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Laboratório de Aprendizagem e a prática pedagógica em sala
de aula: contribuições para o debate
Márcia Regina da Silva*
José Edimar de Souza***
Resumo
A investigação problematiza as aprendizagens desenvolvidas entre o Laboratório de
Aprendizagem e a prática pedagógica da sala de aula. Contribui para o debate da
relação entre o trabalho docente e as possibilidades de construção do
conhecimento. Utiliza-se metodologicamente da auto-reflexão crítica na perspectiva
freireana a partir do contexto de atuação de dois professores. Constata-se que
ainda é um desafio aproximar o diálogo entre estes dois espaços para que se
consolide uma efetiva aprendizagem dos alunos que circulam nestes espaços.
Palavras-chave: Laboratório de Aprendizagem. Inclusão. Prática Pedagógica.
Aprendizagem.
Resumen
La investigación analiza las aprendizajes desarrollados entre el laboratorio de
aprendizaje y la práctica pedagógica en el aula. Contribuye a la discusión de la
relación entre la enseñanza y las posibilidades de construcción del conocimiento. Se
utiliza metodológicamente la reflexión autocrítica en la perspectiva de Paulo Freire
por el contexto de la ejecución de dos profesores. Parece que todavía es un reto
contruir el diálogo más estrecho entre estos dos espacios para una eficaz
aprendizaje de los estudiantes que circulan en estos espacios.
Palabras-clave: Laboratorio de Aprendizaje. La inclusión. La enseñanza práctica.
Aprendizaje.
Introdução
A proposta deste estudo é ampliar a discussão quanto à prática pedagógica
desenvolvida em espaços escolares de aprendizagem: sala de aula e o Laboratório
de Aprendizagem. As reflexões partem da empiria produzida no contexto das
experiências vivenciadas por nós, enquanto professor no espaço da sala de aula e
professora que atua no Laboratório de Aprendizagem. Utiliza-se metodologicamente
da auto-reflexão crítica na perspectiva freireana a partir do contexto de atuação de
um professor e uma professora. Dessa forma, pretende-se contribuir e ampliar o
* Acadêmica do Curso de Pedagogia na Unisinos. Professora da Rede Municipal de Esteio/RS.
** Graduado em História, Mestre e Doutorando em Educação na Unisinos com bolsa
CAPES/Proex. Psicopedagogo Clínico e Institucional pela Universidade FEEVALE e PósGraduado em Gestão da Educação pela UFRGS. Especialista em Educação na Fundação
Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo/RS. Integra os
seguintes grupos de pesquisa: História, Política e Gestão da Escola Básica; Educação no
Brasil: memória, instituições e cultura escolar (UNISINOS) e Historia y Prospectiva de la
Universidad Latinoamericana (HISULA - UPTC – Colômbia).
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diálogo em relação à circularidade da aprendizagem entre a sala de aula e, viceversa.
As construções possíveis entre a sala de aula e o Laboratório de
Aprendizagem
O Projeto Laboratório de Aprendizagem é um espaço de atendimento
educacional especializado para alunos que ao longo de sua aprendizagem
apresentam alguma necessidade educacional especial, que interfira nos processos
de aprendizagem e/ou no desempenho escolar, ou seja, com dificuldades cognitivas
e múltiplas repetências.
Por meio de estratégias de aprendizagem diferenciadas com ênfase no
lúdico, o professor que atua neste espaço realiza atividades e vivências que visam
desenvolver o potencial de todos os alunos, a sua participação e aprendizagem. A
organização do trabalho dá-se da seguinte forma: atendimento em grupos de no
máximo oito alunos; atendimento em turno inverso ao da sala de aula; registro da
assiduidade do aluno, sendo que em caso de infrequência deve-se encaminhar ao
Serviço de Orientação Escolar; registro de Evolução através de cada atendimento,
onde consta o motivo do encaminhamento, o planejamento, as construções e o que
é preciso enfatizar em relação às dificuldades de aprendizagem de cada aluno.
Quanto às atribuições do professor do Laboratório de Aprendizagem,
destacamos as seguintes: Participação nos encontros mensais de formação,
entrevista inicial com pais/responsáveis a fim de conhecer mais sobre a realidade
do aluno e firmar o termo de compromisso entre escola e família quanto aos
atendimentos; registro das intervenções realizadas com os alunos, compondo o
arquivo do Laboratório de Aprendizagem da escola; trocas, quando necessário, com
profissionais da saúde, que atendam o aluno; elaboração de diferentes estratégias
para contribuir com as construções cognitivas de cada aluno; construção trimestral
de parecer descritivo para devolução aos pais/responsáveis e professores. No
parecer descritivo deverão ser detalhados os aspectos desenvolvidos nas áreas de
raciocínio lógico-matemático, leitura e escrita, emocional e motora ampla e fina.
Como aspecto auto-reflexivo de nossas práticas, como professor atuando em
sala de aula e como professora de Laboratório de Aprendizagem propomos agregar
uma discussão. Observamos que nos últimos anos, a inclusão social e o trabalho de
atendimento ao aluno com dificuldade de aprendizagem, alteraram o cotidiano das
práticas pedagógicas. Os desafios não são apenas de garantir o acesso dos alunos
com diferentes níveis de desenvolvimento da aprendizagem, ele consiste em criar
um elo entre a “rede” de atendimento que se “inventou” no contexto das práticas
para que estes alunos, minimamente aprendessem. (CHARTIER, 2002).
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O que estamos propondo é aproximar e construir um “tempo” na rotina
escolar que não seja meramente o das reuniões e dos rápidos retornos entre os
professores dos alunos que frequentam estas redes de atendimentos. (VARELA;
ALVAREZ-URÍA, 1992). Cabe refletir que entendemos este aspecto como um
“processo” pelo qual devemos “politicamente” batalhar para que sua materialidade
ultrapasse a “utopia”. (FREIRE, 1996).
Constatamos que
as
construções e
a
significação de aprendizagens
construídas nos distintos espaços, tanto no laboratório, com uma intervenção muito
mais intensa para o lúdico, bem como quanto o da sala de aula não se encontram
em diálogo1. Além disso, dificilmente os professores conseguem construir um
projeto de trabalho coletivo para este sujeito atendido no laboratório.
O Laboratório de Aprendizagem não é um lugar de jogar e brincar sem saber
exatamente porque se está jogando, nem é um reforço pedagógico ou uma
repetição de atividades realizadas em aula, tão pouco um lugar de fazer temas.
Diferencia-se também da proposta dos Laboratórios de Aprendizagem, cujo foco é a
aprendizagem, atuando mais diretamente com sujeito da aprendizagem e/ou com o
sujeito e sua aprendizagem. (SOUZA; SILVA, 2009).
Outro desafio, além da incompreensão que impede um “clareamento”
quanto ao trabalho que se desenvolve neste espaço é a desmotivação de alguns
alunos. Como argumenta Fernández (2001), encontram-se na situação de inibição
de aprendizagem, com provável sintoma de “heteronomia”. O grande desafio é
resgatar em cada um o ser “aprendente”, através de sutis atitudes e brincadeiras
que estimulem a mostrar que são seres capazes de aprender. Neste sentido, o
papel do “ensinante” traz uma concepção infinitamente responsável, sendo que
Paulo Freire diz que “a responsabilidade ética, política e profissional do ensinante
lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de
iniciar sua atividade docente”. (FREIRE, 1996, p. 28).
No cotidiano da sala de aula este sintoma, a desmotivação do aluno também
aparece, a evolução da aprendizagem tem sido lenta para estes alunos. Cabe
ressaltar que o contexto social da maioria destes alunos caracteriza-se pelo
histórico familiar com pouca escolarização e uma esmagadora desigualdade social.
A queixa da não-aprendizagem parte da sala de aula, do docente que atua a
maior parte do tempo com os alunos e geralmente surge a partir da manifestação
do sintoma. Para Fernández (1991, p.82), “[...] o que constitui um ‘sintoma’ ou
uma ‘inibição’ tomam forma em um indivíduo, afetando a dinâmica de articulação
entre os níveis de inteligência, o desejo, o organismo e o corpo”, aprisionando a
inteligência. Este aspecto é indispensável para se estabelecer o diagnóstico de
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atendimento e intervenção. O objetivo do plano/projeto de trabalho que se
desenvolve com os alunos visa promover condições saudáveis nos relacionamentos
humanos que se traduzam em construções de aprendizagens.
As estratégias de trabalho neste espaço são peculiares a cada grupo e visam
apostar nas reais possibilidades dos sujeitos ali envolvidos sem uma real
preocupação se atingirão ou não habilidades, conteúdos ou assuntos que compõem
a grade curricular da série/ano que frequentam regularmente na escola. (SOUZA;
SILVA, 2009). O jogo e o brincar são características basilares deste atendimento,
pois, aprender é passar da não posse a posse, é apropriar-se em autoria. É ser
capaz de assumir suas limitações e ultrapassá-las. É ser capaz de saberes práticos,
constituintes de espaços de produção de aprendizagem.
Como diz Gadotti (2003, p. 48):
Todo ser vivo aprende na interação com o seu contexto:
aprendizagem é relação com o contexto. Quem dá significado ao
que aprendemos é o contexto. Por isso, para o educador ensinar
com qualidade, ele precisa dominar, além do texto, o com-texto,
além de um conteúdo, o significado do conteúdo que é dado pelo
contexto social, político, econômico [...] enfim, histórico do que
ensina. Neste sentido, todo educador é também um historiador.
Desse modo, as relações de aprendizagens permitem observar o sujeito se
fazendo e fazendo em e nas culturas, como sujeito que pensa e se responsabiliza
pela sua autoria, que constrói com autonomia “sua palavra”. (SOUZA, 2011). A
aprendizagem
não
apenas
tratada
como
um
requisito
cognitivo,
mas
a
aprendizagem como possibilidade de leitura de mundo, da realidade e da cultura
que
perscrutem
cotidianamente.
Fernández
(2001,
p.
65)
ressalta
“[...]
conseguiremos situar-nos ante o futuro, autorizando-nos a construir [...] um
passado [...]. Tarefa que só podemos fazer cada um de nós, como autores e
biógrafos de nossa história.”.
Constatamos que a autoria, a autonomia de pensamento é algo que não
consta
como
principal
diagnóstico
apresentado
pelos
professores.
Há
uma
preocupação intensa com os conteúdos e a expectativa de que o professor do
Laboratório de Aprendizagem atue como um “reforço” para os conceitos que são
apresentados pelos professores, nas aulas, e incompreendidos pelos alunos.
(MARIANO; SOUZA, 2011). Reiteramos que é para que o aprender seja algo
saudável para o aluno, o conjunto da aprendizagem que passa necessariamente
pelo corpo precisa estar em constante “equilibração”, nas palavras de Fernández
(2001), estar em desacomodação/acomodação.
Considerações Finais
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Ao focar o trabalho de sala de aula e objetivar as aprendizagens e
desenvolvimento da autonomia, no tempo individual de cada sujeito, é reconhecer
que como sujeito autor de seu pensamento e suas construções, além da
aprendizagem o sujeito adquire uma identidade. Este processo se transversaliza em
posturas, modos de ser, agir, pensar e refletir.
Para concluir acreditamos na utopia, pois ela no dizer freireano se ancora no
presente concreto, aponta o futuro, que só se constitui na e pela transformação do
presente. Acredito que podemos vislumbrar um futuro de relações humanas bem
mais dialógicas, justas e significativas, e isso passa pela escola, pelos setores de
atendimento, pelas interações que devemos estar dispostos a estabelecer, como
aqui propostas de refinar relações e práticas entre o laboratório e a sala de aula,
com propósito comum, o sucesso na aprendizagem dos sujeitos!
Referências
CHARTIER, Roger. À Beira da Falésia. A história entre certezas e inquietude.
Porto alegre: Editora da Universidade, UFRGS, 2002.
FERNÁNDEZ, Alícia.
A inteligência aprisionada abordagem Psicopedagógica
Clínica da Criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
______. Os idiomas do aprendende: análise de uma modalidade ensinante em
família, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001.
FREIRE, Paulo.
Pedagogia da Autonomia:
saberes necessários à
prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar e aprender com sentido. Novo
Hamburgo: Feevale, 2003.
SOUZA, José Edimar de. Memória e aprendizagem: dizer a sua palavra. In:
FREITAS, Ana Lúcia Souza de; GHIGGI, Gomercindo; CAVALCANTE, Márcia H.
Koboldt.. (Org.). Leituras de Paulo Freire na partilha de experiências. 1ª. ed.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011, v.1 , p. 94-95.
______. MARIANO, Rosângela. A linha vando pensamentos: sobre educação e
outros mais... Porto Alegre: Pearis, 2011.
______. SILVA, Andrisa Link da. Aproximando práticas: o espaço da sala de
recursos e da sala de aula. In: Anais. Seminário Nacional Educação, Inclusão e
Diversidade. Taquara: FACCAT, 2009, p. 1-10.
VARELA,
Julia.;
ALVAREZ-URÍA,
Fernado.
A
maquinaria
escolar.
Teoria
&
Educação, nº 6, Porto Alegre, 1992, p. 68 -95.
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Márcia Regina da Silva: Professora da Rede municipal de ensino de Esteio – Rio
Grande do Sul. Atua no Lboratório de Aprendizagem. Acadêmica do curso de
Pedagogia na Unisinos. Possui artigos publicados em anais de eventos acadêmicos
como: SILVA, Márcia Regina da.; HAEFLIGER, Luciane. Educação e Direitos
Humanos. In: Anais. XV Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire. Taquara:
FACCAT, 2013, p. 1-7. E-mail: [email protected].
José Edimar de Souza. Graduado em História, Mestre e Doutorando em Educação
na Unisinos. Autor de livros e artigos científicos publicados, dentre estes: SOUZA,
José Edimar de. Trajetórias de Professores de Classes Multisseriadas: Memórias do
Ensino Rural em Novo Hamburgo/RS (1940 a 2009). Rev. P@rtes. [online]. Nº de
páginas:
1-6,
Vol:0.
Janeiro
de
2012.
Disponível
<http://www.partes.com.br/2012/10/04/trajetorias-de-professores-de-classesmultisseriadas-memorias-do-ensino-rural-em-novo-hamburgors-1940-a-2009/>Email: [email protected].
Como citar este artigo: SILVA, Márcia Regina da; SOUZA, José Edimar
de. Laboratório de Aprendizagem e a prática pedagógica em sala de aula:
contribuições para o debate. Rev. P@rtes. [online]. Nº de páginas: …., Vol:…
Janeiro de 2012. Disponível….
1
Parte da empiria utilizada sustenta-se em estudos anteriores desenvolvidos pelos autores e
que foram publicados nos anais de dois eventos, a saber: SOUZA, José Edimar de.; SILVA,
Andrisa Link da. Aproximando práticas: o espaço da sala de recursos e da sala de aula. In:
Anais. Seminário Nacional Educação, Inclusão e Diversidade. Taquara: FACCAT, 2009, p. 110; SILVA, Márcia Regina da. Laboratório de Aprendizagem como Possibilidade de
Transformação. In: Anais. XII Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire. Porto Alegre:
PUCRS, 2010, p. 1-4.
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