HISTÓRIAS DE SUCESSO Empresas Graduadas das Incubadoras Mineiras Belo Horizonte- MG 2007 Historia de sucesso - incubadora1 1 26/11/2007 13:10:35 COPYRIGHT 2007: RMI – Rede Mineira de Inovação e Sebrae MG – TODO OS DIRETOS RESERVADOS – É permitido a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes. RMI – REDE MINEIRA DE INOVAÇÃO Presidente: Rogério Abranches da Silva Vice-presidente: Paulo Tadeu Leite Arantes Diretor: Christiano Gonçalves Becker Diretora: Daisy Andrade de Melo Souza. SEBRAE MG – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE MINAS GERAIS Presidente do Conselho Deliberativo: Roberto Simões Diretor Superintendente: Afonso Maria Rocha Diretor de Desenvolvimento: Luiz Márcio Haddad Pereira Santos Diretor de Operações Matheus Cotta de Carvalho Coordenação e organização do livro Mara Regina Veit – Gerente Sebrae Minas Comitê de apoio Anizio Dutra Vianna – Gerente Sebrae Minas Christiano Gonçalves Becker – Diretor RMI Daisy Andrade de Melo Souza – Diretora RMI Ricardo Luiz Alves Pereira – Gerente Sebrae Minas Docentes e tutores metodológicos Cacilda Nacur Lorentz Thusek – Analista Sebrae Minas Cláudio Afrânio Rosa – Analista Sebrae Minas Mara Regina Veit – Gerente Sebrae Minas Supervisão técnica Andrea Furtado de Almeida – Gerente RMI Georgia Utsch – Assessora de Comunicação RMI Izabela Andrade Lima – Assistente Sebrae Minas Lilian da Silva Botelho – Assistente Sebrae Minas Portal Sebrae MG – capa e site Daniela Almeida Teixeira – Analista de Atendimento Filipe Calicchio – Estagiário de Atendimento Revisão ortográfica Cristiane dos Santos Verediano, Ermelinda Tôrres Simões D i a g r a m a ç ã o : Casa de Editoração e Arte Ltda. I m p r e s s ã o : Gráfica 101 Imagem de capa: http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=view&id=568474 Link do termo de uso: http://www.sxc.hu/info.phtml?f=help&s=8_2 Histórias de Sucesso – Empresas Graduadas das Incubadoras Mineiras. Organização Mara Regina Veit – RMI e Sebrae Minas Belo Horizonte, Minas Gerais, Setembro 2007 256 p ISBN 978-85-86428-54-8 1. Empreendedorismo, 2. Incubadoras 3. Empresas 4. Casos de Sucesso Historia de sucesso - incubadora2 2 26/11/2007 13:10:35 AGRADECIMENTOS Aos escritores, principais atores do projeto deste livro, que registraram os estudos de casos e se tornaram autores das histórias bem sucedidas das empresas incubadas e graduadas das incubadoras mineiras. À coordenação do projeto, aos tutores e à equipe técnica, que assumiram o desafio e dedicaram-se à elaboração do primeiro Livro de Histórias de Sucesso das Empresas Graduadas das Incubadoras. À diretoria da RMI, que acatou a idéia do projeto e possibilitou a editoração das histórias bem sucedidas, buscando a disseminação das melhores práticas no contexto nacional. Aos gerentes e equipes das incubadoras que auxiliaram na captação de informações e no suporte para subsidiar o conteúdo dos estudos de casos. Aos empresários das empresas graduadas que contribuíram, de forma efetiva, com o relato de sua história e de sua trajetória empresarial, contribuindo para o registro das melhores práticas e servindo, como exemplo, para as empresas incubadas e para o desenvolvimento de novos projetos. Às incubadoras mineiras, em especial as vencedoras dos Prêmios Anprotec, fontes de pesquisa para a descrição dos estudos de casos indicados pelo comitê técnico. À parceria entre a RMI – Rede Mineira de Inovação e Sebrae Minas – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais que, de forma cooperativa, tem alcançado os melhores resultados para as empresas de pequenas porte no Estado. Historia de sucesso - incubadora3 3 26/11/2007 13:10:35 Historia de sucesso - incubadora4 4 26/11/2007 13:10:35 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ......................................................................3 PREFÁCIO 1: José Eduardo Azevedo Fiates – Presidente ANPROTEC................9 PREFÁCIO 2: Rogério Abranches da Silva – Presidente RMI........................11 PREFÁCIO 3: Paulo Cesar R. Alvim – Gerente de Tecnologia Sebrae Nacional ...13 PREFÁCIO 4: Roberto Simões – Presidente do Conselho Sebrae Minas..........15 APRESENTAÇÃO: Mara R. Veit – Gerente de Atendimento Sebrae Minas .....17 Caso 1 Navegando por oportunidades: o processo de criação e reinvenção ...................................................................23 Empresa: ETEG Incubadora: INSOFT Autoria: Anizio Dutra Vianna e Christiano Becker Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa Caso 2 Sucesso de mercado saiu de um PC-XT.....................................39 Empresa: LIGA Incubadora: INSOFT Autoria: Daisy Andrade de Melo e Souza, Renata Naiara Silva e Rita de Pinho Carvalho Tutoria: Mara Veit Caso 3 Acompanhando a velocidade dos negócios: as reviravoltas da empresa no mercado de software................51 Empresa: DOCTORSYS Incubadora: INSOFT Autoria: Taciana Ramos Basílio Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa Caso 4 Um plano de vôo perfeito no céu do Brasil...............................69 Empresa: USS Incubadora: INSOFT Autoria: Daisy Melo Tutoria: Mara Veit Historia de sucesso - incubadora5 5 26/11/2007 13:10:35 Caso 5 Da pesquisa a inovações tecnológicas para o mercado...........81 Empresa: KATAL Incubadora: BIOMINAS Autoria: Andréa Furtado e Angélica Salles Tutoria: Mara Veit Caso 6 Empresa com sinônino de inovação tecnológica......................93 Empresa: Ferrara Incubadora: BIOMINAS Autoria: Kênia Danielle B. Miguel e Angélia Salles Tutoria: Cacilda N. L. Thusek Caso 7 Telefone via internet? Uma empresa de base tecnológica na onda da convergência digital....................................................105 Empresa: ComunIP Incubadora: Inova-UFMG Autoria: Lívia de Carvalho Furtado Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa Caso 8 FOCANDO CLIENTES E OPORTUNIDADES............................119 Empresa: EXSTO Incubadora: PROINTEC Autoria: Georgia Utsch Tutoria: Cacilda N. L. Thusek Caso 9 REDIRECIONANDO RUMO AO SUCESSO...............................133 Empresa; TSDA Incubadora: INATEL Autoria: Patrícia Borges Pinelli Tutoria: Mara Veit Caso 10 SINTONIZANDO O SUCESSO...................................................151 Empresa; BIQUAD Incubadora: INATEL Autoria: Oswaldo Francisco Bueno Tutoria: Cacilda N. L. Thusek Historia de sucesso - incubadora6 6 26/11/2007 13:10:36 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 Caso 11 ANÁLISES GENÉTICAS: UMA SEMENTE QUE NASCE COM AS EXIGÊNCIAS DO MERCADO......................................163 Empresa: AGROGENÉTICA Incubadora: CENTEV Autoria: José Geraldo Vidal Vieira Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa Caso 12 A primeira empresa incubada na universidade.......................181 Empresa: CIENTEC Incubadora: CENTEV-UFV Autoria: Sérgio Yoshio Mitsugui Tutoria: Mara Veit Caso 13 DESIGN E COMUNICAÇÃO DA ZONA DA MATA MINEIRA PARA O MUNDO........................................................193 Empresa: STUDIUM Incubadora: CENTEV/UFV Autoria Rosiane Suzuki Tutoria: Mara Veit Caso 14 VISÕES DA LUPA: O VAI E VEM DO ALTERE..........................209 Empresa: LUPA Incubadora: CRITT Autoria: Anna Paola E. F. Pinto Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa Caso 15 CONQUISTAS DE UM OLHAR ATENTO ÀS OPORTUNIDADES................................................................223 Empresa: IPIXEL Incubadora: CRITT/UFJF Autoria: Evandro Mendonça Fortuna e Juliana Amorim Tutoria: Mara Veit ABORDAGEM METODOLÓGICA...............................................237 COMITÊ GESTOR E ESCRITORES ...........................................253 GESTÃO RMI...............................................................................254 INCUBADORAS...........................................................................255 Historia de sucesso - incubadora7 7 26/11/2007 13:10:36 Historia de sucesso - incubadora8 8 26/11/2007 13:10:36 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 PREFÁCIO 1 TESTEMUNHO DOS EMPRESÁRIOS O livro Histórias de Sucesso – Empresas Graduadas das Incubadoras Mineiras relata a trajetória vitoriosa de um grupo de empresas graduadas nas incubadoras de Minas Gerais. Nenhum testemunho pode ser melhor do que este, pois as empresas incubadas significam, efetivamente, o principal motivo de todo o trabalho que realizamos nas incubadoras do Brasil. São elas a razão principal do nosso trabalho. Ao se relatar as experiências vividas por estas empresas, as dificuldades da caminhada, as decisões tomadas e, enfim, o sucesso alcançado, elabora-se um documento que permite não só incentivar novos empreendedores, mas fornecer um riquíssimo instrumento de referência para os que estão diante da decisão de abrir a sua empresa. Minas Gerais vem se destacando de forma significativa no movimento nacional de incubação de empresas. Suas incubadoras receberam nos últimos cinco anos as mais altas indicações e premiações oferecidas pela ANPROTEC. Essa trajetória demonstra a qualidade do trabalho que vem sendo realizado nas incubadoras de empresas de Minas e permite-nos inferir que, da mesma forma, as empresas por elas geradas têm também um futuro promissor. Historia de sucesso - incubadora9 9 26/11/2007 13:10:36 10 Histórias de Sucesso – Empresas Graduadas das Incubadoras Mineiras é um testemunho claro e objetivo da importância e valor de se apoiar a pequena empresa inovadora no país. São resultados impressionantes que demonstram a importância das incubadoras de empresas para o seu sucesso. Mais que um testemunho, o livro é um excelente material didático e de referência. Todos nós sabemos que não existe uma fórmula ou um padrão para se abrir uma nova empresa. O livro produzido, fruto do trabalho voluntário de diversos protagonistas do movimento de incubadoras em Minas Gerais, apresenta relatos de experiências vividas, diversas situações que foram superadas e inúmeras decisões que, certamente, servirão de base e aprendizado para os que se iniciam nesta trajetória de criar e desenvolver a sua própria empresa. Parabéns mais uma vez aos Mineiros, que sairão na frente com este importante relato de resultado das incubadoras de Minas. Parabéns, principalmente, aos empreendedores, cujas histórias estão relatadas neste livro. Que o sucesso de vocês possa incentivar e ajudar muitos outros empreendedores que iniciam a sua trajetória. Bom aprendizado! José Eduardo Azevedo Fiates Presidente da ANPROTEC. Historia de sucesso - incubadora10 10 26/11/2007 13:10:36 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 11 2007 PREFÁCIO 2 HISTÓRIAS EMPREENDEDORAS O livro Histórias de Sucesso relata, de forma adequada e inteligente, a trajetória marcante de algumas das várias empresas graduadas em incubadoras mineiras. Este é o fruto do resultado positivo do movimento de incubação de empresas e do empreendedorismo que é praticado no estado de Minas Gerais e que, ao longo dos últimos anos, tem desenvolvido uma história realmente digna de ser contada. Esta obra também resgata e aplaude os principais personagens desta história, os empreendedores, muito bem representados aqui por alguns dos empresários de sucesso, que, brilhantemente, contribuem e continuarão contribuindo para o desenvolvimento do país, através da constante vivência de suas características empreendedoras, que são essenciais na superação das inúmeras dificuldades enfrentadas por esses heróis todos os dias. O livro também tem como objetivo reconhecer a força transformadora do empreendedorismo, relatando alguns casos verídicos de sucesso, além de servir de estímulo aos outros empreendedores em suas trajetórias para o sucesso dentro das várias Incubadoras de Minas Gerais e de todo o país. Historia de sucesso - incubadora11 11 26/11/2007 13:10:36 12 O presente trabalho demonstra a eficácia do trabalho em rede, que privilegia a utilização das parcerias para a realização de relevantes projetos em tempo hábil, como é exatamente o caso deste livro que foi concluído graças à firmeza de propósitos, visão de longo alcance, persistência e comprometimento das equipes de trabalho da Rede Mineira de Inovação – RMI e do Sebrae MG. Rogério Abranches da Silva Presidente da Rede Mineira de Inovação – RMI Historia de sucesso - incubadora12 12 26/11/2007 13:10:36 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 13 PREFÁCIO 3 O PROGRAMA SEBRAE DE INCUBADORAS A iniciativa do Sistema Sebrae de apoiar, desde 1998, o movimento de incubadoras de empresas no país pode ser avaliada pelo resultado e pelo impacto causado por quinze histórias de sucesso das empresas incubadas nas incubadoras mineiras. Vale salientar que cinco dessas incubadoras receberam o prêmio Sebrae-Anprotec. Esse reconhecimento de sucesso empresarial se reverte em indicador de acerto do Sistema Sebrae, ao fomentar o empreendedorismo inovador por meio das incubadoras de empresas, como estratégia de uma nova geração de empreendimentos focados em oportunidade e conhecimento. É importante mencionar que o Estado de Minas Gerais sempre teve uma atitude pró-ativa no processo de captação de recursos e de oportunidades para alavancar o movimento de incubadoras de empresas, num processo orquestrado e de plena e eficiente articulação de entidades parceiras locais, mobilizando recursos públicos nacionais, estaduais e municipais, além de privados, que têm permitido ao Estado ter, hoje, uma rede significativa de incubadoras em operação, com ganhos de renda e postos de trabalho para a sociedade mineira. Historia de sucesso - incubadora13 13 26/11/2007 13:10:36 14 Os relatos das empresas demonstram a diversidade da economia inovadora do Estado e sinalizam para um novo perfil produtivo focado na realidade do conhecimento e na agregação de valor a produtos e serviços, na linha do novo empreendedorismo do século XXI. São casos para serem perseguidos e valorizados, dentro de uma estratégia de aprendizado pelo exemplo. O empreendedorismo tem foco na inovação e no compromisso com o desenvolvimento local. Parabéns às quinze empresas e a seus empreendedores, às respectivas incubadoras e suas equipes de gestão, ao movimento de incubadoras em Minas e um cumprimento especial às entidades e pessoas que fazem acontecer a realidade empreendedora em prol de um novo modelo de desenvolvimento do Estado. Boa leitura! Paulo Cesar Rezende Alvim Gerente da Unidade de Acesso a Inovação e Tecnologia Sebrae Nacional Historia de sucesso - incubadora14 14 26/11/2007 13:10:36 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 15 PREFÁCIO 4 BASE SÓLIDA PARA EMPREENDER A história de sucesso de 15 empresas que nasceram em incubadoras mineiras é um exemplo que merece ser disseminado. Esta publicação cumpre bem este propósito ao apresentar a trajetória de inovação e senso de oportunidade de cada um destes empreendedores. Reconhecidos nacionalmente pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), estas empresas são modelos de tecnologia e gestão. Elas têm uma base sólida, fundamentada em capacitação e orientação gerencial, estímulo à pesquisa e desenvolvimento. Diferenciais proporcionados por incubadoras do Estado que são referências nacionais. Espaço fértil para a expansão de negócios de base tecnológica, as incubadoras de Minas estimulam o empreendedorismo. Dinamizam o processo de abertura e gestão de empresas capazes de se firmar em um mercado altamente competitivo. Minas Gerais tem 25 incubadoras, distribuídas em 15 cidades. Nelas estão abrigadas 335 empresas, sendo 142 residentes, 35 associadas, 118 graduadas e 39 pré-incubadas. Esses empreendimentos geram em torno de 2.400 postos de trabalho. Isso sem contar que as empresas nascidas em incubadoras apresentam uma taxa de mortalidade inferior a 10%. Historia de sucesso - incubadora15 15 26/11/2007 13:10:36 16 Esses dados demonstram a representatividade do Estado em matéria de incubação de empresas. Um mecanismo que se afirma a cada dia como um dos mais eficientes no processo de geração e fortalecimento de empresas. O Sebrae está prestes a completar 10 anos de apoio a este importante instrumento de promoção do empreendedorismo. Um trabalho no qual já foram investidos, somente em Minas Gerais, cerca de R$ 5 milhões. O reconhecimento de incubadoras do Estado pela Anprotec, por cinco anos consecutivos (2002-2006), mostra que estamos no caminho certo. As melhores incubadoras do Brasil estão em Minas e, no que depender do Sebrae, o Estado terá inúmeras histórias para contar nos próximos anos. Roberto Simões Presidente do Conselho Deliberativo Sebrae Minas Historia de sucesso - incubadora16 16 26/11/2007 13:10:36 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 17 APRESENTAÇÃO O Projeto Casos de Sucesso foi criado em 2002, como uma prioridade estratégica no Sebrae, com o objetivo de difundir experiências de pequenas empresas e disseminar, no meio acadêmico e empresarial, novos conhecimentos com a utilização de estudos de caso. Em uma sociedade empreendedora, que vem constantemente estimulando o espírito empreendedor, os indivíduos considerados empreendedores enfrentam enormes desafios que precisam explorar como uma oportunidade, transformando o apredizado de empreender na arte de gerar resultados concretos com muita disciplina e persistência. São estes indivíduos que impulsionam a economia, provendo novos bens de consumo e inovadores métodos de produção (DRUCKER, 2003; SCHUMPETER, 1982; TIMMON, 1989). Com o objetivo de organizar a descrição dos casos, para fins didáticos, foi elaborada uma metodologia própria, para capacitar voluntários do Sebrae e das instituições parceiras interessados em escrever os casos, oriundos de diferentes setores, segmentos e projetos, integrados aos programas do Sebrae. Todos os casos organizados com este propósito são denominados Histórias de Sucesso, publicados em livros e no site do Sebrae e dos parceiros. Para propagar o sucesso das empresas graduadas nas incubadoras de Minas Gerais, foram selecionadas por um comitê técnico quinze empresas bem sucedidas no mercado. Um grupo de voluntários foi capacitado no curso Desenvolvendo Casos de Sucesso e convidado a escrever os casos indicados para o projeto. O exercício de escrever os estudos de caso exigiu dedicação e persistência. Os escritores e o grupo de apoio, durante o período de elaboração do caso, realizaram entrevistas e contatos Historia de sucesso - incubadora17 17 26/11/2007 13:10:36 18 com os empreendedores, protagonistas, sócios e colaboradores, para identificar o dilema da criação da empresa; analisaram os principais pontos de aprendizado durante a trajetória empresarial; efetuaram a leitura e avaliação de documentos que apontam o crescimento da empresa, no período de incubação e pós-incubação, para construírem uma história o mais fidedigna possível aos fatos reais de cada empresa. O livro Histórias de Sucesso – Empresas Incubadas das Incubadoras Mineiras, pioneiro neste contexto, tem como propósito: 1. demonstrar os resultados positivos do Programa de Incubadoras de Empresas, apoiado por várias instituições em Minas Gerais; 2. gerar questionamentos, estudos e novos aprendizados aos interessados no tema; 3. estimular novos projetos de incubação a partir desses estudos de caso; 4. oportunizar a aplicação do conteúdo didático dos casos nas escolas, universidadades, instituições e empresas. A gestão do conhecimento é fundamental para o crescimento das instituições e provém do aprendizado constante e do envolvimento das pessoas para sua estruturação, sistematização, renovação e multiplicação. Com o uso de metodologias e ferramentas apropriadas é possível direcioná-lo, criando ambientes favoráveis para seu compartilhamento, revitalização, geração e expansão de novos conhecimentos. Esperamos que as histórias de empreendedorismo deste livro contribuam, de forma significativa, para o aprendizado dos leitores e para o fortalecimento do programa de incubadoras em Minas Gerais e no país. Mara Veit Coordenadora do Projeto e Organizadora do Livro Gerente de Atendimento ao Empreendedor Sebrae Minas Historia de sucesso - incubadora18 18 26/11/2007 13:10:37 Historia de sucesso - incubadora19 19 26/11/2007 13:10:45 INCUBADORAS DE MINAS GERAIS Enfoque Premição Anprotec INSOFT Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Informática 2002 Belo Horizonte BIOMINAS Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Biotecnologia, Química Fina e Informática Aplicada 2004 Belo Horizonte INOVA/AGEUFMG Incubadora de Empresas da Universidade Federal de Minas Gerais — Belo Horizonte PROINTEC Incubadora Municipal de Empresas 2003 Santa Rita do Sapucaí INATEL Incubadora de Empresas e Projetos do Instituto Nacional de Telecomunicações 2005 Santa Rita do Sapucaí 2006 Viçosa Incubadora Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da CENTEV/UFV Universidade Federal de Viçosa Cidade CRITT/UFJF Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia da Universidade Federal de Juiz de Fora — Juiz de Fora CRITT / GENESIS / UFJF Agente Softex Genesis — Juiz de Fora Historia de sucesso - incubadora20 20 26/11/2007 13:10:45 Historia de sucesso - incubadora21 21 26/11/2007 13:10:54 EMPRESAS MINEIRAS Empresa Graduada Período Incubação Incubadora Outubro/ 2001 Maio/ 2003 INSOFT Fevereiro/ 2000 Outubro/ 2003 INSOFT Fevereiro/ 1996 Março/ 1999 INSOFT Setembro/ 2001 Julho/ 2004 INSOFT Junho/1977 Dezembro/2006 BIOMINAS Junho/ 1999 Maio/ 2002 BIOMINAS Janeiro/ 2003 Outubro/ 2003 INOVA/AGE 8. EXSTO Exsto Tecnologia Ltda Junho/ 2001 Julho/ 2003 PROINTEC 9. TSDA Julho/ 2001 Março/ 2004 INATEL Junho/ 2000 Maio/ 2003 INATEL Fevereiro/ 1998 Agosto/ 2004 CENTEV Agosto/ 1997 Abril/ 1999 CENTEV Novembro/ 2002 CENTEV 1. ETEG Eteg Enterprise Technology Expertise Group 2. LIGA Liga Sistemas de Informática Ltda 3. DOCTORSYS Doctor Sys Engenharia de Software Ltda 4. USS USS Informática e Engenharia Ltda 5. KATAL Katal Biotecnológica Ltda 6. FERRARA Ferrara Ophthalmics Ltda 7. COMUNIP Comunip Soluções de Mídia em Tempo Real S/A TSDA Tecnologia e Soluções Digitais Aplicadas Ltda 10. BIQUAD Biquad Tecnologia Ltda 11. AGROGENÉTICA Laboratório de Análises Genéticas S/C 12. CIENTEC Cientec Consultoria e Desenvolvimento de Sistemas Ltda 13. STUDIUM Studium Comunicação Integrada Ltda. Junho/ 2006 14. LUPA Lupa Tecnologia e Sistemas Ltda. 15. IPIXEL Ipixel Sistemas de Informações Historia de sucesso - incubadora22 22 Setembro/ 2002 Dezembro/ 2006 CRITT Junho/ 2001 Abril/ 2002 CRITT/ GENESIS 26/11/2007 13:10:54 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 23 NAVEGANDO POR OPORTUNIDADES: O PROCESSO DE CRIAÇÃO E REINVENÇÃO Empresa: ETEG Incubadora: INSOFT Autoria: Anizio Dutra Vianna Christiano Becker Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa Introdução As mudanças ocorridas no mercado de trabalho nas duas últimas décadas do século XX criaram um ambiente novo para os jovens que nele ingressavam. Não mais existiam empregos em abundância e as organizações apontavam para modelos mais modernos e competitivos. As grandes corporações que antes produziam de tudo, internamente, deram lugar a negócios mais focados e apoiados em cadeias produtivas formadas principalmente de pequenas e médias empresas. Esse quadro era aparentemente paradoxal: se, por um lado, o nível de empregos via-se cada vez mais reduzido, por outro, mostrava-se mais aberto para os pequenos e novos empreendimentos. Em janeiro de 2000, em Belo Horizonte, Rafael Paiva, Lúcio França, Emerson Pardo e Fernando Teixeira concluíam a graduação no curso de Ciência da Computação da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, quando, então, se depararam com o desafio da construção da carreira. Em meados de julho desse mesmo ano, a pré-incubadora de empresas Gene-Cria, ligada à Insoft – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Informática de Belo Horizonte abria a sua primeira chamada para apoiar novos empreendimentos. Os quatro jovens não tiveram dúvida e, assim, submeteram à préincubadora o plano para implantação da ETEG, que tinha como EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora23 23 26/11/2007 13:10:54 24 EMPRESA ETEG objetivo a criação do serviço eBabel para pesquisa e comparação de preços na internet. De 2000, ano de criação da empresa, até 2002 os esforços foram direcionados para aperfeiçoar a ferramenta eBabel e inserila, efetivamente, no mercado. O ano de 2002 foi um divisor de águas. O faturamento da ETEG encontrava-se em declínio e a busca de recursos junto a novos investidores não se mostrava promissora. Era necessário mudar de rumo, no qual o foco da empresa passaria a ser o mercado e não mais seu produto. O desafio a ser superado pela ETEG seria então reinventar sua forma de fazer negócios. Iniciando o programa de pré-incubação Já em 2000, o curso de Ciência da Computação da UFMG oferecia uma cadeira optativa para ajudar os estudantes a definir o seu futuro profissional. Empreendimentos em Informática era uma disciplina com o objetivo de apresentar aos alunos o novo cenário em que se encontrava o mundo do trabalho, além de preparálos e incentivá-los a abrir o “próprio negócio”. Rafael Paiva, Lúcio França, Emerson Pardo e Fernando Teixeira cursaram a disciplina e, ao final, estavam decididos – as oportunidades para empreender se mostravam atraentes e o Plano de Negócios feito durante as aulas oferecia uma boa opção para começar. “Mas só o curso não bastava”, afirmava Lúcio. “Era preciso um apoio adicional para iniciar a nossa empresa”, afirmava também Rafael. Foi assim, então, que os quatro jovens entraram no programa de pré-incubação, o que representou uma etapa importante na criação do negócio. Após avaliação e aprovação do projeto, o programa disponibilizou apoio para a elaboração do estudo de viabilidade técnica e econômica do empreendimento. Uma equipe de especialistas estava a postos para prestar consultoria e capacitação aos empreendedores, ajudando-os na elaboração do Plano de Negócio. Historia de sucesso - incubadora24 24 26/11/2007 13:10:54 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 25 O programa de pré-incubação Gene-Cria previa um período de 12 meses de apoio aos projetos selecionados e, apesar de novo, já oferecia aos seus participantes espaço físico adequado, áreas e serviços de uso comum, além de equipamentos computacionais e conexão à internet de banda larga. Um item que à época estava disponível e cumpriu um papel importante no incentivo aos empreendedores foi a concessão de bolsas do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico para financiar as primeiras etapas. Como a equipe do projeto tinha conhecimento técnico e já vinha desenvolvendo partes do protótipo do que seria o primeiro produto da empresa nascente, boa parte do tempo foi dedicada à evolução do eBabel. A fim de adicionar mais motivação, a ETEG submeteu a sua idéia ao II Concurso Prêmio Jovem Empreendedor, promovido em Belo Horizonte pela UFMG e pelo Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio. Vários projetos tiveram apoio extra de treinamento e assessoria do próprio Senac. Após uma seleção difícil, dois projetos foram indicados como finalistas – um deles era o eBabel. Na noite de 20 de novembro, a ETEG foi selecionada em primeiro lugar no concurso ganhando prêmios e, principalmente, visibilidade no mercado. Em dezembro de 2000, próximos de completarem a primeira metade do programa de pré-incubação, Emerson e Teixeira se desligaram do projeto. Questões pessoais e outras oportunidades de trabalho dividiram o grupo. Rafael e Lúcio perceberam que precisavam manter a equipe pelo menos com quatro sócios e convidaram para se juntarem à empresa Rodrigo Fernandes e Walter dos Santos. O auge da bolha da internet – Como encontrar a melhor compra? Os anos de 2000 e 2001 foram o auge da bolha da internet , prinEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora25 25 26/11/2007 13:10:54 EMPRESA ETEG 26 cipalmente considerando a web como um canal para compras. Sites de vendas estavam por todos os lados, os produtos ofertados eram variados e os preços e condições de pagamento, frete, etc. tornavam a escolha da melhor opção ainda mais complexa. O eBabel se dispunha a simplificar a vida do comprador na internet, comparando preços e demais condições para diversos produtos em diversas lojas virtuais. Era essa a proposta de valor oferecida pelo eBabel: a melhor compra na internet. Banner eletrônico do eBabel Fonte: www.eBabel.com.br As primeiras pesquisas mostraram já existir um concorrente de peso no mercado – o serviço Buscapé. Não obstante, a equipe avaliou, com a ajuda de consultores, que o mercado era grande o suficiente para mais de um serviço dessa natureza. Por meio de pesquisa, levantaram detalhadamente os serviços do concorrente, sugerindo novas funcionalidades para o eBabel, como a gestão da cadeia de compra. A idéia era, além da comparação de preços, trazer para o usuário a opção de comprar, efetivamente, o produto e realizar a logística de entrega, garantindo um serviço completo e eficaz. Havia dúvidas sobre essa proposta, uma vez que exigiria capital de giro alto, além de um complexo mecanismo de gerenciamento dos processos de pagamento e logística. Por outro lado, o grupo entendia que a extensão de serviços permitiria ao eBabel explorar a intermediação como um modelo de negócio, o que aumentaria a receita. Esse modelo comercial de intermediação, somado à proposta de cobrança por direcionamento de clientes e à exposição de “banners”, parecia, naquele momento, ser o mais adequado. Foi com base nele que o protótipo do projeto e os parâmetros financeiros foram desenvolvidos. Historia de sucesso - incubadora26 26 26/11/2007 13:10:54 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 27 Plano de negócios: a hora de criar a empresa Em maio de 2001, após a conclusão do Plano de Negócio, os empreendedores da ETEG decidiram que o projeto era viável e as oportunidades promissoras. Foi uma decisão importante, pois, a partir desse momento, o projeto se tornaria realidade. Após o registro da empresa, estavam prontos para iniciar a sua operação. Nessa mesma época, a incubadora da Insoft abria vagas para novas empresas e a conclusão da pré-incubação os habilitava a ingressar no programa de incubação por um período de até dois anos. Na incubadora, o projeto da ETEG tomou forma mais concreta. Além de contar com um espaço físico maior e privado, começaram efetivamente os contatos comerciais com possíveis clientes. Em novembro de 2001, surgiu a oportunidade de se apresentar ao mercado. A tradicional feira de usuário de Belo Horizonte, a Inforuso, abriu um espaço para as empresas iniciantes na internet – as chamadas ”startups”. A criação de um espaço para elas chamado Oportunidades.com, atraiu diversos empreendedores e gerou uma nova atração na feira. O eBabel estava lá e, ao apresentar seu produto ainda embrionário, a ETEG pôde promovê-lo assim como colher opiniões e sugestões de novas funcionalidades. Muitas idéias propostas naquela época resultaram em empreendimentos importantes no mercado da internet. Enquanto Rodrigo, Rafael e Walter se dedicavam à empresa em tempo integral, Lúcio, além de ter iniciado seu Curso de Mestrado em Ciência da Computação, dedicava-se a dar aulas na Faculdade de Caratinga, cidade localizada a cerca de 400 km da capital. Suas atividades eram intensas. Em vários dias da semana, intercalava suas atividades na ETEG com o mestrado na UFMG e, às quartas-feiras viajava para Caratinga, onde cumpria uma extensa jornada de aulas. Numa dessas viagens, ao final de 2001, Lúcio sofreu um trágico acidente. Seu falecimento foi uma perda EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora27 27 26/11/2007 13:10:55 28 EMPRESA ETEG ainda maior para os sócios da ETEG que tinham nele uma liderança sólida. A ETEG segue adiante A morte de Lúcio foi um duro golpe, mas, passadas as primeiras semanas, Rodrigo, Rafael e Walter se convenceram de que a empresa deveria seguir seu caminho. Em outubro de 2001, a ETEG precisava obter recursos para manter a sua operação que, na ocasião, se mostrava deficitária. As receitas eram pequenas e não faziam frente às necessidades de investimento em tecnologia e marketing. Com orientação da incubadora Insoft, a ETEG apresentou um projeto ao BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – para uma linha de empréstimo subsidiado para pequenas empresas de base tecnológica – o Promitec. O recurso de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) foi aportado em fins de 2001 e utilizado para cobrir o déficit durante o ano de 2002. Os empreendedores acreditavam que era fundamental acelerar o desenvolvimento do portal eBabel e colocá-lo em funcionamento o quanto antes. Afinal, chegar primeiro, ou entre os primeiros, era um diferencial da internet. Paralelamente ao desenvolvimento tecnológico, implementaram uma estratégia de marketing agressiva visando estabelecer alianças com portais e provedores de audiência consolidada. Terra, UAI e BrTurbo foram os portais cujo contato se deu de forma mais estreita. Esse parecia ser o caminho mais curto para se obter visibilidade, tráfego e, conseqüentemente, ampliação do seu volume de visitas e negócios. Simultaneamente à prospecção de alianças, a empresa iniciou uma campanha de e-marketing empregando técnicas de marketing viral. Essa ação não exigia muitos recursos financeiros e poderia, de forma gradativa, ampliar a atratividade do serviço Historia de sucesso - incubadora28 28 26/11/2007 13:10:55 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 29 eBabel e dos grandes portais. A estratégia, apesar de importante, mostrava-se insuficiente para alavancar o volume necessário de visitas ao site. Em abril de 2002, a ETEG fez um importante investimento ao participar, pela primeira vez, de uma feira nacional, a Fenasoft, principal feira de informática do País. Junto a importantes e já consolidadas empresas mineiras, como a RM Sistemas, A&C, Tecnisa, lá estava a ETEG buscando seu espaço. No segundo semestre de 2002, os empreendedores decidiram buscar recursos externos através de capital de risco. Estava claro que os recursos próprios seriam insuficientes para impulsionar o negócio. O Plano de Negócios indicava a necessidade de se captar cerca de R$ 1,7 milhão a serem aplicados em ações de marketing e vendas. Vários contatos com investidores foram efetuados, mas, àquela altura, a internet já demonstrava não ser mais o foco dos investidores. O ano de 2002 chegava ao fim e as vendas não se ampliavam em volume suficiente, as alianças com os portais não aconteciam e as possibilidades de se captar recurso de investidores de risco se mostravam pouco promissoras. O que fazer? continuar o eBabel ou mudar de rumo? O ano de 2003 marcou um momento de reflexão e planejamento. Visibilidade, visitação e potencial já não mais eram atrativos. Os empreendimentos precisam mostrar um modelo de negócio consistente e resultados para receber a atenção dos investidores. Rafael afirmava taxativamente: “Temos que fazer alguma coisa. As incertezas ainda são muitas, os recursos estão se esgotando e não existe um indicativo que a empresa possa superar este momento”. O que fazer diante do quadro que se apresentava? Vivia-se um EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora29 29 26/11/2007 13:10:55 30 EMPRESA ETEG cenário no qual os recursos obtidos com o empréstimo do BDMG chegavam ao fim e, sem um plano, a perspectiva era de que a empresa não sobrevivesse por mais um ou dois meses. Em maio de 2003, Rodrigo, que àquela altura exercia funções mais gerenciais na empresa, soube de um convênio da Faculdade de Negócios UNA de Belo Horizonte com o curso de MBA da Universidade de Michigan, que tinha como objetivo elaborar um plano estratégico para uma empresa em fase de startup no Brasil. Rodrigo conseguiu incluir o caso ETEG para o estudo que foi realizado de maio a julho de 2003. Esse estudo teve participação efetiva dos sócios e constituiu um importante instrumento de avaliação e “reinvenção”. Ao final de julho, foi apresentado um relatório completo com a análise da empresa e um plano de recomendações para o seu reposicionamento. Várias dessas recomendações foram apresentadas pelos estudantes/consultores, sendo as mais importantes: 1. suspender o produto eBabel; 2. focar em software e serviços para a área financeira; 3. desenvolver uma estratégia para construir a marca ETEG; 4. terceirizar os projetos pequenos e fora do foco da empresa; 5. ampliar e reestruturar a equipe; 6. continuar a atividade de treinamento; 7. reavaliar permanentemente o foco e objetivos. A recomendação mais objetiva e, ao mesmo tempo mais dura, foi a de fechar o projeto eBabel. Apesar de ter sido seu primeiro produto, a empresa, efetivamente, não conseguia fazê-lo gerar receitas suficientes para a sua continuidade. Era quase como “matar o próprio filho”, mas era a decisão mais racional a ser tomada. Historia de sucesso - incubadora30 30 26/11/2007 13:10:55 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 31 Ficou claro, dentre as recomendações dos estudantes/consultores, que a empresa possuía outros negócios mais rentáveis e capacitação diferenciada para abrir novas frentes. Um projeto para o desenvolvimento de uma solução de “EDI – Eletronic Data Interchange” para o Banco Rural tinha sido aprovado. Esse fato não só abria as portas da ETEG para outros projetos com o mesmo cliente, mas recomendava a transformação desse serviço em produto com potencial de mercado no setor financeiro. Outra sugestão importante foi a estratégia proposta para criação de marca (“branding strategy”) visando diferenciar a empresa junto ao mercado e valorizar sua competência na emergente tecnologia de desenvolvimento Java e de Web Services. O relatório indicou, ainda, a ampliação da linha de serviços de treinamento, tendo em vista o potencial para geração de relacionamentos, abertura de novos clientes e terceirização com parceiros de projetos fora do escopo da empresa. Do ponto de vista organizacional, as recomendações foram a reorganização da força de trabalho e a permanente revisão e ajuste da missão e visão do negócio, como forma de se manter o foco e as estratégias bem delineadas. A empresa precisou ser reinventada As conclusões do estudo e do planejamento estratégico elaborados na Universidade de Michigan foram decisivas para o reposicionamento da Eteg. Seus três sócios – Rodrigo, Rafael e Walter participaram integralmente do trabalho e “compraram” as recomendações ali apontadas – principalmente suspendendo o projeto eBabel. Os serviços executados no Banco Rural, além da receita prevista, geraram como produto o software Integrato que passou a ser comercializado para outras instituições financeiras. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora31 31 26/11/2007 13:10:55 32 EMPRESA ETEG Ainda em 2003, a ETEG associou-se à PPV, empresa com atuação na área de software e produtos para o mercado musical. Essa aliança tinha como objetivo desenvolver e comercializar um produto inovador de educação musical. Entretanto, era preciso mudar para uma nova instalação. Surgiu, então, em decorrência dessa parceria, a possibilidade de transferência para um escritório anexo à PPV. Além da comercialização e manutenção do Integrato e do desenvolvimento do software de educação musical, posteriormente denominado Tomplay, a ETEG mantinha e ampliava seus serviços de treinamento. Para apoiar as atividades da empresa que, naquela oportunidade, eram bem diversificadas, os sócios contrataram para a equipe o amigo e ex-colega da graduação, Leonardo Araújo. De um produto único à ampla diversificação: faltou braço... Em 2004 a parceria com a PPV foi cancelada e a ETEG abandonou o produto Tomplay. Dificuldades na sua comercialização e falta de conhecimento do mercado fizeram os sócios interromperem o projeto. Havia uma percepção clara: “faltava braço”, isto é, a empresa estava com várias frentes e não conseguia focar e obter resultados que remunerassem o seu trabalho. Em janeiro de 2004, os então três sócios, Rodrigo, Rafael e Walter fizeram uma reunião decisiva. O quadro precisava mudar, caso contrário fechariam a empresa. O trabalho era intenso, diversificado, mas os resultados não apareciam. O sacrifício pessoal que todos faziam era grande, para manter o negócio próprio. Resolveram dar ao sonho uma última chance. Redirecionaram suas ações para a tecnologia Java, uma vez que a empresa possuía boa reputação e conhecimento. “Era preciso Historia de sucesso - incubadora32 32 26/11/2007 13:10:55 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 33 investir mais nesta competência” afirmava Rafael, que tinha o consentimento dos demais. O alinhamento com o mercado para a linguagem Java – consultoria, treinamento e desenvolvimento de sistemas – se mostrou uma boa decisão. Já ao final de 2004, a empresa atuava com maior objetividade e tinha um resultado financeiro que retratava essa mudança. Encerrou o ano com faturamento de R$ 240 mil e uma equipe de 10 profissionais. Os resultados de 2004 foram fundamentais para manter a motivação dos sócios. A decisão de crescer A ampliação dos negócios, ao final de 2004, exigia a transferência para uma estrutura maior e mais confortável. Após a pesquisa de várias opções, a ETEG mudou-se para o seu atual endereço no bairro Funcionários. A instalação na nova sede trouxe motivação renovada à equipe. As mudanças organizacionais propostas pelo relatório dos estudantes/consultores foram implementadas na sua totalidade. Os três sócios fizeram um trabalho amplo de replanejamento com o objetivo de adequar a ETEG ao seu novo momento. Dentre os ajustes propostos, coube destaque ao que definiu, com maior objetividade, o papel e as responsabilidades de cada sócio. Rodrigo se dedicava mais às funções de gestão e cursava especialização nessa área na Fundação Dom Cabral. Foi, então, formalmente designado para assumir o comando administrativo. Rafael se destacava pela visão ampla e pela eficiente atuação na área técnica. Seu posicionamento aberto e sua facilidade para identificar oportunidades fizeram com que exercesse o papel de gestor dos projetos. Walter, por sua vez, estava mais voltado às questões tecnológicas. Coube a ele a responsabilidade pelas ações de tecnologia, além de ser o principal instrutor nos treinamentos. Naquele momento, os sócios construíram um modelo de gestão EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora33 33 26/11/2007 13:10:55 34 EMPRESA ETEG claro e com definição de responsabilidades, constituindo um fórum formal de decisões. Foi, então, acordado que se reuniriam uma vez por semana para analisarem as atividades em curso, deliberar de forma coletiva e alinhar a visão de futuro do negócio. Essas mudanças tiveram um papel importante na consolidação da empresa. Internamente, a gestão administrativa e financeira ganhava maior transparência e indicadores de resultados, permitindo aos sócios identificar, com agilidade, as ações e correções de rota. Destacou-se o desenvolvimento de uma ampla rede de contatos construída pelo sócio Rodrigo, trabalho fundamental para melhorar a divulgação e buscar parceiros, clientes e fornecedores. A área de marketing e vendas também foi alvo de ajustes visando agregar mais ousadia e acesso aos mercados e clientes. Uma contratação externa de consultoria parecia ser o caminho para agregar força às vendas. No entanto, tal conduta se mostrou logo ineficaz e a contratação foi desfeita. O atendimento ao cliente sempre foi um valor preservado pela empresa em sua trajetória. Foi justamente essa atitude que abriu, ainda em 2005, uma oportunidade para a ETEG. O Governo Federal acabava de regulamentar um mecanismo de ampliação de crédito ao consumidor e o sistema financeiro se estruturava para atender esse mercado. Não havia fornecedores de software para ele e foi nessa onda que a ETEG se posicionou. Consultado pelo já cliente Banco Rural, para o qual havia desenvolvido a solução de EDI, a ETEG respondeu desenvolvendo um produto completo e bem estruturado. Já em 2005, o faturamento da empresa cresceu mais de 70 % em relação ao ano anterior, índice mantido em 2006. O número de colaboradores também cresceu em 2005 e 2006, acompanhando o aumento de vendas. Historia de sucesso - incubadora34 34 26/11/2007 13:10:55 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 35 Evolução do Faturamento Anual – em Mil R$ 1 200 1 000 1 000 800 600 400 100 0 180 330 450 60 2003 2004 2005 2006 2007 (previsão) Fonte: Dados da empresa. Desafios de mudança e melhorias são permanentes Um novo desafio, no entanto, se impunha à ETEG – melhorar o seu processo de produção de software com o objetivo de elevar a qualidade e a confiabilidade de seus projetos. Um programa desenvolvido pela Fumsoft – Sociedade Mineira de Software, lançado no início de 2006, teve como objetivo apoiar, de forma coletiva, a certificação de empresas de software no estado com o uso do modelo MPS.Br – Melhoria do Processo de Software Brasileiro (*). O programa, qe teve o apoio do Sebrae, da Sociedade Softex e do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, permitiu a empresas do porte da ETEG participarem de um processo de qualificação e certificação, o que, isoladamente, seria inviável. Leonardo, colaborador da ETEG e colega dos sócios fundadores no tempo de escola, foi designado para conduzir esse projeto. O trabalho de Leonardo resultou no convite para ingressar na sociedade. No início de 2007, os planos para a ETEG sinalizavam um grande potencial de evolução em vendas. Até então, todo o crescimento em faturamento era absorvido por um conseqüente aumento no número de colaboradores, custos de instalação, etc. Faltava algo que pudesse garantir um aumento na rentabilidade. (*)MPS.Br – Melhoria do Processo de Software Brasileiro – processo de certificação de qualidade em desenvolvimento de software desenvolvido pela Sociedade Softex – Brasil. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora35 35 26/11/2007 13:10:55 36 EMPRESA ETEG Foi nessa linha que os planos da ETEG para 2007 foram construídos. “Nossa principal meta este ano seria ampliar o faturamento e ganhar escala na distribuição dos produtos. Com isso, acreditamos que a tão esperada rentabilidade seria obtida“ – afirmou Rodrigo, de forma categórica. Com um faturamento projetado da ordem de 100 % sobre o ano de 2006, a empresa esperava, em 2007, o seu primeiro ano de rentabilidade significativa. Estudos internacionais em empresas nascentes mostram que os resultados, em geral, começam a aparecer entre o 5º e o 7º ano. Não foi diferente no caso da ETEG que, próximo do seu 6º ano, projetava o primeiro exercício de resultados importantes. Em junho, a ETEG foi certificada no processo MPS.Br. Isso significou um grande passo para obter maior qualidade, menor retrabalho e melhores resultados dos projetos vendidos. Determinação, vontade de vencer, visão de futuro e muito trabalho foram ingredientes indispensáveis. “No inicio, foi difícil e tivemos que ser muito determinados no nosso objetivo de criar a empresa, mas vê-la crescendo, e os resultados chegando nos motivava ainda mais a continuar. É também muito gratificante ver a ETEG gerando novos empregos e contribuindo para o crescimento do País!” afirmou Rodrigo. A ETEG promete muito mais: sua visão para 2010 é “Ser uma empresa que trabalha com processos técnicos no nível do CMM 3 (**) e processos gerenciais de qualidade comprovada pelo Prêmio Excelência Empresarial Sebrae Minas (***)”. Com relação aos números da empresa, Rodrigo afirma categoricamente: “Nossa meta para 2010 seria alcançarmos um faturamento anual de R$ 3 milhões, com margem de lucro superior a 20%.” (**)CMM é um processo de Certificação de Maturidade no desenvolvimento de software desenvolvido pela “SEI- Software Engineering Institute” nos Estados Unidos. (***) Prêmio Excelência Empresarial Sebrae Minas – É uma premiação anual realizada pelo Sebrae Minas e pelo Grupo Gerdau, que visa reconhecer os esforços, as iniciativas e ações que as empresas de micro e pequeno porte do estado de Minas Gerais estão empreendendo para a melhoria de sua gestão, com resultados em ganhos de qualidade, produtividade, competitividade e consequente contribuição para a comunidade. Historia de sucesso - incubadora36 36 26/11/2007 13:10:56 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 37 2007 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Qual foi a importância da incubadora para o desenvolvimento da ETEG? 2. Como uma empresa nascente deve lidar com a questão de foco? Deve aceitar desenvolver projetos que não fazem parte da sua estratégia ou recusar projetos que podem trazer recursos tão necessários para a empresa? Justifique sua resposta. 3. Apesar do prejuízo inicial, o Buscapé, um site concorrente, atingiu, em 2006, um faturamento considerável, além de ter feito aquisições de empresas concorrentes e complementares ao seu negócio. Isso prova que o modelo de negócio no qual o eBabel se baseou não era totalmente equivocado. Na sua opinião, por que o eBabel não deu certo? 4. Por que foi importante para a ETEG e recomendado pela avaliação da Universidade de Michigan “manter a atividade de treinamento”? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ETEG – STRATEGIC PLAN – JSCP Students- Szabolcs Farkas; Michael Lindroos; Bruno Seixas Oliveira –July, 2003 Premio Jovem Empreendedor – Ganhador Sairá Amanhã – Jornal Estado de Minas – 19 de novembro de 2000; Minas é Inovação – Publicação oficial do Sistema Mineiro de Inovação – Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora37 37 26/11/2007 13:10:56 Historia de sucesso - incubadora38 38 26/11/2007 13:10:56 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 39 2007 SUCESSO DE MERCADO SAIU DE UM PC-XT Empresa: LIGA Incubadora: INSOFT Autoria: Daisy Andrade de Melo e Souza, Renata Naiara Silva, Rita de Pinho Carvalho Tutoria: Mara Veit Sempre atento às novidades, interessado em aprender e aficionado pelo acesso rápido ao progresso da tecnologia, em sua época, nos anos 70, Luiz Antônio Normanha Novaes, hoje proprietário da Liga Sistemas, era o primeiro a buscar o conhecimento no que se refere à implantação de qualquer novidade. Queria ver, tocar e interagir com o que era considerado avançado e moderno. Ele se lembra do dia em que o pai chegou em casa com um gravador portátil de fitas K7. A possibilidade de apertar algumas teclas, gravar a voz e depois reproduzi-la, fascinava o menino. Para ele, aquilo era o máximo. Normanha afirma que talvez tenha iniciado ali a sua caminhada rumo à tecnologia e inovação e, também, a seu gosto musical. A Liga Sistemas foi fruto de uma necessidade do desenvolvimento de um sistema para o laboratório de análises clínicas do irmão mais novo, Dr. José Geraldo Normanha, formado em farmácia pela UFMG. Seu irmão se queixava de que, por onde passava, para aumentar seus conhecimentos na área de estudo, como em congressos, seminários e palestras sobre análises clínicas, nunca ouvia falar a respeito de alguma solução computacional para o segmento, mas gostaria de buscar uma solução que atendesse suas necessidades profissionais. Em 1992, já graduado em Ciência da Computação pela UFMG e com um computador PC-XT em mãos, Luiz Antônio se dividia entre o emprego seguro no BDMG, conseguido por meio de um concurso público; as aulas que dava à noite e o desenvolvimento do sistema solicitado pelo irmão farmacêutico, hoje dono de EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora39 39 26/11/2007 13:10:56 40 EMPRESA LIGA um dos maiores laboratórios de análises clínicas do Norte de Minas. Essa rotina seguiu por, aproximadamente, um ano, quando, finalmente, nasceu o Infolab para DOS, um sistema de informação laboratorial inédito no mercado. Com o programa pronto e aprovado – depois de testado no laboratório do irmão, nos laboratórios da UFMG e no já consagrado laboratório Humberto Abrão – a empresa foi crescendo e a presença constante do seu líder era uma exigência da própria atividade. Como se comportaria Luiz Antônio para dar continuidade ao negócio e ao emprego, conciliando, de forma qualitativa, as duas atividades? Quem não gostaria de ter um emprego tão seguro como o do BDMG? Como ser um verdadeiro empreendedor, com foco no seu empreendimento? A UNIÃO FAZ A FORÇA Luiz Antônio Normanha Novaes nasceu em Belo Horizonte, no dia 23 de janeiro de 1959 e teve uma infância pobre. Não havia mordomia nem conforto no apartamento apertado de dois quartos, de 60m², na região da Lagoinha. Entretanto, as evidentes dificuldades não eram suficientes para minar a principal riqueza daquele lar: a bem-aventurada convivência com os pais, quatro irmãos, a avó, e um primo que moravam todos juntos. A despeito das dificuldades financeiras e das complicações próprias de uma família desse tamanho, não havia tristeza naquela casa. Todos eram muito unidos e a alegria reinava sob circunstâncias nada fáceis. Luiz Antônio, ou Toninho, como é chamado em casa, até hoje, era um dos mais animados. Sua alegria e seu bom humor foram os combustíveis para moldá-lo como um homem dotado de vontade de vencer e de esperança de que dias melhores viriam para concretizar seus sonhos de infância. Desse tempo para cá, a trajetória educacional de vida de Luiz Antônio sempre passou por escolas públicas nas três esferas: fundamental, médio e superior. Ele estudou no Colégio Muni- Historia de sucesso - incubadora40 40 26/11/2007 13:10:56 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 41 cipal de Belo Horizonte – que existe até hoje, no conjunto IAPI, onde morava – e orgulha-se de dizer que teve um ensino rigoroso, pois a educação pública, naquela época, era séria e oferecia uma base mais sólida e acesso a informações importantes para sua formação. Quando já cursava o pré-vestibular, houve uma palestra sobre vocação profissional e os estudantes foram orientados a fazer um teste e uma visita às empresas dos mais diversos segmentos do mercado. Quando Luiz Antônio ouviu falar sobre computadores e soube que já havia um em Belo Horizonte, na Reitoria do campus da UFMG, ele “enlouqueceu”. Durante a visita, ele e os colegas, puderam ver de perto o Burrougs B-690, computador adquirido para a Reitoria e também utilizado no recém-inaugurado curso de Bacharelado em Ciências de Computação. Naquele instante, voltavam-lhe à memória os filmes de ficção científica e as séries da TV que o fascinavam. O decidido estudante, ao comentar em sua casa, “agora eu vou fazer Ciências da Computação”, fez uma surpresa desagradável para sua avó D. Adelaide: “Você falou que ia ser engenheiro, agora vem com esse ‘trem’ que ninguém conhece?” Após ter se formado no curso de Ciência da Computação, em 1984, passou a lecionar a disciplina de programação de computadores nos cursos de extensão do DCC (Departamento de Ciências da Computação) da UFMG, oferecidos à comunidade. Também foi professor nos cursos de Administração de Empresas e Economia da Fundação Dom Cabral, onde lecionava as disciplinas de Matemática Comercial e Aplicada. Hoje se orgulha ao dizer que, por onde passa, encontra seus ex-alunos, profissionais, diretores ou donos de empresas de tecnologia, gente que foi inserida no mundo da informática e, assim como Luiz Antônio, desenvolve sistemas e contribui para o desenvolvimento tecnológico do país. Em 1985, soube da realização do concurso público do BDMG. Classificado, com boa pontuação, começou sua carreira na instituição como Analista de Sistemas. Nessa função, ele se reportou EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora41 41 26/11/2007 13:10:56 42 EMPRESA LIGA ao seu chefe e solicitou tempo para fazer o mestrado. Para sua surpresa, foi liberado. Em sua rotina diária, ele trabalhava quatro horas no banco pelas manhãs e, à tarde, dedicava-se ao mestrado. À noite, voltou à docência e continuou lecionando nos cursos de extensão do DCC da UFMG. Terminado o mestrado, em 1988, Luiz Antônio voltou a trabalhar no banco, em tempo integral de oito horas por dia. Pouco depois, o BDMG adotou a jornada de seis horas corridas. Com a mudança, ele largava o serviço no banco às 13 horas e sobrava-lhe tempo para desenvolver outras atividades. Entusiasmado, começou a desenvolver o sistema Infolab todos os dias, após o término da jornada do banco, trabalhando em seu apartamento localizado no bairro Jardim América. A programação era difícil, numa linguagem de baixo nível, em ambiente DOS, e o computador XT não rendia tanto quanto os computadores atuais. O processo era muito lento. Durante muito tempo, essa rotina foi contínua até que, depois de um ano, nasceu o produto InfoLab para DOS, o sistema de informação laboratorial (SIL). No ano de 1992, apesar das críticas dos colegas do BDMG, que não acreditavam que um dia ele deixaria o banco, onde trilhava uma carreira invejável, Luiz Antônio abriu a sua primeira empresa, com uma certeza: se tudo desse certo nesse negócio, ele estaria abandonando a estabilidade de um emprego público, a segurança de uma aposentadoria, os benefícios de um plano de saúde, a garantia de dezesseis salários por ano e o status de um cargo de auditor do BDMG. Era um empreendedor criando a sua empresa e realizando o sonho pessoal – ter o seu próprio negócio. A empresa criada foi denominada LAN, iniciais do nome do seu fundador, que teve que ser mudado em função de registro préexistente, com mesmo nome. Em seguida, o nome Liga surgiu por influência dos amigos e parentes que usavam esse nome, de forma carinhosa, para chamar uns aos outros. “Gostei do nome porque dá idéia de ligação, laços e união. É bom ligar o cliente com o que há de Historia de sucesso - incubadora42 42 26/11/2007 13:10:56 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 43 mais avançado e se ligar aos outros, ou seja, uma liga forte supera os desafios das constantes mudanças e quebra de paradigmas do mundo moderno”. Nessa época, houve uma feira na Sociedade dos Engenheiros, sobre softwares para área de saúde e Luiz Antônio participou sozinho do evento. Subia três andares todos os dias com o computador, gabinete, teclado, monitor nas costas, para expor o sistema que havia desenvolvido. Essa postura persistente chamou a atenção de uma jornalista do Estado de Minas, que dedicou um espaço de meia página no jornal para escrever uma matéria maravilhosa sobre a vida de Luiz Antônio e mostrar como ele conseguiu criar um sistema para informatização de laboratórios de análises clínicas. Em decorrência dessa matéria, o volume dos contatos interessados pelo sistema foi crescendo e a Liga Sistemas precisava crescer com esse movimento favorável ao negócio. Por meio da venda do consórcio de um carro Escort XR3 conversível, conseguiu o dinheiro necessário para abrir a empresa, alugar uma sala, mobiliar o escritório e confeccionar um folder do sistema, que ele mesmo havia produzido. Luiz Antônio trocava o carro dos seus sonhos, para viabilizar o sonho de ter o próprio negócio. O primeiro endereço foi em uma sala alugada na Rua da Bahia, perto do BDMG, o que facilitava o acesso para continuar aprimorando o sistema após o trabalho. No início, a rotina seguia desta forma: trabalhar no Banco pela manhã, desenvolver e atender os clientes à tarde, lecionar à noite, revezar o horário de trabalho no Banco com colegas, em alguns momentos, para a atender na empresa, pela manhã, para dar a impressão aos clientes de que a empresa funcionava em tempo integral. O empresário conta que, na empresa, exercia todas as funções, tendo que se desdobrar constantemente: “Eu tinha que atender o telefone disfarçando a voz, transferia para o setor de suporte, onde eu mesmo atendia, passava para a cobrança disfarçando a voz novamente. Do recepcionista ao presidente, era tudo comigo na Liga”. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora43 43 26/11/2007 13:10:56 44 EMPRESA LIGA A EMPRESA INCUBADA Após três anos de atividade, em 1995, Luiz Antônio continuava no BDMG, mas vivia um período de dificuldades financeiras na sua empresa, em decorrência da política econômica. A Liga Sistemas passava por uma crise, muito comum à realidade da maioria das pequenas empresas brasileiras. Mais uma vez, o apoio da família foi fator determinante para o sucesso do empreendimento. Luiz Antônio recebeu ajuda da irmã Norma Normanha, na gestão da empresa e do irmão, João Normanha, que cedeu um espaço, sem nenhum ônus, na sala onde funcionava seu consultório dentário. O empreendedor continuou investindo tempo e recursos na melhoria do software do seu empreendimento. As dificuldades, de ordem gerencial, comercial e financeira, eram muitas, mas a sua pipeline era recheada com doze clientes usuários que contribuíam significativamente para o negócio. A partir desse período, ele começou a pesquisar sobre incentivos e descobriu a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Informática Insoft-BH. Em 1999, com a ajuda de professores da UFMG, como Fernando Dolabela e outros, Luiz Antônio criou o plano de negócios do seu empreendimento e, entre vinte e oito inscritos para o processo de incubação, preparou-se para defendê-lo diante de uma banca avaliadora. ”Foram escolhidos quatro projetos e o meu estava entre eles”. Apesar de já possuir uma empresa e alguns clientes, o plano de negócios foi fundamental para certificar a viabilidade do sistema e do negócio. Com o advento dos computadores pessoais, cada vez mais pessoas tinham acesso aos benefícios da informática. As empresas investiam em novas soluções que facilitassem a realização do trabalho. No cenário de laboratórios de análises clínicas, havia poucos softwares no mercado brasileiro para gerenciamento desse segmento. Então, em fevereiro de 2000, Luiz começou a reescrever o software para outro ambiente operacional Windows. Na nova versão, o sistema foi incorporando mais funcionalidades Historia de sucesso - incubadora44 44 26/11/2007 13:10:56 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 45 e juntando ao projeto o desenvolvimento de um software para interfaceamento entre analisadores automáticos e o Sistema de Informações Laboratoriais InterMax. Foi incluído, também, o desenvolvimento do gerenciador de relatórios, OpenReport, que muito contribuiu para valorizar o software, pois essa inclusão permite, hoje, a elaboração e controle de relatórios variados, com muito bom desempenho. Para Luiz Antônio, a fase de incubação na Insoft-BH foi essencial para a Liga Sistemas. Propiciou a interação com outros jovens empresários, compartilhou os recursos humanos e a infra-estrutura; possibilitou um forte network, relacionamento estreito com instituições de fomento e apoio de outras empresas incubadas. A falta de conhecimento sobre gestão de empresas, a ausência de um acompanhamento profissional que apoiasse no controle de contas, custos, avaliação de ganho, viabilidade da condução do negócio, foi também suprida pela incubadora, que se empenhou em orientar quanto à direção a ser seguida. A DECISÃO DO EMPREENDEDOR Em 2002, os colegas do BDMG ficaram perplexos, quando Luiz Antônio deixou a tão conceituada instituição. Ficaram para trás a estabilidade, os dezesseis salários anuais, entre outros benefícios. Ele foi atrás do seu sonho, cuidar do seu negócio, a Liga Sistemas. A vontade de empreender excedeu a situação de conforto e a comodidade da condição de funcionário público. Foi a decisão mais difícil. Deixar o cargo no Banco em benefício da empresa, causou espanto na maioria das pessoas que o cercavam. Alguns até diziam: Luiz você está mesmo louco! A vontade de vencer, o desejo de alcançar a auto-realização, não permitiam que Luiz Antônio aceitasse a derrota. O fracasso era uma alternativa nula na vida dele. Só de imaginar essa possibilidade, ficava perturbado, mesmo sabendo que é um aprendizado para não se cometerem os mesmos erros. Com uma vida sempre marcada por muita luta, EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora45 45 26/11/2007 13:10:56 46 EMPRESA LIGA na qual nada surgiu de graça, a garra para conquistar o espaço tão sonhado foi determinante para não abandonar o projeto e obter, em seu empreendimento, um dos maiores faturamentos do segmento, em Minas Gerais. A Incubadora era um ambiente dos mais favoráveis à colaboração mútua. Era um espaço rico para troca de experiências e de intensa atividade, em que a mera convivência com outros talentos era “força motivadora”, ressalta: “Às vezes, no meio da madrugada, à uma ou duas horas da manhã, quando eu parava de teclar, podia ouvir outro teclado lá na frente do corredor, e gritava: ô beleza, eu não estou sozinho aqui!’ O outro respondia: ‘não está não! Era muito gratificante e motivador”, relembra. Durante esse período de incubação, Luiz Antônio desenvolveu os produtos Infolab Windows, Intermax e OpenReport, com os quais triplicou a carteira de clientes e incrementou o faturamento da empresa. PRODUTOS INOVADORES Infolab Windows O produto, em formato Windows, totalmente customizável, denominado InfoLab, é um software de gestão laboratorial, capaz de gerenciar todo o trabalho de uma empresa de saúde, laboratórios, hospitais, clínicas médicas, ambulatórios, pronto atendimento, postos de saúde e farmácias. Equipado com um poderoso banco de dados que armazena todos os registros, esse sistema é completo para gerenciamento e controle de todas as rotinas do atendimento, desde a recepção até a emissão de faturas, variações de estoque e entrega de resultados pela Internet. O InfoLab é um sistema personalizável, capaz de adaptar-se facilmente para atender a todos os usuários envolvidos, tanto no aspecto técnico-clínico, como no administrativo, financeiro e na qualidade dos serviços prestados pelas diversas unidades de saúde. InterMax O InterMax recebeu o Prêmio de Inovação Tecnológica do Se- Historia de sucesso - incubadora46 46 26/11/2007 13:10:57 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 47 brae, em 2002, atestando o seu ineditismo, pois suas funcionalidades são melhores que as dos concorrentes, com um custo muito menor. O InterMax é o único sistema brasileiro modular de interfaceamento inteligente microprocessado para equipamentos de automação médico-laboratoriais. Oferece confiabilidade, automatização, agilidade e flexibilidade no interfaceamento entre equipamentos analisadores e Sistemas de Gestão de Informações Médico-Laboratoriais (SIL). Seguindo a mais nova tecnologia em microprocessadores e armazenamento de dados, a Liga Sistemas desenvolveu um produto capaz de solucionar equívocos comuns na programação e transcrição de dados dos equipamentos de automação. A estrutura interna dos seus módulos permite o armazenamento de dados através da memória RAM não volátil (NVRAM), acoplada a cada um deles. Com a tecnologia das memórias NVRAM, o sistema é capaz de manter os dados ou resultados dos exames, mesmo ocorrendo quedas na energia, falhas no computador hospedeiro ou quaisquer imprevistos que impeçam a recepção segura dos dados durante o processamento, garantindo a qualidade e a integridade das informações. A estrutura funcional do InterMax é capaz de conectar de um a cento e vinte e sete módulos, em respectivos equipamentos de automação, sendo plenamente adaptável às carências de laboratórios e centros de diagnósticos de diferentes portes. Cada cliente pode adquirir a quantidade de módulos eletrônicos correspondente a seus equipamentos de automação, expandindo facilmente sua rede, na medida que lhe for mais conveniente. Apesar de não existir no Brasil e na América Latina nenhum laboratório que opere com uma quantidade superior a cento e vinte sete analisadores, o servidor de interfaceamento ainda poderá ser desenvolvido para atender um número maior de equipamentos. A tecnologia utilizada no InterMax preserva os dados de qualEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora47 47 26/11/2007 13:10:57 48 EMPRESA LIGA quer interferência eletrônica, impossibilitando qualquer alteração do conteúdo durante seu processamento. A transmissão de dados é feita a partir de um protocolo de comunicação, também desenvolvido pela Liga Sistemas, que permite o envio das informações a uma taxa rápida de 57.600 bits por segundo. Pequenos módulos unidirecionais/bidirecionais podem conectar equipamentos de automação a um servidor de interfaceamento, através de barramento a quatro fios, com linha balanceada, imune a ruídos, numa distância de até 1.500 metros, agregando funções especiais para controle de equipamentos distribuídos. OpenReport Desenvolvido pela Liga Sistemas, o sistema OpenReport é uma poderosa ferramenta para criação e gerenciamento de relatórios que acessam os principais bancos de dados: Oracle, Interbase, SyBase, MySql, Access, Paradox etc. Com o OpenReport, o usuário pode, facilmente, criar, editar, salvar e abrir seus relatórios, criar categorias e menus. Os relatórios podem ser completamente customizados em tempo de execução. O OpenReport foi desenvolvido com base no QuickReport, disponibilizando para o usuário final todas as suas facilidades e eventos. Em agosto de 2003, a Liga Sistema foi graduada e saiu da incubadora Insoft, onde permaneceu durante dois anos. Instalou-se na sua sede, na cidade de Belo Horizonte, onde permanece desenvolvendo e aprimorando produtos com foco no mercado. A empresa vem agregando cada vez mais funcionalidades aos seus sistemas, para atender outros centros de diagnósticos, clínicas e diferentes demandas do setor de saúde. A GRADUAÇÃO DA EMPRESA E A COMPETITIVIDADE Após o período da graduação, a Liga ampliou sua carteira de clientes de forma bastante ordenada. Atualmente, prepara-se para expandir as vendas, em maior proporção, para outros mercados, além de fidelizar a relação com os clientes potenciais e Historia de sucesso - incubadora48 48 26/11/2007 13:10:57 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 49 com grandes laboratórios como o Homocentro de Minas Gerais, de Genética Humana e de análise de alimentos. A Liga Sistemas encontra-se capacitada para competir em igualdade de condições com os melhores sistemas de informação para gerenciamento da área de saúde, em âmbito mundial. A expectativa da empresa é de contribuir para a ampliação da infra-estrutura de serviços na área de saúde, tanto pública como privada, por meio da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico aplicado a software e hardware, reforçando a competitividade de seus clientes, criando novos mercados e empregos, incrementando investimentos e concorrendo para o melhor atendimento à população, de maneira a garantir apoio ao diagnóstico sem falhas. A criação de um software fácil de usar, em um formato bastante comum para as pessoas, faz com que um funcionário de laboratório precise de pouco tempo para começar interagir com o sistema. Com pouco treinamento, o usuário pode ter um grande desempenho produtivo, ao utilizar o InfoLab. A equipe de gestão da Liga Sistemas se sente gratificada por saber que os sistemas desenvolvidos pela empresa estão sendo utilizados em uma área fundamental para o cidadão, como a da saúde. O fato atesta o compromisso social da empresa, ao promover o bem-estar da população e contribuir para melhorar a qualidade do atendimento nas instituições de saúde públicas ou privadas em todo o país. Na fase atual, a proposta da Liga Sistemas é de aplicar, continuamente, os recursos obtidos na geração, fazer absorção, difusão e introdução de inovações tecnológicas no aprimoramento de seus produtos e processos e na ampliação da infra-estrutura de serviços tecnológicos oferecidos, gerando, com isso, mais empregos e capacitação contínua dos membros da equipe. Mais próxima da universidade e dos centros de pesquisa do país e do exterior, a Liga Sistemas está pronta para exportar. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora49 49 26/11/2007 13:10:57 50 EMPRESA LIGA A Liga Sistemas, que teve o privilégio de passar pela Insoft-BH – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Informática de Belo Horizonte, programa gerido pela Fumsoft – Sociedade Mineira de Software, está entre as cinqüenta maiores empresas listadas no 7º Ranking Mineiro de Informática. A empresa, que se graduou em 2003, atesta a sua maturidade em um concorrido mercado. Teve, em 2006, um faturamento de R$ 1,63 milhão e figura ente as maiores do Estado. Esse resultado é reflexo de uma caminhada de sucesso feita pela Liga Sistemas. O ranking foi organizado pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet de Minas Gerais (Assespro-MG), presidida por Túlio Ornelas Ianini e uma diretoria repleta de ex-incubados, incluindo o próprio Túlio, que não abriu mão de incluir Luiz Antônio Normanha da Liga Sistemas e Rodrigo Fernandes da Eteg Tecnologia, entre outros. A entidade selecionou cinqüenta empresas mineiras entre aquelas que informaram seus dados e indicadores. Em 2006, os participantes apresentaram um crescimento de 15% em relação ao ano anterior, enquanto a economia brasileira teve uma expansão de apenas 3,7%. As empresas geraram cerca de quatro mil postos de trabalho e tiveram lucratividade média de 9,3%. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Quais foram os fatores que ajudaram o empresário na tomada de decisão? 2. Até que ponto a trajetória de vida do empresário influenciou no seu sucesso como empreendedor? 3. Qual é a importância de atuar em um nicho de mercado voltado para uma pequena empresa? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Material de Pesquisa e Histórico da Fumsoft – Comunicação e Marketing. Portal Sebrae MInas: www.sebraeminas.com.br Historia de sucesso - incubadora50 50 26/11/2007 13:10:57 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 51 ACOMPANHANDO A VELOCIDADE DOS NEGÓCIOS: AS REVIRAVOLTAS DA EMPRESA NO MERCADO DE SOFTWARE Empresa: DOCTORSYS Incubadora: INSOFT Autoria: Taciana Ramos Basílio Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa No final de 1995, em Belo Horizonte, Alexander Prado Lara, então com 21 anos, pensava que o melhor caminho após sua graduação em Ciência da Computação, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), seria o mestrado. Esse era o seu objetivo até três meses antes de se formar, contrariando o desejo do pai, que aspirava convencer o filho a empreender um negócio próprio. Não se sabe se foram as preces do pai ou o destino agindo para manter a vocação empresarial da família, mas, em 11 de janeiro de 1996, Alexander fundava a DoctorSys, empresa do ramo de software. Na época, ele e o sócio Arnaldo Gomes, recém formados e sem capital para constituir o empreendimento, procuraram a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Informática de Belo Horizonte – Insoft. A falta de recursos exigia que os empreendedores ingressassem no mercado rapidamente. Os seis primeiros meses foram os mais difíceis. “Trabalhávamos das oito às vinte e duas horas, todos os dias, sem exceção, inclusive nos finais de semana”, recordou Lara. Em julho de 1996, o primeiro produto da empresa, o Dr. CASE, foi apresentado na Fenasoft, em São Paulo. A proposta da solução era permitir aos projetistas de software modelar seus sistemas antes de efetivamente desenvolvê-los. O Dr. CASE não era inédito, mas inovava ao criar um produto amigável, de fácil utilização, com recursos não disponíveis em nenhum concorrente nacional e a um custo inferior. Em meados de 1998, a DoctorSys já era referência nacional em ferramentas EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora51 51 26/11/2007 13:10:57 52 EMPRESA DOCTOR SYS CASE (Computer Aided Software Engineering). Nesse mesmo ano, conquistou a graduação na incubadora. Mesmo vivenciando um cenário positivo, a empresa não se acomodou. No final de 1998, lançou, em parceria com o professor Fernando Dolabela, o software MakeMoney, ferramenta para auxílio na elaboração de Planos de Negócios. No ano seguinte, trouxe aos clientes a terceira versão do Dr. CASE e deu início a alguns serviços de desenvolvimento de software sob encomenda. A empresa se consolidava e era cada vez mais reconhecida no mercado de software, até que, em 2000, divergências entre os sócios interromperam a continuidade da empresa. A sociedade foi desfeita, resultando na venda dos direitos autorais e patrimoniais do Dr. CASE para uma empresa parceira, responsável pela comercialização do produto. Com isso, Alexander Lara perdeu o seu principal produto, o sócio, os clientes e a metade de sua equipe. Foram necessários seis meses para que ele tivesse a certeza de que a empresa ainda era viável, mas, para que isso acontecesse, a DoctorSys precisava ser reinventada. Empreendedorismo de berço Alexander Prado Lara nasceu em uma família de empreendedores. Dos dez filhos do avô materno, apenas um não se interessou em virar empresário. Curiosamente, na família do pai também não foi diferente. Quatro dos seis irmãos passaram pela experiência de ter uma empresa. Para o pai de Alexander, empresário até hoje, era inconcebível o desejo de preferir ser empregado a ter o próprio negócio, mas Alexander não se incomodava com a pressão. Definia-se como uma pessoa que seguia suas próprias idéias. Natural de Divinópolis, Alexandre se mudou para Belo Horizonte em 1989, aos quinze anos. Três anos depois, entrou para o curso de Ciência da Computação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O próximo passo seria o mestrado. Contudo, du- Historia de sucesso - incubadora52 52 26/11/2007 13:10:57 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 53 rante uma conversa, no corredor da universidade, ficou conhecendo a disciplina “O empreendedor na Informática”, aplicada pelo professor Fernando Dolabela, cujo objetivo era estimular o espírito empreendedor nos alunos. Mesmo já tendo completado os créditos para o último semestre, resolveu se matricular. Era então o início da DoctorSys. A empresa começou a ser concebida enquanto Alexander e o colega de curso, Arnaldo Gomes, se dedicavam a um trabalho acadêmico exigido pelo professor Dolabela. A missão dos alunos era elaborar um Plano de Negócios de uma empresa hipotética. Ao final, os Planos de Negócios seriam apresentados a um júri formado por empresários do setor, professores e jornalistas. Os projetos com melhor classificação receberiam prêmios que variavam de participação em feiras a valores em dinheiro. Além de colegas, os dois empreendedores eram estagiários na mesma empresa e compartilhavam o interesse pela Engenharia de Software. A definição do produto foi simples. Partiu de um sistema que vinha sendo desenvolvido por Arnaldo Gomes como projeto de conclusão de curso. Alexander, que já era usuário daquele tipo de ferramenta, percebeu que o produto idealizado pelo colega tinha potencial superior a outros existentes com a mesma proposta. Unindo as experiências comuns, especificaram o que seria o Dr. CASE (Computer Aided Software Engineering), uma ferramenta voltada para projetistas de software que permitia modelar os sistemas antes de construí-los. Nesse instante, foi possível vislumbrar uma oportunidade de negócios em um mercado que oferecia softwares ora muito caros ora muito ruins. O Plano de Negócios demonstrou que o produto era viável sob os pontos de vista técnico, mercadológico e financeiro, mas mostrou também que a concorrência era forte, ou seja, o desafio parecia grande para dois estudantes com recursos financeiros escassos. Dois dos principais concorrentes estavam localizados em Belo Horizonte, o que dificultava ainda EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora53 53 26/11/2007 13:10:57 54 EMPRESA DOCTOR SYS mais a entrada da DoctorSys no mercado. Um deles havia sido classificado pela revista Exame Informática, naquele ano, como a quinta maior empresa de desenvolvimento de software do Brasil. A favor, os futuros empreendedores tinham duas vantagens: o projeto e a tecnologia eram superiores aos produtos da concorrência e o preço mais baixo, em função dos custos menores. O júri, a proposta e a criação da empresa O Plano de Negócio da DoctorSys foi apresentado no dia 8 de dezembro de 1995, no Auditório Três do Instituto de Ciências Exatas da UFMG, para o júri organizado pelo professor Fernando Dolabela. Alexander estava nervoso, mas confiante. Havia se preparado para responder a perguntas técnicas sobre o produto ou sobre o mercado. Uma semana antes, ele e o colega foram comunicados que o presidente de uma das concorrentes mineiras faria parte do júri, o que aumentava a ansiedade. “Subimos ao palco e apresentamos a idéia. O sentimento era de que ao final ganharíamos, no mínimo, um inimigo. O nosso produto automatizava todo o processo de desenvolvimento de sistemas, sendo abrangente e tecnologicamente mais avançado do que qualquer um dos concorrentes” contou Alexander. Durante o coquetel de encerramento, o presidente da empresa concorrente se aproximou e disse que havia gostado do que tinham apresentado. Percebeu a garra, a ousadia, e a disposição dos jovens para fazer o produto que concorreria com o dele. Finalizou propondo que fossem parceiros e não concorrentes. Surpreendidos, Alexander e o colega tiveram a certeza de que estavam no caminho correto. O raciocínio era: se a DoctorSys, que não passava ainda de um Plano de Negócios, se unisse àquela empresa maior, já há sete anos no mercado, seriam capazes de “neutralizar” os demais concorrentes. A integração do Dr. CASE à ferramenta já existente do concorrente originaria um produto mais completo e diferenciado. Alexander e Arnaldo estavam Historia de sucesso - incubadora54 54 26/11/2007 13:10:57 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 55 diante de uma decisão importante, a primeira de muitas das suas recém-iniciadas vidas como empreendedores. Em 11 de janeiro de 1996, logo após a formatura, os sócios registraram a DoctorSys, que funcionava na casa de um dos proprietários. O ímpeto de abrir a empresa vinha da vontade de desenvolver um produto com potencial de sucesso. “Para mim era importante perseguir coisas em que acredito. A criação da empresa partiu disso”, salientou Lara. Além disso, receberam como estímulo um estande na Fenasoft, maior feira de informática do país, prêmio pelo terceiro lugar no júri de plano de negócios. No entanto, os recursos eram poucos. Apenas Alexander dispunha de economias que bancariam a empresa por seis meses. “Não podíamos errar e se não começássemos a vender logo, teríamos que fechar”. No final de janeiro, procuraram a empresa concorrente, que viria a se tornar parceira, e definiram os detalhes da união comercial. Foram quatro meses de negociação. Paralelamente, os empreendedores buscavam meios de constituir fisicamente a DoctorSys. Foi então que procuraram a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Informática de Belo Horizonte – Insoft. Em março, tiveram o Plano de Negócios aprovado para o processo de incubação. Na pequena sala, havia apenas duas mesas e dois computadores trazidos de casa, e mais um computador comprado para a estagiária. Não havia recursos para outros móveis. Contando com a infra-estrutura e o apoio fornecido pela incubadora em capacitação e assessoria empresarial, deram continuidade ao desenvolvimento do produto. Foram seis meses de trabalho quase ininterrupto. Em julho de 1996, o Dr. CASE foi apresentado ao mercado na Fenasoft pela DoctorSys e a empresa parceira. Deixou de ser um produto de uma empresa recém-criada e passou a contar com a credibilidade de uma firma com sete anos de atuação e revendas em todo o país. Durante a feira, foram vendidas cerca de duzentas cópias e um número razoável de clientes foi conquistado. Além EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora55 55 26/11/2007 13:10:57 56 EMPRESA DOCTOR SYS disso, os empreendedores retornaram já planejando a versão 2 do software. O lançamento ocorreu no início de 1997, financiadas com um recurso de R$ 36 mil aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de projeto apresentado no edital RHAE Inovação, proporcionando à empresa condições de contratar profissionais para desenvolverem a nova versão. Com as vendas crescentes, em pouco tempo, a DoctorSys superou as principais concorrentes nacionais, que não conseguiram enfrentar o pacote de produtos que surgiu da parceria entre as duas empresas. O alvo passou a ser, então, os concorrentes internacionais, para a substituição das importações. “E nessa briga, nós também fomos relativamente bem sucedidos, pois as opções internacionais eram boas, mas caras”, lembrou Lara. Em 1998, o Dr. CASE era considerada a principal ferramenta CASE para projeto de sistemas de informação feita no país. O produto conferiu à empresa reconhecimento no mercado. Em abril, a DoctorSys formou, juntamente de três outros empreendimentos, a primeira turma de empresas graduadas da Insoft e se transferiu, com dois ex-incubados, para um edifício comercial. As dificuldades encontradas na construção do Plano de Negócios, ainda na universidade, colaboraram, posteriormente, para um novo direcionamento da DoctorSys. Em 1997, eles foram contratados pelo prof. Fernando Dolabela para produzirem um software que teria a função de ajudar candidatos a empreendedores e empresários já estabelecidos a construírem seus planos de negócio. Para Lara, que havia tido dificuldades para fazer o seu próprio Plano, era provável que houvesse outras pessoas na mesma situação. Foram quase dois anos até o lançamento do MakeMoney, no final de 1998. Buscando consolidar e ampliar sua liderança de mercado, em 1999, a empresa lançou a versão três do Dr. CASE, que, desde o término do seu desenvolvimento, contabilizava duas mil có- Historia de sucesso - incubadora56 56 26/11/2007 13:10:58 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 57 pias comercializadas. Pouco depois, a DoctorSys foi escolhida, pelo Sebrae Minas, como a quinta “Melhor Empresa de Base Tecnológica de Minas Gerais”. Conquistou, ainda, a aprovação na Chamada Regional da Softex (Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro), obtendo, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o recurso de R$ 33 mil para a tradução e adaptação do MakeMoney para o mercado externo. O negócio prosperava até que, em 2000, os caminhos de Alexander e Arnaldo se dividiram. “Começamos imaturos e o processo de amadurecimento moldou pessoas com valores e visões de mundo diferentes”, revelou Lara. O sócio decidiu deixar a empresa. Sem caixa para comprar a parte dele, Alexander fez inúmeras propostas, na tentativa de encontrar uma solução. A última decisão que tomaria era a de vender o Dr. CASE, seu principal produto, mas, pressionado pelo sócio, que queria vendê-lo, e pela empresa parceira, ansiosa por comprá-lo, não teve escolha. O processo de negociação foi difícil e se arrastou por seis meses. Numa noite, após uma das exaustivas reuniões, Alexander voltou à DoctorSys para se despedir. Estava decidido a fechar a empresa. Na ajuda a novos empreendedores, novas oportunidades Naquela noite, Alexander fez um balanço do momento pelo qual passava. As perspectivas eram desanimadoras. Ele havia perdido seu principal produto, a maior parte dos clientes e a estrutura da DoctorSys encontrava-se reduzida. Ligou para um funcionário e comunicou sua decisão. A resposta positiva do colaborador surpreendeu-o. “A reação dele me deu energia para não desistir. Tanto ele como os outros confiavam que a reconstrução era possível. Se eles acreditavam que valia a pena, porque eu não acreditaria?”, pensou Alexander Lara. O processo de cisão e venda dos direitos do Dr. CASE consumiram seis meses. Ao final, as relações estavam desgastadas. Dos EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora57 57 26/11/2007 13:10:58 58 EMPRESA DOCTOR SYS doze colaboradores, restaram apenas quatro, contando o empreendedor. O faturamento caiu na mesma proporção. A empresa também mudou de endereço. Saiu de uma cobertura na Zona Sul de Belo Horizonte e passou a ocupar uma pequena sala. Naquele momento, era necessário recobrar a serenidade e a confiança no futuro. Em um cenário de incertezas, o desafio era começar de novo e reconstruir uma trajetória bem-sucedida, agora com um novo produto. A solução imediata foi se concentrar no MakeMoney e no desenvolvimento de projetos para internet. Desde a sua criação, a DoctorSys manteve como características a inovação e a busca por tecnologias de ponta. Como reflexo desse direcionamento, em 2000, a empresa detinha uma tecnologia avançada de desenvolvimento para a internet, o que resultou na captação de um grande projeto. O fato foi importante, sobretudo, para o caixa da empresa. A aposta no MakeMoney também se mostrou acertada. O tema Empreendedorismo estava em alta e Alexander decidiu investir nessa nova frente de trabalho. O software não era inédito mundialmente, mas, no Brasil, era o primeiro produto capaz de viabilizar que pessoas, com o mínimo de conhecimento em informática e em negócios, elaborassem Planos de Negócios profissionais. Focada no MakeMoney, a DoctorSys implementou melhorias na solução, investiu em ganhos de mercado, divulgação e, rapidamente, transformou em carrochefe o produto que fora lançado no final de 1998 e, até então, era considerado a terceira atividade da empresa. Alexander visitava clientes e contatava todas as instituições no país relacionadas ao tema Empreendedorismo. No final de 2000, a Federação Nacional dos Estudantes de Administração escolheu o programa como software oficial do seu primeiro concurso nacional de plano de negócios. Em pouco tempo, o MakeMoney passou a ser alvo da mídia impressa. Em janeiro de 2001, a Forbes Brasil, revista em que era Historia de sucesso - incubadora58 58 26/11/2007 13:10:58 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 59 difícil publicar uma matéria, trouxe uma página relatando o sucesso do programa que ajudava empreendedores “a montar o quebra-cabeça que é um plano de negócios”. Pouco depois, com o título “Plano Nota 10”, a INFO Exame publicou uma análise positiva do software, destacando suas principais vantagens. Impulsionado pela visibilidade crescente, o faturamento do software, no início de 2001, quadruplicou em relação ao ano de seu lançamento. Em 2001, o MakeMoney enfrentou seu maior teste. Numa de suas investidas mercadológicas à caça do termo empreender e suas variações, Alexander soube da vinda a Belo Horizonte do coordenador do Programa Brasil Empreendedor1, do Sebrae Nacional, Marcelo Lima Costa. Decidiu procurá-lo para apresentar o programa. Em seu retorno a Brasília, Costa deixou a promessa de que fecharia uma parceria com a DoctorSys. Cumpriu-a quase um ano depois, quando o Sebrae Nacional encomendou uma versão especial do software para ser utilizada em uma ação de capacitação para crédito do Brasil Empreendedor. Com a parceria, o MakeMoney se disseminou pelo Brasil e foram vendidas cinco mil licenças para o Sebrae, que se tornou o principal apoiador da tecnologia. No início de 2002, ficou claro que as possibilidades relacionadas ao MakeMoney não cabiam mais na DoctorSys. O negócio tomara uma dimensão maior. Não se vendia apenas o software, mas também cursos e consultorias. Além disso, a DoctorSys buscava retomar seu foco em tecnologias inovadoras. Era preciso dar um passo adiante. Nessa época, juntamente ao especialista em empreendedorismo, Fernando Dolabela, criou-se o Centro de Empreendedorismo Starta, que se tornou uma spin-off 2 da DoctorSys. A gestão do negócio foi transferida para a Starta, cujas Programa criado pelo Governo Federal com o objetivo de estimular o desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas e de empreendedores dos setores formal e informal. Tem como eixos principais a capacitação, o crédito e a assessoria empresarial. (Fonte: www.desenvolvimento. org.br) 1 EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora59 59 26/11/2007 13:10:58 60 EMPRESA DOCTOR SYS atividades abrangiam desde a formação de novos empreendedores até a qualificação da pequena empresa para atuar com alto grau de competitividade no mercado global. Com o novo empreendimento, a DoctorSys, mais uma vez, voltou a ser uma empresa sem produto. Nas ondas da educação à distância Para Alexander Lara, no período de 2000 a 2002, “a DoctorSys esteve no limbo”. “A dedicação e o investimento no MakeMoney funcionaram como uma fuga. Só depois de quase dois anos consegui curar o trauma da cisão e pude voltar a pensar na DoctorSys”, confidenciou. Concluído o processo de spin-off, em 2002, Alexander e sua equipe concentraram-se em pesquisa de tecnologias e no desenvolvimento de produtos para a área de educação à distância. Mantendo sempre a vocação para a inovação, o objetivo era revolucionar as tecnologias existentes e criar uma nova geração de ensino à distância. A empresa já possuía experiência nesse segmento, via Starta, e o empreendedor enxergou ali uma oportunidade. A proposta era ambiciosa; afinal, configurava o recomeço da DoctorSys. Além disso, demandava altos investimentos. O primeiro passo foi transformar a idéia em um projeto de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P,D&I), a ser apresentado a uma instituição de fomento, a fim de captar o recurso necessário para o seu desenvolvimento. Para isso, o empreendedor procurou a Fumsoft – Sociedade Mineira de Software, uma instituição especializada na elaboração desse tipo de projeto. O relacionamento com a entidade já era estreito. A Fumsoft era a gestora da Insoft, incubadora onde a DoctorSys permaneceu por dois anos. Com a parceria da instituição, a empresa elaborou o projeto “Ambientes de Educação à Distância Baseada em Internet de Alta Velocidade” e o apresentou à Financiadora de Estudos e Projetos Termo em inglês utilizado para descrever uma nova empresa que nasceu a partir de outra maior, seja por um produto ou departamento. (Fonte: www.wikipedia.com.br) 2 Historia de sucesso - incubadora60 60 26/11/2007 13:10:58 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 61 (FINEP), dentro do edital “Cooperação ICT´s – Empresas”. Acreditando na inovação proposta, a FINEP avalizou o projeto, que recebeu R$ 250 mil em equipamentos e bolsas para contratação de profissionais especializados. A redefinição da DoctorSys evoluía até que, em 2003, Alexander Lara, contrariando sua decisão anterior, convidou um de seus colaboradores para tornar-se seu sócio. Moisés Magno Siqueira Moreira trabalhava na empresa há alguns anos. Com perfil técnico e se destacando no desenvolvimento da tecnologia de educação à distância, Alexander enxergou nele alguém para dividir responsabilidades e ajudar no novo empreendimento. Apesar da experiência negativa no passado, o empreendedor sempre viu a sociedade com bons olhos, por gerar comprometimento e facilitar o planejamento a longo prazo. O convite foi aceito, mas, dessa vez, foram estipuladas regras claras de entrada e saída para o novo sócio. “A gente aprende com os erros”. Moisés atuava como o pilar tecnológico da empresa, deixando Alexander livre para cuidar de assuntos mais estratégicos de seus dois novos negócios – a DoctorSys e a Starta. Surge a “família Smart” Após dois anos de trabalho, os primeiros softwares do novo negócio ficaram prontos. Em 2004, a DoctorSys lançou o embrião de um pacote denominado Smart.WebSuite, cuja proposta era oferecer soluções de comunicação, colaboração e treinamento via internet, e de gestão do conhecimento (knowledge management). Inicialmente, foram apresentados dois softwares – o Smart.Training, para treinamento à distância em tempo real, e o Smart.Meeting, uma solução de videoconferência corporativa. Pouco depois, foi acrescido à “família Smart” o software Smart. Seminar, um auditório virtual para seminários e apresentações multimídia, com amplas possibilidades de interação entre os participantes. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora61 61 26/11/2007 13:10:58 62 EMPRESA DOCTOR SYS As soluções Smart diferenciavam-se das demais ferramentas de videoconferência existentes. Primeiramente, pelo seu custo mais baixo e pelo fato de a maioria das soluções disponíveis demandarem a aquisição de toda uma infra-estrutura dedicada, como câmeras especiais, hardwares e softwares instalados. Além disso, muitas não permitiam sessões de videoconferência corporativa, devido à baixa qualidade. Já as ferramentas do pacote Smart possibilitavam ao usuário utilizar desde uma configuração simples e barata, como um microfone de ouvido e uma webcam, até equipamentos mais sofisticados, como uma filmadora. Dessa forma, o cliente aliava o seu orçamento com a qualidade de que necessitava. De posse desses acessórios, de um login e uma senha, o usuário acessava o site e já estava pronto para usufruir dos benefícios da tecnologia. Ao contrário das outras ferramentas, os softwares da família Smart não se limitavam à transmissão de áudio e vídeo. Os usuários dispunham de recursos de transferência de documentos, chat, editor de texto compartilhado, projetor de slides e publicação de aplicativos. A solução também permitia a participação de um número ilimitado de pessoas. Em 2004, o mercado de videoconferência, no Brasil, ainda se mostrava incipiente. Com isso, o esforço não era simplesmente de venda, mas, sim, de formação do próprio mercado, convencendo as empresas de que essa tecnologia era uma tendência. Apesar de lenta, as perspectivas de comercialização dos softwares eram favoráveis. A utilização das ferramentas resultava em considerável economia ao reduzir os custos com deslocamentos e proporcionar maior integração entre unidades geograficamente dispersas, além de qualidade e agilidade no fluxo de informações e no atendimento aos clientes. Os produtos vinham sendo recebidos com interesse pelo mercado, até que, em 2005, a RM Sistemas, destacada organização do setor de softwares de gestão, que viria a ser adquirida em 2006 Historia de sucesso - incubadora62 62 26/11/2007 13:10:58 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 63 pela Totvs, tornou-se cliente da DoctorSys. A empresa utilizava os três softwares do pacote Smart para realizar demonstrações de seus produtos para compradores em diferentes localidades, treinar suas equipes, promover palestras, encontros e até grandes eventos. Tudo era transmitido virtualmente. Em poucos meses, a RM reduziu em cerca de 50% o número de viagens mensais de seus técnicos, economizando no tempo e nas despesas. A parceria com uma firma do porte da RM Sistemas trouxe resultados significativos, aumentado a visibilidade dos produtos e atraindo novos clientes. A família Smart aumenta No segundo semestre de 2005, a DoctorSys iniciou sua estratégia para ampliação do mix de produtos do pacote Smart.WebSuite. Com R$ 31 mil captados no ano anterior, por meio de projeto aprovado no edital RHAE Inovação, do CNPq, desenvolveu o Smart.Messenger, nova ferramenta de comunicação corporativa que foi incorporada à família. Preocupado em não perder a vocação para trabalhar com tecnologias de ponta e com produtos de maior valor agregado, Alexander Lara criou, na empresa, a cultura de sempre submeter projetos de P,D&I aos órgãos de fomento que apóiam a inovação. Em 2005, a empresa ganhou outro projeto no CNPq, recebendo, dessa vez, R$ 60 mil. Já eram ao todo cinco projetos aprovados em diferentes instituições, que somavam quase meio milhão de reais. As participações freqüentes nos editais fizeram da DoctorSys uma referência. Em evento realizado na FUMSOFT para sensibilizar empresas do setor quanto à importância de se desenvolverem projetos para captar recursos não-reembolsáveis, Alexander foi convidado para relatar sua experiência sobre a prática da inovação como meio de melhorar produtos e alavancar o negócio. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora63 63 26/11/2007 13:10:58 64 EMPRESA DOCTOR SYS Em 2006, a família Smart ganhou novos membros. Os clientes davam as boas vindas ao Smart.Learning e ao Smart.MediaCenter. O primeiro tratava de uma plataforma de ensino à distância que, além de possuir os módulos padrões de um LMS (Learning Management System), permitia a criação de aulas online, com alto nível de interatividade, suporte a material multimídia, seminários virtuais e web-conferências. O caçula da família, o Smart.MediaCenter, funcionava como uma biblioteca digital ou centro de organização e distribuição de conteúdo multimídia via internet. Por dispor de tecnologias diversificadas de comunicação e treinamento via internet, a DoctorSys foi escolhida para atender a uma das ações previstas na chamada interna lançada pela Rede Mineira de Inovação (RMI)3 , no final de 2005. A chamada buscava selecionar e contratar empresas aptas a implementarem as três ações propostas pela Rede ao Banco Mundial, no edital InfoDev. O projeto, elaborado pela DoctorSys e aprovado pela RMI, tinha o objetivo de integrar o portal da instituição (www.rmi.org. br) com ferramentas de treinamento, a fim de contribuir para o desenvolvimento das equipes de gestão das incubadoras e empresários incubados no Estado. As ferramentas incorporadas possibilitaram às incubadoras e empresas buscar qualificação, por meio de cursos à distância, trocar experiências, acessar documentos e informações do setor, organizar fóruns de discussão, entre outras funcionalidades. Também passou a ser possível o acesso a vídeos de treinamentos e palestras realizados pela RMI , ou por seus parceiros, e transmitidos eventos em tempo real para as incubadoras localizadas em diferentes regiões do estado. Com a utilização das tecnologias, a RMI formou um espaço virtual para o compartilhamento de conhecimento entre a instituição, incubadoras e empresários, aumentando, assim, Associação, sem fins lucrativos, de Incubadoras, Parques Tecnológicos e Tecnópolis criada para articular esforços e desenvolver ações direcionados para a obtenção e gerência de informações; captação e destinação de recursos; estruturação de programas, metodologias e mecanismos voltados para a implementação, desenvolvimento e consolidação de incubadoras, parques e empreendimentos inovadores em Minas Gerais. 3 Historia de sucesso - incubadora64 64 26/11/2007 13:10:58 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 65 a interlocução entre os diversos pontos da rede. Pouco depois, veio a parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes/ MG), que também passou a utilizar softwares do pacote Smart. A parceria rendeu à DoctorSys a participação no Anuário TI & Governo 2006, que elegeu os dez melhores projetos de Tecnologia da Informação aplicados ao governo. Os resultados apresentados pela DoctorSys, a partir de então, mostraram que a aposta na inovação sempre foi uma estratégia acertada. Em 2005, a empresa registrou um aumento de 80% no faturamento em relação ao ano anterior. Já em 2006, o acréscimo no faturamento foi de 170%. O número de postos de trabalho também cresceu. Passou de quatro, em 2000, para dez, em 2006. Para acelerar o crescimento da empresa, Alexander decidiu convidar outros dois colaboradores para juntarem-se a ele e a Moisés, como sócios. Era a oportunidade para Diógenes Braz Rocha e Bruno Borges Campos, dentro de um conceito de colaboradoreschave, que tinha como objetivo gerar motivação e perspectiva de retorno. No horizonte de longo prazo, a retenção de talentos seria uma estratégia importante. A DoctorSys também deu continuidade à comercialização do MakeMoney, via Starta. Referência nacional, o software cumpria seu papel na disseminação do empreendedorismo. Como ação de internacionalização da empresa, o software ganhou uma versão em inglês e passou a ser exportado para mais de dez países. Apesar do retorno marginal – as exportações equivaliam a 1% das vendas do software –, a iniciativa tornou-se importante para projetos futuros. No final de 2006, 45% do faturamento da empresa era gerado com a venda e com outros negócios relacionados ao MakeMoney; 45% das soluções Smart e 10% de outros produtos e serviços. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora65 65 26/11/2007 13:10:59 66 EMPRESA DOCTOR SYS Contando apenas softwares desenvolvidos e comercializados diretamente pela DoctorSys, a empresa possuía, até 2006, mais de 20.000 clientes geograficamente dispersos em todos os estados brasileiros e algumas dezenas de clientes em outros nove países: Angola, Arábia Saudita, Argentina, Cabo Verde, EUA, Itália, Japão, Nova Zelândia e Portugal. Avaliando a trajetória Após doze anos de mercado, atuando em três nichos completamente diferentes, a DoctorSys se mostrou capaz de se reinventar constantemente, característica importante para uma empresa que tinha a inovação como um dos pilares de sua atuação. Dedicação, persistência e motivação também foram elementos essenciais para a constituição, sobrevivência e crescimento do negócio. Na DoctorSys, as possibilidades de geração de novos negócios apresentaram-se, justamente, nos momentos de ruptura e crise. Em função desses momentos, desde a sua criação até meados de 2004, a empresa viveu numa montanha-russa, porém, nas situações de incerteza, Alexander Lara conseguiu encontrar suas fontes de criação de valor e de mercado. Ao fazer uma retrospectiva de sua trajetória empreendedora, ele garante que, ao contrário do que se imagina, a capacidade de se reinventar não é tão difícil de exercitar, pois, “somos fonte inesgotável de idéias e de sonhos”. Essa foi uma das lições aprendidas. Outra lição importante foi a de somente formar uma sociedade ou estabelecer qualquer tipo de parceria, desde que existam regras claras para entrada e saída. Segundo ele, a falta de regras na formação da DoctorSys foi o principal erro que quase provocou o fechamento da empresa. “Não quero nunca mais ter que negociar saída de sócio. Agora já existe um acordo prévio”, contou. Historia de sucesso - incubadora66 66 26/11/2007 13:10:59 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 67 O empreendedor aprendeu com os próprios deslizes, mas, apesar dos momentos difíceis pelos quais a DoctorSys passou, disse que não faria nada diferente. Por não possuir formação na área de negócios, tudo evoluiu com perseverança, tentativa e erros. “Erramos muito para aprender. Foi necessário passar por tudo. Na época não tínhamos muitas opções, por isso, foi do jeito que tinha que ser”, avaliou. Como acerto, destaca o fato de ele e o colega não terem ouvido as opiniões contrárias à constituição do empreendimento. Seguiram a própria intuição e correram atrás de dados objetivos de mercado para mostrarem que era possível. Ainda, todas as soluções desenvolvidas pela empresa foram baseadas em inovação tecnológica e em modelos de comercialização diferenciados, aliados à qualidade. Essa era uma das poucas “armas” eficientes que uma empresa do porte da DoctorSys dispunha para competir com as grandes. Alexander confessou uma frustração: a de ainda não ter conquistado o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica. “Tudo o que foi bem sucedido na DoctorSys baseou-se em inovação e ainda não ganhamos esse prêmio. É o reconhecimento que falta porque o reconhecimento do mercado nós já conquistamos”, afirmou. Em relação aos desafios futuros, a preocupação do empreendedor é a de manter a capacidade de sempre absorver tecnologias de ponta, enxergar tendências e consolidar uma participação de mercado capaz de financiar o crescimento da empresa. “Temos uma colheita em andamento, mas já estamos plantando o futuro”. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora67 67 26/11/2007 13:10:59 68 EMPRESA DOCTOR SYS QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Um dos marcos da história empresarial da DoctorSys foi a dissolução da sociedade. Na sua opinião, que cuidados devem ser tomados pelos empreendedores na constituição e manutenção de uma sociedade? 2. Quais são os benefícios e os riscos de parcerias e alianças comerciais para o lançamento de produtos, captação de clientes e destaque no mercado? 3. A inovação sempre foi um dos valores praticados pela DoctorSys. Que características uma empresa deve possuir para inovar, desenvolvendo sempre novos produtos e processos? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANÇADO, Patrícia. O organizador do caos. Forbes Brasil. Ano 2, nº 8, 17 de janeiro. 2001. FORTES, Débora. Plano nota 10. Info Exame. Ano 16, nº 183, junho. 2001. DOLABELA, F., Prado, A., Neto, F., “Uma incubação sem incubadora: como induzir parcerias entre empresas de base tecnológica. O caso Squadra – DoctorSys”. Paper aceito na 3rd International Conference on Technology, Innovation, and Policy – Global Knowledge Partnerships: creating Value for the 21st Century, August 30-September 2, 1999 - Austin, Texas. www.doctorsys.com.br www.starta.com.br www.rmi.org.br www.starta.com.br www.wikpedia.com www.desenvolvimento.org.br Historia de sucesso - incubadora68 68 26/11/2007 13:10:59 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 69 UM PLANO DE VÔO PERFEITO NO CÉU DO BRASIL Empresa: USS Incubadora: INSOFT Autoria: Daisy Melo Tutoria: Mara Veit INTRODUÇãO Uriel Soares Santiago era apaixonado por aviação. Desde os doze anos de idade, colecionava revistas sobre aviões e comprava miniaturas de aeronaves para montar e pintar. Sonhava em ser um voador, pilotar aviões e conhecer, de perto, como funcionava esse mundo onde as pessoas podiam ver tudo de cima, por entre nuvens, onde tudo parecia pequeno e possível de ser conquistado. Apesar de ter esse sonho, ele nunca havia pensado em empreender projetos nesse mercado. Tinha uma empresa de software, instalada em uma incubadora, que desenvolvia sistemas de reserva para hotéis, quando, em 2001, uma oportunidade lhe bateu à porta. Um antigo amigo estava em busca de uma empresa brasileira que pudesse fornecer sistemas de reserva para companhias aéreas. O software seria para a Total Linhas Aéreas, uma empresa que voava por todo o interior de Minas Gerais e para a qual trabalhava. A Total Linhas Aéreas não tinha encontrado, no Brasil, nenhuma empresa que desenvolvesse sistemas para companhias aéreas e, para importar sistemas desse tipo, o custo estaria muito além do que ela poderia pagar. A oportunidade estava lançada, mas Uriel teria que mudar totalmente o foco do seu primeiro negócio, que estava crescendo. Essa seria a terceira vez que ele teria que enfrentar uma mudança, já que havia tido dois outros negócios que não deram certo. O amigo, que na época trabalhava na Total Linhas Aéreas, também o tinha alertado que a companhia não utilizaria o sistema por muito tempo e que o contrato seria por um período EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora69 69 26/11/2007 13:10:59 70 EMPRESA USS determinado, até que a empresa tivesse recursos para comprar um software já reconhecido no mercado. Seria como enfrentar uma corrida de aventuras, das quais Uriel já havia participado muitas vezes e de que gostava tanto. Ele teria um período muito curto para tomar sua decisão e um prazo de apenas um mês para desenvolver todo o software e implantar na empresa contratante. Certamente, a mudança traria uma proximidade maior com sua antiga paixão: a aviação. Era preciso dimensionar que impacto isso poderia trazer para sua empresa. Como entrar em um mercado desconhecido, sem grandes perspectivas a longo prazo, sem estudá-lo? Desafio já era uma palavra que fazia parte do seu vocabulário e da sua vida. Uriel queria acreditar que a oportunidade, que agora parecia pequena, pudesse ser vista de um plano mais alto. Talvez, observando mais de perto, ela fosse bem maior. “Quando se tomam decisões assim, de forma mais radical, não há racionalidade; é como se você estivesse alucinado. Você não pensa, apenas vai!” afirmou o empreendedor. PLANO DE VÔO O perfil desse empreendedor sempre foi movido a desafios. Superando suas próprias barreiras pessoais, ele treinou por três anos consecutivos e, em 1989, conquistou o primeiro lugar no campeonato mineiro de Ciclismo de Montanha. Participou várias vezes de corridas de aventura, como a Eco-Challenge, fazendo parte da primeira equipe brasileira a participar da prova em 1998, em Marrocos, cujas corridas duram cerca de dez dias e os participantes percorrem um caminho árduo em meio aos rios, florestas e montanhas de gelo, convivendo com o frio, calor, privação do sono e pouca comida, antes de atingirem o objetivo final da prova. Uriel também aprendeu a voar. Como ainda não era possível comprar seu avião, ele comprou um Paraglider para se arriscar sobre os céus de Belo Horizonte. Permaneceu, durante seis anos, como recordista de maior distância percorrida com o Paraglider Historia de sucesso - incubadora70 70 26/11/2007 13:10:59 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 71 na Serra da Moeda e criou uma escola de vôo livre em 1997. Todas essas características compõem o seu perfil, dando-lhe segurança para investir e correr riscos na vida pessoal e profissional. Em 1992, Uriel Soares Santiago utilizou as iniciais do seu nome para criar a USS Tecnologia. Seu objetivo, na época, era criar um software para a área de arquitetura, que fazia maquetes eletrônicas e auxiliava decoradores e arquitetos em seus projetos. O projeto cresceu e os softwares conhecidos como Mobiliariuss, Urbanuss e Arquitetuss foram amplamente utilizados em todo o país. Uriel chegou a vender mais de dez cópias diárias dos softwares a um valor de US$ 100 cada, o que correspondia a mais de US$ 1000 dólares por dia. Como nem toda história tem um final feliz, esse seria apenas o primeiro grande ensaio para uma decolagem perfeita. Em 1998, o Brasil já tinha acesso à tecnologia, com preços acessíveis. Essa evolução tecnológica trouxe consigo a popularização dos gravadores de CD’s portáteis e, com isso, a popularização dos softwares da USS Tecnologia. Era o início das desvantagens provocadas pela pirataria no país. Diante da situação e com o surgimento da internet, Uriel teve uma outra grande idéia. Ele deixou a USS inativa por um tempo e criou uma outra empresa que faria um site de jogos chamado Papagames. A internet era a grande novidade do momento; havia muitos investimentos para a web em todo o mundo e todos apostavam no sucesso e crescimento desse meio de comunicação para viabilizar seus negócios. Com tantos incentivos do mercado, a idéia era fazer do site um grande Quiz, com perguntas e respostas, para que os usuários se cadastrassem e pudessem receber prêmios ao acertarem as perguntas. O retorno do negócio viria a partir dos anunciantes e, ainda, da venda dos perfis dos usuários para os patrocinadores. O negócio começou em 1998 e, em 1999, alcançou o marco de 200 mil usuários participantes, além de já possuir algum patrocínio. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora71 71 26/11/2007 13:10:59 72 EMPRESA USS Diante dessa perspectiva de sucesso, Uriel resolveu apresentar seu plano de negócio à Insoft-BH – Incubadora de Base Tecnológica de Belo Horizonte – para pleitear um espaço no programa de incubação de empresas. O projeto foi aceito e a USS Tecnologia começou a receber todo o aporte estrutural, comercial e de gestão, para aprimorar o negócio. No final de 2000, quando a bolha da internet começou a estourar, ela levou grandes players, investidores da internet e também os pequenos negócios que apostavam essencialmente na web, como mecanismo de venda. Dessa forma, o projeto Papagames fez seu pouso forçado, obrigando seu piloto a mudar, mais uma vez, o plano de vôo. Houve mudança de rumo para uma nova decolagem! Essa foi a decisão tomada por Uriel quando ele mudou radicalmente e, mais uma vez, o seu ramo de atuação. Ele retomou a USS Tecnologia, estudou o mercado, fez um plano de negócios e apresentou ao programa de incubação um novo produto que ele já estava desenvolvendo: um sistema de reserva via internet para hotéis, nomeado My Hotel. O projeto também foi aceito no início de 2001 pela insoft-BH e, então, começaram novamente os investimentos para prospecção de clientes, visitas aos hotéis, feiras de tecnologia e divulgação do produto. O negócio crescia bem. Já no primeiro ano de lançamento, vinte e um hotéis utilizavam o produto, em fase de testes, e vários outros manifestaram público interesse em testar e adquirir o sistema, já que não havia muitas opções no mercado. O custo de produção era baixo e havia um mercado grande a ser explorado no Brasil. Uriel já planejava ampliar o software para que o hotel pudesse fornecer ao turista não apenas as reservas antecipadas na ocupação dos apartamentos, mas também comprar traslados, reservar táxis, passeios e pacotes turísticos na região onde estivesse hospedado. Muitos planos estavam sendo feitos quando, ao final de 2001, Historia de sucesso - incubadora72 72 26/11/2007 13:10:59 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 73 uma turbulência aparece e abala novamente a estrutura do negócio, ditando novos rumos para aquele piloto. A chance, agora, era de entrar para o tão sonhado mercado de aviação. Aquele sistema de reservas para hotéis não serviria mais. Era necessário um novo sistema de reservas para controlar emissão de bilhetes de passageiros embarcados, gerenciar as vendas, o check-in e controlar os dados de todo o vôo. Tudo isso teria que estar pronto em um mês. Daria certo? Ninguém sabia. E lá foi ele preparar um novo Plano de Vôo. TRIPULAÇÃO, PREPARAR PARA DECOLAGEM A Total Linhas Aéreas era conhecida, em 2001, como uma companhia especializada em transportes de carga. Ela tinha um contrato com os Correios e sua principal função era a de transportar malotes postais para alguns estados brasileiros. Nesse mesmo ano, a empresa estava investindo para se tornar também uma companhia de transporte de passageiros, que iria atuar regionalmente, com foco no interior de Minas Gerais. A perspectiva de crescimento da USS Tecnologia dependia essencialmente do sucesso da Total Linhas Aéreas nesse novo setor. Foram gastos dias e noites trabalhando, para que o sistema fosse desenvolvido, conforme o planejado, no prazo previsto. A oportunidade parecia perfeita. Uriel se encontrava diariamente com um grupo de pessoas da Total Linhas Aéreas para discutir os detalhes do sistema e conhecer melhor como funcionavam os processos internos de uma companhia aérea. Nesse momento, muito do que ele já conhecia sobre aviação contribuiu para que ele pudesse ser mais ágil no desenvolvimento do software. No dia 26 de novembro de 2001, entrou em vigor o sistema de reservas na Total Linhas Aéreas, nomeado MYSKY, que foi implantado no prazo previsto, mas precisava de revisões constantes. Era ainda um software pequeno e poderia, ao longo do tempo, EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora73 73 26/11/2007 13:10:59 74 EMPRESA USS abranger muitas outras áreas da companhia aérea. Além disso, era preciso aproveitar uma janela de oportunidade que estava aberta, no mercado, para a venda de sistemas como o MYSKY, para outras empresas. A aviação brasileira estava mudando rapidamente. Com a falência da Transbrasil e a entrada da Gol Linhas Aéreas em 2000, a aviação começava a acompanhar os passos do que estava acontecendo no mundo. As companhias aéreas estavam adotando modelos mais econômicos de gestão, otimizando as aeronaves, reduzindo o tempo em solo e modificando os serviços de bordo. O novo modelo ficou conhecido como Low Cost – Low Fare, já que ele possibilitava uma redução drástica no custo das passagens. A Gol adotou esse modelo e, com isso, possibilitou um acesso maior da população aos transportes aéreos. Outros fatores contribuíram para que o mercado crescesse e para que novas empresas regionais, como a Total Linhas Aéreas, tivessem espaço. Já havia mais de quinze empresas desse tipo no país e a perspectiva era de que novas entrantes surgissem nos próximos anos. O Mysky precisava estar pronto para isso. Com poucos recursos para investimento, Uriel apresentou projetos de pesquisa ao CNPQ para conseguir recursos e pessoas para trabalharem nessa idéia com ele. A quantia recebida possibilitou a contratação de dez bolsistas para trabalharem no projeto. CONEXÃO PARA A ENTRADA DE UM NOVO PILOTO Havia muitos clientes em vista e a USS Tecnologia já possuía mais duas companhias aéreas utilizando o Mysky. Tratava-se da Meta Linhas Aéreas, uma empresa do norte do país, localizada em Boa Vista/Roraima e da Abaeté Linhas Aéreas, uma pequena e simpática empresa baiana, mas ainda faltava uma força de vendas capaz de prospectar negócios e essa não era a atividade favorita ou a melhor habilidade de Uriel Soares Santiago. Além disso, ele estava completamente envolvido com as novas custo- Historia de sucesso - incubadora74 74 26/11/2007 13:10:59 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 75 mizações do sistema Mysky que precisavam ser desenvolvidas para torná-lo um sistema mais completo. Uriel conhecia João Lisboa desde 1998, quando buscava patrocínio para suas corridas de aventura. Lisboa, à época, era sócio da Target Táxi Aéreo e já tinha grande experiência no mercado de aviação. Havia trabalhado na Líder Táxi Aéreo e na Bombardier, vendendo aviões. Eles se tornaram grandes amigos e, posteriormente, quando Lisboa resolveu patrocinar uma das corridas de aventura do Uriel, ele questionou: “Como você faz para viver, Já que você está sempre treinando e viajando... Você trabalha?” E Uriel, que na época vendia os softwares Mobiliariuss, Urbanuss e Arquiteuss respondeu: “O meu site vende o sistema para mim, eu apenas gerencio o lucro e envio os CD’s”. E Lisboa debochadamente completa: “Pôxa! Que vida boa! Um dia ainda vou ser seu sócio...” Eles sempre foram diferentes. Uriel prima pela informalidade, pela técnica, pela objetividade, pelo pensamento lógico incrustado em sua mente de engenheiro. Lisboa é formal, político e argumentador. Preserva sua rede de relacionamentos e sua imagem, vende credibilidade e confiança. Juntos, provavelmente, formariam uma boa parceria. Alguns anos se passaram e, em 2003, Lisboa, que já conhecia o sistema Mysky, perguntou ao Uriel: “Esse sistema dá pra ser vendido no mundo todo? Então eu vou ser seu sócio!”. Uriel ainda não havia pensado em sociedade e muito menos em vender o software mundialmente, mas aceitou dividir a direção desse vôo com mais um piloto, acreditando que, assim, seria possível ir mais longe e conquistar outros céus. Nesse mesmo ano, Lisboa assumiu a parte comercial da USS Tecnologia e foi em busca de negócios pelo Brasil e pelo mundo. TRIPULAÇÃO, CHECK DE PORTAS Em 2000, a USS Tecnologia já atendia a sete empresas, o que representava cerca de 50% do mercado de empresas aéreas regioEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora75 75 26/11/2007 13:11:00 76 EMPRESA USS nais no Brasil. Nessa época, já havia um outro forte concorrente no mercado e a USS Tecnologia estava em negociação com um cliente de grande porte: Vasp Linhas Aéreas. A Vasp estava avaliando a troca de sistemas em função da redução de custos que isso podia gerar para a companhia. Ela buscava seguir a tendência do mercado, reduzindo custos e também o preço das passagens. Já estava avaliando o sistema de reservas utilizado pela GOL, chamado Open Skies. Havia, no entanto, um grande problema a ser resolvido: o sistema de reservas escolhido precisaria ser integrado com todos os outros sistemas utilizados pela companhia e o Open Skies não seria capaz de customizar e integrar as soluções em um curto período de tempo. A integração com outros sistemas seria, então, a premissa para que o Mysky fosse o software escolhido. Seria a primeira empresa aérea de grande porte que a USS Tecnologia atenderia, mas antes de tê-la na carteira de clientes, seria necessário muito esforço para conquistar o cliente e passar toda a credibilidade possível. Todos sabiam que seria difícil, já que, por melhor que fosse o sistema, a USS Tecnologia era uma empresa com uma estrutura pequena, inserida dentro de uma incubadora. Se a integração de sistemas representava uma tarefa complexa, a conquista e o convencimento do cliente seria a parte mais difícil da história. João Lisboa e Uriel Santiago conseguiram prosseguir com a negociação até o momento em que eles quiseram conhecer a estrutura da empresa. Lisboa estava preocupado e tinha razões para isso. Seu sócio sempre foi muito informal e a empresa espelhava o líder. A equipe era composta de excelentes profissionais, porém nenhum deles se preocupava com imagem. Acreditavam fortemente na filosofia plantada por Uriel: “Não precisamos nos preocupar em parecer diferentes do que somos, temos um bom produto e se o cliente entender a forma como funciona a aviação, verá que esse é o melhor software que ele pode escolher!” Historia de sucesso - incubadora76 76 26/11/2007 13:11:00 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 77 2007 Certo dia, Uriel chegou à incubadora acompanhado pelo Sr. Pedro Mantovani, gerente geral do departamento de TI da Vasp, acompanhado de dois assistentes. Eles entraram na incubadora, conheceram a estrutura de apoio oferecida à empresa, atravessaram um grande corredor e pararam diante da porta da USS Tecnologia. Ao abrir, o Sr. Mantovani se deparou com uma equipe de dez funcionários, todos eles com idade média de vinte e quatro anos, um deles com o cabelo comprido como o de um roqueiro, um outro descalço e com os pés na mesa e ainda um terceiro com camisa de um time de futebol. Havia papéis por todos os lados e nada transmitia tranqüilidade, segurança ou qualidade. Faltou o “Check de Portas” nesse vôo. Faltou dizer para a Vasp que a informalidade era uma cultura da empresa, que é necessário trabalhar a imagem, mas que o conteúdo era o mais importante. Assim era o Mysky, que nunca se preocupou muito em ter um layout bonito, como fazia o outro concorrente brasileiro. O Mysky trabalhava com a praticidade, com velocidade, com o menor número de clicks para acessar as informações, com mais funções na tela para facilitar a usabilidade do usuário final. Faltava dizer que a empresa não vendia imagem, mas uma boa solução tecnológica. O Sr. Mantovani havia levado uma câmera fotográfica para que ele pudesse fotografar o ambiente e, posteriormente, apresentar a empresa aos outros diretores, quando retornasse a São Paulo. Ele desistiu. Nada foi fotografado, mas ele entendeu a mensagem que a USS Tecnologia tinha deixado. Dois meses depois, o Mysky estava instalado na Vasp e toda a parte de venda web da companhia era processada e gerenciada pelo sistema Mysky. A parceria seguiu assim, por um ano e meio, até a total paralisação da companhia aérea no mercado brasileiro. MÁSCARAS DE OXIGÊNIO CAIRÃO AUTOMATICAMENTE Já era hora de ir. Já contavam cinco anos, não havia mais como fiEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora77 77 26/11/2007 13:11:00 78 EMPRESA USS car. Não era nenhuma situação de perigo, mas, ainda assim, a USS Tecnologia sabia que, se precisasse, teria sempre “máscaras de oxigênio” para socorrê-la naquele ambiente. Era hora de deixar a incubadora e voar com as próprias asas para um espaço próprio. Foi assim que, em 2004, com uma sutil expulsão, a USS Tecnologia saiu da Insoft-BH e se mudou para uma sede própria. Dois anos depois, ela já ocupava dois andares de um pitoresco prédio no bairro Sion, em Belo Horizonte. Nenhum desses transtornos foi capaz de afastar a USS Tecnologia e seu legítimo representante, Uriel Santiago, da Fumsoft – Sociedade Mineira de Software – entidade que gerencia o programa de incubação. De lá para cá, a empresa estabeleceu fortes elos de parceria e apresentou projetos de pesquisa em conjunto com a Fumsoft. Dois deles foram selecionados e receberam recursos para investimento em novos produtos e serviços para a área de aviação. Por meio dos projetos de pesquisa apoiados, foram criados mais sete sistemas. A idéia era de que eles pudessem agregar valor ao Mysky ao atender outras áreas de uma companhia aérea. Os sistemas criados incluíam manutenção de aeronaves, controle de cargas e coordenação de vôo. Houve outros casos de parceria com a Fumsoft, um deles com grande aprendizado. A USS Tecnologia sempre teve muitas peculiaridades, algumas até bem extravagantes e diferentes do que o mercado propunha. Uma delas era a política de não dar prazos para os clientes. Surge, então, uma pergunta: “como?” Era assim: o cliente pedia para que fosse realizada uma customização no sistema, uma atualização de versão ou o conserto de um bug. O departamento de suporte ao cliente recebia a solicitação, mas não dava uma previsão de entrega do que foi pedido. Era proibido! Políticas do chefe. Isso acontecia porque não havia processos na empresa que permitissem organizar o fluxo de trabalho. Por conseqüência, não havia prazo para resolver as pendências e, se houvesse, certamente ele seria atrasado. Quando esse atraso chegava ao conhecimento do cliente, estava armada a briga. Historia de sucesso - incubadora78 78 26/11/2007 13:11:00 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 79 Isso vinha acontecendo por longos anos. Várias tentativas foram feitas para organizar a desordem, sem muito sucesso. A Fumsoft, então, trouxe para Belo Horizonte um projeto da Softex – Sociedade para Promoção e Excelência do Software Brasileiro – que tinha o objetivo de preparar melhor as empresas, organizando seus processos de desenvolvimento de software, para que o produto final fosse entregue com mais qualidade para o cliente. Uriel é amante da prática e inimigo legítimo das teorias. Inicialmente, a idéia do projeto proposto pela Fumsoft parecia interessante porque preencheria um gargalo da empresa. Por outro lado, haveria a necessidade de uma mudança radical, e elas deveriam estar de acordo com as normas e conceitos do modelo de implementação. A equipe apostava que a solução seria boa, mas que Uriel não aceitaria as mudanças. A USS Tecnologia fez parte do primeiro grupo de empresas a participar do projeto de qualificação de software Mps.Br – Melhoria de Processo do Software Brasileiro em Belo Horizonte. O modelo avalia a qualidade do desenvolvimento de software da empresa em sete níveis de maturidade. Os níveis vão do A ao G, sendo o nível A o mais alto. Uriel se tornou o mais fiel seguidor do modelo e foi pelo estímulo dado por ele que a USS Tecnologia conseguiu, ao final de quinze meses, a certificação Mps.Br no nível F. Um dos pontos positivos do Mps.Br é que o nível F, conseguido pela USS Tecnologia, equivale ao nível dois da certificação CMMI – Capability Maturity Model Integrated. O CMMI é uma certificação americana para a área de software, reconhecida mundialmente. Metade dos grandes concorrentes internacionais da USS Tecnologia já possui a certificação CMMI em níveis avançados. O Mps.Br foi o primeiro passo da empresa em direção à busca por garantia de qualidade de seus sistemas. TRIPULAÇÃO, PORTAS EM AUTOMÁTICO Depois que as portas de uma aeronave se fecham, nada mais pode mudar. A partir daí, o piloto precisa se concentrar na decolagem EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora79 79 26/11/2007 13:11:00 80 EMPRESA USS e, aí, aguardar o pouso no destino final. As portas do vôo USS já estavam em automático e o pouso previsto para os próximos dois anos; Uriel pretende sair para dar uma volta ao mundo. Dos sonhos passados, a maior parte deles já foram realizados. Hoje, ele tem um pequeno avião monomotor, fez prova para piloto e ganhou a autorização para cambalear nos céus do Brasil com o mais novo companheiro, o aviãozinho apropriadamente nomeado Casca Dura e Valente. A USS cresceu e já é hora de conquistar seu espaço no mundo. Lições aprendidas foram muitas. No papel de pequena empresa, ela aprendeu a caminhar sozinha, a se comportar melhor com clientes, a produzir software com qualidade, a conversar com o mercado e fazer com que as companhias aéreas fossem parceiras de caminhada e de evolução. A empresa também aprendeu a vender. Ela participa, freqüentemente, de eventos e feiras de aviação no exterior. Hoje, depois de muito tempo e de investimento, cerca de 30 % do faturamento da USS Tecnologia vêm de clientes internacionais. Ao todo, já são mais de seis empresas atendidas fora do Brasil. Os empresários Lisboa e Uriel acreditam que a empresa já é capaz de pousar sobre grandes oportunidades e conquistar mais companhias aéreas de grande porte, nacionais e internacionais. A idéia é fazer da USS Tecnologia uma referência brasileira de tecnologia para aviação lá fora, trazendo, inclusive, reconhecimento para o nosso país, que possui tantos talentos ainda pouco valorizados no mercado internacional. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Por que a empresa, que já existia no mercado, decidiu tornar-se uma empresa incubada? 2. Quais foram as maiores decisões tomadas pela empresa durante a trajetória empresarial? 3. É possível estabelecer comparações entre o perfil do empreendedor e o resultado do negócio? Historia de sucesso - incubadora80 80 26/11/2007 13:11:00 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 81 DA PESQUISA A INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS PARA O MERCADO Empresa: KATAL Incubadora: BIOMINAS Autoria: Andréa Furtado Angélica Salles Tutoria: Mara Veit Introdução Com o sonho de ser cientista e pesquisador em Bioquímica, Leonides Rezende Júnior formou-se em Medicina em 1968, na Universidade Federal de Minas Gerais. Desde o início de sua carreira, já demonstrava sua capacidade de criação e também grande preocupação de cunho social. Com esse propósito, dedicou-se à pesquisa por muitos anos até que, finalmente, na década de 90, teve a idéia de criar uma empresa com foco de atuação na área de kits para diagnóstico médico. Dessa forma, poderia conciliar uma atividade de criação de produtos alinhada à pesquisa, associando a sobrevivência do negócio com um trabalho direcionado à ciência. A grande questão a ser solucionada era: como entrar em um mercado altamente competitivo, ao lado de multinacionais líderes na área, detentoras de tecnologias avançadas e de recursos para a pesquisa? Este foi o principal desafio do pesquisador-empresário: criar uma empresa com um diferencial tecnológico para entrar no restrito mercado de diagnósticos e continuar sempre inovando para manter seu posicionamento no segmento. Com esse direcionamento e foco de mercado, foi criada a Katal Biotecnológica, uma empresa de base tecnológica de capital 100% nacional, tendo como principal característica, durante toda a sua trajetória empresarial, no período de incubação na incubadora Biominas e de pós-incubação, o foco na inovação, como diferencial competitivo. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora81 81 26/11/2007 13:11:00 82 EMPRESA KATAL É uma empresa pioneira em nosso país em segmentos como a bioquímica líquida e o desenvolvimento de produtos utilizando a metodologia da E.L.I.S.A.1. Trajetória do pesquisador: sintonia com a vida Leonides Rezende Júnior formou-se em Medicina em 1968, na UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. Durante o curso, adiantava matérias complementares. Ao concluir a graduação, já tinha acumulado quase todos os créditos da pós-graduação. Defendeu sua tese de mestrado na área de Farmacologia Molecular, em 1971. Em 1972, foi para os Estados Unidos trabalhar, onde permaneceu dois anos. Leonides nunca exerceu a clínica médica, pois gostava de pesquisar. Sobre sua obsessão por pesquisa, reconhece que “do ponto de vista profissional, sua paixão pela química é a forma com que se sintoniza com a vida”. Quando retornou dos EUA, em 1974, passou a trabalhar em tempo parcial na Universidade Federal de Minas Gerais e no laboratório especializado em patologia clínica do Hospital Sarah Kubitchek, onde começou a atuar com diagnóstico, na realização de exames. Implementou, a partir de seus estudos, alguns métodos que antes não eram realizados no Hospital. Além disso, nessa mesma época, foi convidado para dar assessoria para uma empresa iniciante na área de diagnóstico in vitro, onde atuou na área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, durante cinco anos. O trabalho no laboratório clínico nunca foi sua grande paixão, mas considerou que foi uma experiência necessária para atingir seus objetivos, uma vez que podia vivenciar, simultaneamente, o lado do consumidor e o da indústria. No final da década de 70, foi convidado para ser o diretor do mesmo hospital. Por ideologia e por uma razão de forte cunho 1 ELISA – Enzyme Lynked Immuno Sorbent Assay Historia de sucesso - incubadora82 82 26/11/2007 13:11:00 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 83 social, aceitou o desafio e se dedicou a essa função até 1984. Nesse período, dedicou-se muito ao diagnóstico do ponto de vista médico. Acumulando uma grande experiência na área de pesquisa e conhecendo o lado do consumidor, do produtor e do médico, começou a exercitar também seu lado empreendedor, participando de uma sociedade em um laboratório de análises clínicas durante esse período e, no final da década de 80, por dois anos, como sócio em uma indústria de diagnóstico. Leonides permaneceu na diretoria do hospital até meados dos anos 80, quando foi trabalhar com pesquisa na Fundação Ezequiel Dias – Funed – MG. Por cinco anos, coordenou o laboratório de pesquisa dessa instituição, dedicando-se à purificação de proteínas. Nessa época, desenvolveu e implementou um exame, com um portfólio grande de diagnósticos, para ser aplicado em ambulatórios e consultórios de postos de saúde, processo que possibilitava a geração dos resultados em poucos minutos, eliminando, assim, a necessidade das consultas de retorno. Infelizmente, o exame não conseguiu vencer a resistência dos laboratórios clínicos pequenos existentes no interior e também dos médicos, usuários desse sistema e acabou não sendo adotado na rede pública de saúde. Nessa mesma época, suas atividades de pesquisa foram se deslocando gradativamente para fora da universidade. Apesar de continuar dando aulas, dedicava a maior parte de seu tempo, na Funed e na assessoria, à indústria de diagnóstico. Enquanto esteve na Funed, fez seu doutorado. Na verdade, fez o doutorado depois do pós-doutorado, porque a instituição que o acolheu nos Estados Unidos para estudos, em função de seu currículo e da experiência na área, aceitou-o como pós-doutor. Depois de anos de dedicação à pesquisa, finalmente, na década de 90, surgiu a idéia e o desejo de criar uma indústria. A universidade que, durante anos, foi a vida do empreendedor, já era um caminho sem volta. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora83 83 26/11/2007 13:11:00 84 EMPRESA KATAL Identificação do negócio No final da década de 70 até meados da década de 80, existia uma empresa que dominava 80% do mercado nacional de kits para diagnóstico e que, até hoje, permanece ainda como líder nesse segmento. A tecnologia para produção desses kits, que foi desenvolvida nas décadas de 50/60, já estava totalmente disponível no meio empresarial. Sua etapa industrial era muito complicada, utilizando reagentes muito corrosivos, ou seja, era uma tecnologia disponível, porém bem primitiva na sua concepção e utilização. Em meados da década de 80, havia, no Brasil, vinte empresas atuantes no setor de kits para diagnóstico, entre empresas nacionais e multinacionais. As multinacionais detinham uma tecnologia mais sofisticada, que utilizava sistemas de automação e que tinha um setup muito simples, porém, ainda eram completamente marginais no mercado. Quando o sistema de automação foi introduzido no Brasil, em 1985, as empresas que utilizavam a tecnologia mais obsoleta começaram a perder mercado e as multinacionais cresceram, pois seus reagentes eram compatíveis com a automação. Para que o empreendedor – pesquisador montasse uma indústria que utilizasse a tecnologia obsoleta, que já estava disponível no mercado, ele precisaria de um setup industrial completamente elaborado e oneroso. Por outro lado, se utilizasse a tecnologia mais sofisticada, que ainda não estava disponível, precisaria de uma estrutura muito mais simples para iniciar seu empreendimento. A questão centrava-se no desafio tecnológico, uma vez que, para entrar nesse setor, de maneira competitiva, ele teria que criar uma empresa que oferecesse ao mercado produtos inovadores. Leonides decidiu encarar esse desafio, com coragem. Sabia que tinha conhecimento técnico para dar continuidade à sua idéia e capacidade suficiente para aprender a administrar um pequeno negócio. Historia de sucesso - incubadora84 84 26/11/2007 13:11:01 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 85 Incubadora: uma oportunidade De 1992 a 1994, a empresa, que viria a ser a Katal, funcionou na informalidade, em uma sala de 10m2, no laboratório pessoal de análises clínicas. No ano de 1994, Leonides conheceu a Fundação Biominas e apresentou um projeto de negócio, com base nos avanços já realizados e teve o apoio da instituição na continuidade do empreendimento. Criou, formalmente, a Katal Biotecnológica, com os objetivos de pesquisa básica, desenvolvimento, produção e comercialização de kits para diagnóstico médico. A Katal era uma empresa do tipo familiar, formada por Leonides, sua ex-mulher e suas três filhas. Nenhuma delas tinha alguma formação específica, apenas ele a detinha. Uma de suas filhas começou a ser preparada para ser a pesquisadora da empresa. Fez mestrado em Bioquímica e, na hora de iniciar o doutorado, desistiu do projeto e deixou a sociedade. A empresa funcionou, inicialmente, em uma sala de 25 m² na Fundação Centro Tecnológico – Cetec, até junho de 1997. Quando o prédio da Incubadora de Empresas, sob gestão da Fundação Biominas, foi inaugurado, a empresa se mudou para as suas instalações, ocupando uma área de 135m2. O empreendimento começava a crescer. Estava localizado em melhores instalações, contava com maior apoio na gestão da empresa e fazia contato com mercado por meio da incubadora. A Incubadora Biominas tem como foco as áreas de biotecnologia, química fina e informática aplicada e é o resultado de uma iniciativa da Fundação Biominas, em parceria com o Governo do Estado de Minas Gerais, Prefeitura de Belo Horizonte e Universidade Federal de Minas Gerais. Conta ainda com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, da Financiadora de Estudos e Projetos – Finep, do Sebrae, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – Fapemig, da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora85 85 26/11/2007 13:11:01 86 EMPRESA KATAL e Ensino Superior – Sectes, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG e do Instituto Euvaldo Lodi – IEL Minas. Desafios de empreender A Katal iniciou sua trajetória enfrentando um primeiro grande desafio: oferecer ao mercado um produto diferenciado, que substituía a importação do mesmo. Era uma linha de reagentes para diagnóstico in vitro para Bioquímica, na forma líquida. A empresa foi a primeira, na América Latina, a usar a tecnologia de reagentes líquidos, sendo que, no mundo, apenas uma empresa, na Alemanha, detinha a mesma tecnologia desenvolvida pela pequena empresa mineira. No início do contato com o mercado, a Katal vendia os reagentes em books para outras indústrias de diagnóstico, que os envasavam e colocavam sua marca própria no produto. Para esse processo, a empresa contou com o apoio do Programa RHAE (Programa de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas) do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1994, e também com um financiamento da Finep, contraído em 1996. Em 1997, surgiu o segundo desafio, quando a empresa fez uma parceria com uma indústria farmacêutica, para entrar no mercado com marca própria. Após dois anos, a parceria foi encerrada. O empreendedor reconhece que o insucesso dessa parceria deveu-se aos seguintes fatos: “nem ele e nem as suas sócias tinham qualquer experiência em gestão e negociação. Alguns produtos da empresa não estavam suficientemente maduros para o mercado e, por último, mas não menos importante, havia divergências entre os parceiros, envolvendo questões financeiras. Esses fatores contribuíram para dissolução da parceria.” Após o rompimento com a empresa farmacêutica, a Katal, em 1999, decidiu lançar a marca própria e tentar construir um departamento comercial direcionado para esse posicionamento. Já bastante endividada, tal decisão ousada aumentou ainda mais o seu passivo. No final desse ano, a empresa estava tecnicamente Historia de sucesso - incubadora86 86 26/11/2007 13:11:01 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 87 falida e se mantinha com pequeno faturamento, na ordem de R$ 100.000,00 (cem mil reais), duas bolsas RHAE e o empréstimo da FINEP. Foi também, nesse período, que a Katal obteve apoio financeiro do Programa de Transferência de Tecnologia, parceria entre a Fundação Biominas e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, para um projeto de desenvolvimento de uma tecnologia para a produção industrial de um novo reagente diagnóstico. De volta, a sintonia com a vida: a pesquisa A empresa continuou a enfrentar sérias dificuldades financeiras e os sócios da Katal, no ano de 2000, venderam 50% de sua participação acionária a investidores paulistas, atuantes no mercado de distribuição de produtos de diagnóstico in vitro. Essa nova parceria, apresentada como o terceiro desafio pelo empreendedor, apesar das dificuldades inerentes a toda sociedade, mostrou-se bem sucedida e o ano terminou com dezoito produtos em comercialização e um faturamento de R$ 450.000,00 (quatrocentos e cinqüenta mil reais), além da criação de um departamento de P&D. Esse resultado positivo demonstrou a capacidade dos empreendedores de correr risco, mesmo em momentos de crise na empresa, quando tudo parecia sem solução. Leonides considera que, nesse momento, foi possível respirar um pouco mais aliviado e não se preocupar mais com os contatos freqüentes com os gerentes de banco. Pôde dedicar-se ao seu projeto, colocar o seu avental e ir para a bancada do laboratório pesquisar e criar novos produtos. Dessa forma, ele conseguiu aprimorar os produtos que a empresa já vendia e, principalmente, iniciou o desenvolvimento de um novo segmento na área de diagnóstico. Todo esse momento foi crucial para a empresa, pois direcionou a Katal para entrar em uma fase ótima de inovação. Em pouco EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora87 87 26/11/2007 13:11:01 88 EMPRESA KATAL mais de um ano, a empresa lançou o primeiro produto na linha de imunodiagnóstico, com tecnologia nacional, o kit PSA. O produto foi extremamente reconhecido e deu notoriedade à empresa no cenário nacional e internacional, pois ninguém mais o fazia nos países do terceiro mundo. O lançamento do produto significou muito mais para a empresa, pois demonstrou que ela detinha uma nova tecnologia e que, por meio desse processo, teria a oportunidade de lançar, no mercado, muitos outros produtos na mesma linha. Foi exatamente o que aconteceu. Em 2001, a empresa, na sua área de pesquisa, iniciou a comercialização do kit PSA, o primeiro kit de E.L.I.S.A. quantitativa comercial existente na América Latina. Nos anos seguintes, muitos resultados foram acontecendo, de forma positiva para a empresa. O ano de 2001 terminou com um faturamento de R$ 1.050.000,00 (um milhão e cinqüenta mil reais) e com dez empregados. Em 2003, Leonides se dedicou ao desenvolvimento de uma linha mais sofisticada de produtos E.L.I.S.A., que exigiam um investimento tecnológico maior de recursos. Em 2004, a Katal tinha uma série de produtos E.L.I.S.A. no mercado. Nesse ano, ela foi a vencedora do Prêmio Finep Inovação Tecnológica na categoria Produto, como primeiro lugar na Região Sudeste e segundo lugar nacional (menção honrosa), com o produto PSA Visual. A proposta do produto era levar competência diagnóstica para a periferia dos grandes centros, para a ponta do sistema, onde o médico está mais isolado das inovações e dos laboratórios e precisa da ajuda diagnóstica. A raiz do desenvolvimento desse produto estava na razão social do ato de empreender e inovar. Nesse período, a empresa encerrou o ano com um faturamento na ordem de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) e uma equipe de trinta e dois empregados, incluindo um Ph.D. em Imunologia. Finalmente, para tranquilidade dos sócios, o empréstimo com a Finep foi quitado. Historia de sucesso - incubadora88 88 26/11/2007 13:11:01 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 89 2007 Faturamento Evolução do Faturamento 6 000 000 5 000 000 4 000 000 3 000 000 2 000 000 1 000 000 0 Ano Faturamento/ano 1 2 3 4 1999 2000 2001 2004 R$ 100 000,00 R$ 450 000,00 R$ 1 050 000,00 R$ 5 000 000,00 Fonte: Dados da Empresa Novos processos continuaram a ser incorporados à empresa. No final de 2006, a KATAL deixou o prédio da Incubadora BIOMINAS, onde já ocupava quase 300 m2, e mudou-se para um prédio de área de 1.500 m² construída e nove produtos em desenvolvimento, na cidade de Belo Horizonte. Atualmente, a Katal, bem instalada no mercado e em crescimento no desenvolvimento de produtos e faturamento, comercializa quarenta e três produtos, todos concebidos e desenvolvidos internamente na área de pesquisa, cujos resultados têm sido satisfatórios para os negócios da empresa, tanto no contexto econômico quanto no social. AVALIANDO OS RESULTADOS O pesquisador-empreendedor reflete que, quando pensou na idéia de abrir uma empresa nessa área e a estruturou, foi impulsionado, na realidade, pelas circunstâncias da vida. Nada havia sido programado e planejado passo a passo. Ele havia chegado a um momento em que havia reunido experiência científica básica de pesquisa e vivenciado, em vários aspectos e ângulos, o lado do consumidor, do produtor e do médico. Percebia que podia construir uma outra história. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora89 89 26/11/2007 13:11:01 90 EMPRESA KATAL Destaca que muitas foram as lições aprendidas durante as etapas de crescimento da empresa. Foi grande o aprendizado, nos momentos em que houve a necessidade de aporte de capital. Hoje, com a experiência que tem, buscaria o recurso junto a investidores, pois vê com bons olhos esse processo, apesar dos prós e contras da maioria dos empreendedores. Também considerou como uma dificuldade da empresa a sua estrutura amadora, comum em empresas familiares, processo que vivenciou no início do empreendimento. Ressaltou, também, que, na escolha da área de atuação, os novos empreendedores precisam avaliar e decidir pelo que realmente sabem e pelo que podem fazer no mercado. Para o empresário, a experiência mostrou que o sucesso da Katal se deve, principalmente, ao fato de ele ser um pesquisador e possuir o conhecimento profundo dos produtos e do seu mercado de atuação. Para Leonides o apoio da Incubadora Biominas foi fundamental para o desenvolvimento da empresa, auxiliando-a nas questões de gestão e comercialização dos produtos. “A incubadora foi e continua sendo de vital importância para as pequenas empresas que atuam na área de inovação porque, além do apoio e da infra-estrutura, facilita o acesso a questões gerenciais por meio dos parceiros, como o Sebrae”. Afirma ainda que, “muitas vezes, vale a pena correr riscos, pois a escolha e a decisão de parceria estratégica no ano de 2000 garantiram a continuidade da empresa. Se eu não tivesse tentado a parceria, talvez hoje a Katal não existisse mais”. Os novos desafios para o futuro e para a sustentabilidade da empresa são as novas linhas de diagnóstico, a pesquisa na área de DNA e a comercialização junto ao mercado externo, devido ao poder que a Katal vem adquirindo, bem como o fortalecimento dos seus produtos no mercado, em relação à área de atuação. Algumas ações já foram implementadas, como a continuidade das pesquisas, um processo que leva o empresário a uma boa sintonia com a vida e a busca de um núcleo de P&D junto a par- Historia de sucesso - incubadora90 90 26/11/2007 13:11:01 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 91 2007 ceiros estratégicos como universidades, centros de pesquisa e instituições. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Em sua opinião, o empreendedor acertou na hora de vender 50% da empresa? Comente os prós e contra dessa decisão. 2. Que outras medidas você adotaria, caso não concluísse a venda dos 50% da empresa? 3. Comente sobre a importância da inovação tecnológica como diferencial para as pequenas empresas de base tecnológica. 4. Discuta as opções de fontes de financiamento hoje disponíveis para a fase inicial de implementação e de operações de empresas inovadoras REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Empresa Katal Biotecnológica – http://www.katal.com.br Incubadora Biominas – http://www.biominas.org.br Finep – http://www.finep.gov.br Revista Fapemig – nº 119 – http://www.fapemig.br Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora91 91 26/11/2007 13:11:01 Historia de sucesso - incubadora92 92 26/11/2007 13:11:01 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 93 EMPRESA COM SINÔNINO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA Empresa: Ferrara Incubadora: BIOMINAS Autoria: Kênia Danielle B. Miguel Angélia Salles Tutoria: Cacilda N. L. Thusek Introdução Um número considerável de pessoas no mundo é portador das mais diversas deficiências visuais, de menor ou maior gravidade. O impacto de tais distúrbios sobre o indivíduo e a quantidade de pessoas afetadas, somadas às limitações dos tratamentos existentes, estimularam a busca de tratamentos alternativos mais eficazes. Dentre os mais sérios desses distúrbios, está o Ceratocone, doença incapacitante, evolutiva, que pode resultar em cegueira. É danosa por surgir entre os 10 e 30 anos de idade, auge da potencialidade do ser humano. O tratamento, na maioria das vezes, consistia no transplante de córnea, que além de ser uma intervenção cirúrgica radical, dependia da inconveniente espera em uma fila para doações. Paulo Ferrara, apaixonado pela pesquisa desde jovem, formou-se em Medicina, e escolheu a área de Oftalmologia, ainda durante o curso, para seguir carreira profissional. Dedicou-se, persistentemente, à pesquisa e, em 1986, em Belo Horizonte, desenvolveu um produto inédito em todo o mundo. Tratava-se de uma solução simples, segura, rápida e acessível, tanto para os pacientes quanto para os médicos. Para o Dr. Paulo, porém, ter desenvolvido um produto inovador e eficaz no tratamento de um distúrbio ocular não era suficiente. Era preciso continuar com os trabalhos de pesquisa e de aperfeiEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora93 93 26/11/2007 13:11:01 94 EMPRESA FERRARA çoamento, desenvolver outros produtos médico–oftalmológicos, além de buscar meios para assegurar-lhes a produção, a distribuição e a comercialização. Dessa forma, em 1999, essas necessidades se colocaram como um grande desafio para o cientistaempreendedor. Pesquisa científica, a paixão do empreendedor O cenário de Belo Horizonte contribuiu para a escolha do ramo de pesquisa do Dr. Paulo Ferrara, uma vez que a cidade era considerada referência nacional em Oftalmologia, por conta dos centros especializados, principalmente o Instituto Hilton Rocha. Nascido em 1950, na cidade de Belo Horizonte, graduado em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais, Paulo Ferrara de Almeida Cunha sempre se interessou pela área biomédica. Desde cedo, viu-se apaixonado por pesquisa. Casado e pai de cinco filhos, dividia seu tempo entre a família e o projeto de estudar a ciência. Enquanto acadêmico, seu mestre foi o médico Marcos Mares Guia, também professor de Bioquímica e de Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais e, na sua concepção, “um cientista admirável, humano, invejável”. O citado pesquisador desenvolveu a técnica de extração de insulina do pâncreas de porco, método que resultou no surgimento da empresa Biobrás. Assim que entrou para o Hospital São Geraldo, em 1976, Dr. Paulo Ferrara passou a trabalhar no departamento de lentes de contato, como assistente do Prof. Emyr Soares. Desenvolveu, nessa época, uma técnica para adaptação de lentes de contato em pacientes portadores de doenças intracorneanas, sendo bem sucedido em sua primeira iniciativa para criar uma alternativa de resolver o problema emergente de doação para transplante de córnea. Especializou-se em Oftalmologia pelo Hospital São Geraldo e, em 1981, defendeu sua tese de doutorado na mesma Universidade onde se graduou. Os implantes intracorneanos surgiram na década de 50, com o Historia de sucesso - incubadora94 94 26/11/2007 13:11:02 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 95 objetivo de evitar os inconvenientes da cicatrização e elasticidade da córnea. O anel corneano intraestromal era uma modalidade dessa técnica. Foi desenvolvido a partir dos anos 60, quando, timidamente, começou a ser utilizado para correção de baixa miopia. Em 1986, Dr. Paulo Ferrara desenvolveu uma técnica que utilizava a borda de uma lente de contato implantada no olho para correção de altos graus de miopia. A correção chegou a atingir pacientes com deficiências de até 20 graus. Foi uma idéia inédita, de técnica inovadora, uma vez que não se falava em correção de altos graus de miopia através de implante nessa época. Os primeiros trabalhos tiveram como objetivo a busca de um produto diferente, um implante para tratar altas miopias, porém a previsibilidade precária dos resultados refracionais impedia a utilização dessa técnica para correção refrativa. Logo depois, a estabilidade dos resultados alcançados e a segurança do procedimento legitimaram a utilização da técnica para o tratamento de doenças da córnea. Inicialmente, Dr. Paulo usou a mesma técnica aplicada para implantar a órtese nos coelhos, que era rudimentar e não se mostrou adequada. Em 1991, tentou a utilização do microceratomo, que também não funcionou. Em 1993, desenvolveu, finalmente, a técnica de tunelização para implante das lentes. A órtese utilizada nos implantes, batizada pelo Dr. Paulo de Anel de Ferrara, era uma lente rígida vazada e foi considerada, de acordo com as suas palavras, “um achado inusitado”. Para a produção dos anéis para as cirurgias, primeiramente em pequena quantidade, Dr. Paulo teve como parceiro o Professor Emyr Soares que, além de médico e professor no Departamento de Oftalmologia do Hospital São Geraldo, era empresário do segmento de fabricação de lentes oftalmológicas. Os tornos utilizados eram de alta precisão. Assim, podiam fazer todo tipo de corte. A partir deles, foi possível quantificar, então, as dimensões para EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora95 95 26/11/2007 13:11:02 96 EMPRESA FERRARA possibilidade de correção. Se o objetivo era corrigir 10º de miopia, era preciso ter um anel de uma espessura específica e assim por diante. Além da técnica do implante e da órtese – Anel de Ferrara, foi necessário o desenvolvimento de um instrumental específico. Todos os procedimentos adotados no desenvolvimento das pesquisas, como ocorriam na comunidade científica em geral, foram submetidos às diversas fases de avaliação. A primeira consistiu na experimentação em animais, acompanhamento clínico e laboratorial, estudos verificadores de tolerância, eficácia, inocuidade da técnica e dimensões da órtese. No ramo da Oftalmologia, os animais utilizados em laboratório eram os coelhos e as galinhas. Essas últimas têm a córnea parecida com a córnea humana, com comportamento similar. Após doze meses de experiência em animais, as observações clínicas e laboratoriais revelaram uma ótima tolerância da córnea, sendo que em nenhum caso houve a expulsão do implante colocado. A segunda fase de avaliação se referia à aplicação do procedimento em olhos humanos comprometidos e a última fase, à aplicação visando à correção dos defeitos visuais. Nessa, era feita a análise dos resultados e a comprovação deles por outros pesquisadores, o que conferiu credibilidade e possibilitou a aceitação da técnica. Em 1991, Dr. Paulo realizou o primeiro implante em um paciente, fato que foi publicado na Revista Brasileira de Oftalmologia. No período de 1993 até 1995, ele continuou a realizar estudos em pacientes alto míopes que eram selecionados no Hospital São Geraldo. Os implantes dos anéis se realizavam enquanto, também, era feito o acompanhamento dos resultados. A constatação de que o anel desenvolvido era bem tolerado, mesmo em córneas comprometidas, sugeriu a aplicabilidade do implante em pacientes com córneas acometidas por Ceratocone, intolerantes às lentes de contato. Historia de sucesso - incubadora96 96 26/11/2007 13:11:02 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 97 Em 1987, a patente do Anel de Ferrara foi requerida no Brasil. Também foram requeridas na Europa as patentes do Anel, da Técnica Cirúrgica e do Instrumental utilizado no implante. Nos Estados Unidos, as duas últimas foram concedidas e a do Anel negada, devido à pré-existência de uma patente para anel intraestromal de propriedade de uma empresa americana, apesar das diferenças existentes tanto na forma quanto na utilização dos dois produtos. Em 1996, o anel intra-corneano produzido com polimetilmetacrilato, um acrílico largamente empregado na fabricação de lentes intra-oculares, passou a ser utilizado para correção do Ceratocone e o Dr. Paulo Ferrara passou a se dedicar, integralmente, ao tratamento dessa doença. Em abril de 1998, em Belo Horizonte, o Dr. Paulo ministrou o primeiro curso sobre a técnica de implante do Anel de Ferrara, no Centro de Oftalmologia Avançado. Todo o processo de desenvolvimento do Anel de Ferrara, iniciado em 1986, compreendeu doze anos de pesquisa, estudos estatísticos especializados, cursos de capacitação na aplicação da técnica ministrados a médicos oftalmologistas, desenvolvimento do instrumental cirúrgico, participações em palestras, feiras, eventos e congressos no Brasil e exterior, confecção de material didático e de divulgação, contratação de serviços de consultores, advogados e escritórios de patentes. A continuidade das pesquisas, porém, ainda era necessária e poderia render a descoberta de novas aplicações para o produto e maiores benefícios para os usuários. Os excelentes resultados proporcionados, a esperança de cura e a perspectiva de uma vida normal, trazidos à população, com a reabilitação da visão comprometida, geraram a idéia da criação de um negócio de alcance internacional e de alto significado social, pois era a possibilidade de contribuir, efetivamente, para a reabilitação de milhões de pessoas, viabilizando seu retorno à vida produtiva. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora97 97 26/11/2007 13:11:02 98 EMPRESA FERRARA O grande desafio era: como continuar se dedicando às atividades de pesquisa e desenvolvimento, ao aperfeiçoamento do Anel, do instrumental e da técnica de implante, aos cursos de qualificação para médicos, ao relacionamento com a comunidade científica e, paralelamente, ao atendimento no consultório que leva seu nome e, ainda, preocupar-se com a produção, distribuição e comercialização de seus produtos? O início do negócio – abertura da empresa Belo Horizonte foi escolhida pelo Dr. Paulo Ferrara como sede de sua empresa, após a confirmação da existência, na cidade, de distribuidores da matéria-prima e também de fabricantes que atenderiam às necessidades das pesquisas e das vendas dos produtos. Em 1999, através do amigo Marcos Mares Guia, Dr. Paulo fez contato com a Fundação Biominas, gestora de uma incubadora de empresas1. Por meio dessa rede, surgiu a oportunidade de criar uma empresa nas instalações da Incubadora de Base Tecnológica, com foco no setor de biotecnologia. Uma incubadora de empresas oferece todas as condições de desenvolvimento até que as empresas nela instaladas possam prosseguir o seu caminho independentes. Segundo artigo da Revista Fapemig, “cientistas e pesquisadores passam a ser também empresários quando potenciais produtos ou processos frutos do conhecimento ou descoberta científica, até então desenvolvidos e testados em pequena escala nos laboratórios das universidades e instituições, passam pelo processo de desenvolvimento tecnológico para serem produzidos”. Assim, a Ferrara Ophthalmics Ltda. foi criada em 1999, em uma sala de 36 m2, contando com três pessoas em seu quadro de funcionários, além do seu fundador. Objetivava a continuidade dos Segundo o Sebrae, uma incubadora de empresas é “um mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micro e pequenas, oferecendo suporte técnico, gerencial e formação complementar ao empreendedor. A incubadora também facilita e agiliza o processo de inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas”. 1 Historia de sucesso - incubadora98 98 26/11/2007 13:11:02 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 99 trabalhos de pesquisa, formação de um departamento administrativo e comercial, demarcação do mercado e, principalmente, definição da forma de fabricação dos produtos. A Ferrara contou com investimentos do próprio Dr. Paulo. Durante o período de incubação, os parceiros Biominas, Sebrae e Fapemig foram de grande importância. O primeiro plano de negócios da empresa foi elaborado em fevereiro de 2000, conjuntamente, por Dr. Paulo Ferrara e por Sérgio Godinho, administrador, professor da Escola Técnica do Sebrae Minas e um dos primeiros colaboradores da empresa. A elaboração desse plano constituiu a etapa fundamental para desenhar, de forma mais eficiente, o negócio e a obtenção de um empréstimo de juros subsidiados, através de uma linha de crédito para inovação tecnológica, junto ao BDMG. Como a empresa já detinha o primeiro modelo do Anel de Ferrara, o instrumental e a técnica desenvolvidos para serem oferecidos ao consumidor, esses produtos foram aceitos rapidamente pelo mercado nacional e internacional. A primeira parceria para fabricação do Anel Desde a abertura da Ferrara Ophthalmics Ltda, Dr. Paulo decidiu terceirizar a fabricação do Anel de Ferrara. Com esse objetivo, foi estabelecida a primeira parceria com uma empresa mineira para a fabricação do anel desenvolvido. Em 2000, iniciou-se o trabalho efetivo de divulgação do Anel de Ferrara, tarefa que coube ao Dr. Paulo Ferrara, em viagens no Brasil e no Exterior, ministrando cursos e participando de congressos. Essa etapa foi decisiva para conquista do mercado e consolidação da empresa no cenário oftalmológico. Em 2001, ocorreu um fato importante para a empresa. A Universidade IOBA de Valladolid, da Espanha, solicitou o apoio do Dr. Paulo Ferrara para pesquisa na área de interesse de seu negócio. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora99 99 26/11/2007 13:11:02 100 EMPRESA FERRARA A Ferrara realizou o trabalho e recebeu uma remuneração no valor de € 11.000 (onze mil euros). Esse fato aproximou as organizações e também resultou na abertura para o desenvolvimento de novos projetos dentro da Universidade. Durante o período em que esteve na Incubadora Biominas, de 1999 a 2002, a Ferrara usufruiu a estrutura física e recebeu o apoio necessário para o fortalecimento do negócio. Sua saída (graduação) se deu em maio de 2002 e, como uma empresa graduada, despertou o interesse dos médicos da área e passou a ter maior importância na comunidade internacional, o que gerou a possibilidade para o surgimento de novos projetos de pesquisa de aperfeiçoamento do Anel. Em 2004, encerrou-se a parceria entre Ferrara Ophthalmics Ltda e a empresa fabricante. A segunda parceria da empresa No mesmo ano, 2004, foi concretizada uma parceria para fabricação do Anel com outra empresa, também mineira, fornecedora do mercado de lentes. Com a expansão dos negócios, a Ferrara estendeu sua rede de contatos e passou a ter uma imagem vinculada a conceitos de inovação e excelência nos seus produtos e serviços. Em 2005, de 3 a 5 de junho, aconteceu, em Ouro Preto/MG, o I Encontro Internacional do Anel de Ferrara. Foi um evento de grande importância que reafirmou o sucesso do produto desenvolvido e sua consagração no cenário da medicina oftalmológica. Contou com a presença de médicos e profissionais convidados da Itália, Colômbia, México, Espanha, como coordenadores de painéis, mesas redondas e palestras, além de renomados oftalmologistas brasileiros. Registrou-se a presença de trezentos participantes efetivos e de quinhentos visitantes nos stands, o que acarretou significativo aumento das vendas. Historia de sucesso - incubadora100 100 26/11/2007 13:11:02 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 101 Também, em 2005, foi elaborado o segundo plano de negócios da Ferrara com o objetivo de atualização do planejamento tecnológico, comercial e financeiro da empresa. A parceria com a empresa fornecedora de lentes durou até o final do ano de 2006, quando Dr. Paulo almejava buscar novas tecnologias para atender as inovações do Anel. A parceria que deu certo – auge da empresa Diante do sucesso do Anel de Ferrara e da busca de novas tecnologias, firmou-se uma nova parceria entre a Ferrara, uma empresa localizada na cidade de Vitória, na Espanha, para fabricação do novo Anel, e a Universidade IOBA, de Valladolid, também na Espanha, para investimentos nas pesquisas. Segundo Dr. Paulo, “foi um convite irrecusável; a contribuição de 11.000 euros à Universidade, feita em 2001, gerou frutos”. Com essa parceria, a Universidade IOBA conseguiu um aporte de quase € 2.000.000 (dois milhões de euros) em recursos do governo espanhol para pesquisa, fato que nunca ocorreu antes. Em novembro de 2006, o Dr. Paulo Ferrara conquistou o Prêmio Finep de Inovação, regional e nacional, na categoria inventor inovador. A comercialização do Anel, naquele ano, ficou em torno de quinhentos a oitocentos anéis/mês, alcançando um faturamento na ordem de R$ 2.500.000,00. A exportação era realizada para todos os continentes, principalmente América Latina, Oriente Médio, norte da África e Europa. Em 2006, o volume exportado atingiu 300 anéis por mês.e a Ferrara empregou três pessoas no Brasil e mais vinte e três no escritório da Espanha. A empresa fechou 2006 com oitenta cursos ministrados sobre a técnica do implante em todo o mundo e com o depósito da patente do Anel de Ferrara feito com PMMA (polimetilmetacrilato) amarelo. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora101 101 26/11/2007 13:11:02 EMPRESA FERRARA 102 Faturamento Evolução do Faturamento 2 500 000 2 000 000 1 500 000 1 000 000 500 000 0 1999 2000 2001 2002 2003 Ano 2004 2005 2006 Fonte: Ferrara Ophthalmics Ltda, 2007 A Ferrara se tornou uma empresa conhecida em pesquisa, comercialização, distribuição e exportação. Seu produto principal, o Anel de Ferrara – dispositivo médico implantável, com a função de regularizar deformidades da córnea causadas por patologias do tecido e corrigir ou diminuir erros refracionais associados, obteve reconhecimento no contexto médico. Dr. Paulo Ferrara ficou reconhecido mundialmente como um dos maiores médicos/pesquisadores na área oftalmológica, sendo membro das principais entidades representativas da comunidade internacional de Oftalmologia. Publicou muitos trabalhos e participou em obras de outros autores internacionais da área médica. Sua técnica, instrumentais para implante e produtos também originaram a elaboração de vários artigos em revistas e livros especializados. O Futuro da Ferrara Percorrendo a trajetória de suas pesquisas e de seu empreendimento, Dr Paulo evidenciou que, desde a criação, o Anel de Ferrara passou por aperfeiçoamentos, nos quais foram acrescentadas inovações ao produto quanto à matéria-prima utilizada e aos benefícios proporcionados para a saúde. O mercado da Ferrara se constituía, basicamente, dos portadores do Ceratocone. Com um produto direcionado para tratamento Historia de sucesso - incubadora102 102 26/11/2007 13:11:02 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 103 desses pacientes, era difícil definir a demanda, mas sabia-se que, em média, no país, um em cada 1.000 habitantes tinha a doença, que levava à perda gradual da visão. Assim, a reabilitação visual dos pacientes através da cirurgia de implante do Anel de Ferrara passou a ser vital, pois a incidência dessa deformidade havia crescido significativamente, considerando o aumento proporcional da população. Em todo o mundo, mais de 25.000 pacientes já se submeteram ao implante do Anel de Ferrara. O implante do Anel de Ferrara ainda não era pago pelo SUS, porém alguns convênios médicos começavam a cobrir os seus custos. Ao fazer uma análise do efeito multiplicador da estratégia de mercado da Ferrara, Dr. Paulo percebeu que era importante considerar o marketing utilizado na divulgação do Anel de Ferrara, focando dois públicos distintos: pacientes que percebiam o surgimento de uma alternativa para a recuperação da visão de forma rápida, segura e de custo acessível, sem a necessidade de transplante de córnea, e médicos que podiam contar com uma solução satisfatória em termos de simplicidade, preço e segurança, atendendo a demanda de pacientes à espera de transplante de córneas. As principais lições aprendidas pelo cientista-empreendedor foram a necessidade da proteção por patentes de invenção, registro de marcas e contratos bem elaborados. Segundo o protagonista, ele faria diferente na escolha dos parceiros do negócio e na definição prévia das regras a serem seguidas. Na concepção do Dr. Paulo “era imprescindível estruturar uma parceria com regras bem claras”. Para aqueles que queiram empreender, Dr. Paulo Ferrara aconselhou a construção de uma estrutura administrativa sólida, atenção aos órgãos reguladores e à legislação vigente, assim como também cuidar da equipe de vendas para que tenha conhecimento do mercado, dos produtos, e constante consideração às críticas e sugestões recebidas. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora103 103 26/11/2007 13:11:03 104 EMPRESA FERRARA Reconheceu que, para continuar a ter sucesso, o controle da produção e o acompanhamento dos resultados dos casos operados continuam sendo grandes desafios em seu negócio. Novas ações foram colocadas em andamento na empresa, incluindo mais pesquisas, melhorias dos produtos, novos polímeros (matéria-prima), depósitos de patentes e atualização do plano de negócios. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Em sua opinião, o empreendedor acertou na escolha de terceirizar a produção do Anel? 2. Quais são os segredos de uma parceira bem sucedida? 3. Comente sobre a maneira como a questão da inovação tecnológica afeta o posicionamento de uma empresa em seu mercado de atuação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Empresa Ferrara Ophthalmics Ltda – http:// www.ferrararing.com.br Entrevistas com o protagonista e colaboradores Incubadora Biominas – http:// www.biominas.org.br Revista Fapemig – 29ª Ed./pág. 119 – http:// www.revista.fapemig.br Revista Universo Visual – edição 0262/pág.118/junho de 2002 – http:// www.universovisual.com.br Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso Historia de sucesso - incubadora104 104 26/11/2007 13:11:03 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 105 Telefone via internet? Uma empresa de base tecnológica na onda da convergência digital Empresa: ComunIP Incubadora: Inova-UFMG Autoria: Lívia de Carvalho Furtado Tutoria: Claudio Afrânio Rosa Introdução “A tecnologia de Voz sobre IP não era nada, apenas uma idéia, uma promessa”. Foi o que contou Erik Cavalcante, sócio-fundador e Diretor de Operações da ComunIP Soluções de Mídia em Tempo Real S/A, situada em Belo Horizonte, Minas Gerais. Era o ano 2000 quando os colegas de faculdade, Erik Cavalcante e Guilherme Balena resolveram criar uma empresa para oferecer produtos e serviços baseados na tecnologia de transmissão de voz via Internet, chamada de Voz sobre IP, ou VoIP. Ambos eram ainda estudantes de Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e procuraram a incubadora do Centro de Inovação Multidisciplinar (CIM) que, mais tarde, se tornaria a Inova-UFMG. Naquele mesmo ano, o “Skype” 1 seria lançado mundialmente pela empresa global de mesmo nome. Pela primeira vez, tornava-se fácil e acessível falar pelo telefone via Internet, como num telefone comum. Daí o nome “voz sobre IP” (Internet Protocol). O mais atraente era a imensa economia nos custos de ligações à distância ou internacionais. A visão de Erik, de que a transmissão de voz via Internet era um mercado promissor, se confirmava. O Skype é um programa instalado no computador que permite ampla comunicação via Internet, conversas por e-mail e em grupo, ligações para telefones fixos e celulares de qualquer lugar do mundo, transferência de arquivos, participação em chat etc. A empresa de mesmo nome, Skype, foi a responsável por desenvolver e popularizar a primeira rede de telefonia ponto a ponto e a tecnologia VoIP. Fonte: www.skype.com 1 EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora105 105 26/11/2007 13:11:03 106 EMPRESA COMUNIP Com essa convicção, os dois jovens empreendedores iniciaram a elaboração do Plano de Negócios e participaram do Programa de Pré-Incubação oferecido pelo CIM. O primeiro protótipo era muito simples: dois computadores ligados entre si por um sistema de transmissão de voz via Internet, que foi exposto no Minastec2 daquele ano. “Não era um produto comercial, longe disso, mas mostrava que, no Brasil, a gente tinha capacidade de criar a tecnologia para isso”, explicou Erik. No Plano de Negócios, os novos empreendedores haviam definido que os produtos da empresa seriam voltados tanto para o mercado corporativo quanto para o usuário doméstico, como o famoso “Skype”. Em 2002 e 2003, a empresa passou pelo Programa de Incubação. No ano seguinte, os desafios de um negócio de base tecnológica começaram. Como oferecer aos potenciais compradores uma tecnologia para a qual ainda não estavam preparados? No decorrer de 2004, a empresa, nas palavras de Erik, “patinou” sem saber como acessar um mercado ainda tão conservador. Eles haviam passado quatro anos desenvolvendo uma plataforma tecnológica tendo como princípio inovação e qualidade, formatando uma família de produtos, mas sempre que procuravam possíveis clientes os negócios não andavam. Cabos, redes, softwares... e riscos O lançamento mundial do “Skype”, em 2000, foi o pontapé inicial para a popularização da tecnologia de transmissão de Voz sobre IP. Voltado para o usuário final, o “Skype” cresceu muito pela redução de custos com ligações à distância e internacionais, substituindo a linha telefônica, os tradicionais DDD e DDI, porém as pessoas e também as empresas só identificavam o VoIP com redução de custos telefônicos, sem vislumbrar o que essa tecnologia poderia proporcionar: a transmissão, em tempo real, O Minastec é considerado o maior evento de tecnologia de Minas Gerais, com feira de tecnologias, espaço para as incubadoras, realização de cursos e workshops. É promovido pelo Sebrae Minas com apoio de parceiros. 2 Historia de sucesso - incubadora106 106 26/11/2007 13:11:03 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 107 não apenas de voz, mas de imagens e dados de qualquer tipo, com interatividade superior à de outras mídias. Era um meio de comunicação eficiente para ser usado pelo internauta, em sua casa, mas também entre funcionários de uma companhia e entre empresas e clientes, ou seja, inicialmente, tanto os usuários domésticos quanto as grandes empresas, incluindo as corporações do setor de Telefonia e Tecnologia da Informação, ainda possuíam uma visão limitada da tecnologia. Era uma prática a se conhecer. Contudo, outros indícios já demonstravam as condições de implementação do VoIP no mercado brasileiro: o crescente número de usuários de Internet em banda larga (um dos requisitos para o uso de voz sobre IP); a abertura do mercado de telecomunicações, cada vez mais competitivo; a expansão da telefonia celular e do acesso à Internet; a tendência à convergência midiática, a exemplo do acesso a vídeos, música, e-mail e Internet via aparelho de telefone celular, ou sons, imagens e comunicação instantânea na Internet, entre muitos outros exemplos. Em 2000, cerca de cinco milhões de brasileiros possuíam acesso residencial à Internet, mas apenas 671 mil utilizavam acesso via banda larga, conforme pesquisa da empresa Ibope/NetRatings, porém, a expectativa de crescimento era grande porque a Internet em alta velocidade se expandia em outros países e, no Brasil, o computador e a Internet eram cada vez mais acessíveis para as classes B e C. Os provedores já lançavam os primeiros produtos e pacotes de acesso em banda larga, com destaque para o Vírtua, da NET Serviços, pertencente à Rede Globo. Antes do boom na Internet brasileira, ainda no ano 2000, um estudante de graduação em Engenharia Elétrica da UFMG, chamado Erik Cavalcante, começou a refletir sobre o potencial mercadológico da transmissão de voz via Internet (VoIP). O rapaz conhecia profundamente essa tecnologia e, durante seu curso, já trabalhara em três pesquisas acadêmicas sobre o VoIP. Iniciou a busca EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora107 107 26/11/2007 13:11:03 108 EMPRESA COMUNIP por pessoas interessadas em desenvolver e comercializar produtos baseados nessa tecnologia, pois queria um parceiro. Guilherme Balena, também estudante de Engenharia Elétrica da UFMG e conceituado na escola por sua capacidade, aceitou o convite de Erik. “A nossa aposta era de que o VoIP, como o telefone ou o computador, se tornaria comum, seria usado por todos. Estávamos nos antecipando a uma nova cultura de mercado no setor”, contou Guilherme. Na UFMG, como em muitas instituições de ensino superior brasileiras, a cultura do emprego era ainda muito forte. “Todos queriam se graduar e procurar um emprego, mas eu não queria ficar limitado às metas de uma grande organização”, relembrou Erik. Quando cursava o ensino médio profissionalizante, ele havia trabalhado em empresas e adquirido certa visão de mercado. Na sua família, havia casos de empreendedorismo bem sucedido. “Eu e Guilherme havíamos decidido, abriríamos uma empresa”. Abrindo o negócio Sem idéia do que era ter um negócio próprio, os estudantes procuraram a incubadora do Centro de Inovação Multidisciplinar – CIM, na UFMG. Ali, alguém que viria a ser um importante parceiro os atendeu: Paulo Renato, diretor do CIM. Com o auxílio dele, Erik e Guilherme passaram seis meses estudando a visão do empreendimento, preparando documentos e elaborando um Plano de Negócios. Orientados pelo CIM, os estudantes inscreveram seu projeto no Programa de Apoio Tecnológico Micro e Pequenas Empresas (Patme)3, uma parceria entre o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Governo Federal. O recurso do Programa foi destinado à elaboração do EVTE (Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica) e à construção do protótipo. Com essa verba inicial, Erik e Guilherme criaram a primeira idéia do O Patme, atual Sebraetec, oferece financiamento para projetos de desenvolvimento de novas tecnologias realizados por micro e pequenas empresas. 3 Historia de sucesso - incubadora108 108 26/11/2007 13:11:03 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 109 produto, com dois computadores ligados por rede e um sistema de comunicação rudimentar, nada comercial. Em setembro de 2001, a ComunIP foi criada formalmente e permaneceu incubada no CIM de 2002 a 2003. Nesse tempo, o CIM passava a ser Inova-UFMG e um novo sócio entrava na ComunIP, o mestrando e especialista em codificação de áudio e voz, Fábio Lacerda. Ele contou que “antes do VoIP existir eu já pensava como seria mais fácil ligar via internet, pois gastava R$ 200 por mês para falar com minha família em Fortaleza. Nessa fase inicial, ouvimos muitos nãos: ´o VoIP não dá, o Brasil não tem estrutura`, diziam os professores”. Os empresários participavam de cursos de capacitação, palestras, feiras de tecnologia, tudo para adentrar o universo empreendedor e conhecer melhor o setor em que atuavam. Com o “Skype” sendo lançado oficialmente no País, o mercado brasileiro começava a se abrir para a tecnologia VoIP, inicialmente entre usuários domésticos, ainda em pequena escala. Isso se dava, principalmente, por causa do aumento da oferta de serviços e da popularização da banda larga, pré-requisito para uso do VoIP. Em 2003 e 2004, a Internet via banda larga cresceu 90% ao ano no Brasil, superando a média mundial de 50% ao ano (Fonte: Teleco.com). Conhecendo esse cenário favorável, a ComunIP, com três sócios e vários bolsistas, empenhava-se em desenvolver e fortalecer uma plataforma de transmissão de voz e dados via Internet, que gerasse produtos de qualidade, com interface gráfica agradável e com características próprias. Foi criada, então, a família “Click Voz”, dividida em duas linhas: o “Click Voz Comunicador”, para uso corporativo e uso final, por exemplo, na rede interna de uma empresa; o “Click Voz Call Center”, um sistema de comunicação para atendimento, via Internet. Ambos os sistemas permitiam transmissão de dados e comunicação em tempo real, inclusive de imagem. Nessa época, o negócio sobrevivia basicamente do financiaEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora109 109 26/11/2007 13:11:03 110 EMPRESA COMUNIP mento oferecido por órgãos públicos de fomento, como Sebrae, Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Os sócios não ganhavam nada, todo o dinheiro era direcionado aos bolsistas, equipamentos e produtos. “Quando olho para trás, vejo que o suporte desses órgãos foi fundamental, acertaram muito com a ComunIP ao incentivar uma empresa de base tecnológica”, diz Erik. Sério desafio Às vésperas da graduação na Inova-UFMG, em 2003, a empresa ainda não havia conquistado nenhum cliente e, praticamente, não possuía receita. Vivia do fomento público e de pequenos trabalhos esporádicos. Não havia atividade gerencial, apenas corpo técnico especializado e empenhado em desenvolver a plataforma de tecnologia VoIP. Os jovens empresários receberam então um convite do Instituto Inovação, acelerador de novos negócios, recém fundado por Paulo Renato, em Belo Horizonte. O primeiro caso de aceleração do Instituto seria a ComunIP. A empresa então graduou-se na Inova e, em 2004, instalou-se no Instituto, onde a equipe começaria a aperfeiçoar a formulação dos produtos e a buscar investidores. O Instituto tornava-se sócio da ComunIP, dividindo com ela as funções administrativa e comercial, com seus membros operando em conjunto nos produtos, na gestão e na conquista da clientela, porém, apesar do esforço, o negócio não decolava. Os três sócios buscavam clientes, mas não havia continuidade nos contatos. “Ficávamos sem entender porque a idéia não pegava, não evoluía”, e continua: “fazíamos reuniões e víamos que a coisa não estava dando certo. Perguntávamos se alguém tinha dúvida sobre o futuro do empreendimento. Mas o interessante é que todos continuavam apostando na idéia, apesar dos problemas, ninguém queria desistir” contou Erik. No final de 2004, os três sócios se deparavam com um desafio crucial para a sobrevivência Historia de sucesso - incubadora110 110 26/11/2007 13:11:03 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 111 da empresa dali para frente: conseguir compreender por que uma plataforma de produtos com tecnologia nova e mundialmente promissora não era ainda aceita no mercado. 2005, o ano “D” para a ComunIP Ainda em fins de 2004, a ComunIP, com ajuda do Instituto Inovação, recebeu uma consultoria especializada do MIT (Massachusetts Institute of Technology), centro universitário americano e uma das maiores referências mundiais em tecnologia. A intenção era obter uma orientação qualificada sobre o rumo que a empresa poderia seguir e, também, um olhar externo sobre a inovação tecnológica com que estavam lidando. A equipe do MIT se debruçou sobre a ComunIP durante um mês e, ao final, validou a tecnologia, o caráter inovador do empreendimento e a qualidade dos produtos. Os consultores afirmaram que a tecnologia VoIP possuía grande potencial e que iria “estourar” mundialmente. Segundo os especialistas, o que a ComunIP precisava era de “orientação do mercado”. Como lembra Erik, até então “nós havíamos desenvolvido produtos baseados na nossa perspectiva, a tecnológica, e não na perspectiva de mercado”. A consultoria do MIT foi O primeiro passo para Erik, Guilherme e Fábio compreenderem a crise pela qual o negócio passava, mas ainda não era a solução. Até que, no início de 2005, com o respaldo de uma instituição de peso como o MIT, a ComunIP foi escolhida para receber investimentos do Fundo Novarum, o primeiro fundo brasileiro de investimentos de capital semente, ou seed money, ou seja, um fundo de investidores interessados em empresas nascentes, baseadas em pesquisa e alta tecnologia. Nesse caso, o investidor não recebia garantias de retorno financeiro, mas apostava em um negócio que, se bem sucedido, iria gerar mais lucratividade do que qualquer outra aplicação financeira padrão ou empresa tradicional. Em contrapartida ao investimento, o Fundo tornava-se um dos acionistas do negócio, dividindo os lucros que poderiam surgir. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora111 111 26/11/2007 13:11:03 112 EMPRESA COMUNIP Esse investimento foi o marco de uma nova empresa que teria agora a perspectiva da dinâmica do mercado e a capacidade de se adaptar às suas necessidades. Com o dinheiro obtido junto ao Fundo, a ComunIP iniciou uma grande reestruturação. O primeiro passo foi contratar um gestor executivo com talento e experiência de mercado. Entrava em cena o executivo Ronaldo Barreto, pós-graduado em Marketing pela UFMG e com MBA pela Fundação Dom Cabral. Ele trabalhava em uma muLtInacional de telecomunicações e trazia consigo uma ampla rede de contatos. “Ronaldo também foi empreendedor, porque deixou uma grande corporação e salário alto para vir para a ComunIP”, dizia Erik. Começaram refazendo todo o Planejamento Estratégico e, também, o Plano Comercial e o Financeiro. “Ronaldo dizia: isso não é produto, isso é uma pesquisa acadêmica, se o mercado não aceita, não é produto”, lembrou Fábio. Por isso, Ronaldo aproveitou o resultado da consultoria do MIT e reelaborou a visão da empresa. Erik, que sempre tendeu mais para o lado comercial, trabalhava diretamente com ele. Guilherme Balena tornou-se o Diretor de Tecnologia e Fábio Lacerda, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento. Além disso, a ComunIP agora era uma S/A (Sociedade Anônima), com participação societária aberta. A empresa, apesar de ser pequena, começava a seguir uma linha de gestão corporativa bem mais profissionalizada, com divulgação mais rigorosa de resultados e um Conselho Administrativo formado pelos sócios. Com a experiência de várias tentativas de entrada no mercado e com a vivência de Ronaldo Barreto, os empresários definiram novas estratégias para a ComunIP. Concluíram que a empresa não possuía condições de formatar um produto final para o cliente em função da estrutura física e da equipe reduzida, o que não permitia o atendimento direto ao usuário. Por outro lado, o domínio completo sobre a plataforma tecnológica desenvolvida permitia flexibilidade, agilidade e soluções customizadas, da maneira como o cliente precisava. Desse modo, a melhor linha de ação comercial seria identificar parceiros estratégicos para Historia de sucesso - incubadora112 112 26/11/2007 13:11:03 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 113 produzir soluções e serviços ao usuário final, ou seja, o produto final, diferenciado, seria desenvolvido em conjunto com o parceiro, que chegaria ao cliente final e compartilharia receitas. Esse era o modelo de negócio ideal não só para eles, como também para as grandes organizações, que queriam trabalhar com voz sobre IP no Brasil, mas não dominavam a tecnologia. Um mercado explosivo Naquele momento, ano de 2005, a tecnologia de transmissão de voz sobre IP começava de fato a se expandir no Brasil. Segundo estudo da Teleco, instituição especializada em pesquisas em telecomunicações, o aumento dos provedores de VoIP, a oferta do serviço pelos provedores de Internet tradicionais, tudo isso já estava impactando a receita das operadoras de telecomunicações. O mercado corporativo, responsável por 25% do faturamento das operadoras de telefonia fixa, já se despertava para as vantagens do voz sobre IP no atendimento aos clientes e na comunicação interna. Conforme pesquisa de outra instituição, a IDC Brasil, para 2005, as empresas brasileiras usuárias de tecnologia já colocavam o VoIP como prioridade de investimentos naquele ano – num percentual de 61% a mais do que em relação a 20044. Também, em 2005, o número de conexões rápidas (banda larga) no País já chegava a quatro milhões, segundo pesquisa da IDC Brasil e da Teleco. O Brasil já estava entre os quinze primeiros países em conexões banda larga no mundo. As grandes operadoras atuantes, como Telefônica, Telemar, Embratel, Brasil Telecom, precisavam se adiantar ao avanço tecnológico que se iniciava e oferecer também serviços de VoIP aos clientes domésticos e corporativos. A tecnologia podia ser associada a outros serviços, como e-mail, telefones fixos e móveis, envio de dados e arquivos, um mundo de opções e de serviços a explorar. Em 2005 e 2006, fusões empresariais entre operadoras, 4 IDC Brasil, “Brazil VoIP and its Impact on Communications Industry 2005”. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora113 113 26/11/2007 13:11:04 114 EMPRESA COMUNIP provedores de Internet, empresas de TV a cabo e VoIP ocorreram, estimuladas pela realidade da “convergência tecnológica”. A versatilidade do VoIP era determinante para isso: podia ser usado de qualquer computador ou celular com acesso à Internet, permitia a troca instantânea de dados, sons e imagens, oferecia inúmeras possibilidades de colaboração, integração de sistemas, apresentações e reuniões, acesso a e-mail etc., com um nível de interação multimídia e dinamismo muito maior, em relação às formas convencionais de comunicação à distância, mesmo tratando de Internet e telefonia móvel. Sabendo disso, a ComunIP determinou outra estratégia: seu foco não seria mais Voz sobre IP, mas, sim, a transmissão de mídia em tempo real, via Internet (IP). Com a plataforma criada, seria possível unir o mundo das telecomunicações com o da tecnologia da informação (Internet, redes, softwares etc). Ainda em 2005, a ComunIP participou de uma seleção realizada pela Brasil Telecom – IG (Internet Group), interessada em conhecer e testar produtos baseados na tecnologia VoIP. A ComunIP apresentava o produto “Click Voz Comunicador”, porém com nova estratégia mercadológica e grande capacidade de customização, como o cliente queria. “Naquele momento, a força e a energia da equipe foi algo sensacional, todos trabalharam muito para conquistar esse primeiro cliente, tínhamos que acertar”, contou Ronaldo, que mais tarde se tornaria sócio da ComunIP. O produto passou por todas as etapas de seleção, mas o diferencial da ComunIP era a versatilidade e a rapidez, ou seja, a capacidade de desenvolver-se e de se adaptar ao que o cliente queria, em tempo hábil. Essa capacidade, para Erik, vinha do profundo domínio da plataforma tecnológica. As outras empresas não possuíam isso, por utilizarem tecnologia importada, criada por terceiros. Os anos que passaram mergulhados no desenvolvimento tecnológico, preparando algo próprio, agora se revelavam uma grande vantagem competitiva. Historia de sucesso - incubadora114 114 26/11/2007 13:11:04 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 115 Esse foi o primeiro grande cliente da ComunIP. Da parceria, surgiu o Lig, comunicador instantâneo do IG (Internet Group), que realizava ligações Internet-internet ou Internet – telefone fixo. Desde então, o IG sempre contratava a ComunIP para desenvolver novas funcionalidades para a plataforma VoIP. A ComunIP vem conquistando uma carteira de clientes e parceiros importantes, com produtos utilizados em toda a região Sudeste e em Brasília. Em 2006, foi convidada para apresentar seu estudo de caso no Minastec, Feira Anual de Tecnologia, promovida pelo Sebrae Minas. A repercussão da “virada” foi grande. De 2005 para 2006, a ComunIP dobrou o número de projetos em desenvolvimento e aumentou em vinte vezes seu faturamento. A equipe também cresceu, passando de sete empregados em 2005 para doze no ano seguinte, chegando a vinte e dois em julho de 2007. No mesmo mês, a ComunIP firmou parceria com outra gigante do setor: a Global IP Soluctions, multinacional sueca fornecedora de tecnologia para sistemas de VoIP como Google Talk e Skype. Novos horizontes digitais Para os sócios, foi consenso: a história da empresa tem dois momentos. O primeiro, quando a ComunIP era voltada para pesquisa e desenvolvimento. O segundo, quando a ComunIP passa a ter foco no mercado. Relembrando aqueles tempos difíceis, Erik extraiu uma lição útil para toda empresa de base tecnológica: “não adiantava ter a melhor tecnologia, era preciso entender o mercado”. Para ele, “quem definia o desenvolvimento da empresa era o mercado”. O principal erro dos primeiros anos foi constituir uma equipe eminentemente técnica que, apesar de ser visionária quanto ao potencial tecnológico, não estava preparada para atuar em um setor emergente e bastante competitivo. Foi preciso tempo para desenvolver a tecnologia e também para conhecer, por meio de erros e acertos, quais eram os clientes potenciais da empresa e o que eles precisavam, mas o grande acerto veio a tempo: a complementação da equipe por um profissional experiente e capacitado, disposto a investir na empresa. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora115 115 26/11/2007 13:11:04 116 EMPRESA COMUNIP Para os fundadores da ComunIP, a parceria com o Intituto Inovação e Fundo Novarum e a vinda de Ronaldo Barreto para o grupo foram fundamentais para a reorientação ao mercado que o negócio tanto pedia. Uma rede de relações importante e ampla, fator relevante para qualquer negócio, só surgiu a partir dos contatos de Ronaldo e do Fundo Novarum. Outro recado importante dessa história diz respeito ao investimento de terceiros. “Não dá para esconder a tecnologia. Nós divulgamos aos sete cantos e deu certo”, afirmou Guilherme. Em certo momento, o fomento inicial do poder público já não era suficiente; a empresa precisava crescer e acessar o mercado, pois, sem isso, o próprio investimento público teria sido em vão. Por isso, é importante destacar a importância de procurar parceiros e investidores que poderiam, de fato, “acelerar” a empresa. As previsões dos três empreendedores se confirmaram: em 2006, o mercado de negócios em VoIP já apresentava um faturamento de R$ 900 milhões5 em todo o mundo. O grande nicho eram as empresas interessadas em diminuir custos com telefonia e comunicação interna. Até 2011, a previsão seria de que o número de linhas VoIP cresceria a uma taxa anual de 87,5%, sendo que o Brasil responderia a 49% do faturamento na América Latina6. O Brasil possuía, até abril de 2007, dez milhões de usuários de Internet via banda larga, segundo a revista Forbes. Mesmo após essa grande “virada”, a ComunIP, com toda a sua capacidade tecnológica, esperava expandir mais seu horizonte. Seus empreendedores não perderiam tempo e mostrariam mais uma vez estar de olho no futuro: no início de 2007, a empresa foi aprovada no Programa de Subvenção da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, do Governo Federal) para desenvolver uma plataforma para IPTV (televisão via protocolo de Internet), em 5 Fonte: Frost & Sullivan; IDC Latin; In-Stat; Infonetics; Teleco.com.br; CallCenter.inf; ITU Telecommunications; Thomas Weisel Partners – Dados da ComunIP. 6 Segundo pesquisa mundial da Consultoria Frost & Sullivan, publicada em 2007. Historia de sucesso - incubadora116 116 26/11/2007 13:11:04 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 117 parceria com universidades e centros de pesquisa. Para Erik, “a forma como vemos televisão caminha para uma grande mudança, com maior interatividade e recursos, e isso passa pela Internet”. Esse fato ocorreu em um momento muito oportuno, quando o Brasil já havia iniciado os primeiros passos rumo à implantação da TV Digital. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Após análise do caso apresentado, liste os pontos fortes e fracos da ComunIP para enfrentar o mercado de Voz sobre IP (VoIP). 2. Os empreendedores, Erik, Guilherme e Fábio, adotaram uma série de medidas para solucionar a crise da empresa. Para você, qual foi o passo fundamental para a “virada” da ComunIP? 3. Que outras medidas você adotaria, caso não obtivesse o financiamento de um fundo de capital semente? Qual seria a saída, na sua opinião? 4. Qual é a importância de agentes de fomento públicos (como Finep, Fapemig, Sebrae) e privados (bancos, investidores), para pequenas empresas inovadoras? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DOLABELA, Fernando. Oficina do Empreendedor. São Paulo: Cultura Editores Assoc., 1999. IDC Brasil, “Brazil Voip and its Impact on Communications Industry 2005” – www.idcbrasil.com.br Portal Skype – www.skype.com.br Revista Eletrônica IDG Now! – www.idgnow.uol.com.br Revista ComputerWorld Online – www.computerworld.uol.com.br Teleco Informações em Telecomunicações – www.teleco.com.br. Portal Sebrae MInas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora117 117 26/11/2007 13:11:04 Historia de sucesso - incubadora118 118 26/11/2007 13:11:04 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 119 FOCANDO CLIENTES E OPORTUNIDADES Empresa: EXSTO Incubadora: PROINTEC Autoria: Georgia Utsch Tutoria: Cacilda N. L. Thusek Introdução Santa Rita do Sapucaí, localizada ao sul de Minas Gerais, é uma pequena cidade com 38.821 habitantes. Quem chega pela primeira vez ao município não imagina que o local de ruas pacíficas e nostálgicas é também o mais avançado pólo da indústria eletrônica, de telecomunicações e de informática do país, possuindo 115 empresas de alta tecnologia, a maioria de pequeno porte. Nesse ambiente, propício para empreendedorismo e inovação, está a Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa (ETE FMC), o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e duas incubadoras de empresas: a do Inatel e a Prointec (Programa Municipal de Incubação de Empresas). Morador de Santa Rita do Sapucaí, o engenheiro César Moreira Alckmin, 25 anos, veio de uma família de empreendedores e, desde novo, já pensava em ter seu próprio negócio. Em 2003, surgiu a oportunidade quando foi convidado junto ao colega de classe do Inatel, Ricardo Augusto Braga, a partilhar sociedade em um empreendimento. Assim, tornou-se sócio da Exsto Tecnologia Ltda, empresa que atuava com prestação de serviços e produção de kits didáticos. Quando chegou à empresa, César percebeu que embora a Exsto estivesse incubada na Prointec recebendo suporte gerencial e técnico, os sócios não possuíam recursos financeiros para fazerem investimentos e fabricavam apenas um único produto. Além disso, a estrutura física era mínima e os impedia de contratar outros profissionais qualificados. *Colaboração: Mônica Cristina Rodrigues da Silva EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora119 119 26/11/2007 13:11:04 120 EMPRESA EXSTO Dentro desse contexto, em 2003, César queria que a empresa se expandisse para conquistar uma posição sólida no mercado. O desafio era buscar alternativas para diversificar a produção e aumentar as vendas, de forma que a Exsto pudesse competir com as empresas concorrentes, permanecer e se consolidar no mercado. Perfil de empreendedor César Alckmin sempre quis ter seu próprio negócio. Pertencia a uma família de empreendedores que tinha os mesmos ancestrais de Luzia Rennó Moreira, ou simplesmente, sinhá Moreira, como era mais conhecida na região. Filha do coronel Francisco Moreira da Costa, um dos fundadores do Banco da Lavoura, e sobrinha de Delfim Moreira, que governou Minas Gerais e foi Presidente da República nos anos 1918 e 1919, a embaixatriz Sinhá Moreira morou no Japão na década de 30. Ao retornar ao Brasil e à Santa Rita do Sapucaí, Sinhá Moreira implantou, em 1959, a primeira escola técnica do Brasil e da América Latina, a ETE. Pioneira, ela mudou de forma definitiva a política de desenvolvimento do município. César acreditava que pertencer a uma família com sólida cultura de empreendedorismo havia colaborado para moldar o seu perfil. “Meu pai é empreendedor, meus avôs, paternos e maternos, também, assim como outros membros da família. Então, tive uma formação diferente. Sempre me interessei por essa área”, afirmou. Em 2000, no ano posterior à sua formatura no Curso Técnico de Eletrônica da ETE, César foi para Londres, onde permaneceu durante três meses estudando inglês. Ao retornar da Europa, ainda naquele ano, César, que já falava inglês razoavelmente bem, ajudou um amigo de seu pai, norte americano, na negociação para a compra de terras na região da Bahia. Como intérprete, César participou de várias negociações. Quando o americano fechou a compra da fazenda, recompensou César com uma comissão de cerca de três mil dólares (aproximadamente dez mil reais, na época). Historia de sucesso - incubadora120 120 26/11/2007 13:11:04 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 121 Em 2001, César ingressou no curso de Engenharia de Telecomunicações do Inatel e, no ano seguinte, começou a trabalhar como estagiário no CICT (Centro de Informação Científica e Tecnológica) do Inatel. Nesse estágio, ele teve um breve contato com a área empresarial e acadêmica. “Permaneci no estágio durante um ano. Foi uma experiência boa, mas não me sentia muito motivado”, explicou ele. Saiu do estágio diretamente para fazer parte da sociedade na Exsto Tecnologia Ltda, em 2003. O início da empresa: idéia e implementação Foi durante um trabalho de conclusão de curso, em 1999, que os então estudantes da Escola Técnica de Santa Rita do Sapucaí, José Domingos e Paulo Siécola, perceberam a dificuldade ao acesso a ferramentas educacionais importadas, no processo de ensino de algumas escolas e no desenvolvimento tecnológico de determinadas empresas. Iniciava-se aí a visão de mercado que, mais tarde, definiria o segmento da Exsto Tecnologia. No ano seguinte, José Domingos foi atuar ao lado do amigo Paulo Siécola na área de criação de projetos da ETE. Em 2001, quando o Programa Municipal de Incubação de Empresas, Prointec, criado e mantido pela Prefeitura de Santa Rita do Sapucaí, abriu um novo edital, os sócios tiveram a idéia de criar uma empresa. Desenvolveram um projeto e apresentaram o plano de negócios. “O processo de seleção da Incubadora foi uma experiência nova, pois estávamos acostumados a tratar principalmente de questões técnicas. A elaboração do Plano de Negócios nos levou a pensar em diversos desafios a serem vencidos,” lembrou José Domingos. Com a aprovação do projeto, começaram a desenvolver os produtos. Trabalharam um ano na fabricação de plataformas educacionais destinadas a instituições de pesquisa e empresas que utilizavam eletrônica em suas atividades, usando a tecnologia de microcontroladores PIC. Em 2001, os sócios ingressaram no curso de Engenharia de Telecomunicações do Inatel. Foi na graduaEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora121 121 26/11/2007 13:11:05 122 EMPRESA EXSTO ção que tiveram contato com dois ex-alunos da ETE: César Alckmin e Ricardo Braga. Os quatro desenvolveram um projeto para a Feira Tecnológica do Inatel (Fetin), em 2002. O primeiro lugar obtido com o trabalho motivou José Domingos e Paulo Siécola a convidarem César e Ricardo para participarem da sociedade na Exsto Tecnologia LTDA. No ano seguinte, aos 22 anos, César Alckmin resolveu ingressar no empreendimento. Juntou todo o capital que possuía, os R$ 10.000,00 (dez mil reais) que havia recebido como comissão do americano. “Minha principal motivação foi criar algo novo a partir do meu esforço. Queria que minha vida fosse direcionada pelas minhas escolhas e não por escolhas de terceiros, como ocorrem em empregos formais”, revelou ele. Sem medo de arriscar Entusiasmado com o novo desafio, César entrou como sócio do empreendimento para fazer todo o trabalho administrativo e comercial. Ele já havia tido uma breve experiência na área administrativa adquirida em 2000, quando fez estágio em uma empresa fabricante de transmissor de televisão. O outro sócio, Ricardo, foi atuar com suporte na área de produção. Logo que chegou, César percebeu dificuldades do novo empreendimento, como uma estrutura reduzida, que contava com os sócios e dois estagiários, e a produção de apenas um produto na linha educacional destinado a escolas, universidades e centros de pesquisa. Ciente da importância de adquirir conhecimentos e aproveitar todas as oportunidades, César participou de vários eventos e cursos que eram oferecidos pela Incubadora, como Qualidade Total (Iso 9000), Empretec, Técnicas de Negociação de Vendas, Excelência em Vendas, Rodada de Negócios, Apuração do Lucro e Formação do Preço de Venda, entre outros. Sem nunca ter trabalhado na área comercial, ele percebeu que a comercialização era decisiva para o crescimento da empresa. Fez Historia de sucesso - incubadora122 122 26/11/2007 13:11:05 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 123 seus primeiros contatos comerciais através do telefone, utilizando uma lista que encontrou na internet; entretanto, não teve sucesso. Dessa forma, ele optou por fazer as vendas pessoalmente, apresentando os produtos em escolas e empresas localizadas em cidades da região. Após um mês viajando a trabalho, César vendeu o valor equivalente ao que a empresa havia comercializado durante o período de um ano, mas a empreitada exigiu sacrifícios. “Para ser sincero, fui com muito medo de não dar certo porque era minha obrigação vender, mas nunca me desanimei. Dormia na casa de amigos para não gastar dinheiro. Muitas vezes, saía de madrugada para visitar escolas e não era atendido. Sem ter programado nada, ia a outros locais e, às vezes, dava certo. Tinha sempre em mente que não existia impeditivo para quem tem força de vontade”, enfatizou César Alckmin. Através do contato direto com os clientes, César percebeu as demandas e o que precisava ser aperfeiçoado ou melhorado no produto. Ele notou que o produto estava frágil para ser utilizado em escolas. Com suas observações, a Exsto aperfeiçoou o produto para ficar mais robusto e ainda lançou mais dois produtos na linha educacional. Como não tinham capital para investir, a Exsto fazia trabalhos externos para outras empresas. Era difícil para os empresários manter uma equipe profissional qualificada, capaz de gerar bons produtos. O dinheiro que ganhavam com a prestação de serviço era utilizado para pagar os custos fixos e a equipe e, quando sobrava, aplicavam na fabricação de novos produtos. “No início não tínhamos uma área comercial formada e não conseguíamos muitas vendas. Sempre fizemos trabalho externo para as empresas, pois nossa equipe de engenharia era muito cara. Fazer esses trabalhos foi a forma encontrada para bancar a equipe e, quando havia tempo, eles produziam também” contou César Alckmin. Os sócios tinham de pensar em uma estratégia para ampliar as vendas de seus produtos. Essa ampliação seria o melhor modo EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora123 123 26/11/2007 13:11:05 124 EMPRESA EXSTO de conseguir mais recursos para o investimento na empresa. Assim, em 2003, eles tinham um grande desafio: como conseguiriam expandir a empresa e conquistar uma posição sólida no mercado? Que alternativas buscariam para diversificar a produção e aumentar as vendas? De que forma a Exsto competiria com empresas concorrentes e se consolidaria comercialmente? Focando no Cliente Por serem desconhecidos no mercado, nas visitas que César Alckmin realizava, utilizava, a favor da Exsto, o fato de serem incubados. “Embora muitos não soubessem o que era uma incubadora de empresas, os que conheciam a iniciativa achavam bastante positiva. Era uma forma de dar credibilidade à Exsto”, explicou César. Os sócios compreenderam também que teriam de pensar em um diferencial para os produtos. César aproveitava o contato com os clientes para verificar suas necessidades e, ao retornar para a empresa, colocava em prática o que tinha ouvido e observado, ou seja, efetuava melhorias e estudava as carências do mercado. O principal produto da empresa, naquele momento, apresentavase na forma de placas de circuito impresso sem proteção, ideal para utilização por engenheiros para o uso em bancadas. Contudo, para usá-lo em um ambiente escolar, era necessária a criação de uma caixa em metal e acrílico que protegesse o produto e, ao mesmo tempo, permitisse contato visual do aluno com os componentes eletrônicos que o compunham. Essa alteração foi sugerida por professores do Senai, que se interessaram pelo produto, mas percebiam sua fragilidade para a utilização em escolas. Com a alteração, o produto teve grande aceitação e passou a ser comercializado para várias unidades da Rede Senai espalhadas por todo o Brasil. Além disto, os sócios iniciaram uma prestação de serviços aos usuários dos seus produtos, dando suporte para sua utilização. Historia de sucesso - incubadora124 124 26/11/2007 13:11:05 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 125 No final de 2003, o sócio Paulo Siécola decidiu sair da empresa por motivos pessoais. Ainda naquele ano, a Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Minas Gerais) lançou o edital Promitec. Sem experiência anterior nesse tipo de concorrência, César decidiu arriscar, embora não acreditasse muito na conquista. Para sua surpresa, a Exsto foi aprovada. A quantia recebida foi investida na compra de dois computadores, um Osciloscópio (equipamento de medição de bancada) e uma bolsa para pagar um dos funcionários. O edital acabou se transformando também em um novo produto educacional chamado HT3000, que se tratava de um gravador de microcontroladores de baixo custo da linha Holtek. Em julho de 2004, após três anos de incubação, a Exsto pôde, finalmente, graduar-se, pois era uma empresa em funcionamento que vendia mil unidades anuais de seus produtos, educacionais e de desenvolvimento, e possuía algum capital reservado. Além disso, o empreendimento começava a ficar conhecido na área de prestação de serviços e desenvolvimento de produtos sob encomenda. Logo que saíram da incubadora, aconteceu um fato que marcou a trajetória da Exsto. Em agosto desse ano, os sócios foram procurados por um empresário de Ribeirão Preto (SP) que havia conhecido a empresa por meio de pesquisas na internet. O cliente apresentou a proposta: gostaria que fosse desenvolvido um produto que converteria veículos originais à gasolina em flex bi-combustíveis (álcool e gasolina). Bastante entusiasmados, os empresários viram que produzir o conversor seria possível, pois estava dentro da tecnologia que dominavam. Além do mais, o produto venderia bastante. Na época, tudo convergia a favor dos sócios: com o preço do álcool em baixa, a procura por conversores bi-combustíveis era muito grande. Logo depois, a Fapemig lançou um novo edital. César decidiu concorrer com o mesmo produto que estava fabricando para o empreEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora125 125 26/11/2007 13:11:05 126 EMPRESA EXSTO sário de Ribeirão Preto, porém com o diferencial de um conversor tri-combustível (gasolina, álcool e gás natural). Para saber se o projeto seria viável, César visitou várias oficinas e conversou com diversos profissionais. O produto seria totalmente inédito, uma vez que só existiam conversores de bi-combustível. Paralelamente, a Exsto seguiu produzindo quinhentas peças do produto encomendado pelo cliente, gastando R$100.000,00 (cem mil reais). Metade desse dinheiro foi obtido por meio de empréstimo. O que eles não imaginavam era que, após entregarem todas as peças, em novembro daquele ano, não receberiam o pagamento pelos produtos entregues. O golpe deixou os empresários muito desanimados. O que eles produziram nos seis meses seguintes (até junho de 2005) foi para repor o que haviam gastado. Meses depois, a Exsto recebeu somente parte do pagamento, tendo o cliente alegado que as vendas haviam caído em virtude da entressafra da cana-de-açúcar – o que significa aumento do preço do álcool – e, por esse motivo, não teria como arcar com o compromisso assumido. “Foi um momento difícil; imagine uma empresa pequena perder todo o capital que tinha acumulado até então? Sem contar o empréstimo que fizemos. Cheguei a pensar em desistir, mas tinha de honrar os compromissos feitos. Além disso, não queria sair do empreendedorismo. Sinto-me realizado trabalhando em um negócio meu. Quando se abre uma empresa, assume-se um risco”, disse César Alckmin. Ainda abalados, os empresários receberam uma notícia que deu novo fôlego à Exsto. Mais uma vez, a empresa foi bem sucedida, ganhando, pela segunda vez, o prêmio oferecido pelo edital da Fapemig (PAPPE/ Primeira Chamada). Dessa forma, eles puderam trabalhar no projeto do conversor tri-combustível, sem correr os riscos anteriores. O segundo semestre desse ano também não foi fácil para a empresa, porque, embora a Exsto estivesse vendendo bem seus produtos, que representavam 70% da receita total do faturamento da Historia de sucesso - incubadora126 126 26/11/2007 13:11:05 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 127 empresa naquele ano, eles tiveram de trabalhar bastante para recuperar o investimento. Evolução do volume de produtos Principais Produtos % – Exsto Educcional 70% 65% 60% 55% 2004 2005 2006 Fonte: Exsto Tecnologia Ltda, 2007 Aos poucos, a Exsto foi se consolidando e aumentou a fabricação e comercialização de produtos. No ano seguinte, em janeiro de 2006, a Fapemig abriu um novo edital: PAPPE / Segunda Chamada. César não hesitou em voltar das férias para elaborar o projeto. Dessa vez, o produto, ainda em fase de finalização, foi mais segmentado e focado no cliente. Tratava-se de um coletor de dados sem fio para uso em ambiente industrial. A Exsto já tinha clientes que demandavam esse tipo de solução e viu no mercado um segmento não atendido que buscava coletores de baixo custo aliados à transmissão de dados sem fio, usando uma tecnologia inovadora chamada ZigBee. “Vimos que o atendimento personalizado daria mais resultado. Não era possível para uma empresa de nosso porte competir em mercados de grande escala. O maior valor estava na customização, no atendimento à demanda que não era suprida pelas empresas de grande porte”, contou César Alckmin. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora127 127 26/11/2007 13:11:05 128 EMPRESA EXSTO Outro benefício que auxiliou a Exsto foi o edital Sebraetec. Tratava de um recurso do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas) para viabilizar a contrapartida exigida no edital da Fapemig, 20% do valor do projeto. Sem esse recurso, os empresários teriam de fazer novo empréstimo para arcar com a contrapartida. O CNPq1(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) também abriu um edital para complementar, com mão-de-obra, projetos já apoiados por órgãos de fomento. O recurso atendia com exatidão à carência da empresa, já que ela dispunha de recursos para comprar equipamentos, contratar consultorias, mas não para contratar novos funcionários. O apoio dos órgãos de fomento foi decisivo para que alguns produtos e projetos fossem viabilizados de forma mais rápida, contribuindo para a solidificação da empresa. Um outro acontecimento ocorrido nesse ano também foi significativo para a empresa. Foi a decisão tomada pelos sócios de profissionalizar a Exsto, separando as atividades de negócios. Embora funcionassem no mesmo espaço físico, a empresa foi dividida em dois segmentos. A Cedorian era exclusivamente dedicada ao desenvolvimento de soluções tecnológicas (prestação de serviços) e a Exsto foi direcionada ao desenvolvimento de produtos. César Alckmin optou por permanecer como diretor administrativo da Exsto, englobando todos os setores da empresa. Em 2006, a Exsto já se mostrava com um quadro diferente do início do seu processo empresarial. A fabricação de produtos ultrapassou o segmento de prestação de serviços. O número de funcionários também aumentou consideravelmente. 1 Recursos de Órgãos de Fomento Historia de sucesso - incubadora128 128 26/11/2007 13:11:05 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 129 Quadro de Funcionários – Exsto 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 2001 2003 2004 2005 2006 Fonte: Exsto Tecnologia Ltda, 2007 Principais Produtos – Exsto – Prestação de Serviço 40% 30% 20% 10% 0% 2004 2005 2006 Fonte: Exsto Tecnologia Ltda, 2007 Outra marca significativa: o número de produtos lançados. Em 2006, havia 50 produtos da Exsto sendo comercializados, além disso, a Exsto conquistou clientes como as empresas: Usiminas, Volkswagen, Rrdonneley Moore, CTA (Centro Tecnológico da Aeronáutica), Rexan, Hoken International Company e escolas como: USP, Unicamp, ITA, UFMG, Rede Senai, Rede Cefet, Centro Paula Souza, Unifei, Unitau, Fundação Bradesco, Faculdades Radial, Unesp, dentre diversas outras. Crescimento do Faturamento – Exsto 40% 9% 2005 2006 Fonte: Exsto Tecnologia Ltda, 2007 EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora129 129 26/11/2007 13:11:06 130 EMPRESA EXSTO Crescimento sustentável A trajetória de sucesso da Exsto, nesses cinco anos, foi definida por César como um aproveitamento de todas as oportunidades. Mesmo nos momentos em que não acreditavam que seria possível obter um resultado positivo, não deixaram de arriscar. César notou que o fato de possuir concorrentes não limitava a empresa, pois o mercado era grande. A conquista se deu através da forma como o empreendimento se posicionava comercialmente. Na opinião de César, não houve nada muito difícil. Os problemas enfrentados pela Exsto foram, em sua maioria, decorrentes da falta de experiência dos jovens sócios em alguns momentos. Exemplificou o calote no final de 2004, em que se deixaram levar pela euforia, esquecendo-se da precaução necessária ao elaborar contratos. Para o empresário, o erro foi achar que poderiam concentrar os esforços em um único cliente. “Nosso engano foi permitir a concentração de risco”, disse ele. Aprenderam, com esse episódio, que o crescimento mais seguro para uma empresa era o de forma sustentável, contínuo, e não aquele que acontece em picos. César acreditou que o grande diferencial foi o fato de dominarem bem a tecnologia que utilizavam, inovarem a fabricação de produtos com design mais moderno, e tratarem os clientes de forma mais pessoal, personalizada, visando aos nichos de mercado em que havia demandas não supridas pelas grandes empresas. Segundo ele, as grandes empresas não estavam interessadas em atender especificidades, pois tinham a intenção de atender volume. A Exsto, ao contrário, pretendeu desenvolver produtos sob encomenda e, assim, conseguiu se consolidar no mercado. Ao mesmo tempo em que focavam atitudes comerciais customizadas, participavam também de todas as oportunidades que surgiam por meio de cursos de capacitação, feiras, seminários. Historia de sucesso - incubadora130 130 26/11/2007 13:11:06 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 131 César afirmou que outro acerto da Exsto foi o fato de ter começado em uma incubadora, que lhe deu suporte, treinamento e contribuiu para que a empresa melhorasse seu potencial de uma maneira mais rápida e sólida. Houve duas ações fundamentais que determinaram o sucesso de sua empresa, segundo César: marketing e inovação. A inovação podia estar ligada à tecnologia, como também à prestação de serviços, de forma a viabilizar o produto. O futuro ainda apresentava novos desafios para a Exsto. Era necessário implementar um processo de qualidade e obter a certificação da ISO 9000. César também tinha a pretensão de fazer uma viagem à Ásia para buscar novas oportunidades de negócios, fornecedores e integração com empresários do setor eletroeletrônico. Queria focar o mercado de compras governamentais para instituições de ensino federais, estaduais e municipais, em que havia carência de produtos de maior valor agregado. Mais um novo dilema surgia para a empresa: a manutenção ou não de um segmento importante para a Exsto, que era o de prestação de serviços e de desenvolvimento de projetos eletrônicos para terceiros. Por um lado, a Exsto não tinha tido qualquer dificuldade em fechar contratos relacionados à prestação de serviços, mas, por outro, a própria natureza desse trabalho era muito incerta. Em muitos casos, na prática, o prazo previsto era dilatado em virtude da complexidade do trabalho, acarretando custos não previstos para o negócio. Por outro lado, na elaboração da proposta, se fosse inserida uma margem alta para reduzir o risco, a empresa perderia competitividade e, portanto, ficaria fora do mercado. Como a Exsto Tecnologia Ltda. continuaria com uma atividade, que era muito promissora, de uma maneira verdadeiramente sustentável, reduzindo os riscos? EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora131 131 26/11/2007 13:11:06 132 EMPRESA EXSTO QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Que estratégias a Exsto adotou para conseguir expandir seu negócio e alcançar uma posição sólida no mercado? 2. Qual o diferencial que a Exsto tinha frente à concorrência? Como utilizou esse diferencial a seu favor? 3. Os empresários levaram um duro golpe ao não receberem pagamento pelo trabalho realizado (conversor de combustível BI) para um empresário de Ribeirão Preto. Que lição aprenderam com o episódio? O que você faria nessa situação? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Exsto. www.exsto.com.br. Cedorian. www.cedorian.com.br. IBGE. www.ibge.gov.br. Inatel. Tecnologia made in Minas Gerais. Santa Rita do Sapucaí abriga o principal pólo de eletrônica e telecomunicações do país. Informativo janeiro/fevereiro de 2007. Portal Sebrae Minas: www.sebraemins.com.br/casosdesucesso PNUD. www.pnud.org.br/idh. Historia de sucesso - incubadora132 132 26/11/2007 13:11:06 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 133 REDIRECIONANDO RUMO AO SUCESSO Empresa; TSDA Incubadora: INATEL Autoria: Patrícia Borges Pinelli Tutoria: Mara Veit Introdução Na tranqüila cidade de Santa Rita do Sapucaí, situada no sul de Minas Gerais, encontra-se o celeiro da inovação e da produção digital do Estado e do país. Nessa pequena e pacata cidade, são criados empreendimentos que rompem fronteiras e conquistam mercados nacionais e internacionais. Foi nesse ambiente empreendedor e na incubadora do Inatel, que o empresário Fernando Garcia Pina, no ano de 2000, iniciou, com entusiasmo e emoção, o seu empreendimento, a TSDA, Tecnologia e Soluções Digitais Aplicadas. Com brilho nos olhos, relembra como, na ocasião, todos os seus sonhos empreendedores pulsavam no seu coração, ao contar sua história. Na trajetória de Fernando, percebe-se que, em todos os momentos de sua vida acadêmica e profissional, ele sempre teve muita disciplina e foco, apesar de não ter imaginado, na fase inicial, que seria dono de seu próprio negócio, mas tinha algumas certezas de crescimento profissional, pois carregava consigo o desejo por desafiar o desconhecido. Durante os anos em que cursou a faculdade de Engenharia Elétrica, no Instituto Nacional de Telecomunicações – Inatel, no período de 1998 a 2003, Fernando procurava participar, anualmente, da Feira Tecnologia do Inatel – FETIN. Vencer como o melhor, dentre a diversidade de projetos apresentados, já era parte da sua trajetória profissional, tendo em vista sua forte habilidade técnica no desenvolvimento de projetos de equipamentos eletrônicos. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora133 133 26/11/2007 13:11:06 134 EMPRESA; TSDA Foi no ano 2000 que a oportunidade apareceu, aliada ao convite do irmão e ao ambiente local favorável para o empreendedorismo. Isso despertou no jovem estudante o interesse por ser empresário. No entanto, não dispunha de capital para iniciar sua trajetória empresarial e realizar o sonho de fabricar soluções de telemetria para emissoras de televisão. Fernando, seu irmão Fábio Garcia Pina e o amigo Ulisses Barreto, atuais sócios, trabalhavam durante o dia como funcionários de empresas de telecomunicações na região e, nas horas vagas, atendiam a demanda de outras empresas para desenvolvimento de projetos específicos de novas tecnologias. Em julho de 2001, a empresa informal foi legalmente constituída quando ingressaram, como incubados, na Incubadora de Empresas do Inatel. Os clientes aumentaram e já havia uma ampla carteira estabelecida em diferentes segmentos de mercado. Essa situação positiva tornava a empresa financeiramente estável, pois, atuando em diversos setores, conseguiam contornar a sazonalidade de um ou outro nicho, tendo uma posição estabilizada no mercado e no atendimento aos clientes. Entretanto, os empresários não tiravam da mente que o objetivo pelo qual haviam iniciado a prestação de serviços na incubadora era de apenas levantar recursos para o desenvolvimento e fabricação do produto em que realmente acreditavam e para o qual haviam criado a empresa. Não sabiam, no entanto, o melhor momento de parar com os serviços prestados aos clientes já conquistados, pois todo o negócio girava em torno desses projetos financeiramente rentáveis. No início do ano 2005, tiveram um momento de análise do negócio e surgiu, de forma clara para os sócios, a certeza de que estavam se dispersando e se afastando do objetivo inicial e principal do empreendimento. Haviam perdido o foco do nicho de mercado, daquilo em que realmente acreditavam como tendência de crescimento e que, efetivamente, traria o sucesso para a empresa. Historia de sucesso - incubadora134 134 26/11/2007 13:11:06 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 135 As indagações dos empresários começaram a surgir, muitas vezes sem encontrar as melhores respostas. Por onde deveriam iniciar as mudanças necessárias para retomar o foco principal? Quais estratégias precisariam ser desenvolvidas? Quais departamentos da empresa seriam mais impactados? Como buscar novos clientes? Como manter a empresa auto-sustentável em um novo modelo de negócio? Como não ter impacto nas finanças e capital para desenvolver o produto principal? Correram, então, o risco de mudar... Mas que rumo tomar, sendo que, durante quatro anos, a empresa havia se estabelecido com êxito, tendo conquistado uma ampla carteira de clientes? O vale da eletrônica Santa Rita do Sapucaí teve sua história marcada por uma visionária, a aristocrata Luzia Rennó Moreira, conhecida com Sinhá Moreira que, nos anos de 1930, morou no Japão e, ao retornar ao Brasil, idealizou implantar, em sua cidade, uma escola profissionalizante em eletrônica. Em 1958, com o apoio de seu amigo, o então presidente Juscelino Kubitschek, concretizou-se a Escola Técnica em Eletrônica Francisco Moreira da Costa, pioneira na área e, por alguns anos, a única fornecedora de mão de obra especializada em eletrônica do país. Continuando o crescimento, implantaram-se outras duas entidades tecnológicas de nível superior, o Instituto Nacional de Telecomunicações – Inatel, fundado em 1965, e a Faculdade de Administração – FAI, em 1971. Com tanto potencial tecnológico e empreendedor, tornou-se inevitável, nos anos de 1980, a criação de incubadoras de empresas, onde se abrigam empresas nascentes, com potencial tecnológico e econômico, porém que necessitam de apoio para seu desenvolvimento e sustentabilidade. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora135 135 26/11/2007 13:11:06 136 EMPRESA; TSDA A combinação entre escolas, incubadoras e parceiros das esferas públicas e privadas, transformou uma cidade com vocação puramente agropecuária em uma cidade próspera com cento e quinze empresas de alta tecnologia, boa parte originada na própria cidade. A maioria é de pequeno porte e oferece mais de seis mil itens de ponta, dentre eles, sensores eletrônicos, sistemas de automação industrial, componentes para TV a cabo, equipamentos para TV digital, sistemas de segurança entre outros. Para uma cidade pequena, a receita de aproximadamente R$ 700 milhões, por ano, retrata bem o desenvolvimento do pólo tecnológico. A tradicional atividade agropecuária foi mantida e as artes gráficas, indústrias de mecânica fina e têxteis compõem a receita do município. Cerca de sete mil trabalhadores diretos e indiretos são absorvidos, o que representa 40% da população economicamente ativa. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita de Santa Rita do Sapucaí é o mais alto de Minas Gerais, perto de R$ 35 mil. Os serviços públicos estão praticamente universalizados e o analfabetismo é residual. A cidade possui uma grande diversidade de mercados potenciais, graças ao seu parque industrial de base tecnológica. Essa diversidade de mercados potenciais está refletida nos ramos de atividades de suas empresas, considerando-se, inclusive, que 44% delas possuem mercados que não estão dentro das convencionais subdivisões do complexo eletrônico. A imensa gama de mercados reflete a capilaridade do complexo eletrônico; por essa razão, todas as indústrias da economia possuem alguma ligação com as novas tecnologias eletrônicas. O segundo maior mercado das empresas do Vale da Eletrônica é o de telecomunicações (42% das empresas), seguido da automação (26%) e de tecnologias de informação (20%). Historia de sucesso - incubadora136 136 26/11/2007 13:11:06 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 137 De clima úmido, típico de região montanhosa, Santa Rita do Sapucaí tem, em sua história, a marca de um povo religioso e totalmente devoto à santa protetora da cidade. Anualmente, atrai centenas de pessoas de diferentes regiões do país para sua tradicional festa comemorativa de aniversário. O carnaval também é muito bem planejado e organizado pela comunidade e por representantes públicos. A tranqüilidade interiorana cede lugar ao grande número de empresários de grandes centros que, constantemente, visitam a cidade em busca de parcerias comerciais. De estagiário a empresário Nascido na cidade de Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, Fernando Pina, aos 12 anos, mudou-se para Santa Rita do Sapucaí, acompanhando sua mãe que retornava à sua cidade natal. Na família de cinco filhos, é o mais novo, sendo todos os homens com formação em engenharia elétrica e as irmãs, veterinária e engenheira química. Seu pai, já falecido, trabalhava na parte técnica de emissoras de televisão e por sempre ter sido admirador de eletrônica, mantinha, em sua casa, um laboratório, onde, diversas vezes, Fernando, quando criança, queimou sua mão no ferro de solda. Seu irmão mais velho já estudava na Escola Técnica de Eletrônica – ETE, porém, na ocasião, esse fato não era o incentivo para Fernando seguir o mesmo caminho. A falta de opção de escolas tecnológicas na cidade e, principalmente, por obediência à mãe, dona Maria Aparecida, Fernando precisou encarar a única área a que tinha acesso – a eletrônica. Após três anos de estudo na Escola Técnica de Eletrônica – ETE, formou-se em 1998 e, já apaixonado pelo que tinha aprendido, decidiu prosseguir seus estudos. No mesmo ano, iniciou seu curso de Engenharia Elétrica no Instituto Nacional de Telecomunicações – Inatel. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora137 137 26/11/2007 13:11:06 138 EMPRESA; TSDA Como estudante de engenharia, mantinha-se muito disciplinado e dedicado a seus compromissos de aulas, projetos e provas. Com a mente focada e criativa, as idéias surgiam e, com muito entusiasmo, eram projetadas e expostas na Feira Tecnológica do Inatel, evento anual realizado pela instituição, com a finalidade de promover a educação empreendedora e tecnológica. Enquanto Fernando desenvolvia, com dedicação, seus projetos acadêmicos, acompanhava, como mero expectador, atento aos erros e acertos, seu irmão mais velho, Eduardo Garcia Pina, que mantinha, em casa, um negócio próprio de equipamentos eletrônicos. No ano 2000, seu irmão Fábio e um colega de trabalho, Ulisses, estavam envolvidos, diariamente, em suas atividades, como funcionários que lidavam com novas tecnologias e principalmente no convívio com empresários de sucesso. Isso os estimulou e despertou, nos jovens, o espírito empreendedor. Nessa ocasião, baseados em percepção de mercado, visualizaram a oportunidade de desenvolver e de fabricar soluções de telemetria de que tanto as emissoras necessitavam. Foi de forma casual que cogitaram a possibilidade de terem seus próprios negócios. Inicialmente, foi apenas como aventura típica de jovens. Fernando, que trabalhava como estagiário em uma conceituada empresa da cidade, foi convidado a entrar na empreitada. Fascinado pelo desconhecido e confiante em seu potencial de criação, aceitou o desafio, sem vacilar. Esportista apaixonado pelo triatlo e acostumado a enfrentar as competições, Fernando, envolvido pelo ambiente empreendedor típico de Santa Rita do Sapucaí e, também, com total aprovação e confiança da mãe, que sempre estava presente em diversos momentos de sua vida, percebeu que a caminhada seria árdua, desde o início, mas, certamente, traria recompensaria. Ao deparar-se com o momento de decisão de iniciar seu próprio negócio, com o primeiro desafio empresarial, percebeu o tamanho do risco, ao relatar: Historia de sucesso - incubadora138 138 26/11/2007 13:11:06 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 139 “Não tínhamos nem 1 (um) real para iniciar a empresa e nem tão pouco sabíamos se haveria mercado para nossa idéia.” A saída encontrada, em julho de 2001, foi utilizar seu conhecimento tecnológico para prestar serviços que atendiam as necessidades das empresas no desenvolvimento de projetos de novos produtos e, assim, conseguir algum retorno financeiro para sobreviver e caminhar rumo ao desenvolvimento de seu próprio produto. Em paralelo, buscaram apoio na Incubadora de Empresas do Inatel, onde participaram de um rigoroso processo seletivo, tendo concorrido com outras quatro empresas. Passaram na fase de incubação, por um período de capacitação empresarial, através de orientações de consultores especializados e, principalmente, por meio de cursos. Sempre houve, por parte do empresário, muito interesse no aprendizado, pois tinha certeza de ser esse, o caminho para driblar as dificuldades nos assuntos de que não tinha conhecimento e de que tanto necessitava. Segundo o empresário, o fato de estar incubado sempre foi um fator positivo, pois os clientes se sentiam mais seguros e era uma forma de atestar a qualidade da empresa. Seu esforço pessoal foi imprescindível para transformar as idéias inovadoras em soluções que atendiam ao mercado. Crescimento baseado em projetos A TSDA , Tecnologia e Soluções Digitais Aplicadas, foi criada com o compromisso de fornecer soluções modernas e confiáveis para sistemas de telemetria e controle remoto nas mais diversas aplicações. Apesar das inúmeras dificuldades iniciais, a TSDA começou a crescer com suas atividades de prestação de serviços em consultoria técnica e projetos, tornando-se mais vista no meio empreEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora139 139 26/11/2007 13:11:06 140 EMPRESA; TSDA sarial e facilitando a geração de novos contatos, tão importantes em sua etapa de amadurecimento. Foi por indicação do Instituto Nacional de Telecomunicações – Inatel, que conquistaram o primeiro parceiro na área esportiva, como o empresário costumava chamar seus clientes, pois tinham consciência de que esses parceiros eram os que verdadeiramente estavam contribuindo para o aprendizado e pelos recursos financeiros de que tanto necessitavam para investir em seu empreendimento, que caminharia rumo ao objetivo de fabricar equipamento de telemetria para o setor de radiodifusão. Durante o ano 2001, conquistaram clientes também na área ferroviária, em agronegócio, em segurança bancária e em outros setores que necessitavam de projetos. Em seu primeiro ano, a empresa contava com os três sócios e com mais três profissionais, uma secretária, um estagiário e um técnico que auxiliavam nas atividades de desenvolvimento de projetos e atendimento aos clientes. No segundo ano, em 2002, empregavam seis colaboradores e o faturamento havia duplicado. Em seu terceiro ano, completavam-se dez colaboradores, tendo atingido o faturamento três vezes superior ao do primeiro ano. Um ano e meio, após a criação da empresa, em dezembro de 2002, lançaram, com grande satisfação, o primeiro produto de telemetria. O respeito pelos colaboradores da empresa, por suas opiniões, por seu bem-estar, fazia parte da forma de pensar e de agir com a qual Fernando conduzia seus negócios. Ele sempre acreditou ser de fundamental importância uma equipe valorizada, pois sabia que, com essa postura, a equipe estaria motivada e capaz de contribuir com a inovação e competitividade, no mercado. Em 2003, graduaram-se na Incubadora de Empresas do Inatel e precisaram, definitivamente, de encarar uma nova realidade na Historia de sucesso - incubadora140 140 26/11/2007 13:11:07 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 141 2007 qual os custos de operação haveriam de aumentar, o apoio e consultorias provindas da instituição já não fariam mais parte de seu dia a dia. Por estar muito bem preparado e com uma carteira de trinta clientes, o empresário sentiu-se confiante com a transição. Nesse mesmo ano, a empresa foi contemplada com recurso do Sebrae, Projeto Patme, que favoreceu o desenvolvimento em soluções para agronegócios. Durante dois anos consecutivos, já instalados fora do ambiente de incubação, Fernando assumiu o cargo de Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento; Fábio, Diretor Industrial e Ulisses, Diretor Comercial. Bem estruturados e com os ideais alinhados, conseguiam manter o ritmo de crescimento, porém sentiam que estavam cada vez mais se dispersando de seu objetivo inicial e, portanto, estavam perdendo o foco do mercado que inicialmente visualizaram como o de grande perspectiva de crescimento, no atendimento à carência de soluções adequadas. Sabiam que esse caminho, em determinado momento, poderia ser perigoso para a empresa. De volta ao alvo: telemetria para radiodifusão Fernando estava determinado a efetuar todas as análises e ações necessárias para reestruturar a TSDA frente ao seu propósito maior. Cabia a ele reforçar a análise no mercado de telemetria, que trata da transferência e utilização de dados provindos de equipamentos remotos, para monitoramento, medição e controle dos mesmos. Suas pesquisas mostraram que, apesar de ainda estar em estágios iniciais, o Brasil é o segundo maior mercado da América Latina e está entre os doze maiores do mundo em números de terminais instalados, oferecendo, portanto, diversas oportunidades de negócio de alta rentabilidade. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora141 141 26/11/2007 13:11:07 142 EMPRESA; TSDA A contratação de aplicações de telemetria crescerá substancialmente até 2010, atingindo a marca de cinco milhões de terminais instalados e produzindo receitas de US$ 200 milhões. Até o final de 2005, aplicações de telemetria estarão gerando receitas significativas para seus provedores de telecomunicações (operadoras), de equipamentos (OEM’s), e integradores de soluções, ao mesmo tempo em que estarão trazendo reduções de custos substanciais às empresas que adotarem tais soluções (clientes). Com a visão empreendedora e a experiência adquirida, Fernando sabia que a inovação estaria em entregar a solução de telemetria para o setor de radiodifusão que se apresentava desprovido de soluções nacionais e, principalmente, de uma cultura de centro de gerenciamento de equipamentos. Tal visão conduziu Fernando para a segunda pesquisa: o mercado de radiodifusão, que compreende a transmissão de sons (radiodifusão sonora) e a transmissão de imagens (televisão), a serem direta e livremente recebidas pelo público, em geral. O setor de radiodifusão é um dos que possuem maior representatividade no Vale da Eletrônica e, nacionalmente, também se encontra em franco dinamismo, mostrando tendência de digitalização e convergência de dados e imagem. Chamava a atenção de Fernando o fato de que, constantemente, Santa Rita do Sapucaí recebia a visita de emissoras de rádio e TV, em busca de fornecedores de equipamentos e soluções. Foi através do acompanhamento desse filão de mercado que os jovens empreendedores resolveram mudar o rumo da empresa. Era necessário recomeçar a trajetória, em busca do caminho que conduzisse para o motivo principal pelo qual abriram a empresa. Momento “tudo ou nada” O período de março a maio de 2005 foi extremamente crítico na gestão da TSDA. Muitas decisões precisaram ser tomadas de ma- Historia de sucesso - incubadora142 142 26/11/2007 13:11:07 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 143 neira rápida e sem que perdessem de vista o equilíbrio e bom senso, características marcantes da personalidade do empresário. Tornou-se necessário um choque de gestão, como denomina Fernando. Esse foi o período mais crucial de transformação da cultura de sua empresa. Como em todos os outros momentos difíceis enfrentados pela empresa e por seus gestores, nesse, em particular, a sincronia dos sócios foi essencial para que a transição acontecesse de forma consistente. Dessa forma, foi acertado que seria tudo ou nada e que todos se dedicariam completamente à nova etapa. A elaboração de um bom plano estratégico e, principalmente, a atitude de perseverar os sonhos foram primordiais para encarar as mudanças. A primeira iniciativa foi avaliar como se apresentavam os números da empresa até aquele momento e identificar, através de um controle afinado, como estava o resultado financeiro de cada uma das linhas de produtos em que atuavam: agronegócio, segurança bancária, esportiva, ferroviária e telemetria. Após diversas análises financeiras, verificaram que a telemetria apresentava-se com resultado mais significativo entre os demais e que toda a estrutura da empresa estava montada para sustentar essa frente de negócio. Além disso, os números também estavam mostrando ser mais próspera. Outra importante ação foi realizar a prospecção do mercado e, para isso, utilizaram os contatos pessoais, pesquisaram em sites da internet especializados na área, participaram de feiras do setor, como a Feira da SET – Sociedade de Engenharia e Televisão e da Abert – Associação Brasileira da Empresas de Rádio e Televisão. De posse de dados técnicos, financeiros e mercadológicos, tiveram condições de realizar uma projeção mais precisa para um prazo de cinco e dez anos e, assim, maximizar as possibilidades de sucesso. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora143 143 26/11/2007 13:11:07 144 EMPRESA; TSDA Para que a estratégia de se direcionar totalmente para o mercado de telemetria para radiodifusão tivesse um resultado satisfatório, era necessário explicar os novos rumos da empresa para a equipe de colaboradores. Através de uma reunião, foram devidamente informados a respeito da importância de todos remarem para o mesmo lado. Foi necessário oferecer capacitação para colaboradores que ocupavam alguns cargos com funções mais específicas. Fernando ilustra: “O barco era o mesmo, porém era importante que todos soubessem a direção para a qual deveriam remar”. Como havia alguns contratos em andamento e, mais importante que esse fato, também existia o respeito pelos clientes e a necessidade de se manter a credibilidade conquistada, iniciaram uma etapa de sincera comunicação e negociação da rescisão de contrato com cada um de seus clientes e parceiros. Não deixar os clientes na mão e ao mesmo tempo partir para o novo rumo da empresa foi um ponto bem pensado e estruturado pela equipe que, conseqüentemente, conseguiu fazer com que a empresa continuasse com sua boa visibilidade e conseguisse manter, também, o relacionamento de amizade conquistado. Houve, por parte dos clientes, total compreensão e apoio. Fernando conta o quanto foi difícil tomar essa atitude e expressa o que sentiu: “No inicio, parecia que estávamos perdendo e, realmente, naquele momento estávamos, mas sabíamos que era necessário se reposicionar para posteriormente ganhar”. Os esforços voltaram-se para a área de desenvolvimento de equipamentos e sistemas com tecnologia de ponta, em que a inovação tecnológica, a eficiência e facilidade de operação eram palavras chave para penetração em um segmento cuja prática era a importação de equipamentos. Melhorias foram implementadas no sistema Zeus de telemetria. O sistema oferece soluções de monitoração remota que aliam Historia de sucesso - incubadora144 144 26/11/2007 13:11:07 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 145 controle, conforto, versatilidade e mobilidade na gerência do patrimônio das empresas, sendo composto pelos softwares Zeus Manager – para gerenciamento remoto, Zeus analyser – para análise gráfica, Zeus web-server – para acesso via Internet e intranet, Zeus scheduler – para agendamento de tarefas, Zeus móbile – para mensagens celulares e pelos equipamentos UR – unidade remota, Zeus eos – unidade manual de acesso e vídeo Spy. Na visão de Fernando e dos demais sócios, foi de suma importância a reformulação de todo o sistema, com o incremento de funcionalidades, melhoria no design e outras particularidades. Só pelo fato de os equipamentos, que até o momento estavam sendo adquiridos pelas redes de TV, serem de fornecimento de outros países, a TSDA, empresa totalmente nacional e com produtos inéditos, identificou que, além do valor técnico dos equipamentos, também sairia na frente apresentando um dos seus diferenciais – o suporte técnico e pós-venda que, por ser nacional, traria agilidade. Por se tratar de um sistema que atua controlando à distância outros equipamentos que atendem à população, o bom e ágil suporte técnico é um fator que pesa muito na hora da decisão do cliente. O nome TSDA tornou-se uma marca forte entre as emissoras de rádio e TV. Isso era perceptível quando, no processo de prospecção de clientes, onde chegavam, eram bem recebidos, e os executivos da área já tinham conhecimento dos equipamentos e das soluções disponíveis. Fernando deixa transparecer sua satisfação quando cita: “Somos uma empresa reconhecida no segmento de radiodifusão. Nossa marca é forte!”. Esse segmento é bastante unido no que diz respeito à infra-estrutura. É comum ver profissionais técnicos, de emissoras diferentes, “trocando figurinhas”, um indicando ao outro, os melhores fornecedores, tirando dúvida de outros colegas de emissoras “concorrentes”, dentre outras trocas de experiências. Enfim, EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora145 145 26/11/2007 13:11:07 146 EMPRESA; TSDA como fornecedor, após ter êxito com um cliente, o aumento de penetração no mercado devido à confiança, torna-se inevitável. Em seu primeiro ano, após a reestruturação, mesmo tendo deixado de atender os nichos anteriormente atendidos, a empresa conseguiu manter o faturamento, o que implica que, em telemetria, ocorreu o aumento de faturamento. Dentre várias ações tomadas após a reestruturação da empresa, tanto na área tecnológica, quanto no design e no pós-venda e na prestação de serviços, a principal inovação tecnológica esteve na capacidade da TSDA de possibilitar uma ampla variedade de meios de comunicação entre a central de gerenciamento e os pontos remotos monitorados. “Nós fomos a primeira empresa a oferecer a conectividade, entregando o sistema completo, pronto para o usuário operar e também fomos a primeira a oferecer a praticidade de monitorar à distância as estações de rádio e TV, por meio de internet e celular, ressaltou o empresário. Durante sua empreitada, foram contemplados com recursos financeiros, na ordem de R$30.000,00, do Programa Sebrae de Consultoria Tecnológica (Sebraetec) os quais foram utilizados na realização do projeto e no pagamento de consultoria para apoio tecnológico. O incentivo foi de grande importância para a TSDA, pois, por não se tratar de um negócio de fabricação em série, mas de alta tecnologia e de soluções customizadas, a demanda e os maiores investimentos giram em torno da contratação de profissionais especializados, como engenheiros e técnicos. O sistema da TSDA possibilitou que, antes mesmo do canal ficar fora do ar, o técnico responsável pelo monitoramento das estações já consegue, de antemão, detectar, por exemplo, a diminuição no sinal de transmissão e, assim, efetuar ações preventivas e corretivas, para que o usuário final não seja prejudicado. A TSDA está disseminando uma nova cultura de operação através de um centro de gerenciamento das redes de rádio e TV, prática comum em outros setores, como de telecomunicações. Historia de sucesso - incubadora146 146 26/11/2007 13:11:07 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 147 2007 O resultado é que as principais emissoras de TV estão substituindo o equipamento similar importado pelo nacional da TSDA, pois, além de menor custo, possui maiores funcionalidades e, principalmente, maior agilidade e qualidade no suporte técnico. Já em 2006, o reflexo da reestruturação pode ser observado no aumento de participação de mercado com sessenta clientes ativos e com evolução do faturamento ilustrada na figura 1, o que confirma que estavam no caminho certo. Figura 1: Faturamento da Empresa Faturamento (R$) 800 000,00 600 000,00 400 000,00 200 000,00 0 2001 2002 2003 2004 Ano 2005 2006 FOCOS NOS RESULTADOS Nos últimos seis anos, durante toda a história empresarial da TSDA, os resultados demonstram que existe a possibilidade de um negócio que iniciou por um jovem empreendedor, ainda em período acadêmico, tornar-se promissor, com muito trabalho e dedicação e, principalmente, persistência, além da visão de realizar as devidas mudanças nos momentos certos. As dificuldades para se construir um bom produto para o mercado potencial do segmento da eletrônica são superadas por meio de muito estudo, pesquisa, busca da tecnologia de ponta e, principalmente, competência para entender as demandas dos clientes. A TSDA tem, em sua história, os resultados satisfatórios de uma empresa que acredita ser o foco um dos principais elementos EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora147 147 26/11/2007 13:11:07 148 EMPRESA; TSDA para estar e permanecer bem posicionado em um mercado em que as rápidas mudanças tecnológicas podem ser aliadas do sucesso ou inimigas dele, caso a empresa deixe de acompanhar as tendências tecnológicas. O mercado para a empresa mostra-se amplo, favorável e, devido a seu tamanho, à sua capilaridade e a suas particularidades, mostra-se pouco explorado. Por esse motivo, a TSDA pretende, em curto prazo, aumentar significativamente sua participação no mercado nacional e internacional. A gestão está voltada para preparar a estrutura da empresa para alçar vôos mais altos e, para isso, seu próximo passo é atingir o sul, norte e nordeste, regiões ainda não penetradas significativamente por ela. Para conquistar o grande mercado, a empresa, por meio de estratégias e de ações, terá de estruturar devidamente sua área comercial, bem como avaliar as políticas adequadas de distribuição. A expansão reflete-se, também, no número de colaboradores da empresa que, até o final do ano 2007, terá dobrado. Com todos os sistemas já implantados em 2006, a empresa tem como meta conquistar, em 2007, o certificado de qualidade total ISO 9001. A utilidade, a exclusividade da tecnologia, bem como as características e funcionalidades inovadoras, associadas à segurança, o adequado suporte técnico e o custo do sistema são vantagens que determinarão sua permanência no mercado e, principalmente, seu crescente sucesso. A TSDA tem o compromisso de ser destaque nos segmentos em que atua. A empresa investe, continuamente, na liderança tecnológica e adota como princípio o compromisso com a excelência cujos resultados são obtidos através da satisfação dos clientes, motivação dos colaboradores e melhoria contínua de seus processos, produtos e serviços. Historia de sucesso - incubadora148 148 26/11/2007 13:11:07 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 149 O momento do despertar a consciência foi decisivo para o grupo e para a transformação da história da TSDA, uma empresa que se apresenta no mercado com um negócio bem sucedido no desenvolvimento, fabricação e comercialização de sistemas de telemetria e monitoramento remoto, para as principais redes de rádio e TV brasileiras, com princípios de bom atendimento ao cliente, obtendo êxito no mercado pela sua competência na criação de produtos inovadores. PONTOS PARA DISCUSSÃO 1. Como a empresa deverá organizar sua área comercial e seus meios de distribuição e suporte técnico, a fim de suportar a expansão territorial? 2. Para a expansão no mercado internacional, qual é o canal de distribuição mais apropriado? 3. Que fatores qualitativos possibilitaram a TSDA se destacar no mercado de telemetria para o segmento de radiodifusão? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS www.fiemg.org.br www.teleco.com.br Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora149 149 26/11/2007 13:11:07 Historia de sucesso - incubadora150 150 26/11/2007 13:11:07 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 151 SINTONIZANDO O SUCESSO Empresa; BIQUAD Incubadora: INATEL Autoria: Oswaldo Francisco Bueno Tutoria: Cacilda N. L. Thusek Introdução Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, está localizada entre os três maiores centros econômicos e comerciais do Brasil – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Possui uma população de 38. 821 habitantes, área de 360 km², localização geográfica privilegiada, num belo recanto, rodeada de montanhas magníficas. Foi uma das regiões que mais se desenvolveram no país. A partir da década de 80, a cidade tomou novos rumos na área tecnológica, criando ambiente para que os alunos ali formados permanecessem com suas idéias e projetos, criando novas indústrias, que passaram a dar o tom do desenvolvimento à cidade, possibilitando que seus jovens ali se empregassem e desenvolvessem suas carreiras profissionais. Após vários Planos que só agravaram a economia brasileira, no ano de 2000, com a virada do século e com a estabilização do Plano Real, o cenário se apresentava propício ao surgimento de novas empresas. Nesse contexto, nasceu a empresa Biquad, no pólo tecnológico conhecido como Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, fruto do programa Incubadora de Empresas do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações) e do interesse de seu fundador, Carlos André Salvador, que, desde criança, gostava de lidar com eletrônica. Dois anos após sua criação, em julho de 2002, surgiu a necessidade de desfazer a sociedade. A empresa se encontrava descaEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora151 151 26/11/2007 13:11:08 152 EMPRESA BIQUAD pitalizada e o período de Incubação no Inatel havia chegado ao fim. Foi preciso que Carlos André pensasse em alternativas para consolidar a empresa no mercado. No princípio foi assim Santa Rita do Sapucaí era conhecida, em Minas Gerais, por sua vanguarda no ramo de eletrônica e de telecomunicações. A semente inicial do Vale da Eletrônica foi plantada pela milionária benemérita “Sinhá Moreira”, que fundou a Escola Técnica de Eletrônica – ETE – em 17 de setembro de 1958, a primeira escola do gênero na América Latina. O Instituto Nacional de Telecomunicações – Inatel – fundado em 1965, era um estabelecimento de ensino superior e de pesquisa, pioneiro no setor de telecomunicações. Ministrava o curso de Engenharia Elétrica com ênfase em Eletrônica e Telecomunicações e Engenharia da Computação. Oferecia, também, pós-graduação e mestrado. A Faculdade de Administração e Informática – FAI, fundada em 1971, também oferecia cursos superiores de Administração, Sistema de Informação, Normal Superior e vários cursos de pós-graduação. Essas três escolas formaram a mão-de-obra da região. Em agosto de 1985, por iniciativa da Prefeitura Municipal, do Inatel e de alguns empresários locais, decidiram criar, em Santa Rita do Sapucaí, um pólo industrial nas áreas de telecomunicação, eletrônica e informática. A partir dessa iniciativa, a prefeitura elaborou um programa oficial de incentivo às indústrias, surgindo, assim, o chamado Vale da Eletrônica. A instalação de várias indústrias que seguiram os ensinamentos das escolas ETE, FAI e Inatel, direcionadas para esses setores, ajudou a consolidar o “Vale”. Em geral, as empresas do Vale da Eletrônica se envolviam em atividades como prestação de diversos serviços, produção de Historia de sucesso - incubadora152 152 26/11/2007 13:11:08 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 153 bens eletrônicos de consumo, desenvolvimento de projetos, fabricação de equipamentos de telecomunicações e fabricação de equipamentos de testes e ferramentas. A cidade era muito acolhedora; lá, estudantes e empresários de diversas regiões do Brasil encontraram o apoio necessário para instalarem suas empresas. Nesse ambiente, nasceu a Biquad, em 2000, mais uma entre dezenas de empresas voltadas para as áreas de eletrônica, telecomunicação e informática. A experiência acumulada de seu fundador em cerca doze anos de pesquisas e trabalhos (dos quais cinco anos como acadêmico) foi fundamental para que a empresa começasse suas atividades desenvolvendo produtos inovadores, com grande diferencial competitivo. A história do empreendedor Carlos André Salvador, André, como preferia ser tratado, filho de José Carlos Salvador e Janete de Lurdes Pádua Salvador, caçula de dois irmãos, nasceu em São Carlos-SP, em 1976, e foi criado em Mococa. Desde criança, era extrovertido e arteiro, dando muito trabalho aos seus pais. Todos os brinquedos que ganhava não duravam muito, principalmente os que tinham eletrônica e funcionavam com pilhas, pois os desmontava para ver e analisar como funcionavam.“Até hoje faço isso com equipamentos de áudio. Foi nessa época que comecei a perceber que, realmente, gostava de eletrônica e agradeço a Deus por mostrar meu caminho bem cedo,” lembrou ele. Aos nove anos, demonstrou sua aptidão para eletrônica ao montar uma maquete de uma casa com palitos de picolé, com motor que movimentava a construção do portão eletrônico. Aos doze anos, começou a freqüentar uma empresa de sonorização de eventos, localizada perto de sua casa. Seu interesse por rádio também começou nessa época, incentivado por um amigo EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora153 153 26/11/2007 13:11:08 154 EMPRESA BIQUAD que tinha uma rádio no fundo do quintal. Lá havia um transmissor de FM que utilizava componentes de uma televisão antiga, valvulada, que foi modificada e virou um transmissor de rádio. Ao conhecer as peças e o funcionamento da rádio, ele encantouse e decidiu que esse seria seu caminho. Começou a sonhar com a construção de uma fábrica de equipamentos de som e de equipamentos para rádio e passou a freqüentar, diariamente, a rádio, trabalhando como operador dos equipamentos. Aos quatorze anos, entrou para a Escola Técnica de Eletrônica. No primeiro ano, recebeu elogios de todos os professores e da diretoria, por seu desempenho nas matérias. No ano seguinte, participou da Feira de Eletrônica da escola e, com a ajuda do seu amigo da rádio, desenvolveu um projeto de uma mesa de som, conquistando o primeiro lugar na feira. Após algum tempo, começou a estudar sobre transmissores de rádio e aprofundou seus conhecimentos técnicos na construção de um transmissor mais arrojado. Segundo ele, “após a conclusão do transmissor mais potente e com melhor definição de som, nós resolvemos mudar a rádio de local e montamos um novo estúdio com novos equipamentos, no fundo da casa da minha avó. Coitada, não teve mais sossego depois disto”. A partir daí, a rádio foi se tornando mais ouvida e mais popular e despertou, inclusive, preocupação na rádio oficial da cidade. Aos dezessete anos, formou-se na Escola Técnica e foi para Ribeirão Preto fazer cursinho preparatório para prestar vestibular. Lá foi convidado pelo dono da rádio oficial da cidade para trabalhar como locutor. Nesse período, realizou melhorias e modificações na emissora, conquistando a confiança do proprietário da rádio. Alentando os sonhos no Inatel Após seis meses de cursinho, passou no vestibular para Engenharia de Telecomunicações – Inatel, em Santa Rita do Sapucaí. Na faculdade, aprofundou ainda mais seus estudos sobre trans- Historia de sucesso - incubadora154 154 26/11/2007 13:11:08 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 155 missores de FM, para que o ouvinte recebesse um som altamente profissional, limpo e bem definido, similar a um CD. Logo no primeiro ano de faculdade, desenvolveu um transmissor mais moderno que aqueles que havia construído anteriormente. Trabalhou, também, como locutor na emissora oficial de Santa Rita do Sapucaí (D2 FM). No 3° ano de faculdade, conheceu um amigo que também era apaixonado por áudio. Resolveram, então, criar uma empresa de processadores de áudio, cujo projeto já havia sido desenvolvido para a sua emissora. Não havia fabricante desse tipo de equipamento no Brasil; os similares eram importados e caríssimos. Montaram a empresa e venderam vários equipamentos, porém surgiram alguns desentendimentos entre eles e a empresa, infelizmente, não evoluiu. Durante o período de faculdade, André apresentou vários projetos de áudio nas feiras de eletrônica da faculdade e foi vencedor três vezes. A grande oportunidade logo surgiu. “Estava prestes a me formar e tive contato com o Sr. Rosalfonso Bortoni, que acabara de chegar para prestar serviços à faculdade no laboratório de pesquisa.” Esse profissional tinha mestrado e estava fazendo doutorado, aprofundando-se em um tema relacionado a áudio: “dimensionamento de estágios de potências para amplificadores de áudio”. Trocaram experiências e conversaram muito, desenvolvendo circuitos na república de André. Estudaram a possibilidade de montar uma empresa para fabricar tais equipamentos, mas havia o problema da inviabilidade financeira. No último período da faculdade, André cursou uma disciplina de Empreendedorismo, coordenada pelo senhor Mário Augusto, também coordenador da Incubadora de Empresas da faculdade. Nessa disciplina, para aprovação, era necessário entregar um plano de negócios de uma empresa fictícia, como trabalho principal. Apresentou ,então, seu plano baseado em dados relativos à empresa que realmente gostaria de montar com o senhor EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora155 155 26/11/2007 13:11:08 156 EMPRESA BIQUAD Rosalfonso. O projeto foi elogiado pelo professor, que sugeriu a apresentação do mesmo para a banca da Incubadora de Empresas da Faculdade. No Vale fértil nasce uma empresa O Plano de Negócios foi vencedor e o prêmio foi uma vaga na incubadora de empresas. Havia, no entanto, o problema financeiro para resolver. Então, o próprio professor Mário Augusto lhe apresentou duas pessoas que tinham interesse em se associar a ele para viabilizar financeiramente a empresa. André tinha acabado de se formar, tinha uma pequena reserva de dinheiro, alguns equipamentos que restaram do estúdio e outros de laboratório, mas não tinha condições de se manter, no primeiro ano de funcionamento da empresa, visto que, ainda, não tinha faturamento. Emocionado, André relembrou: “Fundamos a Biquad (abreviação do termo Bi-Quadrático, equação matemática, amplamente usada em circuitos de áudio) em julho de 2000, entramos com partes iguais em dinheiro.” A empresa funcionou durante um ano com dificuldades. André recebia uma ajuda financeira do seu pai e dos três sócios que tinham outras fontes de renda.Várias vezes pensou em desistir e partir para o mercado de trabalho das redes de telefonia que, na época, estavam em evidência. No segundo ano, a empresa começou a faturar o suficiente para pagar as próprias contas racionadas. Todavia, esse faturamento ainda não era suficiente para o pagamento do seu pró-labore; por essa razão, continuava recebendo ajuda do seu pai. Devido a desentendimentos entre dois dos seus sócios, André teve que fazer uma opção: iria fechar a empresa ou reduziria a sociedade comprando a parte societária do dissidente. No ano seguinte, novamente outros sócios resolveram desistir. Mais uma vez o empresário optou pela compra das partes de cada um, mantendo viva a empresa. Agravou-se ainda mais a situação financeira da empresa. Era um momento delicado para a Biquad. Historia de sucesso - incubadora156 156 26/11/2007 13:11:08 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 157 André se viu sem sócios e com dificuldades financeiras. Precisava encontrar alternativas para estabilizar a empresa, conquistar o mercado e se consolidar nele. Novos tempos, sintonia fina Mais uma vez, André recorreu ao Inatel. “Solicitei uma prorrogação no prazo da Incubadora para me recuperar, pois já haviam se passado dois anos e o tempo de incubação havia vencido.” Assessorado pelo Professor Mário Augusto e pelo novo Coordenador da Incubadora da época, Rogério Abranches, conseguiu a prolongamento do prazo por mais um ano. Foi a primeira providência que tomou, mas ainda era preciso aumentar as vendas e tornar a empresa conhecida. Resolveu, então, participar de uma feira especializada no setor de radiodifusão, em 2002, em Belo Horizonte, como uma estratégia para tornar a empresa mais conhecida e possibilitar ampliação da sua rede de contatos. Lá conheceu um empresário de Miami, que gostou muito dos produtos e efetuou um pedido de compra de sessenta equipamentos. Foi a primeira exportação da Biquad que, assim, iniciava sua expansão para o mercado internacional. Além disso, essa venda minimizou os problemas financeiros da empresa. André, percebendo a necessidade de diversificação de produtos e visualizando a oportunidade de crescimento, solicitou à Incubadora o aluguel de mais uma sala, e contratou novos funcionários para trabalhar na ampliação da linha de produção. As vendas ainda eram limitadas, pois ainda havia poucos produtos em sua linha de comercialização. Resolveu, então, representar outros fabricantes e, para isso, formou parcerias com outras empresas e passou a fornecer também serviços de montagem de rádios, além de todos os equipamentos necessários. Para ampliar as vendas, André criou um novo site e investiu em marketing, participando de feiras e publicando anúncios em reEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora157 157 26/11/2007 13:11:08 158 EMPRESA BIQUAD vistas especializadas. A partir daí, a empresa foi se tornando mais conhecida e as vendas foram crescendo gradativamente. O empresário sempre primou pela busca de novas informações. Somente no ano de 2002, participou de vários cursos, na tentativa de buscar aprimoramento para investir na sua empresa. Esses esforços deram ao empresário o know-how de que tanto precisava e a empresa começou a decolar. Em 2003, alugou um novo prédio e a empresa foi graduada. Aumentou o quadro de funcionários e o faturamento. Durante quatro anos, não lançou novos produtos, focando naqueles que já fabricava. Aumentou a linha de produtos revendidos e desenvolveu novas tecnologias, otimizando o processo de produção. Ao longo de sua trajetória, a Biquad, cujo foco inicial era a fabricação de equipamentos de áudio para emissoras de rádio e televisão, diversificou sua linha de atuação. Alterou seu nome para Biquad Soluções em Broadcast, passou a representar uma ampla linha de equipamentos e prestar serviços especializados, fornecendo soluções completas para profissionais do setor de áudio e radiodifusão. Na linha de produtos comercializados pela empresa, destacavamse: processadores de áudio para AM, FM e TV, links, consoles de áudio, monitores de modulação, transmissores, microfones, fones, acessórios para estúdios, revestimentos acústicos, enfim, todos os equipamentos necessários em um estúdio de áudio, seja ele de AM, FM, TV ou gravação/produção. Entre os serviços prestados pela empresa, encontravam-se: projetos e instalações de estúdios de AM, FM, TV ou gravação/produção, instalações de sistemas irradiantes, sistemas de link, projetos arquitetônicos e acústicos de estúdios e consultorias técnicas para radiodifusores. “A qualidade de nossos produtos estava mais que comprovada. Em 2002, exportamos mais de 40 processadores e 60 híbridas telefônicas para mais de 10 países diferentes, entre eles os EUA, um dos mercados mais exigentes do mundo,” lembrou André. Historia de sucesso - incubadora158 158 26/11/2007 13:11:08 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 159 2007 Tabela 1 Indicadores de evolução da empresa 2002 2003 2004 2005 2006 258.099,92 220.521,33 481.196,20 657.000,07 696.811,13 Faturamento Vol. Exportações Nº. Funcionários 2 3 0 7 6 25273,37 10591,46 3 5 8 10 14 Fonte: BIQUAD, julho de 2007 O quadro acima mostra o crescimento da empresa. Apesar do ano de 2003 ter apresentado um faturamento de 85,4% em relação ao ano anterior, esse fato foi justificado devido à falta de capital e à dissolução da sociedade; entretanto, no ano seguinte, o aumento foi de 218,2%, demonstrando o quanto os cursos, participação em feiras e treinamentos foram importantes para o empresário. Em 2005, a empresa cresceu 136% e, em 2006, o crescimento foi de 106%, retratando a consolidação da Biquad. Durante todos esses anos, o empresário não fez financiamento bancário. Buscou outras orientações em instituições de apoio a pequena empresa, como o Sebrae. Em 2005, fora apoiado pelo Sebratec com R$ 30.000,00 (trinta mil reais) no programa Sebraetec ( Programa Sebrae de Consultoria Tecnológica), que foi utilizado para o desenvolvimento de uma mesa de som, para uso em emissor de rádio e para pagamento de fornecedores de componentes eletrônicos. Da mesma forma, recorreu à Fapemig, em 2006 e lá conseguiu R$180 000,00 (cento e oitenta mil reais). Tal importância possibilitou a criação de Monitor de Modulação Digital, sem similar no mercado. Tais aportes financeiros tornaram possível o desenvolvimento de projetos fundamentais para a consolidação da empresa. A empresa já contava com um corpo técnico altamente qualificado em função da disponibilidade de mão-de-obra competente que existia na região e do treinamento constante da equipe. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora159 159 26/11/2007 13:11:08 EMPRESA BIQUAD 160 FG.SGQ.001-00 Organograma Biquad Figura 1 – Fonte: Biquad – julho de 2007 Direção Qualidade Desenvolvimento Produção Expedição Financeiro Manutenção Suporte em TI Suprimentos Almoxarifado Comercial Recursos Humanos Serviços Gerais O organograma mostra uma empresa enxuta, pois grande parte dos equipamentos e serviços prestados eram terceirizados pelo empresário, gerando indiretamente dezenas de empregos. Sintonizando o futuro Ao analisar sua trajetória profissional , André percebeu que, nos sete anos de existência da empresa, foi acumulando experiências e utilizando estratégias para solucionar os problemas encontrados. Sua fase crítica ocorreu principalmente em 2002, com a dissolução da sociedade. Ele creditou o sucesso da Biquad a suas características: coragem, persistência e competência frente aos desafios do segmento que escolheu. Também reconheceu a importância de parcerias efetuadas com instituições como a Fapemig, Sebrae e Inatel, que foram fundamentais para a concretização das metas estabelecidas. Ressaltou o papel do Inatel, sua incubadora, a quem recorreu nos momentos mais difíceis da empresa, encontrando apoio necessário. Ao pensar nas suas perspectivas futuras, o empresário considerou a análise do contexto externo. De modo geral, as empresas Historia de sucesso - incubadora160 160 26/11/2007 13:11:09 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 161 do Vale da Eletrônica encontraram no mercado interno seu principal mercado consumidor. Para aquelas que atuavam nos mercados externos, o Mercosul era o mais importante, com 32% do volume exportado. Quanto aos mercados externos potenciais, a América do Sul era vista como o mais promissor. Em seguida, encontrava-se a América Central e o Caribe. As cento e vinte empresas de base tecnológica empregavam cerca de oito mil pessoas, direta ou indiretamente, com um faturamento anual de aproximadamente setecentos milhões de reais. A cidade parecia ter encontrado a fórmula exata para o desenvolvimento sustentável, agregando o charme das pequenas cidades brasileiras, com excelente qualidade de vida. André percebeu esse filão, adaptou-se ao dinamismo do mercado, expandiu sua linha de produtos e ampliou seu público-alvo. Pretendia continuar na cidade que o projetou como empresário de sucesso, pois, segundo Rogério Abranches, presidente da RMI (Rede Mineira de Inovação), “até hoje 27 empresas foram graduadas pela incubadora do Inatel e estavam aí cumprindo seu papel sócio-econômico para o qual foram criadas; dessas, nada menos que vinte e duas permaneceram em Santa Rita, ratificando o título de Vale da Eletrônica, impactando a procura pela Incubadora do Inatel.” Projetando-se para o futuro, o empresário André tem como metas lançar cinco novos produtos até o final de 2007 e de sete a dez até o final de 2008, prevendo um aumento de 150 a 200% no faturamento anual da empresa. Quanto às novas instalações, comentou o empresário; “Temos a intenção de mudar para um prédio mais amplo onde possamos aumentar nosso quadro de funcionários e a produção, criar duas unidades distintas de negócio: a Biquad passaria a fabricar e vender somente produtos de fabricação própria, buscando como cliente os distribuidores, revendedores, lojistas e focando nas exportações. A outra empresa, passaria a fornecer as soluções completas, como a Biquad já fazia. Nossa intenção é materializar essa idéia até o final de 2008”. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora161 161 26/11/2007 13:11:09 162 EMPRESA BIQUAD Pensando sempre em melhorar ainda mais a qualidade de seus produtos e serviços, o empresário implantou um Sistema Integrado de Gestão. Contratou também um consultor para preparar a empresa para receber a certificação ISO 9000, que deverá ocorrer em 2008. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. No início, a empresa fabricava seus próprios equipamentos. Com o tempo, utilizou a terceirização para montar projetos e instalações de estúdios de AM, FM e TV. O que levou o empresário a mudar seu foco de ação? 2. Caso o empresário tivesse optado pelo fechamento da empresa, após a dissolução da sociedade, quais seriam suas chances como profissional no mercado de trabalho? 3. O empresário jamais recorreu a empréstimos bancários, apesar da estabilização da economia brasileira. De que forma tal atitude contribuiu para o desempenho de sua empresa? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LÍLIAN, Fontes. Sinhá Moreira: uma mulher à frente do seu tempo. Rio de Janeiro: Gryphus, 2007. www.abcdoturismo.com.br www.biquad.com.br www.fiemg.org.br www.guiasrs.com.br www.inatel.com.br Portal Sebrae MInas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso Historia de sucesso - incubadora162 162 26/11/2007 13:11:09 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 163 ANÁLISES GENÉTICAS: UMA SEMENTE QUE NASCE COM AS EXIGÊNCIAS DO MERCADO Empresa: AGROGENÉTICA Incubadora: CENTEV Autoria: José Geraldo Vidal Vieira Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa Introdução A partir da década de 80, muitos países iniciaram inúmeras pesquisas na área de biotecnologia. Esses estudos foram considerados fonte de crescimento econômico de vários segmentos agroindustriais, como proteção à saúde pública e produção de alimentos que demandavam, constantemente, investimentos. Considerado referência na área de biotecnologia, o Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária (Bioagro), da Universidade Federal de Viçosa (UFV) abrigava vinte e sete diferentes laboratórios e facilidades para pesquisa em biotecnologia, distribuídos entre dez áreas de pesquisa. Uma dessas iniciativas deu origem ao LabGene – Laboratório de Análises Genéticas LTDA. O LabGene, assim como a idéia de se fazer testes de paternidade em humanos a partir de DNA, utilizando a técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), surgiu em 1997, a partir de dois estudantes de doutorado, Marta Fonseca Martins e Marco Antonio Machado, que convidaram seus respectivos orientadores para participarem de um novo empreendimento, porém, somente em 1998, quatro sócios decidiram abrir uma empresa no ramo de biotecnologia que pudesse realizar, também, teste de paternidade de eqüinos, bovinos, suínos, cães, gatos etc, identificação varietal de plantas e detecção de microorganismos patogênicos. A idéia foi desenvolvida na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Federal de Viçosa, em parceria com o EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora163 163 26/11/2007 13:11:09 164 EMPRESA AGROGENÉTICA Bioagro. O LabGene ficou incubado durante sete anos e, nesse período, usufruiu dos benefícios do programa de incubação. Para Marta, uma das fundadoras do LabGene, graduada em Biologia e doutoranda em Genética e Melhoramento na época, gerenciar uma empresa era um desafio, pois nenhum dos sócios tinha formação em administração e pouco conheciam sobre o processo de criação de um empreendimento. A empresa começou as atividades com análise de paternidade de humanos. Esse serviço foi o indutor de grande parte do aprendizado dos empreendedores, porém, a partir de 2000, surgiram obstáculos. O serviço nesse campo se tornou senso comum e era crescente a entrada de novos concorrentes (grandes laboratórios, principalmente). Conseqüentemente, os preços se tornaram menos atraentes. Além disso, havia dificuldade de acesso a novos clientes devido ao sigilo de informações, por ser o mercado muito fechado. Assim, surgia o seguinte desafio a ser superado: como aproveitar o conhecimento dos sócios na área de genética e a experiência acumulada para direcionar a empresa para a conquista de novos mercados? Biotecnologia: da UFV para o mundo Localizada na Zona da Mata Mineira e distante 245 km de Belo Horizonte, a cidade de Viçosa possuía, aproximadamente, 80.000 habitantes segundo a pesquisa de 1998 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O município contava com uma das mais relevantes universidades do Brasil, sendo reconhecida, mundialmente, por ser uma instituição de ensino com alto índice de projetos agroindustriais e de biotecnologia. Desde 1922, a UFV já havia formado milhares de profissionais em várias áreas, sendo que muitos desses egressos se tornaram empreendedores e disseminadores de novas tecnologias desenvolvidas ao longo das décadas. Historia de sucesso - incubadora164 164 26/11/2007 13:11:09 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 165 Estrategicamente, no final da década de 80, foi criado o Bioagro pela UFV, para atuar na agroindústria e agropecuária, com o objetivo de congregar inúmeros grupos de pesquisas na área de biotecnologia. Essa iniciativa partiu da ação de diversos professores/pesquisadores da Universidade que aceitaram o desafio de inserir a UFV no mundo da biotecnologia. A criação do Bioagro forneceu o ambiente adequado para que esses grupos pudessem se associar fisicamente e gerar, de um modo mais racional, novos conhecimentos, produtos e processos. A partir disso, vários projetos, baseados em genética e melhoramento, foram desenvolvidos e exportados para todo o mundo. Na área de humanos, em 1998, já havia registro do aumento dos serviços de testes de paternidade, seja por via judicial ou mesmo por simples interesse da própria pessoa (revista Veja de 05 de março de 1997). “Naquela época, no Brasil, eram poucos os laboratórios que faziam esses testes; os preços eram relativamente altos, em torno de R$ 1.200,00, por amostra”, contou Marta. Segundo dados estatísticos do registro civil de 1998, publicado pelo IBGE, 31,1% das crianças nascidas naquele ano e registradas eram filhas de mães solteiras. Com base nesse índice e no fato de nascerem, no Brasil, nessa época, a cada 12 meses, aproximadamente cinco milhões de crianças, ter-se-ia uma estimativa de cerca de 1,5 milhão de nascimentos concebidos em relacionamentos extraconjugais. Assim, já havia uma clara previsão do aumento da demanda por testes genéticos para determinação de paternidade. Na comarca de Viçosa, também se observava um grande aumento no número de casos de investigação de paternidade. No final do ano de 1992, foi promulgada a Lei nº 8560, que regulou esse tipo de investigação para filhos fora do casamento. Podemos analisar o número de casos de investigação e declaração de paternidade em Viçosa. Pode-se observar que, de 1992 a 1996, houve um crescimento de quase três vezes nessas investiEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora165 165 26/11/2007 13:11:09 EMPRESA AGROGENÉTICA 166 gações. Em 1996, a cidade apresentava uma média mensal de 2,2 e 8,9 casos de investigação e declaração de paternidade, respectivamente, sendo que a tendência era de aumento. Considerando que a Zona da Mata Mineira possuía em torno de 1,5 milhão de habitantes, muitos seriam os casos de investigação e de declaração de paternidade. Somente essa região contribuiria com elevado faturamento para a empresa recém-criada. Número de casos de paternidade nos anos de 1992 a 1996. Número de casos 120 107 100 80 60 55 40 20 0 35 6 0 1992 7 0 1993 23 26 7 1994 1995 1996 Declaração de paternidade Investigação de paternidade Fonte: Dados da Empresa. Os dados apresentados revelavam um amplo campo de atuação para laboratórios que ofereciam esse tipo de exame. O exame de DNA era uma metodologia importante do ponto de vista social. Aos 16 de janeiro de 1997, o governador de Minas Gerais sancionou a Lei nº 12.460, que determinava o pagamento, pelo Estado, das despesas do exame de DNA para as pessoas reconhecidamente pobres. Essa Lei propiciou, então, o acesso a esse serviço. Ainda em 1996, foi criada a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Centev (Centro Tecnológico de Viçosa). A incubadora tinha por objetivo apoiar as empresas incubadas no cumprimento do plano de negócio, por meio da promoção de cursos de Historia de sucesso - incubadora166 166 26/11/2007 13:11:10 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 167 capacitação profissional, oferecer suporte operacional (serviço de fax, correio, água, luz, sala para reuniões, entre outros) para o funcionamento adequado das empresas e captar recursos não reembolsáveis por meio de projetos da Fapemig – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico , Sebrae – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, entre outros. O início e os desafios do empreendimento Em 1997, o LabGene foi criado com dois propósitos: desenvolver testes de paternidade e realizar análises genéticas. Embora o processo de análise de DNA, por meio da técnica PCR, ser o mesmo para humanos, animais, plantas e microrganismos, a Empresa começou as atividades com as análises de paternidade em humanos, que se mostraram mais promissoras devido à alta demanda e ao elevado preço no mercado. As análises laboratoriais e os contatos com os clientes eram realizados no Bioagro. O LabGene foi a terceira empresa incubada. Durante o ano de 1997, desenvolveu ações para regulamentação dos serviços como a obtenção de licença do Conselho Regional de Biologia e a constituição legal junto aos órgãos competentes. Ao longo desse período, sob orientação da equipe da incubadora, os sócios fizeram cursos para se capacitarem na área de recursos humanos, administração financeira, marketing, entre outros. Esses treinamentos foram fundamentais para entender os aspectos jurídico-financeiros, como agregar valor aos serviços e como potencializar o perfil empreendedor dos sócios. Segundo Marta “esses cursos foram essenciais para nós, que éramos pesquisadores e não conhecíamos o ambiente de negócio”. Um das grandes realizações desses empreendedores foi transformar uma idéia em produto. Segundo Marta, “a pesquisa para nós era a transformação da ciência EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora167 167 26/11/2007 13:11:10 168 EMPRESA AGROGENÉTICA pela ciência e, quando vimos uma idéia sair do laboratório e se transformar num produto, foi muito gratificante!” Em 12 de fevereiro de 1998, o LabGene realizava o seu primeiro serviço com nota fiscal. A partir dessa data, a Empresa estava legalizada e pronta para realizar testes de paternidade em todo o território nacional. A demanda pelos serviços aumentou e, com isso, a Empresa foi se capitalizando, aprimorando os processos de produção, conhecendo o potencial de mercado, os concorrentes e aproveitando sempre as oportunidades oferecidas pela Incubadora. Durante o processo de incubação, o LabGene pôde usufruir do espaço cedido para o desenvolvimento de suas atividades, a um menor custo, comparado aos de mercado, participar de capacitações, aprimorar seu plano de negócio, o que lhe deu melhor visão de futuro, e utilizar de serviços como luz, água, entre outros que ajudaram na redução dos custos operacionais. Em outubro de 1999, Marta defendeu a tese de doutorado na área de genética e melhoramento e passou a dedicar maior tempo à Empresa, junto aos outros sócios. Os dois sócios professores ficavam responsáveis pelos contatos com novos clientes e apoio na realização dos testes e os outros dois, já doutores, cuidavam da parte administrativa, de controle de qualidade dos serviços e atendimento às reivindicações dos clientes. Segundo Marta, até 2000, o LabGene se capitalizou ainda mais, aumentou o seu patrimônio e os serviços se tornaram rotineiros. Já não havia mais pesquisa e desafios na realização dos referidos testes. No entanto, os trabalhos foram se tornando menos rentáveis, pois, com a entrada de novos laboratórios, a empresa foi forçada a reduzir seus preços. A divulgação desses serviços também era limitada, pois dificilmente um cliente que se submete a esse exame quer publicidade sobre o fato ou tornará a fazer outro. Isso dificultava a atuação da área de marketing da Empresa. Historia de sucesso - incubadora168 168 26/11/2007 13:11:10 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 169 Em 2000, devido ao crescimento da concorrência, principalmente à entrada de grandes laboratórios nacionais para realizar testes de paternidade e à dificuldade de captar novos clientes, o LabGene precisava buscar novos mercados em que pudesse aplicar conceitos equivalentes aos da análise genética humana. Agrogenética: um campo economicamente viável Em 2000, surgia uma nova e crescente demanda de análises genéticas para transgênicos, mais especificamente grãos de soja. Por meio de um projeto de pesquisa pioneiro no país, pois não se tinha conhecimento da existência desse tipo de teste oferecido por laboratórios nacionais, a Empresa vislumbrou um novo mercado e decidiu investir nesse setor. Na época, o sócio Marco Antonio vendeu a sua parte para os outros três e foi trabalhar na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Mesmo com a mudança societária, os serviços da divisão LabGene (análise de paternidade em humanos) se mantiveram e a empresa buscou atender à demanda emergente. No segundo semestre de 2000, a Empresa ganhou, do Sebrae/Finep, o Prêmio Inovação Tecnológica por ter se despontado nas pesquisas para “Detecção de Organismos Geneticamente Modificados (OGM)”. Em 2001, foi contemplada, novamente, com o Prêmio Inovação Tecnológica, tendo como título “Detecção de Produtos de Origem Animal em Ração pela Técnica de PCR”. Esses acontecimentos marcantes incentivaram a construção de um novo cenário, adicionado ao fato da divisão LabGene não ser mais o foco. A empresa concentrou esforços no desenvolvimento da nova divisão: a AgroGenética. Segundo a Marta, “o LabGene não oferecia mais desafios, mais inovação, ao passo que a AgroGenética exigia maior contato com o cliente, maior controle de qualidade, pois sempre havia um novo produto transgênico e formas diferentes de análises eram necessárias, ou seja, exigia-se mais tempo de pesquisa, dedicação e conhecimento”. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora169 169 26/11/2007 13:11:10 170 EMPRESA AGROGENÉTICA Em 2001, Marta contratou o estudante em Administração de Empresas, Wilton Marota, para desenvolver um plano de divulgação dos novos serviços prestados no segmento da AgroGenética que passou, então, a realizar testes em plantas e alimentos geneticamente modificadas. Os testes realizados tinham similares somente fora do país. A principal análise consistia na identificação do gene de uma bactéria resistente ao herbicida glifosato que foi incorporado ao código genético da soja. “Naquela época, podíamos identificar o DNA de qualquer material transgênico em outras espécies vegetais, como o milho”, informou a Marta. Como a soja transgênica continuava proibida no Brasil, acreditava-se que a vigilância sobre esse produto seria severa. “Empresas que exportavam, principalmente para a Europa, nos procuravam para fazer laudos comprovando a ausência de transgênico no produto,” relatou Marta. O índice geral de detecção de soja modificada não chegava a 10%. Grandes empresas, pediam análises de matéria-prima de seus produtos e da ração que alimentava os animais comercializados por elas. Logo, percebeu-se que, no mercado agropecuário havia uma demanda reprimida por tais tipos de análise, devido à falta de uma legislação específica que garantisse a patente e a propriedade intelectual. No caso de plantas, empresas de sementes tinham a oportunidade, a partir das análises genéticas, de patentear variedades com o uso de padrões de DNA, como uma forma de proteção varietal. Em animais, padrões de DNA podiam ser usados tanto para determinação de paternidade quanto para identificação de indivíduos, por exemplo, para garantir que um dado animal era filho de um campeão da raça, além de poderem ser usados para a identificação de microrganismos patogênicos em animais, como suínos e aves. Com o passar do tempo, a demanda foi aumentando e, em 2002, Marta percebeu a necessidade de credenciar o serviço de análise de DNA para plantas junto à Comissão Técnica Nacional de Historia de sucesso - incubadora170 170 26/11/2007 13:11:10 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 171 Biossegurança (CTNBio) e ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Esse credenciamento dava permissão para a realização dos testes para todo o território nacional e servia também como marketing. Segundo Marta, “nós fomos a primeira empresa brasileira certificada junto ao MAPA”. Para divulgar o novo serviço, Marta e Wilton enviaram malas diretas às empresas do setor agroindustrial de todo território nacional, distribuíram folderes, além da inserção na mídia da empresa como pioneira no setor de análise genética por meio de DNA, utilizando a técnica do PCR. Certificação: um selo de qualidade Diversos fatos contribuíram para que a Empresa se adequasse à prestação dos novos serviços: exigência do MAPA para certificação do laboratório, inserção do programa de qualidade para atendimento às normas, investimentos em equipamentos, entre outros. Com a preocupação de adequação às normas de qualidade, a Marta sempre procurou capacitar os funcionários e seguir rigidamente os regulamentos exigidos para a realização dos testes. De 2001 a 2003, a empresa participou do Programa Sebrae da Qualidade Total, promovido por sua divisão em Minas Gerais, com o objetivo de entender a importância da qualidade, da padronização, do controle e da rastreabilidade, características inerentes ao processo de análise genética. Logo em janeiro de 2003, implantou-se a Norma de Qualidade NBR ISO/IEC 17025, com o objetivo de credenciá-la junto ao MAPA, o que permitiria a realização de detecção e quantificação de modificação genética em alimentos in natura, alimentos processados e ração animal. De abril a maio, a Empresa conseguiu atender as não-conformidades da norma apresentada durante a auditoria do Ministério. Segundo Wilton Marota, para essa ação, foi preciso realizar uma força-tarefa (estudos, procedimentos mais precisos de controle EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora171 171 26/11/2007 13:11:10 EMPRESA AGROGENÉTICA 172 de qualidade, etc.) para se adequar às exigências. Como resultado, obteve-se, em 25 de maio de 2003, o credenciamento. No entanto, observava-se que as análises para a detecção de transgênicos, principalmente grãos de milho e soja, eram exigidas no Brasil desde 22 de março de 2003, a partir do Decreto 4.680/2003. Tornou-se, então, obrigatória a rotulagem de alimentos que contivessem OGM em nível superior a 1%. Não existia, ainda, estatística global, mas os laboratórios de análise credenciados pelo MAPA apontavam o crescimento da atividade. O DESAFIO DAS MUDANÇAS Em 2004, a AgroGenética investiu R$ 300 mil, ampliou a média de exames em 75% até 2004 e aumentou significativamente o faturamento. Evolução do Faturamento Faturamento da Empresa 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Faturamento LabGene Faturamento Agrogenética Fonte: Dados da Empresa. Pode-se observar um aumento do faturamento do LabGene de 1998 a 2000, ano em que decidiu mudar o foco e investir na divisão AgroGenética. A partir daí, os serviços prestados pelo LabGene diminuíram-se gradativamente e o da AgroGenética subiu até atingir o pico, em 2004. O faturamento do LabGene também Historia de sucesso - incubadora172 172 26/11/2007 13:11:11 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 173 2007 decresceu devido à diminuição do preço por teste de paternidade que passou, em 2006, para, aproximadamente, um terço do valor praticado em 1998. O faturamento da AgroGenética foi decorrente do tipo de serviço qualitativo ou quantitativo. Em 2000, o preço por análise quantitativa (análise que permite determinar qual porcentagem da amostra é constituída por material de origem transgênica) era 18% a mais em relação à qualitativa (análise do tipo negativa/positiva só determina que, na amostra analisada, há material transgênico). Em 2006, essa diferença subiu para 60%. Isso significava que as empresas, às vezes, optavam por testes qualitativos por serem menos dispendiosos, ou seja, nem sempre a diminuição do faturamento representava uma queda no número de clientes. Outro fato importante é que um cliente podia fazer vários testes em um período e em outros não. Logo, o número de amostra, quando analisado separadamente, também não representava indicador de sucesso, assim como o “faturamento”, ou seja, o dado mais confiável para medir o sucesso da Empresa era o número de clientes. Para a divisão LabGene, o número de amostra coincidia com o número de clientes, pois, para cada teste de paternidade, havia um cliente atendido. Número de testes realizados pela empresa 1998 1999 2000 Fonte: Dados da Empresa. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Número de amostra LabGene Número de amostra Agrogenética EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora173 173 26/11/2007 13:11:12 EMPRESA AGROGENÉTICA 174 A Figura 3 mostra um nítido declínio do número de amostra, que é igual ao número de clientes do LabGene, a partir de 2000. Ao mesmo tempo, o número de amostras da AgroGenética (qualitativa e quantitativa) aumentou até 2004, ano em que as exigências pela certificação das amostras e respectivos controles pelos órgãos públicos atingiram o seu patamar máximo. Após 2004, verificou-se uma diminuição de testes quantitativos quando comparados com os qualitativos e uma diminuição de testes por cliente, ou seja, a certificação de um produto “serviria” para os demais. Segundo Wilton, “muitas empresas fizeram os testes de alguns produtos por questões burocráticas e por saber que os órgãos públicos não teriam condições de fiscalizar todos os laboratórios e empresas que produziam produtos geneticamente modificados”. Percebe-se, pela Figura 4, que o número de clientes do LabGene decresceu consideravelmente ao longo dos anos. Isso se deve ao fato de a empresa não ter realizado ações para a conquista de novos clientes, assim como não ter feito a divulgação de serviços. Por outro lado, o número de clientes da AgroGenética aumentou significativamente na linha do tempo, sendo que, em 2004, ocorreu uma pequena queda, porém não substancial. Número de clientes 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: Dados da Empresa. Historia de sucesso - incubadora174 174 Número de clientes LabGene Número de clientes Agrogenética 26/11/2007 13:11:12 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 175 Até 2004, percebeu-se uma melhora em todos os indicadores, no que tange à AgroGenética, e uma queda gradativa do teste de paternidade. O aumento vertiginoso, em 2004, teve como conseqüência a corrida das empresas à adequação (credenciamento) de seus laboratórios junto ao MAPA. Logo depois, com a abertura de laboratórios próprios pelas grandes organizações e a falta de fiscalização por parte do Governo, a demanda se reduziu. Segundo Marta, “empresas que realizavam entre 50/60 testes/mês reduziram suas atividades à metade ou menos, devido à falta de fiscalização”. No entanto, segundo a empresária, o cultivo e o comércio de OGM crescia em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde se constatou a presença de soja transgênica em lavouras do sul do país, o que levou o governo a estabelecer normas para o plantio e a comercialização desse grão na safra de 2004, por meio da Lei nº 10.814 (de 15/12/2003). Essa ampliação mundial de culturas geneticamente modificadas, em especial a soja e o milho, refletiu-se também no aumento da presença de resíduos transgênicos em produtos alimentícios que têm, em sua composição, esses dois tipos de grão, na maior parte das vezes. A partir de 2004, os empreendedores perceberam a necessidade de reduzir gastos operacionais para que a Empresa se mantivesse competitiva, o que acarretou a redução do quadro de funcionários de nove para seis. Nessa mesma época, outras duas mudanças se tornaram um desafio. Em janeiro de 2004 Marta foi trabalhar na Embrapa e elegeu Wilton como gerente administrativo. A funcionária Francismar, treinada por Marta, ficou encarregada de realizar os testes junto aos outros dois sócios professores. Em agosto de 2004, a Empresa graduou-se, deixando, então, a Incubadora do Centev. Nesse período, os outros dois sócios professores resolveram deixar o empreendimento para priorizar suas atividades acadêmicas. Por essa razão, Marta convidou o Dr. Marco Antonio para reassumir a Empresa, ficando cada um com 50% das cotas do negócio. A partir daí, a Empresa instalou-se EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora175 175 26/11/2007 13:11:12 176 EMPRESA AGROGENÉTICA em Viçosa e, com recursos próprios, continuou desenvolvendo os testes para seus clientes. Em 2005 e 2006, manteve o portfólio de seus produtos, porém houve aumento da concorrência no setor e redução dos números de análises. Marta e o gerente administrativo perceberam a necessidade de se fazer uma pesquisa de satisfação junto ao consumidor para medir a qualidade dos trabalhos e detectar outras possibilidades. Com essa pesquisa, identificaram-se alguns serviços especializados, porém pontuais, na área de genética molecular. No final de 2006 e início de 2007, ocorreu outra mudança societária. O sócio Dr. Marco Antonio vendeu a sua parte para o Wilton (funcionário desde 2001) e para Paulo Márcio (outro investidor). Marta também vendeu uma pequena parcela para a Francismar que, desde 2005, também trabalhava na Embrapa. Diversificação: um caminho para o sucesso Em se tratando de Brasil, a AgroGenética tornou-se um dos laboratórios de destaque atendendo clientes de todo país, principalmente do Sul e do Estado de São Paulo, onde se concentravam as principais e maiores empresas do setor agroindustrial. A empresa venceu uma licitação pública e passou a atender as análises para o Ministério da Justiça. Com a entrada dos novos sócios, acreditava-se na ampliação dos investimentos para a diversificação do empreendimento. Paulo Márcio conhecia muito bem a área de captação de recursos (Finep, Fapemig, etc.) que, até então, nunca havia sido utilizada. A outra sócia, Francismar, embora com menor parcela, era uma pesquisadora com domínio na técnica OGM e já conhecia as potencialidades da Empresa. Logo, essas mudanças poderiam contribuir para a criação de novos negócios. Embora a Empresa tenha passado por essas mudanças societá- Historia de sucesso - incubadora176 176 26/11/2007 13:11:12 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 177 rias, percebeu-se a sua sustentabilidade pela manutenção dos serviços oferecidos e pelos indicadores apresentados. Segundo Wilton, um dos maiores orgulhos de sua vida foi entrar como estagiário e se tornar sócio. Isso demonstrava credibilidade e confiança no negócio. Durante toda a trajetória da empresa, os recursos foram próprios, houve aumento do patrimônio e acúmulo de experiências na análise e comercialização dos produtos, o que demonstrou a maturidade do empreendimento. No entanto, a diversificação foi necessária para que a empresa pudesse continuar atuando com sucesso no mercado de transgênico. Segundo Marta, “sabíamos, desde antes, que a criação de novos serviços na área de transgênicos seria necessária. A tendência era crescer a produção de transgênicos como forma de diminuir custos e aumentar a produção. Somos reféns desse novo produto e não teremos como fugir dele! Teremos a informação do produto, porém quem decidirá o que consumiremos será o produtor”. Novos caminhos a trilhar Segundo Marta, a AgroGenética foi um caso de sucesso: “era uma empresa que partiu do nada, sem capital externo, ou seja, com investimento quase zero. Hoje, temos um capital investido elevado, credibilidade no mercado, clientes já fidelizados e perspectivas de lançamentos de novos produtos”. Pesquisas de satisfação têm sido feitas junto aos clientes (agroindústrias). A empresa pretende lançar novos produtos (serviços) e investir em ações de divulgação. Para isso, está sendo elaborado um estudo para identificar os motivos da desistência de clientes e a satisfação dos novos, já que aumentou, significativamente, o número de laboratórios concorrentes. Um dos fatos mais marcantes, segundo Marta, foi colocar em prática um conhecimento acadêmico que, aos poucos, foi se maEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora177 177 26/11/2007 13:11:12 178 EMPRESA AGROGENÉTICA terializando. Nesse sentido, a busca de informações e de novas tecnologias deve ser uma constante para que haja permanente atualização e capacitação, no campo profissional, e competitividade, no campo empresarial. De acordo com a protagonista, a falta de tempo para dedicação ao negócio e o investimento tímido na criação de novos serviços foram os obstáculos que impediram um salto ainda maior. Além disso, uma das dificuldades enfrentadas foi a localização geográfica da empresa, porém essa dificuldade sempre foi compensada pela capacitação da equipe técnica na realização dos serviços e a utilização de recursos próprios. Segundo Wilton, a criação do Parque Tecnológico iria ajudar na localização da Empresa no cenário nacional, ou seja, estar localizada no Parque Tecnológico da UFV seria uma vantagem competitiva para quem atua no ramo da agropecuária/ agroindústria, pois isso garanteria maior visibilidade nacional. O lançamento de novos produtos, a reconquista de clientes antigos e a captação de novos clientes são os desafios futuros para os corajosos empreendedores. Como recomendação, os sócios declararam que, para empreender, é preciso ter, pelo menos, três características essenciais: persistência, motivação e visão de futuro. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Quais são os fatores ou acontecimentos que indicaram inovação no caso da AgroGenética? 2. Quais foram os principais pontos positivos que contribuíram para o caso de sucesso? Que pontos negativos foram superados? 3. Como gerente administrativo/financeiro da AgroGenética, o que você faria para alavancar os negócios? 4. Se a AgroGenética fosse lançada no mercado de ações, você seria um investidor? Discuta os riscos e oportunidades dessa decisão. Historia de sucesso - incubadora178 178 26/11/2007 13:11:12 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 179 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOUCAS, C.. Rotulagem de transgênico ainda patina: falta de recursos e de estrutura emperram fiscalização de lavouras de soja, indústrias e varejo. Valor Econômico. 27/05/2004. AgroGenetica. http://www.agrogenetica.com.br. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Revista Fapesp. Teste detecta soja transgênica. Agosto, 2000. Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária http://www.bioagro.ufv.br . ISRAEL. Coletânea de noticias sobre transgênicos. Guia BioAgri. 6 de abril de 2005. MARTINS, M. F.; Machado, M. A.; MOREIRA, M. A.; BARROS, E. G. de.. Plano de Negócios. Laboratório de Análises Genéticas S/C LTDA. 1997, 13 p. MARTINS, M. F.; MARCELINO, C. F.; PIMENTA, M. A. S.; MOREIRA, M. A; BARROS, E. G. de.. Detecção de transgenes: a experiência da Agrogenética. Ciência Hoje. Vol 34, numero 203, pp.38-39. abril de 2004. Notícias. Laboratório aguarda liberação de soja transgênica. Jornal Gazeta Mercantil. 28 de agosto de 2004. UFV – Universidade Federal de Viçosa. Endereço para acesso http://www.ufv.br. Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora179 179 26/11/2007 13:11:12 Historia de sucesso - incubadora180 180 26/11/2007 13:11:12 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 181 A primeira empresa incubada na universidade Empresa: CIENTEC Incubadora: CENTEV-UFV Autoria: Sérgio Yoshio Mitsugui Tutoria: Mara Veit Introdução No final dos anos 90, entre as chamadas economias emergentes, a brasileira era uma das que mais sofria com os efeitos da redução mundial nos financiamentos externos. As reservas internacionais do Brasil caíram durante meses seguidos e as previsões sobre o crescimento do PIB brasileiro apontavam para taxas negativas. Em resposta, o governo brasileiro impôs a elevação das taxas de juros, porém, o custo financeiro sofreu aumento e os empréstimos foram inibidos. Para compensar, as empresas cortaram o número de funcionários, fato que fez aumentar o número de desemprego. Como conseqüência, houve queda nas vendas, na produção e na expansão econômica. Nessa mesma época, no município de Viçosa, localizado na Zona da Mata mineira, a economia era baseada no comércio e na prestação de serviços voltados para o setor imobiliário, construção civil, alimentação e, principalmente, a educação. A economia local estava em pleno crescimento, em grande parte demandada pela Universidade Federal de Viçosa. Cumprindo a política do governo federal de criação de novos cursos e de aumento do número de vagas nas universidades brasileiras, a UFV criou diversos cursos de graduação e alguns de pós-graduação. Muitos estudantes e professores chegavam de várias regiões do Brasil e do exterior. Como conseqüência, diversas instituições privadas de ensino foram criadas, na mesma medida em que a cidade aumentava a disponibilidade de mão-de-obra e melhorava a infraestrutura de seus serviços. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora181 181 26/11/2007 13:11:13 182 EMPRESA CIENTEC O ambiente era propício para a inovação, pois a Universidade Federal de Viçosa comemorava os seus 71 anos, no mesmo dia em que inaugurava as atividades da sua primeira incubadora, tendo assinado o primeiro contrato de incubação no dia 28 de agosto de 1997, período em que o movimento nacional de incubadoras de empresas estava retomando a sua força. Em apenas um ano, o movimento dobrou o número de incubadoras. A globalização dos mercados e os avanços tecnológicos – principalmente nas áreas de tecnologias da informação, computação e comunicação –, assim como a necessidade de se incorporar novos conhecimentos às atividades produtivas, têm provocado mudanças radicais nos modos de gestão das empresas. A introdução das inovações tecnológicas e organizacionais torna-se cada vez mais dependente da capacidade de gerenciar o conhecimento e interagir como os outros setores do agronegócio. Além disso, tais inovações são incorporadas ao setor sem ter uma estratégia e um planejamento prévio da necessidade de aplicações (Oliveira, 1990). A Cientec, Consultoria e Desenvolvimento de Sistemas Ltda, foi criada a partir da Agrotecnologia e, esta, por sua vez, da Agromídia, empresa pioneira na Incubadora de Base Tecnológica Centev/ UFV, no ano de 1997, formada por um grupo de quatro professores. Inicialmente, a empresa era formada apenas por pesquisadores da UFV e atuava em três áreas distintas, desenvolvimento de sistemas, representação comercial de estações meteorológicas e produção de CD-ROMs para multimída. Na fase inicial e no período de incubação, a empresa viveu grandes momentos em sua trajetória empresarial e prestou diversos serviços para importantes clientes, promovendo, assim, a formação de grande parte da mão-de-obra empregada no mercado local e regional. Para tentar manter-se no mercado, a empresa, durante a incubação, foi subdivida em duas – Agromídia e Agrotecnologia. Posteriormente, após o período de incubação, como Cientec, a empresa procurou minimizar os problemas de gestão Historia de sucesso - incubadora182 182 26/11/2007 13:11:13 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 183 e definir melhor as responsabilidades dos sócios no empreendimento, além de reafirmar a proposta da empresa em reerguer o negócio com foco em desenvolvimento de sistemas. No ano de 2000, a Agrotecnologia estava vivendo a sua pior fase, em relação ao resultado do negócio. Nesse período, juntamente com os dois professores-empresários, participavam da empresa os funcionários Paulo Márcio de Freitas, seu primo Alessandro de Freitas Teixeira e o amigo Anderson Francisco da Silva, ex-bolsistas da universidade. “Este aprendizado foi a chance que faltava para concretizar um sonho”, lembra Paulo, o principal responsável pela compra da empresa. Onde e como tudo começou O analista de sistema Paulo Márcio de Freitas, nascido e criado em Muriaé, Minas Gerais, passou boa parte de suas férias de infância no sítio dos avós em Viçosa. Quando teve oportunidade de aprimorar seus estudos, optou pelo curso de computação na UFV – Universidade Federal de Viçosa. Durante o curso de graduação, indicado pelo primo Alessandro, começou a trabalhar no projeto de desenvolvimento de um software na área de irrigação do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV. “Nessa época eu já estava pensando na possibilidade de abrir o meu próprio negócio” recorda, e desde então, passou a compartilhar esse sonho com o primo e um amigo. A expectativa do empreendedor era abrir a empresa já com um produto definido e que pudesse ser o “carro-chefe do negócio”, com o poder de conquistar clientes no mercado e a tão sonhada auto-sustentabilidade do empreendimento. Após a sua formatura no curso, mudou-se para Belo Horizonte para fazer um curso de pós-graduação, mas não desistiu da idéia, do sonho, sempre pensando na futura empresa. Ao concluir o curso, no início de 1998, foi convidado para trabalhar na empresa incubada Agrotecnologia, que estava na fase de reestruturação EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora183 183 26/11/2007 13:11:13 184 EMPRESA CIENTEC na cidade de Viçosa. Para Paulo a experiência foi positiva: “Isso foi muito bom, pois tive a oportunidade de acompanhar o início de uma nova empresa, na qual pude conhecer as dificuldades iniciais, para evitá-las posteriormente”. A Agrotecnologia graduou-se da incubadora Centev/UFV no ano de 2000, mas não conseguia manter a rentabilidade desejada e sustentabilidade necessária. Os sócios-professores não sabiam mais o que fazer e quais rumos poderiam tomar para vencer as dificuldades que se apresentavam na gestão do empreendimento. Foi então que perceberam que a idéia de vendê-la poderia ser a única opção para a sua permanência no mercado. Antes mesmo de assumir o comando da empresa, o empreendedor, ainda funcionário, já havia imaginado algumas estratégias para melhorar a situação do negócio. Apesar da decisão de assumir a direção do negócio ter sido relativamente rápida, considerando os problemas que se apresentavam na gestão, foi muito bem pensada e discutida com os futuros sócios e vários parceiros envolvidos com a empresa. Foi um momento crucial e de decisão muito pessoal, pois várias questões povoavam seu pensamento: optar em não fazer o mestrado; mudar-se de forma definitiva do grande centro para o interior; assumir o custo do investimento da compra da empresa e investir seu capital nesse empreendimento, dando continuidade ao negócio. E foi com todas estas dúvidas e incertezas que Paulo Márcio resolveu dar continuidade ao empreendimento, aproveitando-se de um fato positivo que o ajudou a construir, como bolsista e funcionário, o título que a empresa possuía: empresa graduada da UFV. Esse resultado é que contribuiria , mais tarde, para dar solidez à estratégia do negócio. Para os novos rumos e novos desafios, Paulo resolveu também criar um novo nome para a empresa: Cientec Consultoria e Desenvolvimento de Sistemas. Historia de sucesso - incubadora184 184 26/11/2007 13:11:13 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 185 A receita da solução e a nova empresa O desafio da empresa era aumentar o portifólio de produtos e serviços, ampliar a produção, o faturamento e o foco de atuação, tornando-se uma empresa especializada em análise e desenvolvimento de softwares de alto conteúdo científico, dentro das mais variadas áreas do agronegócio e recursos naturais. Essa mudança era inovadora e traria, naturalmente, grandes mudanças para os gestores, principalmente na área de marketing e colocação do produto no mercado. Os primeiros clientes, estrategicamente pré-definidos, seriam os professores e pesquisadores da UFV, e também os ex-proprietários da antiga empresa, pois os softwares desenvolvidos, até então, necessitavam de novas versões. “Aproveitar a experiência adquirida, foi o principal ingrediente” lembra Paulo Márcio. O primeiro resultado dessa estratégia ocorreu em dezembro de 2000, quando a Cientec lançou no mercado, em parceria com o Departamento de Engenharia Agrícola da UFV, a versão 3.5 do software Sisda – Sistema de Apoio à Decisão Agrícola. Com o investimento realizado em marketing, rapidamente os novos clientes apareceram, pois os pesquisadores, cada vez mais, sentiam a necessidade de materializar num software, os resultados de suas pesquisas e, assim, facilitar a sua aplicação. Para a felicidade dos novos empresários, a empresa havia sido contemplada com uma bolsa Bitec (Bolsas de Iniciação Tecnológica), programa de apoio ao desenvolvimento de pesquisas e estudos realizado por estudantes de graduação, de onde foi possível elaborar um novo plano de negócios, voltado para as novas estratégias, sob a orientação do Prof. Antônio Figueiredo Vieira do Departamento de Administração da UFV. O grande desafio da empresa foi, então, convencer os pesquisadores e os clientes de que o conhecimento científico e aplicação no mercado poderiam andar juntos, oferecendo suporte técnico EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora185 185 26/11/2007 13:11:13 186 EMPRESA CIENTEC aos usuários e investimento na melhoria do produto, inclusive para enfrentar os concorrentes. Aprimorando processos e inovando em produtos O primeiro produto da Cientec, criado nesse contexto propício para a inovação, foi lançado em 2001, com o nome de Mata Nativa, um software para análise fitossociológica para a elaboração de inventários e planos de manejo de florestas nativas. Esse produto foi resultado da parceria com pesquisadores do Departamento de Engenharia Florestal da UFV que, anteriormente, já haviam tentado lançar um produto similar no mercado, mas sem sucesso. Em junho desse mesmo ano, foi lançado no mercado o software Aspersor – Sistema para dimensionamento e análise de custo de projetos de irrigação por aspersão convencional. Em 2002, a Cientec muda-se para uma nova sede, ampliando o espaço físico de sua fábrica de software. Na busca pela melhoria contínua e pela qualidade em seus produtos e serviços, a Cientec inicia a implantação do Programa Sebrae de Qualidade Total, oferecido pelo Sebrae Minas, que contribuiu, de forma significativa, para estruturar os processos internos da empresa e garantir a qualidade dos produtos ofertados aos clientes, sendo certificada no ano seguinte. Em outubro de 2003, a Cientec lançou o software Irriga – Sistema de apoio à decisão na área de agricultura irrigada, em parceria com o Grupo de Estudos e Soluções para Agricultura Irrigada (GESAI) do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV, cujos resultados foram muito promissores. A empresa buscava ocupar um espaço inexistente no mercado. Outro produto é lançado em outubro de 2004, o software Gotejador – Sistema para dimensionamento e análise de custo de projetos de irrigação por gotejamento. Também nesse período Historia de sucesso - incubadora186 186 26/11/2007 13:11:13 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 187 a empresa realiza duas campanhas promocionais do software Mata Nativa, além de participar de eventos como congressos e simpósios da área florestal, com o objetivo de mostrar o produto e prospectar novos clientes. No mês de novembro do mesmo ano, o projeto do software Mata Nativa é selecionado pelo Programa EVTE – Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica, proposto pela parceria entre Centev/UFV, Funarbe, Sebrae Minas e Instituto Inovação. No final de 2004, a Cientec finaliza a padronização do processo de desenvolvimento de software, realiza o I Workshop interno, cujo tema foi “Processo de desenvolvimento de software em ambiente colaborativo” e promove a revisão do Programa de Qualidade Total, uniformizando todos os setores da empresa. O ano de 2005 inicia com o EVTE do projeto do software Mata Nativa, com o apoio do Programa Sebraetec de fomento à tecnologia e em parceria com a UFV. Posteriormente, a empresa lança o Portal Corporativo da Cientec para uso interno e com diversas ferramentas de integração e comunicação com clientes. O mês de julho torna-se um marco para a empresa, pois é quando ela passa a contar com sede própria, ao comprar o imóvel onde encontra-se instalada, garantindo maior estabilidade e possibilitando, cada vez mais, investimentos na melhoria do ambiente de trabalho e nas instalações internas. Outro momento significativo para a empresa, foi em agosto de 2005, quando a Cientec comemorou cinco anos de fundação, sendo considerada um caso de sucesso da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica Centev/UFV. Como resultado desse crescimento e sustentação no mercado, no final do ano, a empresa, em parceria com pesquisadores da UFV, obteve aprovação de um projeto para desenvolvimento de um portal corporativo para a Fapemig e também a aprovação de um outro projeto que conEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora187 187 26/11/2007 13:11:13 188 EMPRESA CIENTEC templou ou desenvolvimento de um sistema para gerenciamento de editais pelo edital PAPPE, da Fapemig. Outras inovações e melhorias de produto deram início ao ano de 2006, quando a empresa lançou a versão dois do software Mata Nativa. Outro marco significativo para o empreendimento foi a participação da criação do Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação de Viçosa (TI Viçosa). Esse envolvimento com as empresas da região, de forma integrada e com foco no desenvolvimento do arranjo, poderá contribuir para o crescimento econômico do setor, dando sustentabilidade às inovações de processos de produtos da região. Nesse mesmo ano, a empresa firmou parceria com a Funarbe – Fundação Arthur Bernardes para desenvolvimento de um sistema integrado de gestão de convênios. Outro ponto importante foi a homenagem que a Cientec recebeu pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica Centev/UFV como Empresa Destaque em 2006, pelo seu desempenho, sucesso, inovação e empreendedorismo. No final desse mesmo ano, a Cientec concluiu a construção do seu framework na tecnologia Microsoft.NET e, com essa inovação, a empresa obteve um grande avanço tecnológico, dando mais qualidade e agilidade à sua fábrica de software. Atualmente a empresa encontra-se na fase de crescimento ascendente, com diversos clientes importantes, como a Agência Nacional de Águas, Agência Nacional de Energia Elétrica, Companhia Vale do Rio Doce, Ibama, Petrobrás, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Operador Nacional do Sistema Elétrico, entre outros. A evolução no número de clientes (gráfico 1) e o faturamento (gráfico 2) no período de 2000-2006 demonstram esse crescimento. Os dados demonstrados no gráfico 1 são também resultados do investimento em marketing nos seus principais produtos apresentados para o mercado. Historia de sucesso - incubadora188 188 26/11/2007 13:11:13 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 189 Gráfico 1: Evolução do número de clientes 76 Número de novos clientes 80 54 70 39 37 2004 2005 60 50 40 30 20 11 9 3 10 0 2000 2001 2002 2003 2006 Ano Fonte: Dados da Empresa Cientec Gráfico 2: Evolução do Faturamento em reais 450 000,00 Faturamento (R$) 400 000,00 350 000,00 300 000,00 250 000,00 200 000,00 150 000,00 100 000,00 50 000,00 0 2000 2001 2002 2003 Ano 2004 2005 2006 Fonte: Dados da Empresa Cientec A empresa cresceu no mercado Todo esse cenário de crescimento demonstra que a Cientec, além da UFV, também possui importantes parcerias com outras universidades, como a UNB, UFES e UFRPE, fortalecendo suas relações na área de pesquisa. Nos últimos anos, a empresa concretizou significativas vendas do produto Mata Nativa, em todos os estados brasileiros, consolidando-se como líder de mercado EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora189 189 26/11/2007 13:11:14 EMPRESA CIENTEC 190 com esse produto. Atualmente, a Cientec possui 60 softwares desenvolvidos com foco, principalmente, nas áreas do Agronegócio e Recursos Naturais. Recentemente a empresa aprovou um projeto no edital Finep para a obtenção da subvenção econômica. A Cientec também está investindo na criação de uma nova empresa na área florestal para a prestação de serviços especializados, na promoção de cursos e na aplicação do software, como resultado da demanda da carteira de clientes do software Mata Nativa. Hoje a empresa é composta somente de 2 sócios – Paulo Marcio de Freitas e Alessandro de Freitas Teixeira – e 17 funcionários. Por todo esse período de crescimento, amadurecimento e aprendizado vale ressaltar alguns pontos aprendidos pelo empresário, bem como nos novos desafios impostos para o negócio, visando criar uma empresa ainda mais forte e sustentável. 1. Lições aprendidas pelo empreendedor • • • • • O pensamento deve estar voltado para o mercado para não perder o foco, pois a tendência dos pesquisadores é buscar informações científicas, muitas vezes sem aplicação prática. Uma empresa de informática pode ser de prestação de serviços e não apenas ser uma indústria voltada para produtos. A transformação do conhecimento gerado nas universidades em inovação tecnológica é necessária para cumprir a missão de atender as demandas da sociedade. A preocupação com a visão – mercado e academia, mesmo que as necessidades, os sentimentos e a velocidade com que os resultados são gerados, sejam diferentes – é imprescindível. A conquista da confiança dos pesquisadores foi fundamental para o sucesso dos serviços prestados e dos produtos gerados. Historia de sucesso - incubadora190 190 26/11/2007 13:11:14 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 191 2007 2. Novos desafios para o negócio • • • Criar uma nova empresa, aproveitando a demanda dos clientes do Mata Nativa. Equilibrar a proporção entre a oferta de serviços, que é bem maior, com a oferta de produtos, uma vez que os serviços geram faturamento momentâneo e os produtos podem gerar renda por períodos mais longos. Exportar a prestação de serviços no desenvolvimento de softwares, em parceria com instituições de ensino e pesquisa do exterior, principalmente na área do agronegócio e recursos naturais. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. O que pode ser feito para melhorar e aumentar o número de inovações tecnológicas no Brasil? 2. A interação universidade-empresa é o melhor caminho para a inovação tecnológica no Brasil? 3. Como a empresa pôde desenvolver novos produtos e conquistar outros mercados, mantendo o foco principal do negócio após a incubação? 4. Como voce analisa o período da empresa incubada e o período da empresa pós-incubação, já atuando no mercado e com um novo posicionamento? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anprotec/Sebrae. Panorama de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos 2006. Brasília, 2007. Anprotec/Sebrae. Glossário dinâmico de termos na área de tecnópoles, parques tecnológicos e incubadoras de empresas. Brasília, 2002. OLIVEIRA, Luciel H. Tecnologia da Informação como fonte de vantagens competitivas para empresas rurais. Fundação Getúlio Vargas. 1990. Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br /casosdesucesso EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora191 191 26/11/2007 13:11:14 Historia de sucesso - incubadora192 192 26/11/2007 13:11:14 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 193 DESIGN E COMUNICAÇÃO DA ZONA DA MATA MINEIRA PARA O MUNDO Empresa: STUDIUM Incubadora: CENTEV/UFV Autoria: Rosiane Suzuki Tutoria: Mara Veit Introdução A cidade de Viçosa está situada na região da Zona da Mata Mineira, entre as Serras da Mantiqueira, do Caparaó e da Piedade. “Por sua tradição de cidade educadora, e também pela longa e permanente convivência com estrangeiros de todos os continentes – em função principalmente da construção da estrada de ferro, da Escola e da Universidade – a população sempre teve um comportamento diferenciado e singular.” (Prefeitura Municipal de Viçosa 2007) A atividade econômica da cidade está diretamente ligada à indústria do ensino. Além da Universidade Federal de Viçosa (UFV), hoje a cidade conta com mais três instituições de Ensino Superior: Faculdade de Viçosa (FDV), Universidade de Viçosa (Univiçosa) , Escola de Estudos Superiores de Viçosa (ESUV). De acordo com o IBGE 2000, Viçosa é a cidade com maior número relativo de Doutores e Mestres por mil habitantes.1 Foi nesse ambiente, propício à inovação, que, em junho de 2002, o projeto da empresa Studium foi aprovado para ser incluído na incubadora. No projeto inicial, constavam quatro sócios com profissões e habilidades complementares: a jornalista Adriana Passos, o arquiteto e ilustrador Luciano Lima, o engenheiro Clôdiney Cruz e o estudante de arquitetura Hugo Arantes. Os sócios tinham um projeto em comum: construir uma empresa 1 (pop. economicamente ativa – idade superior a 25 anos) – Fonte: IBGE 2000. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora193 193 26/11/2007 13:11:14 194 EMPRESA STUDIUM que, por meio do design e comunicação, levasse o conhecimento produzido na universidade até o público. Acreditavam que tamanha produção de conhecimento e informação não podia ficar apenas armazenada em bibliotecas. Foi pensando nisso que tiveram a idéia de transferir o conhecimento por meio do design. Quando a empresa abriu suas portas na Incubadora de Empresas Centev/UFV, no dia 13 de outubro de 2002, a sociedade tinha sido alterada, sendo constituída somente por Hugo, Luciano e um novo sócio administrador, Tomas Soares. Passados dez meses, as incompatibilidades entre os sócios da área técnica e o administrador levaram a uma crise na empresa. Um dos sócios, o administrador, saiu da sociedade e restou para os outros sócios uma dívida a ser paga, pois o caixa estava vazio e vários contratos precisavam ser cumpridos. Ao tentar pôr a casa em ordem, foram descobertas várias falhas administrativas, assim como a insatisfação dos clientes com o atendimento e com os erros nos materiais produzidos. Isso foi um agravante para a situação da empresa nascente, deixando-a inteiramente fragilizada. “Foi um período difícil de provações, dia após dia. Questionávamos, constantemente, se valia a pena”... disse Hugo. O tempo era curto para dar conta de todo o trabalho que, agora, se multiplicava. Além do nome da empresa a honrar, surgia para os empresários o seguinte desafio: como reverter a situação financeira da empresa e conquistar novos clientes? O começo, a idéia, a cara e a coragem... A produção nacional de comunicação e design no Brasil evidencia um mercado altamente competitivo, com grandes empresas no setor. É um setor dinâmico e, por essa razão, mesmo as associações do setor não têm dados sobre a produção nacional de designer gráfico. A cada dia, são lançados no mercado milhares de soluções em design e comunicação para novas empresas, novos produtos e novos serviços. Historia de sucesso - incubadora194 194 26/11/2007 13:11:14 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 195 Entusiasmado com a idéia de abrir a própria empresa, o grupo de amigos decidiu procurar a Incubadora e se candidatar a uma vaga. Dedicou-se à elaboração do plano de negócios e à criação da identidade visual da empresa. Hugo afirmou que “foi mais complicado criar a marca da empresa que o plano de negócios.” O projeto foi apresentado ao programa de Incubação de Empresas do Centev/ UFV, com a proposta de uma empresa de comunicação integrada, aliando design a resultado. Um dos objetivos dos sócios era aproveitar o conhecimento produzido na Universidade e transforma-lo em conteúdos e mídias mais acessíveis à sociedade. Segundo André Villas-Boas, “o design gráfico é a área de conhecimento, é a prática profissional que trata da organização formal de elementos visuais – tanto textuais quanto não-textuais – que compõem peças gráficas feitas para reprodução, com fim expressamente comunicacional, ou seja, sintetizar conhecimento de forma organizada para que determinados públicos assimilem a informação que está sendo veiculada.” O projeto da Studium Comunicação Integrada foi aprovado na Incubadora em outubro de 2002. Composta inicialmente por quatro sócios, a empresa abriu as portas com apenas três: Hugo, Luciano e Tomás, como administrador. Como capital inicial, os empreendedores trouxeram seus computadores pessoais e as mesas e estantes eram emprestados ou dos próprios quartos de suas residências. No início, era apenas uma sala, uma idéia, a cara, coragem e apenas um cliente. Para os empreendedores, a cidade de Viçosa, apesar de estar no interior, longe dos grandes centros, tem um potencial de mercado que era mal explorado. A vocação para o setor de educação da cidade e aumento de novos empreendimentos que começavam a ser criados favoreciam o desenvolvimento da empresa e sinalizavam para um aumento da demanda por soluções em comunicação e design. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora195 195 26/11/2007 13:11:14 196 EMPRESA STUDIUM Muito trabalho, trabalho.... E dinheiro? Para compensar o pequeno porte da equipe e dar conta do trabalho, o expediente ia noite adentro. No entanto, por mais que os sócios responsáveis pela produção se esforçassem para cumprir os prazos dos clientes e fornecedores, o responsável pelo gerenciamento do negócio não correspondia com o mesmo empenho. Foi no começo de 2003, em meio a descumprimentos de contratos, negligência de pagamentos e desentendimentos na pequena sociedade que a Studium recebeu um importante colaborador: Clôdiney Cruz, que procurou a empresa para tornar-se sócio do grupo. Após seis meses, em julho de 2003, a Studium Comunicação Integrada sofreu sua primeira grande dificuldade, além das demais enfrentadas, normalmente, pelas micro e pequenas empresas. A sociedade sofreu uma cisão e saiu o sócio administrador, Tomas Soares. A jovem empresa de comunicação, que ainda tentava se firmar no mercado e atrair clientes, tinha então problemas em dobro. Com a saída do sócio, vieram à tona as dívidas, problemas com clientes, trabalhos contratados abaixo do preço de mercado. A empresa ficou numa situação financeira delicada, pois estava devendo R$ 10.000,00 na praça, sendo que todo seu patrimônio valia R$ 9.000,00. De acordo com Hugo: “foram oito meses sem fazer nenhuma retirada de pro-labore, trabalhando praticamente 24 horas por dia para dar conta dos trabalhos contratados, captar e atender novos clientes para sanar as dívidas”. Foi muito trabalho e dedicação para reverter a situação da empresa. Nesse período, a Studium produziu o suficiente para manter seu funcionamento, mas nem sempre ‘sobrava’ para o salário dos sócios. Apesar de estar nas instalações de uma incubadora de empresas, as taxas e impostos pagos eram os mesmos e pesavam no orçamento, como em qualquer outra empresa. Com os problemas acarretados pela saída do administrador, os empresários, que já recebiam pouco, passaram a não receber nada e Historia de sucesso - incubadora196 196 26/11/2007 13:11:14 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 197 a trabalhar muito mais. Essa situação, que poderia ter acabado com o negócio, foi um estímulo para os sócios continuarem no projeto empresarial. À medida que os contratos foram sendo cumpridos e os trabalhos entregues no prazo, a confiança interna na empresa foi sendo restituída, assim como a sua imagem externa. O incidente serviu para que os empreendedores dessem a devida importância à parte gerencial e administrativa de um negócio, tanto quanto à parte produtiva. Serviu também para mostrar-lhes que, mesmo sem conhecimentos acadêmicos de administração, mas com muito empenho e dedicação, seria possível criar e administrar um pequeno negócio. Como a empresa nessa época não podia contratar ninguém para ajudar na parte administrativa, as atividades de gestão, por afinidade, se concentraram em Hugo Arantes, que também exercia atividades na área de design gráfico. A entrada de Clôdiney Cruz foi estratégica para recuperação da empresa. Trabalhando na área de web design e multimídia, o novo sócio incorporou mais um serviço a ser oferecido pela Studium e maior possibilidade de trabalhos, que não demoraram a chegar. A partir desse episódio, começaram a focar o desenvolvimento de pacotes de soluções personalizadas, antecipando a necessidade do cliente e buscando viabilizar soluções de comunicação e design completas. O foco do grupo, até o final de 2003, foi voltado para as questões financeiras da empresa e reestruturação do negócio. Quando quitaram a dívida de R$ 10.000,00, comemoram o excelente resultado. Após o susto, decidiram trabalhar sempre com uma reserva financeira de segurança, para evitar novas surpresas desagradáveis. Segundo os sócios: “a empresa trabalha com uma postura conservadora até hoje, possui uma reserva e financia o seu próprio crescimento”. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora197 197 26/11/2007 13:11:14 198 EMPRESA STUDIUM Enxergando Oportunidades A partir de 2004, os empreendedores começaram a ver a necessidade de se especializarem no cliente institucional. Havia uma grande oportunidade na implementação de políticas e programas de fidelização para clientes institucionais, com foco em clientes de maior porte, com demandas constantes de soluções e design. Começaram a perceber que ele, todo mês, precisa de um folder, um banner eletrônico, um convite, um cartaz ... Para ganharem credibilidade e serem reconhecidos no mercado, os sócios adotaram uma prática pouco comum no ramo de comunicação: propor soluções complementares ao cliente, em lugar de segmentar e de especializar-se em apenas um serviço. Esse diferencial garantiu maior confiabilidade à empresa, já que, ao invés de oferecer apenas um serviço em internet ou impresso, podia realizar todas as peças integradas, desde estruturar a comunicação de um congresso, o convite impresso até o multimídia, com as palestras do evento. Eles sabiam que o verdadeiro desafio de criar uma identidade visual para uma empresa, produto ou serviço é o marketing silencioso que tem um impacto direto no sucesso das empresas. “O foco era aliar as ferramentas do marketing para pensar o design de uma forma diferente e inovadora, com ações essencialmente focadas em resultados diretos e efetivos para os clientes, oferecendo soluções para seus problemas de comunicação com seu público-alvo,” ressaltou Hugo.2 Os clientes atendidos pela empresa começaram a se tornar cativos, os planos de fidelidade de médio e longo prazo permitiram-lhes pagarem uma mensalidade acessível, o que também garantiu uma renda fixa à empresa que, antes, ficava sujeita às variações do mercado. De acordo com Luciano Lima, o atendimento “fidelizado”, além de definir um cronograma específico, Contribuição Assessoria de Comunicação da Studium depoimento retirado de entrevista do Jornal do Comércio de BH na coluna Gestão e Negócios. 2 Historia de sucesso - incubadora198 198 26/11/2007 13:11:14 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 199 também permitiu que a identidade desses clientes fosse pensada em um espaço maior de tempo. “Ao criarmos uma nova embalagem, por exemplo, sabíamos exatamente como fazer a manutenção da divulgação do produto, pois o conhecíamos a fundo”, comenta. A implementação dessa estratégia provocou um aumento da demanda e das receitas e, conseqüentemente, possibilitou a ampliação da equipe técnica desenvolvedora dos serviços. Foram contratados seis novos colaboradores para dar conta da produção. O número de clientes atendidos por mês foi aumentado na proporção de cinco vezes mais. Além do aumento quantitativo, os clientes tiveram também um ganho qualitativo, pois seu perfil mudou, crescendo com a empresa. “Antes atendíamos mais micro e pequenas empresas locais, mas, atualmente, nosso foco está em pequenas e médias empresas de vários estados. Melhor ainda é ver que alguns clientes cresceram com a gente e, hoje, se destacam em sua área de atuação”, conta o sócio Clôdiney.3 Investindo na profissionalização Com um faturamento de aproximadamente R$ 93.000,00/ANO, os sócios decidiram modernizar e investir na compra de novos equipamentos para a empresa. Com maior capacidade financeira, passaram a comprar as licenças dos softwares profissionais e, com apoio de recursos do Programa Sebrae de Incubadoras (PSIMG), o investiram em capacitação empresarial e participação em feiras e eventos. Em 2005, os empreendedores dedicaram parte do seu tempo para participarem do Programa de Capacitação Empresarial realizado na Incubadora, com patrocínio da FINEP. A capacitação motivou-os para a vivência de uma nova fase. O contato com os consultores da FGV despertou-lhes a necessidade de profissionalizar a empresa para atuação comercial e organização do fluxo 3 Contribuição Luiza Lafuente – Assessoria de Comunicação Studium EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora199 199 26/11/2007 13:11:15 200 EMPRESA STUDIUM de trabalho com uma linha de produção mais direcionada e com uma melhor definição do papel dos sócios. Em uma das assessorias, o Prof. Carlos Alecrim4, especialista em Marketing de Serviços, disse para os sócios: “vocês tem que focar as funções no que cada um tem de melhor. Não adianta mandar quem é bom em criar, para negociar”. O Programa de Capacitação foi importante para que os sócios percebessem o momento de transição de seu negócio e aprendessem a utilizar melhor o potencial individual de cada um na equipe. Não era mais o momento de acumular funções, mas, sim, de distribuir tarefas e de contratar novas pessoas. Ao completar três anos, em 2006, a empresa viveu um ano de grandes mudanças. Os sócios conseguiram prorrogar seu prazo de incubação por seis meses devido aos problemas enfrentados no início da empresa. Durante esse período, investiram na reforma de uma antiga casa no centro da cidade onde seria a futura sede da Std1. Um cliente leva outro, que leva mais outro O trabalho dos sócios e a rede de relacionamentos foram a principal propaganda da empresa. Essa rede foi fundamental na captação de clientes e serviços cruciais para a evolução da história da empresa e rendeu bons contatos profissionais e vários outros serviços. A edição de um livro organizado pelo Ministério das Cidades e a releitura e renovação editorial de uma revista da UFV atraíram novos clientes para a Studium . O livro para o Ministério das Cidades teve toda sua divulgação (envolvendo identidade, peças gráficas e página na internet) feita pela Studium. Depois da realização do evento, veio o livro com a compilação de trabalhos de inúmeros autores e uma área até então pouco explorada pelos sócios, a editorial. A partir dessa publicação, surgiram contatos 4 Instrutor da Fundação Getúlio Vargas especialista em Marketing de Serviços Historia de sucesso - incubadora200 200 26/11/2007 13:11:15 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 201 no mercado exterior. Somente para uma instituição norte americana já foram editados quatro livros em formato digital e impresso. É relevante comentar que um dos livros digitais disponibilizado no website da instituição obteve mais de três mil acessos em apenas duas semanas, confirmando a efetividade da ferramenta. A rediagramação da revista UFV & Parcerias também é um bom exemplo de como a rede de clientes funciona a favor da empresa. Logo no início de sua história, a Studium criou toda a identidade institucional do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa – Centev/UFV e de seus quatro núcleos, incluindo a Incubadora. Assim, quando foi realizado o Programa de Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica de Tecnologias da UFV (Programa EVTE/UFV), a Std1 ganhou a concorrência para editar e diagramar a edição especial da revista UFV & Parcerias. O programa foi coordenado pelo Sebrae-MG, em parceria com o Centev/UFV e Instituto Inovação, empresa situada em Belo Horizonte. Mesmo estando em diferentes cidades, a Studium tornou-se responsável pela identidade visual e por todas as peças de comunicação do Instituto. Graduada, acelerada... Com metas superadas A graduação da incubadora, em junho de 2006, permitiu ampliação da equipe, pois a empresa, passou de uma sala de 26m² para uma confortável área de 120m², personalizada para o cliente interno, contando com a contribuição de quatorze colaboradores na empresa. O investimento na nova sede foi 100% financiado com recursos da empresa e com a mesma política de manter um fundo de reserva para eventualidades emergenciais. Nesse ano, a empresa foi selecionada para participar do programa Acelera Minas, Programa de Aceleração Comercial para empresas graduadas, promovido com recursos da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (SECTES-MG). EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora201 201 26/11/2007 13:11:15 EMPRESA STUDIUM 202 O programa ofereceu uma consultoria especializada, que foi realizada pelo Instituto Inovação. Os sócios seguiram à risca as orientações empresariais e decidiram usar suas soluções de comunicação e design para a própria empresa. Alexandre, consultor do Instituto, estimulou os sócios quando afirmou que “vocês precisam fazer para vocês o que fazem para seus clientes. Se fizerem isso, o telefone não vai parar de tocar” . Colocando em prática essas orientações, os empreendedores investiram na sua estratégia de comunicação e, como foi preconizado pelo consultor, o telefone não tem parado de tocar, pois, a cada boletim eletrônico enviado, divulgando casos reais dos clientes, a Studium capta três novos trabalhos. A empresa já superou a meta estabelecida no plano. O Instituto Inovação passou de consultor a cliente e, atualmente, é um dos principais parceiros da Studium para captação de novos clientes. Assim, a rede continuou a aumentar. Atualmente, a empresa apresenta dados expressivos de crescimento e expansão, sem perder as características de uma empresa jovem. “No começo, nossa carteira de clientes era basicamente local. Hoje em dia, atendemos outros estados e até outros países”, comenta Hugo Arantes. [%] com base em 2004 As melhores soluções são as que vêm na hora certa 100 230,60 165,10 100 2004 118,70 2005 2006 2007* Ano * No ano de 2007 foi comparado apenas o 1º semestre do ano base. Fonte: Dados da Empresa Studium Historia de sucesso - incubadora202 202 26/11/2007 13:11:15 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 203 as melhores soluções são as que vêm na hora certa De acordo com dados contábeis da Studium, a empresa apresentou um aumento de 22,9% no faturamento no primeiro trimestre e de 65,3%, no segundo trimestre de 2007, em relação a 2006. No período de apenas um ano, a empresa, que atendia uma média de oito clientes por mês, hoje atende por volta de dezessete clientes por mês, além de ter mais do que dobrado o número de equipamentos. Podemos observar o significativo crescimento da empresa que, em menos de quatro anos, conseguiu mais do que duplicar seu faturamento. É claro que tudo isso não foi por mero acaso ou sorte. Esse desempenho é reflexo da dedicação dos sócios para aumentar o número de clientes, diversificar os serviços oferecidos e muito trabalho. “Nós temos orgulho de olhar para trás e ver que nossos clientes cresceram junto com a gente. É a maior confirmação de que nosso trabalho dá certo e traz resultados”, contam os três sócios. Crescimento de Faturamento com base 2004 Assim como cresceram os clientes da Studium, cresceu também a demanda de soluções, não só em quantidade, mas em complexidade. Clôdiney Cruz explica que as empresas que começaram pedindo a sua logomarca e um folder institucional, há pouco tempo precisavam de um website para divulgar seus serviços na internet e, hoje, precisam de um sistema de informação on line. Para atender a essas necessidades, a Studium tem que se aprimorar constantemente. “Nós temos que estar sempre um passo a frente do cliente, ou então estaremos fora do mercado”, assegura Clôdiney. Além das fronteiras físicas, há trabalhos que abrangem culturas diferentes. A empresa também tem que se adequar às diferentes características de cada cidade, região e país. O responsável pelo projeto do livro digital feito para uma instituição americana, Hugo Arantes, comenta que, “o design para trabalhos ‘globais,’ como o EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora203 203 26/11/2007 13:11:15 204 EMPRESA STUDIUM do livro, tem que se adequar a varias culturas. Tem que ser neutro para que nenhum leitor se sinta excluído e, ao mesmo tempo, personalista para que todos se identifiquem com ele. Essa difícil equação se dá até mesmo em aspectos como a escolha dos tipos, ou desenho das letras utilizadas, que devem se adaptar às grafias diferentes de que cada idioma necessita”. Hoje, os sócios definem a empresa não como uma agência de comunicação ou design, mas de soluções de comunicação. Eles comentam que, muitas vezes, a embalagem mais moderna e atraente não é a que vai resolver o problema do cliente, mas aquela que, com uma boa relação custo-benefício, atinge seu público alvo com eficiência e eficácia. Essa, então, é a melhor solução. “Superamos nossas metas de cresciment*o para o próximo ano,” diz Hugo. A empresa encerrou 2006 com um faturamento de R$ 152.887,33 e, até junho de 2007, já faturou R$ 90.746,76. A empresa continua com o foco em soluções especializadas para o cliente educacional. Recentemente, desenvolveu uma solução tecnológica para o Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV em que, de acordo com Hugo, “a proposta foi substituir o método tradicional de análise de embalagem por um sistema digital de embalagem virtual. De certa forma, contribuímos para modernizar o estudo das embalagens para os futuros engenheiros de alimentos.” A empresa também já se aventura no desenvolvimento de interface e menus desenhados para jogos de celulares. Segundo Luciano Lima, “esse projeto foi um grande desafio, pois tivemos que aprimorar a técnica de ilustração com o novo método de desenho ponto a ponto. O desafio estava também na fidelidade dos diferentes cenários e das armas utilizadas durante o jogo, comenta. Genuinamente brasileiro, o jogo já está sendo vendido na Índia e na Venezuela por operadoras de celular CDMA e por outras operadoras da Venezuela. Também estão em negociação com operadoras dos EUA. De acordo com Eônio Pinto Junior, sócio fundador da GoMobie, não existem jogos com a tecnologia do Sniper School Historia de sucesso - incubadora204 204 26/11/2007 13:11:15 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 205 no mercado brasileiro nem no exterior. “O Brasil é a bola da vez para 2007 nesse mercado. Com 100 milhões de usuários, estima-se que o faturamento na área de jogos de celular será em torno de 60 milhões de dólares. Mas grande parte desse dinheiro vai para fora”, afirma o empresário5. Quando a equipe cresce, a empresa cresce Eles sabem que não conseguiram fazer isso tudo sozinhos. Enquanto muitos abrem seu próprio negócio para não ter patrão, o lema na Studium é diferente. “Nós abrimos uma empresa para ter, acima de tudo, um lugar legal para trabalhar e procuramos manter esse ambiente até hoje, porque quem se sente bem em trabalhar produz muito mais”, afirmam os três sócios. Com quatorze pessoas e onze computadores, as reuniões mensais não cabem mais dentro da empresa. Já foram para o quintal da casa. O ambiente agradável e, às vezes, descontraído, no trabalho e nas reuniões, facilita a comunicação. Hugo Arantes explica que a Std1, como qualquer outra empresa, não está livre de problemas, mas existe uma abertura para discutir e resolver os tópicos mais “espinhosos”, o que é muito positivo em uma equipe em ascendência. Se antes a principal preocupação da Studium era com os serviços a serem feitos, atualmente, pode-se dizer que a preocupação está igualmente dividida entre a equipe e a qualidade do trabalho realizado. Na opinião de Clôdiney Cruz, “quando a empresa era formada só por três pessoas, podíamos nos concentrar completamente no trabalho. Hoje existem quatorze pessoas trabalhando na empresa; sem elas, não teríamos como cumprir os prazos e manter a qualidade”. uma história pra contar Neste ano, a Studium completa cinco anos, com uma trajetória de experiências que contribuiu para o sucesso empresarial. 5 Contribuição Luiza Lafuente Assessora de Comunicação da Studium EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora205 205 26/11/2007 13:11:15 206 EMPRESA STUDIUM Vários estágios foram vivenciados pelos sócios, como o período de quase falência até chegarem à conquista de clientes no mercado externo. A empresa se especializou em oferecer não apenas design, mas uma solução em comunicação para seus clientes. Os sócios de cinco anos atrás não são os mesmos de hoje. Souberam contornar os problemas com muito trabalho e seriedade e direcionar seu pequeno negócio no rumo certo. Investimentos contínuos em equipe e equipamentos também foram decisivos para traçar a rota de sucesso e enfrentar os novos desafios que se apresentam todos os dias. Além de gerenciar equipes, trabalhar com clientes e com projetos cada vez maiores, gerenciar uma empresa que cresce rápido e se modifica a cada dia, é preciso estar “antenado” para sempre oferecer soluções inovadoras, porque design é, sem duvida, uma ferramenta de inovação. A especialização no ramo educacional capacitou os empreendedores na arte de transformar conhecimento científico em meios de comunicação para o publico em geral, substituindo o método tradicional de disponibilizar o conhecimento cientifico com o apoio do design gráfico e a tecnologia da informação. “Temos que correr sempre atrás do resultado. Estamos participando do programa de qualidade total, com controles de gestão em todas as etapas do processo. Na empresa, todos somos responsáveis pela qualidade e marketing da empresa,” afirma Hugo. Por meio do APL – Arranjo Produtivo Local em Tecnologia da Informação, do qual estamos participando, a empresa entrou no Programa de Qualidade do Sebrae. O futuro para os empreendedores e para a empresa consiste em manter o crescimento, ampliar a equipe, profissionalizar a administração da empresa e conquistar clientes maiores para alcançar maior rentabilidade. A empresa continua investindo no seu próprio crescimento, mas os empreendedores continuam cautelosos, pois querem que a empresa se mantenha forte e saudável no mercado. Historia de sucesso - incubadora206 206 26/11/2007 13:11:15 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 207 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Que ações dos sócios foram importantes para reverter a situação da empresa? 2. Qual foi o modelo de gestão adotado pelos sócios, quando abriram a empresa? O que você recomendaria? 3. Oportunidade de mercado ou competência empreendedora? Onde está o pulo do gato dos sócios? 4. Como a rede de relacionamento ajudou os empreendedores? 5. A logística influenciou ou não na difusão dos serviços da empresa? Cite as forças e limitações da Studium. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Prefeitura Municipal de Viçosa – www.vicosa.mg.gov.br Incubadora de Empresas de Base Tecnológica – Centev/UFV – Histórico. www.centev.ufv.br/br/incubadora/historicophp?linguaid=1 Studium Comunicação Integrada.www.studium.ppg.br. Universidade Federal de Viçosa – UFV. www.ufv.br Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso VILLAS-BOAS, A. “O que é e o que nunca foi design gráfico”: The Dub Remix. Rio de janeiro: 2AB, 1999. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora207 207 26/11/2007 13:11:16 Historia de sucesso - incubadora208 208 26/11/2007 13:11:16 VISÕES DA LUPA: O VAI E VEM DO ALTERE Empresa: LUPA Incubadora: CRITT Autoria: Anna Paola E. F. Pinto Tutoria: Cláudio Afrânio Rosa A partir da década de 70, a integração do segmento metal-mecânico e das empresas de bem de capital, assim como o aumento da participação desses empreendimentos no total do valor agregado às indústrias, tem feito do complexo eletrônico um elemento central para a dinâmica de negócios. Por outro lado, a velocidade do acesso e processamento de informações ampliou a relevância dos produtos eletrônicos nos mais diferentes ramos, desde a produção de bens até a prestação de serviços.1 Outro fator de destaque foi a estabilidade econômica ocorrida a partir dos anos 90, resultando em uma mudança no padrão de consumo brasileiro. Para atender à crescente demanda de uma energia elétrica de qualidade, aliada à necessidade de redução de custos, as concessionárias direcionaram seus investimentos para a automação de sistemas elétricos. Em contrapartida, a evolução tecnológica de hardware e software tornou esses sistemas mais confiáveis e com preços acessíveis, permitindo o uso de tecnologia de ponta.2 Nesse cenário, em 1998, João Paulo de Sousa Rocha e Frederico Ribeiro Ramos iniciaram suas atividades no Núcleo de Eletroeletrônica (NEE) do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia da Universidade Federal de Juiz de Fora – Critt/UFJF. Ambos eram bolsistas do NEE, que atuava em parceria com a GONÇALVES, R R. O setor de bens de eletrônicos de consumo no brasil: uma análise de seu desempenho recente e perspectivas de evolução futura. Texto para discussão nº 476. IPEA, Rio de Janeiro, 1998. Disponível em http://www.ipea.gov.br/pub/td/1997/td_0476.pdf 1 PONTES, J R M & XAVIER, A P O processo de automação dos sistemas de transmissão e distribuição da COSERN – Desafios, custos e benefícios. Disponível em http://66.102.1.104/ scholar?hl=pt-BR&lr=&q=cache:uqlXqo5rfksJ:www.simpase.com.br/pt/htm/apresentacao/it/IT7. pdf+religadores+de+energia+eletrica. Acesso em 23/7/2007. 2 Historia de sucesso - incubadora209 209 26/11/2007 13:11:16 210 EMPRESA LUPA Faculdade de Engenharia Elétrica da UFJF, para desenvolver soluções para o setor de eletroeletrônicos. A partir de um projeto de pesquisa, os empreendedores perceberam a oportunidade de criar produtos inovadores para as distribuidoras de energia elétrica. Após identificar a demanda por um produto que automatizasse o controle das redes de distribuição de energia elétrica, foi necessário estruturar uma empresa, pois essa solução não poderia ser produzida no NEE. A partir do apoio do Critt/UFJF a negócios nascentes, através da incubação de empresas de base tecnológica, iniciou-se o processo de empreender. Era, assim, criada a empresa com todas as suas prerrogativas: sociedade e gestão de recursos financeiros, humanos e técnicos. Em 2001, nascia a Lupa Tecnologia e Sistemas Ltda, especializada em eletroeletrônica e focada no setor de energia elétrica, constituída por quatro sócios graduados em Engenharia Elétrica. O nascimento da empresa veio acompanhado por um desafio: estruturar o negócio, consolidar a marca LUPA e inserir um produto competitivo no mercado de distribuidoras de energia elétrica. O nascimento da Lupa na “manchester mineira” Juiz de Fora chegou a ser a cidade mais importante de Minas Gerais, devido ao seu forte crescimento industrial no final do século XIX, quando foi conhecida como a “Manchester Mineira”. Um dos fatos marcantes para essa denominação foi a chegada, em 1889, da energia elétrica na América Latina, com a fundação da primeira usina hidrelétrica na cidade, a Usina Hidrelétrica de Marmelo. Mesmo com a criação da capital mineira – Belo Horizonte –, a cidade ainda continuou a progredir até o ano da grande crise econômica de 1929, quando a economia dos municípios mineiros ligados à cafeicultura sofreu grande abalo. Juiz de Fora só Historia de sucesso - incubadora210 210 26/11/2007 13:11:16 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 211 2007 conheceu novo período de desenvolvimento no período da ditadura militar.3 A cidade situa-se nos contrafortes da Serra da Mantiqueira, às margens do Rio Paraibuna, que corta o município no sentido norte-sul. A localização do município é privilegiada, estando próxima da capital Belo Horizonte (270 km) e do Rio de Janeiro (180km), às quais se liga pela rodovia BR-040. O município tem um PIB per capita de 7,574 mil reais e uma das mais altas expectativas de vida do Brasil, e também se destaca no ranking de desenvolvimento humano da Organização das Nações Unidas (ONU), apresentando um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) igual a 0,828. Quanto ao desenvolvimento econômico, a tabela 1 apresenta a composição setorial do PIB e a participação no Estado. Em 2002, Juiz de Fora era o quinto município na arrecadação do PIB em Minas Gerais, estando nos primeiros os municípios de Belo Horizonte, Betim, Contagem e Uberlândia. Em 2003, perdeu sua posição para Uberaba, que apresentou um fortalecimento na atividade industrial. Tabela 1 – Composição Setorial do PIB (Produto Interno Bruto) de Juiz de Fora e participação em Minas Gerais Ano Setor (participação no total de Minas Gerais) Serviços Indústria Agropecuárias PIB total 1995 63,9 (3,7) 35,4 (3,1) 0,7 (0,2) 100 (3,1) 2000 53,9 (3,3) 45,5 (3,3) 0,7 (0,2) 100 (3,0) 2003 58,3 (3,1) 41,2 (2,5) 0,5 (0,2) 100 (2,6) Valores percentuais Fonte: adaptado de BASTOS, S Q A, disponível em http://www.cedeplar.ufmg.br/diamantina2002/textos/D38.PDF e do Centro de Pesquisas Sociais / Anuário Estatístico 2006, disponível em http://www.pjf.mg.gov.br/cidade/anuario_2006/inicio.htm Sobre a cidade de Juiz de Fora. Disponível em http://www.juizdefora.tur.br/cidade/index.php. Acesso em 23/7/2007. 3 EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora211 211 26/11/2007 13:11:16 212 EMPRESA LUPA Em 1995 foi criado o Critt/UFJF com a missão de “promover com qualidade o aumento da competitividade regional, a melhor distribuição de renda e a geração de postos de trabalho através do desenvolvimento de inovações, da difusão e transferência de tecnologia em parcerias com órgãos e empresas”. O Centro buscava promover o empreendedorismo, alavancar novos negócios e fortalecer a interação universidade/empresa, principalmente por meio do processo de incubação de empresas e transferência de tecnologia. Em 2001, os processos Critt/UFJF viriam, inclusive, a ser certificados no sistema de qualidade da ISO 9001:2000.4 Assim, em 1998, após três anos da fundação do CRITT/UFJF e da implementação do NEE, em parceira com a Faculdade de Engenharia Elétrica da UFJF, iniciou-se a convivência entre quatro bolsistas empenhados em pesquisar novos projetos na área de eletroeletrônica. Eram eles: João Paulo de Sousa Rocha, mestre em engenharia elétrica; Frederico Ribeiro Ramos, conhecido como Fred, então mestrando em Engenharia Elétrica; além de mais dois Engenheiros Eletricistas. Em 1999, foram criados os fundos setoriais como política de fomento à pesquisa e desenvolvimento, sendo dois deles destinados às áreas de tecnologia da informação e energia. Os investimentos aportados pelo FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) chegou a R$ 250 milhões, sendo que a tendência na disponibilidade de recursos era de crescimento. Anuário Estatístico de Juiz de Fora, 2006. Disponível em http://www.pjf.mg.gov.br/cidade/anuario_ 2006/tabela163.1.pdf. Acesso em 23/7/2007. 4 Historia de sucesso - incubadora212 212 26/11/2007 13:11:16 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 213 2007 Orçamento Comprometido (2000 – 2006) e Projetado (2007 – 2010) em R$ bilhões correntes Contingenciamento FNDCT 6 5 CNPq FINEP (FAT, FND) 4 Programa Nuclear 3 Programa Espacial Institutos do MCT Outras Ações 2 1 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: MCT – Plano de Ações 2007-2010 – Versão em discussão. A Faculdade de Engenharia Elétrica possuía demandas reprimidas para atendimento ao setor público e privado. Como a oportunidade, a competência e a motivação estavam presentes, os esforços foram direcionados para que o núcleo fosse estruturado física, financeira e operacionalmente. Os vários projetos, em parceria com pesquisadores da Faculdade, contribuíram para o surgimento de soluções que atendessem, desde demandas simples da comunidade, até a criação de produtos para grandes empresas, como Becton Dickinson, Belgo, Paraibuna, Essenbra, Moinhos Vera Cruz e Cemig. Os bolsistas se tornaram consultores do núcleo, entretanto a equipe estava convicta de que poderia desenvolver soluções inovadoras próprias, já que instituição à qual estavam vinculados não poderia ser “proprietária” desses produtos por ter como finalidade as atividades de pesquisa e transferência de tecnologia. Em 2001, durante o lançamento do edital de incubação para empresas de base tecnológica, os gestores do Centro perceberam o potencial da equipe do núcleo e uma oportunidade para que EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora213 213 26/11/2007 13:11:16 214 EMPRESA LUPA João Paulo, Fred e os outros dois colegas pudessem empreender e gerir seu próprio negócio. Os quatro sócios transferiram a gestão do núcleo a outros bolsistas, para então participarem do edital de incubação e implantar a Lupa Tecnologia e Sistemas. Contudo, o processo de incubação implicava em identificar uma oportunidade e desenvolver um produto que fosse técnica e comercialmente viável. Naquele momento, o desafio apresentado se transformou em uma meta a ser superada. A primeira visão: a formação da sociedade e a busca pela auto-sustentação O primeiro passo foi fundar a empresa. Nesse momento, a relação entre os quatro empreendedores assumia uma nova perspectiva: de colegas passavam a sócios; de comandados transformavam-se em comandantes. Construir uma visão e externá-la, de maneira a ser partilhada por uma nova equipe, era o próximo desafio. Fazia parte dessa visão o papel de cliente do Centro no desenvolvimento de projetos e, principalmente, na viabilização de produtos inovadores. No primeiro ano de incubação, um dos sócios efetivos, que já possuía outro negócio e não tinha dedicação total à Lupa, retirou-se da sociedade. Seis meses após, outro sócio, que não possuía vínculo integral com a empresa, por incompatibilidade de horário e formação, também se desligou da Lupa, em uma fase em que a mesma foi contemplada em três editais de fomento. Essa foi uma etapa difícil, mas o relacionamento sobreviveu às turbulências, permanecendo na sociedade apenas João Paulo e Fred. No início do primeiro ano da empresa, João Paulo e Fred acompanharam o desenvolvimento de um projeto de mestrado, com um professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da UFJF. Foi a partir desse projeto que vislumbraram o que viria a ser “o produto” principal da Lupa, pois um dos grandes desafios do setor de Historia de sucesso - incubadora214 214 26/11/2007 13:11:17 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 215 distribuição de energia elétrica era seu processo de automação que, se solucionado, traria diversos benefícios para consumidores e concessionárias. Com a empresa efetivamente constituída, os sócios acordaram que Fred seria responsável pelo desenvolvimento desse produto e João administraria o negócio. Entretanto, eram necessários recursos para que a atividade se tornasse sustentável e para que fosse possível financiar o desenvolvimento do produto, manter a equipe e investir em inovação e infra-estrutura. Em dezembro de 2002, a empresa obteve aprovação do seu primeiro grande projeto, um CT-INFO, no valor de 80 mil reais, o qual contemplava a pré-concepção do que hoje seria o produto da visão dos empresários. Em paralelo, ocorreu a oportunidade de desenvolvimento de um sistema informatizado para medir consumo de energia elétrica residencial para a Eletrobrás, em parceria com o Centro e com um pesquisador da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). Nesse período, também foram aprovados dois outros editais, Rhae-CNPq e Promitec, fato que possibilitou novos investimentos em pesquisa, infra-estrutura e pessoal. Também em 2002, a empresa foi premiada como Empresa Inovadora pelo Sebrae-MG. A Lupa começou a apurar um rápido crescimento em seu faturamento, e o número de projetos aprovados em editais acompanhava esse ritmo, resultando no aumento da equipe e dos investimentos em inovação. A parceria com a Faculdade de Engenharia era um dos fatores que possibilitava esse desempenho na captação de novos recursos. Na interação Universidade-Empresa, a Lupa e o Centro lançaram, em 2003, seu primeiro produto – APCI – Acessório de Proteção de Correntes de Inrush. Posteriormente, fechou um contrato com a Cesama – Companhia de Saneamento Municipal -, responsável pelo abastecimento e tratamento de água e esgoto de Juiz de Fora, com o produto Proteção contra Descargas Atmosféricas e EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora215 215 26/11/2007 13:11:17 216 EMPRESA LUPA Surtos de Tensão, gerando uma receita de aproximadamente 80 mil reais. Esses produtos trouxeram oportunidades para viabilizar novas idéias. A partir de então, a empresa começou a prestar serviços para o seu cliente e maior parceiro, a Cemig – Companhia Energética de Minas Gerais. “Mas ainda dávamos tiro pra todos os lados”, comentou João. Fecharam contrato com a então denominada Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, hoje um grande grupo siderúrgico, a fim de produzir um software de automação. Em 2003, mais três bolsistas passaram a integrar a equipe: dois graduandos em Engenharia Elétrica e um graduado em Ciência da Computação. Nessa fase, João Paulo e Fred também eram bolsistas. A partir daí, a infra-estrutura começou a ser organizada, pois, com a transferência do NEE para um novo espaço, aumentaram os investimentos, principalmente em ativos permanentes. Com quase três anos de existência, a Lupa obteve a aprovação em outros editais, o que financiou grande parte dos gastos em pesquisa, mão-de-obra, matéria-prima e participação em eventos. O faturamento permaneceu em ascensão, sem a necessidade de aporte de capital para ampliação de infra-estrutura e pessoal. Com o passar do tempo, os empresários perceberam que a Lupa não possuía, de fato, um produto competitivo e rentável, e que sua principal fonte de recursos eram as bolsas de pesquisa. O produto inicial não havia atingido os resultados desejados. A empresa possuía bons clientes, cujos contatos sempre geravam novos produtos, mas sempre produtos de oportunidade. “Precisávamos descobrir produtos que tivessem regularidade e boa penetração no mercado e não apenas aproveitar oportunidades pontuais”, comentou João. O salto tecnológico Engajados no desenvolvimento de um novo produto, a empresa deu início ao LAR – Lupa Automação de Religadores, em 2003. Historia de sucesso - incubadora216 216 26/11/2007 13:11:17 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 217 Os empresários, em um evento promovido no Centro, encontraram um consultor da área que apontou uma falha tecnológica no produto: era preciso um salto tecnológico para viabilizá-lo. Apesar do fato gerar atrasos no projeto, haveria ganhos posteriores em produtividade. Decidiram contratar, por um mês, esse consultor, para que ele pudesse solucionar a falha detectada. João passou a colaborar nas atividades de desenvolvimento e produção e, em julho, migraram para a nova ferramenta. Nesse ano, o faturamento da empresa foi quase quatro vezes superior ao de 2002. Os dois empresários dedicaram-se, integralmente, ao produto, cuja plataforma inicial propiciou o lançamento de mais produtos de oportunidade, como o APCI. Ainda em 2003, surgiu a resposta que gerou a maior dúvida dos empresários. Fred foi a uma reunião na Cemig discutir sobre novos projetos e apresentou informações importantes sobre as necessidades do cliente, confirmando que o produto LUPA faria com que a empresa fosse reconhecida no mercado nacional e, até, internacional. Em dezembro desse ano, nasceu a primeira versão do Altere (Atualização Tecnológica de Religadores Hidráulicos). O Altere foi concebido com o objetivo de viabilizar a atualização tecnológica de religadores hidráulicos, gerando uma solução confiável e robusta, com um custo atrativo, cerca de 20% (1/5) do valor de um religador novo. Assim, o religador hidráulico, cujo investimento já se pagou e cujo destino a médio prazo seria o sucateamento, era reaproveitado, evitando-se a importação de uma nova máquina. Dessa forma, as concessionárias de energia puderam antecipar a automação de suas redes de distribuição. O equipamento, desde então, é composto por uma unidade remota e um kit eletromecânico para instalação interna nos religadores. É necessário um serviço em oficina para retirada de itens do religador e inclusão das peças do kit eletromecânico. A Lupa instala e acompanha as unidades do projeto piloto, fornecendo EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora217 217 26/11/2007 13:11:17 EMPRESA LUPA 218 treinamento completo para a oficina da concessionária ou oficina credenciada. A unidade remota, totalmente desenvolvida pela Lupa, possui um relé digital que utiliza o protocolo DNP3.0, permitindo a integração rápida com o sistema de supervisão utilizado pela concessionária. A comunicação com o Altere pode ser feita via telefonia fixa, telefonia celular, rádio ou fibra. A gestão da lupa e a corrida pelo mercado Os novos desafios da empresa passaram a ser, então, a gestão dos produtos e processos internos. Era necessário contratar mais pessoas para a equipe. Em janeiro de 2004, foi admitido o primeiro funcionário, um profissional da área de computação. A receita superou em 200% a de 2003, sendo a metade do faturamento originada com vendas para a Belgo e Cesama. Avaliando o desempenho dos concorrentes, os empresários perceberam que precisavam incrementar, tecnologicamente, o Altere. Em 2005, decidiram alocar um bolsista para as atividades de gestão empresarial, a fim de auxiliar João no controle financeiro do negócio. Também foram contratados dois novos graduados: um para coordenar a linha de montagem e o outro para integrar a equipe de pesquisa e desenvolvimento, sob a coordenação de Fred. A tabela abaixo demonstra a evolução da mão-de-obra da empresa. Tabela 2 – Evolução da mão-de-obra alocada na Lupa (2004-2007) MÃO-DE-OBRA 2004 2005 2006 2007 Empregados 1 3 4 4 Bolsistas 1 4 3 6 Estagiários 2 0 1 4 TOTAL 4 7 8 14 Fonte: dados da Lupa Tecnologia e Sistemas Ltda – 2007 Historia de sucesso - incubadora218 218 26/11/2007 13:11:17 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 219 2007 O faturamento, nesse ano, caiu para a metade em relação ao ano anterior . Houve, então, a preocupação em como manter as atividades e o quadro de pessoal. Mesmo com o fluxo de caixa comprometido, fortaleceram a equipe para produção e ampliaram a infra-estrutura física, estendendo o espaço incubado para fora das instalações da UFJF. Isso resultou na venda de 40 unidades do Alteres para a Companhia Cataguases Força e Luz Leopoldina – CFLCL. Valor relativo Evolução do faturamento na Lupa 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: dados da Lupa Tecnologia e Sistemas Ltda – 2007 A etapa seguinte foi a estruturação dos processos. “Nós tínhamos capacidade de gerir, mas não pensamos no futuro da empresa a médio e longo prazo”, dizia João. A solução veio por meio de um projeto da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) da incubadora para a graduação da empresa, quando um consultor externo elaborou e apresentou aos sócios um Planejamento Estratégico que norteou a tomada de decisões. Houve também um maior envolvimento do Fred, com as funções gerenciais do negócio, sendo essa transição um processo difícil. Fred começava a refletir que ele e João deveriam coordenar mais as tarefas dos demais integrantes da equipe. “Queríamos que a Lupa se tornasse uma empresa resolvida, sem, no entanto, ter uma visão imediatista”, comentou João. Então, a equipe foi uma EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora219 219 26/11/2007 13:11:18 220 EMPRESA LUPA vez mais ampliada para a revisão tecnológica do Altere e, dessa vez, o foco era a redução de custos, a fim de que pudessem enfrentar a concorrência. A partir daí, tomaram consciência de que o produto teria mercado no Brasil e nos demais países do Mercosul, pois se tratava de uma solução que evitaria o descarte de religadores obsoletos e a importação de equipamentos novos pela concessionária de energia. Em 2006, o Altere ganhou dois prêmios: o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador Anprotec, na categoria melhor produto inovador, e o segundo lugar do 2° Prêmio Werner Von Siemens de Inovação Tecnológica, promovido pela Siemens, na categoria Ciência & Tecnologia modalidade Empresa Incubada. Também nesse ano, a Lupa participou como expositora na feira do Sendi (Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica), com a apresentação de um artigo sobre o Altere. No jornal mineiro Hoje em Dia, de 20 de junho de 2007, foi divulgada a matéria “Qualidade Nacional”, escrita pelo repórter Renato Pena, com depoimento do técnico de Operação da Distribuição da Cemig, Gustavo Ribeiro de Rezende, afirmando que o produto da Lupa estava em fase de teste e que “até o momento, o equipamento estava operando bem e atendendo às expectativas para as quais foram criadas.” No primeiro semestre de 2007, a Lupa contava com uma equipe maior, formada por 14 pessoas, e seu faturamento apresentava um aumento de 160% em relação ao ano anterior. Esses resultados foram reflexos da maturidade empresarial, da expansão do número de clientes e do processo de produção. A empresa tinha como principais clientes a Cemig, o grupo Catleo, a Belgo Mineira de Juiz de Fora e a MRS Logística. Lupa: enxergando novas perspectivas Na Cemig, o Altere vem sendo testado, desde 2002, e hoje conta com até 50 unidades instaladas em Minas Gerais. Em 2007, Historia de sucesso - incubadora220 220 26/11/2007 13:11:18 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 221 seriam instaladas mais 80 unidades. O grupo Catleo fechou contrato de 40 unidades para 2007, e a Escelsa iniciaria um projeto piloto em agosto. Seria programada a participação da empresa em uma feira de automação de redes de distribuição de energia (Simpase), promovida pela Coelba – Companhia Energética da Bahia -, em agosto de 2007, e também sua participação como expositor de uma feira do setor de energia elétrica (Sendi), realizada pela Cemig em agosto de 2008. Para divulgação institucional da empresa e de seus produtos, seriam realizadas visitas as 10 maiores concessionárias de distribuição de energia elétrica, potenciais clientes, ainda nesse ano. O pensar em conjunto e a parceria com a Faculdade de Engenharia Elétrica e com a incubadora do Critt da UFJF são citados por João e Fred como sendo os principais fatores de aprendizado empresarial. A captação de projetos, os treinamentos e a participação em eventos especializados também foram destacados. Segundo os empresários, a composição societária inicial, sem uma definição das funções e do tempo de dedicação de cada um, representou um atraso inicial no desenvolvimento do produto Lupa. Esse fato, aliado a ausência de competência técnica específica, ocasionou um aumento no prazo para desenvolvimento e implantação do Altere nas distribuidoras de energia. Para João, a implantação do Parque Tecnológico em Juiz de Fora traria novas perspectivas para o negócio, uma vez que permitiria uma maior aproximação com empresas de sua cadeia, tanto na pesquisa e desenvolvimento, quanto na aquisição de recursos. O desafio contínuo da empresa seria prosseguir com seu planejamento estratégico visando atingir o mercado nacional e internacional, acompanhando o progresso tecnológico no desenvolvimento de seus produtos, a fim de gerar competitividade contínua. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora221 221 26/11/2007 13:11:18 222 EMPRESA LUPA Percebeu-se como desafios futuros para os novos empreendedores a interação com um centro de pesquisa, a aquisição de recursos financeiros, a atualização tecnológica e a conquista de clientes. João e Fred declararam, ainda, que a maturidade faz parte do sucesso e que, para atingi-la, é preciso haver sempre muita persistência e visão do negócio. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Que fatores indicam inovação no caso da Lupa? 2. Que alternativas poderiam ser adotadas para acelerar o desenvolvimento de produtos tecnológicos? 3. Se você fosse investidor de risco, teria interesse em investir na Lupa? Que fatores contribuiriam para a decisão? 4. Que ações adicionais você sugeriria para a introdução do Altere no mercado nacional e internacional? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br/casodesucesso Historia de sucesso - incubadora222 222 26/11/2007 13:11:18 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 223 Conquistas de um olhar atento às oportunidades Empresa: IPIXEL Incubadora: CRITT/UFJF Autoria: Evandro Mendonça Fortuna Juliana Amorim Tutoria: Mara Veit Introdução Com origem no Brejo, primeiro nome da pequena Miraí, como é referenciada em músicas de seu mais ilustre filho, Ataulfo Alves de Souza, considerado o maior compositor da música popular brasileira, que marcou uma época, migram para Juiz de Fora, com o propósito de ingressar na faculdade, José Luiz Quintella e Márcio Mota. Na época, não eram amigos, apenas conhecidos da mesma cidade, mas com caminhos e sonhos diferentes. José Luiz cursava Administração de Empresas e Márcio Mota estudava no curso de Ciência da Computação, ambos na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. A UFJF conta com um programa de incubação de empresas; a préincubação é feita pelo Genesis e a incubação está a cargo da IBT, InDesign, que ainda oferece um programa de incubação de cooperativas populares. Todos esses programas pertencem ao Critt1, que é responsável por coordenar, gerir e integrar os projetos de incubação de empresas. Seguindo rumos distintos desde a saída da cidade natal, os dois estudantes não poderiam imaginar que, mais tarde, em um ponto de ônibus da cidade de Juiz de Fora, eles se encontrariam e teriam uma conversa que mudaria todo o rumo de suas vidas. Desse encontro casual, nasceu uma amizade; da amizade, um 1 CRITT – Centro Regional de Transferência de Tecnologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora223 223 26/11/2007 13:11:18 224 EMPRESA IPIXEL relacionamento profissional e, desse relacionamento, surgiu a sociedade para a criação da iPixel. A empresa iPixel nasceu em 2001, proveniente de um projeto do empreendedor José Luiz Quintella, apoiado pela pré-incubadora do Genesis/Critt, sendo que, mais tarde, foi para a incubadora da Universidade Federal de Juiz de Fora. O projeto, com o nome inicial de Mercado Local, tinha como finalidade a criação de um site de pesquisas de preço para Juiz de Fora. No mesmo ano, a empresa passou por momento de grandes decisões e, no segundo semestre, foi constituída, oficialmente, com o nome de iPixel. Nessa mesma época, foi integrado ao grupo um novo sócio, o ex-estagiário Márcio Mota. O nome simples e diferente traz, em sua formação, uma lógica que, mais tarde, iria pautar a criação do produto que, hoje, é o carro chefe da empresa. O “i” significa informação e pixel é uma unidade de medida em informática – o que determina a resolução e qualidade da imagem. Então, o nome iPixel significa informação sob medida. Mais tarde, seria criado o produto iClips, “i” de informação e o “clips”, objeto usado nos escritórios para unir e organizar os papéis, dando a idéia de organização. Então, o nome iClips significaria informações organizadas. Esse conceito associado ao nome passou a ser a filosofia da empresa: informações organizadas e sob medida. Por se tratar de uma empresa emergente no segmento de tecnologia da informação, setor em constante evolução, e possuir poucos recursos financeiros, os empresários sempre procuraram contornar os problemas e enxergar oportunidades, de forma a garantir a sustentabilidade em uma área promissora, mas muito competitiva. O produto motivador da constituição da empresa – a criação de um site de pesquisa de preços – passou por muito insucesso de entrada no mercado, mudando diversas vezes o foco e seu público-alvo. Historia de sucesso - incubadora224 224 26/11/2007 13:11:18 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 225 Uma nova oportunidade mudou os rumos da iPixel: desenvolver um software de gestão para uma agência de publicidade. Apesar de não ter sido o produto idealizado pelo empreendedor, os sócios envidaram todos os seus esforços para o sucesso do projeto. Eles perceberam a primeira oportunidade real de geração de receita para a iPixel. Após um trabalho de pesquisa acadêmica na matéria de projetos, a idéia acabou virando um produto. Apesar de terem desenvolvido o software dentro de toda metodologia acessível na época, um detalhe passou despercebido e quase fez os empresários desistirem. Com a rápida evolução do segmento de tecnologia da informação, verificaram que a plataforma de sistema utilizada pelo cliente, para quem estava sendo desenvolvido o projeto, não permitia a instalação do seu produto, pois o mesmo tinha sido desenvolvido em outra plataforma. Várias questões começaram a nortear o pensamento dos empreendedores. O que fazer agora? Será que o insucesso experimentado pelo produto anterior iria se repetir em outros negócios? Como a iPixel resolveria esse impasse para se firmar no mercado com algum produto? Todos os meses de trabalho e dedicação no software foram inúteis? Ainda valeria a pena insistir na idéia, no negócio e no sonho de ser um empresário? Essas e muitas outras perguntas os sócios Márcio e José Luiz se faziam constantemente, enquanto repensavam o negócio que haviam criado na incubadora. O empreendedor em busca de oportunidade Apenas 144 Km separam a cidade de Miraí de Juiz de Fora, que é o município mais extenso da Zona da Mata Mineira e o quarto município do Estado de Minas Gerais. Totalizando uma área de 1.436,8 km², é formada por quatro distritos: Juiz de Fora, Sarandira, Torreões e Rosário de Minas. Abrange uma população em torno de 460.000 habitantes, segundo censo de 2000, sendo considerada o berço de faculdades e da Universidade Federal de EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora225 225 26/11/2007 13:11:19 226 EMPRESA IPIXEL Juiz de Fora – UFJF, reputada, em 2007, como a terceira melhor universidade do país. O estudante do Curso de Administração de Empresas na UFJF, José Luiz Quintella, em 2001, era estagiário de uma empresa incubada no Critt da UFJF e foi à Feira do Empreendedor, promovida pelo Sebrae MG. A visitação ao evento foi muito proveitosa, pois estimulou o estudante a mobilizar uma idéia que parecia ser promissora: criar um site de pesquisa de preços para Juiz de Fora. Com espírito empreendedor à flor da pele e conversando com seu professor de graduação, José Luiz descobriu que o sistema de pré-incubação, oferecido pela UFJF através do Agente Softex2 Genesis, poderia contribuir para o aperfeiçoamento e viabilização da sua idéia. Decidiu que essa seria sua oportunidade e envidou todo esforço para transformar sua idéia em um empreendimento. Gastou quinze dias para articular uma parceria que foi feita com uma empresa líder do setor de comunicação da região, formatar seu Plano de Negócio e ser aprovado no processo de pré-incubação do Genesis/Critt. Os objetivos eram desafiadores e o prazo era muito curto, mas o candidato a empreendedor assumiu o desafio e seguiu em frente. Iniciavam-se, então, as atividades da iPixel. Aprovado na pré-incubação, foram concedidas duas bolsas de iniciação tecnológica do CNPq ao projeto Mercado Local, site de pesquisa de preço: uma para José Luiz Quintella, estudante de Administração e fundador da empresa, e outra para Márcio Mota Lopes, estudante de Ciência da Computação e responsável técnico pelo desenvolvimento do software. A competência e o empenho de Márcio chamaram a atenção de José Luiz que, ciente da necessidade de um sócio especialista em tecnologia, propôs-lhe sociedade, que foi aceita imediatamen2 Softex – Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro. Historia de sucesso - incubadora226 226 26/11/2007 13:11:19 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 227 te. Essa sociedade iria unir duas competências necessárias ao desenvolvimento da proposta levada à incubadora, que contemplava dois nichos: gestão e negócios a cargo do sócio José Luiz e desenvolvimento e especificações de requisitos, a cargo do sócio Márcio Mota. Em maio de 2002, a iPixel foi constituída, formalmente, com dois sócios. Nesse período, com o apoio de uma rede de comunicação local, os sócios visitaram seus primeiros possíveis clientesalvo: os supermercados da região. Como empresários, apresentaram o projeto do site de pesquisa de preços para os potenciais clientes. Acreditavam que faltava pouco para ver seu site no ar, mas, na visita aos primeiros clientes, uma constatação: os supermercados da região não possuíam uma estrutura de informática que possibilitasse a implantação do projeto. Esse foi o primeiro insucesso da empresa: a busca pelo seu nicho de mercado não tinha sido satisfatória, pois era incompatível com o produto proposto. Os jovens empreendedores não desistiram. Escolheram um novo setor para atuarem e, como o problema tinha sido a plataforma de tecnologia, optaram por empresas que forneciam tal infra-estrutura. Em parceria com as principais empresas do ramo de tecnologia da informação, em Juiz de Fora, deram continuidade ao projeto e criaram um site de pesquisa de preços para produtos de informática, porém, por um golpe do destino, quando a iPixel se preparava para os primeiros faturamentos, houve um grande aumento na taxa de câmbio, o que inviabilizava para as empresas do setor de informática trabalhar com preços fixos. Por esse motivo, o site tornou-se inútil, já que os preços teriam que ser atualizados permanentemente, não havendo tecnologia para enfrentar a agilidade comercial. Dessa forma, as empresas de informática abriram mão desse custo, inviabilizando a iPixel de arcar sozinha com o projeto. Esse EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora227 227 26/11/2007 13:11:19 228 EMPRESA IPIXEL foi o segundo insucesso experimentado pelos empresários, mas não foi suficiente para fazê-los desistir do seu propósito empresarial. Em 2003, veio o período de Páscoa e, com ela, a oportunidade de publicar um site de pesquisa de preço de ovos de chocolate. Firmaram parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora, que já realizava o trabalho de coleta dos preços em diversos pontos de venda da cidade. A Prefeitura repassaria os valores à iPixel e essa imputaria os dados no sistema. Esse site chegou a entrar no ar, mas, após alguns acessos de clientes, os empresários perceberam que os preços divulgados no site específico não eram fidedignos, pois não estavam de acordo com os aplicados no mercado. Novamente, o projeto do site de pesquisas de preço não pôde ter continuidade. Isso não se alinhava com a filosofia da iPixel: fornecer informação precisa e sob medida para seus clientes. Os sócios Quintella e Márcio analisaram, com profundidade, seu negócio e perceberam que a atratividade financeira do seu produto era muito baixa para o mercado identificado, pois faziam todo um investimento em pesquisa e alocação de recursos para desenvolvimento, mas não conseguiam emplacar o produto. Era necessário repensar a empresa e o produto e buscar um com novo enfoque. Mas qual? Foi nesse momento que um estagiário da empresa, Richard Washington Lima, já com experiência em agências de publicidade, identificou a oportunidade de desenvolvimento de um software de gestão ERP3 para empresas desse segmento. Como os empresários já possuíam experiência, e o estagiário conhecia as necessidades das agências de publicidade, a empresa se dedicou a esse novo desafio. Fecharam o contrato com uma agência de ERP – Enterprise Resource Plannig: sistema para planejar e administrar todos os recursos da empresa. 3 Historia de sucesso - incubadora228 228 26/11/2007 13:11:19 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 229 publicidade e começaram a desenvolver o novo sistema. Faziam constantes reuniões com o gerente, entendiam as necessidades de seu cliente e buscavam as alternativas técnicas para ultrapassar os limites de seus conhecimentos e solucionar as demandas para o desenvolvimento do produto. Assim, o software ficou pronto! Os sócios estavam entusiasmados, pois havia chegado a hora de entregar o produto a seu primeiro cliente, porém, ao chegarem à agência, perceberam um problema: o software desenvolvido pela equipe da iPixel era para a plataforma Windows, e os computadores do cliente utilizavam plataforma Mac. Verificaram, também, que a maioria das agências de publicidade trabalhava com a plataforma Mac. A estratégia dos sócios de replicar o software piloto em outras agências publicitárias da região tinha caído por terra. Esse foi um grande momento para a empresa. Foi difícil contornar esse problema, pois a iPixel já havia tentado entrar no mercado três vezes e, quando parecia ser o momento certo, tiveram mais essa surpresa. Nesse momento, o sócio Márcio Mota identificou uma oportunidade técnica, que poderia ser um diferencial para a empresa: investir no aprendizado de uma nova tecnologia que estava chegando ao mercado pelas mãos da gigante Microsoft, a plataforma .NET4. O aprendizado adquirido pela inexperiência e por não terem investigado pontos necessários ao desenvolvimento de um produto auxiliou na reflexão dos destinos da empresa e possibilitou o retorno financeiro indispensável para a sobrevivência da empresa. Nesse momento, os sócios sentiram necessidade de se aprofundar em pesquisa e de estabelecer novas parcerias para viabilizar a empresa. .NET que se lê dot Net é uma plataforma de software que conecta informações, sistemas, pessoas e dispositivos. A plataforma une uma grande variedade de tecnologias de uso pessoal e de negócios, de telefone celulares a servidores corporativos, permitindo o acesso a informações importantes, onde e sempre que forem necessárias. 4 EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora229 229 26/11/2007 13:11:19 230 EMPRESA IPIXEL Da pesquisa e do aprendizado surge a solução Com a oportunidade de desenvolvimento do software ERP, os empresários, interessados na tendência de fortalecimento do uso de Intranet4 no país, apresentaram ao IEL – Instituto Euvaldo Lodi – um projeto de fomento a ser desenvolvido em parceria com a Universidade-Empresa, que resultou em uma pesquisa aprofundada sobre plataforma web. Os estudos realizados pelo projeto ampliaram a visão sobre o sistema, gerando, ainda, no ano de 2003, uma pesquisa de mercado e a transformação do ERP para agências de publicidade em produto de plataforma web. Nascia, assim, um novo produto com solução inovadora, o iClips. O que foi um problema para a empresa no início, tornou-se um diferencial competitivo, pois era a única empresa que possuía um sistema para gestão para agências de publicidade totalmente em plataforma web. Em qualquer que fosse o ambiente computacional do cliente, o software da iPixel funcionaria. Com as informações necessárias e utilizando aprendizados anteriores, os sócios identificaram uma grande oportunidade. Com isso, definiram seu nicho de mercado, refizeram seus planejamentos e mudaram sua estratégia. Todos os produtos e serviços desenvolvidos pela empresa seriam agora em plataforma web; assim, a empresa ganhou um novo foco. Com essa proposta de desenvolvimento, a empresa submeteu o projeto à Microsoft e conquistou o prêmio ISV-Empower, tornando-se parceira dessa empresa no uso e desenvolvimento de sistemas utilizando a tecnologia .NET. Como parte desse prêmio, ganhou o kit completo de programas, produtos e treinamentos técnicos e gerenciais oferecidos pela Microsoft. Intranet – A Intranet é um sistema que permite a colaboração e o conhecimento corporativo. Nele é possível reunir em ambiente seguro, acessível apenas a pessoas autorizadas, informações, relatórios, documentos, controles, agendamentos e qualquer outro conteúdo desejado para circulação interna. 5 Historia de sucesso - incubadora230 230 26/11/2007 13:11:19 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 231 2007 O iClips foi desenvolvido em .NET e, ao final dos seis primeiros meses, o sistema foi avaliado pelo Laboratório TecWeb da PUCRio, recebendo premiação pelo cumprimento de prazo e atendimento a requisitos de qualidade. A iPixel tinha, então, a tecnologia, a capacitação, o produto agora de grande atratividade financeira, e o mercado mais definido para ser abordado. Faltava encontrar um primeiro cliente, que apostasse no produto e custeasse seu desenvolvimento no novo contexto. Entrando ou conquistando um novo mercado? O Projeto foi apresentado para uma grande agência de publicidade de Juiz de Fora e teve grande aceitação por parte da empresa. O produto parecia bem promissor. Com a aprovação pelo cliente e a parceria estabelecida, a iPixel começaria a desenvolver o novo produto. Como nem tudo são flores, no decorrer do projeto, alguns problemas foram surgindo em decorrência de especificações técnicas e de acordos comerciais. Após um período, as empresas acharam melhor desfazer a parceria. Decorrido um ano e meio, o produto estava pronto para chegar ao mercado, só faltava definir como. “Nesse projeto nós aprendemos tudo o que não devia ser feito. Tivemos alguns erros, mas também foi um grande aprendizado para as parcerias futuras.” Para os sócios, todas as dificuldades transformavam-se em oportunidade. A iPixel havia fechado uma ação de marketing muito interessante: o iClips seria dado como premiação à empresa de publicidade que ganhasse o maior número de prêmios no Clube de Criação de Juiz de Fora. Seria uma forma de demonstrar o produto e torná-lo conhecido no mercado regional. No 3º Prêmio do Clube de Criação de Juiz de Fora, em 2004, a República Comunicação, uma grande agência publicitária de Juiz de Fora – foi a vencedora. A agência passava pela reformulação do seu planejamento estratégico e estava muito interessada em implementar o software de gestão iClips. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora231 231 26/11/2007 13:11:19 232 EMPRESA IPIXEL O contrato com a agência publicitária foi firmado e a iPixel tinha um novo desafio pela frente: informatizar o acompanhamento de todo fluxo de trabalho da agência. A proposta funcionou. A implantação do iClips proporcionou redução de mais de 98% de impressões internas (jobs e briefings) e economia de tempo de 20 a 30%. Ele funciona na empresa até os dias de hoje. A empresa já tem mais de cinco mil jobs cadastrados, sendo utilizados por todos os funcionários da República Comunicação, integrando todos os departamentos da empresa. Outra parceria que contribuiu muito para o desenvolvimento do produto e também da empresa foi a agência Bross Comunicação e Design de Belo Horizonte – MG. Esse foi o primeiro cliente de porte fora da cidade natal da iPixel, o que ajudou os empresários a terem uma visão comercial diferenciada que, antes, era focada na cultura local de Juiz de Fora. O porte da agência, a diversidade e volume de trabalhos produzidos por ela permitiram que melhorias fossem acrescentadas ao software iClips. Diversificando o portfólio de produtos Durante o ano de 2005, a empresa passou por uma fase mais estável e desenvolveu outros produtos para plataforma web. Nessa ocasião, a incubadora do Genesis/Critt passava por um processo de modernização de sua gestão e começava a implantar Balanced Scorecard. Isso proporcionou a formação de uma parceria entre a incubadora e a iPixel para o desenvolvimento desse projeto. Um novo produto foi criado pela empresa – o iSMAP software de avaliação e atualização da estratégia do BSC (Balanced Scorecard). O projeto foi desenvolvido para apoiar a implantação do planejamento estratégico no Genesis/Critt. Adotou-se a linguagem Java, o que se repercutiu, na participação do ISV – vendedor de software independente – da IBM. Historia de sucesso - incubadora232 232 26/11/2007 13:11:19 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 233 O treinamento recebido no ISV gerou mais serviços: a formatação de dois cursos de Java e uma consultoria de seis meses para a Cesama – Companhia de Saneamento Municipal. Também haviam desenvolvido diversos sites, principalmente para o meio acadêmico, como o site da FEA – Faculdade de Economia e Administração da UFJF, Mestrado de Engenharia Elétrica da UFJF e vários outros da instituição. Ao final de 2005, foi encerrado o período de incubação na Genesis/Critt. Até então, seis estagiários da universidade haviam contribuído para a empresa. Dois deles, Heder Bernardino e Fábio Campos, permaneceram na empresa e passaram a ter participação societária. O novo cenário percebido pela empresa exigiu outra estratégia de atuação, o que levou à criação de uma segunda empresa, que forneceria serviços para os clientes, enquanto a iPixel manteria o foco no desenvolvimento, melhorias e comercialização dos produtos já desenvolvidos. REVENDO A ORIGEM E RETOMANDO O NEGÓCIO Chegou o momento da graduação, em que a incubadora constatou que a empresa já estava preparada para se inserir no mercado. É um passo difícil, pois é criado um vínculo entre empresários, empresa e incubadora, parceiros institucionais, que nesse momento é rompido. As parcerias continuam, mas o suporte e a infra-estrutura oferecidos são passados para novos projetos e, dessa forma, a empresa graduada passa a caminhar sozinha. Durante essa trajetória, a iPixel se associou a uma outra empresa de desenvolvimento de sistemas em web e, juntas, fundaram uma terceira empresa. A empresa recém criada trabalharia com o desenvolvimento de novos softwares para plataforma web e já contava com clientes de grande porte, tinha uma grande perspectiva de crescimento e já possuía um bom faturamento. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora233 233 26/11/2007 13:11:19 234 EMPRESA IPIXEL Com a constituição da nova empresa, novos problemas surgiram. Devido a seu rápido crescimento, foi necessário que os sócios e todos os colaboradores passassem ao regime de dedicação exclusiva. O principal produto da iPixel, pelo qual os sócios José Luiz e Márcio tanto tinham trabalhado e conseguido firmar no mercado, estava sendo relegado a um segundo plano, enquanto a demanda da nova empresa absorvia todos os recursos e dedicação. Essa constatação trouxe um grande desconforto aos sócios. Mais uma vez surgiu a questão: o que fazer? Como retomar o controle? Nesse mesmo momento, acontecia o projeto Acelera Minas, uma parceria entre a Secretaria do Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais – Sectes, Sebrae-MG, RMI6 e Incubadoras – visando à inserção e aceleração das empresas recém graduadas no mercado, como estímulo à inovação. A iPixel foi uma das empresas selecionadas para fazer parte do projeto. Uma das ações do programa consistia em consultorias e visitas do Instituto Inovação, bem como acompanhamento da Incubadora no sentido de rever os objetivos da empresa e seu planejamento, em busca da confirmação do propósito que havia motivado a criação da empresa. Através das consultorias recebidas, revisões em seus planejamentos e discussões com a incubadora do Genesis/Critt, a iPixel chegou à conclusão de que o melhor para a empresa seria separar a sociedade recém criada, apesar de promissora, e dar continuidade e foco ao seu principal produto, o iClips. A iPixel retomava seu caminho, acreditando na grande aceitação que o iClips alcançava no mercado publicitário. Era um nicho promissor que precisava de atenção, pois havia clientes interessados no produto. A demanda pelo sistema e a volta à origem do negócio fez com que o iClips fosse atualizado com uma nova estratégia comercial e de comunicação, gerando uma segunda versão, com novas tec6 RMI – Rede Mineira de Inovação do Estado de Minas Gerais Historia de sucesso - incubadora234 234 26/11/2007 13:11:19 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 235 nologias e melhorias de acesso e uso – organização de informação e layout. Essas melhorias transformaram o software em um produto mais viável, de uso mais intuitivo e ganhou também em performance. Nasceu, assim, a segunda geração do iClips. A empresa aprendeu e crescer E a iPixel aprendeu e cresceu... No ano de 2006, a iPixel deu início ao projeto de implantação do modelo de referência e avaliação de qualidade, MPS.Br7, desenvolvido pela Softex, em parceria com MCT8, BID9 e Finep10. Em 2007, a iPixel tornou-se a primeira empresa fora da capital mineira a implantar o MPS.Br. Em janeiro de 2007, a empresa começou a redesenhar suas políticas e processos para otimizar a qualidade do desenvolvimento de software e adequar a prestação de serviços de TI aos requisitos do MPS.Br. O iClips se tornou um produto de alta qualidade, com ampla aceitação no mercado. Instalado em oito estados brasileiros, contabiliza mais de 30 unidades vendidas. A meta dos empreendedores da iPixel é que, até o final de 2007, alcance a marca de 100 unidades vendidas. Enquanto isso, a iPixel já constituiu uma carteira de clientes diversificada, firmando o negócio no seu principal nicho de atuação, o das agências publicitárias e se mostrou apta para se manter em um mercado tão competitivo como o de informática. A trajetória da empresa sempre foi marcada por desafios. Segundo os clientes e sócios da empresa, todos eles foram enfrentados de maneira profissional, buscando apoio em seus parceiros e em seus relacionamentos institucionais construídos ao longo de sua jornada. MPS-Br. – Processo de melhoria de qualidade de desenvolvimento de software. Modelo de certificação de qualidade da Softex equivalente ao Modelo Americano CMMI 8 MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia 9 BID – Banco Internacional de Desenvolvimento 10 FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos 7 EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora235 235 26/11/2007 13:11:19 236 EMPRESA IPIXEL O aprendizado da iPixel, que iniciou seu negócio na incubadora do Genesis/Critt da UFJF, contribuiu para fortalecer a empresa no mercado, tornando-a competitiva. Os empresários acreditam que qualquer empresa pode passar por dificuldades, mas o importante é estar preparada e responder rápido às mudanças exigidas pelo mercado. Na visão dos sócios, o maior desafio é manter a empresa e o seu produto como referência. Para isso, não medem esforços e perseguem seu objetivo, sempre atentos às oportunidades que podem surgir em sua trajetória. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Por que o projeto do site de pesquisa de preço não deu certo? 2. Qual o problema que se tornou o marco de reposicionamento da trajetória da empresa? 3. Como a empresa solucionou seus problemas? 4. O que a consultoria do Projeto Acelera Minas trouxe de mudança para a empresa? REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA http://pt.wikipedia.org/wiki/Juiz_de_Fora iPixel www.ipixel.com.br Sociedade Softex www.softex.gov.br Microsoft – http://www.microsoft.com/brasil/dotnet/default.asp Registros da Incubadora Genesis / UFJF http://pt.wikipedia.org/wiki/Mirai Foto de Juiz de Fora Foto de Marcos Augusto Moreira em outubro de 2005 – http:// pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Juiz_de_Fora_vista_aerea.jpg Portal Sebrae Minas: www. sebraeminas.com.br/casos de sucesso Historia de sucesso - incubadora236 236 26/11/2007 13:11:19 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 237 2007 ABORDAGEM METODOLÓGICA Aplicação dos Estudos de Caso para Fins Didáticos A METODOLOGIA DO PROJETO CASOS DE SUCESSO DO Sebrae O Projeto Casos de Sucesso foi iniciado em 2002 como uma prioridade do direcionamento estratégico do Sistema Sebrae, visando atender aos seguintes objetivos: 1. Gerar um processo de produção de conhecimento dentro do Sistema Sebrae, visando utilizá-lo como uma das ferramentas para obtenção de resultados. 2. Sensibilizar os colaboradores sobre a importância da produção de casos, contribuindo para o processo de Gestão do Conhecimento Institucional. 3. Replicar os casos no Sebrae e junto aos parceiros e instituições de ensino superior, visando à capacitação de empresários, empreendedores e alunos, por meio de análise de situações reais de pequenos empreendimentos brasileiros. 4. Divulgar para a sociedade em geral as experiências bem- sucedidas na geração de emprego e renda, por meio da publicação do material em livro e no site do Sebrae – www. sebrae. com.br. Entretanto, para atingir tais objetivos e construir casos como ferramenta para fins de ensino didaticamente estruturado, é necessário atender a alguns requisitos-chave. O caso de ensino deve apresentar uma boa história, com a qual o leitor possa identificar a sua realidade e se envolver, além de apresentar uma boa quesEDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora237 237 26/11/2007 13:11:20 238 METODOLOGIA tão de negócio, ou seja, uma situação onde haja a necessidade de se tornar uma importante decisão. Não se pode perder de vista que o caso é um veículo para ensinar conceitos e experiências empreendedoras por meio da simulação de uma situação real. Nesse sentido, a situação deverá ser narrada com a maior neutralidade possível em relação aos fatos acontecidos. Atendendo a todas as premissas acima, foi elaborada pelo Sebrae, em 2002, a metodologia Casos de Sucesso, disponível no site da instituição www.sebrae.com.br/casosdesucesso. A partir de 2004, essa metodologia foi aprimorada. O Sebrae adotou a Gestão Estratégica Orientada para Resultados (GEOR), que tem como objetivo promover, a curto prazo, a capacidade do Sistema Sebrae e de seus parceiros de produzir, medir e comunicar benefícios relevantes para a sociedade e para as micro e pequenas empresas e, dessa forma, os casos produzidos passaram a atender à demanda de conhecimento dos projetos voltados para o público-alvo da instituição. Assim, foi desenvolvido um conjunto de ações visando ao fortalecimento da Gestão do Conhecimento no Sistema Sebrae, tendo o Caso de Sucesso como um de seus principais instrumentos. Entre essas ações, destacam-se as seguintes iniciativas: Metodologia para elaboração do Caso de Sucesso: a metodologia Casos de Sucesso foi criada com o objetivo de garantir a qualidade do conteúdo e nivelar a formação didática dos escritores, responsáveis pela descrição dos estudos de casos em todo o País, e dos seus orientadores académicos. A metodologia do Sebrae é uma adaptação do consagrado método de ensino adotado na Harvard Business Scbool. Disseminação do Caso de Sucesso: com o objetivo de ampliar o acesso aos estudos de caso, utilizando as melhores práticas adotadas em pequenos negócios brasileiros, o Sebrae disponibiliza no site www.sebrae.com.br, link Casos de Sucesso, todas as informações referentes aos estudos e conteúdos do projeto. Historia de sucesso - incubadora238 238 26/11/2007 13:11:20 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 239 Utilização do Caso de Sucesso: a partir do novo modelo de gestão adotado pela instituição, os estudos de caso estão sendo utilizados como uma ferramenta de ensino em capacitações, na difusão de conhecimento junto a empreendedores e comunidades para obtenção de resultados. Para isso, foram elaborados procedimentos didáticos com o intuito de obter a melhor aplicação dos estudos de casos junto ao público-alvo. UTILIZAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO Sebrae PARA FINS DIDÁTICOS No Caso de Sucesso do Sebrae, o texto apresenta, a exemplo do método Harvard, os principais aspectos que envolvem um dilema vivido pelo empreendedor/protagonista da história. A diferença é que no caso do Sebrae o desfecho do dilema é apresentado. O leitor é informado sobre a decisão que efetivamente foi tomada pelo protagonista, os detalhes das suas ações e como se deu a sua implementação. Com isto, o professor/instrutor tem em mãos um instrumento completo que permite estudar a solução implementada, discutir as alternativas possíveis que poderiam ser adotadas e refletir sobre os desafios futuros. O estudo de caso permite ao instrutor/professor: • utilizar o estudo de caso como ferramenta de ensino e implantar um método participativo, simulando a realidade no ambiente de ensino, permitindo vinculação mais fácil da teoria com a prática; • analisar e criticar uma situação do mundo real de negócios, focado nas melhores práticas adotadas nos pequenos negócios brasileiros – ensinar pelo exemplo, e facilitar o aprendizado e o relacionamento entre os conceitos teóricos apresentados nas disciplinas com a prática empresarial; • apresentar o processo de gestão de forma integrada, mostrando aos empreendedores/alunos conexões entre diferentes problemas e a necessidade de decisões que contemple essa complexidade. EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora239 239 26/11/2007 13:11:20 METODOLOGIA 240 Os 10 Passos de como ENSINAR utilizando casos: 1° Passo: É fundamental que o instrutor/professor: a) familiarize-se com os materiais: conheça os casos dos livros, o site do Sebrae (www.sebrae.com.br) e os vídeos, quando houver; b) após compreender a metodologia, selecione o caso a ser utilizado para fixar os conteúdos teóricos que serão estudados; c) leia exaustivamente o caso; d) seja instrutor/professor e empreendedor/aluno ao mesmo tempo – cada caso é uma experiência nova; e) incentive os participantes para o debate: siga o método, mas não abdique da sua experiência e criatividade. 2° Passo: Ao preparar-se para o estudo de caso, lembre-se de que: a) a técnica consiste em construir e trabalhar relacionamentos entre as diversas situações do caso com os conceitos teóricos estudados; b) as situações são encontradas em parágrafos, em uma frase ou, até, em um conjunto frases sequenciais retiradas do caso. c) um ou mais conceitos poderão ser encontrados e discutidos a partir das situações apresentadas no caso. 3° Passo: Como preparar a aula e distribuir os materiais contendo o caso: a) identifique, com um marca-texto, todas as situações relacionadas com os conceitos estudados na disciplina ou capacitação; b) disponibilize o caso para os participantes antes do início das aulas (de preferência com antecedência suficiente para que eles o leiam). Historia de sucesso - incubadora240 240 26/11/2007 13:11:20 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 241 4° Passo : Como preparar os participantes/alunos para o estudo de caso: a) explique para aos participantes/alunos toda a dinâmica a ser realizada; b) oriente os empreendedores/alunos e explique a eles como deverão construir os relacionamentos entre os conceitos teóricos e as situações encontradas no caso; c) dê exemplos simples de como você construiu alguns relacionamentos; d) cobre dos participantes as tarefas que eles deverão realizar com o caso. 5° Passo: Como preparar a dinâmica em sala-de-aula: a) reserve a primeira parte da aula para a dinâmica dos pequenos grupos e a última parte para a realização de um fórum de debates com toda a turma; b) os pequenos grupos serão formados de acordo com as conveniências dos participantes; c) o número ideal do pequeno grupo é de, no máximo, 5 participantes; d) opcionalmente, cada pequeno grupo deverá produzir um relatório do trabalho realizado; e) após a formação dos pequenos grupos, solicite que os grupos escolham um relator da discussão; f) o relator é responsável pela produção do relatório a ser entregue ao instrutor; g) o grupo deve ser auto-gerido e deverá concluir a discussão no prazo de 20 a 40 minutos. 6° Passo: Supervisão da execução das tarefas: a) circule entre os grupos, estimulado a discussão e dirimindo dúvidas; EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora241 241 26/11/2007 13:11:20 METODOLOGIA 242 b) ao término do tempo da discussão em grupo, dissolva os grupos e peça aos participantes que voltem a seus lugares originais para a segunda parte da aula; c) os relatórios produzidos pêlos participantes devem ser recolhidos para análise do instrutor e futuros comentários, se assim desejar. 7° Passo: O papel do instrutor/professor no desenvolvimento da dinâmica em sala-de-aula: a) enfatize para toda a turma que um debate organizado é fundamental para aprender com o caso; b) é nesse momento que você, como mediador, deverá permitir que os participantes confrontem seus diferentes pontos-de-vista acerca do caso. Lembre-se de que se deve evitar “achismos”. Os pontos de vistas devem ser fundamentados; c) corrija os relacionamentos inadequados entre os conceitos estudados e situações do caso. 8° Passo: O papel do instrutor/professor na condução do debate: a) inicie os debates com perguntas que associem conceitos estudados com situações do caso; b) motive os participantes ao debate, estimulando-os a comentar as opiniões dos colegas; c) o debate tem por finalidade: • a identificação de conceitos; • a reconstrução de conceitos; • a identificação de novos conceitos; • a análise e crítica dos fatos e dos atores do caso, assim como das consequências das suas decisões/soluções. Historia de sucesso - incubadora242 242 26/11/2007 13:11:20 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 243 2007 9° Passo: A participação do instrutor/professor no debate: a) é normal que os participantes perguntem a sua opinião – você pode expressá-la, mas enfatize que necessariamente não há apenas esta solução para o caso; b) não se preocupe em encontrar respostas definitivas, e sim as fundamentadas nos conceitos estudados; c) não tente esgotar o assunto; d) lembre-se: cada sessão de ensino com o caso é uma experiência única, não se presta para generalizações. e) ao final do debate apresente o vídeo, se houver. 10° Passo: Para ensinar e aprender: O sucesso de uma aula com o Estudo do Caso depende fundamentalmente de dois fatores: a) preparação dos participantes (empreendedor/aluno); b) preparação do Instrutor/professor. Comitê Gestor do Projeto Casos de Sucesso Sebrae Nacional REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARIANO, Sandra R. H.; MAYER, Verônica Feder. Histórias de Sucesso. Guia Passo a Passo. Metodologia para a produção de casos e práticas de sucesso do Sebrae. 2a edição. Brasilia: Edição Sebrae, 2006 VEIT, Mara Regina. Guia Passo a Passo – Metodologia para o Desenvolvimento dos Casos de Sucesso do Sebrae. Brasília: Edição Sebrae, 2003 Portal Sebrae Minas: www.sebraeminas.com.br/casosdesucesso EDIÇÃO RMI E SEBRAE MG Historia de sucesso - incubadora243 243 26/11/2007 13:11:20 244 Historia de sucesso - incubadora244 244 26/11/2007 13:11:21 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 245 RMI Diretoria 2007 Equipe RMI 2007 Lançamento da Anprotec 2007 BH Presidente Anprotec, Prefeito Municipal de BH e Presidente da RMI Anprotec / RMI / Sebrae Lançamento Anprotec 2007 BH Lançamento Anprotec 2007 BH Historia de sucesso - incubadora245 245 26/11/2007 13:11:28 GALERIA DE FOTOS 246 Escritores do livro Histórias de Sucesso Associados RMI Catálogos RMI Equipe Técnica do livro Grupo de discussão Presidentes da RMI 1. Gestão 1997/01 Roberto Maia Rosenbaum 2. Gestão 2001/02 Paulo Renato Macedo Cabral 3. Gestão 2002/06 Christiano Gonçalves Becker 4. Gestão 2006/08 Rogério Abranches da Silva Historia de sucesso - incubadora246 246 26/11/2007 13:11:33 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 247 Insoft – Prêmio Anprotec INSOFT Empresa DoctorSys Insoft – Prêmio Inovação Tecnológica Sebrae MG Empresa Eteg Empresa Eteg Empresa USS Empresa Liga Historia de sucesso - incubadora247 247 26/11/2007 13:11:39 GALERIA DE FOTOS 248 Empresa Ferrara Anel de Ferrara BIOMINAS Empresa Katal Empresa ComunIP xxxxxxxx INOVA Historia de sucesso - incubadora248 248 26/11/2007 13:11:44 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS PROINTEC 2007 249 Empresa Exsto Empresa Exsto INATEL Empresa Tsda Empresa Tsda Empresa Biquad xxxxxxxx Empresa Biquad Historia de sucesso - incubadora249 249 26/11/2007 13:11:51 GALERIA DE FOTOS 250 Inatel – Prêmio Anprotec Empresa AgroGenética CETEV – UFV Equipe AgroGenética Empresa AgroGenética Empresa Studim Empresa Studim Historia de sucesso - incubadora250 250 26/11/2007 13:11:55 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 2007 251 Empresa Cientec Empresa Cientec Empresa Ipixel CRITT - UFJF Empresa Lupa Empresa Lupa Empresa Lupa Historia de sucesso - incubadora251 251 26/11/2007 13:11:58 GALERIA DE FOTOS 252 Minastec – 2004 Minastec – 2004 Minastec – 2004 Minastec – 2006 Minastec – 2006 Minastec – 2006 Minastec – 2006 Minastec – 2006 Reconhecimento das 5 incubadoras vencedoras do Prêmio Anprotec 2002 a 2006 Historia de sucesso - incubadora252 252 26/11/2007 13:12:04 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 253 2007 COMITÊ GESTOR E ESCRITORES COMITÊ GESTOR DO PROJETO Coordenação: Mara Regina Veit – Gerente de Atendimento ao Empreendedor Sebrae MG Comitê de Apoio: Anizio Dutra Vianna – Gerente de Inovação e Tecnologia Sebrae MG Christiano Gonçalves Becker – Diretor RMI Daisy Andrade de Melo Souza – Diretora RMI Ricardo Luiz Alves Pereira – Gerentes de Educação, Empreendedorismo e Cooperativismo Sebrae MG Docentes e Tutores Metodoló g i c o s Cacilda Nacur Lorentz Thusek – Analista de Educação Sebrae MG Cláudio Afrânio Rosa – Analista de Educação Sebrae MG Mara Regina Veit – Gerente de Atendimento Sebrae MG Supervisão Técnica Andrea Furtado de Almeida – Gerente de Serviços e Relacionamento RMI Georgia Utsh – Assessora de Comunicação RMI Izabela Andrade Lima – Assistente de Educação Sebrae MG Lilia da Silva Botelho – Assistente de Atendimento Sebrae MG Revisão Cristiane dos Santos Verediano – Professora ETFG Ermelinda Torres Simões – Professora ETFG Internet: Capa e Site Daniela Almeida Teixeira – Analista de Atendimento Sebrae MG Filipe A. Calicchio Souza – Estagiário Atendimento Sebrae MG Historia de sucesso - incubadora253 253 26/11/2007 13:12:04 254 ESCRITORES DO LIVRO Andréa Furtado de Almeida, Angélica Salles, Anízio Dutra Vianna, Anna Paola Pinto, Bethânia Duarte Braga, Christiano Gonçalves Becker, Daisy Andrade de Melo e Souza, Evandro Mendonça Fortuna, Georgia Utsch, José Geraldo Vidal Vieira, Juliana Amorim, Kênia Danielle Brandão Miguel Pires, Lívia de Carvalho Furtado, Mônica Cristina Rodrigues da Silva, Oswaldo Bueno, Patrícia Borges Pinelli, Renata Naiara da Silva, Rita de Pinho Carvalho, Ronise Suzuki, Sérgio Yoshio Mitsugui, Taciana Ramos GESTÃO RMI REDE MINEIRA DE INOVAÇÃO GESTÃO 2006-2008 Presidente: Rogério Abranches da Silva Vice-presidente: Paulo Tadeu Leite Arantes Diretor: Christiano Gonçalves Becker Diretora: Daisy Andrade de Melo Souza GESTÃO 2006-2008 Presidente: Christiano Gonçalves Becker Vice-presidente: Rogéio Abranches da Silva Diretores: Eduardo Emrich Soares e Zuelma Paixão Presidente: Christiano Gonçalves Becker GESTÃO 2004 / 2006 Vice-presidente: Valéria Maria Martins Júdice Superintendente: Paulo Renato Macedo Cabral GESTÃO 2001 / 2002 Superintendente Adjunto: Cláudio Furtado Superintendente: Roberto Maia Rosenbaum GESTÃO 1999 / 2001 Superintendente Adjunto: Valéria Maria Martins Júdice Superintendente: Roberto Maia Rosenbaum GESTÃO Superintendente Adjunto: Carlos Henrique Vasconcellos 1997 / 1999 Valéria Maria Martins Júdice Historia de sucesso - incubadora254 254 26/11/2007 13:12:04 EMPRESAS GRADUADAS DAS INCUBADORAS MINEIRAS 255 2007 INCUBADORAS MG RELAÇÃO DAS INCUBADORAS INSOFT/ BH – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Informática Av. Afonso Pena, 4000 3º andar – Cruzeiro – Belo Horizonte – CEP: 30.130-009 http://www.fumsoft.softex.br/insoft – (31) 3281-1148 BIOMINAS/ BH – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Biotecnologia, Química Fina e Informática Aplicada Av. José Cândido da Silveira, 2100 – Horto – Belo Horizonte – CEP: 31.170-000 http://www.biominas.org.br – (31) 3486-1733 INOVA AGE / UFMG – Incubadora de Empresas Av. Antônio Carlos, 6627 – Anexo setorial II – Pampulha – Belo Horizonte CEP: 31.270-901 http://www.inova.ufmg.br – (31) 3499-5689 PROINTEC – Programa Municipal de Incubação de Empresas Alameda José Cleto Duarte, 57 2º andar – Centro – Santa Rita do Sapucaí CEP: 37.540-000 http://www.prointec.com.br – (35)3471-3826 INATEL – Incubadora de Empresas e Projetos do Instituto Nacional de Telecomunicações Av. João de Camargo, 510 Prédio 5 – Inatel – Santa Rita do Sapucaí CEP: 37.540-000 http://www.inatel.br/incubadora – (35) 3471-9257 CENTEV-UFV – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica Parque Tecnológico de Viçosa – Edifício sede Funarbe, s/ nº Prédio anexo Campus Universitário – Viçosa – CEP: 36.570-000 http://www.centev.ufv.br/incubadora – (31) 3899-3135 CRITT/GENISS/UFJF – Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia-JF Campus Universitário UFJF, s/ nº Prédio Critt – Martelos – Juiz de Fora CEP: 36.036-900 http://www.critt.ufjf.br – (32) 3229-3435 Historia de sucesso - incubadora255 255 26/11/2007 13:12:04 256 RMI Av. Afonso Pena, 4000 – 3º andar. 30.130.007 – Bairro Cruzeiro Belo Horizonte – MG – Brasil Telefone: (31) 3281.2011 www.rmi.org.br Sebrae Minas Av. Barão Homem de Melo, 329 30460-090 – Nova Suiça Belo Horizonte – MG – Brasil Central de Atendimento: (31) 3269.0180 www.sebraeminas.com.br Historia de sucesso - incubadora256 256 26/11/2007 13:12:05