MARIA, MÃE DE JESUS, MÃE DA IGREJA, NOSSA MÃE Lucy C. Piazza Jesus, durante a última ceia com os seus discípulos, antes de sua morte e ressurreição, disse que não nos deixaria órfãos (cf. Jo,14-18). Prometeu enviar o Espírito Santo para habitar em nós, nos recordar suas palavras e ensinar-nos todas as coisas (cf. Jo 14,26). Esta promessa foi cumprida integralmente em Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sob a forma de línguas de fogo, sobre todos os que estavam presentes no Cenáculo (cf. At 2, 1). Maria, sua Mãe, também estava entre eles (cf. At 1,14). Jesus nos deu tudo, inclusive Ele próprio e sua própria vida. Deu-nos ainda mais. Deu-nos um modelo, um exemplo, alguém para podermos imitar e recorrer continuamente. Alguém cheia do Espírito Santo e totalmente aberta à sua ação. Santo Agostinho nos diz que “O molde que Deus usa para fazer uma série de santos, é a Virgem Maria”. Ela é o formato que nós devemos ter. Em Nossa Senhora de Pentecostes, todos os nomes por nós utilizados para saudar Maria se encontram, pois a reconhecemos sempre como Aquela que é cheia do Espírito Santo. A primeira referência bíblica a Nossa Senhora ocorre lá no Gênesis, uma mulher pisando a cabeça da serpente (cf. Gn 2,14-15). Deus deu a Maria esta graça, este poder, de esmagar todo o mal na nossa vida. Isaías já profetizava dizendo: “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ‘Deus conosco’” (Is 7,14). E a profecia de Isaías se cumpre na Anunciação de Jesus, quando o Anjo Gabriel vai à Nazaré, enviado por Deus e encontra Maria. O anjo lhe diz: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28). Naquele tempo, estas palavras significavam uma saudação a quem não tinha pecado. Maria foi redimida desde a concepção. Ela é a Imaculada Conceição. E o anjo continua falando-lhe para não temer, pois Ela havia encontrado graça diante de Deus. Ela iria conceber e dar à luz um filho, que se chamaria Jesus. (cf. Lc 1,30-31). Para o nosso olhar humano, poderíamos associar “ser agraciada por Deus” a imagens de facilidades, poder, conforto e sucesso. No entanto, não foi assim na vida de Nossa Senhora e não é assim na nossa vida. A graça de Deus foi dada a Ela e é dada a cada um de nós, como uma oportunidade de participar da obra de salvação, de resgate de cada filho e filha de Deus. Assim, como ocorreu com Maria, a graça de Deus não nos isenta de provações e sofrimentos. Ela sabia o que estava vindo para a vida dela; virgem, desposada com José, grávida e sem ainda coabitarem (cf. Mt 1,18). E o que Maria faz? Pergunta apenas ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?” (Lc 1,34). Seu desejo era saber como cumpriria a vontade de Deus na sua vida. Podemos aprender com Ela a perguntar ao Senhor o que Ele quer para a nossa vida, e como fazer para realizar a sua vontade em nós. A resposta do anjo é que o Espírito Santo desceria sobre Ela e a envolveria com sua sombra (cf. Lc 1,35). O Espírito Santo cobre Maria com sua sombra e Jesus é fecundado em seu ventre. O mesmo Espírito quer também fecundar a nossa vida, nosso ser, nossa oração, para que possamos gerar Jesus na nossa vida, nossa missão, e para o mundo todo. Maria responde dando o seu sim. “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ser serva é estar permanentemente à disposição, estar numa posição “sem destaque”. Muitas vezes, não queremos ser servos. Queremos decidir e fazer as nossas escolhas acerca da nossa vida. Queremos dar o “nosso rumo”, “o nosso jeito” na nossa vida, fazer as coisas acontecerem na hora que desejamos. Quando a mãe de Tiago e João aproximou-se de Jesus, pediu a Ele para seus filhos sentarem-se, na eternidade, à direita e à esquerda Dele (cf. Mt 20,21). Os outros discípulos ficaram indignados com os dois irmãos. E Jesus diz: “Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo” (Mt 20,26b). Quando Jesus encontra Pedro, após a Ressurreição, pergunta-lhe: - Pedro, tu me amas mais do que a estes? Na nossa vida, muitas vezes, somos tentados a substituir, como a mãe de Tiago e João, o amor pelo poder. Maria jamais se preocupou com o poder. Servir, amar, fazer a vontade de Deus era tudo que importava. Logo a seguir, Maria vai até Isabel, sua parenta. O anjo falara da gravidez dela, em idade avançada, e tida por estéril, acrescentando (...) “porque a Deus nenhuma coisa é impossível” (Lc 1,37). Maria sobe a montanha, para estar com ela e auxiliá-la na espera de João Batista. Vai “às pressas”, não perde tempo, não retarda a hora de sair de seu conforto, sua casa, para participar daquele momento importante que Isabel atravessava (cf. Lc 1,39). Vai acompanhada, levando Jesus com ela. Ela é assim conosco também. Rapidamente vem ao nosso encontro nas dificuldades e desafios da vida, sempre trazendo Jesus. E, quando chega à casa de Isabel, o bebê estremece de alegria no seu ventre, ao ouvir a saudação Daquela que é cheia do Espírito Santo. E Isabel exclama: “Bemaventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas” (Lc 1,45). Maria, exultante de alegria, responde entoando o Magnificat, louvando e bendizendo a Deus pela obra Dele na sua vida (cf. Lc 1,46-55) e na vida da humanidade. Jesus nasce em Belém, numa manjedoura, pois não havia lugar para José e Maria nas hospedarias. Avisados por anjos, os pastores encontram a Família de Nazaré. Contam maravilhas sobre aquele Menino, deixando a todos maravilhados. “Maria conservava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,19). Ela é e sempre será nosso modelo de oração, de contemplação dos mistérios de Deus, de união atenta, terna e serena à presença de Deus na sua e na nossa vida e às suas manifestações. O Espírito Santo a conduziu com delicadeza a uma profunda oração pessoal. Assim devemos ser, para que nossa vida e missão possam ecoar o viver e sentir de Maria. “E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). No início da vida pública de Jesus, houve uma festa em Caná da Galileia. Era um casamento e Jesus e os seus discípulos tinham sido convidados. Maria, a Mãe de Jesus, estava presente. Tantos preparativos e, de repente, algo que poderia tirar todo o brilho e a alegria da festa, deixando as famílias tristes e envergonhadas: não havia mais vinho. Nossa Senhora percebe a dificuldade e fala a Jesus sobre ela (Jo 2,1-3). Jesus pergunta: “Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4). E Ela diz aos servos: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5b). São estas e tão somente estas as palavras que Maria nos diz continuamente. Nada é mais importante do que a Palavra de Deus, e é fundamental a nossa fidelidade, obediência e adesão a ela. Maria deixa a Palavra de Deus ecoar nela, fazer-se vida em seu ser. “Ela, que ‘conservava todas estas recordações e as meditava no coração’ (Lc 2,19; cf. 2,51), ensina-nos o primado da escuta da Palavra na vida do discípulo e missionário. O ‘Magnificat’ está inteiramente tecido pelos fios da Sagrada Escritura, os fios tomados da Palavra de Deus. Assim, revela-se que nela a Palavra de Deus se encontra de verdade em sua casa, de onde entra e sai com naturalidade. Ela fala e pensa com a Palavra de Deus; a Palavra de Deus se faz a sua palavra e sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, assim se revela que seus pensamentos estão em sintonia com os pensamentos de Deus, que seu querer é um querer junto com Deus”. 1 Nos seus últimos momentos, na Cruz, perto de Jesus estava Maria, de pé, junto com João. “Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis aí teu filho’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis aí tua mãe’. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como sua” (Jo 19,25-27). João representa a Igreja inteira ali, aos pés do Calvário. “Diante da Cruz, vemos Maria de pé, sustentada pelo Espírito Santo, recebendo do Filho a missão de ser Mãe da Igreja”. 2 Jesus, ao mostrar a João a sua Mãe, estava dizendo-lhe e a cada um de nós: Cuide Dela por mim. Somos responsáveis por Ela. Jesus deu-nos sua Mãe para que Ela cuidasse de nós e nos acompanhasse em todos os momentos de nossa vida. O Papa Francisco, ao vir ao Brasil em 2013, disse: “Quando a Igreja busca Cristo, ela bate à porta da casa da Mãe, para Ela nos mostrar Jesus!” Nós, como filhos dela, vamos à casa de Nossa Senhora e batemos à porta. Vamos aos Santuários Marianos: Fátima, Medjugore, Guadalupe, Aparecida e tantos outros. Batemos à porta do seu coração e somos acolhidos como filhos, porque o coração dela está sempre aberto e disponível a todos nós. E, sendo acolhidos como filhos, aprendemos com Ela a fazer tudo o que Jesus nos disser (cf. Jo 2,5). “(...) No tabernáculo do ventre de Maria, Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, permanecerá até ao fim do mundo; no conhecimento e amor da alma fiel habitará pelos séculos dos séculos”. 3 Após a Ressurreição e Ascensão de Jesus, Maria permanece com os discípulos no cenáculo, em constante oração. “Perseverando junto aos apóstolos à espera do Espírito (cf. At 1,13-14), ela cooperou com o nascimento da Igreja missionária, imprimindo-lhe um selo mariano que a identifica profundamente. Como mãe de tantos, fortalece os vínculos fraternos entre todos, estimula a reconciliação e o perdão e ajuda os discípulos de Jesus Cristo a se experimentarem como família, a família de Deus. Em Maria, encontramo-nos com Cristo, com o Pai e com o Espírito Santo, e da mesma forma com os irmãos”. 4 Fixamos o nosso olhar em Maria e ali encontramos refletidos a ternura e o amor de Deus. “Nossa Mãe querida, desde o santuário de Guadalupe faz sentir a seus filhos menores que eles estão na dobra de seu manto. Agora, desde Aparecida, convida-os a lançar as redes ao mundo (...)” 5, 1 Documento de Aparecida n. 271. Nogueira, Maria Emmir O. Mãe da Nossa Fé. Aquiraz, Edições Shalom, p.16, 2013. 3 Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium n. 285. 4 Documento de Aparecida n. 267. 5 Documento de Aparecida n.265. 2 atendendo com alegria e fidelidade ao envio missionário de Jesus: ‘Ide, pois e ensinai a todas as nações’ (Mt 28, 19a). Não tenha medo de amar Maria. Você nunca conseguirá amá-la mais do que Jesus a ama. Sobretudo, deixe-se amar por Ela. Peça a Jesus para Ele ensinar você a ser filho/filha Dela. Ela sabe como ser nossa Mãe, mas nós precisamos aprender a ser seus filhos. Deixe a sua vida se enriquecer com a presença constante, terna e amorosa, ao seu lado, Daquela que é cheia do Espírito Santo, Nossa Senhora de Pentecostes. Com o Papa Francisco, oremos: Maria, Mulher da escuta, Abre os nossos ouvidos; faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus, no meio das mil palavras deste mundo; faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente quem é pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade. Maria, Mulher da decisão, Ilumina a nossa mente e o nosso coração, a fim de que saibamos obedecer à Palavra do teu Filho Jesus, sem hesitações; concede-nos a coragem da decisão, de não nos deixarmos arrastar para que outros orientem a nossa vida. Maria, Mulher de ação, Faz com que as nossas mãos e os nossos pés se movam apressadamente rumo aos outros, para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus, para levar ao mundo, como tu, a luz do Evangelho. Amém! (Palavras do Papa Francisco em 31/05/2013, conclusão do mês mariano, na Praça de São Pedro). durante a récita do Rosário, na