos para gerar e gerir a mudança tecnológica. 2.2. Processos de Aprendizagem Tecnológica A aprendizagem tecnológica é usualmente definida em dois sentidos. O primeiro relaciona-se aos conceitos de melhoria do desempenho operacional, produtividade e curvas de aprendizagem, utilizados no campo da microeconomia. O segundo refere-se aos diferentes processos de aquisição de conhecimento pelos indivíduos e de conversão para a organização. 3 No presente estudo, aprendizagem é entendida no último sentido definido. Aprendizagem são os processos mediante os quais habilidades e conhecimentos são adquiridos por indivíduos e convertidos, por meio deles, para a organização, conforme afirma Bell (1984). Tal aquisição permite o desenvolvimento, bem como a acumulação de competências tecnológicas, de forma a possibilitar o engajamento empresarial em atividades cada vez mais inovadoras. Quanto ao conhecimento tecnológico, grande parte deste é tácito e específico para várias firmas e mercados. Por isso, como argumentam Nelson e Winter (1982), a acumulação de conhecimento depende em profundidade de processos de aprendizagem específicos. Figueiredo (2001) argumenta que há escassez de estruturas analíticas que explorem as implicações práticas dos processos de aprendizagem sobre as competências tecnológicas das empresas, em especial sobre as empresas localizadas em países de industrialização tardia. Essa ausência serviu de motivação para que o autor desenvolvesse um modelo, voltado para empresas emergentes, que permite identificar como os processos de aprendizagem influenciam as diferenças interfirmas nas suas trajetórias de acumulação de competências tecnológicas. A Tabela 1, a seguir, ilustra a estrutura elaborada por Figueiredo (2001). Tabela 1. Modelo analítico para examinar processos de aprendizagem em organizações emergentes Processos de Conversão de Conhecimento Processos de Aquisição de Conhecimento Processos de Aprendizagem Aquisição Externa de Conhecimento Aquisição Interna de Conhecimento Socialização de Conhecimento Codificação de Conhecimento Variedade Características-chaves dos processos de aprendizagem Intensidade Funcionamento Ausente - Presente [Limitada- Baixa - Intermitente Moderada-Diversa] Contínua Preseça/Ausência de processos para adquirir Modo como a empresa conhecimento localmente ou usa este processo ao no exterior (ex: treinamento, longo do tempo. Pode fornecedores, usuários, ser contínua, contratação de expertise intermitente ou baixa. laboratórios, universidades, assistência técnica). Preseça/Ausência de processos para adquirir Modo como a empresa conhecimento em ativ(s) diferentes processos internas de rotina ou para aquisição interna inovadoras (ex: experimentação de conhecimento. sistemática, treinamento). Presença/Ausência de diferentes processos por meio Modo como processos dos quais indivíduos prossegurem ao longo compartilham seu dos anos. Intensidade conhecimento tácito (ex: contínua do processo solução compartilhada de de socialização pode problemas, times, rotação no influenciar codificação trabalho, treinamentos de conhecimento. diversos, prototipagem). Modo como processos Presença/Ausência de como padronização de são diferentes processos para operações formatar o conhecimento (ex: repetidamente feitos. manuais, formatos Codificação organizados, software ausente/intermitente limitar a padrões, projetos, pode aprendizagem procedimentos). organizacional. Fonte: Figueiredo, 2001. Ruim - Moderado - Bom Interação Fraca - Moderada Forte Modo como um Modo como o processo processo influencia foi criado e modo como outro processo de ele opera ao longo do aquisição externa ou tempo. interna. de Modo como o processo Processo foi criado opera ao longo conhecimento interno do tempo; tem pode ser influenciado implicações para por processo de variedade e intensidade. aquisição externa. Condução de Modo como mecanismos diferentes de socialização são conhecimentos tácitos criados e operam ao para um sistema longo do tempo. Tem efetivo. Socialização implicações para pode ser influenciada variedade e intensidade por processos de do processo de aquisição externa e conversão. interna. Modo como a codificação do conhecimento foi criada e opera ao longo do tempo. Tem implicações para o funcionamento de todo o processo de conversão. Modo cocmo a codificação do conhecimento foi influenciada por processos de aquisição ou por processos de socialização. 4 No presente estudo, os processos de aprendizagem são analisados a partir dessa estrutura analítica. Nela, relacionam-se os processos de aprendizagem com suas características-chaves, estabelecendo níveis de desenvolvimento de tais características em cada um dos processos. São quatro os processos de aprendizagem: aquisição interna e externa de conhecimento (processos de aquisição), socialização e codificação de conhecimento (processos de conversão). Os processos de aquisição interna de conhecimento referem-se à aquisição de conhecimento tácito por parte dos indivíduos ao desempenharem diferentes atividades na firma. Os processos de aquisição externa são aqueles pelos quais os indivíduos adquirem conhecimento tácito e explícito fora da empresa. Os processos pelos quais os indivíduos compartilham seu conhecimento tácito são os processos de socialização de conhecimento; o conhecimento tácito é transmitido de um indivíduo para outros. Os processos de codificação de conhecimento são aqueles pelos quais o conhecimento tácito torna-se explícito. Quanto às características-chaves, elas são as seguintes: variedade, intensidade, funcionamento e interação. A variedade refere-se à presença de diferentes processos de aprendizagem em uma firma. A intensidade é a criação, o uso, o aperfeiçoamento e o fortalecimento dos processos de aprendizagem ao longo do tempo. O funcionamento é o modo como tais processos operam ao longo do tempo. A interação refere-se à forma como os processos de aprendizagem influenciam-se. 3. Método do Estudo Conforme mencionado anteriormente, o estudo de caso realizado teve como objeto duas empresas. Uma equipe de duas pesquisadoras ficou responsável pela PipeWay Engenharia Ltda. - uma empresa recém-graduada de uma incubadora tecnológica, atuante no setor de óleo e gás. A outra equipe (constituída por dois pesquisadores) dedicou-se ao estudo de uma empresa singular – a Timken de Nova Friburgo – atuante no setor metal-mecânico automotivo, em uma região dominada pela indústria têxtil. Em detrimento das empresas escolhidas atuarem em setores diferentes, contando com períodos de existência distintos (recém-graduada vs. consolidada), podem-se identificar similaridades durante o processo de coleta e tratamento dos dados. Os contatos iniciais entre as equipes de pesquisadores e as empresas foram realizados com o intuito de proporcionar aos primeiros um entendimento inicial acerca das empresas, assim como, identificar e conhecer os funcionários-chave, os quais forneceriam as informações necessárias à confecção da pesquisa de campo. Tendo em vista a base conceitual que guiou o trabalho, teve início a busca por dados empíricos. Para aprofundar as informações coletadas foram visitados todos os setores das empresas, de forma a visualizar, com maiores detalhes, o processo produtivo. Adicionalmente, realizaramse entrevistas semi-estruturadas com profissionais de diferentes níveis organizacionais, em ambas organizações. Os dados coletados receberam tratamento qualitativo, sendo organizados sistematicamente, à luz do modelo analítico apresentado na Tabela 1. Cabe, no entanto, ressaltar que a análise ateu-se a três características-chaves, a saber: variedade, intensidade, funcionamento. No estudo original, que deu origem ao presente artigo, o período de análise estendeu-se de 1998 a 2003 para a PipeWay, e de 1980 a 2003 para a Timken. Para fins comparativos, neste artigo, o período analisado, para ambas empresas, delimitar-se-á aos anos de 2000 a 2003. 4. Análise Empírica 4.1. Breve Descrição do Contexto Empírico do Estudo PipeWay Engenharia Ltda. 5 Em 1988, o Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES) contratou a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) para desenvolver o protótipo de um equipamento para inspeção de corrosão de dutos. Dessa união surgiu o primeiro pig instrumentado, contando com 100% de tecnologia nacional. O pig é um instrumento computadorizado que percorre extensas tubulações, realizando um levantamento de sua geometria e detectando deformações e defeitos. A análise dos resultados obtidos torna possível garantir a segurança de dutos, reduzir os custos de manutenção e inspeção ou apontar a possibilidade de estender sua vida útil. A PipeWay foi criada no Instituto Gênesis, incubadora de empresas da PUC-RJ, no ano de 1998. A parceria firmada no mesmo ano entre PipeWay, CENPES e a PUC-RJ, tinha por objetivo o fornecimento de tecnologia. A incubadora estabeleceu o pagamento de royalties, por parte da PipeWay, para a utilização do pig. A ação conjunta das três entidades possibilitou o acesso a sofisticados serviços de inspeção da geometria interna de dutos. O Brasil, assim, ingressou em um seleto mercado internacional de comercialização desse tipo de serviço, com vantagens competitivas em relação aos fornecedores de outros países. Após permanecer dois anos como empresa incubada no Instituto Gênesis, a PipeWay tornouse em 2000 uma empresa graduada, de atuação independente. Sediada em Bonsucesso, na cidade do Rio de Janeiro, a empresa lidera um importante segmento no mercado nacional de inspeção de dutos, e vem expandindo sua linha de produtos e serviços, estendendo sua atuação a outros países da América Latina, América do Norte, Europa e Ásia. Atualmente, a empresa conta com os seguintes produtos: pig de Limpeza; pig Geométrico; pig de Corrosão. Timken de Nova Friburgo A Timken de Nova Friburgo, subsidiária do grupo norte-americano The Timken Company, é uma empresa cujo core business consiste na produção de colunas de direção, e que apresenta em sua lista de compradores empresas como a Fiat e a Ford. Embora tenha iniciado a produção de colunas de direção em 1980 para o Corcel II, somente no início da década de noventa essa atividade tornou-se sua atividade principal. Durante os anos de 1993 e 1994 foram realizadas diversas transformações na estrutura da empresa visando reduzir seu tamanho e aperfeiçoar sua performance, resultando na obtenção de certificações ISO 9002 (1997) e QS 9000 (1999 e 2000). A partir do final de 1999 a Timken de Nova Friburgo iniciou trabalho conjunto com a empresa Ford/VISTEON para produção de colunas de direção em níveis elevados de competências tecnológicas, por meio do Projeto Amazon, que já tinha contemplado o desenvolvimento de colunas para os Ford Fiesta e Ecosport. Nesta nova fase também foram desenvolvidas colunas de menor valor agregado para o mercado externo com várias empresas internacionais, no interior do Projeto de Exportação. 4.2. Processos de Aprendizagem Variedade: A variedade dos processos de aprendizagem nas duas empresas é avaliada por meio da presença ou ausência de mecanismos, conforme apresentado na Tabela 2. Uma grande variedade dos processos de aprendizagem representa não só a existência de mais formas e canais de acesso a conhecimento por parte da empresa (mecanismos de aquisição interna e externa), mas também uma maior atuação de mecanismos de conversão do conhecimento adquirido (codificação e socialização), possibilitando uma base mais ampla para o aprendizado organizacional. 6 PipeWay: a partir das evidências encontradas, pode-se afirmar que os maiores empenhos da PipeWay concentram-se na aquisição externa de conhecimento, bem como na socialização do conhecimento adquirido, sendo os mecanismos desses processos classificados como diversos. A parceria entre PipeWay, CENPES e PUC-RJ destaca-se como fundamental para geração e difusão de tecnologia. A mão-de-obra especializada é, em grande parte, composta por técnicos advindos de laboratórios da PUC-RJ, detentora da tecnologia do pig, bem como das técnicas de produção do mesmo. Isso é importante, uma vez que esses técnicos já possuem o knowhow básico para engajarem-se, imediatamente, na atividade de produção. Adicionalmente, a forte interação entre a empresa e os dois centros de excelência é fonte de treinamento não formalizado, pois o contato entre especialistas das três entidades gera um compartilhamento contínuo de conhecimento. Esses especialistas transitam livremente entre essas três instituições, formando equipes de trabalho quando da realização de um projeto específico. Apesar de possuir práticas bem sedimentadas, identificou-se na mesma ausência de mecanismos vitais para realizar a codificação do conhecimento adquirido: códigos e padrões de engenharia, certificação de processos pela ISO 9000, banco de dados, sistemas de informação gerencial. Dessa forma, a conversão de conhecimento para o nível organizacional depende quase exclusivamente dos mecanismos de socialização, uma vez que os processos de codificação mostraram-se limitados devido a sua recente implementação. Timken: a partir das evidências encontradas a grande variedade de processos encontrada revela a mudança ocorrida em 1993, quando a empresa alterou sua estratégia corporativa e passou a visar o mercado externo. Os mecanismos de aquisição externa de conhecimento possuem um papel importante, principalmente para a busca de certificações relacionadas à qualidade, exigida em outros países. A variedade nos processos de aquisição interna demonstra a preocupação da empresa com certificações de processo e produto, embora esses mecanismos possam ser mais bem desenvolvidos. Os mecanismos de codificação também estão relacionados a certificações de qualidade e apenas a estes, já que apresentam diversidade limitada. Dos mecanismos de socialização presentes, destacam-se: o intercâmbio com clientes e fornecedores para o desenvolvimento de projetos, a interação continuada com a matriz e os times de trabalho multifuncionais. Estes últimos são considerados uma forma de desobstrução de fronteiras entre as unidades organizacionais da empresa. Uma diferença significativa entre as empresas no tocante à característica acima – variedade – reside na natureza de seus processos de aprendizagem. Enquanto na PipeWay, a construção de competências tecnológicas parece estar mais atrelada a seu relacionamento com agentes locais, em especial CENPES e PUC-RJ, a Timken volta-se para as especificações da matriz, bem como para necessidades e exigências do mercado internacional. 7 Tabela 2. Processos de aprendizagem identificados nas empresas estudadas no período de 2000 a 2003 PROCESSOS DE APRENDIZAGEM - 2000 a 2003 Variedade: Presente - Ausente Mecanismos de Aquisição Externa de Conhecimento PipeWay Timken Parcerias com Institutos de Pesquisa / Centros de Excelência Importação de Especialistas da Matriz Contratação de Especialistas Externos Contratação de Consultores Externos Canalização de Conhecimento Externo (codificado) - Clipping Treinamentos externos em informática Treinamentos de longa duração no exterior Outros treinamentos (conforme levantamento de necessidades) Treinamento fora da Organização – Curso de Salvatagem Palestras e cursos relacionados ao TQM Programa de desenvolvimento gerencial Programa de desenvolvimento de gerentes de projeto Reembolso de cursos de idiomas Reembolso de curso de graduação Reembolso de curso de pós-graduação Congressos – Seminários - Eventos Interação com clientes Interação com fornecedores Atividades Laboratoriais Mecanismos de Aquisição Interna de Conhecimento Presente Ausente Presente Presente Presente Presente Ausente Ausente Presente Ausente Ausente Ausente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Ausente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Treinamentos sistemáticos para trabalhadores ligados diretamente à produção Treinamentos sistemáticos em informática Treinamentos sistemáticos TQM e sistemas de qualidade Treinamento em software de projeto e processo Aquisição Prévia de Conhecimento Aprimoramentos Contínuos Planejamento de atividades inovadoras Experimentação Mecanismos de Codificação de Conhecimento Presente Presente Ausente Ausente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Códigos e padrões de engenharia Elaboração de procedimentos e instruções técnicas Certificação de processos pela ISO 9000 Registros de treinamentos Codificação por meio de sistemas de automação (DCS/PCS/SAP) Seminários Internos Ausente Presente Ausente Presente Ausente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Ausente (Continua) 8 Tabela 2. (Continuação) PROCESSOS DE APRENDIZAGEM - 2000 a 2003 Variedade: Presente - Ausente Mecanismos de Socialização de Conhecimento Desenvolvimento conjunto com clientes e fornecedores Intercâmbio com clientes e fornecedores p/ o desenv. de projetos Interação continuada com a matriz Soluções para construção e montagem (constructability ) Participação em grupos para comissionamento e partida de fábricas Trabalho em grupos para criação e codificação de materiais Reuniões de projeto na empresa Reuniões de projeto na matriz Junta Técnica Comitê de qualidade Desenvolvimento de metodologias relativas a impostos, benefícios Compartilhamento de modelos tridimensionais na empresa, com a matriz e com outras empresas: global engineering e co-current engineering Visitas à fábrica no exterior Prototipagem Times de trabalho Rotatividade de funcionários entre as células de produção Compartilhamento de dados em rede Comunicação convencional através de quadros de avisos, murais, jornal interno Modalidades de comunicação dinâmica: e-mail, internet, intranet Conference Call Atividades de rotina, mecanismos do tipo ‘aprender fazendo’ Participação de engenheiros recém-formados em projetos Contratação e desenvolvimento de engenheiros trainees Participação em grupos de supervisão de montagem Participação de especialistas da empresas em implantação de plantas no exterior Participação de especialistas da empresas em projetos no exterior Fonte: derivado da pesquisa de campo. PipeWay Timken Presente Presente Ausente Presente Ausente Presente Presente Ausente Presente Ausente Ausente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Ausente Presente Presente Ausente Presente Ausente Presente Presente Ausente Ausente Presente Presente Ausente Presente Presente Presente Presente Ausente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Presente Tabela 3. Variedade dos processos de aprendizagem: síntese Processos de Aprendizagem PipeWay Aquisição Externa Diversa (13) Aquisição Interna Moderada (6) Codificação Limitada (3) Socialização Diversa (15) Total de Mecanismos 37 Fonte: derivado da pesquisa de campo. Timken Diversa (18) Moderada (8) Limitada (5) Diversa (25) 56 • Intensidade: A intensidade dos processos de aprendizagem utilizados nas empresas foi classificada conforme demonstrado na Tabela 4. PipeWay: o contato com os laboratórios da PUC-RJ e do CENPES, assim como a missão de estabelecer parcerias com seus fornecedores e clientes, pode ser constatado em todo período de análise, apresentando, assim, caráter contínuo. Devem ser destacados os processos de codificação, os quais são marcados por uma baixa intensidade: isso pode ser atribuído à falta de formalização, implicando a ausência de uma rotina de atualização. Timken: o avanço verificado na empresa em direção a níveis tecnológicos de maior complexidade pode ser atribuído aos mecanismos de conversão, os quais constituem as principais formas de acumulação de conhecimento. O desenvolvimento de colunas de direção para os modelos FORD Fiesta e Ecosport (no âmbito do Projeto Amazon) somente foram 9 possíveis por meio da utilização contínua e interativa de diversos processos de socialização e codificação, ao longo das várias fases do projeto. Isso representou fator importante na incorporação de várias práticas inovadoras ao processo produtivo da empresa. Enquanto a codificação é orientada pela busca de qualidade - ISO 9000 e códigos e padrões de engenharia -, a aquisição externa de conhecimento mostrou-se mais intensa que a aquisição interna. Esse último fato decorre da inexistência de um centro de tecnologia interno, cujas atividades pudessem sistematizar metodologias, capazes de absorver os conhecimentos proporcionados pelas práticas produtivas da Timken. No caso da PipeWay, os processos de conversão de conhecimento, por ainda serem recentes, apresentam-se insipientes. O amadurecimento de tais processos pode vir a facilitar o desenvolvimento de atividades inovadoras pela empresa. Isso vem sendo observado na Timken: o grau de desenvolvimento atingido por tais mecanismos (principalmente pelos de codificação) constituem a base que vem possibilitando o seu desenvolvimento tecnológico. Tabela 4. Intensidade dos processos de aprendizagem PipeWay PROCESSOS DE APRENDIZAGEM - 2000 a 2003 Intensidade: Baixa - Intermitente - Contínua Mecanismos de Aquisição Externa de Conhecimento Parcerias com Institutos de Pesquisa / Centros de Excelência Contínua Importação de Especialistas da Matriz Contratação de Especialistas Externos Contínua Contratação de Consultores Externos Intermitente Canalização de Conhecimento Externo (codificado) - Clipping Contínua Treinamentos externos em informática Intermitente Treinamentos de longa duração no exterior Outros treinamentos (conforme levantamento de necessidades) Treinamento fora da Organização – Curso de Salvatagem Contínua Palestras e cursos relacionados ao TQM Programa de desenvolvimento gerencial Programa de desenvolvimento de gerentes de projeto Reembolso de cursos de idiomas Intermitente Reembolso de curso de graduação Intermitente Reembolso de curso de pós-graduação Intermitente Congressos – Seminários - Eventos Contínua Interação com clientes Contínua Interação com fornecedores Contínua Atividades Laboratoriais Contínua Mecanismos de Aquisição Interna de Conhecimento Treinamentos sistemáticos para trabalhadores ligados diretamente à produção Treinamentos sistemáticos em informática Treinamentos sistemáticos TQM e sistemas de qualidade Treinamento em software de projeto e processo Aquisição Prévia de Conhecimento Aprimoramentos Contínuos Planejamento de atividades inovadoras Experimentação Timken Contínua Contínua Contínua Intermitente Contínua Baixa Baixa Contínua Baixa Intermitente Baixa Contínua Contínua Intermitente Contínua Intermitente Baixa Contínua Contínua Contínua Intermitente Contínua Intermitente Contínua Contínua Baixa Contínua Intermitente Contínua Contínua Contínua Contínua (Continua) 10 Tabela 4. (Continuação) PROCESSOS DE APRENDIZAGEM - 2000 a 2003 Intensidade: Baixa - Intermitente - Contínua Mecanismos de Codificação de Conhecimento PipeWay Timken Códigos e padrões de engenharia Elaboração de procedimentos e instruções técnicas Certificação de processos pela ISO 9000 Registros de treinamentos Codificação por meio de sistemas de automação (DCS/PCS/SAP) Seminários Internos Mecanismos de Socialização de Conhecimento Baixa Baixa Contínua Contínua Contínua Contínua Contínua Contínua - Contínua Contínua Contínua Contínua Contínua Intermitente - Contínua Contínua Contínua Intermitente Contínua Contínua Contínua Baixa Intermitente Intermitente - Contínua Contínua Contínua Contínua Contínua Intermitente Intermitente Intermitente Intermitente Intermitente Intermitente Baixa Contínua Baixa Intermitente Contínua Contínua Contínua Baixa Intermitente Baixa Baixa Baixa Baixa Desenvolvimento conjunto com clientes e fornecedores Intercâmbio com clientes e fornecedores p/ o desenv. de projetos Interação continuada com a matriz Soluções para construção e montagem (constructability ) Participação em grupos para comissionamento e partida de fábricas Trabalho em grupos para criação e codificação de materiais Reuniões de projeto na empresa Reuniões de projeto na matriz Junta Técnica Comitê de qualidade Desenvolvimento de metodologias relativas a impostos, benefícios Compartilhamento de modelos tridimensionais na empresa, com a matriz e com outras empresas: global engineering e co-current engineering Visitas à fábrica no exterior Prototipagem Times de trabalho Rotatividade de funcionários entre as células de produção Compartilhamento de dados em rede Comunicação convencional através de quadros de avisos, murais, jornal interno Modalidades de comunicação dinâmica: e-mail, internet, intranet Conference Call Atividades de rotina, mecanismos do tipo ‘aprender fazendo’ Participação de engenheiros recém-formados em projetos Contratação e desenvolvimento de engenheiros trainees Participação em grupos de supervisão de montagem Participação de especialistas da empresas em implantação de plantas no exterior Participação de especialistas da empresas em projetos no exterior Fonte: derivado da pesquisa de campo. • Funcionamento PipeWay: os processos de aquisição, externa e interna, no período delimitado, apresentam funcionamento de bom a moderado, o que pode ser justificado pelo fato de boa parte desses mostrarem-se intermitentes. Quanto aos mecanismos de conversão, o funcionamento pode ser classificado de moderado a ruim, uma vez que: ! Existem somente dois manuais de padronização, os quais estão sendo revisados pela primeira vez, desde sua elaboração (surgimento da empresa); ! Os registros de corrida existentes referem-se às recorridas (corridas necessárias quando ocorrem problemas na corrida anterior). As corridas bem sucedidas não são registradas; 11 ! Apesar do reembolso contínuo dos cursos previamente relatados, não existe nenhum procedimento para que os conhecimentos adquiridos sejam sistematicamente repassados aos demais. Timken: todos os mecanismos de aquisição e conversão podem ser classificados com bons e moderados uma vez que a manutenção das certificações e dos programas de qualidade assim obrigam. A estratégia da empresa de atender o mercado externo com seus produtos exige a avaliação periódica dos mecanismos utilizados. Os mecanismos de aquisição externa, voltados para o desenvolvimento das atividades no interior do Projeto de Exportação, exibiram funcionamento moderado, em virtude do projeto ser coordenado pela matriz, o que dificulta a adaptação às necessidades da empresa. Os processos de codificação mostraram bom funcionamento, devido às necessidades de obtenção de certificações de produto e processo, havendo a disponibilidade aos operários de instruções detalhadas em todas as fases de produção. O funcionamento dos processos de socialização, que constituem as principais formas de conversão de conhecimento nesta fase de avanço da empresa em direção a níveis tecnológicos mais complexos, apresentou funcionamento bom, em virtude tanto da integração existente entre eles, quanto da sua relação direta com as atividades inovadoras da empresa, realizadas no interior do Projeto Amazon. No caso da característica funcionamento, os diferentes níveis de maturidade tecnológica das empresas estudadas são, em parte, decorrentes do tempo de existência das mesmas. Embora a análise esteja fundamentada em um espaço de tempo delimitado, o bom funcionamento dos processos da Timken está ligado ao maior grau de institucionalização dos processos, facilitada pelo maior tempo de existência da empresa. A PipeWay passou, após investir no desenvolvimento de processos de aquisição, a enfatizar também mecanismos de conversão. Espera-se que, ao longo do tempo, tais processos sejam consolidados, conforme no caso da Timken. 4.3. Implicações dos Processos de Aprendizagem sobre as atividades inovadoras das empresas estudadas PipeWay:No caso da PipeWay, as evidências empíricas demonstram que o engajamento mais significativo em processos de aprendizagem emerge da parceria entre PipeWay, CENPES e PUC-RJ. A estreita relação com essas duas instituições constitui a fonte dos recursos e habilidades (competências) mais inovadoras da empresa. O fato de a PipeWay ter surgido em uma incubadora de base tecnológica e manter relações estreitas com instituições geradoras e difusoras de tecnologia de ponta confere-lhe uma posição diferenciada em relação às demais empresas que, como ela, operam em um país de economia emergente. A construção de suas capacidades básicas, bem como das inovadoras, foi facilitada pela interação constante com tais centros de excelência, permitindo um desempenho notável durante seus poucos anos de existência. A ampliação da linha de produtos, como o desenvolvimento do pig de corrosão, não teria sido possível caso a empresa não tivesse acesso à tecnologia presente nos laboratórios dessas entidades. Espera-se que com os crescentes esforços deliberados, a empresa consiga consolidar os mecanismos de codificação de conhecimento, de forma a fortalecer as competências tecnológicas desenvolvidas, garantindo, assim, sua sustentabilidade no mercado, no longo prazo. Timken: No caso da Timken a análise das informações obtidas durante a pesquisa indica que a estratégia corporativa da empresa buscou não só a manutenção da diversidade, mas também a 12 elevação da intensidade tanto dos mecanismos de aquisição (interna e externa) quanto de conversão (codificação e socialização). A ação efetiva da Timken, nesse sentido, contribuiu para que houvesse a incorporação dessas práticas de aprendizagem à atividade de rotina da empresa, sustentando e ampliando o fluxo de conhecimento no interior da empresa, além de impulsionar sua conversão para o nível organizacional. O desenvolvimento dos projetos Amazon e Exportação são o resultado de uma estratégia voltada para a acumulação de competências inovadoras em níveis mais elevados que os anteriormente acumulados. Ao longo deles a empresas conseguiu construir e acumular competências tecnológicas inovadoras únicas em sua história com os quais tornou possível o desenvolvimento completo (desde a concepção até a montagem) da coluna de direção do Ford Ecosport no interior das suas instalações. No interior dessa estratégia, embora todos os quatro conjuntos de processos de aprendizagem tenham sido identificados, os mecanismos de socialização do de conhecimento foram utilizados de forma a constituir o núcleo de aprendizagem de papel preponderante. 5. Conclusões Este estudo procura contribuir com a discussão sobre a influência dos processos de aprendizagem no desenvolvimento de atividades inovadoras. Para isso, foram analisadas as implicações de tais processos sobre as atividades desempenhadas por duas empresas de idades distintas - PipeWay Engenharia Ltda. (recém-graduada) e Timken de Nova Friburgo (consolidada) – no período que compreende os anos de 2000 a 2003. O resultado desse estudo sugere que a maneira com que as empresas gerem os seus processos de aprendizagem tem implicações práticas para o engajamento em atividades marcadas por níveis de complexidade crescentes. Os resultados do estudo, ao alinharem-se a estudos anteriores, os quais verificaram empiricamente a mesma relação em outros setores industriais1, confirmam a validade dos mesmos para outros tipos de indústria. Tal fato, ainda, pode ser estendido a empresas que, além de possuírem idades distintas, atuem em diferentes setores industriais. Constataram-se empiricamente as implicações negativas da limitada diversidade e da baixa intensidade dos processos de aprendizagem para a acumulação de competências tecnológicas. No caso específico da PipeWay, tais implicações negativas referem-se diretamente aos mecanismos de codificação do conhecimento, cujo estado ainda insipiente pode acarretar limitações à acumulação de competências tecnológicas, enfraquecendo os demais mecanismos existentes e dificultando o desenvolvimento de atividades inovadoras. Entretanto, por ter emergido de um centro de excelência, desde sua criação, a PipeWay investe continuamente em aprendizagem e acumulação de conhecimento, de forma a desenvolver, em curtos espaços de tempo, tecnologias com níveis inovadores crescentes. A variedade de processos identificada reflete a preocupação constante da mesma em fortalecer mecanismos que permitam avanços em sua trajetória tecnológica. Para a Timken, a aquisição de conhecimento externo e a socialização desse conhecimento permitiram acesso ao mercado externo por meio do fornecimento de colunas de direção para a Ford e de outros produtos de menor complexidade tecnológica, a saber: carros de golfe, macas móveis, pequenos tratores. O mercado consumidor externo, com níveis rigorosos de exigência, juntamente aos avançados padrões produtivos exigidos pela matriz, têm impulsionado a Timken a revisar e aprimorar continuamente seus processos. Apesar de atuarem em indústrias distintas, as implicações dos processos de aprendizagem nas empresas estudadas mostraram-se fundamentais para o desenvolvimento e a acumulação de uma base de conhecimento e, posteriormente, para o engajamento em atividades inovadoras. Em ambos os casos, os resultados dos estudos realizados indicam que, assim como afirmado em Figueiredo (2001), o engajamento deliberado em processos de aprendizagem, por parte das empresas, é de fundamental importância para o desenvolvimento, bem como para a 13 acumulação de competências tecnológicas. Pode-se afirmar que, esforços nesse sentido contribuem para assegurar a inserção competitiva de tais empresas no mercado. O relacionamento da PipeWay com as instituições PUC-RJ e CENPES constitui o alicerce para a construção e a acumulação de suas competências tecnológicas. O desenvolvimento de novas tecnologias, como o pig de corrosão, tem sido viabilizado por esse relacionamento. No entanto, embora a relação de parceria destacada acima traga inúmeros benefícios, alerta-se para um potencial risco de dependência tecnológica. A PipeWay deveria empenhar-se no desenvolvimento interno de inovações, não ficando restrita aos laboratórios das duas instituições. Tal dependência poderia atravancar o processo de construção, acumulação e manutenção de suas competências tecnológicas. Uma forma de evitar esses impactos negativos seria a constituição de um centro interno de pesquisa e desenvolvimento. Ao contrário da PipeWay, o relacionamento da Timken com agentes externos com o intuito de acumular e fortalecer suas competências tecnológicas intensificou-se apenas nos últimos anos da década de noventa, quando ela já havia solidificado sua posição no mercado. Esse distanciamento permitiu que a subsidiária mantivesse uma certa independência dos laboratórios da matriz, possibilitando, dessa forma, o engajamento deliberado da Timken em atividades laboratoriais inovadoras. Os mecanismos de codificação de conhecimento da Timken, apesar de classificados como contínuos, restringem-se quase que totalmente aos processos referentes à certificação. Faz-se, então, necessário o engajamento em processos que difundam, sistematizem e codifiquem o conhecimento adquirido externamente. Cabe ressaltar que a idade de uma empresa pode não configurar um entrave a seu desenvolvimento tecnológico. Conforme observado na Timken, a realização de inovações não é limitada pela idade mais avançada de uma empresa. Adicionalmente, é possível sugerir que o fato de uma empresa ser jovem pode acelerar a evolução de seus processos de aprendizagem (como na PipeWay). No contexto empírico estudado, as evidências indicam que a evolução desses processos decorre da emergência de uma visão empreendedora, materializada em esforços deliberados em processos de aprendizagem. O debate acerca dos processos de aprendizagem e suas implicações em organizações de economias emergentes pode ser enriquecido por meio da realização de estudos que investiguem o papel destes, no nível intrafirma, em outros setores industriais. 6. Referências bibliográficas BELL, Martin. 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