PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP MARCIA REGINA CHRISPIM ALVARES ROSETTO INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES DE LIDERANÇAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA. DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO SÃO PAULO 2011 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP MARCIA REGINA CHRISPIM ALVARES ROSETTO INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES DE LIDERANÇAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA. Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Educação: Currículo, sob a orientação da Profª Drª Regina Lúcia Giffoni Luz de Brito. SÃO PAULO 2011 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO MARCIA REGINA CHRISPIM ALVARES ROSETTO INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES DE LIDERANÇAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA. BANCA EXAMINADORA Presidente da Banca: _______________________________________ Profª Drª Regina Lúcia Giffoni Luz de Brito (Orientadora) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC – SP Prof. Dr. Ladislau Dowbor Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP ___________________________________________________ Profª Drª Marina Graziela Feldmann Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC- SP ___________________________________________________ Prof. Dr. Adolfo Ignácio Calderón Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC ____________________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Lobo Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC – SC Data de aprovação: _____/_____/_________ Certo dia Nasrudin encontrou um falcão sentado no parapeito da janela. Ele nunca havia visto um pássaro desta espécie em sua vida. “Pobre criatura!”, exclamou compadecido. “Como puderam te deixar chegar a este estado!” Cortou as garras do falcão, aparou o seu bico, e podou as suas penas. “Agora”, exclamou Nasrudin satisfeito, “agora você está com mais cara de pássaro”. (IDRIES SHAH apud RISTOFF, 1999). Dedico este trabalho a todos e todas que ainda são capazes de sonhar; Sonhar com o dia em que todas as crianças terão a oportunidade de frequentar uma escola; Uma escola onde o pensamento seja livre, onde a capacidade de pensar “quem sou?” e “qual minha contribuição para este mundo?” seja uma disciplina obrigatória no currículo; E onde, através da Educação, estas crianças tornem-se Homens e Mulheres capazes de transformar o Mundo, em um lugar mais justo, mais humano e mais igualitário para se viver. AGRADECIMENTOS • A DEUS, pelo privilégio à VIDA. • A meus pais Mario Alvarez Rodrigues e Neide Chrispim Alvares por serem instrumentos de Deus, possibilitando-me a existência. • A meu irmão Mario Luiz Chrispim Alvares, que me ensina todos os dias, que a vida é um presente divino que deve ser aperfeiçoado cotidianamente. • À minha tia Maria de Lourdes Chrispim pelos ensinamentos de fé, pela determinação e pela energia de vida. • A meu marido Eduardo Lari Rosetto e meu filho Thiago Adolfo Alvares Rosetto – um, por ser meu companheiro, amigo, confidente e entusiasta; o outro, por ser exatamente quem é. • À amiga Andreia Migliorini pelo aconchego, pelo carinho e pela lealdade em todos os momentos de minha vida. • À Profª Drª Regina Lúcia Giffoni Luz de Brito, pela sua dedicação e incentivo como orientadora deste trabalho, proporcionando condições para construção do conhecimento, desempenhando o verdadeiro papel de mestre: aquele que indica o caminho para a descoberta do próprio educando e, principalmente, pela sua conduta e profissionalismo que muito me ensinaram, enfatizando a generosidade, o respeito e a postura ética para com o aprendiz. • Ao Prof. Dr. Ladislau Dowbor, pela atenção e pelas conversas informais que tanto contribuíram para elaboração e fundamentação desta pesquisa e por ter aceitado o convite, que muito me honra, para ser um dos avaliadores deste trabalho. • A Prof. Dra. Marina Graziela Feldmann, pelo incentivo nestes quatro anos vivenciados, pelos grandes debates proporcionados em sala de aula, por incentivar a possibilidade de nunca se deixar de sonhar e por sua presença na avaliação deste trabalho. • Ao Prof. Dr. Adolfo Ignácio Calderón, pela sua presença e incentivo constantes na elaboração desta pesquisa e pelo privilégio em poder contar com seu apoio na apreciação deste trabalho. • Ao Prof. Dr. Eduardo Lobo, pelo respeito, ética e profissionalismo na ponderação desta pesquisa e pela oportunidade em poder compartilhar momentos tão especiais. • À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, pela oportunidade permitida em fazer parte desta instituição, e pelo compromisso com a qualidade da educação, do ensino e da pesquisa. • Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pela possibilidade de estudar nesta instituição. • Aos colegas de turma, às amizades que se solidificaram com o tempo, especialmente à Maria Odete Tenreiro, à Dirce Encarnacion Tavares, à Marta Balbe, José Carlos Melo, Vlademir Marim e Marcia Lobo pelo exemplo de vida, pela energia e amparo nos momentos mais delicados desta trajetória e pela alegria contagiante que impregnaram nossos encontros. • Aos “amigos e amigas da vida”, que estiveram e estão presentes ao longo de minha existência, de todos os lugares por onde passei e vivi: na infância, na adolescência, na juventude e na atualidade, que ainda são responsáveis pela construção de meus valores, ideais, propósitos, lutas e conquistas. • A todos os professores e professoras, que encontrei ao longo desta caminhada educacional, e a todos aqueles que ainda irei encontrar, em especial ao Professor Valdir que decidiu partir “antes do combinado”, mas que se imortalizou em todos os ensinamentos que impregnou em minha alma e a todos e todas, professores e professoras, da PUC-SP pelo exemplo de dedicação e profissionalismo com que sempre fomos tratados, pelos ensinamentos compartilhados e pelos momentos de reflexão entusiasta sobre Educação. • Aos coordenadores, equipe administrativa. • A todos e todas que direta ou indiretamente contribuíram para realização desta pesquisa. RESUMO A história de vida pessoal e profissional desta pesquisadora teceu a problemática que deu origem à questão norteadora desta pesquisa: Qual o significado do conceito de “Responsabilidade Social para lideranças que representam a Educação Superior Brasileira”? Desta feita, tem-se como hipótese principal que a ausência de precisão em termos conceituais, na legislação do SINAES, sobre o que seria a responsabilidade social da educação superior tem gerado uma confusão teórico-conceitual e prática, tornando-o um termo polissêmico para as principais lideranças da Educação Superior Brasileira, desencadeando sua imediata relação com a implantação de projetos sociais à semelhança da tendência predominante no mundo empresarial. O caminho metodológico utilizado em busca da resposta à questão anunciada serve-se dos embasamentos da pesquisa qualitativa, com algum subsídio da pesquisa quantitativa; da pesquisa bibliográfica e documental e da pesquisa de campo. Como estratégia para coleta de dados foram utilizadas as técnicas de observação, questionário e de entrevistas reflexivas. Esta pesquisa tem como propósito juntar-se às reflexões sobre o conceito de Responsabilidade Social das Instituições de Ensino Superior e contribuir com possíveis subsídios para propostas de ordem teórico-prática sobre o tema citado. Para tanto, elege como sujeitos pesquisados os Presidentes representantes de Associações, Conselhos, Fóruns e Sindicatos da Educação Superior Brasileira e Lideranças de Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias e Privadas e do Instituto Ethos. Assim, investigam-se as representações destas lideranças sobre a temática em pauta, a partir da Lei dos SINAES. Antes, porém, decodifica os conceitos relacionados ao tema; sublinha princípios e pressupostos baseados em autores como: ANASTASIOU, BRITO, CALDERÓN, CHAUÍ, CUNHA, DIAS SOBRINHO, DOWBOR, FÁVERO, FREIRE, PIMENTA, RISTOFF, SAVIANI, SEN, TEIXEIRA, analisa as transformações que ocorreram, ao longo da história, com as instituições educacionais do ensino superior brasileiro, buscando a gênese e a evolução do conceito em foco, bem como vivências de ordem prática. Palavras-chave: Educação Superior Brasileira. Responsabilidade Social das IES. Lei dos SINAES. Função Social da Educação. ABSTRACT The history of personal and professional life of this researcher wove the problem that led to the guiding question of this research: What’s the meaning of the concept from "Social Responsibility for leaders who represent the Brazilian Higher Education"? From this essay, the main hypothesis has been that the lack of precision in conceptual terms, in the law of SINAE, on what would be the social responsibility of higher education has generated a theoretical and conceptual confusion and also in practice, making of it a polysemic term for the main leaders of the Brazilian Higher Education, unleashing their immediate relation to the implementation of social projects like the prevailing trend in the business world. The methodological approach used in search for the answer to the question announced makes use of a grounding of qualitative research, with some allowance of quantitative research; of bibliographic and documentary research and field research. As a strategy for data collection techniques were used for observation techniques, questionnaire and reflexive interviews. This research aims to join the discussions on the concept of Social Responsibility of Institutions of Higher Education and grants to help with possible proposals for theoretical and practical policy on the subject cited. To do so, it elects as individuals surveyed representatives the Presidents of Associations, Councils, Forums and the Brazilian Higher Education Unions and Leaderships from Federal, State, Community and Private Universities, and from the Ethos Institute. Thereby, it has been investigating the representations of these leaderships on the issue in question, from the Law of SINAES. First, however, it deciphers the concepts related to the subject; emphasizes principles and assumptions based on authors such as ANASTASIOU, BRITO, CALDERÓN, CHAUÍ, CUNHA, DIAS SOBRINHO, DOWBOR, FÁVERO, FREIRE, PIMENTA, RISTOFF, SAVIANI, SEN, TEIXEIRA, it also analyzes the transformations that have occurred throughout the history, with the educational institutions of higher education in Brazil, seeking for the genesis and the evolution of the concept in focus, as well as practical experiences. Keywords: Brazilian Higher Education. Social Function of Education. Social Responsibility from the IES. SINAES’s Laws. LISTA DE SIGLAS AA AccountAbility ABMES Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ACE Avaliação das Condições de Ensino ACG Avaliação dos Cursos de Graduação ACO Avaliação das Condições de Oferta ADVB Instituto da Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil AI Avaliação Institucional ANACEU Associação Nacional dos Centros Universitários ANDES Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior ANDIFES Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior ANUP Associação Nacional das Universidades Particulares AVALIES Avaliação das Instituições de Educação Superior BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BSI British Standards Institution CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAV Centro de Ciências Agroveterinárias CCT Centro de Ciências Tecnológicas CEA Comissão Especial de Avaliação da Educação Superior CEAD Centro de Educação à Distância CEART Centro de Artes CEAVI Centro de Ensino do Alto Vale do Itajaí CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica CEFID Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos CEO Centro Educacional do Oeste CEPLAN Centro de Ensino do Planalto Norte CERES Centro de Educação Superior da Região Sul CESUP Centro de Ensino Superior de Campo Grande CNE Conselho Nacional de Educação CNEP Centro Nacional de Estudos e Projetos CNI Confederação Nacional de Indústria CNRES Comissão Nacional de Reformulação da Educação Superior CODAI Coordenadoria Geral de Análise e Avaliação Institucional CONAES Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior CPA Comissão Própria de Avaliação CPC Conceito Preliminar de Cursos CRUB Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras CSLL Contribuição Social sobre o lucro líquido CTAA Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação EMAS European Eco-Management and Audit Scheme E-MEC É o sistema de tramitação eletrônica dos processos de regulação (Credenciamento e Recredenciamento de Instituições de Ensino de Superior – IES, Autorização, Reconhecimento e Renovação de Reconhecimento de Cursos ENADE Exame Nacional de Desempenho de Estudantes ENC Exame Nacional de Cursos ESAG Centro de Ciências da Administração ETHOS Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social FAED Centro de Ciências Humanas e da Educação FFCL Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras FOPROP Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação das IES Brasileiras FOREXP Fórum de Extensão das Instituições de Ensino Superior Particulares FOREXT Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e IES Comunitárias FORGRAD Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras FUMCAD Fundos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente FUNADESP Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular GERES Grupo Executivo para a Reformulação de Educação Superior GERET Gerência de Estudos Setoriais GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas HSC Humane Cosmetc Standard IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IES Instituições de Ensino Superior IFES Instituto Federal de Ensino IFET Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia IGC Índice Geral de Cursos INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ISEA Institute of Social and Ethical Accountability ISO International Organization for Standardization LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MARE Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado MEC Ministério da Educação MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização MSC Marine Stewardship Council NBR Norma Brasileira Regulamentadora OHSAS Organization Health and Safety Assessment Series OIT Organização Internacional do Trabalho ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas OS Organizações Sociais OSCIP Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público PAIUB Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras PARU Programa de Avaliação da Reforma Universitária PDI Plano de Desenvolvimento Institucional PIB Produto Interno Bruto PPI Plano Pedagógico Institucional PUC Pontifícia Universidade Católica de São Paulo RSC Responsabilidade Social Corporativa RSE Responsabilidade Social Empresarial SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESu Secretaria de Educação Superior SA Social Accountability SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SINAPES Sistema Nacional de Avaliação e Progresso do Ensino Superior UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa UFFS Universidade Federal da Fronteira Sul UFMA Universidade Federal do Maranhão UnB Universidade de Brasília UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância UNIDERP Universidade Anhanguera UNIP Universidade Paulista USP Universidade de São Paulo LISTA DE GRÁFICOS DO PERFIL ACADÊMICO/PROFISSIONAL GRÁFICO 1 Percentual da faixa etária dos sujeitos pesquisados............ 182 GRÁFICO 2 Divisão percentual do sexo entre os sujeitos pesquisados ... 183 GRÁFICO 3 Percentual do grau de instrução entre os sujeitos pesquisados............................................................................ GRÁFICO 4 Percentual da categoria administrativa da IES em que os sujeitos pesquisados estudaram....................................... GRÁFICO 5 184 185 Percentual de concessão de bolsa de estudos entre os sujeitos pesquisados........................................................ 186 GRÁFICO 6 Percentual da agência de fomento....................................... 187 GRÁFICO 7 Percentual dos sujeitos pesquisados que atuam no ensino superior.............................................................................. GRÁFICO 8 Percentual do tempo (anos) em que atua no ensino superior entre os sujeitos pesquisados................................................ GRÁFICO 9 188 189 Identificação se na mesma instituição em que atua hoje ou em outras.......................................................................... 190 GRÁFICO 10 Percentual da categoria administrativa da IES em que atua.. 191 GRÁFICO 11 Percentual de atuação como professor universitário............. 192 GRÁFICO 12 Identificação de atuação em cargos de liderança............... 193 GRÁFICO 13 Percentual de representação em Órgão Governamental, Fórum, Conselho ou Afins representativo do Ensino Superior............................................................................ 194 GRÁFICO 14 Identificação da região em que atua no ensino superior.... 196 GRÁFICO 15 Percentual das cidades em que atua no ensino superior..... 198 LISTA DE QUADROS DO PERFIL ACADÊMICO/PROFISSIONAL QUADRO 1 Identificação da faixa etária dos sujeitos pesquisados......... 182 QUADRO 2 Identificação relativo ao gênero dos sujeitos pesquisados.. 183 QUADRO 3 Identificação do grau de instrução entre os sujeitos pesquisados......................................................................... QUADRO 4 Identificação da categoria administrativa da IES em que os sujeitos pesquisados estudaram....................................... QUADRO 5 184 185 Identificação se os estudos foram custeados com bolsa de estudos ou não. ................................................................ 186 QUADRO 6 Identificação da agência de fomento. .................................. 187 QUADRO 7 Identificação dos sujeitos pesquisados que atuam no ensino superior. .............................................................................. QUADRO 8 Identificação do tempo (anos) em que atua no ensino superior entre os sujeitos pesquisados............................. QUADRO 9 189 Identificação se na mesma instituição em que atua hoje ou em outras............................................................................... QUADRO 10 188 190 Identificação da categoria administrativa da IES em que atua. ................................................................................. 191 QUADRO 11 Identificação de atuação como professor universitário...... 192 QUADRO 12 Identificação de atuação em cargos de liderança.............. 193 QUADRO 13 Identificação do período em que foi ou é representante de Órgão Governamental, Fórum, Conselho ou Afins representativo do Ensino Superior.................................... 195 QUADRO 14 Identificação da região em que atua no ensino superior.... 196 QUADRO 15 Identificação das cidades em que atua no ensino superior.. 197 LISTA DE QUADROS DA ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS QUADRO 1a Compreensão do Conceito de Responsabilidade Social pelos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior............................ QUADRO 1b 201 Compreensão do Conceito de Responsabilidade Social para as Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG........... QUADRO 1c Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (1a/1b)......................................................... QUADRO 2a 203 205 Compreensão do surgimento da Lei dos SINAES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior............ QUADRO 2b 209 Compreensão do surgimento da Lei dos SINAES na percepção das Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG.............................................................................. QUADRO 2c 210 Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (2a/2b)......................................................... QUADRO 3a 211 O conceito de Responsabilidade Social das Instituições de Ensino Superior representantes de na percepção Associação, dos Conselho, Presidentes Fórum e Sindicato do Ensino Superior.......................................... 214 O conceito de Responsabilidade Social das Instituições de QUADRO 3b Ensino Superior na percepção das Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG....................................... 215 QUADRO 3c Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (3a/3b)......................................................... QUADRO 4a 216 O conceito de Responsabilidade Social e o trinômio: qualidade de ensino, pesquisa e extensão na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, 219 Fórum e Sindicato do Ensino Superior............................. QUADRO 4b Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (4a/4b)........................................................... QUADRO 4c 220 Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (4a/4b)............................................................ QUADRO 5a A proposta do SINAES às IES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior............................... QUADRO 5b 222 A proposta do SINAES às IES na percepção das Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG........................... QUADRO 5c ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (5a/5b)............ QUADRO 6a 225 Relação entre a Função Social das IES, 226 a Responsabilidade Social das IES e a Lei dos SINAES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior............ QUADRO 6b Relação entre a Função Social das IES, 227 a Responsabilidade Social das IES e a Lei dos SINAES na percepção das Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG................................................................................. QUADRO 6c 229 Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (6a/6b)......................................................... 231 QUADRO 7a O SINAES como processo de avaliação para sensibilizar as IES na concretização de ações de Responsabilidade Social na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior.......................................................................... QUADRO 7b 236 O SINAES como processo de avaliação para sensibilizar as IES na concretização de ações de Responsabilidade Social na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG.............................................................. QUADRO 7c Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (7a/7b)......................................................... A QUADRO 8a 237 apreciação com relação ao desempenho 238 dos avaliadores do MEC na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG.......................................... QUADRO 8b Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (8a/8b).......................................................... QUADRO 8c 243 Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (8a/8b)..................................................................... QUADRO 9a 242 244 As IES no Brasil preparadas para respeitar, compreender e incorporar, uma cultura de avaliação proposta pelo SINAES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior.......................................................................... QUADRO 9b 247 Quadro 9b - As IES no Brasil preparadas para respeitar, compreender e incorporar, uma cultura de avaliação proposta pelo SINAES na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG........................................ 248 QUADRO 9c Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (9a/9b)......................................................... QUADRO 10a 250 As características positivas e negativas da Lei dos SINAES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior........................................................................... QUADRO 10b 254 As características positivas e negativas da Lei dos SINAES na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG............................................................................. QUADRO 10c 255 Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (10a/10b)..................................................... QUADRO 11a 257 A Responsabilidade Social das IES, através dos SINAES, embasada no conceito de Responsabilidade Social Corporativa defendido pelo Instituto Ethos ou a concretização de um conceito apropriado a realidade das IES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior........................................................................... QUADRO 11b 260 A Responsabilidade Social das IES, através dos SINAES, embasada no conceito de Responsabilidade Social Corporativa defendido pelo Instituto Ethos ou a concretização de um conceito apropriado a realidade das IES na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG.............................................................................. QUADRO 11c Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (11a/11b).................................................... QUADRO 12a 263 O objetivo da Responsabilidade Social das IES: 263 assistencialista, filantrópico ou “Campanha de Marketing” na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior............................................................................ QUADRO 12b Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (12a/12b).................................................... QUADRO 12c 266 268 Análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados (12a/12b).................................................... 270 SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................ 26 PROBLEMA....................................................................................... 30 HIPÓTESES....................................................................................... 31 OBJETIVO GERAL.......................................................................... 31 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................................................. 32 METODOLOGIA................................................................................ 32 ESTRUTURA DO TRABALHO.................................................... 32 CAPÍTULO I - A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL..................... 34 1. INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: A UNIVERSIDADE EM FOCO....................................................................................................... 34 1.1 UM RESGATE DA HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE NO BRASIL: RESPONSABILIDADES DIFUSAS.................................. 35 1.1.1 A proposta de criação de uma Universidade Brasileira (1500-1759) – Os responsáveis e seus ideais......................... 1.1.2 A expulsão dos jesuítas: a educação 35 como responsabilidade do Estado (1759 a 1822) ............................ 37 1.1.3 A Independência do Brasil: e a Universidade? (18221889)..................................................................................... 38 1.1.4 O surgimento da iniciativa privada na Educação Superior (1889-1930) – O Estado abdica-se de suas responsabilidades?... 39 1.1.5 O Ensino Superior na Era Vargas (1930-1945) – Responsabilidades divididas...................................................... 42 1.1.6 A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1946-1964) – A Regulamentação do Estado............ 45 1.1.7 Lei 5.540, de 1968 – Uma lei específica ao Ensino Superior (1964-1984).............................................................. 46 1.1.8 A transição democrática e os efeitos ao Ensino Superior Brasileiro (1984 até os dias de hoje) – Da responsabilidade educacional à responsabilidade social........................................ 49 1.1.9 A Sociedade do Conhecimento e a responsabilidade da Universidade: um cenário de turbulências............................... CAPÍTULO II - A RESPONSABILIDADE SOCIAL: 58 A ABRANGÊNCIA E COMPLEXIDADE DE UM CONCEITO................ 67 2.1 A SIGNIFICAÇÃO DO TERMO RESPONSABILIDADE E SUA AMPLITUDE............................................................................ 68 2.1.1 Responsabilidade em sentido geral..................................... 2.1.2 Responsabilidade Individual e 68 Responsabilidade Coletiva.................................................................................. 70 2.1.3 A Responsabilidade Social Corporativa: um conceito instituído.................................................................................. 78 2.1.3.1 As revoluções: instrumento da cidadania ........... 82 2.1.3.2 A Constituição Brasileira de 1988: uma constituição-cidadã?...................................................... 2.1.3.3 Surgimento do Terceiro Setor 86 – Responsabilidades inovadas........................................... 87 2.1.3.4 Responsabilidade Social Corporativa: qual seu papel na sociedade atual?................................................ 91 2.2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS IES............................. 101 2.2.1 O papel social das Instituições de Ensino Superior (IES).. 101 2.2.2 A lei dos SINAES – um sistema de avaliação para a educação superior brasileira.................................................... 2.2.3 Em busca da definição de um 106 conceito: A Responsabilidade Social das IES............................................. 127 2.3 AS LIDERANÇAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA – PARA ALÉM DE UM CONCEITO................................................. 138 CAPÍTULO III LIDERANÇAS DA AS REPRESENTAÇÕES EDUCAÇÃO SUPERIOR SOCIAIS DAS BRASILEIRA: ASPECTOS METODOLÓGICOS........................................................... 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA......................................... 146 147 3.1.1 A forma de abordagem do problema: a pesquisa qualitativa e quantitativa em Ciências Sociais........................... 147 3.1.2 A definição do método: conceito de Representações Sociais.................................................................................... 150 3.1.3 Caracterização do ponto de vista dos objetivos: Pesquisa Exploratória............................................................................. 152 3.1.4 Os procedimentos técnicos para delineamento da pesquisa: Pesquisa Bibliográfica, Pesquisa Documental e Pesquisa de Campo................................................................... 153 3.1.5 Instrumento de coleta de dados: Entrevista Reflexiva, Observação e Questionário...................................................... 3.2 IDENTIFICAÇÃO DOS SUJEITOS PESQUISADOS.................. 3.2.1 Apresentação das instituições dos sujeitos pesquisados... 154 156 158 CAPÍTULO IV - AS REPRESENTAÇÕES DAS LIDERANÇAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA – A PESQUISA REALIZADA........................................................................................... 4.1 AS ETAPAS PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA..................... 174 174 4.1.1 Definição do tema: o que foi pesquisado? E quem foram os sujeitos-pesquisados?......................................................... 174 4.1.2 Definição dos procedimentos metodológicos: quais as técnicas e os instrumentos que foram utilizados para a coleta de dados?...................................................................................... 178 4.1.3 Apresentação dos dados coletados relativos aos questionários........................................................................... 4.1.3.1 Questionário para identificação do 180 Perfil Acadêmico e Profissional dos Sujeitos Pesquisados...... 182 4.1.3.2 Apresentação dos dados coletados por meio de entrevistas transcritas e de questionários.......................... 199 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 273 REFERÊNCIAS....................................................................................... 281 ANEXOS.................................................................................................. 294 26 INTRODUÇÃO O meu interesse pelo tema título desta tese “INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E RESPONSABILIDADE REPRESENTAÇÕES DE SOCIAL: LIDERANÇAS DA UM ESTUDO EDUCAÇÃO SOBRE AS SUPERIOR BRASILEIRA” deve-se a influências de fatores de minha vida pessoal e profissional. Nasci na cidade de São Paulo, capital. Morei desde o meu nascimento em um bairro que considero, até hoje, um local tranquilo para viver. Os vizinhos sempre foram solidários, amigos, companheiros, principalmente, nos momentos de dificuldades. Era meu “porto seguro”. Um local do qual eu me sentia parte, onde sempre estaria protegida e amparada no que quer que eu precisasse. Meus primeiros contatos com o universo escolar ocorreram nesse bairro. Meus estudos iniciaram-se ali. Entrei na pré-escola com seis anos de idade, isto em 1967. Ainda lembro-me dos fatos e artefatos desta época: do prédio, das carteiras, das brincadeiras e atividades. Meu número era 405, imagino que naquela época as crianças tinham um número específico, talvez de matrícula. O número se repetia bordado ou pintado em todos os objetos pessoais que a criança levasse na escola. Até hoje, considero-o meu número de sorte. Aos 7 anos de idade iniciei meus estudos em uma escola pública, portanto sob a responsabilidade do Estado: o “Grupo Escolar Miss Browne”, na Rua Padre Chico, Bairro de Vila Pompéia. Aos 10 anos de idade houve uma das grandes reformulações na legislação. A Lei 5692/71, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a partir de 11 de Agosto de 1971 passou a orientar toda a minha vida escolar. Assim, os alunos que àquela época estavam cursando a 4ª série primária, como era meu caso, continuariam suas atividades, se fossem aprovados, na 5ª série, completando 8 anos de estudos obrigatórios. Lembro-me que neste período, eu e meus colegas de sala estudávamos pela manhã no colégio e à tarde fazíamos um “cursinho”, que era chamado por nós de “reforço” para estarmos mais preparados para ingressar na 5ª série do, então, 1° Grau. Terminei meus estudos no antigo 1° Grau, aos 14 anos de idade. Continuei os estudos para ingressar no 2° Grau. Nesta fase se fazia necessário escolher um curso técnico, pois os cursos neste período (1976) eram profissionalizantes. Dentre as opções de escolha que havia, decidi inscrever-me no curso “Redator-Auxiliar”, pois 27 imaginava que ele me proporcionaria condições de prestar um vestibular com mais confiança, pelo menos com relação ao estudo da Língua Portuguesa. Formei-me em 1979. Em janeiro de 1980 prestei o meu primeiro concurso vestibular para o curso de Psicologia, na Instituição de Ensino Superior “Faculdades Franciscanas” (hoje, Universidade São Francisco). Esta Faculdade, na época, possuía três campi: um em São Paulo, capital e os outros dois no interior de São Paulo, um em Itatiba e outro em Bragança Paulista. O curso que eu havia escolhido era em Itatiba. Passei no vestibular. Foi uma grande felicidade em minha vida. Eu e meu pai fomos à referida cidade fazer minha matrícula. Iniciei as atividades na Faculdade frequentando o curso diurno, período integral. Comecei a perceber que as despesas pesavam para meu pai. Estava morando em Itatiba e minha família continuava em São Paulo. Duas casas, duas despesas. O curso era diurno e, naquela época, a mensalidade era um valor consideravelmente alto para as inúmeras famílias com o poder aquisitivo semelhante ao nosso. Refleti melhor sobre este “sonho” e decidi voltar para São Paulo e solicitar transferência para a mesma Faculdade, só que em outro curso, pois no campus da capital não havia o curso de Psicologia. Decidi, então, cursar Pedagogia, com habilitação em Administração Escolar. Aos poucos, fui conhecendo melhor o curso que escolhi. As disciplinas tornam-se interessantes, à medida que as desvelava. O objetivo principal do curso de Pedagogia com habilitação em Administração Escolar que cursei era preparar o profissional para atuar na área administrativa da escola, enfocando aspectos da administração em geral. Desta feita, as políticas públicas para a educação abordadas direta ou indiretamente pelas disciplinas afins já discutiam as responsabilidades que rondam e perpassam o universo da educação em seus diferentes níveis. Formei-me em 1983 e no mesmo ano casei-me. De meu casamento com Eduardo nasceu Thiago. Eu e meu marido trabalhávamos em São Paulo. Num determinado dia, meu marido foi convidado para trabalhar em uma Construtora em Santa Catarina. Como em todo início de casamento as dificuldades são muitas resolvemos aceitar o desafio de mudarmos para outro estado, para educarmos nosso filho e construirmos uma vida juntos. Particularmente, para mim a mudança em 1985 foi, a princípio, um fato que desencadeou uma grande felicidade, pois vislumbrava uma vida de amor, dedicação, de construção de uma vida nova para ambos. Viajamos para a cidade onde fixaríamos residência, eu, meu pai e meu filho, pois meu marido já estava trabalhando há dois meses em Taió (SC). 28 Esta nova vida, casa nova, cidade nova, estado novo, foi se transformando em uma vida de solidão. Não conhecia ninguém na cidade em que fomos morar. Meu marido trabalhava muitas horas. Ficávamos, eu e meu filho, sozinhos durante o dia e a tristeza foi invadindo minha alma. Não conseguia, naquele momento, compreender o que estava acontecendo. Estava com meu marido e meu filho, as pessoas que amava muito, mas não estava feliz. Nossa vida era mudar de cidade constantemente. Morávamos períodos de um ano, de nove meses, em cada cidade, em função das obras que iam se findando e outras iniciando. Sentia falta da minha vida profissional. Quando meu filho já tinha seis anos de idade decidi que era hora de retomar minha vida profissional. Comecei a trabalhar na Prefeitura da cidade onde morávamos, em São Miguel D’Oeste (SC), na Secretaria de Educação do município. Desta feita, as reflexões iniciadas nos tempos da Habilitação de Administração Escolar, no curso de Pedagogia, consubstanciavam-se e ampliavam-se. Pouco tempo depois fui convidada para coordenar a primeira creche que a Prefeitura estava construindo. Foi um trabalho de grande realização em minha vida. Trabalhar com educação preenchia o vazio profissional sentido e assinalava a necessidade de aprofundamento em meus estudos. Assim, neste período em que moramos em São Miguel D’Oeste decidi participar da primeira pós-graduação promovida pela Universidade da cidade, em convênio com a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Esta pós-graduação foi em Administração de Empresas, intitulada “Especialização em Administração de Empresas” (1991). Minha expectativa era que esta pós complementasse meus estudos, já que havia cursado Pedagogia com habilitação em Administração Escolar. Concluí o curso. Minhas expectativas foram atendidas em parte, pois a administração em estudo era a empresarial e eu estava preocupada com a administração pública. Em parte, uma vez que há inter-relações entre uma e outra que oportunamente serão abordadas neste trabalho. Entretanto, nova mudança provocou o aprofundamento em meus estudos em administração empresarial. Um ano depois, eu e minha família estávamos de mudança para outra cidade. Nesta nova cidade iniciava-se uma nova vida. Conquistamos novas amizades e desenvolvi pequenas atividades durante um tempo. Fui trabalhar em uma empresa da região. Trabalhei quatro anos nesta empresa de médio porte na área da construção civil. Novamente, decidi cursar outra 29 pós-graduação em administração pela Fundação Getúlio Vargas, intitulada “Desenvolvimento Gerencial” (1999). Ainda nesta mesma empresa interessei-me por um curso de Administração (Mestrado) na cidade de Chapecó, onde morávamos. Para mim foi um alívio, porque conseguiria realizar outro sonho sem precisar sair da cidade onde morava, sem precisar me afastar de meu marido e de meu filho. Inscrevi-me neste programa. Realizei todo o processo seletivo e fui aprovada. Mais uma grande felicidade em minha vida. Cursei o mestrado e decidi pesquisar em minha dissertação o tema “Responsabilidade Social Corporativa”, já que a empresa onde eu trabalhava realizava projetos interessantes sem descrevê-los como sendo de responsabilidade social. A transformação das pessoas que estavam envolvidas nos processos, em cada Projeto de Responsabilidade Social, era evidente, seja no comportamento de cada um, na forma de se comunicar, na maneira de tratar os colegas de trabalho, no modo de se relacionar com todos os envolvidos na organização e com seus familiares, já que todos estavam conseguindo almejar novos rumos em suas vidas. Decidi, a partir disto, organizar um departamento que descrevesse alguns projetos que já existiam na organização e implementar outros que pudessem complementar os já existentes. Concluí o mestrado (2001) e concluí este trabalho na empresa. Ainda cursando o mestrado fui convidada a ministrar algumas disciplinas em uma faculdade de uma cidade próxima de Chapecó. Retornava ao mundo acadêmico, agora como docente. Envolvida no mundo acadêmico, percebi que ainda me faltava algo. Não satisfeita, iniciei uma pesquisa sobre um doutorado. Ainda não sabia se em administração, já que havia cursado duas pós-graduações e um mestrado na área ou se em educação, pois afinal esta era minha formação inicial e a ela retornava como docente do ensino superior. Muitas dúvidas rondavam meus pensamentos. Em meio às minhas reflexões, naquele momento surgiu uma nova lei, a Lei dos SINAES, Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, norteando minhas escolhas1. A referida lei surgiu com a finalidade de avaliar a Educação Superior, visando à melhoria da qualidade da educação brasileira. A Faculdade a que pertencia começava a se 1 A lei dos SINAES, que significa SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR será aprofundada em capítulo específico. 30 inteirar sobre esta lei, realizava debates sobre o tema, mas parecia-me que todas as Faculdades e Universidades da região não conseguiam chegar a um denominador comum que explicitasse os parâmetros desta nova legislação e sua relação com as responsabilidades das Instituições de Ensino Superior em geral e, em especial, com a Responsabilidade Social das IES. Interessei-me, portanto, a pesquisar o que caracterizava a “Responsabilidade Social da Instituição de Ensino Superior” defendida pela lei em seu artigo 3°, inciso III – “a responsabilidade social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural”. Descobri, então, uma nova necessidade em minha vida profissional: pesquisar este tema em um doutorado em educação. • PROBLEMA A identificação da nova necessidade citada aliava-se à anterior: buscar um doutoramento em educação. Procurei então o Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mediante o projeto apresentado fui encaminhada para a linha de Pesquisa Formação de Professores. Ali delineou-se o problema que move esta pesquisa: Após seis anos de implementação da Lei dos SINAES, qual o significado do conceito de Responsabilidade Social para lideranças que representam a Educação Superior Brasileira, como ele é vivenciado nas instituições que estas lideranças representam? Questão central que se desdobra em outras: a) Qual o entendimento que as IES possuem sobre Responsabilidade Social? b) Em que medida este conceito adotado pelas IES foi baseado no conceito de Responsabilidade Social Corporativa, tão disseminado pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social? c) O conceito de Responsabilidade Social defendido pelas IES pode ser considerado como parte de um novo modelo de gestão ou como uma estratégia de marketing? 31 d) Se o conceito de Responsabilidade Social pode ser caracterizado como parte de um novo modelo de gestão, qual atitude as IES adotarão em relação aos atores com os quais interage, tanto com relação a seu público interno quanto ao público externo? e) Para as IES qual a verdadeira função social do Ensino Superior Brasileiro? E qual é o seu papel como responsável social atualmente? Tais questões desdobram-se em hipóteses. • HIPÓTESES Quando das discussões em torno da Reforma Universitária em 2004 houve muita polêmica em relação ao entendimento legal da Responsabilidade Social das IES, subjacente na proposta do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Lei 10.861, de 14/04/2004 – Lei do SINAES). Estas discussões debruçam-se sobre a concepção das novas formas históricas no que tange às esferas pública e privada na educação superior brasileira. Por isto a questão anunciada questionando como, seis anos após a implementação do SINAES, lideranças que fazem parte do cenário da educação superior brasileira compreendem a questão da responsabilidade social das IES, explicitamente determinada na legislação vigente, provoca a seguinte hipótese: A ausência de precisão em termos conceituais, na legislação do SINAES, sobre o que seria a responsabilidade social da educação superior tem gerado controvérsias teóricoconceituais e práticas, tornando-a um termo polissêmico para as principais lideranças da Educação Superior Brasileira, desencadeando sua imediata relação com a implantação de projetos sociais à semelhança da tendência predominante no mundo empresarial. • OBJETIVO GERAL Estudar as representações de lideranças de organizações que fazem parte do complexo cenário da educação superior brasileira sobre a questão da responsabilidade social das IES, após seis anos da implementação da lei dos SINAES, em busca de pontos norteadores, propostas, capazes de subsidiar o debate nas IES, quanto ao entendimento do conceito e cumprimento da legislação específica, em especial do artigo III da lei citada. 32 • OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Levantar junto à literatura os fundamentos teóricos acerca do sentido do termo responsabilidade no histórico da Universidade no Brasil, da sua função social, do conceito de Responsabilidade, de Responsabilidade Social tanto das IES como das organizações e a função das lideranças nas universidades brasileiras; b) Analisar a Lei n° 10.861 de 14 de abril de 2004 do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES; c) Descrever as representações sociais, em torno da questão da responsabilidade social das IES, existentes nas lideranças das principais organizações que fazem parte do complexo cenário da educação superior brasileira. • METODOLOGIA Para se atingir os objetivos pretendidos e buscar as respostas aos questionamentos levantados serão utilizados os princípios da pesquisa qualitativa com algum subsídio da pesquisa quantitativa, por meio de abordagem e técnicas devidamente explicitadas e fundamentadas no capítulo III. • ESTRUTURA DO TRABALHO Com o mesmo intuito anunciado no parágrafo anterior, este trabalho assim se estrutura: Capítulo I – Referencial teórico: conceitos, princípios e pressupostos presentes na revisão da literatura e na pesquisa bibliográfica referente à evolução histórica da Educação Superior no Brasil e a Sociedade do Conhecimento; Capítulo II – Referencial teórico: conceitos, princípios e pressupostos presentes na revisão da literatura Responsabilidade e na Individual pesquisa e bibliográfica Coletiva, referente Responsabilidade à responsabilidade, Social Responsabilidade Social das IES, Lei dos SINAES e o conceito de Liderança; Capítulo III - Fundamentos e caminho metodológico; Corporativa, 33 Capítulo IV – O trabalho de campo: • O cenário da pesquisa • Os sujeitos pesquisados • Coleta, apresentação e análise dos dados • Resultado da pesquisa Considerações Finais Anexos 34 CAPÍTULO I A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL INDIGNAÇÃO [...] Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. (FREIRE, 2000, p.67). Conforme já anunciado, este capítulo aborda conceitos, princípios e pressupostos, fruto de revisão de literatura, de pesquisa bibliográfica e de análise documental. Desta feita, parte de conceitos explícitos e implícitos que remontam a evolução histórica das instituições de ensino superior no país desde seu surgimento até a atualidade. Sublinha-se que, dentre as instituições de ensino superior este trabalho privilegia a Universidade. Para tanto, apoia-se em autores como: ANASTASIOU, BRITO, CALDERÓN, CHAUÍ, CUNHA, DIAS SOBRINHO, DOWBOR, FÁVERO, FREIRE, PIMENTA, RISTOFF, SAVIANI, SEN, TEIXEIRA; uma análise bibliográfica e documental utilizandose, para tanto, do Banco de Dados CAPES, da Biblioteca Nadir Kfuri da PUC de São Paulo, Banco de Dados da biblioteca digital da Unicamp, Banco de Teses da CAPES e outros estudos. 1. INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: A UNIVERSIDADE EM FOCO Para que se possa iniciar uma possível análise e compreensão da caracterização da Responsabilidade Social das Instituições de Ensino Superior no Brasil e identificar a representação de lideranças da educação superior com relação a este tema, neste primeiro capítulo resgata-se um breve histórico do surgimento das universidades neste país, em quais circunstâncias elas surgiram, para atender a quais interesses, buscando identificar 35 responsabilidades e responsabilizações tendo-se em vista a questão da democratização da sociedade. Para uma análise da Universidade enquanto Instituição de Ensino Superior no país pretende-se descrever a organização institucional e a natureza administrativa com base nos aspectos que envolvem seus principais marcos regulatórios, destacando-se qual o papel social da universidade nos dias de hoje, tendo-se em vista a democratização da sociedade. 1.1 UM RESGATE DA HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE NO BRASIL: RESPONSABILIDADES DIFUSAS 1.1.1 A proposta de criação de uma Universidade Brasileira (1500-1759) – Os responsáveis e seus ideais Há muitas pesquisas realizadas acerca do surgimento da universidade no país. Várias são as interpretações de diversos autores sobre a história da criação desta instituição. Entretanto, para se analisar o conceito de Responsabilidade Social das Instituições de Ensino Superior no Brasil, se faz necessário conhecer um pouco da realidade destas instituições, o momento de sua criação e organização, com que finalidade foram criadas e como estas instituições funcionam e se desenvolvem até os dias de hoje. Sabe-se que a Universidade não pode ser analisada como algo distante da sociedade onde está inserida e da qual faz parte; ela está arraigada a um contexto: histórico, social, econômico e político. Segundo FÁVERO (2006, p. 19), a Universidade deve ser “o espaço em que se desenvolve um pensamento teórico-crítico de ideias, opiniões, posicionamentos, como também o encaminhamento de propostas e alternativas para solução dos problemas [...] essas tarefas constituem um aprendizado difícil e por vezes exaustivo, mas necessário”. Ainda referenciando a autora, a universidade no Brasil foi criada para atender às exigências de uma minoria, “não para atender às necessidades fundamentais da realidade da qual era e é parte [...] sem uma definição clara no sentido de que, por suas próprias funções, 36 deveria se constituir em espaço de investigação científica e de produção de conhecimento.” (Idem, Ibidem, p.19). Ao se fazer uma análise comparativa a outros países da América Latina e da América do Norte, o Brasil foi o último país das Américas a criar o ensino superior do tipo universidade. Os jesuítas mantiveram o monopólio educacional brasileiro no período de 1549 a 1759, o que caracteriza duzentos e dez anos de atividades no ensino. Eles impuseram a primeira tentativa de criação de uma universidade no Brasil, ainda no século XVI, a qual foi negada pela Coroa Portuguesa. Segundo ORSO (2007, p. 44), a primeira proposta de criação de uma universidade no país “partiu do jesuíta Marçal Beliarte, ainda no período colonial, em 1592”. Diante da proposta malograda, os alunos que completavam seus estudos nos colégios jesuítas ingressavam a Europa para ampliar seus conhecimentos em cursos superiores. (FÁVERO, 2006). Com relação a esta questão, a afirmação por parte de alguns autores da inexistência da universidade no Brasil durante o período colonial – CUNHA (2007), em seu livro intitulado “A Universidade Temporã”, reflete sobre o questionamento apresentado por estes autores de que a criação de uma universidade no Brasil seria a forma adequada de se organizar o ensino superior neste país, no entanto, o autor questiona: será que esta preocupação não se caracterizava apenas com relação ao nome “universidade”? Já que, segundo o autor, os colégios jesuítas se constituíam em instituições de ensino equiparadas com as universidades hispânicas e americanas. Pode-se também analisar, segundo VILLALTA (1997), que o impedimento de se criar uma universidade no Brasil durante o período colonial se deve ao fato do interesse do Rei de Portugal em manter a dependência do Brasil em relação à Universidade de Coimbra. O autor ainda afirma que, até 1689, Portugal recusava-se a conceder todos os graus e privilégios universitários aos alunos dos colégios jesuítas. Em se tratando desta dependência da Universidade de Coimbra, TEIXEIRA (1999) declara que, até o início do século XIX, pode-se afirmar que esta foi a “universidade brasileira”, já que mais de 2.500 jovens nascidos no Brasil se formaram nela. O autor ainda afirma que não se podia distinguir, entre os membros da classe dominante, quem era brasileiro 37 e quem era português. Dizia-se “o brasileiro da Universidade de Coimbra não era um estrangeiro, mas um português nascido no Brasil, que poderia mesmo se fazer professor da universidade.” (Idem, p. 65). 1.1.2 A expulsão dos jesuítas: a educação como responsabilidade do Estado (1759 a 1822) Em 1759, o poder do ensino passou a ser responsabilidade do Estado com a Reforma de Marquês de Pombal (implementada por Sebastião José de Carvalho e Melo – primeiro ministro de Portugal de 1750-1777, o então “Marquês de Pombal”), a primeira reforma do sistema educacional brasileiro. De acordo com PALMA FILHO (apud BARONI, 2010), esta reforma teve como principal objetivo expulsar os jesuítas das colônias portuguesas, abolindo o comando da educação das mãos destes e transferindo sua responsabilidade para o Estado. Extintos os colégios jesuítas, o governo teve que suprir a enorme lacuna que se abrira na vida educacional, tanto portuguesa quanto de suas colônias. Para o Brasil, o fato de os jesuítas terem sido expulsos culminou na destruição do único sistema de ensino que o país conhecia. Segundo ZOTTI (2004), a preocupação básica desta reforma era proporcionar condições para formação adequada da elite, a simplificação dos estudos, diminuindo o tempo de aprendizado do latim e o aprimoramento da língua portuguesa, facilitando o ingresso em cursos superiores, além de incluir a natureza científica. Faz-se necessário salientar que este sistema de ensino, responsabilidade do Estado, servia a alguns poucos, em sua grande maioria, filhos das elites coloniais. Somente a elite possuía acesso à educação superior, e, para isto, deveria frequentar a Universidade de Coimbra ou outros centros europeus. Por volta de 1808, com a vinda da Família Real para o Brasil, surge uma nova preocupação dos políticos da época com relação à educação, não com a educação primária ou secundária, mas com relação ao Ensino Superior. A preocupação maior em se criar um ensino superior no Brasil estava diretamente ligada a garantir uma infraestrutura que se responsabilizasse pela sobrevivência da Corte na colônia. Transferida a Corte para o Rio de Janeiro, as instituições criadas por D. João VI, no âmbito do que se pode chamar de ensino superior, estavam, na sua grande maioria, diretamente articuladas à preocupação com a defesa militar da colônia, tornada a sede do governo português. Ainda no ano de 1808, 38 cria-se, no Rio de Janeiro, a Academia de Marinha, e, em 1810, a Academia Real Militar, para a formação de oficiais e de engenheiros civis e militares. (MENDONÇA, 2000, p. 134). Para garantir uma estrutura jurídica e minimizar os problemas de saúde, surgem as Faculdades de Direito e de Medicina. Segundo FÁVERO (2006, p. 20), “é criado, por Decreto de 18 de fevereiro de 1808, o Curso Médico de Cirurgia na Bahia e, em 5 de novembro do mesmo ano, é instituída, no Hospital Militar do Rio de Janeiro, uma Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica”. Em 1820 é criada a Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil – a Academia das Artes. Os cursos jurídicos iniciam suas atividades em São Paulo e Olinda. Em março de 1828 inicia-se o curso de Direito no Convento de São Francisco, em São Paulo e em maio do mesmo ano dá-se início o curso de Direito no Mosteiro de São Bento, em Olinda (FÁVERO, 2006). Apesar de os cursos serem considerados “superiores”, eles eram constituídos em institutos isolados e possuíam um caráter profissionalizante e elitista. 1.1.3 A Independência do Brasil: e a Universidade? (1822-1889) Após a Independência do Brasil, as propostas para criação de uma universidade vão adquirindo mais força. O autor ORSO (2007) afirma que, ao referenciar Roque Spencer Maciel de Barros, talvez um dos maiores estudiosos da história da universidade no Brasil, foram cinco tentativas frustradas para se criar uma universidade neste país: nos anos de 1823, 1842, 1847, 1870 e 1881. Estas tentativas não tiveram êxito em função de divergências filosófico-ideológicas. Não se pode deixar de reconhecer as fortes razões dos descentralizadores: o projeto de 1842, para dar um exemplo, propunha, ao lado da criação de uma Universidade na Corte, a extinção das faculdades provinciais, que vinham funcionando em S. Paulo e Olinda (direito) e na Bahia (medicina). E mesmo o projeto apresentado em 1847 à Câmara dos Deputados, pelo Visconde de Goiana, se não extinguia as faculdades provinciais, subordinava-se à instituição central, que funcionava na Corte. (BARROS apud ORSO, 2007, p. 45/46). Segundo FÁVERO (2006), o ensino superior no Brasil sofre várias alterações desde 1889 até a Revolução de 1930, em consequência da promulgação de diferentes dispositivos legais. De acordo com CUNHA (apud FÁVERO, 2006, p. 21), “Seu início coincide com a 39 influência positivista na política educacional, marcada pela atuação de Benjamin Constant, de 1890-1891”. A Reforma Benjamin Constant ocorrida em 1890 possibilitou transformações para o desenvolvimento da educação superior brasileira. Esta reforma, instituída pelo então Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos Benjamin Constant Botelho de Magalhães, declarou o ensino livre e gratuito. De acordo com PALMA FILHO (apud BARONI, 2010), o principal objetivo desta reforma era regulamentar exclusivamente o ensino primário e secundário do país; entretanto, repercutiu no ensino superior quando se pretendeu transformar o ensino primário em formador de alunos para os cursos superiores. A partir da Proclamação da República, o governo cria o Conselho de Instrução Superior. Em 1891, ao se criar este conselho formula-se uma legislação específica para as Instituições de Ensino Superior já existentes na época, que são: Faculdades de Direito, de Medicina, Escolas Politécnicas, de Minas e de Engenheiro Geográfico. A partir da criação de um estatuto para estas instituições de ensino superior possibilita-se a formação de estabelecimentos particulares, sob a denominação de “Faculdades Livres”, com concessão do Poder Público e com todos os direitos e garantias das Faculdades Federais. 1.1.4 O surgimento da iniciativa privada na Educação Superior (1889-1930) – O Estado abdica-se de suas responsabilidades? A Primeira República, que se caracteriza entre o período de 1889, com a declaração da República pelo Marechal Deodoro da Fonseca e finaliza-se em 1930, com o Presidente Washington Luís deposto pelos militares e Getúlio Vargas assumindo a Presidência do Brasil, é marcada pela Reforma de Epitácio Pessoa, em 1901. Esta reforma torna os Institutos Oficiais Superiores e Secundário dependentes do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Segundo PALMA FILHO (apud BARONI, 2010), pode-se afirmar que Epitácio Pessoa, então Ministro da Justiça e Negócios Interiores, a partir desta reforma, buscava estruturar a composição e funcionamento das Faculdades de Direito, Medicina, a Escola Politécnica, a de Minas e o Ginásio Nacional, mantendo as grades curriculares e as cadeiras estabelecidas na 40 Reforma Benjamin Constant. O objetivo era aumentar a participação da iniciativa privada na educação que, até este momento, ainda era incipiente. A proposta desresponsabilizava o Estado. A Constituição da República de 1891 proporciona uma abertura “para a criação e expansão das instituições privadas, em geral de iniciativa confessional católica ou das elites locais, que buscavam dotar seus estados com estabelecimentos de ensino superior” (MINTO, 2006, p. 88). Ainda referenciando o autor, ele afirma que em 1920 foram criadas 86 novos estabelecimentos de ensino superior no país. Com a proposta de “Liberdade de Ensino”, a partir da Reforma Rivadávia Correia em 1911, era criada, neste momento, uma norma intitulada Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental, que assegurava a autonomia dos estabelecimentos federais de ensino e a extinção da ação fiscalizadora do Governo Federal com relação às instituições particulares de ensino. Atitude fiscalizadora que, associada à ação regulatória, vem caracterizando a ação do Estado. Os currículos e as cadeiras estabelecidos pela Reforma Benjamin Constant para os cursos superiores existentes são mantidos. Segundo MINTO (2006), entre 1889 a 1918 houve, neste período, um processo de expansão de novas instituições de ensino superior. A maioria delas eram privadas, sempre baseadas nas escolas superiores. Atesta-se aqui a presença crescente do setor privado na educação superior brasileira. Com o objetivo de se organizar o ensino secundário e o superior, surge a Reforma Carlos Maximiliano, ocorrida em 1915. O acesso às faculdades volta a ser regulamentado. Os certificados e diplomas só poderiam ser expedidos perante os órgãos oficiais. A partir desta reforma, o Ministério da Educação torna-se responsável por autorizar, reconhecer e inspecionar as escolas particulares. Esta norma, segundo PALMA FILHO (apud BARONI, 2010), também autorizou a organização de uma universidade federal constituída de Faculdade de Medicina, de Escola Politécnica e das duas Faculdades Livres de Direito do Rio de Janeiro. No entanto, a instituição denominada Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ) só foi criada em 1920. De acordo com CAMPOS (apud ORSO, 2007, p. 44), no Brasil, em 1920, ainda não havia sido criada nenhuma universidade no país, somente existiam escolas superiores, 41 entretanto, “na América do Norte já existiam 76 e na América do Sul mais 26, totalizando 102 universidades”. O enfoque principal das discussões em torno da criação das universidades no Brasil deve-se não ao fato de o surgimento destas instituições ser considerado tardio, mas aos reais interesses que envolveram sua criação. Quando se analisa a história da universidade no Brasil pode-se perceber a influência dos modelos europeus, que predominaram em diferentes momentos: o modelo jesuítico, o francês e o alemão. Segundo PIMENTA e ANASTASIOU (2008), estes modelos ainda se fazem presentes na universidade de hoje. Roque Spencer Maciel de Barros, citado por ORSO (2007, p. 49) afirma: O ensino superior brasileiro, no que diz respeito às ideias políticas e filosóficas, foi antes um instrumento de conservação das crenças tradicionais do que um centro irradiador das novas doutrinas [...] É verdade que das escolas parte também o reclamo de reformas radicais, no sentido do liberalismo; mas predomina nelas, geralmente, uma concepção conservadora da vida e da sociedade, presas que estavam a estatutos e regulamentos que se tornavam, rapidamente, obsoletos, como obsoleta se tornava a própria organização social e política do Império. Diante dos debates acirrados que emergem no país com relação à criação de universidades e à medida que esta criação parece cada vez mais inviável surge, neste contexto, através da Reforma Rivadávia Correa a instituição de ensino livre. Segundo FÁVERO (2006), o surgimento da universidade era postergado, apoiado em ato do Governo Federal, tendendo ao regime de “desoficialização” do ensino, deslocando a responsabilidade do Governo Federal para os Estados. Sendo assim, surgem ainda não como Universidades, mas como Instituições Livres “em 1909, a Universidade de Manaus; em 1911 é instituída a de São Paulo e, em 1912, a do Paraná.” (MICHELOTTO apud FÁVERO, 2006, p. 21). Em 1925, surge a Reforma João Luiz Alves, também conhecida como Lei Rocha Vaz. Esta reforma tinha como principal objetivo combater os protestos estudantis que vinham se estabelecendo na época contra o então presidente Arthur Bernardes. A norma retirou das instituições de ensino a autonomia administrativa e didática que foi conquista nas reformas anteriores. Segundo PALMA FILHO (apud BARONI, 2010), a referida reforma restabelece a organização e funcionamento de todos os níveis de ensino. “Cria o Conselho Nacional de 42 Ensino, em substituição ao Conselho Superior de Ensino e altera o currículo dos cursos de Direito, Medicina, Farmácia, Odontologia e Engenharias (Civil, Elétrica e Industrial)”. A reforma também pretendia criar universidades nos Estados de Pernambuco, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. 1.1.5 O Ensino Superior na Era Vargas (1930-1945) – Responsabilidades divididas A chamada Era Vargas, que se distingue entre os anos de 1930 a 1945, segundo alguns historiadores, caracterizou-se como um momento político-econômico e social de grandes transformações e estas transformações não poderiam deixar de influenciar o ensino e as universidades do período. “O liberalismo elitista, conforme os interesses sociais e pedagógicos das oligarquias começou a ceder lugar, a partir de 1932, a um liberalismo igualitário, convergente com os interesses das classes trabalhadoras e das camadas médias.” (CUNHA, 2007, p. 206). O então presidente Getúlio Vargas lança, em 1930, o Programa de “Reconstrução Nacional” que tinha como uma de suas propostas difundir o ensino público. Este período é marcado por duas políticas educacionais opostas: a liberal e a autoritária. Durante a vigência da política educacional autoritária, criou-se uma entidade para congregar os estudantes das escolas superiores de todo o país, primeiro o Conselho Nacional de Estudantes, depois a União Nacional de Estudantes (UNE) [...] A UNE se caracterizou, desde o projeto de sua criação, por orientações democráticas, conseguindo razoável espaço político, mesmo durante o Estado Novo, em razão das contradições trazidas pela guerra mundial para dentro da órbita do Estado. (CUNHA, 2007, p. 206). Com a Reforma Francisco Campos ocorrida em 1931, a Universidade se torna modelo para o desenvolvimento do Ensino Superior Brasileiro. Esta norma tinha como objetivo principal estabelecer a organização e o funcionamento da administração universitária. De acordo com PALMA FILHO (apud BARONI, 2010), neste momento “surgem as reitorias, conselhos universitários, assembleias gerais, institutos, conselhos técnico-administrativos e congregações. A representação estudantil também ganha destaque na composição da universidade”. Esta reforma estabelecia que a investigação científica seria um dos objetivos 43 do ensino universitário e possibilitava que as universidades fossem criadas e mantidas pela União, pelos Estados e por iniciativas particulares. As universidades privadas são consideradas como “Instituições Livres” e tornam-se equiparadas às federais e estaduais. Os idealizadores da Universidade de São Paulo (USP) defendiam que a universidade teria como finalidade exercer um papel fundamental na transformação e consolidação da democracia no Brasil. O problema da instrução superior é uma das questões fundamentais para o desenvolvimento do país, para a sua integração, em pé de igualdade com outras nações, num mundo cada vez mais inter-relacionado e interdependente. Hoje, como ontem, é lícito esperar da cultura superior as soluções para os nossos problemas básicos, não apenas aqueles que interferem com a ordem material da riqueza e do bem-estar sociais, mas também os que se inserem no domínio dos valores espirituais, na ordem ético-política. (BARROS apud ORSO, 2007, p. 52). Em 1934 é criada a Universidade de São Paulo (USP) com sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL). A criação desta universidade foi impulsionada por um “segmento da elite paulistana, ligada à oligarquia cafeeira e ao jornal O Estado de São Paulo.” (ORSO, 2007, p. 55). A criação da USP não se caracterizava como um projeto desinteressado e neutro. O principal objetivo para criação desta universidade era “formar” e “reformular” as elites, em função da hegemonia perdida com a Revolução de 1930; a partir disto imprimir uma nova direção ao país (ORSO, 2007). Além do Manifesto dos Pioneiros (1932) e da fundação da USP (1934), também foi criado o Ministério da Educação e Saúde (1930), instituiu-se a Reforma Francisco de Campos (1931), fundou-se a Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (1933), a Faculdade de Filosofia Sedes Sapientiae (1933) e a Universidade do Distrito Federal (1935). (ORSO, 2007, p.57). Segundo CUNHA (2007, p. 207), em 1930, no início do Governo de Getúlio Vargas, apenas três universidades existiam no Brasil. Eram elas: “a do Rio de Janeiro, criada em 1920; a de Minas Gerais, criada em 1927; e a Escola de Engenharia de Porto Alegre, criada em 1896, esta sem o nome de universidade, mas progressivamente diferenciada em suas atividades acadêmicas”. 44 Ao fim dessa era, em 1945, eram cinco as universidades. A Universidade do Rio de Janeiro tinha passado a se chamar, desde 1937, Universidade do Brasil. A Escola de Engenharia de Porto Alegre foi denominada Universidade Técnica do Rio Grande do Sul, em 1932, e, a partir de 1934, Universidade de Porto Alegre. Em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo e, em 1940, na cidade do Rio de Janeiro, as Faculdades Católicas, embrião da Universidade Católica, mais tarde pontifícia [...] (CUNHA, 2007, p. 207). Neste momento histórico definiu-se a elaboração da Constituição Federal de 1934, que originava a temática relativa às diretrizes e bases da educação nacional. Esta constituição estabelecia que a União deveria ser responsável por “traçar as diretrizes da educação nacional”. Em seu artigo 150, alínea “a”, a constituição estabelecia que seria competência da União “fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do país”. É evidente que se visava à implantação de um Sistema Nacional de Educação. Com efeito, previam-se normas nacionais, um plano nacional, uma coordenação e fiscalização da execução em âmbito nacional e um colegiado nacional para elaborar o plano e encaminhar a solução dos problemas educativos do país. (SAVIANI, 2008, p. 09). Este dispositivo, do artigo 150, alínea “a”, não foi suficiente para traçar, pelo Estado, uma Lei de Diretrizes da Educação Nacional, mas resultou na formulação de um Plano Nacional de Educação. Ainda referenciando o autor (SAVIANI, 2008), entre 1942 e 1946, o então ministro Gustavo Capanema elaborou as “leis orgânicas do ensino” que se tornaram conhecidas como a “Reforma Capanema”. Por essa via foram promulgadas em 1942 as leis orgânicas do ensino secundário (Decreto-Lei n° 4.244 de 09.04.42) e do ensino industrial (Decreto-Lei n° 4.073 de 30.01.42) tendo sido criado nesse mesmo ano através do Decreto-Lei 4.048, de 22.01.42, o SENAI, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, colocado sob o controle da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entidade representativa do empresariado industrial. Em 1943 foi a vez da lei orgânica do ensino comercial (Decreto-Lei n° 6.141 de 28.12.43). E em 1946, portanto, já após a queda do Estado Novo, foram decretadas as lei orgânicas do ensino agrícola (Decreto-Lei 9.613 de 20.08.46), do ensino primário (Decreto-Lei 8.529 de 02.01.46) e do ensino normal (Decreto-Lei 8.530 de 02.01.46), tendo sido ainda criado o SENAC – 45 Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Decretos-Leis 8.621 e 8.622 de 10.01.46) que, a exemplo do SENAI, foi também colocado sob o controle do empresariado correspondente. (SAVIANI, 2008, p. 10). De acordo com o histórico da fundação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), esta instituição de ensino superior, criada em 1946, tinha como missão “formar lideranças católicas e filhos da elite paulista”2. 1.1.6 A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1946-1964) – A Regulamentação do Estado Em 1947, o então Ministro da Educação Clemente Mariani constituiu uma comissão composta por vários educadores e os trabalhos desta comissão deram origem ao Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Este projeto foi encaminhado à Câmara Federal pelo então Presidente da República Eurico Gaspar Dutra, em 29 de outubro de 1948. Desse processo iniciado, SAVIANI (2008, p.11) afirma que “após longa tramitação e diversas vicissitudes, a nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional” foi sancionada, a LDB, Lei 4.024 de 20 de dezembro de 1961. O autor SEVERINO (1986), analisando a significação ideológica da educação brasileira, considera o período de 1889 a 1964 como sendo da Consolidação da Ideologia Liberal. Já SAVIANI (2004), referenciando a história da escola pública no Brasil, propõe que se caracterize o período de 1931 a 1961 como sendo da Regulamentação Nacional do Ensino e do Ideário Pedagógico Renovador. Os anos de 1946 até 1964 são considerados por alguns autores como sendo o Período do Nacional Desenvolvimentismo. Este período, na história brasileira, também pode ser identificado como a segunda fase de industrialização e de ajuste do país ao desenvolvimento econômico mundial. Sendo assim, surge uma ampla discussão sobre a necessidade em se criar 2 Disponível em: http://www.pucsp.br/universidade/historia 46 uma legislação nacional com diretrizes para todos os graus ou áreas de ensino. Foi durante este momento da história que se elaborou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A Constituição Federal promulgada em 24 de janeiro de 1967 no contexto do regime militar implantado em decorrência do golpe de Estado desfechado em 31 de março e consumado em 01 de abril de 1964, manteve a competência da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. (SAVIANI, 2008, p.11).[Grifo nosso]. A Lei n° 4.024, de 20 de dezembro de 1961, a primeira lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional definiu, segundo PALMA FILHO (apud BARONI, 2010), que a expressão “universidade livre” fosse substituída por “Instituição Privada de Ensino Superior”. A iniciativa privada, portanto, ganha espaço na educação profissional. A liberdade de ensino torna-se uma marca significativa da LDB, assegurando igualdade entre estabelecimentos de ensino públicos e particulares. A iniciativa privada apresenta, neste período, um grande avanço na área da educação superior. Torna-se necessária a criação de uma lei que regulasse o Ensino Superior no país. 1.1.7 Lei 5.540, de 1968 – Uma lei específica ao Ensino Superior (1964-1984) O Congresso Nacional, em 1968, aprovou a Reforma Universitária que estabeleceu normas de organização e funcionamento do Ensino Superior. Esta proposta revoga os dispositivos da Lei de 1961 que faziam referência à educação profissional. A referida proposta contempla a universidade como sendo o ambiente mais adequado, prioritário ao desenvolvimento do Ensino Superior, entretanto, permite a existência de estabelecimentos isolados. Dentre as propostas expostas na lei, o que mais se destacava era a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa e a criação de um modelo único para as universidades públicas e privadas. Os professores e pesquisadores, de acordo com esta lei, passariam a ter uma formação específica através da criação das licenciaturas. Segundo PIMENTA e ANASTASIOU (2008, p. 152), a Lei 5.540/68 separa “[...] a pesquisa do ensino, deixando à graduação a responsabilidade de formação dos quadros profissionais – o que reforça o caráter profissionalizante do modelo napoleônico – e destinando à pós-graduação a responsabilidade da pesquisa”. 47 A referida lei (5.540/68) impôs aos estabelecimentos de ensino superior o regime de matrícula semestral por disciplina, o que, anteriormente à lei, era definido como matrícula por série anual. A lei estabelecia também o sistema de créditos, como unidade de medida para contabilidade acadêmica de integração curricular e transformaria o vestibular em unificado, sendo válido para todos os cursos oferecidos pela instituição de ensino. A Reforma Universitária previa ainda a renovação do reconhecimento das universidades em períodos estabelecidos e devolvia às instituições sua autonomia – didáticocientífica, disciplinar, administrativa e financeira. Embora a lei n. 5.540, de 1968, tenha ficado conhecida como a “Lei da Reforma Universitária”, o processo mais amplo de mudanças na educação superior nesse período não se restringe a esta lei específica, nem mesmo a um conjunto de medidas legais implantadas de forma coordenada. Trata-se da associação entre uma série de iniciativas legislativas, de práticas e discursos gerados antes e durante os governos militares, que encontraram no contexto pós-1964 condições favoráveis para a sua realização, enquanto ações efetivas de governo para a educação superior brasileira. (MINTO, 2006, p. 115). Segundo MINTO (2006, p. 89), “as décadas de 1950-1960 constituem-se como períodos muito ricos na história do Brasil, de grande efervescência política e cultural, de grandes formulações e propostas para a universidade brasileira e, em geral, para a educação superior”. Foi um momento histórico marcado por intensos debates que discutiam os rumos da universidade brasileira, inspirados nos trabalhos de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. Estes acalorados debates resultaram na criação da Universidade de Brasília – a UnB. No Período da Ditadura Militar, que corresponde aos anos de 1964 a 1984, não se pretendeu projetar uma nova lei que estabelecesse novas diretrizes para a educação nacional. Assim, permaneceram em vigor os primeiros títulos da LDB (Lei 4.024/61) relativos às diretrizes gerais, tendo sido alterados os dispositivos referentes ao Ensino Superior através da Lei 5.540/68 e as normas correspondentes ao ensino primário e médio que, através da Lei 5.692/71, passou a se chamar de primeiro e segundo graus. (SAVIANI, 2008, p. 11). A hegemonia norte-americana, imposta à América Latina, provocava intensas e decisivas transformações em todos os campos da vida social. 48 O Brasil torna-se refém do que foi denominado de “Aliança para o Progresso”. Neste momento, foram assinados acordos entre o Ministério da Educação e Cultura e a United States Agency for International Development – os chamados “Acordos MEC-USAID”. Estes acordos deram à USAID um poder de atuação em todos os níveis de ensino: primário, secundário e superior. Os técnicos deste órgão participaram da reorganização do sistema educacional brasileiro. Esses elementos do modelo alemão, que dão destaque à produção do conhecimento e ao processo de pesquisa, são assimilados ao sistema de ensino superior norte-americano e chegam ao Brasil, em âmbito nacional, no texto da Lei 5.540/68, como resultado de um dos acordos MEC/USAID, conduzindo às reformas educacionais do período da ditadura militar. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2008, p. 152). A Lei 5.540/68 foi a reforma destinada ao ensino superior durante o período da ditadura militar estabelecida através deste acordo entre MEC/USAID. A lei 5.692/71 também foi instituída a partir deste acordo, sendo destinada aos ensinos de primeiro e segundo graus (hoje denominados Ensino Fundamental e Médio, respectivamente). A educação, a partir desta lei, passou a ter como principal objetivo preparar o educando para o mercado de trabalho, em função do processo de industrialização. A Reforma do Ensino de 1° e 2° Graus foi promovida através da Lei 5.692, de 1971, cujo objetivo era direcionar o ensino para a qualificação profissional. As principais mudanças introduzidas por essa lei foram: a extensão da obrigatoriedade escolar para oito anos, com a fusão dos antigos cursos primário e ginásio e a extinção do exame de admissão; a introdução do ensino profissionalizante através dos ginásios orientados para o trabalho (GOT) e a implantação da profissionalização compulsória no ensino de 2° Grau. (CLARK, NASCIMENTO & SILVA, 2006, p. 129). De acordo com XAVIER; RIBEIRO & NORONHA (1994), essas reformas foram responsáveis por sufocar os movimentos de alfabetização baseados no método desenvolvido por Paulo Freire, defendido pelo autor como “Prática da Liberdade”. Esta concepção de alfabetização, não um “método”, mas uma maneira de conceber o mundo e através desta percepção se consolidar a alfabetização, não se caracterizava adequado ao momento. Este projeto de alfabetização, que era adotado em todo o país, amparado no Plano Nacional de Alfabetização, criado no governo de João Goulart, foi extinto pelo decreto n° 53.886. Em substituição a este modelo de alfabetização foi criado o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), utilizado como instrumento de controle político sobre as massas populares. 49 Essas reformas se inspiraram na concepção de “capital humano”, tentando incutir na educação um caráter tecnicista. O intuito era estabelecer uma relação direta entre educação e sistema produtivo. A educação, tornando-se um agente facilitador da capacidade produtiva do trabalho humano, segundo MINTO (2006), permite, ao trabalhador, se equiparar com o capitalista no âmbito da produção, sendo que, ao se educar, o indivíduo teria condições de gerar uma renda maior a si mesmo, e, portanto, tendo um retorno maior ao fator de produção trabalho. Neste momento, há uma expansão vertiginosa do ensino superior brasileiro. Autorizadas pelo Conselho Federal de Educação e reivindicadas por jovens estudantes, surgem as escolas isoladas privadas. Referenciando SAVIANI (2008), “essas escolas isoladas, [...] originando-se dominantemente como empresas lucrativas, não se interessaram em se transformar em universidades, pois a margem de manobra e o arbítrio das mantenedoras, isto é, dos donos dessas empresas, era muito maior sob o regime das instituições isoladas”. Este período de ditadura militar provoca uma estagnação do processo crítico com relação à formação na graduação. Segundo PIMENTA e ANASTASIOU (2008), os professores universitários tinham a oportunidade de adquirir maior grau de instrução através de pesquisas realizadas em áreas específicas, mas sem oportunidades de refletir sobre sua prática docente. O ambiente era pautado em uma pedagogia voltada à transmissão de saberes, numa reprodução de conhecimento tido como verdadeiro. Não havia espaço para realização e concretização de uma análise crítica da realidade social, cultural, econômica e científica. Com o final da ditadura militar inicia-se uma Reforma do Estado, transferindo responsabilidades que seriam deste para a sociedade civil organizada. 1.1.8 A transição democrática e os efeitos ao Ensino Superior Brasileiro (1984 até os dias de hoje) – Da responsabilidade educacional à responsabilidade social O fim do período militar representou na história do país uma importante mudança no cenário político. Um novo período intitulado “transição democrática”, que se evidencia entre 1984 até os dias de hoje, concretizou um processo de abertura gradual iniciada no Governo do então Presidente Ernesto Geisel (de 1974 a 1979). 50 O processo de democratização do país inicia-se com a destituição dos militares, após 21 anos no poder. Surge, neste momento, a ascensão de movimentos sociais organizados que foram sufocados durante esses anos de repressão política, e transformaram-se em importantes conquistas para a história da educação brasileira. O processo de abertura política desencadeou um anseio no povo brasileiro de dotar o país de uma nova Constituição, que defendesse os valores democráticos. Uma intensa participação social nos processos decisórios do Poder Legislativo, nunca antes vivenciada na História do Brasil, culminou na promulgação da atual Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988. Nos anos 90, a partir da eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência da República, as discussões em torno da Educação Superior Brasileira tornaram-se mais evidentes. Neste governo de Fernando Henrique Cardoso foi criado um novo ministério intitulado “Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado” (MARE), com o intuito de centralizar esforços para promover a Reforma do Estado. Esta reforma proporcionou uma transformação nos fundamentos da economia brasileira: a reconfiguração da sociedade civil centrada nas Organizações Sociais e no Terceiro Setor e a transferência de deveres, responsabilidades do Estado e direito social e subjetivo do cidadão daquele para a sociedade civil. O MARE constituiu-se em um ministério que foi decisivo na elaboração de políticas educacionais, principalmente aquelas que afetaram e afetam o ensino superior brasileiro. Durante o governo do então Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002) muitas medidas foram tomadas com intuito de promover a ampliação do acesso ao ensino superior brasileiro, tendo como consequência disto a expansão acelerada deste setor. Segundo MINTO (2006, p. 147), “o MARE teria, por sua vez, um papel também importante na condução das políticas educacionais, sendo ele próprio formulador de propostas que afetavam o ensino superior, como foi o caso das “Organizações Sociais”. 51 A Reforma do Estado proposta pelo MARE tinha como objetivo redefinir o conceito teórico sobre o público e o privado, definindo um novo tipo de propriedade: o público não estatal, transferindo responsabilidades antes do Estado para a sociedade civil organizada. De acordo com PEREIRA (1997), os processos básicos da reforma do Estado dos anos 90, que culminaram ao Estado Social-Liberal do século XXI, foram: a) a delimitação das funções do Estado, reduzindo seu tamanho em termos principalmente de pessoal através de programas de privatização, terceirização e “publicização” (este último processo implicando na transferência para o setor público não estatal das [sic] serviços sociais e científicos que hoje o Estado presta); b) a redução do grau de interferência do Estado ao efetivamente necessário através de programas de desregulação que aumentem o recurso aos mecanismos de controle via mercado, transformando o Estado em um promotor da capacidade de competição do país a nível internacional ao invés de protetor da economia nacional contra a competição internacional; c) o aumento da governança do Estado, ou seja, da sua capacidade de tornar efetivas as decisões do governo, através do ajuste fiscal, que devolve autonomia financeira ao Estado, da reforma administrativa rumo a uma administração pública gerencial (ao invés de burocrática), e a separação, dentro do Estado, ao nível das atividades exclusivas de Estado, entre a formação de políticas públicas e a sua execução; e, finalmente, d) o aumento da governabilidade, ou seja, do poder do governo, graças à existência de instituições políticas que garantam uma melhor intermediação de interesses e tornem mais legítimos e democráticos os governos, aperfeiçoando a democracia representativa e abrindo espaço para o controle social ou democracia direta. (PEREIRA, 1997, p. 18/19). Ainda referenciando PEREIRA (Ibidem, p. 19), neste documento o autor esclarece que a Reforma do Estado significava um processo de criação ou transformação de instituições, definindo-as: “Privatização é um processo de transformar uma empresa estatal em privada”. Ao definir o que significa o processo de Publicização, o autor esclarece: “transformar uma organização estatal em uma organização de direito privado, mas pública não estatal”. E ao referenciar o conceito de Terceirização, o autor define-a como sendo “o processo de transferir para o setor privado serviços auxiliares ou de apoio”. As propostas do Plano Diretor do MARE (1997) para a educação eram apresentadas como atividades “não exclusivas do Estado”, sendo que poderiam ser executadas pelo que se convencionou denominar de setor “público não estatal”. Esse processo denominado de “publicização” por Bresser Pereira estabelece uma nova configuração das instituições de ensino tradicionais, sob nova forma jurídica, denominadas de “organizações sociais”. 52 Seria realizado contrato de gestão entre estas instituições – as organizações sociais – e o Estado, onde este “reduziria o seu papel de prestador direto de serviços, mas manteria o papel regulador, provedor e promotor.” (SILVA JR. e SGUISSARDI, 1999, p.40). O Plano Diretor da Reforma do Estado estabelecia em seu texto que o objetivo era redefinir o papel do Estado, onde este deixaria de ser responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social, transferindo este “dever” para as organizações sociais e se fortaleceria na função de promotor e regulador do desenvolvimento do país (Brasil, 1997). Este Plano Diretor da Reforma do Estado teve como princípio desenvolver ações para a chamada “reforma” da Educação Superior Brasileira. O Estado buscou a construção de políticas educacionais neste período através de medidas provisórias, decretos presidenciais e/ou ministeriais, resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE), portarias do Ministério da Educação e Cultura (MEC) entre outras. O MEC traçou uma estratégia de enfrentamento parcial de problemas e adversários. Uma estratégia semelhante à do governo como um todo no que se refere às reformas constitucionais. No caso da área educacional, ela foi ainda mais elaborada, já que os níveis mais baixos da legislação atropelaram os mais altos [...]; em vez de investir numa lei geral para o ensino superior, o MEC foi traçando, no varejo, as diretrizes e bases da educação nacional, não contra o que seria a lei maior de educação, mas por fora dela. [grifos do original] (CUNHA, 2003, p. 40). Segundo CUNHA (2003), o fato de se executar leis fragmentadas para o ensino superior foi fundamental para fazer aprovar medidas que se consideravam mais polêmicas e algumas questões que seriam de maior embate na discussão política para este nível de ensino. As políticas públicas elaboradas neste período voltadas à educação superior foram fundamentadas sobre quatro pilares: avaliação institucional, autonomia das universidades (esta teria interferência no modelo de gestão das IES), financiamento e modelo de ensino superior (MINTO, 2006). Em 1993, é criada pela Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC) a Coordenadoria Geral de Análise e Avaliação Institucional (CODAI). A Portaria 130, de 14 de julho de 1993, cria a Comissão Nacional de Avaliação das Universidades Brasileiras que tinha como objetivo consolidar uma proposta nacional de avaliação (BRASIL, 1994). 53 O principal objetivo de se implementar um programa de avaliação institucional no Brasil era criar parcerias entre as Universidades e o Ministério da Educação e do Desporto (atual Ministério da Educação e Cultura – MEC), para que este coordenasse, articulasse e financiasse a avaliação institucional. Em outubro de 1993, foi aprovada pela Comissão Nacional de Avaliação e pelo Comitê Assessor a proposta do PAIUB – Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (BRASIL, 1994). O Edital MEC 01/93 continha as linhas gerais deste Programa de Avaliação Institucional. O edital foi encaminhado a todas as universidades para que tomassem conhecimento do documento, e as instituições interessadas deveriam apresentar propostas para seu aperfeiçoamento e este, posteriormente, poderia se transformar em um sistema de avaliação. Este processo, que tinha como objetivo avaliar a qualidade, eficiência e eficácia exclusivamente das universidades brasileiras, não se aplicava a outras instituições de ensino superior, era um programa de adesão voluntária, considerava as características individuais de cada instituição e contemplava a participação de toda a comunidade acadêmica. O PAIUB, não se pode negar, tornou-se um marco na consolidação de uma cultura de avaliação para as instituições de ensino superior no Brasil. Com intuito de complementar o PAIUB foi criada a Medida Provisória n° 938, de 16 de março de 1995, que incorporou, em seu artigo 3°, a realização dos chamados “exames de avaliação dos conhecimentos adquiridos pelos alunos das últimas séries dos cursos de graduação das instituições de ensino superior”. A partir desta medida provisória, o governo instituiu o Exame Nacional de Curso (ENC), conhecido popularmente como “provão”, através da Lei n° 9.131, de 24 de novembro de 19953. A Lei Federal n° 9131/95, em seu artigo 3º estabelece a realização de avaliações periódicas das instituições e dos cursos de nível superior, "fazendo uso de procedimentos e critérios abrangentes dos diversos fatores que determinam a qualidade e a eficiência das atividades de ensino, pesquisa e extensão". Os Exames Nacionais de Curso (ENC) são 3 Disponível em: http://www.planalto.gov.br. 54 estabelecidos pela lei como condição para obtenção do Diploma de Conclusão de Cursos de Graduação na Educação Superior. O texto legal atribuía a responsabilidade de formulação e avaliação ao Ministério da Educação e do Desporto (MEC) e ao Conselho Nacional de Educação. O Decreto n° 2.026, de 10 de outubro de 1996, “estabelece procedimentos para o processo de avaliação dos cursos e instituições de ensino superior” 4. Este decreto estabelecia que os Exames Nacionais de Curso (ENC) proclamados pela Lei n° 9131/95 constituíam-se em apenas uma das dimensões de um processo mais abrangente de avaliação das Instituições de Ensino Superior. Pode-se perceber que em todos os textos legais (decretos, medidas provisórias, leis, portarias) elaborados e sancionados neste período apresentam, implícita ou explicitamente, referências à avaliação institucional, sendo compreendida como um mecanismo de regulação e controle por parte do Poder Público a todas as Instituições de Ensino Superior. A Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, que continha as diretrizes referentes ao ensino superior brasileiro, vigorou até 1996. Depois de várias discussões e debates, em 20 de dezembro de 1996 foi votada a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB n° 9.3945. PIMENTA e ANASTASIOU (2008, p.153) afirmam que esta lei estabeleceu que “a docência no ensino superior será preparada (e não formada) preferencialmente nos programas de pós-graduação stricto sensu. Por outro lado, a competência docente é mensurada pelos resultados (dos alunos) no provão”. As autoras referem-se ao Exame Nacional de Cursos (ENC) denominado popularmente como “Provão”. O então Senador Darcy Ribeiro foi o relator da norma e deu destaque à formação dos professores de educação básica e a democratização da universidade, com os cursos sequenciais. Esta lei também possibilitou a criação de centros universitários e de educação tecnológica, além de prever a diversidade de cursos de nível superior como: sequenciais, de 4 5 Idem Disponível em: http://www.planalto.gov.br 55 graduação, bacharelado e licenciatura e de pós-graduação como: doutorado, mestrado, especialização, aperfeiçoamento e atualização. O Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) e o Exame Nacional de Cursos vigoraram entre os anos de 1996 a 2003. Em 14 de abril de 2004 é sancionada a Lei n° 10.861, a Lei dos SINAES que institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, com o objetivo de regular e avaliar a qualidade das Instituições de Ensino Superior no país, embasando-se na experiência desenvolvida através da avaliação do PAIUB6. Entre os anos de 2004 a 2006 várias versões foram apresentadas como anteprojeto de lei à Educação Superior no Brasil, principalmente com referência à universidade, compreendendo-a como bem público, a necessidade de a educação superior atender às demandas sociais e quanto à expansão da educação superior. Ainda no contexto da Reforma Universitária, a criação do Projeto de Lei n° 7200, que teve seu início de tramitação no Congresso Federal em 12 de junho de 2006, provoca um turbilhão de debates em função de ter como objetivo principal redimensionar a relação público/privado na Educação Superior Brasileira. Discute-se neste projeto de lei a questão social e as responsabilidades face à educação. O Projeto de Lei n° 7200/2006 estabelece em sua ementa “normas gerais da educação superior, regula a educação superior no sistema federal de ensino, altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de 1996; 8.958, de 20 de dezembro de 1994; 9.504, de 30 de setembro de 1997; 9.532, de 10 de dezembro de 1997; 9.870, de 23 de novembro de 1999, e dá outras providências”7. O artigo publicado pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES) intitulado “Análise do Projeto de Lei n° 7200/2006 – A Educação Superior em Perigo!”, apresenta uma crítica a este Projeto de Lei8. 6 Idem Disponível em: http://www.planalto.gov.br. 8 Disponível em: http://www.andes.org.br/imprensa/Uploads/Circ299-06.pdf 7 56 As críticas apresentadas salientam que este Projeto de Lei pretende transformar a educação, que é estabelecida pela Constituição Federal de 1988 como Direito Social, em seu artigo 6°, em simples serviço, em benefício do setor privado. O Projeto de Lei n° 7200/2006, de acordo com ANDES, em seu artigo 7° minimiza a função do Estado perante seus compromissos com a educação e tem como pretensão equiparar conceito entre duas categorias de natureza administrativa distintas: o Poder Público e as mantenedoras de instituições de ensino superior. Este Projeto de Lei define, em seu artigo 4°, a função social do ensino superior e estabelece que será atendida pela instituição mediante a garantia de: I – Democratização do acesso e das condições de trabalho acadêmico; II – Formação acadêmica e profissional em padrões de qualidade aferidos na forma da lei; III – Liberdade acadêmica, de forma a garantir a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação; IV – Atividades curriculares que promovam o respeito aos direitos humanos e o exercício da cidadania; V – Incorporação de meios educacionais inovadores, especialmente os baseados em tecnologias de informação e comunicação; VI – Articulação com a educação básica; VII – Promoção da diversidade cultural, da identidade e da memória dos diferentes segmentos sociais; VIII – Preservação e difusão do patrimônio histórico-cultural, artístico e ambiental; IX – Disseminação e transferência de conhecimento e tecnologia visando ao crescimento econômico sustentado e à melhoria da qualidade de vida; X – Inserção regional ou nacional, por intermédio da interação permanente com a sociedade e o mundo do trabalho, urbano ou rural; XI – Estímulo à inserção internacional das atividades acadêmicas visando ao desenvolvimento de projetos de pesquisa e intercâmbio de docentes e estudantes com instituições estrangeiras; XII – Gestão democrática das atividades acadêmicas, com a organização colegiada, assegurada a participação dos diversos segmentos da comunidade institucional; XIII – Liberdade de expressão e associação de docentes, estudantes e pessoal técnico e administrativo; e XIV–Valorização profissional dos docentes e do pessoal técnico e administrativo, inclusive pelo estímulo à formação continuada e às oportunidades acadêmicas. (Disponível em: http://www.planalto.gov.br). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996) admite uma variedade de tipos de instituições de ensino superior e o Decreto n° 2.306, de 19 de agosto de 1997, determina contornos mais detalhados ao processo de 57 diferenciação institucional e diversificação do ensino. Segundo MINTO (2006), de acordo com este Decreto, as instituições de ensino na educação superior são classificadas em cinco tipos: as universidades, os centros universitários, as faculdades integradas, as faculdades e os institutos ou escolas superiores. Ainda referenciando o autor (Idem, Ibidem, p. 175), o Decreto n° 3.860, de 9 de julho de 2001, praticamente manteve inalterada a configuração dos tipos de instituições de ensino superior. “A redução dos tipos de instituições para apenas três, todavia, deu-se através da agregação em uma única modalidade das faculdades integradas, faculdades e institutos ou escolas superiores”. Em seu artigo 7° fica estabelecido: “Quanto à sua organização acadêmica, as instituições de ensino superior do Sistema Federal de Ensino, classificam-se em: I- universidades; II – centros universitários; e III – faculdades integradas, faculdades, institutos ou escolas superiores”. A Educação Superior Brasileira não sofreu modificações na sua essência, pelo que se pode perceber ao longo de sua história. Pode-se afirmar que nos anos 90, o ensino superior brasileiro teve um crescimento significativo, principalmente da esfera privada. Entretanto, sua estrutura e configuração se mantêm desde seu surgimento. Diante destas reflexões e embasamentos teóricos apresentados sobre a História da Universidade no Brasil, diante das Reformas Universitárias vivenciadas pela Educação Superior Brasileira e diante da concepção das novas formas históricas no que tange as esferas pública e privada para este setor, pergunta-se: como as Lideranças que fazem parte do cenário da Educação Superior Brasileira compreendem a questão da responsabilidade social das IES explicitada na Lei dos SINAES, em seu artigo 3°, inciso III – “a responsabilidade social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural?” (BRASIL, 2004). Estas reflexões devem ser analisadas sob a perspectiva desta sociedade atual: a Sociedade do Conhecimento e a possibilidade de acesso a ela. 58 1.1.9 A Sociedade do Conhecimento e a responsabilidade da Universidade: um cenário de turbulências Nos dias atuais, fazer referência a qualquer tema que se refira a Universidade é inadmissível deixar de refletir sobre a nova sociedade. Entretanto, vários autores são unânimes ao defender que esta nova sociedade apresenta características difíceis de terem sido imaginadas há um ou dois séculos. E, talvez, mais difícil seja defini-las atualmente. Segundo GADOTTI (2000), este momento atual é um tempo de expectativas, de perplexidade e de crise de concepções e paradigmas. É um momento de grandes possibilidades, mas, ao mesmo tempo, de dúvidas e incertezas. A sociedade atual é caracterizada por alguns autores como sendo Sociedade da Informação ou Sociedade do Conhecimento ou também Sociedade Pós-Empresarial, como a denomina DRUCKER (2003). HOYOS GUEVARA e DIB (2007, p. 9), em seu livro intitulado “Da sociedade do conhecimento à sociedade da consciência”, afirmam que “segundo Abdul Waheed Khan, assistente da diretoria geral para comunicação e informação da Unesco” os termos Sociedade do Conhecimento e Sociedade da Informação se complementam. Os autores (Idem, Ibidem) defendem a ideia de que o conceito de Sociedade da Informação está associado à inovação tecnológica e o conceito de Sociedade do Conhecimento envolve uma gama de significados relativos à esfera social, cultural, econômica e política, caracterizando uma transformação institucional e desenvolvimentista. O conceito de Sociedade do Conhecimento é mais abrangente e tenta apreender a complexidade, dinamismo e velocidade das mudanças que estão ocorrendo na atualidade. As tecnologias de informação e comunicação, segundo os autores, têm como função o desenvolvimento humano envolvendo questões como cooperação intelectual, aprendizado por toda a vida e valores e direitos humanos básicos. A Sociedade do Conhecimento ultrapassa estes limites. Os diferentes modos de conhecimento sejam ético, social, cultural, científico ou tecnológico apresentam-se de maneiras diversas entre os vários países, e estão diretamente relacionados ao desenvolvimento histórico e potencial econômico de cada um. 59 Esta sociedade contemporânea evolui e se diferencia de acordo com a utilização do conhecimento de toda a natureza que está disponível no mundo e que faz parte da construção da história de toda a humanidade. Quando analisamos a evolução da sociedade ocidental, a partir do ponto de vista do historiador Eric Hobsbawn, do sociólogo Edgar Morin, do economista Amartya Sen e de cientistas como Basarab Nicolescu, Fritjof Capra e Ervin Laszlo, fica muito claro que a sociedade ocidental é marcada por uma progressiva e profunda transformação na sua realidade cultural e socioexistencial, que transcende as transformações organizacionais e tecnológicas e que parece ser simultaneamente o resultado dos acelerados avanços na Ciência e Tecnologia [...] (HOYOS GUEVARA; DIB, 2007, p. 10). Ainda referenciando os autores (Idem, Ibidem, p.9), o perfil desta Sociedade do Conhecimento poderá assumir diferentes formas, mas será determinado pelas escolhas feitas por esta sociedade. “[...] Deveríamos nos perguntar que tipo de sociedade gostaríamos de construir, com que fundamentos e propósitos e quais princípios operativos deveriam guiar seu desenvolvimento”. Esta é uma questão provocativa apresentada pelos autores, mas que deveria ser analisada e refletida por toda a sociedade humana. Nesta sociedade atual, independente do nome que se agregue a ela, o conhecimento é percebido como uma forma de capital. “O desenvolvimento do conhecimento é um prérequisito para o desenvolvimento da tecnologia” (CRAWFORD, 1994, p. 22). O desenvolvimento do conhecimento conduz ao desenvolvimento de novas tecnologias que, consequentemente, geram mudanças na economia, que, por sua vez, promovem uma mudança social, política e de paradigma. O processo de mudança, através da economia do conhecimento, é muito mais acelerado. Segundo Richard Crawford (1994), existem quatro características do conhecimento e da informação que fazem destes recursos únicos e criam uma nova economia: 1. O conhecimento é difundível e se auto-reproduz. As matérias-primas de uma economia industrial são recursos finitos; o minério de ferro vai chegando ao fim à medida que se produz o aço. Ao contrário do minério de ferro, o conhecimento expande-se e aumenta à medida que é utilizado. Quando utilizo meus conhecimentos para desempenhar uma tarefa, aprimoro meus conhecimentos, entendo mais profundamente a tarefa [...] 2. O conhecimento é substituível. Ele pode substituir terra, trabalho e capital [...] 60 3. O conhecimento é transportável. Na sociedade eletrônica atual, o conhecimento move-se na velocidade da luz. Em poucos segundos, posso enviar para Taiwan, via fax, um esquema para um novo chip de computador que representa meses de um intensivo trabalho de engenharia. 4. O conhecimento é compartilhável. A transferência de conhecimento para outras pessoas não impede o uso deste mesmo conhecimento por seu original detentor [...] (CRAWFORD, 1994, p.22/23). O único bem que se compartilha, e ao se compartilhar é acrescido e não dividido ou diminuído, é o conhecimento. De acordo com DOWBOR (2009, p. 15), em seu artigo intitulado “Da propriedade intelectual à economia do conhecimento”, o autor afirma que “o conhecimento constitui um bem que não deixa de pertencer a alguém quando o passa a outros, – e estamos na era da tecnologia da conectividade”. O autor ainda afirma que “[...] o conhecimento é um bem cujo consumo não reduz o estoque”. Durante a Revolução Industrial, as máquinas substituíram a força física. O dono da indústria era detentor do capital e do trabalho de seus funcionários porque ao fechar a fábrica no final do dia “levava a chave com ele”. Na economia do conhecimento, as máquinas complementam a capacidade mental do ser humano. O trabalhador das informações cresce em importância relativa na força de trabalho total. E este “meio de produção abstrato” não pode ser retido em poder de ninguém, apenas daquele que é o detentor do conhecimento, da ideia, da criação. Neste mesmo artigo citado anteriormente, DOWBOR (2009, p. 12) apresenta um texto em que Thomas Jefferson, em 1813, define o conhecimento como sendo o poder do pensamento humano, portanto a ideia, e que ela não pode ser propriedade de alguém, a não ser daquele que a possui por natureza: Se há uma coisa que a natureza fez que é menos suscetível que todas as outras de propriedade exclusiva, esta coisa é a ação do poder de pensamento que chamamos de ideia....Que as ideias devam se expandir livremente de uma pessoa para outra, por todo o globo, para a instrução moral e mútua do homem, e o avanço de sua condição, parece ter sido particularmente e benevolentemente desenhado pela natureza, quando ela as tornou, como o fogo, passíveis de expansão por todo o espaço, sem reduzir a sua densidade em nenhum ponto, e como o ar no qual respiramos, nos movemos e existimos fisicamente, incapazes de confinamento, ou de apropriação exclusiva. Invenções não podem, por natureza, ser objeto de propriedade. 61 DRUCKER (2003, p. 147) menciona que esta sociedade pós-empresarial é composta pelo que ele denominou de “trabalhadores intelectuais”. O autor define este trabalhador como sendo aquele que “utiliza seus conhecimentos no trabalho, isto é, que faz uso de seu intelecto no emprego”. O autor afirma que, muitas vezes, este trabalhador é um empregado, que trabalha para alguma organização, não é um profissional autônomo. Por isso, ele contesta que a sociedade seja denominada de “sociedade intelectual”, considerando que esta seria uma sociedade em que os trabalhadores intelectuais predominariam. O próprio autor afirma que isto seria “pedante e irreal”. Entretanto, DRUCKER (Idem, p.148) afirma que considerar esta sociedade como sendo uma “sociedade instruída” é mais aceitável, compreendendo este sentido como sendo de “uma sociedade que se organiza fundamentalmente a partir da aplicação dos conhecimentos dos cidadãos”. O autor ainda reforça a ideia de que por trabalho intelectual se compreende como sendo aquele que, para ser realizado, exige esforço cerebral e este se apresenta diferente dos outros trabalhos que foram vivenciados ao longo da história como o trabalho manual, o trabalho corporal ou através da máquina. Ainda nesta mesma obra, DRUCKER (2003) afirma que o conhecimento e a educação são hoje um “passaporte” para se conquistar um bom emprego ou uma carreira sólida, principalmente porque nesta sociedade pós-empresarial as empresas deixaram de ser o único meio de alguém progredir na vida. Para o autor, as empresas são meramente uma das várias áreas disponíveis para o trabalhador intelectual atuar. Um dos aspectos mais relevantes desta sociedade pós-empresarial que o autor afirma é que como o conhecimento se tornou o capital das economias desenvolvidas, os trabalhadores intelectuais tornaram-se um grupo que acaba determinando valores e normas nesta sociedade, modificando, portanto, o que se compreende como conhecimento. Isto gera consequências na maneira como o conhecimento deve ser repassado, aprendido e ensinado. RIFKIN (2001) defende que esta sociedade enfrenta desafios sem precedentes, analisando que as mudanças vividas nas relações econômicas na atualidade fazem parte de mudanças no processo do sistema capitalista. Em seu livro “A Era do Acesso”, RIFKIN (2001) faz referência a um movimento que está sendo vivenciado pela sociedade atual: a transição de um mundo capitalista industrial para um capitalismo cultural. Neste livro, o autor alega que cada vez mais as pessoas irão 62 pagar pelo acesso a bens e serviços, destacando o acesso à informação, ao entretenimento, hardware, software, eletrônicos, utensílios, entre outros. Na sociedade do acesso, o ciclo de vida dos produtos é cada vez menor, tornando-os obsoletos com maior rapidez. O interesse em possuir algo, a propriedade, cede lugar ao direito de dispor por um tempo determinado um bem ou uma experiência. Surge uma nova era, segundo RIFKIN (Idem, Ibidem), onde se paga para ter acesso a redes de experiências. A humanidade, atualmente, despende recursos tanto no acesso a estas redes quanto na aquisição de bens materiais. Uma das maiores transformações na economia de mercado apontada pelo autor está relacionada à mudança do comércio primário do espaço geográfico para o ciberespaço. A economia baseada no espaço geográfico baseava-se em vendedores e compradores que trocavam bens e serviços, onde o que se pretendia era transferir a propriedade. No ciberespaço, o que se pretende é trocar informações entre servidores e clientes que são considerados fornecedores e usuários, o objetivo é a possibilidade do acesso. Esta nova geração busca o acesso como forma de vida, sendo que estar conectado é mais importante do que possuir algo palpável, a propriedade. Ainda referenciando o autor (2001, p. 6), este afirma “em um mundo em que a propriedade pessoal foi considerada há muito como uma extensão do próprio ser e a ‘medida de um homem’, a perda de seu significado no comércio sugere uma mudança considerável na maneira como as futuras gerações perceberão a natureza humana”. O autor ainda considera que esta sociedade baseada em torno das relações de acesso produzirá, provavelmente, “um tipo bem diferente de ser humano”. Realizando uma análise comparativa entre dois períodos da sociedade, RIFKIN (2001, p. 7) afirma que no período industrial a atividade econômica mais importante era produzir bens, portanto, neste período ter propriedade era algo essencial à sobrevivência física e ao sucesso pessoal. Nesta nova era, denominada pelo autor como sendo “a Era do Acesso”, onde a produção cultural é a atividade econômica mais relevante, “assegurar o acesso aos vários recursos e experiências culturais que alimentam a existência psicológica de uma pessoa tornase tão importante quanto manter as posses”. 63 O autor ainda destaca que hoje se faz necessário imaginar um mundo onde, praticamente, toda atividade humana fora do convívio familiar se materializa como uma experiência paga, “um mundo em que as tradicionais obrigações e expectativas recíprocas – mediadas por sentimentos de fé, compreensão e solidariedade – são substituídas por relações contratuais na forma de associações, assinaturas, taxas de admissão, adiantamentos e tarifas pagas.” (RIFKIN, 2001, p. 8). O próprio autor parece estar perplexo diante das incertezas vivenciadas nesta sociedade afirmando que “a transformação do capitalismo industrial para cultural está desafiando muitas de nossas suposições básicas sobre o que constitui a sociedade humana.” (RIFKIN, 2001, p. 9). Esta “Era do Acesso” defendida por RIFKIN (2001) pode ser compreendida como um mundo de ideias, de imagens, de ilusões, de conceitos e de ficções. Esta era privilegia as ideias, o conhecimento, como sendo uma vantagem comercial. O conhecimento, segundo o autor, torna-se a meta sagrada. O autor ainda enfatiza que (Idem, Ibidem, p. 45) “se a Era Industrial nutriu nosso ser físico, a Era do Acesso alimenta nosso ser mental, emocional e espiritual”. A crescente importância de ideias na esfera comercial revela um espectro perturbador. Quando o pensamento humano se torna uma commodity tão importante, o que acontece com as ideias que, embora importantes, podem não ser atraentes comercialmente? Há espaço para visões, opiniões, noções e conceitos não comerciais, em uma civilização em que as pessoas dependem cada vez mais na esfera comercial para obter ideias pelas quais orientam suas vidas? Em uma sociedade em que todos os tipos de ideias pelas quais orientam suas vidas? Em uma sociedade em que todos os tipos de ideias estão encerrados na forma de propriedade intelectual controlada pelas megacorporações, qual será o provável efeito em nossa consciência coletiva e no futuro do discurso social? (RIFKIN, 2001, p. 46). Nesta “Era do Acesso” defendida por RIFKIN (2001), uma questão poderia ser colocada à prova: o acesso à informação em grande volume ainda atinge uma elite chamada “tecnológica”, com o objetivo de favorecer a inclusão num mundo digitalizado e informatizado. No entanto, este acesso é possibilitado a quem? HOYOS GUEVARA e DIB (2007, p. 11) defendem que os dilemas da sociedade continuam os mesmos de anos anteriores: “a falta de alimento ou de informação como seu 64 consumo desequilibrado e excessivo continuam a causar o desajuste e a paralisação dos sistemas”. Esta sociedade atual reforça a exclusão. Os impactos gerados pelo conhecimento, defende DRUCKER (2001b), podem ser tão profundos e preocupantes quanto os impactos exercidos sobre o conhecimento. O autor ainda afirma que o maior desafio está por vir e enfatiza que é o que menos se está preparado para enfrentar que se refere aos resultados que a educação terá que se responsabilizar: “O que será ensinado e aprendido; como será ensinado e aprendido; quem fará uso do ensino; e a posição da escola na sociedade – tudo isso sofrerá grandes mudanças durante as próximas décadas” (DRUCKER, 2001b, p. 165). O autor ainda afirma que “nenhuma outra instituição enfrenta desafios tão radicais quanto os que transformarão a escola”. DRUCKER (Idem, Ibidem) defende que qualquer sociedade para conseguir um bom desempenho na Sociedade do Conhecimento terá que preparar os estudantes para atingir uma instrução universal de alto nível, que lhes permita atuar e contribuir com esta nova sociedade. Nesta Sociedade do Conhecimento, segundo o autor, será necessário que as pessoas estejam preparadas para aprender durante toda sua vida. O aprendizado se fará ininterrupto e vitalício. De acordo com RIFKIN (2001), um dos desafios da educação é preparar os estudantes para esta economia global que se apresenta, baseada em uma realidade virtual do ciberespaço, sem deixar de lado o desenvolvimento de habilidades sociais adequadas à atuação plena destes como seres humanos na sociedade. Em seu artigo intitulado “Perspectivas atuais da educação”, GADOTTI (2000) apresenta sua compreensão em relação ao conceito de Sociedade do Conhecimento enfatizando que esta era pode ser assim denominada se for compreendida a partir da importância que se atribui ao conhecimento em todos os setores, especialmente em relação à informatização e ao processo de globalização das telecomunicações. O autor ainda destaca que esta sociedade do conhecimento não abrange a todas as pessoas de todo o mundo, e afirma que ainda existe uma grande parcela da população que não tem acesso ao conhecimento. O que se vivencia nos dias atuais, assegura GADOTTI (2000), é o predomínio da difusão de dados e informações e não de conhecimentos. O que possibilita a propagação da quantidade de informações que se dispõe atualmente são as novas tecnologias que armazenam 65 grandes volumes de informações e que tornam possível o acesso a elas, de forma prática e compreensível. O autor afirma que se pode constatar que está em processo uma Revolução da Informação, como em outros momentos significativos para a Humanidade se vivenciou a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. As novas tecnologias possibilitaram a criação de novos espaços de conhecimento. Além da escola, afirma o autor, uma variedade de outras instituições tornaram-se educativas como a empresa, o ambiente domiciliar, o espaço social, as Organizações Não Governamentais (ONG’s), sindicatos, igrejas. A sociedade civil se fortalece a cada dia como espaço de trabalho, de aprendizagem e de difusão de conhecimentos. Ainda referenciando o autor, GADOTTI (Idem, Ibidem) afirma que a possibilidade do acesso à informação não é apenas um direito de todo cidadão. Torna-se, nesta sociedade, o direito fundamental, um direito que antecede qualquer outro, sendo que sem esta possibilidade de acesso não se obtém qualquer outro direito. O ciberespaço cria a oportunidade de a informação estar sempre presente e sempre se renovando. Isto possibilitou, nesta nova era, o rompimento da ideia que exista um tempo próprio para a aprendizagem. Não existe mais nem tempo, nem espaço que sejam próprios para a aprendizagem. Em todo o tempo e em qualquer espaço, a aprendizagem se constitui como oportunidade única. De acordo com GADOTTI (2000), o maior desafio da escola nos dias atuais será criar condições de disseminar o conhecimento como espaço de realização humana, o que ele denomina como “amar o conhecimento”. A escola terá como responsabilidade selecionar e rever criticamente a informação que disponibiliza a seus alunos; deverá se tornar crítica e inovadora; terá que produzir, construir e reconstruir o conhecimento elaborado. O autor ainda afirma que a escola terá que proporcionar isto em favor dos excluídos. Segundo DOWBOR (1998, p. 259), nesta sociedade a escola deixará de ser “lecionadora” para tornar-se “gestora do conhecimento”. O autor ainda salienta que “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser determinante sobre o desenvolvimento”. Toda instituição de ensino, inclusive a Universidade, se depara nesta Sociedade do Conhecimento com um cenário de dúvidas e incertezas. A Universidade terá que preparar os alunos para enfrentarem uma economia global baseada em redes e realidades virtuais do 66 ciberespaço, ligada à internet e equipada com computadores para navegar pelos domínios eletrônicos, mas também deverá prepará-los para desenvolver habilidades sociais exigidas para atuar plenamente e como seres humanos na cultura da sua localidade e de seu país. Nesta Sociedade do Conhecimento, as Universidades, segundo DIAS SOBRINHO (2005, p. 165), “sofrem pressões contraditórias num cenário de turbulências e encruzilhadas para o qual não se sentem preparadas a responder”. Diante destas incertezas, qual será a Responsabilidade Social das Instituições de Ensino Superior nesta Sociedade do Conhecimento? 67 CAPÍTULO II A RESPONSABILIDADE SOCIAL: A ABRANGÊNCIA E COMPLEXIDADE DE UM CONCEITO RESPONSABILIDADE Entendo que a universidade tem uma responsabilidade social a cumprir junto aos demais graus de ensino e uma contribuição fundamental a dar no que diz respeito à compreensão do conhecimento, às perspectivas de avanço nas diferentes dimensões do conhecimento bem como nas questões de formação dos profissionais que atuam nas redes de ensino (FREIRE, 2005, p.81). Este capítulo tem como propósito tentar aclarar conceitos, princípios e pressupostos, fruto de revisão de literatura e de pesquisa bibliográfica, de interpretações dos conceitos de responsabilidade, responsabilidade individual e coletiva, Responsabilidade Social Corporativa e Responsabilidade Social das IES. Pretende-se também analisar a Lei dos SINAES (Lei nº 10. 861, de 14 de abril de 2004), que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, com o objetivo de assegurar um processo de avaliação nacional tanto das Instituições de Ensino Superior (IES), como de todos os cursos de graduação e do desempenho dos estudantes. Esta lei estabelece, em seu artigo 3º, que a avaliação das IES terá como objetivo identificar o perfil e o significado de atuação das instituições avaliadas, e o inciso III deste artigo define que as IES serão avaliadas quanto ao seu papel de responsabilidade social: “considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural”. O intuito ao se analisar a referida lei é buscar uma resposta ao problema que move esta pesquisa: tentar compreender o significado do conceito de Responsabilidade Social para as lideranças que representam o Ensino Superior Brasileiro, após seis anos de sua implementação e como ele é vivenciado nas instituições que estas lideranças representam. 68 Em se tratando da proposta anunciada, busca-se analisar as representações de lideranças do Ensino Superior Brasileiro em relação ao conceito de Responsabilidade Social das IES, como também tentar identificar as definições do conceito de liderança baseado em autores da área. 2.1 A SIGNIFICAÇÃO DO TERMO RESPONSABILIDADE E SUA AMPLITUDE 2.1.1 Responsabilidade em sentido geral Responsabilidade é um termo que se propala. Na sociedade atual, muito se tem discutido sobre “responsabilidade” em função do aumento das desigualdades econômicas e sociais em todos os países. A discussão em torno deste termo deve-se a privações que muitas pessoas, em diferentes regiões do globo, vivenciam – o aumento da pobreza, ausência da satisfação das necessidades básicas, a transgressão de liberdade ou direito político, negligência aos interesses das mulheres, ameaça à diversidade cultural, ameaça ao meio ambiente, à sustentabilidade da vida econômica e social, através do poder concentrado cada vez mais nas mãos de um grupo reduzido de pessoas. Muitas vezes, a maioria dos seres humanos desconhece seu papel na vida social. Muitos não conseguem compreender que fazem parte de um universo que se inter-relaciona e que, para que haja um equilíbrio entre os povos, se faz necessário redefinir o conceito de responsabilidade individual, com o objetivo de esclarecer, a partir desta compreensão, qual a responsabilidade coletiva destes homens, mulheres e crianças. De acordo com o dicionário online de português9, responsabilidade significa “s.f. Obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros. Caráter ou estado do que é responsável”. 9 Disponível em: http://www.dicio.com.br 69 Se o conceito de responsabilidade significa “obrigação de responder”, então, o que significa: “responder”? Significa: “Dar resposta ao que é dito, escrito ou perguntado; responsabilizar-se por alguém ou alguma coisa”. Pode-se expressar a responsabilidade de cada indivíduo como sendo a capacidade em aceitar as consequências, diretas ou indiretas, a curto ou longo prazo, de seus próprios atos. A responsabilidade de cada ser humano está atrelada ao grau de conhecimento que dispõe, seja uma pessoa, um grupo ou grandes organizações. LUIZ JUNIOR (2005, p. 01) define que a origem etimológica da palavra responsabilidade originou-se “do verbo latino respondere, de spondeo, primitiva obrigação de natureza contratual do Direito Romano, pela qual o devedor se vincula ao credor nos contratos verbais, portanto, a ideia e concepção de responder por algo”. O autor ainda afirma que a responsabilidade pode adquirir um significado sociológico, quando ela é decorrente da realidade social, originada de fatos sociais. De acordo com registros da história, os romanos quando realizavam contratos deveriam pronunciar a palavra spondeo, que significa respondem, com o intuito de ambas as partes comprometerem-se com o disposto no contrato. Portanto, o significado do conceito de responsabilidade é vincular as pessoas aos seus atos praticados. O Dicionário Escolar de Filosofia10 define responsabilidade como sendo consequência do livre arbítrio: Ser responsável por uma acção ou por uma omissão significa ser passível de responder por ela — por exemplo, perante os pais ou perante um tribunal. No senso comum e na tradição filosófica, religiosa e jurídica, a responsabilidade, seja legal ou moral, é vista como uma consequência do livre-arbítrio: somos responsáveis pelas nossas acções porque somos livres. A responsabilidade não é apenas individual — por exemplo, ao estado é atribuível uma responsabilidade colectiva. Alguns filósofos defenderam a doutrina da responsabilidade negativa, segundo a qual somos responsáveis não só pelos acontecimentos que provocamos, mas também pelos acontecimentos que poderíamos ter evitado. 10 Disponível em: http://www.defnarede.com 70 A responsabilidade não se restringe a um princípio ético, a partir de uma ação individual. A responsabilidade, de cada indivíduo, se traduz em um compromisso cidadão, que sustenta a identidade social. 2.1.2 Responsabilidade Individual e Responsabilidade Coletiva Os debates hoje emergem do conceito de responsabilidade em relação ao meio ambiente, a comunidade, a direitos e deveres do cidadão, direitos do consumidor, direitos do trabalhador, direitos da criança e do adolescente, direito dos idosos, direito ao acesso à educação, direito à saúde, entre outros tantos. Aqui, faz-se uma alusão a “direitos” e não “responsabilidades”. Talvez, um seja consequência do outro. Quando se tenta compreender a responsabilidade individual é necessário que se analise o contexto social, econômico, cultural e político em que se vive atualmente. Em artigo publicado na Revista Econômica, da Universidade Federal Fluminense, intitulado “Responsabilidade individual, por si mesmos e pelos outros”, Kenneth Joseph Arrow, Prêmio de Ciências Econômicas denominado Prêmio Sveriges Riksbank de Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel de 1972, apresenta uma visão sobre a ação individual e a ação coletiva nesta sociedade contemporânea. Segundo ARROW (2003), os preceitos morais que orientam a ação social mudam com uma velocidade vertiginosa. O autor afirma que após a II Guerra Mundial havia um consenso da sociedade de que o governo deveria agir em favor das consequências negativas da economia de mercado. Havia, neste período, um senso comum de solidariedade, que imperava: os que tinham sucesso econômico ajudavam aqueles que não possuíam nada. Hoje, a opinião pública tem uma postura totalmente diferente da relatada anteriormente. Diante das políticas neoliberais que imperam na maior parte dos países, a interferência dos governos no mercado “é agora considerada como um pecado mortal”. O autor ainda afirma que houve uma diminuição da responsabilidade perante os outros no contexto da vida social. Ele relaciona a responsabilidade da família, dos pais para com os filhos; percebe-se hoje, não raro, a ausência da responsabilidade dos pais em assumirem seus filhos, tanto homens quanto mulheres. 71 Ainda referenciando ARROW (Idem), o autor aponta alguns grupos sociais que são imprescindíveis à sobrevivência humana, onde a ajuda mútua impera e, somente através dela, se atinge os objetivos em comum. A família humana é um exemplo que ele enfoca: a interrelação de responsabilidade entre mãe e filho; a mãe responsável pelo cuidado da criança até que esta consiga manter-se por si mesma e a retribuição do filho para com a mãe, pelo cuidado e zelo, responsabilidade individual e recíproca de ambos. Outro exemplo enfatizado pelo autor são os caçadores na Era Primitiva que, muitas vezes por serem fracos diante de suas presas, poderiam se unir e atingiriam seus objetivos, de caça, com mais rapidez e eficiência quando juntos e ainda poderiam usufruir todos do mesmo bem – a caça. A Revolução Industrial lançou base de um novo tempo e causou uma mudança na ação social. A economia deixou de ter uma base artesanal e manufatureira para se firmar em uma produção industrial mecanizada. O surgimento das indústrias reafirmou este preceito de “cooperação”. O artesão produzia em escala muito menor que a produção industrial. A indústria possibilitou a divisão do trabalho em funções especializadas, mas provocou um aumento da cooperação entre os indivíduos para atingirem os objetivos organizacionais. Esta teoria já era defendida por Adam Smith, como afirma ARROW (2003). Afirmando a ideia da necessidade de cooperação entre os homens e mulheres, o autor esclarece que “a necessidade de se proteger dos inimigos deu origem à política, a necessidade de proteger-se das incertezas mais profundas, à religião. Em cada um desses âmbitos, o comportamento cooperativo torna-se essencial para o sucesso e até para a sobrevivência” (ARROW, 2003, p. 165). As considerações deste autor sobre as responsabilidades individuais, que irão culminar nas responsabilidades coletivas, baseiam-se em fundamentos teóricos de outros autores para altercar sua preocupação em relação à má distribuição de renda no mundo, em relação aos danos ambientais causados por grandes organizações, que irão afetar as gerações futuras e que estão gerando modificações no clima ou poluindo o planeta, a partir de detritos radioativos. O autor questiona a impessoalidade que impera na sociedade moderna. O mercado é aberto a todos com base nas mesmas regras, o que conta é apenas o intercâmbio de capacidades e recursos, inclusive a capacidade dos trabalhadores. De modo análogo, se supõe idealmente que os componentes do Estado moderno, o sistema legal e a burocracia racional sejam regulados por normas impessoais (ARROW, 2003, p. 166). 72 O próprio autor formula alguns questionamentos que induzem a reflexões: “Qual a relação entre imperativos morais e ação humana? Não faz parte de nossa natureza procurar o bem-estar para nós mesmos?” (Idem, Ibidem, p.166). Complementando estes questionamentos, o autor ainda pergunta: Que responsabilidade têm os homens atuais, em relação às gerações futuras no que se refere a problemas de mudança no clima, ou poluição dos resíduos radioativos ou do dióxido de carbono, para dar alguns exemplos de problemas que estão na ordem do dia na agenda política do planeta? (Idem, Ibidem, p. 168). Os economistas, analisando fatos atuais destacam que as escolhas, sejam individuais ou sociais, são resultantes da inter-relação entre preferências e oportunidades, que pode ser considerado como aquilo que é praticável. Isto depende da informação que o indivíduo dispõe e de outros mecanismos sociais que remetem às decisões individuais. Como se explica, então, os danos que os seres humanos são capazes de provocar a si mesmos? A exemplificação do autor pode ser citada como a escolha do indivíduo por fumar, ou por utilizar alucinógenos ou não se precaver contra doenças sexualmente transmissíveis. A resposta a esta indagação induz o autor a refletir sobre a dificuldade em perceber outra causa senão das próprias escolhas individuais e a responsabilidade individual. Segundo ARROW (2003, p. 169), “entendo por responsabilidade individual o fato que o ônus deveria recair sobre aqueles que tomam uma certa decisão”. A alusão a este questionamento refere-se aos grandes dilemas da humanidade, desde os tempos mais remotos: o respeito às decisões privadas e o respeito às decisões públicas. Faz parte da existência humana e social ter ações individuais e ações coletivas que visem um futuro longínquo. O indivíduo pensa em seu futuro. A família, como instituição social, pensa no futuro de seus filhos – provê-los mesmo após a morte dos pais. O Estado tenta prover as gerações futuras. Esta é a dinâmica do ecossistema social que engloba ações de responsabilidade individual e responsabilidades coletivas. A Responsabilidade Social das IES também encontra-se arraigada a estas questões. As Instituições de Ensino Superior fazem parte de um contexto histórico, político e social, onde existem ações individuais e coletivas que se inter-relacionam, se complementam. 73 DRUCKER (2003), em seu livro “As novas realidades” apresenta uma análise da responsabilidade do indivíduo na sociedade do conhecimento, afirmando que as responsabilidades individuais no século XIX, obviamente, não eram as mesmas que são impostas aos indivíduos nos dias de hoje. Igualmente nova é a posição do indivíduo, uma posição que é igualmente incompatível com o que a teoria sócio-política ainda considera “normal”. No século XIX havia dois modelos de sociedade competindo entre si. Um previa uma sociedade composta de pequenos profissionais independentes: o fazendeiro com seus 15 hectares e uma mula, o pequeno comerciante, o artesão. Haveria igualdade entre todos; nenhum deles teria grande poder ou riqueza, mas também nenhum seria miseravelmente pobre ou dependente. Embora em cada país europeu houvesse alguém que expressasse tal noção, foi Thomas Jefferson nos Estados Unidos que formulou de maneira mais clara. Mas quando Jefferson morreu, em 1826, já ficava claro que a sociedade não ia seguindo esse caminho (DRUCKER, 2003, p. 70). No sétimo capítulo do livro citado anteriormente, DRUCKER (2003) enfoca o que ele denomina de “Novos Pluralismos”. O autor afirma que o novo pluralismo abrange as noções de função e de desempenho na sociedade. Fazendo uma análise comparativa ao texto de ARROW (2003), DRUCKER (2003) defende a ideia de que as chamadas “tarefas sociais”, há cento e cinquenta anos, ou eram realizadas pela família ou não o eram, em relação à criação e educação dos filhos, dos idosos e dos doentes. Esta era a função social da família. O autor afirma que hoje estas tarefas estão sendo desempenhadas por, e através de, instituições organizadas, sejam as empresas, os sindicatos, as escolas, as creches, os hospitais, as universidades, entre outras. Estas instituições possuem uma única finalidade: produzir bens ou serviços quando se enfoca as empresas; controlar as ações da empresa, fiscalizando-a, no caso dos sindicatos; a função dos hospitais é curar os doentes; gerar e disseminar o conhecimento, no caso das instituições de ensino. Todas estas instituições possuem um órgão que as conduz, uma “administração”. A autonomia para estas instituições é de fundamental importância para seu desempenho e eficácia organizacional. Ainda referenciando DRUCKER (Idem), o foco principal destas novas instituições não está atrelado ao poder, e sim na função que elas desempenham em sociedade. Cada uma dessas instituições compreende como relevante sua finalidade, como valor absoluto. 74 Cada nova instituição fala a sua própria língua, possui os seus próprios conhecimentos, oferece as suas próprias carreiras e, sobretudo, ostenta os seus próprios valores. Nenhuma delas se vê como responsável pela comunidade como um todo. “Isso não é problema meu”. Mas de quem é então? (DRUCKER, 2003, p. 70). Esta sociedade desenvolveu um novo estilo de profissionais, o que DRUCKER (2003) denominou de “empregados intelectuais”, o que não pode ser ignorado pelas universidades que os forma. Estes profissionais que, segundo o autor, nem Marx, nem Jefferson conseguiram imaginar, são profissionais que não exploram o trabalho de outros trabalhadores, nem são explorados por “patrões”; estes profissionais muitas vezes são subordinados a alguém, mas que em outros momentos também chefiam outras pessoas. Este trabalho tem um caráter de dependência e independência ao mesmo tempo. Esta análise do autor não condiz com a realidade brasileira. Existem, no Brasil, muitos profissionais do conhecimento, mas a grande maioria ainda está submetida a uma organização, a um trabalho formal, com horário a ser cumprido e com obrigações a serem desempenhadas. Há, ainda, sem que se apresente dados concretos, um grande número de excluídos de toda a sorte: os sem amparo familiar, os sem emprego, os sem escola, os sem assistência médica, os sem moradia... Muitos, no Brasil, necessitam do mínimo para sobreviver. Entretanto, se o objetivo desta pesquisa é tentar compreender qual o significado do conceito de Responsabilidade Social para lideranças que representam o Ensino Superior Brasileiro, como ele é vivenciado nestas instituições? Pode-se, então, afirmar que as universidades são instituições constituídas por “empregados intelectuais”. E, sendo assim, qual a responsabilidade individual destes profissionais? Segundo DRUCKER (2003, p. 79), “como os trabalhadores intelectuais possuem um poder considerável, eles também devem assumir responsabilidades. A principal delas – talvez a mais dolorosamente ausente hoje em dia – é a responsabilidade do indivíduo por sua própria contribuição”. O autor faz uma alusão a uma instituição, sendo comparada a uma orquestra. Cada músico sozinho é incapaz de produzir uma sinfonia. Por melhor e mais competente que seja o músico, sozinho ele não atinge os objetivos daquela orquestra. Mas, quando um músico se 75 une a outros e cada um executa sua partitura em conjunto, o resultado é a execução de uma bela sinfonia. Quanto mais uma instituição estiver fundamentada no uso e aplicação do conhecimento, mais ela dependerá da disposição e boa vontade das pessoas assumirem responsabilidade – responsabilidade pela contribuição que prestam ao todo; pelo bom entendimento dos objetivos, dos valores e do desempenho do todo; e por se fazerem entender por outros profissionais, os outros trabalhadores intelectuais da organização (DRUCKER, 2003, p. 80). O autor ainda questiona se as instituições pluralistas devem assumir responsabilidades por problemas comunitários que não foram provocados por elas, como, por exemplo, por problemas sociais. Ele mesmo responde fazendo outra pergunta: “se as empresas, sindicatos, hospitais e universidades são tão grandes (quando são), tão fortes, tão profissionais, tão competentes, porque não começam a cuidar da pobreza, da ignorância, das escolas?” (DRUCKER, 2003, p. 74). As instituições, segundo o autor, estão inseridas em uma comunidade. Portanto, não podem isolar-se do mundo que está ao seu redor e, muitas vezes, como o próprio autor afirma, “a se despedaçar”. Mas, também precisam ter cuidado para não atuar em âmbito que ultrapasse sua competência, pois estarão negando sua função específica. Amartya Sen (2010), Prêmio Sveriges Riksbank de Ciências Econômicas em 1998 (Prêmio em memória de Alfred Nobel), em seu livro intitulado “Desenvolvimento como liberdade” realiza um estudo em que tenta demonstrar que a promoção do bem-estar deve ser pautada em uma pergunta essencial: qual o valor próprio da vida humana? Segundo o autor (Idem, Ibidem), muitas pessoas em todo o mundo vivem em condição de privações como miséria extrema, subnutrição, marginalização social, violação de liberdade política, ameaças ao meio ambiente, falta de oportunidades, privação de direitos básicos: saúde, moradia, assistência médica ou social. Afirma o autor que estas pessoas compartilham de uma mesma natureza – privação de liberdade. SEN (2010) defende que só se atinge o desenvolvimento se ele estiver relacionado à melhora da qualidade de vida das pessoas e da liberdade que possam desfrutar. Usufruir de liberdade permite aos seres humanos tornarem-se mais completos, mais íntegros, podendo 76 exercer seu direito de pôr em prática sua vontade, interagindo com o mundo a sua volta e influenciando-o, contribuindo para sua transformação. [...] as próprias pessoas devem ter a responsabilidade de desenvolver e mudar o mundo em que vivem [...] Como pessoas que vivem – em um sentido amplo – juntas, não podemos escapar à noção de que os acontecimentos terríveis que vemos à nossa volta são essencialmente problemas nossos. Eles são responsabilidade nossa – independente de serem ou não de mais alguém (SEN, 2010, p. 359). A superação dos problemas que afetam a humanidade é central ao exercício do desenvolvimento. O autor (Idem, Ibidem) ainda destaca que a ação individual é essencial para se atingir o desenvolvimento, entretanto, afirma que a liberdade de ação está diretamente relacionada às oportunidades sociais, políticas e econômicas. Existe uma complementaridade entre ação individual e agenciamentos sociais. O propósito da expansão da liberdade é concomitante ao meio principal do desenvolvimento. SEN (2010) defende que o fundamental é a busca pela expansão da liberdade que, consequentemente, induzirá o desenvolvimento. O desenvolvimento constitui a possibilidade de evitar restrições às pessoas, fazendo com que possam opinar, fazer escolhas e ter oportunidades. O autor (Idem, Ibidem, p.360) afirma que os seres humanos são competentes, reflexivos, que possuem capacidade de observar o que acontece com as pessoas a sua volta e, portanto, são responsáveis por tentar remediar não apenas “as aflições que nosso próprio comportamento eventualmente tenha causado, [...] mas também pode relacionar-se de um modo mais geral às desgraças que vemos ao nosso redor”. A responsabilidade de cada ser humano, destaca o autor, não está na capacidade em estabelecer regras para agir, mas no discernimento em reconhecer a relevância da condição humana em poder fazer escolhas. De acordo com SEN (2010), a compreensão e o debate em torno da responsabilidade tornam-se atuais por estarem presentes nos comentários de analistas políticos e por encaixarem bem no espírito da época. 77 [...] há quem afirme que depender de terceiros não só é eticamente problemático, como também derrotista do ponto de vista prático, pois enfraquece a iniciativa e os esforços individuais, e até mesmo o respeito próprio. Quem melhor do que o próprio indivíduo há de zelar por seus interesses e problemas? (SEN, 2010, p. 360). O fato de tornar uma pessoa responsável pelo cuidado dos interesses de outrem pode acarretar a este que está sendo cuidado a perda de sua capacidade de se autoconhecer, de se motivar por algo, de se envolver. “Qualquer afirmação de responsabilidade social que substitua a responsabilidade individual só pode ser, em graus variados, contraproducente. Não existe substituto para a responsabilidade individual” (SEN, 2010, p. 360/361). Segundo SEN (2010), o Estado deveria ser responsável por criar oportunidades de escolha para as pessoas e não desenvolver programas com intuito de tornar-se um Estado Provedor. O comprometimento social deve envolver outras instituições que não apenas o Estado: organizações políticas e sociais, organizações comunitárias, organizações não governamentais (ONG), meios de informação, entre outras. Estas instituições, de acordo com o autor, deveriam desenvolver ações que contribuíssem com a possibilidade de escolha de todos os envolvidos, estimulando e respeitando o exercício de sua liberdade. A Universidade caracterizada como instituição social que tem como função a produção e disseminação do conhecimento e a formação do cidadão necessita tornar-se responsável por sua contribuição para desenvolver a capacidade crítica-reflexiva de seus educandos, exercitando-os a compreender seu papel na sociedade como agentes de mudanças. De acordo com a análise dos autores pesquisados seja qual for a definição e dimensão do conceito de responsabilidade social, ele só poderá ser compreendido a partir da responsabilidade individual de cada ser humano e na sua capacidade em fazer escolhas. Cada um terá condições de fazer suas escolhas, sejam elas individuais ou sociais, se tiver oportunidade de acesso à informação e ao conhecimento. Desta feita, gerar e disseminar o conhecimento é a função que toda instituição de ensino deve desempenhar na sociedade, portanto, compreende-se que seu compromisso social deva ser desenvolver e estimular a capacidade dos alunos a tornarem-se responsáveis, primeiramente, por suas próprias ações, através de suas escolhas pessoais e, 78 consequentemente, estas escolhas se tornarão responsabilidades coletivas ou sociais que, ao conviverem neste núcleo institucional, repercutirão em toda a sociedade. 2.1.3 A Responsabilidade Social Corporativa: um conceito instituído Para que se possa apresentar uma reflexão sobre o conceito de Responsabilidade Social Corporativa ou Responsabilidade Social Empresarial ou Organizacional, a denominação depende da preferência dos autores pesquisados e seria conveniente analisar alguns temas que se tornaram emergentes a partir deste conceito. A mídia apresenta, nas escolas se discute, os consumidores afirmam e a grande maioria da população, em função da aproximação do período eleitoral, revela uma concepção que já faz parte da vida social de todos os seres humanos: a referência ao conceito de cidadania. Muito se tem debatido a respeito deste conceito: o que significa o termo “cidadania”? Qual sua origem? Qual a relação desta terminologia com o conceito de Responsabilidade Social Corporativa? Pesquisando sobre a evolução do conceito de cidadania, vários autores afirmam que a Grécia pode ser considerada como o “Berço da Cidadania”. Foi na Grécia que surgiu uma nova maneira de conceber o mundo (ABRÃO, 1999). A pólis, compreendida como a cidade, a partir do século VIII a.C, se aprimora com a invenção da moeda cunhada. Segundo ABRÃO (1999, p. 17), “o centro da cidade sofre uma mudança radical. Passa a ser a ágora, a praça pública, onde acontecem as transações comerciais e as discussões sobre a vida da cidade, a começar por sua defesa”. Na pólis, os cidadãos possuíam igualdade de direitos e deveres e vencia aquele que tivesse maior poder de persuasão. A capacidade de raciocínio e a habilidade em expor corretamente suas ideias não se limitavam apenas à política, mas tornava-se critério para pensar sobre qualquer tema. Desenvolvia-se o conceito de democracia a todos os que tinham direito à cidadania: os indivíduos do sexo masculino, que fossem adultos e não estrangeiros ou escravos. 79 Os cidadãos eram considerados, segundo CHAUÍ (1994, p. 371), os homens nascidos na cidade, “livres e iguais, portadores de dois direitos inquestionáveis: portadores da isonomia (igualdade perante a lei) e da isegoria (o direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações que a cidade deveria ou não realizar)”. O termo cidadão passou a designar as pessoas que possuíam privilégios e direitos. Os “privilégios e direitos” não eram extensivos a todos os moradores da cidade: as mulheres, as crianças, os escravos e os estrangeiros estavam privados destes direitos. Então, o conceito de cidadania na Grécia já se estabelecia como forma de exclusão. Hoje, todos e todas são considerados cidadãos, independente de raça, sexo, religião, idade, grau de instrução, classe social. Esta conquista deve-se aos gregos e romanos que iniciaram debates para a definição do termo – cidadão. De acordo com MOTA (1997), na sociedade ateniense a organização política, econômica e social era de exclusiva participação masculina. Às mulheres restavam apenas as funções domésticas. Os pais tratavam os acordos para casarem suas filhas adolescentes e, estas, após o matrimônio, ficavam sob a guarda e domínio dos maridos. Uma das maiores virtudes das mulheres atenienses era o silêncio. Os encontros sociais organizados pelos homens espartanos eram frequentados apenas por eles. As mulheres ficavam em seus aposentos, geralmente na parte superior da moradia, “ungindo o corpo com essências aromáticas e óleos perfumados para gozar posteriormente da companhia masculina”. A educação masculina em Atenas era flexível e aberta como na grande maioria das cidades gregas. “Enquanto as mulheres eram preparadas para a vida doméstica, singela e submissa, os homens recebiam cuidados especiais para que se desenvolvesse nos cidadãos um conjunto de qualidades da mente e do corpo, harmonioso e refinado” (MOTA, 1997, p. 37). Segundo ARISTÓTELES (2001), Atenas desenvolveu um modelo próprio para a organização da pólis. O ateniense se orgulhava de ter consciência de viver em sociedade, tinha consciência do que era ser cidadão, e considerava-se cidadão porque participava da vida pública da cidade. Os destinos da pólis tornavam-se responsabilidade de todos os cidadãos, acima dos quais não há nada a não ser as leis que eles mesmos elaboravam. 80 Os romanos também tiveram sua participação na concepção do conceito de cidadania. A palavra cidadania, segundo FUNARI (2003), teve sua origem da palavra em latim civis, que gerou civitas, que pode ser compreendida como “cidadania”, “cidade” e “Estado”. Ainda referenciando o autor (2003, p. 49), “cidadania é uma abstração derivada da junção dos cidadãos e, para os romanos, cidadania, cidade e Estado constituem um único conceito – e só pode haver esse coletivo se houver, antes, cidadãos”. Um dos destaques deste período e uma das características de cidadania romana referese à presença da mulher na sociedade. FUNARI (2003) destaca a participação social das mulheres da elite romana. As mulheres romanas assistiam a espetáculos, a jogos, participavam de banquetes e eram representadas na pintura e escultura. Percebe-se o início da participação da mulher na vida em sociedade. Ainda referenciando o autor (FUNARI, 2003), as lutas entre gladiadores não existiam apenas para divertir o povo. Ao final de cada combate, aquele que perdesse a luta deveria oferecer seu pescoço ao vencedor e este não poderia tirar-lhe a vida de modo próprio. Nem mesmo o magistrado ou imperador poderiam decidir sobre a vida daquele perdedor: somente os espectadores poderiam fazê-lo. A decisão, portanto, seria daqueles que assistiam ao “espetáculo”. Esta era a representação de um ato de soberania popular. As mulheres, que participavam dessas lutas, assistindo-as, podiam se manifestar sobre o destino do perdedor na arena. Essa manifestação popular em Roma pode ser comparada aos dias de hoje com os referendos ou plebiscitos e o direito a voto, em que todos os cidadãos – homens e mulheres − têm direito a se manifestarem. Esses jogos de gladiadores não eram aprovados por todos os romanos. Muitos condenavam essas lutas e outros a aprovavam, mas o que eles mais valorizavam era a possibilidade de exercer sua cidadania naquele momento: “a palavra final estava nas mãos daqueles que ali se reuniam, homens e mulheres, ricos ou pobres”. Vivenciado e relatado pela história pode-se perceber que o termo cidadão e o conceito de cidadania remontam a muitos anos. Constata-se que em seus Estatutos, em seus Projetos Políticos Pedagógicos e Projetos de Desenvolvimento Institucional e, muitas vezes, na descrição da Missão, as IES apresentam referências ao termo cidadão e a palavra cidadania. 81 As IES, de modo geral, descrevem em seus projetos que a função social da instituição é produzir conhecimento e desenvolver e propiciar condições para a formação do ser humano integral, com o objetivo de prepará-lo para o exercício da cidadania ou torná-lo um cidadão que se empenhe na construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária, menos excludente, com valores democráticos. Este discurso é unanimidade entre as mais variadas instituições de ensino superior. As Organizações do Terceiro Setor e os projetos empresariais de Responsabilidade Social também fazem referência ao termo cidadão e cidadania. A partir desta análise julgou-se conveniente retratar um breve relato histórico com relação ao surgimento deste conceito. A importância em destacar também o papel da mulher na sociedade grega e romana teve como objetivo descrever o avanço da participação da mulher na sociedade contemporânea. Hoje, percebe-se que as mulheres estão presentes em grande número nas universidades e IES brasileiras. Alguns cursos que eram recentemente redutos masculinos, atualmente são preenchidos pela maioria do sexo feminino como, para citar apenas alguns, Medicina, Odontologia, Engenharia, Administração, etc. Obviamente, que em um país como o Brasil muito ainda há que se fazer, mas um processo de acessibilidade já foi iniciado. E as universidades e as IES têm um papel fundamental em contribuir com a possibilidade deste acesso e de tantos outros. Finalizando o tema, pode-se afirmar que embora o conceito de cidadania, tanto para os gregos quanto para os romanos, estivesse limitado a uma pequena parcela da população, atrelada aos privilégios, aos direitos dos cidadãos restritos a determinadas classes e grupos de pessoas, não se pode negar seu valor para concretização das conquistas inéditas e avanços significativos para a história. A História da Humanidade tem sido marcada por lutas violentas por direitos à liberdade política, econômica e social. Ao se analisar o conceito de cidadania pode-se concluir que ela é construída ao longo desta história. E não se pode deixar de reconhecer que as 82 revoluções e as guerras possibilitaram, para as chamadas “minorias”, conquistas a alguns direitos civis e sociais. Entretanto, esta é uma história que ainda está sendo escrita. 2.1.3.1 As revoluções: instrumento da cidadania Alguns marcos na história são significativos para determinar a luta de um povo na concretização e efetivação de seus direitos. As revoluções fazem parte desta luta e para compreendê-las na modernidade é necessário refletir sobre o seu significado e seu desenvolvimento na história da humanidade. No século XVIII, segundo ODALIA (2003), inicia-se o que o autor denomina como “um processo de construção do homem comum como sujeito de direitos civis”. A Revolução Francesa em 1789, a Independência Americana (ou Revolução?) em 1776 e a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra (Primeira Revolução Industrial – 1780 a 1840; e a Segunda Revolução Industrial – 1840 a 1895) impulsionaram esse processo de construção que se estendeu pelos séculos XIX, XX, até os dias de hoje. Essas revoluções foram marcos de uma nova visão de mundo. Nestes países começam a emergir debates sobre o sistema de privilégios e uma nova percepção da desigualdade entre os homens aflora, que já não era mais aceita como natural ou como instituído pela vontade divina. De acordo com ODALIA (2003), no século XVIII, o homem iniciava uma tomada de consciência de sua participação na vida social, política, econômica e cultural. Essa tomada de consciência não era privilégio apenas dos intelectuais, mas de uma nova classe que estava surgindo: a burguesia. Surge, neste período, a ideia de felicidade. Os homens começavam a perceber que a felicidade não seria uma conquista individual, mas algo a ser almejado e conquistado pela coletividade. O que se buscava era a felicidade como um projeto de sociedade. A felicidade deveria ser uma possibilidade para todos que vivessem em sociedade e não apenas privilégio de poucos. 83 O impacto da Revolução Francesa foi tão profundo que Alexis de Tocqueville, um importante pensador francês e historiador, refere-se a ela da seguinte maneira: [...] Como a Revolução Francesa não teve apenas por objeto mudar um governo antigo, mas abolir a forma antiga da sociedade, ela teve de ver-se a braços a um só tempo com todos os poderes estabelecidos, arruinar todas as influências reconhecidas, apagar as tradições, renovar os costumes e os usos e, de alguma maneira, esvaziar o espírito humano de todas as ideias sobre as quais se tinham fundado até então o respeito e a obediência [...] (TOCQUEVILLE apud MOTA, 1997, p.282). O lema da Revolução Francesa: Liberdade, igualdade e fraternidade, ocorrida em 1789, se estabelecia como direitos ao novo cidadão. A data de 26 de agosto de 1789 é considerada como marco simbólico da cultura sócio-política moderna no ocidente com a promulgação da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. As dez primeiras cláusulas da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, segundo SINGER (2003, p. 210/211) eram: 1. Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem se fundar na utilidade comum. 2. O fim de toda associação política é a preservação dos naturais e irrenunciáveis direitos humanos. Estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança, a resistência contra toda opressão. 3. A origem de toda soberania está essencialmente no povo. Nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que não se origina dele. 4. A liberdade consiste em tudo poder fazer que não prejudique um outro. Portanto, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem outros limites que os asseguram o gozo dos mesmos direitos pelos demais membros da sociedade. Estes limites só podem ser fixados pela lei. 5. A lei só tem o direito de proibir ações que prejudicam a sociedade. Tudo o que a lei não proíbe não pode ser impedido e ninguém pode ser obrigado a fazer o que a lei não ordena. 6. A lei é expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de participar pessoalmente ou por meio de seus representantes na elaboração da mesma. [...] 7. Nenhum homem pode ser acusado, detido ou mantido preso a não ser nos casos previstos em lei e nas formas por ela prescritas. [...] 8. A lei só deve prescrever castigos que são indubitável e evidentemente necessários e ninguém pode ser punido a não ser por força de uma lei aprovada, divulgada e juridicamente aplicada antes do cometimento do crime. 84 9. Como cada homem é considerado inocente até que seja declarado culpado, se sua detenção for considerada inevitável, todo rigor que não seja necessário para assegurar a detenção deve ser severamente proibido por lei. 10. Ninguém deve ser incomodado por causa de suas opiniões, inclusive as religiosas, na medida em que sua expressão não perturbar a ordem pública, inscrita na lei. A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão surgia para estabelecer direitos iguais a todos os homens, mesmo que fosse apenas perante a lei e possibilitava o surgimento do fim da desigualdade a que os homens foram relegados durante anos. Diante da lei, todos os homens eram considerados iguais, pela primeira vez na história da humanidade. O conceito de felicidade concebido pelos franceses representa uma conquista da humanidade, pois orienta, ainda hoje, os esforços de homens e mulheres que buscam e lutam por uma sociedade mais justa e igualitária. O homem só pôde pensar na felicidade como um projeto de sociedade, isto é, como uma possibilidade para todos os que nela vivem, quando criou os meios de fazer com que a educação, a produção de alimentos, a fabricação das coisas que precisava – tecidos, roupas, máquinas, etc. – aumentassem a tal nível que deixassem de ser um privilégio de poucos para ser uma possibilidade de todos (ODALIA, 2003, p.160). A primeira cláusula da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi inspirada na Declaração da Independência dos Estados Unidos da América, ocorrida em 4 de julho de 1776, e que estabelecia a igualdade entre os homens: “São verdades incontestáveis para nós: que todos os homens nascem iguais; que lhes conferiu o Criador certos direitos inalienáveis, entre os quais o de vida, o de liberdade e o de buscar a felicidade” (MOTA, 1997, p. 297). Segundo KARNAL (2003), deve-se ser cauteloso ao refletir sobre conceito de cidadania nos Estados Unidos da América. Para o autor, não existe um conceito de cidadania para os americanos. Durante várias décadas os EUA produziram reflexões e práticas distintas sobre cidadania. Sabe-se que o conceito de cidadania é algo que se constrói ao longo do tempo e ao longo da história de cada país. Ainda referenciando o autor, percebe-se que o planejamento da capital dos EUA, retratado pelos seus edifícios em estilo neoclássico, evidencia uma tentativa de estabelecer uma relação dos princípios políticos da primeira geração após a Independência dos EUA com as instituições republicanas da Grécia e de Roma. 85 Um tema que gera controvérsias entre os historiadores é tentar compreender se a Independência dos Estados Unidos da América foi um processo de descolonização ou foi uma revolução burguesa. Enfatizando a crise do elitismo da educação superior brasileira, RISTOFF (1999) faz uma menção à Universidade de Virgínia, uma universidade criada por Thomas Jefferson e que demonstra a discrepância entre a declaração da independência e as atitudes dos homens daquele país. O que talvez mais impressione a respeito de Thomas Jefferson – o homem que escreveu que todos os homens nascem iguais e com direito inalienável à vida, à liberdade, e à busca da felicidade – é a universidade que construiu e que pretendeu deixar como o seu maior legado (RISTOFF, 1999, p. 25). O autor relata que Thomas Jefferson idealizava uma universidade com os melhores professores, com espaços amplos para alunos e professores interagirem. O campus foi construído de forma retangular, onde havia os quartos dos estudantes, as salas de aulas e as moradias dos professores construídos um ao lado do outro, com espaço central para reuniões, conversas e lazer. O que mais chama a atenção àqueles que visitam a universidade, segundo RISTOFF (1999), são os porões que existem nos quartos dos estudantes. Para aqueles que questionam o porquê destes porões, a resposta é que os alunos da época não conseguiam viver sem seus escravos. O que intriga qualquer ser humano é pensar como um homem que afirmou em documento que “todos os homens nascem iguais e livres” pôde construir uma universidade com características tão distintas. A explicação só poderá ser encontrada, afirmando que ele criou uma universidade que reproduzia uma sociedade racista, escravocrata e que buscava atender aos interesses da aristocracia agrária da época. Segundo RISTOFF (1999, p. 26), as mudanças são evidentes naquele país. “Os Estados Unidos são hoje um país com 14 milhões de estudantes matriculados no ensino superior, o que equivale a aproximadamente 55% da população na faixa etária entre 18 e 24 anos”. 86 Embora a Constituição de 1776 estabelecesse a igualdade de direitos entre os homens, a história social norte-americana comprova que o reconhecimento constitucional de um direito não significa, na prática, sua aplicação. Práticas segregacionistas fazem parte da história da sociedade norte-americana desde a colonização. Atentados às comunidades negras e as atividades de seitas racistas lideradas por elementos da classe média branca demonstram que os direitos iguais previstos em lei não são direitos de todos. 2.1.3.2 A Constituição Brasileira de 1988: uma constituição-cidadã? A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, acolhe os preceitos da “Declaração Universal dos Direitos Humanos” com mais ênfase que o próprio texto mundial. Relata os “direitos dos povos”, quando adota os princípios da autodeterminação, da não intervenção, da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos e da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade: [...] Nós representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988, p. 1). A Constituição é um documento que limita o poder dos governantes e condensa a ideia de direitos e deveres do cidadão, único instrumento não violento e extensivo a todos os homens propiciando o exercício da cidadania. A Constituição Brasileira, em seu artigo 5º estatui que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à prosperidade”. O artigo 6º estabelece que “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta constituição”. Constituem objetivos fundamentais da 87 República, segundo o artigo 3º: “I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária; III – Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Segundo SINGER (2003), esta Constituição foi promulgada em um momento que a contrarrevolução neoliberal já estava sendo defendida na América do Norte e Europa e iniciando as discussões para implementação na América Latina. O autor ainda afirma que a proposta de implementação de uma política neoliberal no Brasil se concretiza dois anos depois com a eleição à Presidência de Fernando Collor de Melo (1990-1992), eliminando todas as possibilidades de implementação de um estado de bem-estar. 2.1.3.3 Surgimento do Terceiro Setor – Responsabilidades inovadas A proposta de uma política neoliberal, implementada no Brasil, pretendia reformar o Estado para transformá-lo em Estado-mínimo, desenvolver a economia, fazer a reforma educacional e aumentar o poder da iniciativa privada transnacional, por meio do consenso ideológico. Outro aspecto relevante da doutrina político-econômica neoliberal foi imputar uma postura assistencialista ao poder público. Os debates entre os representantes do neoliberalismo defendiam que a sociedade civil deveria buscar soluções para os seus problemas sociais e não o Estado. Entre as décadas de 1970 a 1980, os movimentos sociais no Brasil iniciam um processo de rompimento com a característica assistencialista que lhes era atribuída até o momento, considerando como um termo pejorativo. A expansão do neoliberalismo coincide com a redemocratização do Brasil e neste período, na década de 80, surgia um tipo de organização desconhecida até então: “entidades voltadas para questões de interesse público, capazes de formular projetos, monitorar sua execução e prestar contas de suas finanças: as organizações não governamentais” (NAVES, 2003, p. 570). 88 No Brasil, a criação das ONGs foi baseada no modelo norte-americano e tinha como objetivo criar mecanismos de cooperação global. A ONG pode ser constituída por vontade própria de uma pessoa ou grupo de pessoas que possuem objetivos em comum de forma não lucrativa. As ONGs, de acordo com a legislação brasileira, podem ser caracterizadas como: associação, fundação, organização religiosa e partido político. “Por não ter objetivos confessionais ou eleitorais, juridicamente toda ONG é uma associação civil ou fundação privada”.11 Pode-se afirmar que nem toda associação civil ou fundação se caracteriza como ONG. Os clubes recreativos, hospitais e universidades privadas, asilos, associações de bairro, creches, fundações e institutos empresariais, associações comerciais, clubes de futebol, entre outros são caracterizados como associação civil ou fundação de acordo com a legislação vigente, entretanto, muitas vezes, possuem objetivos distintos e até opostos de uma ONG. Uma definição de Organização Não Governamental muito referenciada é de Herbert de Souza, o Betinho: Uma ONG se define por sua vocação política, por sua positividade política: uma entidade sem fins de lucro cujo objetivo fundamental é desenvolver uma sociedade democrática, isto é, uma sociedade fundada nos valores da democracia – liberdade, igualdade, diversidade, participação e solidariedade. (...) As ONGs são comitês da cidadania e surgiram para ajudar a construir a sociedade democrática que todos sonham (Disponível em: http://www.abong.org.br ). A autora do livro Movimentos e lutas sociais na História do Brasil, Maria da Glória Gohn, segundo NAVES (2003), classifica as ONGs em três grupos: a) caritativas: que atuam, geralmente, na assistência ao menor, à mulher e aos idosos; b) ambientalistas: que desenvolvem projetos voltados à questão do meio ambiente e do patrimônio histórico; e c) cidadãs: que desenvolvem projetos buscando reivindicar direitos de cidadania, com grande atuação junto às políticas públicas, onde fornecem subsídios para elaboração, fiscalização e denúncias, quando em caso de violação ou omissão. As Organizações Não Governamentais (ONGs) fazem parte do que se convencionou chamar: Terceiro Setor. No Brasil, segundo GOLDSTEIN (2007), o Primeiro Setor é 11 Disponível em: http://www.abong.org.br . 89 representado pelo Estado, o Segundo Setor é representado pelo Mercado e o Terceiro Setor é representado pelas organizações que desenvolvem ações não lucrativas, baseadas na solidariedade e na promoção dos direitos e benefícios coletivos. Alguns autores afirmam que já existe um Quarto Setor, o do Crime Organizado. Segundo NAVES (2003), Terceiro Setor pode ser conceituado como: Conjunto de atividades espontâneas, não governamentais e não lucrativas, de interesse público, realizadas em benefício geral da sociedade e que se desenvolvem independentemente dos demais setores (Estado e mercado), embora deles possa, ou deva, receber colaboração (NAVES, 2003, p. 574). No Brasil, ainda existem as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e as Organizações Sociais (OS). As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) são regidas pela Lei n° 9.79012, de 23 de março de 1999, que qualificou estas organizações com interesse em promover o diálogo entre governo e sociedade sobre temas importantes para desenvolvimento de estratégias à promoção do desenvolvimento social. O Ministério da Justiça confere títulos e qualificações para as entidades que firmam um Termo de Parceria com o governo, com intuito de promover ações de interesse público. As entidades que obtêm o título de OSCIP necessitam cumprir requisitos e determinações legais e possuirão um certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social. A legislação vigente, no Capítulo I, artigo 3°, estabelece que a qualificação das OSCIPs só será concedida se estas atuarem em projetos sociais que tenham pelo menos uma das seguintes finalidades: I – promoção da assistência social; II − promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III − promoção gratuita da educação (...); IV – promoção gratuita da saúde (...); V − promoção da segurança alimentar e nutricional; VI − defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII − promoção do voluntariado; 12 Disponível em: http://www.planalto.gov.br 90 VIII − promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; IX − experimentação não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; X − promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo (FERRAREZI, 2002, p.93). A lei da OSCIP, segundo GOLDSTEIN (2007, p. 32), trouxe novidades para o Terceiro Setor: ela possibilita à entidade remunerar seus funcionários, e mesmo assim consegue isenção “do imposto de renda de pessoa jurídica, da contribuição para o financiamento da seguridade social (Cofins) e da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL)”. Somente as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público podem remunerar os dirigentes que se dedicam à gestão da organização. As OSCIPs como são associações de direito privado sem fins lucrativos, qualificadas pelo poder público, podem formam parcerias com o governo, recebendo recursos públicos para investimento nos projetos desenvolvidos. Para as Organizações Sociais (OS), a lei disciplinou a criação dessas entidades e limitou seu campo de atuação a algumas poucas atividades. A lei n° 9.63713, de 15 de maio de 1998, estabelece que estas entidades poderão desenvolver projetos sem finalidade lucrativa nas áreas de ensino, cultura, saúde, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e preservação ambiental. A criação de leis para regular a ação destas instituições e o próprio fato do surgimento delas estão diretamente relacionados ao enfraquecimento do Estado diante da falta de atendimento dos interesses e necessidades de toda a sociedade. As políticas econômicas neoliberais propiciaram um aumento significativo da miséria, atingindo cada vez mais pessoas e segmentos sociais e aumentando a riqueza de uma fração cada vez menor da sociedade de forma incalculável. 13 Disponível em: http://www.planalto.gov.br 91 Esta realidade fez desabrochar o que muitos autores denominam de “consciência cidadã”, um sentimento compartilhado pela maioria da população, principalmente dos países em desenvolvimento como o Brasil. Segundo dados do IPEA/IBGE, citando GOLDSTEIN (2007, p. 30), “existem no Brasil 276.000 organizações que podem ser consideradas como pertencentes ao terceiro setor”. Estas entidades, segundo a autora, estão concentradas em grande parte nas regiões Sul e Sudeste e os trabalhos desenvolvidos são, na grande maioria, voluntários, ou seja, não remunerados: “76% das entidades não possuem nenhum funcionário; 5% têm entre 10 e 49 assalariados; e menos de 2% contam com mais de 50 funcionários remunerados”. O que é mais relevante nestas pesquisas, e pode ser constatado através dos projetos desenvolvidos pela maioria das ONGs, é a diminuição do caráter assistencialista impregnado no início dos anos 80. Hoje, percebe-se a preocupação com o investimento em projetos que visem à formação do ser humano, a capacitação para o trabalho, o desenvolvimento local e preservação ambiental. 2.1.3.4 Responsabilidade Social Corporativa: qual seu papel na sociedade atual? Segundo o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social14, uma organização sem fins lucrativos, que se caracteriza como organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), criada em 1998, com o objetivo de “mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável”, define Responsabilidade Social Empresarial (ou Corporativa) como sendo: [...] uma forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (Disponível em: http://www.ethos.org.br). 14 Disponível em: http://www.ethos.org.br 92 De acordo com OLIVEIRA (2002), o conceito de Responsabilidade Social Corporativa é amplo e parte do princípio de que a ética nos negócios torna-se balizador das ações e relações com todos os públicos com os quais a empresa interage, sejam acionistas, colaboradores, consumidores, fornecedores, meio ambiente, governo, mercado e comunidade. Em seu livro Responsabilidade Social e Cidadania Empresarial, MELO NETO e FROES (1999, p. 78) afirmam que “apoiar o desenvolvimento da comunidade e preservar o meio ambiente não são suficientes para atribuir a uma empresa a condição de socialmente responsável”. A Responsabilidade Social Corporativa ultrapassa esses limites; os investimentos em projetos sociais devem abranger o bem–estar de seus colaboradores extensivo a seus familiares, promover um ambiente de trabalho saudável, além de comunicações transparentes com todos os envolvidos com a organização, retorno aos acionistas também faz parte de sua Responsabilidade Social Corporativa, além de promover sinergia com seus parceiros comerciais e garantir a satisfação de clientes e/ou consumidores. MELO NETO e FROES (2001) defendem que a Responsabilidade Social Corporativa se caracteriza como um paradigma empresarial contemporâneo e suas principais características são: • alto comprometimento com a comunidade; • atua em parceria com o governo, demais empresas e entidades em programas e projetos sociais; • apresenta progressão de investimentos nas áreas sociais; • viabiliza projetos sociais independentemente dos benefícios fiscais existentes; • realizam ações sociais, cujo principal objetivo não é o marketing, mas um comprometimento efetivo com a comunidade; • seus funcionários, conscientes da responsabilidade social da empresa, atuam como voluntários em campanhas e projetos sociais; • os valores e princípios empresariais, além de sua missão e visão estratégica, incorporam responsabilidades diversas, envolvendo o seu relacionamento com o governo, clientes, fornecedores, comunidade, sociedade, acionistas e demais parceiros (MELO NETO; FROES, 2001, p. 35). AMARAL (2007), em sua dissertação de mestrado intitulada “Responsabilidade social da empresa: a área de gestão de pessoas como mediadora entre a organização e a comunidade”, citando o Instituto Ethos, afirma que a Responsabilidade Social Corporativa para ser concebida como um modelo de gestão, é necessário que a empresa seja definida como: 93 [...] aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários (AMARAL, 2007, p.41). A Responsabilidade Social Corporativa, de acordo com alguns autores, pode ser compreendida sob quatro visões. De acordo com CHAROUX (2007, p. 13), “a primeira visão se refere ao entendimento de que, ao pagar seus impostos, cumprir a legislação e garantir lucro aos acionistas, a empresa já estará ‘fazendo sua parte’”. O entendimento é que diante destas ações já se estaria cumprindo com seu papel social. Outra visão, ainda referenciando a autora, é que se “acrescenta a esses objetivos as ações filantrópicas, como a doação de recursos financeiros ou materiais a associações, creches, lares de idosos e orfanatos”. Uma terceira compreensão do conceito de Responsabilidade Social Corporativa poderia se caracterizar como “estratégia de negócios, ou seja, investir em RSE é um modo de diferenciar o produto, agregando valor à marca, algo intangível, mas vem adquirindo crescente valorização em face da competitividade de mercados”. Com esta visão, as empresas compreendem que através de suas ações conseguirão atingir uma maior longevidade em seus negócios. A quarta visão defendida pelo empresariado é que a Responsabilidade Social Corporativa ou Empresarial, como prefere CHAROUX (2007), é que ela [...] faz parte da cultura organizacional e por isso está no cotidiano da empresa, ou seja, mediante um posicionamento ético e sustentável, valorizase toda a ação que beneficie a todos os públicos envolvidos na atividade de uma organização: trabalhadores, consumidores, comunidade, meio ambiente. Nessa visão, a empresa também está comprometida com a promoção de tais valores na sua cadeia de fornecedores e também no mercado onde atua, como por exemplo, interrompendo transações com empresas que empregam mão de obra infantil ou utilizem critérios pouco transparentes em suas operações (CHAROUX, 2003, p. 13/14). Além de a Responsabilidade Social Corporativa ser considerada, a partir desta quarta visão, como um modelo de gestão organizacional, ela pode abranger dois públicos: interno e externo. As ações de Responsabilidade Social Corporativa que envolvem o público interno abrangem os funcionários e seus dependentes. Segundo MELO NETO e FROES (1999, p. 94 87), compreende-se por gestão da responsabilidade social interna todas as ações desenvolvidas pelas empresas como: “programas de remuneração e participação nos resultados, assistência médica, social, odontológica, alimentar e de transporte”, que tenham como objetivo principal o bem-estar dos colaboradores, extensivo a seus dependentes. Também são consideradas ações de Responsabilidade Social Corporativa Interna, ainda referenciando os autores (Ibidem, p. 87), “os programas internos de treinamento e capacitação e programas de financiamento de cursos externos, regulares ou não, realizados por seus funcionários com vistas a sua maior qualificação profissional e obtenção de escolaridade mínima”. A gestão da Responsabilidade Social Corporativa Externa tem como foco a comunidade. Segundo MELO NETO e FROES (1999), todas as ações desenvolvidas para a comunidade como projetos sociais voltados à área de educação, saúde, assistência social e ecologia. A gestão da responsabilidade social externa também envolve as doações realizadas pela empresa, programas de voluntariado, as parcerias firmadas com órgãos públicos, outras empresas, sociedade civil. E se caracteriza também pelo retorno social propriamente dito, como a percepção da comunidade em relação à empresa, isto é, a imagem da empresa perante a comunidade e, consequentemente, o retorno aos acionistas. A Responsabilidade Social Corporativa não pode ser percebida como um resultado, uma condição estática atribuída às organizações que demonstram possuir cidadania empresarial; está relacionada ao modelo de gestão da empresa que se apresenta cada vez mais complexa, nas quais questões ambientais e sociais tornam-se crescentemente mais importantes para assegurar o êxito e a sobrevivência nos negócios. A Responsabilidade Social Corporativa é algo muito mais abrangente. É um processo dinâmico a ser conduzido de forma inovadora, sendo necessária a vigilância constante e tendo que possuir mecanismos renovadores e de sustentabilidade. A gestão da responsabilidade social corporativa é dinâmica e se expressa através do alcance sucessivo de etapas de um processo. A Responsabilidade Social Corporativa compreendida como modelo de gestão pode ser dividida, de acordo com MELO NETO e FROES (2001) em, pelo menos, três estágios de responsabilidade: 95 O 1º estágio do processo de gestão social empresarial tem como foco “as atividades regulares da empresa, saúde e segurança dos funcionários e qualidade do ambiente de trabalho”. Há empresas que ampliam este foco para investimentos na educação dos funcionários, assistência social e demais benefícios diretos e indiretos extensivos aos familiares. O 2º estágio referese “ao ônus das externalidades negativas ao meio ambiente (poluição, uso de recursos naturais, etc.), à sociedade (demissões, comunidade ao redor da fábrica) e aos seus consumidores (segurança e qualidade dos produtos)”. Neste estágio, a empresa apresenta uma evolução significativa em seu processo de gestão social: amplia o seu escopo de ação do exercício da responsabilidade social interna (1º estágio) para o exercício da responsabilidade social externa (2º estágio). Finalmente o 3º estágio, que abrange questões de bem-estar social. É neste estágio que a empresa inserese socialmente e atua no campo da cidadania, mediante ações de filantropia e a implementação de seus projetos sociais (MELO NETO e FROES, 2001, p. 80). A partir da compreensão de que Responsabilidade Social Corporativa se caracteriza como um modelo de gestão se tornou necessário, na década de 90 no Brasil, que as empresas descrevessem, através de documento próprio, suas ações e investimentos em projetos sociais. Surge, então, o chamado Balanço Social. O sociólogo Herbert de Souza, mais conhecido como Betinho, em meados da década de 90, fundou o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE). O intuito de Betinho em criar um órgão com esta dimensão era iniciar debates sobre Responsabilidade Social Corporativa no Brasil e incentivar as empresas a divulgar, através do Balanço Social, as ações e investimentos que eram direcionados aos stakeholders. Segundo os INDICADORES ETHOS (2007, p. 22), stakeholder é um termo utilizado para “designar cada parte interessada, ou seja, qualquer indivíduo ou grupo que possa afetar o negócio, por meio de suas opiniões ou ações, ou ser por ele afetado: público interno, fornecedores, consumidores, comunidade, governo, acionistas, etc.” O Balanço Social tem como principal objetivo divulgar a apresentação de investimentos e resultados diretamente relacionados aos indicadores sociais da organização. Tem como proposta principal explicitar as ações desenvolvidas pela empresa de caráter social, apresentar os resultados atingidos e divulgar os investimentos realizados com relação a: educação, saúde, lazer, esporte, cultura, assistência social e outros. De acordo com a Gerência de Estudos Setoriais (GESET) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Balanço Social é: 96 [...] o nome dado à publicação de um conjunto de informações e de indicadores dos investimentos e das ações realizadas pelas empresas no cumprimento de sua função social junto aos seus funcionários, ao governo e às comunidades com que interagem, direta ou indiretamente. Desta forma, o Balanço Social é um instrumento de demonstração das atividades das empresas, que tem por finalidade conferir maior transparência e visibilidade às informações que interessam não apenas aos sócios e acionistas das companhias (shareholders), mas também a um número maior de atores: empregados, fornecedores, investidores, parceiros, consumidores e comunidade (stakeholders) (GESET, 2000, p. 6). O Balanço Social é uma ferramenta de gestão que ganha relevância na divulgação das práticas sociais e ambientais desenvolvidas pela empresa. Para muitos autores, a apresentação do Balanço Social proporciona à empresa maior credibilidade e visibilidade, oferecendo à sociedade uma prestação de contas de seus resultados. O balanço social, antes de ser uma demonstração endereçada à sociedade, é considerado uma ferramenta gerencial, pois reunirá dados qualitativos e quantitativos sobre as políticas administrativas e sobre as relações entidade/ambiente, os quais poderão ser comparados e analisados de acordo com as necessidades dos usuários internos, servindo como instrumento de controle, de auxílio para a tomada de decisões e na adoção de estratégias. É, ainda, um instrumento de auxílio na gestão da entidade, contribuindo para a melhora da estrutura organizacional, da informação e da comunicação, da produtividade, da eficiência e eficácia (KROETZ, 2000, p. 68). O Instituto Ethos desenvolveu um programa denominado de “Ferramenta de diagnóstico para planejamento e monitoramento da gestão socialmente responsável”. Esta ferramenta foi estruturada em forma de questionário para auxiliar as empresas a conhecer, administrar e avaliar os impactos de suas atividades, enfocando a gestão sustentável de seu negócio. A ferramenta tem como objetivo também desenvolver os valores que sustentam a vida em sociedade, analisando seu comportamento ético e transparente com todos os públicos com os quais interage (stakeholders) e participar e contribuir com a agenda pública, concretizando sua cidadania corporativa. Segundo Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial (2007), o questionário dos indicadores Ethos está organizado em sete grandes temas, que são: a) Valores, Transparência e Governança; b) Público Interno; c) Meio Ambiente; d) Fornecedores; e) Consumidores e Clientes; f) Comunidade; e g) Governo e Sociedade. Dois novos temas foram incluídos: a) Sustentabilidade da Economia Florestal (Versão 2006) e b) Construção da Cidadania pelas empresas (Versão 2006). 97 Os indicadores Ethos foram desenvolvidos a partir da correlação com outros instrumentos como: a) GLOBAL REPORTING INITIATIVE (GRI), que se caracteriza como organização não governamental internacional, com sede em Amsterdã (Holanda) e desenvolve e dissemina globalmente diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade utilizadas voluntariamente por empresas do mundo todo. É considerado como Padrão Internacional, voluntário e auditável, de relatório de sustentabilidade empresarial; b) SA 8000, Padrão Internacional Auditável, desenvolvida com foco nas relações de trabalho, pela SAI (ONG Americana). Sua estrutura está embasada em 9 critérios, sendo, o nono critério, um sistema de gestão das relações de trabalho; c) PACTO GLOBAL (Global Compact) é uma iniciativa desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, relações trabalhistas, meio ambiente e práticas anticorrupção. Essa iniciativa conta com a participação das agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações não governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais inclusivo e igualitário; d) OBJETIVOS DO MILÊNIO é uma parceria global promovida pela ONU, com foco na redução da pobreza, educação, saúde materna, equidade entre os gêneros, mortalidade infantil, AIDs e outras doenças.15 Segundo TACHIZAWA (2002), as avaliações concentram-se em três áreas de atuação da empresa: a) Processos produtivos: Relações trabalhistas; Respeito aos Direitos Humanos; Contratação de mão de obra, inclusive fornecedores; Gestão ambiental; Natureza do produto ou serviço; b) Relações com a comunidade: Natureza das ações desenvolvidas; Problemas sociais solucionados; Beneficiários; Parceiros; Foco das ações; 15 Disponível em: http://www.ethos.org.br. 98 c) Relações com os empregados: Benefícios concedidos, inclusive às famílias; Clima organizacional; Qualidade de vida no trabalho; Ações para aumento da empregabilidade (TACHIZAWA, 2002, p. 64). Algumas normas e certificações foram criadas e desenvolvidas para que as empresas pudessem se adequar aos novos desafios de um mercado globalizado, que ampliou significativamente suas responsabilidade e exigências perante outras empresas, consumidores, sociedade e governo. As normas e certificações são padrões compreendidos como um conjunto amplamente aceito de procedimentos, práticas e/ou especificações. Segundo GRÜNINGER e OLIVEIRA (2002), as normas e certificações dividem-se em quatro áreas principais: Qualidade, meio ambiente, saúde e segurança e sustentabilidade. Segundo INDICADORES ETHOS (2007, p. 39): A Social Accountability 8000 (SA 8000) é a primeira norma voltada para melhoria das condições de trabalho. Abrange os principais direitos dos trabalhadores (saúde e segurança, liberdade de associação, limite de horas de trabalho, compensação e garantias contra o trabalho forçado, a discriminação e o trabalho infantil) e certifica seu cumprimento por meio de auditores independentes. A norma segue o padrão da ISO 9000 e da ISO 14000, o que facilita sua implantação por empresas que já conhecem esse sistema. A SA 8000 apresenta-se como um sistema de auditoria similar à ISO 9000, mas com requisitos baseados nas diretrizes internacionais de direitos humanos e nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A BS 8800 é uma norma criada pela British Standards Institution (BSI), órgão britânico encarregado de elaborar normas técnicas. Tem como objetivo avaliar a gestão da saúde e segurança ocupacional, passível de auditoria e certificação. É considerada como a norma mais atual em todo o mundo para a implantação de um sistema eficaz de gerenciamento das questões relacionadas com a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais (INDICADORES ETHOS, 2007). De acordo com GRÜNINGER e OLIVEIRA (2002, p. 9), a norma AA 1000 “foi desenvolvida com o objetivo de fornecer uma ferramenta prática para guiar as organizações no gerenciamento e na comunicação da responsabilidade social”. Esta norma é internacional e certificável e tem como princípios e padrões de processo o engajamento com as partes interessadas. A norma é o primeiro padrão internacional de gestão da Responsabilidade Social Corporativa e foi lançada em 1999 pelo Institute of Social and Ethical Accountability (ISEA), 99 uma organização não governamental com sede em Londres. A organização foi fundada em 1995 para promover inovações na prestação de contas, a fim de avançar as práticas de negócio responsáveis e ampliar a prestação de contas da sociedade civil e de órgãos públicos. É formada por 350 membros entre empresas, ONGs e organismos de pesquisa que elegem um conselho composto por representantes do Brasil, Índia, América do Norte, Rússia, África do Sul e Europa. Segundo INDICADORES ETHOS (2007, p. 51), a norma ISO 14000 “apresenta uma série de padrões que auxiliam a empresa a estabelecer e implementar um sistema de gestão ambiental, fornecendo os requisitos que serão considerados para fins de auditoria e certificação”. A série ISO 14000 é composta por um conjunto de 28 normas relacionadas a Sistemas de Gestão Ambiental, que abrangem seis áreas bem definidas: a) Sistema de Gestão Ambiental; b) Auditorias Ambientais; c) Avaliação de Desempenho Ambiental; d) Rotulagem Ambiental; e) Aspectos Ambientais nas Normas de Produtos; e f) Análise do Ciclo de Vida do Produto. Esta norma foi criada pela International Organization for Standardization, (Organização Internacional para Normalização), que é uma organização não governamental situada em Genebra com o objetivo de facilitar as trocas internacionais de bens e serviços e criar normativas para o comércio mundial. Sua criação foi ao final da II Guerra Mundial (1946) e o Brasil participa do ISO através da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABTN), uma associação privada sem fins lucrativos. A International Organization for Standardization (ISO), a partir de 2001, iniciou um processo de avaliação da viabilidade de elaboração de uma norma referente ao tema Responsabilidade Social. Em função disto, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) decidiu, em dezembro de 2002, constituir uma comissão, formada por representantes do governo, setor produtivo, organizações não governamentais, entidades de classe e academia, para elaborar uma norma nacional de Responsabilidade Social. Assim, foi criada a ABNT NBR 16001, que foi concluída em dezembro de 2004 e tem como objetivo estabelecer requisitos mínimos relativos a um sistema de gestão da Responsabilidade Social, permitindo à organização formular e implementar uma política e objetivos que levem em conta as exigências legais, seus compromissos éticos e sua preocupação com a promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável, além da transparência das suas atividades (Disponível em: http://www.abnt.org.br). 100 A norma ISO 26000, segundo INDICADORES ETHOS (2007), é composta de padrão internacional não certificável e teve seu desenvolvimento finalizado em dezembro de 2009, com previsão para sua aplicação em 2010. Esta norma tem como objetivo se tornar um guia para a gestão da Responsabilidade Social, tendo como princípio orientar organizações em diferentes culturas, sociedades e contextos. A norma abordará temas que englobam desde direitos humanos, práticas de trabalho, meio ambiente e governança, até questões de implementação da Responsabilidade Social nas organizações. Ainda citando os INDICADORES ETHOS (2007), com relação à Sustentabilidade existe a FSC que é o padrão FOREST STEWARDSHIP COUNCIL, que significa Conselho de Manejo Florestal, e tem como objetivo: difundir o bom manejo florestal, conforme princípios e critérios que conciliam as salvaguardas ecológicas com os benefícios sociais e a viabilidade econômica. O selo FSC para manejo florestal atesta que a madeira ou outro insumo florestal utilizado em determinado produto é oriundo de uma floresta manejada de forma ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável, e foi obtido cumprindo-se todas as leis vigentes. Produtos intermediários ou finais que utilizam matériaprima florestal com o selo FSC para cadeia de custódia garantem rastreabilidade da matéria-prima da floresta até o consumidor final (INDICADORES ETHOS, 2007, p. 51). Segundo GRÜNINGER e OLIVEIRA (2002), existe um padrão de certificação para a pesca sustentável que é o MARINE STEWARDSHIP COUNCIL (MSC). É o resultado da colaboração de organizações de proteção ambiental e representantes do setor privado. Ainda referenciando os autores (2002, p.15), a HUMANE COSMETIC STANDARD (HCS) é produto da junção de grupos com objetivo de proteção aos animais. Este padrão tem como meta reduzir o número de animais que são utilizados em teste de cosméticos, ainda “descreve processos para definir e envolver a política empresarial, monitoramento da performance e verificação independente de sistemas de monitoramento”. As empresas que seguem os requisitos estabelecidos pelo padrão podem estampar o selo de certificação em seus produtos. O EUROPEAN ECO-MANAGEMENT AND AUDIT SCHEME (EMAS) é um padrão voltado às indústrias, enfocando políticas, programas e sistemas de gerenciamento ambientais e o OHSAS 18001 (ORGANIZATION HEALTH AND SAFETY ASSESSMENT SERIES) é um 101 padrão internacional voltado às questões de saúde e segurança ocupacional e exige um sistema completo de gerenciamento de risco em áreas industriais (GRÜNINGER e OLIVEIRA, 2002). As empresas preocupadas e envolvidas como responsáveis sociais, modificam e ampliam seu papel de agente econômico e se transformam em agente social, disponibilizando, adaptando os mesmos recursos utilizados no seu negócio, para transformar a sociedade e desenvolver o sentido do bem comum. Neste cenário de grandes transformações as empresas, os indivíduos e a sociedade ainda estão em processo de adaptação para viver em um mundo globalizado. Diante desta realidade, as empresas têm como função mobilizar a sociedade civil na busca da transformação do cenário social vigente. As empresas passam a adquirir uma característica nunca antes vivenciada na história da administração empresarial: elas iniciam uma contribuição transformadora para a elevação do meio social em que está inserida. Assumem compromissos e definem políticas em relação a cada um de seus parceiros. Cultivam e praticam um conjunto de valores, explicitados num código de ética, que formata consensualmente a cultura interna, funcionando como referências de ação para todos os seus dirigentes nas relações com seus stakeholders. E as universidades, qual seu papel social? Qual a definição do conceito de Responsabilidade Social para as IES? 2.2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS IES 2.2.1 O papel social das Instituições de Ensino Superior (IES) A compreensão do papel social da educação em todos os seus níveis sempre foi palco de debates em todos os países do mundo. Segundo LEONTIEV (2004), a importância social da educação pode ser explicitada da seguinte maneira: 102 Quanto mais progride a humanidade, mais rica é a prática sócio-histórica acumulada por ela, mais cresce o papel específico da educação e mais complexa é sua tarefa. Razão por que toda etapa nova no desenvolvimento da humanidade, bem como dos diferentes povos, apela forçosamente para uma nova etapa no desenvolvimento da educação: o tempo que a sociedade consagra à educação das gerações aumenta; criam-se estabelecimentos de ensino, a instrução toma formas especializadas, diferencia-se o trabalho do educador do professor; os programas de estudo enriquecem-se, os métodos pedagógicos aperfeiçoam-se, desenvolve-se a ciência pedagógica. Esta relação entre o progresso histórico e o progresso da educação é tão estreita que se pode sem risco de errar julgar o nível geral do desenvolvimento histórico da sociedade pelo nível de desenvolvimento do seu sistema educativo e inversamente (LEONTIEV, 2004, p. 291/292). Esta pode ser uma verdade inquestionável: o papel da educação se tornou, ao longo da história da humanidade, uma tarefa complexa e, em consequência disto, a dificuldade em se estabelecer com clareza, definir-se, qual sua função social, seu papel na sociedade e sua responsabilidade social. Como afirma SGUISSARDI (2000, p. 9), não se pode esperar, em um país como o Brasil, com tantas desigualdades, que os primeiros a compreender o papel social da universidade sejam os analfabetos; “nem os que apenas tiveram alguns anos de escolaridade ou os que cursaram o ensino fundamental completo; nem tampouco os que apenas fizeram alguns anos do ensino médio e que por razões diversas não puderam concluí-lo”. O autor afirma que estes, somados, correspondem a 80% da população brasileira. Diante deste quadro cabe àqueles “privilegiados”, segundo o autor (Idem, ibidem), que são portadores de um diploma de curso superior ou de pós-graduação, desvendar em que consiste o desafio da educação superior brasileira? Ainda referenciando o autor, SGUISSARDI (2000) afirma que o maior desafio da educação superior no Brasil é o desafio de sua compreensão. [...] que papéis têm exercido até hoje a educação superior no desenvolvimento do nosso país, dada sua curta história, se comparada à dos sistemas congêneres dos países vizinhos? Que papel se espera possa vir a cumprir nas próximas décadas do próximo século/milênio? (SGUISSARDI, 2000, p. 12). Uma compreensão essencial que se objetiva nesta pesquisa é entender e definir o conceito de Responsabilidade Social para as Instituições de Ensino Superior brasileiras, em especial para as Universidades, adentrando suas vivências. 103 Segundo PIMENTA e ANASTASIOU (2008), a finalidade da universidade como instituição educativa pode ser definida como o exercício permanente da crítica que deve ser embasada no ensino, na pesquisa e na extensão. A produção do conhecimento só será efetiva se for fundamentada a partir dos conhecimentos construídos por meio da história, dos resultados destes conhecimentos na construção da sociedade e dos novos desafios que esta sociedade apresenta e com a qual se depara. De acordo com MORIM (apud PIMENTA; ANASTASIOU, 2008, p. 162), “a universidade conserva, memoriza, integra e ritualiza uma herança cultural de saberes, ideias e valores, que acaba por ter um efeito regenerador, porque a universidade se incumbe de reexaminá-la, atualizá-la e transmiti-la”. A universidade tendo como função promover o desenvolvimento da capacidade crítica do ser humano e possibilitar que todos os indivíduos que a frequentam tenham condições de desfrutar os avanços da civilização que foram historicamente construídos, e que se comprometam em gerar soluções para os problemas que esta mesma civilização provocou. PAULO FREIRE já afirmava em “Pedagogia do Oprimido” (2005, p.90) que “a existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo”. A Universidade terá sua identidade consolidada no momento em que oportunizar aos seres humanos a possibilidade de desenvolver sua capacidade crítica e, a partir disto, analisar, compreender e transformar o mundo. Ainda referenciando o autor (Idem, Ibidem), ele afirma que “existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar”. Nestes tempos de globalização, de neoliberalismo, de formação baseada na lógica do mercado, poder-se-ia perguntar: que tipo de homem e mulher a universidade pretende formar? Segundo MÉSZÁROS (2005), em seu livro A educação para além do capital afirma que a educação não pode ser compreendida como um negócio. A educação é, primeiramente, criação. A educação não deve qualificar para o mercado, mas para a vida. Em relatório realizado pela UNESCO, elaborado pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, intitulado: “Educação: um tesouro a descobrir”, DELORS (1997), presidente da comissão, enfatiza que os pilares recomendados para a educação são 104 quatro: a) Aprender a aprender; b) Aprender a conviver; c) Aprender a fazer; e d) Aprender a ser. 16 Para se aprender a conviver, o documento enfatiza que é necessário aprender a aprender: esta proposta considera que em função do progresso científico e das novas formas de atividade econômica e social, é imprescindível que o estudo se torne mais amplo para o conhecimento de uma cultura geral, desenvolvendo assim o gosto pelo aprender ao longo da vida. O que não prescinde do conteúdo a ser aprendido, quer seja ele conceptual, factual, atitudinal ou procedimental. O aprender a fazer define-se pela aprendizagem contínua de uma profissão e o desenvolvimento de competências que proporcionem ao indivíduo condições de enfrentar situações diversas em sua vida. E, aprender a ser configura-se como o tema relevante do relatório. Compreende-se como sendo o desenvolvimento da capacidade do ser humano de discernir sobre tudo que envolve a vida em sociedade, acompanhada da responsabilidade pessoal em prol da realização de um destino coletivo e, principalmente, o desenvolvimento da capacidade de conhecer-se a si mesmo. A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado, especialmente graças à educação que recebe na juventude para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmo como agir nas diferentes circunstâncias da vida (DELORS, 1997, p. 99). O papel social que reserva a universidade não se limita apenas a mera transmissora de conhecimento, nem mesmo a transferir saberes e práticas; seu papel essencial visa compreensão e formação do homem e mulher como um todo. ANÍSIO TEIXEIRA, em seu livro Educação e Universidade, delineia a função da universidade voltada à formação humanística: 16 Disponível em: http://www.unesco.org.br. 105 A função da universidade é uma função única e exclusiva. Não se trata somente de difundir conhecimentos. O livro também os difunde. Não se trata somente de conservar a experiência humana. O livro também a conserva. Não se trata somente de preparar práticos ou profissionais, de ofícios ou artes. A aprendizagem direta os prepara, ou, em último caso, escolas muito mais singelas do que universidades. Trata-se de manter uma atmosfera de saber para se preparar o homem que o serve e o desenvolve. Trata-se de conservar o saber vivo e não morto, nos livros ou no empirismo das práticas não intelectualizadas. Trata-se de formular intelectualmente a experiência humana, sempre renovada para que a mesma se torne consciente e progressiva. Trata-se de difundir a cultura humana (TEIXEIRA, 1988, p. 35). A universidade deve ser compreendida como uma instituição onde o conhecimento é construído, onde este conhecimento se reproduz, se conserva, se organiza e se reorganiza. Este conhecimento ao ser compartilhado se universaliza e atinge toda a sociedade. A universidade necessita de antemão deixar de se comportar como uma entidade social isolada. Ela faz parte de um contexto social, econômico, político, cultural onde influencia o meio em que está inserida e é influenciada por ele. A universidade precisa “abrir suas portas” para poder compartilhar todo o conhecimento gerado, apreendido, experimentado com seu entorno e com todos aqueles do qual faz parte. A abertura da universidade para além de seus próprios muros significa, sem dúvida, a entrada facilitada e desejada dos saberes do povo no seio da vida acadêmica, numa fecunda circulação de acervos comunicantes, todos convergindo para a produção do conhecimento de significação social (VANNUCCHI, 2004, p. 54). O conhecimento é o único bem de que um homem ou mulher dispõe para aperfeiçoar sua existência. Segundo FREIRE (1989), o conhecimento é o que diferencia a espécie humana das outras espécies. O autor afirma que o indivíduo é um ser que precisa se fazer, e, principalmente, decidir sobre o que virá a ser. Paulo Freire denominava a isso de “inacabamento ou inconclusão do homem”. Nesse processo de inconclusão, o homem e a mulher buscam se fazer. O autor afirma que ao tentar se fazer, os seres humanos criam a cultura, transformam-na, vivenciam-na, modificam-na através do processo de aprendizagem. O que se apresenta como cultura, como sociedade e como maneira de se expressar de cada um como sujeitos individuais é a consequência da construção do conhecimento humano. 106 Uma afirmação que caracteriza o papel social da universidade é aquele referenciado por RISTOFF (2002, p. 17): “uma universidade é antes de tudo uma instituição acadêmica, uma casa de educação. E, embora alguns pensem que não, é também um espaço político, social e cultural”. O autor afirma que para se estabelecer e ser respeitada como tal, a instituição acadêmica necessita “favorecer os processos de ensino e aprendizagem, sustentar os esforços da pesquisa e ostentar uma atmosfera acadêmica multicultural, rica e diversificada”. Para que a Universidade concretize seu compromisso social, possibilitando a construção desta sociedade mais justa, menos excludente, que valorize o exercício da cidadania, que contribua com a construção do conhecimento e que possibilite que homens e mulheres descubram-se e decidam-se sobre o que pretendem vir a ser, é imprescindível que a universidade se edifique através do tripé da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão. Entretanto, muitas vezes, “a tradição cultural brasileira privilegia a condição da Universidade como lugar de ensino, entendido e sobretudo praticado como transmissão de conteúdos acumulados de produtos do conhecimento” (SEVERINO, 2007, p. 23/24). O autor (Idem, ibidem) ainda afirma que a extensão universitária deve ser compreendida como um processo que não pode ser desvinculado do ensino e da pesquisa. O ensino, a pesquisa e a extensão, caráter único da Universidade, quando interagem entre si, constroem um vínculo com a sociedade, contribuindo para sua transformação através da aplicação do conhecimento adquirido e compartilhado. As Universidades, ou as Instituições de Ensino Superior no Brasil, estão exercendo este papel social? 2.2.2 A lei dos SINAES – um sistema de avaliação para a educação superior brasileira As discussões em torno da avaliação institucional das universidades brasileiras remontam à década de 80. Diversos programas e propostas, que antecedem à sanção da Constituição de 1988, compõem-se a pré-história da avaliação da educação superior; desses, destacam-se o Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU), em 1983; o relatório da Comissão de Notáveis, em 1985, e a proposta de 107 avaliação no anteprojeto do Grupo Executivo da Reforma da Educação Superior (GERES), em 1986 (BARREYRO; ROTHEN, 2006, p. 958). Segundo BARREYRO e ROTHEN (2008), as décadas de 80 e 90 no Brasil se caracterizaram como períodos em que se buscava definir uma política de avaliação da educação superior. Dentre os documentos, relatórios e propostas para implantação de uma política de avaliação da educação superior brasileira (BARREYRO; ROTHEN, 2006; BARREYRO; ROTHEN, 2008) cinco se destacam: 1. Programa de Avaliação da Reforma Universitária – PARU – em 1983; 2. “Uma Nova Política para a Educação Superior Brasileira” – Relatório da Comissão Nacional de Reformulação da Educação Superior – CNRES – em 1985; 3. “Relatório do Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior” – GERES – EM 1986; 4. Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB – em 1993; 5. Exame Nacional de Cursos – ENC – PROVÃO – de 1996 a 2003. Essas propostas de implementação de um processo de avaliação específico a educação superior se caracterizaram como documentos e experiências vividas, que foram sendo reformuladas e aperfeiçoadas para a concretização de um Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES em 2004. De acordo com RISTOFF (1999), pensar na melhoria da qualidade da universidade brasileira inevitavelmente se deve pensar em um processo de avaliação, sendo que este faz parte da natureza de qualquer instituição acadêmica. Como estas instituições não vivem no vazio, mas em um meio social, em um momento histórico com características políticas, econômicas, intelectuais, jurídicas próprias, elas são periodicamente, por necessidade, reavaliadas, e a avaliação invariavelmente aponta para as suas crises – crises de gestão, crises pedagógicas, crises de autonomia, crises de modelo, crises de função – em uma palavra crise de qualidade (RISTOFF, 1999, p. 35/36). Este trabalho buscou apresentar algumas considerações acerca destes documentos, relatórios e propostas para implantação de uma política de avaliação da educação superior, 108 sem a pretensão de examiná-los exaustivamente, apenas com intuito de referenciá-los para, posteriormente, descrever o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior − SINAES. O Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU) foi desenvolvido em 1983, no final do Governo Militar do então General João Batista Figueiredo. Neste período foi criado um Grupo Gestor formado por “pesquisadores com experiência em análise e acompanhamento de projetos” (GRUPO GESTOR DA PESQUISA, 1983, p. 83). O documento “Programa de Avaliação da Reforma Universitária”, desenvolvido por este grupo de pesquisadores, foi publicado na revista Educação Brasileira, editada pelo Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB). O PARU, segundo BARREYRO e ROTHEN (2008, p. 133) objetivava identificar as condições das instituições de ensino superior em relação às atividades de produção e disseminação do conhecimento. “Para isso, considerava necessário diagnosticar a situação desse momento de forma a avaliar o sistema de educação superior, em seu conjunto, nele incluídas as universidades e instituições isoladas, públicas e privadas”. A avaliação concebida por este Grupo tinha como proposta reconhecer os problemas existentes da educação superior brasileira. Desta feita, a partir dos dados coletados, subsidiaria a elaboração de políticas públicas para esta área de ensino. Este programa de avaliação (PARU) teve como finalidade principal realizar uma pesquisa mais sistêmica e elegeu a avaliação institucional e a avaliação interna como duas vertentes a serem destacadas e privilegiadas. Segundo ZAINKO (2010), o PARU teve curta duração por não ter conseguido o apoio do MEC. Compreendia-se que a proposta não correspondia plenamente aos seus interesses de regulação da educação superior, tendo vigorado até 1984. Pode-se considerar que o PARU foi o “precursor das experiências de avaliação posteriores no país (PAIUB, SINAES), inaugurando a concepção de avaliação formativa e emancipatória” (BARREYRO; ROTHEN, 2008, p. 135). 109 Com o objetivo de reformular a educação superior brasileira, no início do período que marca a redemocratização do país, foi instituída, a partir do Decreto de Lei n. 91.17717, de 29 de março de 1985, a Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior (BARREYRO; ROTHEN, 2008). Esta Comissão, também conhecida como “Comissão de Notáveis”, desenvolveu um Relatório intitulado “Uma Nova Política para a Educação Superior Brasileira”18, que teve como princípios norteadores: a) Responsabilidade do Poder Público – [...] seria de responsabilidade do poder público financiar as pesquisas mais significativas, como apoiar financeiramente instituições particulares que realizassem atividades socialmente relevantes e, finalmente, zelar pela qualidade do sistema [...] apesar do documento citar a importância da iniciativa privada, é muito forte a ideia de que o oferecimento da educação superior seria de responsabilidade do poder público; b) Adequação à realidade do país – [...] oferecer uma formação profissional que permitisse os egressos a se adaptarem a um mercado de trabalho em constante mudança [...] com a criação de mecanismos de transferência para o meio social e econômico do conhecimento oriundo da pesquisa efetivada no meio acadêmico; c) Diversidade e Pluralidade – [...] assegurar liberdade para que as instituições assumissem modelos organizacionais e institucionais que fossem mais adequados para a realização dos objetivos e da vocação própria de cada instituição; d) Autonomia e Democracia interna – o princípio da autonomia destaca-se entre outros [...] “liberdade para que as universidades decidam internamente sobre as pesquisas que realizam, os currículos de seus cursos, seus sistemas administrativos e organizacionais e à gestão de seus recursos; e) Democratização do acesso – [...] primeiro, com a melhoria da educação de primeiro e segundo graus; segundo, pela criação de outras modalidades de ensino, ao invés da expansão indiscriminada de um sistema constituído exclusivamente nos moldes acadêmicos tradicionais; f) Valorização do desempenho – a Comissão compreendia que o controle sobre as instituições resumia-se aos aspectos formais e burocráticos, e haveria a necessidade de substituí-los por mecanismos que tivessem em conta o mérito do trabalho desenvolvido pelas instituições; g) Eliminação dos aspectos corporativos e cartorais – a Comissão propunha a diminuição da ingerência dos Conselhos Profissionais que regulamentam, no Brasil, diversas profissões. Segundo o diagnóstico da Comissão, os conselhos dificultam a reformulação dos currículos (BARREYRO; ROTHEN, 2008, p. 137/138/139). 17 18 Disponível em: http://www.prolei.inep.gov.br Disponível em: http://www.schwartzman.org.br/simon/comissao.htm 110 Neste relatório a Comissão faz alusão à função social do ensino superior afirmando que “as instituições universitárias, na maioria dos casos, estão mais voltadas para a sua dinâmica interna do que para a mudança social. A responsabilidade social do ensino superior tem múltiplas dimensões”. O documento era enfático ao afirmar que se a sociedade “sustentava” a Universidade tinha o dever de exigir da instituição a prestação de contas do ensino e da pesquisa que era capaz de desenvolver, como também dos recursos que eram aplicados por ela. Embora nos últimos anos tenha crescido o número de assalariados que frequenta cursos noturnos, a tendência predominante ainda não se alterou: são poucos os que dispõem das condições sócioeconômicas necessárias para o ingresso no ensino superior. A sociedade, de algum modo, deve ser retribuída pela concessão desse privilégio. De resto, as IES concentram uma massa crítica de recursos humanos e materiais que deve ser socializada e difundida. Num país com tantas desigualdades sociais e regionais, cabe à Universidade um papel importante no esforço para superar essa situação (UMA NOVA POLÍTICA, 1985). Neste documento, a Responsabilidade Social das universidades públicas poderia ser compreendida como sua “prestação de contas” para a sociedade dos recursos disponíveis. Segundo TAVARES (1998, p. 51), a concepção de universidade apresentada neste documento da Comissão era definida como “uma instituição modernizadora, voltada para a pesquisa, sendo a avaliação de desempenho determinante para a concessão de recursos financeiros”. A autora ainda afirma que no documento os projetos de extensão mereciam destaque, enfatizando que estas eram “atividades essenciais da universidade em qualquer sociedade moderna”. O enfoque dado aos projetos de extensão neste documento poderia ser compreendido como “prestação de serviços” da universidade para com a sociedade. De acordo com TAVARES (1998, p.51), “a comprovada inadequação da universidade à realidade brasileira, especialmente a interesses e necessidades de amplos setores sociais marginalizados [...] reforçava a necessidade de fortalecimento da extensão, sendo esta entendida como prestação de serviço”. Talvez, o estudo realizado por esta Comissão influencie ainda hoje algumas instituições de ensino superior a compreender os projetos de extensão desenvolvidos por ela como atividades de prestação de serviços à comunidade. 111 Este documento, segundo ZAINKO (2010), estabeleceu que a avaliação do ensino superior deveria ser realizado a partir das seguintes dimensões: a) avaliação dos cursos; b) avaliação dos alunos; c) avaliação dos professores; d) avaliação didático-pedagógica do ensino; e) avaliação de servidores técnicos e administrativos; e f) avaliação das carreiras. Ainda referenciando a autora (Idem, Ibidem), o documento produzido por esta Comissão não corresponde às expectativas do Estado quanto à forma de controle da educação superior, sendo reformulado e modificado pelo Grupo Executivo para a Reforma da Educação Superior (GERES). De acordo com CARDOSO (1989, p. 113), o Grupo Executivo da Reforma da Educação Superior (GERES) foi criado como sendo um grupo interno do MEC, a partir da Portaria nº 100 de 6 de fevereiro de 1986, e instalado pela Portaria nº 170, de 3 de março de 1986. O Grupo tinha, como função executiva, segundo BARREYRO e ROTHEN (2008), que elaborar uma nova proposta de Reforma Universitária. Foi desenvolvido um Relatório intitulado “Comissão Nacional de Reformulação da Educação Superior”. Destaca-se a importância deste relatório no que se refere à instauração de uma visão de regulação e controle da educação superior. O GERES desenvolveu sua proposta de reformulação da legislação do ensino superior direcionado às instituições públicas, e tinha como objetivo apresentar propostas para aumentar a eficiência das Instituições Federais (BARREYRO; ROTHEN, 2008). O GERES retomou o fio condutor do documento da Comissão Nacional para a Reformulação da Educação Superior “Uma Nova Política para a Educação Superior Brasileira”, a saber, o aumento da autonomia universitária e a avaliação da responsabilidade social mediante processos públicos com critérios estabelecidos pela própria comunidade acadêmica (BARREYRO; ROTHEN, 2008, p. 143). (grifo nosso). Este Grupo (GERES) defendia a ideia de que um sistema de avaliação tinha como objetivo principal controlar a qualidade do desempenho da educação superior pública. Era defendido por este grupo também que o setor privado não necessitava enfrentar um processo de avaliação porque isto seria executado pelo próprio mercado, sendo que este setor dependeria diretamente da eficácia de seu produto para obter os recursos para sua manutenção e expansão. 112 O relatório elaborado pelo GERES, de acordo com ZAINKO (2010), definia que os representantes dos órgãos governamentais, mesmo contando com a colaboração da comunidade acadêmica, constituíam-se como sendo os principais atores do processo avaliativo. A proposta de avaliação era fundamentada em uma concepção regulatória da educação superior, dando enfoque prioritário às dimensões individuais: do aluno, dos cursos e das instituições. Ainda referenciando a autora (Idem, Ibidem), a discussão em torno do sistema de avaliação da educação superior gerou vários encontros em todo o país para discussão do tema como: a) Encontro Internacional sobre Avaliação do Ensino Superior (Brasília) – 1987; b) Encontro Regional sobre Avaliação do Ensino Superior (Amazônia), c) Seminário Regional sobre Avaliação da Universidade (Santa Catarina), d) Encontro da Região Nordeste sobre Avaliação da Universidade (Ceará); e, e) Encontro Paulista sobre Avaliação no Ensino Superior (São Paulo) – 1988. A realização destes encontros pelas mais diversas universidades existentes no país incentivou a produção de publicações que foram decorrentes desta oportunidade de discussão. Segundo ZAINKO (2010), estes encontros foram marcados por contradições de destaque que, de um lado, representava a tentativa do MEC de impor e legitimar um modelo de avaliação que defendia seus interesses, de outro, caracterizava um espaço de discussão e oportunidade de reflexão pelos membros das instituições que participavam destes eventos. Contrapondo-se ao que era defendido pelo GERES, a avaliação pelo poder público apenas às instituições públicas firma-se na Constituição da República Federativa do Brasil, a Constituição Cidadã de 1988, em seu artigo 209 que “o ensino é livre à iniciativa privada, atendidas às seguintes condições: I − cumprimento das normas gerais da educação nacional; II − autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público”. Fica estabelecido, a partir desta máxima, que toda instituição de ensino, inclusive de ensino superior, seja pública ou privada, estaria subordinada à avaliação pelo Poder Público. Na década de 90, desponta-se a existência de vários modelos avaliativos conflitantes que defendem pressupostos diversos à educação superior brasileira. A partir da Portaria nº 130, de 14 de junho de 1993, da Secretaria de Educação Superior (SESU), é criada a Comissão Nacional de Avaliação composta por entidades 113 representativas da educação superior brasileira (BARREYRO; ROTHEN, 2008). Esta Comissão tinha como objetivo estabelecer diretrizes e viabilizar a implementação do processo de avaliação institucional nas universidades brasileiras. De acordo com ZAINKO (2010), é elaborada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) uma proposta de avaliação para as universidades brasileiras que foi adotada por esta Comissão Nacional de Avaliação. O Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) foi criado em 1993, como resultado do trabalho da ANDIFES e da Comissão Nacional de Avaliação das Universidades Brasileiras. O PAIUB foi desenvolvido por esta Comissão, segundo BARREYRO; ROTHEN (2006) como reação às concepções quantitativistas dos programas e propostas anteriores. A proposta desta Comissão era realizar uma avaliação das instituições. Em justificativa apresentada no “Documento Básico – Avaliação da Universidade Brasileira: uma proposta nacional”19, a Comissão defende que a avaliação atenderia a três exigências que as universidades da atualidade estariam buscando: a) Um processo contínuo de aperfeiçoamento do desempenho acadêmico; b) Uma ferramenta para o planejamento e gestão universitária; c) Um processo sistemático de prestação de contas à sociedade (COMISSÃO NACIONAL, 1993). Segundo BARREYRO e ROTHEN (2008, p. 146), “essas exigências aproximam-se do campo discursivo dos documentos anteriores”. A ideia de avaliação sustentada por esta Comissão, como ferramenta de gestão e planejamento, também se apresentava desta forma nos documentos do PARU, da Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior e do GERES. 19 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/docbas.pdf 114 De acordo com RISTOFF (1999), os elaboradores do PAIUB compreendiam que a avaliação deveria ser capaz de apreciar uma dada realidade, baseada em “parâmetros de julgamentos” advindos dos objetivos institucionais. O princípio da não punição ou premiação, embora sempre presente nas discussões da Comissão Nacional e do Comitê Assessor, acabou não ficando registrado no texto final, exceto por uma única frase: “[o processo de avaliação] não deve estar vinculado a mecanismos de punição ou premiação. Ao contrário, deve prestar-se para auxiliar na identificação e na formulação de políticas, ações e medidas institucionais que impliquem atendimento específico ou subsídios adicionais para o aperfeiçoamento de insuficiências encontradas”. Uma discussão mais aprofundada tornou-se, de certa forma, desnecessária, quando ficou contemplada a questão da adesão voluntária e da legitimidade [...] (RISTOFF, 1999, p. 55). O PAIUB era um programa que se caracterizava como uma proposta de autorregulação e defendia a avaliação institucional. Segundo BARREYRO e ROTHEN (2006), a proposta do PAIUB era de adesão voluntária, as universidades eram convidadas a participar. Outra proposta do programa era a criação de Comissão de Avaliação Interna, sendo que cada instituição elegeria um comitê para se tornar responsável por um projeto de autoavaliação. Os princípios que balizaram a elaboração do PAIUB, segundo RISTOFF (1999, p. 52), foram: “1. Globalidade; 2. Comparabilidade; 3. Respeito à Identidade Institucional; 4. Não Premiação ou Punição; 5. Adesão Voluntária; 6. Legitimidade; 7. Continuidade”. O PAIUB, como forma de avaliação, se definia como uma concepção formativa e emancipatória, baseava-se na autorregulação, sendo que a participação da comunidade acadêmica era essencial para sua concretização. Este modelo de sistema avaliativo, o PAIUB, não se apresentava adequado ao que o MEC objetivava, que era ter subsídios capazes de desenvolver suas funções específicas de coordenação e controle da educação superior brasileira (ZAINKO, 2010). O que se pretendia era que um sistema de avaliação fosse capaz de identificar os produtos educacionais, principalmente aqueles em que se pudesse constatar quais conhecimentos e em que medidas estariam sendo adquiridos pelos alunos durante todo o processo de ensino na universidade, e que fosse organizado de maneira a permitir uma comparação entre as diferentes instituições de ensino superior em todo o país. 115 Desta feita, no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002) e do então Ministro da Educação Paulo Renato de Souza definiu-se um novo sistema de avaliação da educação superior: o Exame Nacional de Cursos (ENC). O Exame Nacional de Cursos (ENC), segundo DIAS SOBRINHO (2010), se popularizou como “Provão” e foi criado a partir da Lei nº 9.13120, de 24 de novembro de 1995, tornando-se um instrumento da avaliação da Educação Superior Brasileira a partir de 1996, vigorando até 2003. Tratava-se de um exame escrito, de amplitude nacional, aplicado a estudantes concluintes das áreas pré-selecionadas anualmente pelo MEC. A cada ano se ampliava a cobertura do exame, tendo atingido 26 áreas em 2003, quando da última aplicação. As IES a que correspondiam os estudantes testados recebiam os relatórios com os resultados agregados. Apenas os estudantes recebiam informações de seu desempenho, inclusive a posição na escala de notas na respectiva área de conhecimento. (DIAS SOBRINHO, 2010, s/n). Além dos resultados dos exames que os alunos realizavam, para avaliação da educação superior, eram considerados os relatórios das visitas in loco realizadas por especialistas onde se considerava as condições do ensino, análise do currículo, avaliação da qualificação do corpo docente e as condições da infraestrutura da instituição de ensino. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), segundo DIAS SOBRINHO (2010), tornou-se responsável pela organização, gestão, informação e documentação de todos os instrumentos avaliativos. O Decreto-Lei nº 2.026, de 10 de outubro de 199621, “estabelece procedimentos para o processo e avaliação dos cursos e instituições de ensino superior”. Em seu artigo 4º, parágrafo único, define que a comissão externa à instituição designada pela Secretaria de Educação Superior (SESu) será responsável por analisar os resultados da autoavaliação realizada pela comissão própria da instituição avaliada, as avaliações dos cursos, os resultados dos exames nacionais, a avaliação da pós-graduação realizada pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e análise de indicadores de desempenho global. Os resultados de todos estes instrumentos serviriam como parâmetro para atos 20 21 Disponível em: http://www.planalto.gov.br Disponível em: http://www.planalto.gov.br 116 regulatórios de credenciamento e recredenciamento das instituições como também para reconhecimento dos cursos. A implantação do Provão se fez repleta de contradições. Modelo imposto pelo Ministério de Educação, sem consulta e sem discussão pública, recebeu pesadas críticas de boa parte da comunidade de estudantes e professores, sobretudo de especialistas em avaliação. Pouco a pouco as críticas e resistências foram se amainando, não obstante sempre tenham ocorrido boicotes por uma parcela de estudantes. Os estudantes eram obrigados sob pena de lei a comparecerem ao exame, caso contrário não obtinham o diploma do curso. Porém, para o cumprimento da lei, bastava que assinassem a prova, podendo deixá-la em branco, pois, para efeito legal não importavam os resultados (DIAS SOBRINHO, 2010, s/n). Uma nova lei era sancionada neste período, a Lei nº 9.39422, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que atribuía ao Governo Federal, em seu artigo 9º, inciso IX, a prerrogativa de “autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino”. Nesta mesma lei, em seu artigo 46 ficaria estabelecido que todos os cursos de todas as IES no Brasil seriam autorizados, reconhecidos e credenciados pelo Poder Público: “a autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de instituições de educação superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação”. O Provão era um dos instrumentos do processo avaliativo do governo, teve ampla repercussão na mídia e se caracterizou como sinônimo de avaliação da educação superior brasileira. A complexidade e abrangência de um sistema de avaliação da educação superior brasileira, segundo DIAS SOBRINHO (2010), ficou limitada a um único instrumento: o exame nacional. O Provão, como mecanismo de regulação estatal, de acordo com BARREYRO e ROTHEN (2006, p. 959), possuía critérios de interesse do mercado e estabelecia rankings que incitavam a concorrência entre as Instituições de Ensino Superior no Brasil. Esta talvez tenha sido uma das críticas imputadas a este sistema de avaliação por algumas IES. Este sistema previa normas de punição em caso de resultados insatisfatórios no Provão, entretanto, “na 22 Disponível em: http://www.planalto.gov.br 117 prática não houve nenhum efeito punitivo, senão de divulgação midiática e publicitária em procedimentos de autorregulação típicos do mercado”. No início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010), percebeu-se a intensificação das críticas ao sistema de avaliação da educação superior, o Provão. Seria necessário, portanto, iniciar um processo de mudança em relação ao sistema de avaliação atual. No primeiro ano deste governo foi criada, a partir da Portaria do MEC/SESu nº 11, de 28 de abril de 2003, a Comissão Especial de Avaliação da Educação Superior (CEA) (BARREYRO; ROTHEN, 2006). Esta comissão tinha como incumbência elaborar propostas para alterar o sistema de avaliação da educação superior vigente. Comissão presidida por José Dias Sobrinho (Unicamp), com os seguintes membros: professores Dilvo I. Ristoff (UFSC), Edson Nunes (UCAM), Hélgio Trindade (UFRGS), Isaac Roitman (CAPES), Isaura Belloni (UNB), José E. Q. Telles (UFPR), José G. de Souza Junior (SESu), José M. de R. Pinto (INEP), Júlio C. G. Bertolini (UFP), Maria A. S. Zainko (UFPR), Maria B. M. Luce (UFRGS), Maria I. da Cunha (UNISINOS), Maria J. J. Costa (UFPA), Mario P. Pederneiras (SESu), Nelson C. Amaral (UFG), Raimundo L. S. Araújo (INEP), Ricardo Martins (UNB), Silke Weber (UFPE), Stela Meneghel (FURB); e pelos estudantes Giliate Coelho Neto, Fabiana de S. Costa e Rodrigo da S. Pereira, representando a União Nacional de Estudantes (UNE). Daniel Ximenes foi o coordenador executivo, assessorado por Adalberto Carvalho, ambos da SESu, e Teófilo Bacha Filho, do Conselho Estadual de Educação do Paraná (BARREYRO; ROTHEN, 2006, p. 973). Ainda referenciando os autores (Idem, Ibidem), percebe-se que a composição desta comissão era formada por representantes de universidades públicas que já haviam participado de outras experiências de avaliação, principalmente do PAIUB. A Comissão Especial de Avaliação da Educação Superior (CEA) apresentou uma proposta, destacando a avaliação institucional como prioridade. Este projeto apresentado defendia a autoavaliação da instituição, e seria realizada por subcomissões internas responsáveis por avaliar todos os cursos existentes. A autoavaliação seria complementada por uma avaliação externa, realizada por visita in loco, por membros da comunidade acadêmica. Outra etapa desta avaliação seria um exame realizado por amostragem aos alunos das instituições, do segundo e último ano de cada curso, denominado Processo de Avaliação Integrado do Desenvolvimento Educacional e da Inovação da Área (PAIDEIA), e tinha como 118 objetivo analisar os processos educativos em cada área do conhecimento. Um relatório final, resultado dos vários processos de avaliação, seria enviado a um órgão responsável por este processo avaliativo criado para tal atividade: a Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES) (BARREYRO; ROTHEN, 2006). Este processo avaliativo proposto pela CEA gerou um debate acirrado entre os principais representantes de Instituições de Ensino Superior pública e privada, representantes do governo e pela imprensa. Alguns criticavam esta proposta de avaliação institucional considerando-a muito subjetiva e enfatizavam que os resultados dos exames aplicados aos alunos seria objetivo. Em reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo, de 8 de setembro de 2003, o então Ministro da Educação Cristovão Buarque defendia o Exame Nacional de Cursos (ENC) − Provão e sustentava sua posição favorável ao ranking das instituições. O Ministro Cristovão Buarque enviou à Câmara dos Deputados, em dezembro de 2003, um novo projeto de avaliação das Instituições de Ensino Superior intitulado SINAPES – Sistema Nacional de Avaliação e Progresso do Ensino Superior. Nessa nova proposta, o resultado final da avaliação seria expresso pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Superior (IDES), inspiração no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas. O IDES seria composto por quatro índices: 1) a avaliação do ensino (medido através das características e produtividade do corpo docente), 2) a avaliação da aprendizagem (apresentada como uma evolução do Provão e adotando características do Paideia), 3) a avaliação da capacidade institucional (que estaria centrada na infraestrutura) e 4) a avaliação da responsabilidade social (que destacava as atividades de extensão universitária) (BARREYRO; ROTHEN, 2006, p. 962). Diante das posições antagônicas do CEA e das propostas do Ministro da Educação Cristovão Buarque, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou, no início de 2004, uma reforma ministerial. Entre outras ações, assumiria, como Ministro da Educação, Tarso Genro. Foi criada, então, uma nova proposta de avaliação para a educação superior. Aprovada pelo Congresso Nacional a Lei n° 10.86123, de 14 de abril de 2004, instituía o Sistema 23 Disponível em: http://www.planalto.gov.br 119 Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES, que tinha como objetivo principal avaliar as Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil. Em seu artigo 1°, inciso 1, a lei especifica a finalidade do SINAES, que é promover: a melhoria da qualidade da educação superior, a orientação da expansão de sua oferta, o aumento permanente da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de educação superior, por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos valores democráticos, do respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da autonomia e da identidade institucional. Segundo Eliezer Pacheco, presidente do INEP na época da criação do SINAES, considerava que este processo de avaliação: [...] é um avanço e está sintonizado com as dimensões que vêm sendo feitas sobre a reforma universitária. A implementação do Sistema trará importantes subsídios para as políticas de autonomia, manutenção, melhoria e expansão da educação superior. O SINAES visa traçar um panorama da qualidade dos cursos e instituições de educação superior no País, promovendo a avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes (ABMES, 2004, p.5). O SINAES tinha como objetivo principal articular um sistema de avaliação com autonomia, que é característica dos processos educativo-emancipatórios, e estabelecer funções de regulação, que são inerentes à supervisão estatal. Os órgãos responsáveis pela operacionalização dos processos de avaliação seriam a Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). A CONAES foi criada a partir da Lei do SINAES e estabeleceu-se como sendo de sua responsabilidade “propor e avaliar as dinâmicas, procedimentos e mecanismos de toda a avaliação, seja ela da instituição, do curso ou do desempenho dos estudantes, estabelecendo diretrizes organizacionais, elaborando políticas para a constituição de comissões, emitindo pareceres” (RISTOFF; GIOLO, 2006, p. 202). Os autores (Idem, Ibidem) ainda afirmam que a CONAES deveria articular “os sistemas estaduais, visando à construção de critérios comuns de avaliação e supervisão, evitando a fragmentação da avaliação da educação superior”. 120 Além da CONAES, foi criada uma Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação (CTAA) instituída pela Portaria nº 1.02724, de 15 de maio de 2006. Ficava estabelecido, a partir desta Portaria, em seu artigo 9º, que a CTAA se caracterizava como um órgão colegiado, que teria como responsabilidade acompanhar os “processos periódicos de avaliação institucional externa e de avaliação dos cursos de graduação do SINAES”. Em seu inciso 1º estabelece que compete à CTAA: I – julgar, em grau de recursos, os relatórios das comissões de avaliações in loco nos processos de avaliação institucional externa e de avaliação dos cursos de graduação do SINAES; II – realizar a seleção final dos avaliadores do banco; III – decidir casos de exclusão de avaliadores do banco; IV – zelar pelo cumprimento das diretrizes do SINAES; e V – assessorar o INEP sempre que necessário. Este Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) pode ser compreendido como um processo que tem como objetivo agir sobre os indivíduos, sobre as Instituições de Ensino Superior, sobre os sistemas, a aprendizagem, o ensino, a pesquisa, a administração, a intervenção social, a interação com a sociedade entre outros. O SINAES íntegra três modalidades principais de instrumentos de avaliação, aplicados em diferentes momentos: (1) Avaliação das Instituições de Educação Superior (AVALIES) – é o centro de referência e articulação do sistema de avaliação que se desenvolve em duas etapas principais: (a) autoavaliação – coordenada pela Comissão Própria de Avaliação (CPA) de cada IES, a partir de 1° setembro de 2004; (b) avaliação externa – realizada por comissão designada pelo INEP, segundo diretrizes estabelecidas pela CONAES. (2) Avaliação dos Cursos de Graduação (ACG) – avalia os cursos de graduação por meio de instrumentos e procedimentos que incluem visitas in loco de comissões externas. A periodicidade desta avaliação depende diretamente do processo de reconhecimento e renovação de reconhecimento a que os cursos estão sujeitos. (3) Avaliação do Desempenho dos Estudantes (ENADE) – aplica-se aos estudantes do final do primeiro e do último ano do curso, estando prevista a utilização de procedimentos amostrais. Anualmente, o Ministério da Educação, com base em indicação da CONAES, definirá as áreas que participarão do ENADE (SINAES, 2004, p. 4). 24 Disponível em: http://www.inep.gov.br 121 O processo implementado pelo SINAES, abrange três pilares de avaliação: a Avaliação das IES, a Avaliação dos Cursos de Graduação e o ENADE, que podem ser analisados sob vários ângulos. O primeiro, que se refere à Avaliação das IES, engloba o processo de autoavaliação da instituição e a avaliação externa. A autoavaliação das IES está determinada na Lei nº 10.861, em seu artigo 11º, que estabelece a obrigatoriedade de as instituições de ensino superior, sejam públicas ou privadas, constituírem uma Comissão Própria de Avaliação (CPA) que deverá conduzir os processos de avaliação interna. Esta lei foi regulamentada pela Portaria nº 2.051, de 9 de julho de 2004, que em seu Capítulo III – da Avaliação, artigo 7º, especifica as atribuições, atuação e composição das CPAs. A autoavaliação tornou-se um instrumento obrigatório e essencial para todos os atos de regulação estatal. A avaliação institucional, segundo BARREYRO e ROTHEN (2006), determinada pela Lei dos SINAES, recupera algumas dimensões do PAIUB e da proposta do CEA, quanto à sugestão de que as instituições devam organizar propostas de autoavaliação com a participação de seus membros. No PAIUB, a adesão ao processo de avaliação era voluntária. A autoavaliação na proposta do SINAES é obrigatória. A autoavaliação tem como proposta o reconhecimento das limitações e potencialidades da própria IES. Este instrumento de avaliação possibilita a instituição ter mais clareza sobre sua missão, seus objetivos institucionais e suas finalidades essenciais como instituição de ensino. A autoavaliação requer a participação efetiva da comunidade, significando o envolvimento de toda a sociedade da qual a IES faz parte. A autoavaliação envolve dez dimensões institucionais estabelecidas na Lei nº 10.861, Lei dos SINAES, em seu artigo 3º. São elas: I – a missão e o plano de desenvolvimento institucional; II – a política para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação, a extensão [...]; III – a responsabilidade social da instituição [...]; IV – a comunicação com a sociedade; V – as políticas de pessoal, as carreiras do corpo docente e do corpo técnicoadministrativo [...]; VI – organização e gestão da instituição [...]; VII – infra-estrutura física [...]; VIII – planejamento e avaliação [...]; 122 IX – políticas de atendimento aos estudantes; X – sustentabilidade financeira [...]. De acordo com o documento do CONAES, as instituições podem ou não seguir estas dimensões, incorporar outras como também mudar algumas delas, afirmando que o enfoque da “avaliação é um processo interno” (BARREYRO; ROTHEN, 2006, p. 968). A avaliação externa tem como objetivo o amadurecimento da comunidade acadêmica (compreendendo como comunidade acadêmica todos os envolvidos com a IES: Direção, coordenação, professores, alunos, técnicos administrativos, funcionários e a sociedade), contribuindo com a construção de uma cultura de avaliação que solidifica a missão da instituição e seu compromisso social com todos os envolvidos. O documento intitulado “As Diretrizes para a Avaliação das Instituições de Educação Superior” (CONAES/INEP, 2004, p. 6) define que a avaliação das IES será embasada nos seguintes quesitos: a) Responsabilidade Social com a qualidade da educação superior; b) reconhecimento à diversidade do sistema; c) respeito à identidade, à missão e à história das instituições; d) globalidade institucional, pela utilização de um conjunto significativo de indicadores considerados em sua relação orgânica; e) continuidade do processo avaliativo como instrumento de política educacional para cada instituição e para o sistema da educação superior em conjunto. Segundo BARREYRO e ROTHEN (2006), este documento citado anteriormente e o Roteiro para a Avaliação Interna, ambos publicados pela CONAES/INEP, defendem uma concepção emancipatória, a mesma defendida pela CEA. Fazendo uma análise comparativa, os autores compreendem que o documento intitulado Avaliação Externa de Instituições de Educação Superior: Diretrizes e Instrumentos assume uma concepção regulatória. A vinculação entre avaliação e regulação segue a mesma estrutura presente na proposta do CEA, dividindo o processo em três momentos: 1) o poder público aplica a regulação para autorização de funcionamento das IES e credenciamento dos cursos; 2) avaliação realizada autonomamente pela IES; 3) o poder público, tendo como base o parecer da CONAES, aplica os efeitos regulatórios (BARREYRO; ROTHEN, 2006, p. 967). Referenciando RISTOFF e GIOLO (2006, p. 199), os autores defendem o SINAES como Sistema, compreendendo que um dos aspectos positivos deste processo de avaliação deve-se ao fato de que “todas as avaliações da educação superior, exceto as da pós-graduação 123 stricto sensu, passam a ser realizadas no âmbito do INEP, sob orientação das diretrizes estabelecidas pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES)”. Os autores ainda destacam que essas diretrizes servem como referência ao Ministério da Educação para realizar as atividades de autorização, reconhecimento, renovação de reconhecimento, credenciamento e descredenciamento das IES e dos cursos. O segundo pilar refere-se à Avaliação dos Cursos de Graduação relacionados às comissões de avaliação das IES, os especialistas na área do conhecimento, a análise do Projeto Pedagógico do curso, sendo mensurado por indicadores e critérios já definidos pelo instrumento de avaliação dos cursos de graduação. Através de formulário eletrônico, a comissão de especialistas, indicada pelo MEC/INEP, analisa os documentos institucionais disponibilizados pela internet e faz visitas in loco para verificação das condições de ensino. E o terceiro pilar refere-se ao Estudante através da Avaliação de Desempenho do Estudante (ENADE), um processo que avalia o desempenho de cada aluno em cada curso específico, baseado nas Diretrizes Curriculares Nacionais. Tem como objetivo comparar o rendimento dos alunos em relação aos conteúdos programáticos desenvolvidos pela IES e suas habilidades e competências adquiridas. O ENADE é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), por amostragem, envolvendo alunos do início e do fim dos cursos de graduação. A participação no ENADE é obrigatória e constará no histórico escolar do estudante. O INEP constitui a amostra dos participantes aleatoriamente, a partir da lista de alunos fornecida pela instituição de ensino. Cada curso de graduação é avaliado de três em três anos. Todos esses processos serão mensurados por conceitos classificatórios que variam de 1(um) a 5 (cinco), sendo considerado o conceito 3 (três) o mínimo aceitável no desempenho da instituição como um todo. De acordo com SGUISSARDI (2008), existem contradições entre a proposta do sistema de avaliação do governo (SINAES) de regulação e a possibilidade de existência de uma cultura de avaliação e autoavaliação nas instituições de ensino superior (IES). 124 A criação do Conceito Preliminar de Cursos (CPC), através da Portaria Normativa do MEC nº 425, de 05 de agosto de 2008 e do Índice Geral de Cursos das Instituições de Educação Superior (IGC), através da Portaria Normativa do MEC nº 1226, de 05 de setembro de 2008, entra em contradição com o objetivo básico do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) – a proposta de implementação de uma cultura de avaliação nas IES no país (SGUISSARDI, 2008). O autor (Idem, Ibidem) afirma que logo após a criação deste índice, os meios de comunicação já divulgavam o ranking das IES, baseados na aplicação do IGC. Muitos dos especialistas que foram responsáveis pela elaboração e implantação dos SINAES consideraram este fato um aspecto negativo. O Decreto nº 5.77327, de 09 de maio de 2006, segundo SGUISSARDI (2008), caracteriza-se como um fato positivo em relação à definição de padrões e regras em que as IES deverão atuar e define também a regulação e controle pelo Poder Público, sendo o SINAES sua principal referência. O autor afirma que essas medidas de regulação e controle defrontam-se com alguns procedimentos como o da avaliação institucional, que busca estabelecer uma cultura de avaliação “que não tem sido uma característica do sistema de educação superior no país ao longo da história, nem no setor público, muito menos no setor privado e/ou privado/mercantil” (SGUISSARDI, 2008, p. 860). Alguns aspectos denominados como “obstáculos” são destacados por SGUISSARDI (2008) em relação à harmonização dos objetivos da regulação com da avaliação institucional no Brasil: a regulação exercida separadamente pelas agências federais INEP e CAPES. O INEP é o órgão responsável pela regulação da avaliação e a CAPES responsável pela regulação da pós-graduação. O autor destaca que as diferenças entre os “modelos” de avaliação podem distorcer os resultados finais deste processo, e considera também que esta forma provoca um abismo entre o que ele denomina de a universidade de ensino (graduação) da universidade da pesquisa ou do conhecimento (pós-graduação). 25 Disponível em: http://www.inep.gov.br/superior/condicoesdeensino/legislacao_normas.htm Disponível em: http://www.inep.gov.br/superior/condicoesdeensino/legislacao_normas.htm 27 Disponível em: http://www.planalto.gov.br 26 125 Ainda referenciando o autor (Idem, Ibidem), ele considera que o modelo de avaliação aplicado pela CAPES incentiva a competição entre os vários programas de uma mesma área. Enfatiza que este modelo de avaliação não colabora com a criação de uma cultura de avaliação, que deveria constituir-se como um dos aspectos relevantes da IES, preocupada com a busca de um aperfeiçoamento constante da sua qualidade, reafirmando sua função precípua, e não tentando se embasar em uma vantagem competitiva. Um dos maiores desafios ao Estado, apontados pelo autor, é conseguir conciliar a regulação, o reconhecimento de padrões àquelas IES que estão preocupadas e interessadas apenas na mercantilização do ensino. SGUISSARDI (2008, p. 861) é enfático ao afirmar que “a mão livre do mercado” não visa à preservação ambiental, não visa às condições de trabalho adequado, não se preocupa com a qualidade dos produtos, nem tampouco com a prestação de serviços, muito menos com o bem da sociedade. Isto já foi comprovado em outros momentos de crise do capitalismo, destaca o autor. Ele ainda questiona: “Se isso é válido para o mercado em geral, que dizer do mercado educacional?” Este (o mercado educacional) apresentaria as condições mínimas – dever-seia dizer, ideais – para a criação e implementação da cultura da avaliação e autoavaliação nas IES, com o agravante de um modelo de regulação e controle que torna público o resultado desta atividade mediante índices que produzem rankings institucionais de pertinência mais que duvidosa? (SGUISSARDI, 2008, P. 861/862). Diante dos posicionamentos apresentados pelo autor pode-se concluir que a relação entre regulação estatal e cultura de avaliação institucional se caracteriza como um tema complexo e que está enraizado na história da universidade brasileira e na implementação dos processos avaliativos vivenciados ao longo das décadas de 80 e 90 e que ainda demandam uma análise critico-reflexiva sob variadas perspectivas. Diante deste breve resgate histórico da evolução dos processos avaliativos da educação superior brasileira considera-se interessante apresentar uma exposição concisa, dividindo-os em quatro momentos (FELIX, 2008; FONSECA, 2007): Primeiro Momento – compreende os anos de 1983 a 1992 – percebe-se iniciativas de organização para efetivação de um processo de avaliação e a existência de avaliações isoladas em todo o país. Não se caracteriza esta iniciativa em uma avaliação de caráter nacional. 126 Destacam-se o Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU) e o Grupo Executivo da Reforma do Ensino Superior (GERES); Segundo Momento – compreende os anos de 1993 a 1995 – este período foi denominado de “Formulação de Políticas” e houve a implementação do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB); Terceiro Momento – compreende os anos de 1996 a 2003 – período conhecido como de implementação e consolidação da proposta governamental. Neste período foi implementado o Exame Nacional de Cursos (ENC), o Provão e a Avaliação das Condições de Oferta (ACO), posteriormente sendo denominada de Avaliação das Condições de Ensino (ACE). Algumas portarias são regulamentadas para organizar a avaliação das IES; Quarto Momento – compreende o ano de 2003 até os dias atuais – período denominado de construção da avaliação emancipatória, com a implantação do SINAES, tendo como proposta o desenvolvimento de avaliação formativa, considerando e respeitando a identidade e diversidade das IES em todo o país. O problema que move esta pesquisa e instiga a pesquisadora a desvelá-lo refere-se ao artigo 3º, inciso III da Lei do SINAES (nº 10.861, de 14 de abril de 2004), que estabelece: A avaliação das instituições de educação superior terá por objetivo identificar o seu perfil e o significado de sua atuação, por meio de suas atividades, cursos, programas, projetos e setores, considerando as diferentes dimensões institucionais, dentre elas obrigatoriamente as seguintes: I – a missão e o plano de desenvolvimento institucional; II – a política para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação, a extensão [...]; III – a responsabilidade social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural [...] Diante da exposição questiona-se: Após seis anos de implementação da Lei dos SINAES, qual o significado do conceito de Responsabilidade Social para lideranças que representam a Educação Superior Brasileira, como ele é vivenciado nas instituições que estas lideranças representam? Questão central que se desdobra em outras: a) Qual o entendimento que as IES possuem sobre Responsabilidade Social? 127 b) Em que medida este conceito adotado pelas IES foi baseado no conceito de Responsabilidade Social Corporativa, tão disseminado pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social? c) O conceito de Responsabilidade Social defendido pelas IES pode ser considerado como parte de um novo modelo de gestão ou como uma estratégia de marketing? d) Se o conceito de Responsabilidade Social pode ser caracterizado como parte de um novo modelo de gestão, qual atitude as IES adotarão em relação aos atores com os quais interage, tanto com relação a seu público interno quanto ao público externo? e) Para as IES, qual a verdadeira função social do Ensino Superior Brasileiro? E qual é o seu papel como responsável social atualmente? 2.2.3 Em busca da definição de um conceito: A Responsabilidade Social das IES Nos dias atuais pretender tratar de qualquer tema que envolva a universidade é condição sine qua non refletir sobre o turbilhão de emoções, valores, crenças, exigências e perplexidade impostas pela Sociedade do Conhecimento a ela. Diante da ansiedade provocada por momentos de incerteza lançados por esta sociedade contemporânea à vida humana, a universidade não poderia passar incólume a todas essas vicissitudes. Vivenciam-se situações malogradas e ameaças que destroem as sociedades mundiais: depara-se com as tentativas fracassadas de diminuir ou erradicar a miséria, a ausência de cuidados à preservação ambiental, aumento da violência urbana e da barbárie mundial, os embates de grupos étnicos, culturais e religiosos, aumento do individualismo e enfraquecimento do setor público para citar algumas expectativas de mudança nestas esferas enfrentadas em todas as partes do mundo. “Este é um momento complexo, conflituoso e de encruzilhadas”, afirma DIAS SOBRINHO (2005, p. 167), mas, ao mesmo tempo “cheio de oportunidades”. As exigências atribuídas à universidade nos dias atuais a torna, muitas vezes, estática e sem resposta a todas essas pressões. Tentar compreender este emaranhado de desafios 128 impostos à universidade pela sociedade atual não é tarefa fácil. Quem sabe ainda se esteja buscando uma resposta adequada a todas estas inquietudes. Uma das premissas fundamentais para compreender o conceito de Responsabilidade Social das IES, talvez, seja identificar qual o papel que a sociedade espera que ela desempenhe nos dias atuais. Falar de universidade atualmente é falar da própria sociedade. A universidade faz parte de um contexto social, político, econômico e cultural. A universidade está inserida em uma sociedade, em um país, sofre as pressões do meio, é influenciada por ele, e no mesmo instante, influencia e estabelece valores, crenças, comportamentos para este espaço de que desfruta. “Os problemas da universidade não dizem respeito somente a ela. São problemas de toda a sociedade” (DIAS SOBRINHO, 2005). A educação superior enfrenta provocações nunca antes vivenciadas por ela. Espera-se da universidade que ela seja capaz de responder a desafios ou ao menos ajudar a solucionar problemas tão díspares e importantes, muitas vezes contraditórios, como os da produção da alta tecnologia, formação de mão de obra de alto nível, treinamento para atendimento de demandas imediatas do mundo do trabalho, formação qualificada para ocupações de tipo novo, formação para a inovação, preservação e desenvolvimento da alta cultura, recuperação da cultura popular, educação continuada, formação para o empreendedorismo, promoção da cidadania e da consciência de nacionalidade, inserção no mundo globalizado e compreensão das transformações transnacionais, capacitação de professores de todos os níveis, formação de novos pesquisadores, ascensão social de grupos desfavorecidos, impulso à grande indústria, apoio a pequenos produtores, pesquisa de ponta, tecnologia de baixo custo e de aplicação direta na agricultura e nos serviços, desenvolvimento local, nacional e regional, atendimento às carências de saúde da população, sucesso individual e tantas outras exigências carregadas de urgências e, em todo caso, de difíceis respostas. (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 13-14). Mesmo diante de tantas adversidades, a universidade não pode se desprover de sua principal referência que é manter sua vocação crítica e reflexiva à vida social, política, econômica e cultural. A universidade, nesta sociedade globalizada, voltada a um mercado financeiro, comercial e mercantil, está sendo exigida a dar respostas à aceleração do conhecimento que se depara atualmente. 129 DIAS SOBRINHO (2005, p.170) afirma que a universidade precisa “dar sentido de bem comum às suas atividades, num mundo em transformação e em crise de valores”. O autor ainda afirma que “a educação superior, por mais que se transforme, não pode ser renuente a seu papel de formação intelectual e moral, ao mesmo tempo que de desenvolvimento material das sociedades, por meio das atividades públicas de construção e promoção de conhecimentos”. A educação superior é um patrimônio público na medida em que exerce funções de caráter político e ético, muito mais que uma simples função instrumental de capacitação técnica e treinamento de profissionais para as empresas. Essa função pública é sua responsabilidade social (DIAS SOBRINHO, 2005, p. 170). (grifo nosso). Ainda referenciando o autor (Idem, Ibidem), este compreende que a educação superior deveria produzir conhecimentos e se envolver com a formação do educando voltado à pertinência social, sem abandonar sua competência crítica e reflexiva, incitando a capacidade de construir respostas às demandas e carências da sociedade. Para que isto se efetive, o autor ainda destaca que a pertinência demanda autonomia para que se consiga identificar as principais necessidades sociais daquela comunidade em que a universidade está inserida e que requer dos professores, estudantes e pesquisadores um envolvimento na definição destas necessidades e na produção do conhecimento, como também na socialização do mesmo. “É preciso instaurar uma ética da responsabilidade social que vincule os atores acadêmicos e os agentes da sociedade civil organizada às agendas públicas realmente voltadas ao atendimento das demandas das populações” (DIAS SOBRINHO, 2005, p. 170/171). O ideal seria, afirma ainda o autor, que as necessidades reais fossem identificadas e não “à legitimação do mercantilismo da globalização neoliberal”. Esta se caracteriza como uma postura da universidade que induz a outro questionamento como o próprio autor destaca: “Como alimentar na universidade, ante as pressões do mercado, o sentido social que permite caracterizá-la como instituição voltada ao enriquecimento intelectual, moral e material da sociedade?” (Idem, Ibidem, p. 171). A pesquisadora depara-se com outro questionamento baseado na ideia do autor: Como realizar através da universidade estas ações sem que se caracterizem como atividades assistencialistas ou de interesses mercantis? 130 Ainda referenciando o autor (Idem, Ibidem), ele é enfático ao afirmar que as instituições de ensino superior, “portadoras da autoridade do saber”, fazem parte da vida pública de um país e são responsáveis, juntamente com o Estado, pela construção de uma nação. O autor ainda destaca que esta construção só se concretizará se a universidade instaurar o sentido de solidariedade aos destinos dos homens e mulheres de todo o mundo. Para nós, brasileiros – certamente também para todos os povos de países pobres e emergentes, que, aliás, correspondem a 80% da população mundial −, a responsabilidade social da educação superior deve significar relevância científica e pertinência, fortalecimento da vida democrática e da justiça social, aprofundamento da ética e do sentido estético da sociedade. O sentido essencial da responsabilidade social da educação superior consiste em produzir e socializar conhecimentos que tenham não só mérito científico, mas também valor social e formativo. Portanto, que sejam importantes para o desenvolvimento econômico que tenha sentido de cidadania pública (DIAS SOBRINHO, 2005, p. 171/172). (grifo nosso). A construção do conhecimento e a formação do ser humano devem seguir requisitos universais, mas necessitam também ser relevantes para o contexto nacional e regional. Que esta construção e formação busquem o desenvolvimento econômico, entretanto, que ele esteja atrelado ao conceito de humanização e solidariedade e não como condição determinante da sociedade. O desenvolvimento tecnológico e o caráter ético deste desenvolvimento nem sempre traçaram caminhos paralelos. De acordo com ROSATTO (s.d, p. 150), existe um espaço vazio na formação dos alunos que desfrutaram do ambiente universitário e isto pode ser vivenciado na atuação dos profissionais que são preparados por estas instituições. O autor destaca a importância e necessidade de reaver as ciências humanas nos currículos dos mais variados cursos. “É no humano que se faz o médico, o engenheiro, o agrônomo enfim, todo o profissional digno de tal nome. O profissional habita no humano, onde ‘constrói sua casa e revela o seu ser”. Descobrir o homem como palavra que se revela, que se humaniza, intimamente ligado ao outro no diálogo, na hospitalidade, na clemência, na sua vocação humana profunda [...] Quando a universidade deixar de transmitir esta palavra seu som será oco, vazio e sem sentido. Toda a formação que desconsidera o humano, a humanidade, as humanidades tornase uma pregação contra o homem, e não responde ao sentido do viver e do conhecer. Por isso, Paulo Freire afirmava com tanto vigor: educar é um ato de humanização, de tornar as pessoas gente melhor. Gente mais gente (ROSATTO, s/d, p. 150). 131 Segundo PIMENTA e ANASTASIOU (2008), a responsabilidade social da universidade pode ser compreendida a partir da responsabilização pela aprendizagem. Esta responsabilização sugere a necessidade de se transformar a lógica do lucro na educação, para a lógica do diálogo, incentivando uma nova discussão com os alunos sobre o que estes esperam da universidade e estabelecer, assim, contratos de responsabilizações entre alunos, professores, instituição, sociedade civil e poder público. [...] do reposicionamento do eu do aluno diante do social, essencial à construção de um possível processo crescente de cidadania, de exercício profissional compromissado com a melhoria da qualidade de vida humana em geral. A “universidade de mercado” não dá conta dessa perspectiva (PIMENTA; ANASTASIOU, 2008, p. 235/236). A responsabilidade social da universidade não deveria ser a lógica do mercado. As Universidades e Instituições de Ensino Superior podem ser compreendidas, segundo SAMPAIO (2004, p. 17), como “um lugar privilegiado onde se pode acumular o conhecimento já produzido pela humanidade, onde se pode socializar esse conhecimento, produzir novos saberes e conhecer os métodos de sua construção”. As Universidades e as IES não são constituídas para satisfazer interesses pessoais ou de grupos específicos. O espaço da Instituição de Ensino Superior é o espaço da sociedade onde ela está inserida. Ela é uma instituição social, antes de qualquer outra coisa, e deve atender aos interesses e necessidades daquela sociedade ou região a que pertence. Que proposta curricular poderá ser mais adequada do que aquela que se ajusta a uma política educacional que tem no contexto das demandas socioeducativas da região a sua base? [...] Como uma das principais alavancas do progresso individual e social, a educação deve servir a todos igualmente, com esforço redobrado em relação aos milhões de excluídos, dada a desvantagem profunda e circular a que foram submetidos (TODOROV, 2005, p. 43). O próprio autor afirma (TODOROV, 2005) que a Universidade nunca antes em sua história produziu tanta ciência, tanta tecnologia. Mas ele enfatiza que é preciso reconhecer que nem sempre estas estavam voltadas às reais necessidades sociais e que contribuíssem para resolução dos grandes problemas da humanidade. EUNICE DURHAN (2005), Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e Coordenadora do Conselho e cofundadora do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da USP, declarou que a criação da 132 Lei dos SINAES28 foi uma das mais perigosas iniciativas do Governo Federal quando exigiu, através desta lei, que as instituições de ensino superior cumprissem com suas “responsabilidades sociais”. Segundo DURHAM (2005, p. 59), a autora afirma que, antes da implantação da lei, compreendia-se que a Responsabilidade Social das Instituições de Ensino Superior estava atrelada a três funções para as quais foram criadas. Primeira função, e a principal de todas, segundo a autora, é o ensino que é exigido de qualquer instituição. A segunda, que somente é exigida às universidades, se refere à pesquisa. E a terceira função, que decorre das anteriores, se refere à extensão que tem como objetivo principal divulgar o conhecimento e as competências que as instituições possuem e produzem para a sociedade, “por meio de cursos livres, projetos de investigação em parceria com órgãos públicos ou empresas privadas, acesso público a bens culturais como museus e bibliotecas e prestação de serviços associados às atividades regulares de ensino e pesquisa”. Estas atividades, afirma a autora (Idem, Ibidem), sempre foram consideradas de competência das instituições de ensino, sem que recebessem interferência externa e sem que fossem oferecidos recursos ou estímulos para desenvolvimento de atividades desta ou daquela natureza ou que interessassem ao governo e suas agências. A autora é enfática ao afirmar:“agora, a situação parece ter se alterado e a educação superior, pública e privada, parece ter assumido a função de salvar o País” (DURHAM, 2005, p. 60). Muito do que está no projeto pareceu ser antes afirmações para expressar as boas intenções do governo na área social e no atendimento de reivindicações de movimentos sociais do que preceitos a serem efetivamente cobrados. Nesse sentido, não passam de retórica vazia. Mas se forem “para valer”, se disserem respeito não a uma política de governo mas a uma responsabilidade das instituições entramos em terreno muito perigoso. Foi em termos da responsabilidade social que o governo de Margareth Thatcher atrelou as universidades britânicas aos interesses das empresas privadas. Teremos agora um “thatcherismo” populista de esquerda. Mas com as mesmas formulações que estão hoje no projeto de direita para finalidades muito diversas, em outra concepção de interesse social e necessidades sociais (DURHAM, 2005, p. 61). 28 Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004. 133 A lei dos SINAES, além de não apresentar com clareza uma definição do que seria a Responsabilidade Social das IES ainda faz referência aos termos “compromisso social” e “Responsabilidade Social”. Termos estes que podem se complementar ou terem interpretações antagônicas, dependendo daquele que os analisa ou define. Uma afirmação que merece destaque do artigo de DURHAN (2005) refere-se à afirmação da autora sobre a “promoção do exercício da cidadania” e “respeito à dignidade da pessoa humana e dos direitos e garantias fundamentais”. Estas expressões amplamente divulgadas pelas Instituições de Ensino Superior e defendidas na forma da lei não se caracterizam como funções específicas do Ensino Superior. As referidas expressões se constituem como função de todo o sistema educacional brasileiro, de órgãos do governo, da sociedade como um todo e também das organizações não governamentais. DIAS SOBRINHO e RISTOFF (2002, p. 8) afirmam que defendem “a universidade como uma instituição social que deve ter por principal encargo a formação cidadã”. Os autores compreendem que a universidade, e todas as instituições de ensino superior, caracterizando-se como instituições sociais, vivenciam disputas de interesse político. É um cenário de tensão, de conflito de agentes, de agências, de métodos e técnicas, de propósitos, de ações, de forças representativas de grupos de interesses (governos, setores diversos da economia, partidos políticos, pais, professores, alunos, servidores, empregadores, a mídia, entre outros). Múltiplas são as demandas que lhe emprestam sentidos de complexidade e dispersão, mas, para além das indefinições, certamente “cabe-lhe uma tarefa ética de grande significação e elevado valor: tratar por todos os seus meios de garantir que tenha um sentido profundamente humano o desenvolvimento econômico-tecnológico”. Então, a ética deve ter primazia sobre a técnica (DIAS SOBRINHO; RISTOFF, 2002, p. 8/9). Um dos aspectos a ser destacado refere-se à compreensão do real significado da expressão “formação cidadã, baseada em princípios éticos, voltados ao exercício da cidadania e respeito à dignidade da pessoa humana”. Todos os termos são abstratos e subjetivos que necessitam ser analisados diante de um contexto, de uma realidade específica e para determinada finalidade. Uma outra reflexão a partir desta afirmação refere-se à compreensão das lideranças que representam e atuam nas universidades e nas Instituições de Ensino Superior em todo o país, que compreende-se sejam os atores responsáveis pelo desencadear das mais variadas atividades da universidade. Qual será a compreensão deles sobre estas expressões? 134 Outro aspecto inquietante está relacionado ao processo avaliativo da educação superior brasileira – SINAES − que se caracteriza como obrigatório a todas as Instituições de Ensino Superior do país, não somente as universidades. Diante das afirmações de DURHAN (2005), o conceito de Responsabilidade Social das IES está atrelado ao que ela denominada de “função para a qual a universidade foi criada” que significa: ensino, pesquisa e extensão. Como se explica, então, esta avaliação realizada pelo poder público ser obrigatória a todas as IES se, de acordo com o Decreto-Lei nº 2.30629, de 19 de agosto de 1997, que regulamenta o Sistema Federal de Ensino,em seu artigo 8º, elas são classificadas em cinco categorias? Quanto à sua organização acadêmica, as instituições de ensino superior do Sistema Federal de Ensino classificam-se em: I – Universidades; II – Centros Universitários; III – Faculdades Integradas; IV – Faculdades; V – Instituto Superior ou Escolas Superiores. Neste mesmo Decreto-Lei, em seu artigo 9º fica instituído que “as universidades [...] caracterizam-se pela indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e de extensão, atendendo, ainda, ao disposto no art. 52 da Lei nº 9.394, de 1996”. Esta determinação também está expressa no artigo 207 da Constituição Federal. Portanto, compreende-se, através da lei, que as universidades terão como responsabilidade desenvolver estas três modalidades de ensino de forma conjunta. Segundo PIMENTA e ANASTASIOU (2008), a LDB 9.39430, de 20 de dezembro de 1996, admite uma variedade de tipos de instituições de ensino superior: Universidade, que se caracteriza por autonomia didática, administrativa e financeira, por desenvolver ensino, extensão e pesquisa e, portanto, contar com número expressivo de mestres e doutores. Centro Universitário, que se caracteriza por atuar em uma ou mais áreas, com autonomia para abrir e fechar cursos e vagas de graduação e ensino de excelência. Faculdades integradas, que reúnem instituições de diferentes áreas do conhecimento e oferecem ensino e, às vezes, extensão e pesquisa. 29 30 Disponível em: http://www.planalto.gov.br Disponível em: http://www.planalto.gov.br 135 Institutos ou escolas superiores, que atuam em área específica do conhecimento e podem ou não fazer pesquisa, além do ensino, mas dependem do Conselho Nacional de Educação para a criação de novos cursos (PIMENTA; ANASTASIOU, 2008, p. 141). (grifo nosso). A Lei especifica que ensino, pesquisa e extensão devem ocorrer de forma indissociável e são aplicadas apenas às universidades. A dúvida posta em questão refere-se a que, se o conceito de Responsabilidade Social das IES está atrelado ao ensino, pesquisa e extensão, então, subtende-se que as demais IES não são obrigadas a desenvolver nenhuma atividade que possa ser considerada de Responsabilidade Social. Mas, a Lei do SINAES afirma que uma das dez dimensões a que as IES serão avaliadas refere-se à Responsabilidade Social nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, focando-se como um dos indicadores a responsabilidade social da extensão. Pode-se analisar este contexto levantando-se outro questionamento: será que a lei é clara ao definir o que significa “Responsabilidade Social da IES”? Ou ainda, por ausência de inteligibilidade na lei e na definição do conceito de Responsabilidade Social, as IES estão confundindo ações comunitárias com projeto de pesquisa extensionista, de caráter educativo e científico, desenvolvidos de maneira interdisciplinar entre os vários departamentos, envolvendo os alunos, professores, coordenadores, representantes da comunidade e do poder público para avaliar sua realidade local, proporcionando condições para transformá-la, por meio do acesso ao conhecimento desenvolvido pela IES, sem perder de vista o contexto socioeconômico-político do país do qual faz parte? A UNESCO, órgão internacional, publicou alguns documentos com o objetivo de definir políticas para a educação superior. O principal deles se refere a “La educacion superior em el siglo XXI: vision y acción”, apresentado na Conferência Mundial sobre a Educação Superior, em Paris, em 1998. Este documento explicita que a educação de qualidade está associada à avaliação e regulação. Ainda afirma que são fundamentais alguns fatores voltados à educação superior: a cultura de avaliação, emancipação, autonomia da responsabilidade e prestação de contas. Segundo CALDERÓN (2007, p. 41), a UNESCO apresenta oposição a algumas propostas apresentadas pelo Banco Mundial, “defendendo a presença e a responsabilidade do Estado pela educação superior e o acesso a ela como uma questão de cidadania, opondo-se à mercantilização do ensino”. 136 No período que antecede os anos 90, a maioria das Instituições de Ensino Superior eram públicas. A expansão do ensino superior após este período infringe valores culturais e sociais arraigados desde o surgimento das universidades no Brasil. Compreende-se até os dias de hoje que, estabelecido pela Constituição Brasileira, o ensino é um direito social, o qual deve ser um serviço prestado pelo Estado, público, gratuito e de qualidade. Esta transformação no cenário do ensino superior brasileiro abre espaço para criação de fóruns representativos dos três segmentos que o caracterizam: estadual, comunitário e particular. Pode-se destacar o início de um movimento para debater a extensão universitária no final da década de 80 que, segundo CALDERÓN (2007, p. 23), eclodiu na “criação do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Brasileiras, cuja grande contribuição foi a organização conceitual da extensão, afastando-a, definitivamente, de qualquer conotação assistencialista”. Neste mesmo período vários segmentos do ensino superior brasileiro se organizaram, buscando estruturar seus interesses através de conferências, seminários, encontros, objetivando intercâmbio de informações e experiências e apresentação de propostas para elaboração de políticas públicas do setor. Destacam-se algumas entidades: o Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES), criado em 1981, constituindo-se em Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior em 198831; o Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação das IES Brasileiras (FOPROP) − o primeiro encontro foi em 1985, ainda denominado de Encontro Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação das Instituições de Ensino Superior Brasileiras, denominado na época de ENPROPP, que definiu a fundação do que mais tarde se convencionou denominar de FOPROP32; a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), criado em 198933; a Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP) foi criada também em 1989, por dez universidades brasileiras34; a Associação Nacional dos Centros Universitários (ANACEU) foi criada em 1999, composta 31 Disponível em: http://www.andes.org.br Disponível em: http://www.foprop.org.br 33 Disponível em: http:// www.andifes.org.br 34 Disponível em: http://www.anup.com.br 32 137 por doze Centros Universitários, objetivando “dar sustentação e legitimidade à nova tipologia implantada na educação superior do país”35; o Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e IES Comunitárias (FOREXT), que foi criado em 199936; o Fórum de Extensão das Instituições de Ensino Superior Particulares (FOREXP), criado em 200337 e o Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras (FORGRAD) não apresenta em seu site oficial a data de sua criação38. Estas entidades serão mais detalhadamente apresentadas no capítulo III. De acordo com CALDERÓN (2007), o FOREXP, antes denominado Fórum de Extensão das IES Brasileiras, surgiu em função das IES particulares não se incluírem em outros fóruns existentes. Com o apoio da Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular (FUNADESP) criou-se o referido fórum, tendo seu estatuto alterado em 2006 para assumir a denominação atual – Fórum de Extensão das Instituições de Ensino Superior Particulares, objetivando discutir as especificidades deste segmento educacional. Ainda referenciando o autor (Idem, Ibidem, p. 23), “os fóruns das IES comunitárias e das IES particulares foram criados depois de esgotadas as tentativas de abertura do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras – composto basicamente por pró-reitores das universidades federais”. Diante de tanta fragmentação existente entre as universidades brasileiras, ideal teria sido se somente existisse um único fórum de extensão das instituições de ensino superior, constituído a partir da abertura do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, para as outras universidades, sejam estas comunitárias ou particulares. No entanto, o que predominou foi a segmentação das IES, a partir do enclausuramento das universidades financiadas pelo Estado, tradicionalmente chamadas de públicas. Sem dúvida alguma, a constituição de um único fórum teria sido a melhor alternativa, uma vez que, embora muitos não concordem, os problemas decorrentes da falta de uma política nacional de extensão universitária são iguais para todas as universidades (CALDERÓN, 2007, p. 24). 35 Disponível em: http://www.anaceu.org.br Disponível em: http://www.uniso.br 37 Disponível em: http://www.funadesp.org.br 38 Disponível em: http://www.forgrad.com.br 36 138 A criação destas Associações, Conselhos, Fóruns e Sindicatos representantes da Educação Superior Brasileira parecem contribuir com a segmentação do setor e dos temas a serem discutidos nas IES brasileiras. Para superação dos desafios impostos ao ensino superior no Brasil torna-se necessária uma articulação entre todas as Instituições de Ensino Superior quer sejam de natureza jurídica Federal, Estadual, Comunitária ou Privada. Torna-se imprescindível que as IES promovam debates, objetivando a troca de experiências e informações, mantendo articulação com os órgãos públicos para buscar soluções adequadas à educação superior. Este conceito de Responsabilidade Social ainda se caracteriza como um tema que necessita ser debatido em todas as esferas públicas e privadas, para que se possa tentar buscar uma definição onde haja consenso tanto para as Universidades, quanto para as IES e, principalmente, para lideranças do Ensino Superior. Antes de se iniciar a apresentação do trabalho de campo, faz-se necessária uma reflexão sobre o conceito liderança. Qual o papel das lideranças do Ensino Superior Brasileiro no que tange a questão da Responsabilidade Social das IES? 2.3 AS LIDERANÇAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA – PARA ALÉM DE UM CONCEITO A questão norteadora que movimenta esta pesquisa se define como sendo: Qual o significado do conceito de “Responsabilidade Social para lideranças que representam a Educação Superior Brasileira”? O presente estudo pretende compreender qual o papel que desempenham as lideranças da Educação Superior Brasileira, na concretização do conceito de Responsabilidade Social das IES. A proposta deste estudo é tentar analisar o conceito de liderança, não enfocando aspectos relativos à persuasão ou influência que um líder pode exercer sobre indivíduos, mas aquela liderança embasada no conceito de representatividade de uma organização ou instituição, num determinado momento histórico. 139 HERBERT (2008), quando busca definir liderança a partir das atitudes vivenciadas por FREIRE afirma que este já defendia a “Liderança eminentemente dialógica”. O autor afirma que, para FREIRE “o diálogo não é um produto histórico, é a própria historicização” (HERBERT, 2008, p.250). Para FREIRE (1981), o pensamento coletivo que expressa a realidade só pode ser conquistado diante de uma relação dialógica. A forma de pensar e se relacionar, através do diálogo, se caracteriza como elemento da Liderança. FREIRE definia Liderança Política, segundo HERBERT (2008), como algo que deveria ter coerência entre o que se diz e o que se faz e se deveria dar prioridade à participação e construção coletiva de uma maneira democrática. A necessidade da contextualização histórica como condição para a liderança em Freire encontra seu sentido na possibilidade de ação para a transformação dessa realidade. Sempre há um tempo e um espaço onde seres humanos atuam. A liderança não está fora desses elementos, se não seria lunática ou mantenedora de tradições distantes de sua identidade cultural. É a partir da própria realidade que se constrói a sua transformação, e a liderança necessita estar situada dentro de seu tempo histórico. É a partir da realidade que a liderança vai se manifestar e lutar por transformações (HERBERT, 2008, p. 251). Compreender o conceito de liderança é uma tarefa que necessita ser estudada, pesquisada e referenciada com cuidado, por se tratar de um tema bastante complexo. Muitos autores têm fundamentado seus estudos a partir de conceitos desta natureza. Segundo GIL (2009), uma das primeiras tentativas de se tentar compreender liderança se concentra na hipótese de que ela é inata. Para alguns estudiosos, os líderes são aqueles que já nascem com esta característica. Ainda referenciando o autor, esta abordagem foi muito utilizada no século passado, quando se estabelecia como foco de estudo as grandes lideranças na história. Estes estudos não tiveram êxito suficiente para se transformar em uma teoria geral das características da liderança. Apesar de estes estudos não terem se efetivado como uma teoria própria forneceram uma base para estudiosos da liderança apresentarem algumas características ou atributos que são essenciais a um líder, na opinião dos autores. 140 De acordo com BENNIS (apud GIL, 2009, p. 221), as características básicas de um líder são: “visão orientadora, paixão, integridade, confiança, curiosidade e ousadia”. Para GARDNER (Idem, Ibidem), alguém que queira ter capacidade em liderar necessita de 14 atributos: vitalidade física e energia; inteligência e capacidade de julgamento; disposição para aceitar responsabilidades; aptidão para as tarefas; compreensão dos seguidores e suas necessidades; habilidade para lidar com as pessoas; necessidade de conquista; capacidade de motivar; coragem, resolução e perseverança; capacidade de conquistar e manter confiança; capacidade de administrar, decidir e estabelecer prioridades; confiança; ascendência, domínio e afirmação, e adaptabilidade (GIL, 2009, p. 221). Esta compreensão de liderança por estes autores, que enfoca os traços pessoais do líder, é cada vez menos aceita pelos pesquisadores, mas ainda muito citada nos meios acadêmicos e nas empresas. Uma pergunta que surge quando se pretende compreender o conceito de liderança pode ser elaborada desta forma: as pessoas nascem líderes ou se tornam líderes? HUNTER (2006), em seu livro Como se tornar um líder servidor, revela que Drucker afirmava que “a liderança é uma coisa que deve ser adquirida”. Ainda referenciando HUNTER (2006, p. 27), o autor afirma que liderança, entre outras coisas, é influência. Ele ilustra sua afirmação defendendo a ideia de que o papel do líder é como do maestro de uma orquestra. Todos os músicos possuem habilidades para tocar um instrumento e conhecem a teoria musical. Mas, o autor questiona: “quem possui a habilidade para juntar tantos músicos diferentes e fazê-los tocar a música em harmonia? Quem é capaz de proporcionar essa habilidade ao grupo?”. A liderança, segundo HUNTER (2006), é uma questão de caráter. Ele afirma que a vida é determinada pela maneira como se reage às situações que ocorrem no dia a dia. Não importa o que aconteça, várias situações são enfrentadas pelas pessoas diariamente; o que faz a diferença para aquele que ocupa um cargo de liderança está na maneira como ele reage aos acontecimentos e às adversidades. 141 Voltando às afirmações de HERBERT (2008, p. 250), citando FREIRE, a liderança “é coerente entre o que se diz e o que se faz e prioriza a participação e construção coletiva de forma democrática”. Vários estudos sobre conceito de liderança enfocam Liderança como Poder. Outros definem Liderança como Autoridade. Mas, qual a diferença? GADOTTI (2008) faz uma referência ao que significa Poder para FREIRE. Este afirmava que “a história é possibilidade”. Para FREIRE, os homens e as mulheres possuem o poder de transformar o mundo em que vivem. Não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda a possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas para participar de práticas com ela coerentes [...]. É porque podemos transformar o mundo, que estamos com ele e com outros. Não teríamos ultrapassado o nível da pura adaptação ao mundo se não tivéssemos alcançado a possibilidade de, pensando a própria adaptação, nos servir dela para programar a transformação (FREIRE apud GADOTTI, 2008, p. 323). O conceito de liderança deve se enquadrar nas descrições destas afirmações de FREIRE: a liderança só se tornará efetiva e eficaz se exercer o poder que lhe é conferido num determinado momento da história para refletir, dialogar e concretizar um processo de mudança. Configura-se a importância da educação como processo de transformação da sociedade e a liderança, exercendo esse poder que lhe é atribuído, tem um papel de agente de transformação. Para HUNTER (2006), Autoridade é muito diferente de Poder. Segundo o autor, a autoridade é a capacidade, a habilidade, de quem está na posição de liderança de conduzir as outras pessoas a fazerem – “de bom grado” – a vontade dele, do líder. Por isso, o autor afirma que Liderança é influência, a habilidade em influenciar seus comandados a realizarem aquilo que será conveniente e adequado ao grupo, não apenas a uma pessoa. HUNTER (Ibidem, p. 32) defende que poder “pode ser comprado e vendido, dado e tirado [...] mas isso já não acontece com a autoridade – ela é a essência da pessoa, está ligada a seu caráter”. Segundo GHIGGI (2008, p. 58), ao referenciar FREIRE afirma que autoridade política “tem a tarefa de organizar e avaliar as relações entre a educação e a sociedade, de tornar visíveis os contextos que originam referências com as quais a humanidade se organiza”. 142 Ainda complementando a ideia do autor, a autoridade é algo que se legitima ao possibilitar a capacidade de se criar condições para a construção da autonomia – competente, comprometida e crítica. DRUCKER (2001a, p. 83), em seu livro O melhor de Peter Drucker: o homem, relata algumas experiências em sua vida que o ensinaram a se tornar eficaz, “capaz de crescer e mudar – e capaz de envelhecer sem me tornar um prisioneiro do passado”. As afirmações do autor auxiliam a compreensão do conceito de liderança. DRUCKER (2001a) afirma que nesta sociedade os trabalhadores do conhecimento terão que se autogerenciar em suas atividades, em suas carreiras. Terão que se adequar às mudanças, terão que aprender, constantemente, enquanto tiverem vivacidade mental durante uma vida profissional, a modificar o que fazem, como o fazem e quando o fazem. Para isto é essencial que se faça alguns questionamentos: Quais são meus pontos fortes? Como é meu desempenho? Quais são meus valores? Qual é meu lugar? A transferência destas perguntas àqueles que exercem um cargo de liderança, que representam uma organização, um órgão ou afins se caracteriza de fundamental importância para uma autoavaliação sobre si mesmo. Para a grande maioria das pessoas, saber quais são seus pontos fortes era irrelevante poucas décadas atrás. Nascia-se com um emprego e uma linha de trabalho definidos. O filho de um camponês tornava-se camponês. Se ele não fosse um bom camponês seria um fracasso. O filho do artesão também seria artesão, e assim por diante. Mas, hoje, as pessoas têm opções. Portanto, elas precisam saber quais são seus pontos fortes para que saibam a que se adaptam melhor (DRUCKER, 2001a, p. 93). O autor afirma que as pessoas possuem talentos e habilidades infinitas. O mais importante é concentrar-se naquilo que se faz melhor. Para isso, é necessário que a pessoa se autoavalie em suas atividades e competências. Outra afirmação do autor é não concentrar-se nos pontos fracos. Segundo DRUCKER (2001a, p. 94), “[...] há um número infinito de áreas em que todos nós carecemos de talento, não temos nenhuma habilidade [...]. E, nessas áreas, uma pessoa – e principalmente um trabalhador intelectual – não deveria assumir atividades, cargos, atribuições”. Esta mesma afirmação pode ser enquadrada ao conceito de liderança. Se aquele que é convidado ou tem seu nome sugerido para ocupar um cargo de liderança e não se sente 143 habilitado para exercer esta função, deveria se revelar não apto para ocupar o cargo naquele determinado momento. Antes que, como o próprio DRUCKER (2001a) afirma, a arrogância intelectual conduza-o à ignorância incapacitadora. Outro questionamento que os trabalhadores de conhecimento e, por que não, aqueles que ocupam cargos de lideranças, deveriam se fazer, segundo DRUCKER (2001a) é: Como é meu desempenho? Ainda destacando as afirmações do autor (Idem, Ibidem), cada ser humano possui uma maneira de atingir bom desempenho, de acordo com sua personalidade. E isto está diretamente relacionado a sua capacidade de identificar e investir em seus pontos fortes. As pessoas possuem uma personalidade que pode ser nata ou pode ser desenvolvida através da educação que é responsável pela formação dela, da personalidade, muito antes de a pessoa iniciar suas atividades de trabalho. A maneira como uma pessoa exerce seu desempenho, naquilo em que se destaca, é algo que pode ser considerado como “herdado”. Os valores, percepções, visão de mundo, postura diante da realidade e dos acontecimentos, podem ser modificados, mas a probabilidade de se transformar é quase nula. DRUCKER (2001a) ainda afirma que para alguém se autogerenciar é necessário que tenha definido com clareza: Quais são meus valores? Os autores defendem que as organizações precisam declarar quais são seus valores e as pessoas, homens e mulheres, também possuem valores. Para ser eficaz em uma organização, DRUCKER (2001a) defende que o ideal seria que os valores individuais fossem compatíveis com os valores da organização. Obviamente, que eles não necessitam ser os mesmos, mas devem, os valores organizacionais e os valores pessoais do trabalhador ou trabalhadora, ser conciliáveis entre si para que se atinja resultados satisfatórios, tanto para a organização quanto para a pessoa que desempenha a atividade. Se aquele que ocupa um cargo de liderança tiver condições de responder com clareza e determinação a estas três perguntas: “Quais são meus pontos fortes? Como é meu desempenho? Quais são meus valores?, certamente terá condições de compreender “Qual é meu lugar?” As perguntas não são fáceis de serem respondidas. A grande maioria das pessoas não sabe o que fazem de melhor até uma idade média de trinta anos, afirma o autor. Entretanto, no 144 momento em que conseguirem refletir e assegurar as respostas a estas perguntas, consequentemente, saberão qual é seu lugar, não apenas com relação à organização da qual fazem parte ou em relação à atividade que desempenham, mas, principalmente, qual sua contribuição para o mundo em que vivem. E isto se adapta para todos aqueles e aquelas que estão exercendo um cargo de liderança, onde quer que seja. GIL (2009) afirma que uma coisa é fundamental para se exercer a liderança: ser apaixonado pelo que faz. Aquele ou aquela que desempenha a liderança deve gostar do que faz. As pessoas que estão em volta desta liderança perceberão seu prazer em realizar aquela atividade. O exercício da liderança ocorre entre dois aspectos: aquele ou aquela que lidera e as pessoas que estão sob seu comando, não existindo uns sem os outros. O respeito às pessoas, a capacidade e habilidade em ouvir a cada um e incentivar as ações individuais, a interpretação do que cada membro anseia naquela equipe e suas aspirações são essenciais para surtir efeitos satisfatórios a todos os envolvidos. Hoje em dia [...] o emprego do termo líder tem sido estendido para abranger quase todos que detêm poder e autoridade organizacional. Quase todos os presidentes e diretores-executivos são considerados líderes, todos os chefes de associações e sindicatos, presidentes de associação de bairro, ministros, rabinos e padres, todos são líderes. O que deu origem a um emprego tão comum ao termo? Uma liderança verdadeira e efetiva é realmente esperada de todas essas pessoas, ou terá o termo simplesmente sofrido uma metamorfose social, em virtude das drásticas mudanças nas instituições como resposta aos transitórios valores e expectativas da sociedade? Acredito que a verdadeira liderança só pode ser definida de forma significativa em um contexto social; ou seja, visões socialmente significativas e outros valores da liderança devem ser construídos com base em padrões que beneficiem a sociedade (WORK, 1996, p. 94/95). Segundo BRITO (1998) e MOTTA (1995), os autores defendem a ideia de que a liderança não é algo mágico, misterioso, propriedade de pessoas especiais, fruto de qualidades inatas, panaceia para solução de problemas, uso de poder e características pessoais para cooptações ou propósitos pessoais. Liderança pode ser caracterizada como sendo habilidade humana e gerencial que está ao alcance de pessoas comuns, como produto do conhecimento aprendido, como forma de comunicação e articulação de uma missão, utilizando-se do poder existente nas pessoas para garantir o alcance de propósitos que visem o bem comum. Refletindo sobre o papel que estas lideranças entrevistadas representam para a Educação Superior Brasileira, compreende-se que desempenham um papel que vai além da 145 “representação” de uma instituição, um órgão ou um conselho. Seu papel se define como uma liderança que deva exercer atividades políticas, que tem o poder de influenciar debates, discussões e fomentar decisões jurídicas, que surtam efeito sobre o poder legislativo, influenciando a elaboração de leis que definam, caracterizem e balizem o Ensino Superior Brasileiro. 146 CAPÍTULO III AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS LIDERANÇAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: ASPECTOS METODOLÓGICOS ESPERANÇA Partindo de que a experiência da miséria é uma violência e não expressão da preguiça popular ou fruto da mestiçagem ou da vontade punitiva de Deus, violência contra que devemos lutar, tenho, enquanto educador, de me ir tornando cada vez mais competente sem o que a luta perderá eficácia. É que o saber de que falei – mudar é difícil mas é possível –, que me empurra esperançoso à ação, não é suficiente para a eficácia necessária a que me referi. Movendo-me enquanto nele fundado preciso ter e renovar saberes específicos em cujo campo minha curiosidade se inquieta e minha prática se baseia. (FREIRE, 1996, p. 80). Este capítulo aborda o caminho metodológico traçado e percorrido em busca da resposta ao problema e dos objetivos anunciados no início deste trabalho, no que tange o estudo das representações sociais de lideranças de organizações que fazem parte do complexo cenário da educação superior brasileira, em torno da questão da responsabilidade social das IES, após seis anos da implementação da Lei dos SINAES. Para a efetivação da ação anteriormente anunciada definiu-se entrevistar lideranças de associações, conselhos, fóruns e sindicatos, e reitores, vice-reitores, pró-reitores comunitários, pró-reitores de graduação e diretores de universidades: Federais, Estaduais, Comunitárias e Privadas, que possuem representatividade educacional e política no cenário da Educação Superior no Brasil. Estes se tornaram os sujeitos pesquisados. Desta feita, este estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa, com algum subsídio da pesquisa quantitativa, embasando-se na metodologia das representações sociais para analisar e compreender a percepção das lideranças quanto ao conceito de responsabilidade social, e capturar o modo como este conceito tem sido entendido e vivenciado nas organizações representadas por tais lideranças. 147 Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa se caracteriza como exploratória por ter explorado um tema específico. Também se caracteriza como pesquisa bibliográfica, enfatizando o delineamento do estudo, por referenciar autores para a fundamentação e comprovação das ideias. Caracteriza-se como pesquisa documental, ao fazer uso de recursos como leis, normas, histórico das instituições, entre outros, e pesquisa de campo por analisar representantes específicos de um segmento da Educação Superior Brasileira. Para a coleta de dados foram utilizadas técnicas como a análise documental, entrevista reflexiva, observação, questionário aos sujeitos pesquisados provocadores de depoimentos escritos ou orais. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 3.1.1 A forma de abordagem do problema: a pesquisa qualitativa e quantitativa em Ciências Sociais Segundo Chizzotti (2006), “a pesquisa é um trabalho solitário”. Analisando a afirmação do professor pode-se compreender que todo o processo que abrange a elaboração e execução da pesquisa: o questionamento que envolve determinado assunto, o interesse em descobrir uma resposta para aquela dúvida ou problema, a elaboração de um objetivo para realização daquela pesquisa, os autores a serem fundamentados para embasar o estudo, a organização das ideias... – todas estas etapas são únicas e exclusivas do (a) pesquisador(a). Ele(a), o(a) pesquisador(a), dialoga consigo mesmo sobre suas angústias, suas dúvidas, seus questionamentos e somente ele (a) pode encontrar as suas respostas. Os esforços constantes de análise e síntese que a reflexão, a observação e a intuição provocam, podem trazer um drama existencial, uma tomada de consciência dos limites, da fragilidade, da ignorância e da miséria do próprio saber e gerar, no investigador, uma perplexidade aflitiva, uma inibição da vontade, uma paralisia da procura.(CHIZZOTTI, 2006, p. 12). Como afirmam DENZIN; LINCOLN (2005, p. 1085), “escrever e pesquisar não são métodos simplórios”. Na pesquisa qualitativa, o (a) pesquisador (a) necessita exercitar uma atividade complexa que é manter a imparcialidade. Ele ou ela carecem manter-se despidos de suas convicções, de seus valores, de seus pressupostos básicos sobre determinado assunto, 148 para poder ouvir o outro, para poder compreender a visão de mundo do sujeito pesquisado. O respeito ao entendimento daquele que está sendo o sujeito investigado, o respeito a sua vivência, as suas experiências, seus valores são fundamentais para a análise e descrição do fato pelo (a) pesquisador (a). Entretanto, esta tarefa não é simples. Os pesquisadores qualitativos ressaltam a natureza socialmente construída da realidade, a íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado, e as limitações situacionais que influenciam a investigação. Esses pesquisadores enfatizam a natureza repleta de valores da investigação. Buscam soluções para as questões que realçam o modo como a experiência social é criada e adquire significado. (DENZIN; LINCOLN, 2005, p. 23). A pesquisa qualitativa tem como princípio apresentar respostas a respeito daquilo que se pretende investigar. É como se o pesquisador ou a pesquisadora quisessem contar alguma coisa a respeito da sociedade em que vivem e que ele, ou ela, consideram fundamental que todas as outras pessoas tomem conhecimento sobre aquele fato ou objeto de estudo. Toda pesquisa qualitativa tem como propósito ou deveria ter como postura ética apresentar uma proposta diante do que foi pesquisado. No livro “O planejamento da pesquisa qualitativa” (DENZIN; LINCOLN, 2005), o capítulo 4 intitulado: Para quem? Pesquisa qualitativa, representações e responsabilidade social – os autores sugerem que os pesquisadores, “iniciantes e veteranos”, devam fazer uma série de perguntas a si mesmos quando forem realizar suas pesquisas. Dentre elas, algumas se destacam: “1. Fiz com que as ‘vozes’ e as ‘histórias’ dos indivíduos voltassem a ser associadas ao conjunto de relações históricas, estruturais e econômicas no qual elas se situam?” (FINE, et al, 2005, p. 135). Os autores, nesta questão, relatam a preocupação com as representações narradas pelos próprios entrevistados. Essas representações têm uma relação direta com as estruturas e ideologias que cercam estes sujeitos? Outra questão enfatizada pelos autores: “4. Alguns dos informantes/clientes/participantes revisaram comigo o material e interpretaram, discordaram, desafiaram minhas interpretações? E então como relatar esses afastamentos e essas conformidades em perspectiva?” (Idem, ibidem, p. 135). Os autores afirmam a importância da conversa, do que eles chamam de “interpretações negociadas” durante o trabalho de pesquisa, que envolvem a observação e as entrevistas individuais. Os autores reforçam a necessidade 149 em se buscar esclarecer adequadamente o significado das palavras, dos sentimentos, da percepção do sujeito entrevistado e, principalmente, o respeito a esta “visão de mundo”. Ainda referenciando os autores: “Quais são os sonhos que tenho em relação ao material apresentado?” (Idem, ibidem, p. 135). A pergunta que se pode fazer complementando a ideia do autor: Qual a utilidade prática desta pesquisa? Que transformações ou que propostas de melhorias esta pesquisa contribuiu para concretizar? Que contribuições esta pesquisa apresenta para o público que elegeu pesquisar e para a sociedade? Os autores afirmam que estas são questões reflexivas para que os pesquisadores, sejam eles estudantes universitários ou graduados, façam a si mesmos. Os autores afirmam que não estão induzindo os pesquisadores a responder “sim” para estas questões, apenas querem provocar um momento de reflexão ao papel da pesquisa qualitativa. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador “assume uma posição empática com o ambiente, as pessoas e os problemas que aborda, confiante de que a descrição dos problemas identificados é, também, o meio tanto de revelação quanto de solução desses problemas sociais” (CHIZZOTTI, 2006, p. 51/52). Segundo CHIZZOTTI (2006), a partir dos anos 90, a pesquisa qualitativa revela os caminhos para a globalização e a ascensão do capitalismo e de programas políticos neoliberais. Há uma revitalização da confiança nas pesquisas referentes à sociedade do conhecimento e as análises críticas que são responsáveis pelas denúncias das desigualdades sociais impostas por estas políticas. Enfatizando a fala do Professor CHIZZOTTI (2006), a pesquisa continuará a desafiar alguns pesquisadores. A pesquisa qualitativa ainda será marcada pela busca e tradução daquela realidade pesquisada, através do discurso e estilo do pesquisador, o grande valor do “outro” na pesquisa, os fins sociais que acabam se imputando à pesquisa e a “solidariedade e participação na transformação deliberada da vida humana”. Estas são e continuarão sendo por algum tempo características marcantes de uma pesquisa com enfoque qualitativo. A pesquisa lança mão de algum subsídio da pesquisa quantitativa por apresentar gráficos e porcentagens. 150 3.1.2 A definição do método: conceito de Representações Sociais Ao eleger como objeto de estudo a compreensão das representações de lideranças da Educação Superior Brasileira sobre o conceito de Responsabilidade Social das IES se faz necessário caracterizar o método utilizado nesta pesquisa para compreensão deste fato. Toda pesquisa que tenha um caráter de investigação científica, independente da área do conhecimento que queira investigar, não pode ser realizada baseada no senso comum, nem de forma intuitiva. É essencial que se estabeleça um plano e aplique-se um método para a realização da pesquisa. Não há “métodos” para um campo de conhecimento que tenha um verdadeiro conteúdo intelectual. O objetivo é encontrar a verdade. Como chegar até lá, ninguém o sabe. Os métodos experimentais, os matemáticos, as diversas técnicas não são métodos de trabalho para descobrir a verdade. Jamais alguém tornará criativo um físico ou um biólogo, dizendo-lhe: eis aqui os métodos, experimente-os num novo organismo. Fazem isso os que não sabem o que dar para os estudantes fazerem. É uma confissão de fracasso. Espera-se de um cientista que ele descubra novos princípios, novas teorias, novos métodos de verificação...Isso não se aprende com um método. (CHOMSKY; RONAT apud MOSCOVICI, 2008, p. 15). O objetivo maior de toda a pesquisa é “encontrar a verdade”. Cada pesquisador possui a “sua verdade”, a verdade sobre aquilo que ele ou ela acreditam, a verdade sobre determinado assunto baseado nas suas convicções, na sua experiência de vida, nos seus valores básicos, baseado no seu coração. Entretanto, se toda pesquisa que tenha um caráter científico necessita de um método para sua aplicação, elegeu-se, neste trabalho, o método das representações sociais, baseado especialmente nos estudos de Serge Moscovici e Denise Jodelet. Segundo MINAYO (2008, p. 89), “representações sociais é um termo filosófico que significa a reprodução de uma percepção retida na lembrança ou do conteúdo do pensamento. Nas Ciências Sociais são definidas como categorias de pensamento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questionando-a”. Este estudo, portanto, busca compreender como as lideranças da educação superior brasileira compreendem o conceito de Responsabilidade Social e como elas vivenciam este conceito nas instituições a que fazem parte, através da representação social. 151 A terminologia “representações sociais” foi empregada por Serge Moscovici e transformada em uma teoria: a Teoria das Representações Sociais. A Teoria das Representações Sociais desenvolvida por MOSCOVICI (1961) originouse na Europa, com a publicação do estudo do autor: La Psychanalyse, son image et son public. Esta teoria, segundo Moscovici, propunha tornar as Ciências Sociais mais adequadas ao mundo moderno. O que mais chama a atenção nesta teoria é a afirmação dele de que não se pode pensar a existência humana sem a concepção do contexto social. Assim, as representações sociais abrangem a sociedade como um todo e desvelam a visão de mundo de uma determinada época ou momento da história. Traduzem-se nas concepções das classes dominantes dentro da história de uma sociedade. Estudos sobre as representações sociais também foram desenvolvidos por outros autores como JODELET (2001). A autora afirma que a representação social é o ponto convergente entre o psicológico e o social. Ainda referenciando a autora, as representações sociais podem ser compreendidas a partir das experiências do indivíduo, dos conhecimentos que ele possui, das informações e modelos de pensamentos que lhes são transmitidos cotidianamente, por meio da tradição, da educação e comunicação social. Portanto, JODELET (2001, p. 22) define a representação social como: [...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social [...] Igualmente designada como saber de senso comum [...] esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este, devido à sua importância na vida social [...] Sendo assim, pode-se afirmar que as representações sociais são fontes de material importante para a pesquisa em Ciências Sociais. As representações sociais, de acordo com a análise e os estudos dos autores citados, podem ser manifestadas através de palavras, de sentimentos, de condutas que se tornam aceitas e verídicas. As representações sociais nada mais são do que a linguagem que se traduz em símbolo da interação social. Desta feita, sublinha-se o objetivo: este estudo pretende compreender, por meio da “linguagem” das lideranças da Educação Superior Brasileira, qual o significado do conceito 152 de Responsabilidade Social da Instituição de Ensino Superior atualmente, difundido pela Lei dos SINAES, respeitando e analisando as palavras, os sentimentos, as experiências vividas e o papel de liderança que cada sujeito pesquisado representa neste contexto histórico do qual faz parte. 3.1.3 Caracterização do ponto de vista dos objetivos: Pesquisa Exploratória A pesquisa social origina-se do desejo do pesquisador de conhecer mais detalhadamente determinado tema a ser investigado. Muitas vezes este desejo de conhecer tem como objetivo a simples satisfação do agir. Agir diante do que se investigou. Em função disto, esta pesquisa pretendeu realizar descobertas e se enriquecer com seu desenvolvimento e, por conseguinte, despertar o interesse na sua aplicação prática, na utilização dos conhecimentos adquiridos. Naturalmente, toda pesquisa social tem um objetivo. De acordo com SELLTIZ (1972), as pesquisas podem ser classificadas em três grupos: estudos exploratórios, estudos descritivos e estudos que verificam hipóteses causais. Esta pesquisa teve por finalidade se caracterizar como exploratória. O trabalho de pesquisa aqui apresentado se caracteriza como pesquisa exploratória porque, segundo GIL (2008, p. 27), este tipo de pesquisa “tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Ainda referenciando o autor (Ibidem), pode-se afirmar que este tipo de pesquisa é realizado, principalmente, quando o tema a ser pesquisado ainda é pouco explorado, tornado-se mais complexa a elaboração de hipóteses precisas e operacionalizáveis. A Responsabilidade Social das IES, por se caracterizar como um tema abstrato, ainda deflagrando debates no mundo acadêmico, se considerou adequado caracterizar a pesquisa com este objetivo. Como o tema escolhido para investigação é bastante genérico e abrangente tornaram-se necessários esclarecimentos a seu respeito, envolvendo uma pesquisa detalhada na literatura existente e a investigação com as lideranças da Educação Superior Brasileira, incluindo outros procedimentos que são apresentados na sequência. 153 3.1.4 Os procedimentos técnicos para delineamento da pesquisa: Pesquisa Bibliográfica, Pesquisa Documental e Pesquisa de Campo A pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, em função de ter se embasado em autores da área de educação para fundamentar teoricamente o estudo. A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. (SEVERINO, 2007, p.122). A pesquisa caracteriza-se também como documental porque explorou documentos oficiais para fundamentar sua análise em relação ao tema pesquisado: a Responsabilidade Social das IES. Para isso, buscou-se informações através de leis, decretos, medidas provisórias, portarias do Governo Federal relacionadas à Educação Superior Brasileira, inclusive relatórios de análise e outros documentos oficiais do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Segundo GIL (2008, p. 51), “o desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica. Apenas há que se considerar que o primeiro passo consiste na exploração das fontes documentais”. Ainda referenciando o autor, GIL (2008) afirma que existem documentos que são considerados de primeira mão e os de segunda mão. Os documentos de primeira mão são considerados aqueles que não receberam qualquer tratamento analítico como os documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, filmes, fotografias, gravações, etc. E os documentos de segunda mão são aqueles que já foram analisados como os relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, as tabelas estatísticas, entre outros. A pesquisa também se assume enquanto pesquisa de campo. As pesquisas de campo caracterizam-se, segundo GIL (2008, p. 55), “pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida [...] obter as conclusões correspondentes dos dados coletados”. 154 Este estudo, portanto, se caracteriza como uma pesquisa de campo porque teve como objetivo investigar a representação do conceito de Responsabilidade Social para lideranças da Educação Superior Brasileira, entrevistando-se representantes de órgãos do ensino superior como Associações, Conselhos, Fóruns e Sindicatos e lideranças de Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias e Privadas de todo território nacional. Pesquisou-se também uma liderança do Instituto Ethos. 3.1.5 Instrumento de coleta de dados: Entrevista Reflexiva, Observação e Questionário Os dados foram coletados por meio de entrevista reflexiva, observação e questionário aos sujeitos pesquisados, provocadores de depoimentos em análise. A entrevista reflexiva foi uma das técnicas utilizadas para coletas de dados desta pesquisa. Para se definir melhor o tema, faz-se necessário esclarecer o conceito de entrevista, a priori. A entrevista pode ser compreendida como “um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional [...] que proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária.” (SZYMANSKI apud LAKATOS, 2004, p.10). As entrevistas realizadas com as lideranças do ensino superior foram gravadas e transcritas na íntegra (v. anexo). Para a efetiva coleta de dados estas entrevistas foram realizadas de forma estruturada, no ambiente de trabalho de cada sujeito entrevistado, através de um questionário elaborado pela pesquisadora e composto de doze questões discursivas, com intuito de proporcionar aos (às) entrevistados(as) maior liberdade de expressão, seguindo os tópicos previamente selecionados. A autora SZYMANSKI (2004, p. 12) afirma que a entrevista realizada face a face é uma situação de interação humana. Neste momento, duas pessoas se encontram, entrevistador(a) e entrevistado(a) e, desta interação, surgem “expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas”. A entrevista reflexiva, segundo SZYMANSKI (2004, p.15), permite ao entrevistado(a) “ao deparar-se com sua fala, na fala do pesquisador [...] a possibilidade de um outro 155 movimento reflexivo: o entrevistado pode voltar para a questão discutida e articulá-la de uma outra maneira em uma nova narrativa, a partir da narrativa do pesquisador”. A entrevista reflexiva permite ao entrevistado(a) refletir sobre sua própria fala. A interlocução entre ambos permite, ao entrevistado(a), a abertura de se confirmar a resposta dada por ele(a) ao(à) entrevistador(a). Este retorno ao(à) entrevistado(a) lhe permite deixar claro ao ouvinte o que verdadeiramente foi dito, possibilitando discordar, modificar, esclarecer suas posições sobre o assunto tratado. Em uma entrevista face a face, inicialmente, o entrevistado(a) pode se sentir constrangido, inseguro, desconfiado ou também pode apresentar uma postura arrogante, indiferente, prepotente. Cabe ao(à) entrevistador(a) perceber esta situação e contorná-la, apresentando o objetivo da pesquisa e permitindo que o(a) entrevistado(a) fale um pouco de sua percepção, de sua visão, o que espera, sente ou deseja, antes mesmo de se iniciar a gravação da entrevista. Outra técnica utilizada foi a observação. Segundo LAKATOS (1991, p. 190), “a observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar”. A observação facilita ao pesquisador a identificação de provas a respeito da realidade que quer investigar. A observação é uma técnica imprescindível em qualquer modalidade de pesquisa, mas apresenta vantagens e limitações ao pesquisador. Uma das vantagens é que através da observação o pesquisador pode investigar uma ampla variedade de fenômenos, permitindo a comprovação de dados que, muitas vezes, não estão no roteiro das entrevistas. Uma de suas limitações é que esta relação entre duas pessoas que estão se observando – tanto entrevistador, como entrevistado – pode originar impressões que favoreçam ou não a percepção do observador. Na observação, alguns aspectos da vida acadêmica, profissional e pessoal do entrevistado podem não ser acessíveis ao pesquisador e isto gera uma percepção equivocada dos fatos ou do objeto a ser investigado. 156 O questionário foi outra técnica de coleta de dados escolhida para realização desta pesquisa. Segundo SEVERINO (2007, p. 125), o questionário pode ser compreendido como um “conjunto de questões, sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo”. O autor ainda afirma que as questões devem ser específicas ao objeto que se quer investigar e formuladas de forma clara para que possam ser bem compreendidas pelos sujeitos a serem pesquisados. As questões podem ser direcionadas de forma fechada ou aberta. As questões de forma aberta possibilitam ao entrevistado elaborar suas respostas, com suas vivências e experiências pessoais. Neste estudo foi elaborado e aplicado às lideranças um questionário com 12 (doze) perguntas abertas (v. anexo). 3.2 IDENTIFICAÇÃO DOS SUJEITOS PESQUISADOS A escolha dos sujeitos pesquisados justifica-se pelo interesse em analisar as percepções e concepções destas lideranças da Educação Superior Brasileira que, se compreende, são idealizadores de debates e discussões em torno do tema Responsabilidade Social das IES e são representantes, diante do poder público, dos professores, dos alunos, da comunidade acadêmica e da sociedade civil para exigir, sugerir, esclarecer sobre a definição deste conceito, contribuindo com a elaboração e implementação de políticas públicas para o Ensino Superior. As citadas lideranças, sujeitos pesquisados, fazem parte das seguintes organizações que foram investigadas: 1) ANACEU (Associação Nacional dos Centros Universitários); 2) ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes das IES); 3) ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior); 157 4) ANUP (Associação Nacional das Universidades Particulares); 5) CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras); 6) FOPROP (Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação das IES Brasileiras); 7) FOREXP (Fórum de Extensão das IES Particulares); 8) FOREXT (Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e IES Comunitárias); 9) FORGRAD (Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras); 10) UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul – SC); 11) UFMA (Universidade Federal do Maranhão – MA); 12) UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR); 13) UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina – SC); 14) PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – SP); 15) CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO (SP); 16) UNIP (Universidade Paulista – SP); 17) UNIDERP (Universidade Anhanguera – MS) 18) INSTITUTO ETHOS (SP). Os sujeitos pesquisados que representam Associações, Conselhos, Fóruns e Sindicatos do Ensino Superior Brasileiro serão os Presidentes destas instituições. Estes sujeitos serão identificados pela letra “P” – que significa o cargo que ocupam na instituição, completado com algarismos arábicos, em sequência, em ordem crescente. Os sujeitos pesquisados das Universidades Federais, das Universidades Estaduais, da Universidade Comunitária, do Centro Universitário e das Universidades Privadas serão identificados pela letra “L” que significa liderança, seguida de números arábicos em ordem crescente. O sujeito pesquisado do Instituto Ethos será identificado também pela letra “L” (liderança), juntamente com o segundo grupo, seguido de número correspondente em ordem crescente. 158 3.2.1 Apresentação das instituições dos sujeitos pesquisados PRESIDENTE DA ANACEU – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS39. De acordo com o histórico da entidade, a ANACEU foi criada em 6 de dezembro de 1999 por 12 Centros Universitários, com o intuito de dar sustentação e legitimidade à nova tipologia implantada na educação superior do país. Desde então, vem desempenhando um trabalho com vistas a defender os objetivos e interesses dos Centros Universitários instalados em todo o território nacional perante os três poderes, nas esferas federal, estadual e municipal. Hoje, é constituída por 70 Centros Universitários entre privados, confessionais e comunitários, sempre com o objetivo de promover assembleias de associados para tratar de assuntos de interesse do segmento. Conforme estatuto, a ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS UNIVERSITÁRIOS – ANACEU é uma associação sem fins econômicos, com prazo de duração indeterminado, constituída por mantenedores de instituições de ensino superior credenciadas junto ao poder público como Centros Universitários, nos termos deste estatuto e da legislação aplicável”. Segundo o artigo 3º do estatuto ficam definidos os objetivos da associação: “a) defender e representar os interesses dos Centros Universitários instalados em todo o território nacional perante os três poderes, nas esferas federal, estadual e municipal; b) consolidar o Centro Universitário como importante figura na estrutura do ensino superior brasileiro, com autonomia e liberdade de atuação; c) promover atividades culturais, de quaisquer espécies, visando o aperfeiçoamento do ensino superior brasileiro; d) incentivar a produção de pesquisa universitária, seja por meio de bolsas de estudos, seja pela publicação de obras literárias de importante valor acadêmico40. O objetivo de pesquisar uma liderança desta entidade deve-se ao fato de ela ser específica representante dos Centros Universitários e ter em sua história uma trajetória de luta no sentido de preservar estas instituições, que pretendia ser extinta pelo Decreto 4.914, no 39 A Anaceu tem sua sede social no Setor Comercial Sul (SCS) – Quadra 7 – Bloco A, nº 100 – 8º andar, salas 803 e 805 do Edifício Torre do Pátio Brasil, Brasília (DF). CEP 70.307-901. 40 Disponível em: http://www.anaceu.org.br. 159 final de 2007. Esta associação busca garantir o espaço dos Centros Universitários nas discussões da educação superior brasileira perante a sociedade civil. PRESIDENTE DO ANDES – SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR (ANDES-SN)41. De acordo com o estatuto desta instituição, a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior – ANDES, criada originalmente pelo Congresso Nacional dos Docentes Universitários, a 19 de fevereiro de 1981, em Campinas, Estado de São Paulo, como pessoa jurídica de direito privado, com natureza e fins não lucrativos e duração indeterminada, constituiu-se em Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, a partir do II CONGRESSO Extraordinário, realizado de 25 a 27 de novembro de 1988, na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, para fins de defesa e representação legal dos docentes, sejam estes da educação básica ou da educação superior e respectivas modalidades das Instituições de Ensino Superior – IES, públicas e privadas, por prazo indeterminado, com a denominação de ANDES – SINDICATO NACIONAL42. A escolha de uma liderança desta instituição deve-se pela representatividade tanto política, quanto educacional, para a Universidade brasileira, fundamentada a partir de fatos históricos do nosso país, como também pelos movimentos sociais dos quais fez parte. Este sindicato conta com 72 (setenta e dois) mil sindicalizados, de instituições de ensino superior federais, estaduais, municipais e particulares. PRESIDENTE DA ANDIFES – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR43. Retratando o histórico desta associação pode-se constatar que ela foi criada em 23 de maio de 1989, é a representante oficial das instituições federais de ensino superior (IFES) na 41 O ANDES tem sua sede no Setor Comercial Sul (SCS), Quadra 2, Edifício Cedro II, 5º andar, Bloco "C", Brasília-DF. CEP 70302-914. 42 Disponível em: http://www.andes.org.br. 43 A Andifes tem sua sede no Setor Comercial Sul (SCS), Quadra 1, Bloco “K”, Edifício Denasa, nº 30, 8º andar, Brasília (DF). CEP 70398-900. 160 interlocução com o governo federal, com as associações de professores, de técnicoadministrativos, de estudantes e com a sociedade em geral. A ANDIFES reúne 58 Instituições Federais de Ensino Superior compreendendo 2 Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), 2 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs) e 54 Universidades, contando com 610 mil alunos de graduação e pós-graduação em todas as áreas do conhecimento e também alunos do ensino fundamental e médio nos colégios de aplicação, escolas técnicas e agrícolas, distribuídas em todo o Brasil. Esta entidade, de acordo com seu estatuto, tem como objetivo: Artigo 2° – 1. A integração das Instituições Federais de Ensino Superior, sua valorização e defesa; Artigo 3° – 1. Promoção de estudos e projetos, inclusive de natureza interdisciplinar e interinstitucional, através de congressos, conferências, seminários, encontros e outros eventos; II. Intercâmbio de informações e experiências com instituições de ensino e pesquisa, entidades culturais, científicas e tecnológicas nacionais e estrangeiras; III. Articulação com os diversos entes públicos nas esferas federal, estadual e municipal; IV. Assessoramento às instituições federais de ensino superior no equacionamento de questões político-administrativas, jurídicas e técnicas, pertinentes à sua problemática interna e ao relacionamento com os poderes públicos44. Esta associação tem uma representatividade política e educacional no âmbito das Instituições Federais em todos os estados da Federação e no Distrito Federal. Sua existência cumpre com um papel relevante para a Educação Superior Brasileira, contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e cultural do país. Este se caracteriza como um dos interesses em pesquisar uma liderança desta instituição. PRESIDENTE DA – ANUP UNIVERSIDADES PARTICULARES 45 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS . Baseado no histórico desta associação, a ANUP foi fundada em 05 de julho de 1989, por dez universidades brasileiras e hoje conta com 28 44 Disponível em: http://www.andifes.org.br. A Anup tem sua sede no Setor de Habitações Individuais Sul (SHIS), Quadra 07, conjunto 09, casa 1 – Brasília(DF). 45 161 associadas, sendo 25 Universidades e 3 Faculdades. Os principais objetivos desta associação são: 1. Defesa da autonomia universitária; 2. Respeito à hierarquia e à lei; 3. Consolidação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; 4. Avaliação permanente da qualidade do ensino; 5. Crescimento do crédito educativo com novas formas de financiamento46. Esta associação tem sua representatividade marcada na trajetória do Ensino Superior no Brasil. Hoje, as Instituições de Ensino Superior Particulares no Brasil correspondem a 90% do total das IES. Esta foi uma das intenções em pesquisar uma liderança da referida instituição. PRESIDENTE DO CRUB – CONSELHO DE REITORES DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS 47. De acordo com o histórico desta instituição pôde-se constatar que o interesse em aproximar as universidades brasileiras já era expressa na Era Vargas, em 1931, com o Estatuto das Universidades Brasileiras, redigido pelo ministro Francisco Campos. Foi, contudo, no ano de 1961 que essa articulação começou de fato a tomar corpo. Realizou-se na recém-inaugurada Brasília, em novembro, o Simpósio Nacional de Reitores. O evento deu origem ao Fórum de Reitores, presidido pelo Ministério de Educação e Cultura. É essa aproximação com o poder público que virá a caracterizar o primeiro momento da atuação do Conselho. Ainda retratando o histórico, foi do VII Fórum de Reitores, realizado na cidade do Rio de Janeiro, em 1966, que saiu a decisão de constituir uma comissão de dirigentes, responsável pela redação do documento de criação do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. A partir daí, em abril de 1966, foi aprovado o texto em uma reunião em que estiveram presentes vinte e cinco reitores de universidades brasileiras. O documento foi apresentado pelo Irmão José Otão, Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Segundo o Estatuto deste conselho, em seu Art.1o O Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, doravante denominado CRUB, criado a 30 de abril de 1966, é uma associação civil, sem fins econômicos, de natureza eminentemente educacional, que congrega, 46 Disponível em: http://www.anup.com.br. O Crub tem sua sede no Setor de Edifícios Públicos Norte (SEPN), Quadra 516, conj. D, Brasília (DF). CEP 70.770-524. 47 162 por seus reitores, as universidades brasileiras. O artigo 3° estabelece que: o CRUB tem por finalidade promover a integração das universidades brasileiras, fortalecendo a sua autonomia e buscando, permanentemente, o aperfeiçoamento da Educação Superior. Para alcançar estes propósitos o Estatuto desta instituição define seus objetivos principais: I – intercâmbio de informações e experiências; II – congressos, conferências, seminários, cursos e outros eventos; III – assessoramento às universidades, mantendo constante articulação com órgãos públicos e outras entidades, na busca de soluções para os problemas da educação superior; IV – formulação de propostas de integração da universidade com a sociedade, visando ao desenvolvimento do País e à aplicação do conhecimento, em benefício da população brasileira; V – cooperação e intercâmbio com universidades, entidades culturais, científicas, tecnológicas e outras congêneres, nacionais e internacionais48. O objetivo de entrevistar uma liderança desta instituição deve-se ao fato de que a criação deste Conselho de Reitores tem um papel significativo na história do ensino superior no Brasil, baseado na trajetória deste conselho juntamente com marcos históricos, políticos e econômicos, defendendo o compromisso da universidade com o desenvolvimento social. PRESIDENTE DO FOPROP – FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DAS IES BRASILEIRAS49. O Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação das IES Brasileiras (FOPROP), de acordo com seu estatuto, é uma entidade, sem fins lucrativos, constituída pelos Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação ou ocupantes de cargos equivalentes das instituições brasileiras de ensino superior que mantenham estruturas formalmente constituídas de pesquisa e pós-graduação. Tem como objetivos a) constituir-se em uma entidade representativa das instituições de ensino superior do Brasil junto a instituições nacionais e estrangeiras de fomento à pesquisa e à pós-graduação; b) congregar esforços na identificação das necessidades nacionais e regionais, nas áreas de pesquisa e pós-graduação, e propor às agências de fomento nacionais, regionais e/ou estaduais a adoção de políticas para implementação das soluções apresentadas; c) assessorar a 48 49 Disponível em: http://www.crub.org.br. Não há indicação no site do local da sede desta instituição. 163 concepção, o planejamento, a organização, o desenvolvimento e a execução de políticas de pesquisa e pós-graduação no País, colaborando com as associações de dirigentes universitários e com as instituições de fomento e apoio ao desenvolvimento de pesquisa e pósgraduação; d) promover encontros, seminários, simpósios e outros eventos, assim como publicar matérias para divulgar estudos e propostas relacionadas com as áreas da pesquisa e da pós-graduação50. A escolha de entrevistar uma liderança desta entidade pode ser compreendida a partir de sua importante representatividade em ideias e ações em favor da consolidação dos sistemas brasileiros tanto de pesquisa como pós-graduação. A sua contribuição pode ser demonstrada nas suas relações com ministérios, agências de fomento, fundações de amparo à pesquisa e outras instâncias governamentais e não governamentais, tanto na formulação de políticas, como no acompanhamento das ações decorrentes. PRESIDENTE DO FOREXP – FÓRUM DE EXTENSÃO DAS IES PARTICULARES51. O Estatuto desta entidade estabelece que: O Fórum de Extensão das Instituições de Educação Superior Particulares, instituído em 29 de maio de 2003, como entidade representativa das Instituições associadas para assuntos de Extensão, é pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, constituída sob a forma de sociedade civil, com prazo indeterminado de duração, sendo regido pelo presente estatuto e pela legislação que lhe for aplicável. Em seu parágrafo único define o Fórum de Extensão das Instituições de Educação Superior Particulares tem sede e foro na cidade de Brasília, Distrito Federal, com atuação em todo território nacional, podendo, por deliberação da Assembleia Geral, estabelecer-se em outro local. Esta associação tem como objetivos: I. analisar e debater questões relativas à Extensão e propor políticas, estratégias e ações que sejam de interesse da maioria de seus associados; II. estabelecer interlocução com órgãos governamentais, com instituições da sociedade civil e com organismos de representação universitária; III. articular e estimular o desenvolvimento de programas, projetos conjuntos e redes de trabalho entre as 50 Disponível em: http://www.foprop.org.br. O Forexp tem sua sede no Setor Comercial Sul (SCS), Quadra 07, bloco A, salas 726/728 – Torre do Pátio Brasil, Brasília (DF). CEP 70.307-901. 51 164 Instituições associadas; IV. divulgar, no âmbito da sociedade brasileira, as atividades de extensão desenvolvidas pelas Instituições associadas; V. identificar programas e projetos de fomento à extensão e divulgá-los entre as Instituições associadas; VI. propiciar um espaço apropriado e permanente de reflexão, avaliação e acompanhamento das práticas de extensão desenvolvidas pelas Instituições de Educação Superior Particulares; VII. promover a participação das Instituições associadas nos processos de formulação e implementação das políticas de Extensão, em âmbito nacional52. A liderança desta entidade foi escolhida para ser investigada pela representatividade política e educacional que possui em relação ao Ensino Superior Privado neste país. O Forexp tem como missão propiciar às Instituições de Ensino Superior Particulares “a busca continuada da qualidade e relevância das atividades de ensino, de pesquisa, extensão, gestão acadêmica, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico”. PRESIDENTE DO FOREXT – FÓRUM NACIONAL DE EXTENSÃO E AÇÃO COMUNITÁRIA DAS UNIVERSIDADES E IES COMUNITÁRIAS53. De acordo com seu estatuto, O Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária, ForExt, instituído em 29 de outubro de 1999, é entidade representativa das Universidades e Instituições de Ensino Superior Comunitárias para assuntos de Extensão e Ação Comunitária. Em seu artigo 2º estabelece que: São membros do ForExt as Universidades e Instituições de Ensino Superior Comunitárias presentes ao ato de instituição e as que vierem a formalizar sua filiação. O ForExt tem como objetivos: I – analisar, debater, propor políticas, estratégias e questões relativas à Extensão e Ação Comunitária de interesse de seus membros; II – buscar o entendimento com órgãos governamentais e Instituições da sociedade e com organismos de representação universitária; III – articular o desenvolvimento de programas e projetos e de redes de trabalho entre as Instituições que o constituem; IV – divulgar as atividades de Extensão e Ação Comunitária realizadas por estas Instituições no âmbito da sociedade brasileira54. 52 Disponível em: http://www.funadesp.org.br. Não há indicação no site do local da sede desta instituição. 54 Disponível em: http://www.uniso.br. 53 165 O objetivo em pesquisar uma liderança desta entidade deve-se ao fato de que as Universidades Comunitárias defendem a sua caracterização como sendo de espaços privilegiados para a consolidação de compromissos sociais e a viabilidade da interação social e institucional, buscando difundir e construir novos conhecimentos, com intuito de socializar o saber produzido e acumulado, transformando-o em um bem público com vistas à construção de um mundo melhor. PRESIDENTE DO FORGRAD – FÓRUM DE GRADUAÇÃO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS55. PRÓ-REITORES DE Segundo o histórico da instituição, o Fórum Brasileiro de Pró-Reitores de Graduação (ForGRAD) é constituído por todos os Pró-Reitores de Graduação, ou ocupantes de cargos equivalentes, das universidades e centros universitários. A diretoria é eleita por um ano, durante o Encontro Nacional. De acordo com o estatuto da entidade, o Fórum tem por objetivos: 1. Formular políticas e diretrizes básicas que permitam o fortalecimento das ações comuns e inerentes às Pró-Reitorias, em nível nacional e regional; 2. Contribuir para a formulação e implementação de políticas públicas de Educação Superior que visem ao pleno desenvolvimento do País, de forma articulada com órgãos governamentais e outros segmentos da sociedade civil56. O interesse em pesquisar uma liderança desta instituição deve-se ao fato de que ela é constituída por todos os Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras, ou cargos equivalentes, que desenvolvem atividades de ensino e representa uma categoria específica. SUJEITO PESQUISADO UFFS – Reitor – UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL. Esta Universidade foi a décima primeira instituição a ser criada pelo Governo Lula. Ela inicia suas atividades como universidade multicampi. Sua sede encontra-se na cidade de Chapecó, no Estado de Santa Catarina e possui também campi nas cidades gaúchas de Cerro Largo e Erechim e nas cidades paranaenses de Realeza e Laranjeiras do Sul. Segundo o histórico da Universidade, que iniciou suas atividades no ano de 2010, “trata-se de 55 56 Não há no site indicação do local da sede desta instituição. Disponível em: http://www.forgrad.com.br. 166 uma universidade voltada para a população dos 396 municípios que compõem a Mesorregião da Fronteira do Mercosul — uma região historicamente desassistida pelo poder público, especialmente no tocante ao acesso à educação superior”. O Reitor da Universidade, em seu discurso de posse, afirmou que só acredita em universidades que sejam voltadas para a sociedade. Uma das características principais desta instituição é um perfil voltado para ações que promovam o desenvolvimento da mesorregião em que está inserida. As metas divulgadas pela universidade podem ser enumeradas como: Promover o desenvolvimento regional integrado — condição essencial para a garantia da permanência dos cidadãos na região; Assegurar o acesso ao ensino superior como fator decisivo para o desenvolvimento das capacidades econômicas e sociais da região, a qualificação profissional e o compromisso de inclusão social; Desenvolver o ensino, a pesquisa e a extensão como condição de existência de um ensino crítico, investigativo e inovador e a interação entre as cidades e estados que compõem a grande fronteira do Mercosul e seu entorno57. A escolha em pesquisar uma liderança desta universidade deve-se ao fato de ser uma universidade nova, pública, gratuita, instalada há poucos meses na cidade e localizada em uma região desprovida de ensino público. SUJEITO PESQUISADO UFMA – Pró-Reitor de Extensão – UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. A referida universidade, de acordo com seu histórico, teve sua origem na antiga Faculdade de Filosofia do Maranhão, fundada em 1953. Em 21 de outubro de 1966 foi instituída a Fundação Universidade do Maranhão, pelo Governo Federal, de acordo com a Lei n° 5.152, com a finalidade de se implantar, posteriormente, a Universidade do Maranhão. Esta universidade instalada na região norte do Brasil possui uma história já consolidada no tocante ao ensino superior brasileiro. A isto se deve o fato do interesse em pesquisar uma universidade federal que contribuiu e contribui com o desenvolvimento da região e do Estado, com um compromisso voltado à valorização da 57 Disponível em: http://www.uffs.edu.br. 167 cultura. O Palácio Cristo Rei, sede da reitoria da UFMA, foi construído em 1877 e se caracteriza como um marco da arquitetura colonial de São Luís58. O ponto principal em se pesquisar uma liderança desta universidade, com tantos anos de existência, se deve ao fato de sua história se entrelaçar com a história da Educação Superior Brasileira e se contrapor à progênie da UFFS que está ainda em processo de fortalecimento na região em que se encontra. SUJEITO PESQUISADO UEPG – Pró-Reitor de Graduação – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA. Esta universidade está localizada na região centro-sul do Estado do Paraná. Foi criada pelo Governo do Estado, através da Lei n° 6.034, de 6 de novembro de 1969 e pelo Decreto n° 18.111, de 28 de janeiro de 1970. A Universidade Estadual de Ponta Grossa resultou da incorporação das Faculdades Estaduais que funcionavam isoladamente, como: Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa, criada pelo Decreto Estadual nº 8.837, de 08/11/49; Faculdade Estadual de Farmácia e Odontologia de Ponta Grossa, criada pela Lei nº 921, de 16/11/52; Faculdade Estadual de Odontologia de Ponta Grossa, através da Lei nº 5.261, de 13/01/66; a Faculdade Estadual de Direito de Ponta Grossa, criada pela Lei nº 2.179, de 04/08/54, e a Faculdade Estadual de Ciências Econômicas e Administração de Ponta Grossa, criada pela Lei nº 03/66, de 12/01/66. A personalidade jurídica de cada uma dessas unidades isoladas foi extinta no ato da criação da Universidade sob o regime da Fundação de Direito Público. A atual gestão é constituída pelo Reitor Professor João Carlos Gomes e pelo Vice-Reitor Professor Carlos Luciano Sant'ana Vargas, os quais foram escolhidos por meio de consulta à comunidade universitária e nomeados pelo Decreto nº 6885, de 11/07/06, assinado pelo Senhor Governador Roberto Requião 59. O objetivo principal de pesquisar uma liderança da UEPG deve-se ao fato de ser uma universidade com um histórico desde 1949 e por estar localizada no Estado do Paraná, em função de não haver nenhuma liderança a ser pesquisada que representasse este Estado, proporcionando assim uma amplitude nacional à pesquisa. 58 59 Disponível em: http://www.ufma.br. Disponível em: http://www.uepg.br. 168 SUJEITO PESQUISADO UDESC – Diretor de Centro – UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Esta Universidade foi instituída em 20 de maio de 1965, pelo Decreto nº 2.802, denominada Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina – UDESC. A UDESC incorporou as unidades: Faculdade de Engenharia, criada em 1956, a Faculdade de Educação, criada em 1963 e a Escola Superior de Administração e Gerência, criada em 1964. Em 1973 foi autorizado o funcionamento da Escola Superior de Medicina Veterinária, em Lages e neste mesmo ano foi criada a Escola Superior de Educação Física. Em 1985 entrou em funcionamento o Centro de Artes, que incorporou o Curso de Educação Artística, até então oferecido pela Faculdade de Educação. Em 1985 houve o reconhecimento da UDESC pelo Conselho Federal de Educação, através da Portaria Ministerial nº 893, de 11 de novembro de 1985, publicada no Diário Oficial da União em 26 de novembro de 1985. Em 1º de outubro de 1990, por meio da Lei nº 8.092, a Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina foi transformada em Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina, mas mantendo a sigla UDESC. Esta lei caracterizou a Universidade como ente jurídico próprio, com patrimônio e receitas próprios, autonomia didático-científica, administrativa, financeira, pedagógica e disciplinar. A Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC possui atualmente 11 (onze) Centros de Ensino que são: FAED (Centro de Ciências da Educação), ESAG (Centro de Ciências da Administração), CEFID (Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos), CEAD (Centro de Educação a Distância), CEART (Centro de Artes), CCT (Centro de Ciências Tecnológicas), CAV (Centro de Ciências Agroveterinárias), CEO (Centro Educacional do Oeste), CEPLAN (Centro de Ensino do Planalto Norte) e CEAVI (Centro de Ensino do Alto Vale do Itajaí), CERES (Centro de Educação Superior da Região Sul). Na Reitoria da UDESC, situada em Florianópolis, estão concentradas as Pró-Reitorias e os Órgãos Suplementares Superiores. Como Universidade Pública, totalmente gratuita e com padrão de excelência reconhecido nacionalmente, a UDESC é a verdadeira “Universidade dos Catarinenses”, mantendo permanente compromisso com o desenvolvimento de nossa terra e de nossa gente60. 60 Disponível em: http://www.udesc.br. 169 O principal fator que motivou o interesse em pesquisar uma liderança desta instituição deve-se a “interiorização” da Universidade do Estado ocorrida em sua trajetória educacional. Muitos são os debates em torno das universidades públicas (Federais, Estaduais e Municipais); entre eles a contestação daqueles que fazem parte das Universidades Estaduais em defenderem a interiorização destas universidades pelos estados e não a construção de universidades federais no interior das cidades. SUJEITO PESQUISADO PUC1 – Pró-Reitor de Graduação – e SUJEITO PESQUISADO PUC2 – Pró-Reitor de Cultura e Relações Comunitárias – PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO. A PUC-SP foi fundada, de acordo com seu histórico, em 1946. Surgiu da união da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento, fundada em 1908 e da Faculdade Paulista de Direito. Agregadas a elas, estavam outras quatro instituições da Igreja que tinham estruturas administrativas financeiras independentes. Quando era Universidade Católica de São Paulo tinha como missão formar lideranças católicas e os filhos da elite paulista. No final da década de 60, a PUC-SP começou a desenvolver aquela que se transformaria na sua essência: a qualidade acadêmica vinculada à preocupação social. Em 1969, a Universidade criou o primeiro curso organizado de pósgraduação do país. Nos anos 1970, a Universidade contratou professores que haviam deixado as instituições públicas em que trabalhavam, aposentados compulsoriamente pelos militares. Passaram a fazer parte dos quadros da PUC-SP intelectuais como Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Bento Prado Jr., José Arthur Gianotti. Em 1971, outra proposta acadêmica ousada: o surgimento do Ciclo Básico de Ciências Humanas. Academicamente, a instituição passava a funcionar como uma verdadeira universidade ao valorizar e considerar indissociáveis o ensino, a pesquisa e a extensão. Por outro lado, as atitudes ousadas da Universidade a colocaram na linha de frente do combate à ditadura militar como defensora da liberdade, dos direitos e da democracia. Em 2006, a PUC-SP iniciou um processo de modernização de sua estrutura acadêmico-administrativa, com o objetivo de ampliar a qualidade da produção científica e dos serviços prestados à sociedade; esse processo marca 170 mais um período da história da Universidade, culminando com a aprovação do novo Estatuto (2008) e do novo Regimento Geral da instituição (2009)61. O interesse em pesquisar lideranças da PUC de São Paulo deve-se, em primeiro lugar, pelo fato de participar como aluna/pesquisadora desta instituição no desenvolvimento desta pesquisa e por reconhecer a representatividade acadêmica, política e educacional que a PUCSP desempenha no cenário do ensino superior brasileiro. SUJEITO PESQUISADO CUSC – Vice Reitor – CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO. De acordo com o histórico do Centro Universitário São Camilo, os camilianos chegaram ao Brasil em setembro de 1922. O iniciador, Padre Inocente Radrizzani, e seu companheiro de missão, Padre Eugênio Dalla Giacoma, vieram da Itália e se fixaram, inicialmente, na cidade do Rio de Janeiro. Hoje os religiosos camilianos estão presentes em sete Estados do Brasil, tendo sua sede e suas principais instituições na capital de São Paulo. São representados civilmente por diversas entidades beneficentes que atuam na área religiosa, da saúde e do ensino, inspiradas no Evangelho e pautadas pelas diretrizes pastorais e normas éticas da igreja católica, destacando-se entre elas a "Sociedade Beneficente São Camilo" (na área do serviço à saúde) e a "União Social Camiliana" (na área do ensino). A "União Social Camiliana" (USC) mantém colégios e faculdades na área da saúde – que hoje formam o Centro Universitário São Camilo – tem-se notabilizado pela produção literária. Além da revista O mundo da Saúde, com artigos de toda esta ampla área, com atenção especial à bioética, a USC vem publicando traduções de livros sobre o mesmo assunto e os textos de praticamente todas as disciplinas ministradas em seus cursos, preparados pelos respectivos professores. Na América Latina, além do Brasil, os camilianos estão presentes e atuantes na pastoral da saúde e no ensino da bioética na Argentina, Chile, Peru, Equador, Colômbia, Haiti, e desenvolvem atividades esporádicas também em outros países62. A pesquisadora interessou-se em pesquisar uma liderança desta instituição por considerá-la referência no ensino na área da saúde e por ser uma instituição confessional católica, conforme o próprio histórico a define, voltada a ações “inspiradas no Evangelho e 61 62 Disponível em: http://www.pucsp.br. Disponível em: http://www.saocamilo-sp.br. 171 pautadas pelas diretrizes pastorais e normas éticas da igreja católica”, consolidando-se, assim, uma “missão” da instituição: o atendimento aos excluídos e menos favorecidos da sociedade. Este o interesse principal em se pesquisar um Centro Universitário com estas características: qual é o conceito de Responsabilidade Social para esta instituição: a formação integral do aluno ou o assistencialismo através da educação superior? SUJEITO PESQUISADO UNIP – Vice Reitor de Extensão – UNIVERSIDADE PAULISTA. A Universidade Paulista (UNIP) iniciou suas atividades em 9 de novembro de 1988 e foi reconhecida pela Portaria n° 550/88. Por meio de uma proposta acadêmica moderna, a UNIP vem expandindo suas atividades por diversos campi, com objetivo de preparar recursos humanos altamente qualificados demandados pela política de desenvolvimento nacional. A UNIP promove a formação atualizada dos alunos e sua capacitação para uma sociedade em mudança, por meio de um ensino de qualidade, tecnologicamente avançado e dirigido para o futuro, nas áreas das ciências humanas, sociais, exatas e da saúde. Sua finalidade maior é promover o desenvolvimento do potencial dos alunos, estabelecendo condições que possibilitem uma inserção ativa no mercado de trabalho e a solução criativa de problemas que a sociedade propõe63. Por ser a instituição uma das maiores universidades privada do país é que despertou o interesse da pesquisadora em entrevistar uma liderança desta organização. SUJEITO PESQUISADO UNIDERP – Reitor – UNIVERSIDADE ANHANGUERA. Segundo o histórico da Universidade Anhanguera, esta universidade iniciou suas atividades como Centro de Ensino Superior de Campo Grande (CESUP), criado em 1974, constituindo-se no produto da evolução de um conjunto de instituições educacionais tradicionais e da iniciativa de educadores idealistas do Estado, com o objetivo de integrar experiências, ideais e patrimônios, para atender às aspirações e às necessidades da população do Estado de Mato Grosso do Sul. O CESUP, desde então, teve significativo avanço no 63 Disponível em: http://www.unip.br. 172 desenvolvimento de seu projeto educacional, criando, em 1974, o Centro de Ensino Superior Plínio Mendes dos Santos, oferecendo cursos de graduação e pós-graduação, realizando pesquisas e desencadeando projetos de extensão. Como consequência de seu próprio desenvolvimento, em 1990 o CESUP solicitou, ao então Conselho Federal de Educação, autorização para a transformação do Centro de Ensino Superior Professor Plínio Mendes dos Santos em Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp). Tal solicitação mereceu aprovação da Carta-consulta pelo Parecer nº 43/91 – CFE, de 20 de dezembro de 1991, e do Projeto de Universidade, pelo Parecer nº 126/92 – CFE, homologado pelo Ministério da Educação em 2 de julho de 1992. O reconhecimento da instituição pelo atual Conselho Nacional de Educação deu-se pelo Parecer nº 153/96, de 2 de dezembro de 1996, homologado por Decreto Presidencial de 18 de dezembro de 1996. Em 2008, com a publicação da Portaria SESu nº 879 em 18 de novembro de 2008, a Uniderp passou a denominar-se Universidade Anhanguera-Uniderp. Além disso, passou a ter a Anhanguera Educacional S.A. como sua entidade mantenedora, por meio da Portaria SESu nº 1.620/09, publicada no Diário Oficial da União em 16 de novembro de 200964. O intuito de pesquisar uma liderança desta universidade deveu-se por representar, através de seu histórico, o retrato da evolução do ensino superior privado neste país. O surgimento e aprovação desta universidade ocorreram em 1991, período da expansão das instituições de ensino superior privadas no Brasil, a partir dos anos 90, em função das políticas públicas que favoreceram este desenvolvimento. SUJEITO PESQUISADO ETHOS – Não foi informado o cargo – INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Conforme o histórico de apresentação desta instituição, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins lucrativos, caracterizada como Oscip (organização da sociedade civil de interesse público). Sua missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável. Criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos 64 Disponível em: http://www.uniderp.br . 173 oriundos da iniciativa privada, o Instituto Ethos é um polo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. É também uma referência internacional nesses assuntos, desenvolvendo projetos em parceria com diversas entidades no mundo todo. A sede do Instituto Ethos se localiza na Rua Dr. Fernandes Coelho, 85, 10º andar, em Pinheiros, São Paulo (SP) - CEP 05423-04065. O fato de se escolher uma liderança desta instituição para ser um dos sujeitos desta pesquisa deve-se em função de, no questionário elaborado para coleta de dados deste estudo, fazer-se referência a esta instituição. A questão apresentada a todos os sujeitos entrevistados se caracteriza como: O INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL, uma organização sem fins lucrativos, caracterizada como organização da sociedade civil de interesse público, possui um conceito amplamente difundido às empresas sobre Responsabilidade Social. O(a) senhor(a) conhece este conceito? Seria a Responsabilidade Social das IES, através dos SINAES, embasada neste conceito defendido pelo Instituto Ethos ou as IES já discutiram sobre este tema e possuem um conceito de Responsabilidade Social apropriado a sua realidade? Diante disto, a pesquisadora interessou-se em pesquisar qual a posição deste instituto perante este tema de pesquisa e qual sua percepção em relação às universidades brasileiras. 65 Disponível em: http://www.ethos.org.br . 174 CAPÍTULO IV AS REPRESENTAÇÕES DAS LIDERANÇAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA – A PESQUISA REALIZADA O SOCIAL Acredito que muitas atividades de extensão são imbecilizantes, quando reduzem “o social” ao assistencialista, oferecem visão compensatória, extrínseca e eventual de cidadania; reduplicam esforços fora dos departamentos, evitando que atividades próprias sejam realizadas no lugar próprio; trazem para a universidade atividades que seriam de órgãos sociais públicos, sem a devida contextualização educativa e científica; estigmatizam a extensão como proposta residual ou meramente voluntária; fazem da extensão a porta de entrada da privatização de esferas públicas; e assim por diante (DEMO apud CALDERON, 2007, p.05). 4.1 AS ETAPAS PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA 4.1.1 Definição do tema: o que foi pesquisado? E quem foram os sujeitos-pesquisados? A elaboração, desenvolvimento, execução e finalização de toda pesquisa pode ser comparada a uma longa viagem que se planeja fazer durante longos anos. Primeiro, se idealiza o destino que se pretende desvelar. Na sequência, se pesquisa todas as possibilidades em conhecer lugares, revelar seus mistérios, reconhecer a cultura do local, a língua falada, os costumes, as tradições, a culinária. Posteriormente, há o planejamento de quando se realizará esta viagem? Em que momento da vida? Por quanto tempo? E, na companhia de quem? Outro aspecto importante para a realização desta viagem são os equipamentos e utensílios necessários para a realização da mesma: como e de onde serão realizados registros? De que forma estes registros serão guardados, armazenados? Através de fotos, filmagens, cartões postais? Apenas lembranças no coração e na memória? E as passagens? As malas? As roupas? Os objetos pessoais? 175 Quando chega o grande dia, o dia do embarque, parece um sonho. Um sonho concretizado! Uma conquista! Os objetivos se concluem. E após esta viagem se estará preparado para novas aventuras, novos sonhos, em outras paragens. As etapas para realização de uma pesquisa, compreende-se que, podem se identificar com o roteiro de uma grande viagem. Primeiramente, se tem um objetivo: o que pesquisar? O interesse era pesquisar o conceito de Responsabilidade Social para as Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil, em um curso de Doutorado em Educação, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Por que Responsabilidade Social das IES? Em 2004, com o surgimento da Lei n° 10.861, de 14 de Abril de 2004, a Lei dos SINAES, que tinha como finalidade avaliar a Educação Superior, visando à melhoria da qualidade da educação brasileira, iniciam-se os debates em todas as Instituições de Ensino Superior sobre este novo sistema de avaliação. O interesse por este tema surgiu em função de participar de vários debates em Faculdades e Universidades e constatar a ausência de um denominador comum que explicitasse os parâmetros desta nova legislação e sua relação com as responsabilidades das Instituições de Ensino Superior em geral e, em especial, com a Responsabilidade Social das IES. Por que na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)? O interesse em participar de um estudo na PUC deve-se ao caráter da qualidade de ensino, pesquisa e extensão vivenciados por esta instituição tão reconhecida e valorizada na cidade de São Paulo, no Brasil e, porque não dizer, no mundo em função de suas parcerias com as maiores e melhores universidades de vários países. Após participação no processo de seleção e aprovação, iniciam-se as aulas presenciais. Os textos estudados, os debates acirrados sobre educação no país e no mundo, a aprendizagem vivenciada durante palestras realizadas, os encontros com pesquisadores da área, aos poucos um universo de informações angustia, incomoda, perturba. Mas, não se pode perder o foco. E nesse turbilhão de informações, nesse ambiente propício a construção do conhecimento, na energia das discussões vivenciada com os colegas, 176 e com os professores, se descobre uma outra etapa da pesquisa: se o que se objetiva é pesquisar o conceito de Responsabilidade Social das IES, quais os sujeitos a serem investigados? A princípio, a idéia era pesquisar as ações desenvolvidas por Instituições de Ensino Superior (IES) de uma determinada região que fossem consideradas, pelas instituições, como sendo de Responsabilidade Social. A percepção que vai se revelando aos poucos é que há uma incompatibilidade de concepções por estas instituições quanto ao conceito de Responsabilidade Social. Em função disto, surge o interesse em pesquisar as percepções e concepções de lideranças do Ensino Superior Brasileiro que, se compreende, são idealizadores dos debates, fóruns, palestras, discussões em torno do tema e representantes, diante do poder público, dos professores, dos alunos, da comunidade acadêmica e da sociedade civil para exigir, sugerir, esclarecer qual a definição deste conceito de Responsabilidade Social das IES, contribuindo com a elaboração e definição de políticas públicas para o Ensino Superior. Assim, neste estudo objetivou-se entrevistar lideranças do Ensino Superior Brasileiro que representam Associações, Conselhos, Fóruns e Sindicatos e também lideranças de Universidades: Federais, Estaduais, Comunitárias e Privadas. A pesquisa foi realizada com os presidentes de: a) Associação Nacional dos Centros Universitários – ANACEU; b) Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – ANDIFES; c) Associação Nacional das Universidades Particulares – ANUP; d) Sindicato Nacional dos Docentes das IES – ANDES; e) Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras – CRUB; f) Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação das IES Brasileiras – FOPROP; g) Fórum de Extensão das IES Particulares – FOREXP h) Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e IES Comunitárias – FOREXT; 177 i) Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras – FORGRAD; Complementando a pesquisa foram entrevistadas lideranças de duas Universidades Federais, duas Universidades Estaduais, duas Universidades Comunitárias e duas Universidades Privadas. Privilegiou-se realizar a pesquisa com universidades em função destas possuíram uma estrutura, tanto física quanto administrativa, mais estabelecida que outras Instituições de Ensino Superior (IES). As lideranças das universidades pesquisadas foram: 1. Universidades Federais: a) Universidade Federal de Fronteira Sul – UFFS (Chapecó-SC): Reitor b) Universidade Federal do Maranhão – UFM (São Luís-MA): Pró-Reitor de Extensão 2. Universidades Estaduais: a) Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC (Florianópolis –SC): Reitor b) Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (Ponta Grossa-PR): Pró-Reitor de Graduação. 3. Universidades Comunitárias: a) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP): Pró-Reitor de Graduação e PróReitor de Cultura e Relações Comunitárias; b) Centro Universitário São Camilo (SP): Vice-Reitor; 4. Universidades Privadas: a) Universidade Anhanguera – UNIDERP (Campo Grande-MS): Reitor; b) Universidade Paulista – UNIP (SP): Vice-Reitor de Extensão. Uma das questões da pesquisa afirma que o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social possui um conceito definido e amplamente difundido as empresas sobre responsabilidade social. Pergunta-se as lideranças entrevistadas se conhecem este conceito e se consideram que a Lei dos SINAES foi inspirada ou embasada neste conceito defendido pelo Ethos. Em função disto, considerou-se adequado realizar a pesquisa com uma liderança deste Instituto também. 178 Sendo assim, elegeu-se dezenove lideranças para realização desta pesquisa. 4.1.2 Definição dos procedimentos metodológicos: quais as técnicas e os instrumentos que foram utilizados para a coleta de dados? Uma segunda etapa desta pesquisa era a elaboração dos procedimentos metodológicos. Como seria realizada a pesquisa? No segundo capítulo deste trabalho apresentam-se detalhadamente os procedimentos metodológicos que serviram como subsídios para realização desta pesquisa. Neste item pretende-se esclarecer as etapas de elaboração de algumas técnicas empregadas para realização da coleta de dados. Estabeleceu-se que seria elaborado um questionário como referência para as entrevistas reflexivas. As entrevistas seriam gravadas e transcritas na íntegra para a efetiva coleta de dados. Em função das lideranças do Ensino Superior Brasileiro serem presidentes de órgãos do ensino superior e exercerem cargos em Universidades em diversas regiões do Brasil definiu-se que seria realizado um contato, primeiramente, através de meio eletrônico apresentando a pesquisa e convidando-o (a) a participar do estudo e, posteriormente, caso fosse aceito pelo representante participar da pesquisa, seria enviado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o questionário da pesquisa em si. Definiu-se também que seria interessante elaborar um questionário que identificasse o Perfil Acadêmico-Profissional de cada sujeito, onde fosse contemplado a faixa etária de cada sujeito investigado, sexo, grau de instrução, a categoria administrativa da Instituição de Ensino Superior (IES) que freqüentou, os cursos realizados se foram custeados por ele próprio ou por concessão de bolsa de estudos, se atua no ensino superior, em qual instituição e há quantos anos, se atua ou já atuou como professor universitário e se ocupa ou ocupou cargos de liderança, se é ou foi representante de algum órgão governamental, fórum, conselho ou afins, representativo do ensino superior brasileiro e em qual região do Brasil já atuou no ensino superior. 179 Em junho de 2010 inicia-se o envio de correspondência através de meio eletrônico para as lideranças já mencionadas anteriormente, esclarecendo-se o interesse na participação de cada uma delas e solicitando uma confirmação de interesse em participar ou não da pesquisa. Algumas lideranças que atuam na cidade de São Paulo, os contatos foram realizados por telefone, agendando uma data e horário para realização da entrevista. Para estas lideranças, no dia agendado foi entregue um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelo sujeito-pesquisado e informado de todas as etapas a serem vivenciadas pela pesquisa. Após sua concordância com os termos, a entrevista foi realizada através de gravação e transcrita posteriormente e avaliada pelo sujeito entrevistado. Estas entrevistas são apresentadas em anexo, neste trabalho. Alguns contatos realizados por meio eletrônico e que não se havia recebido confirmação de recebimento até vinte dias após o envio da solicitação de participação, foi realizado um contato por telefone solicitando a confirmação ou não do interesse em participar da pesquisa. De todos os contatos realizados apenas um recusou-se a participar da pesquisa, declarando não ter interesse em participar deste estudo. Outro sujeito pesquisado que não foi localizado se refere ao Presidente do Fórum de Extensão das IES Particulares (FOREXP). Vários contatos foram realizados através de meio eletrônico, através de contatos telefônicos tanto para o Fórum, quanto para a Universidade em que o sujeito atua, mas não houve nenhum retorno, nem das ligações realizadas, nem dos emails enviados. Estes contatos foram realizados de Junho de 2010 a Setembro de 2010. Foi realizada uma pesquisa através do Currículo Lattes deste sujeito, tentando identificar endereços eletrônicos ou telefones pessoais e todos os contatos foram em vão. Algumas lideranças foram prontamente prestativas a pesquisa. O presidente da ANACEU e o presidente do ANDES foram os primeiros a responderem as questões e enviaram os questionários via e-mail, num prazo de quinze dias após o primeiro contato da pesquisadora com os sujeitos entrevistados. Os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido destas lideranças foram retirados nas Universidades a que fazem parte pela pesquisadora. 180 Em função da distância geográfica das lideranças da ANDIFES, ANUP, FORGRAD, FOPROP e CRUB, além do envio através de meio eletrônico, tanto do Termo quanto dos questionários, foi enviado pelo correio em carta registrada dia 30 de Agosto de 2010 todos os documentos novamente, impressos e com envelope selado para devolução. O presidente do FOREXT também foi um representante que respondeu a pesquisa prontamente e enviou o questionário via e-mail e o Termo pelo correio por conta própria. A dificuldade foi localizar esta liderança em função de sua saída da Universidade a que fazia parte e pelos dados desatualizados no endereço eletrônico da instituição pesquisada, mas quando se conseguiu o primeiro contato sua participação foi imediata. As lideranças das Universidades PUC-SP, Centro Universitário São Camilo e UFFS foram extremamente receptivos e simpáticos a realização da pesquisa. Em conseqüência dos prazos estarem se esgotando, foi realizado novo contato com a liderança da UNIDERP que informaram que, em função desta liderança estar em férias neste período, a pesquisa seria enviada após a data solicitada pela pesquisadora. Em data próxima da entrega deste trabalho foi recebido um comunicado, via e-mail, da referida instituição acusando não poder participar desta pesquisa. As lideranças da UEPG e da UFMA enviaram suas pesquisas e os termos via correio, por conta própria. A UDESC respondeu a pesquisa e uma representante do INSTITUTO ETHOS enviou um comunicado, via e-mail, à pesquisadora declarando a impossibilidade da liderança a ser pesquisada participar deste estudo. 4.1.3 Apresentação dos dados coletados relativos aos questionários Os dados foram coletados através de questionário aplicado que são apresentados em anexo. O questionário foi dividido em duas etapas: na primeira etapa, o objetivo foi identificar o Perfil Acadêmico/Profissional do sujeito pesquisado. Na segunda etapa, o questionário era composto de 12 (doze) questões abertas com objetivo de identificar as representações de lideranças sobre o conceito de Responsabilidade Social das IES. 181 A seguir serão apresentados os dados do questionário sobre o Perfil Acadêmico/Profissional. As questões sobre este perfil referem-se a: Nome, idade, sexo, grau de instrução, se estudou em IES pública ou privada, se os cursos que freqüentou foram com bolsa de estudos (quais?), se atua no Ensino Superior (qual instituição?), há quantos anos atua no Ensino Superior, se sua atuação sempre foi na mesma instituição ou em outras (públicas ou privadas), se atua ou atuou como Professor Universitário, se atua ou atuou em Cargos de Liderança, se já foi ou é representante de algum órgão governamental, fórum, conselho ou afins representativo do Ensino Superior (qual? em qual período?), em qual região do país atua no Ensino Superior (qual cidade?). Para se manter o anonimato dos sujeitos pesquisados, a primeira questão que se refere a “nome” não será apresentada nesta pesquisa. 182 4.1.3.1 Questionário para identificação do Perfil Acadêmico e Profissional dos Sujeitos Pesquisados 36 – 40 P1 41 - 45 1 46 - 50 51- 55 56 - 60 1 P2 1 P3 1 P5 P8 61 ou mais 1 1 L1 1 L2 1 L3 1 L4 1 L5 1 L6 1 L7 Valor Absoluto 1 2 2 3 2 2 Valor Relativo 8,2% 16,7% 16,7% 25% 16,7% 16,7% Quadro 1 – Identificação da faixa etária dos sujeitos pesquisados Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 FAIXA ETÁRIA 36 - 40 8,2% 61 ou m ais 16,7% 41 - 45 16,7% 56 - 60 16,7% 46 - 50 16,7% 51- 55 25,0% Gráfico 1 – Percentual da faixa etária dos sujeitos pesquisados Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 183 MASCULINO 1 1 1 1 1 1 1 P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo FEMININO 1 1 1 1 1 10 2 83,3% 16,7% Quadro 2 – Identificação relativo ao gênero dos sujeitos pesquisados Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 SEXO FEMININO 16,7% MASCULINO 83,3% Gráfico 2 – Divisão percentual do sexo entre os sujeitos pesquisados Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 184 ENSINO SUPERIOR COMPLETO MESTRADO DOUTORADO P1 PÓS DOUTORADO BRASIL 1 PÓS DOUTORADO EXTERIOR 1 P2 1 P3 1 P5 1 P8 1 L1 1 L2 L3 1 L4 1 1 L5 L6 1 1 L7 Valor Absoluto 1 4 4 1 2 Valor Relativo 8,3% 33,3% 33,3% 8,3% 16,8% Quadro 3 – Identificação do grau de instrução entre os sujeitos pesquisados Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 GRAU DE INSTRUÇÃO Pós- Doutorado Exterior 16,8% Pós. Doutorado Brasil 8,3% Ens. Sup. Com pleto 8,3% Mestrado 33,3% Doutorado 33,3% Gráfico 3 – Percentual do grau de instrução entre os sujeitos pesquisados Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 185 PRIVADA P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo PÚBLICA 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 3 1 9 25% 75% Quadro 4 – Identificação da categoria administrativa da IES em que os sujeitos pesquisados estudaram Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 ESTUDOU EM IES PRIVADA 25,0% PÚBLICA 75,0% Gráfico 4 – Percentual da categoria administrativa da IES em que os sujeitos pesquisados estudaram Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 186 P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo SIM 1 1 NÃO 1 1 1 1 1 1 1 1 1 8 1 4 66,7% 33,3% Quadro 5 – Identificação se os estudos foram custeados com bolsa de estudos ou não. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 BOLSISTA NÃO 33,3% SIM 66,7% Gráfico 5 –Percentual de concessão de bolsa de estudos entre os sujeitos pesquisados. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 187 CAPES P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo CNPq FUNDO DE APOIO A PESQUISA ESTADO OUTRA 1 1 1 1 1 1 1 1 4 2 2 50% 25% 25% Quadro 6 – Identificação da agência de fomento. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 AGÊNCIAS DE FOMENTO OUTRA 25,0% CAPES 50,0% CNPq 25,0% Gráfico 6 – Percentual da agência de fomento. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 188 SIM 1 1 1 1 P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo NÃO 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 91,7% 8,3% Quadro 7 – Identificação dos sujeitos pesquisados que atuam no ensino superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 ATUAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR NÃO 8,3% SIM 91,7% Gráfico 7 – Percentual dos sujeitos pesquisados que atuam no ensino superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 189 1-5 P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo 6 - 10 11 - 15 16 - 20 MAIS DE 20 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 8 8,3% 8,3% 16,7% 66,7% Quadro 8 – Identificação do tempo (anos) em que atua no ensino superior entre os sujeitos pesquisados Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 QUANTIDADE DE ANOS QUE ATUA/ATUOU NO ENSINO SUPERIOR 6 a 10 8,3% 11 a 15 8,3% 16 a 20 16,7% m ais de 20 66,7% Gráfico 8 – Percentual do tempo (anos) em que atua no ensino superior entre os sujeitos pesquisados Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 190 P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo MESMA INSTITUIÇÃO 1 OUTRAS INSTITUIÇÕES 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 2 83,3% 16,7% Quadro 9 – Identificação se na mesma instituição em que atua hoje ou em outras Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 SEMPRE ATUOU OUTRAS INSTITUIÇÕES 16,7% MESMA INSTITUIÇÃO 83,3% Gráfico 9 – Identificação se na mesma instituição em que atua hoje ou em outras Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 191 PÚBLICAS P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo PRIVADAS 1 1 1 1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 8 33,3% 66,7% Quadro 10 – Identificação da categoria administrativa da IES em que atua. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 CATEGORIA ADMINISTRATIVA DA IES PÚBLICAS 33,3% PRIVADAS 66,7% Gráfico 10 – Percentual da categoria administrativa da IES em que atua. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 192 P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo SIM 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12 NÃO 100% Quadro 11 – Identificação de atuação como professor universitário Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 ATUAÇÃO EM DOCÊNCIA NÃO 0% SIM 100% Gráfico 11 – Percentual de atuação como professor universitário Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 193 SIM 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo NÃO 10 1 1 2 83,3% 16,7% Quadro 12 – Identificação de atuação em cargos de liderança. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 ATUAÇÃO EM CARGOS DE LIDERANÇA NÃO 16,7% SIM 83,3% Gráfico 12 – Identificação de atuação em cargos de liderança. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 194 SIM P1 P2 P3 NÃO 1 1 1 P5 1 P8 1 L1 1 L2 L3 1 1 L4 1 L5 1 L6 1 L7 1 Valor Absoluto Valor Relativo 10 2 83,3% 16,7% QUAL PERÍODO Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – ANDIFES COMUNG – Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas CRUB – Conselho de Reitores das Universidades Brasileira Conselho Deliberativo da Fundação Piratini – TVE – RS CONAP – Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle do PROUNI Fórum Nacional de Extensão das Universidades Comunitárias - FOREXT Desde 2006 Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras - FORGRAD Conselho Universitário Fórum Permanente de Formação de Professores do Paraná Conselho Universitário Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras - FORGRAD Fórum Brasileiro de Extensão ANEC – Associação Nacional de Educação Católica 2005 2010 2008 – 2010 2010 2008 – 2009 2009 – 2010 1995 – 1996 2010 Atual 2010 – 2014 Desde 2008 Não informou Atual Quadro 13 – Identificação do período em que foi ou é representante de Órgão Governamental, Fórum, Conselho ou Afins representativo do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 195 JÁ FOI OU É REPRESENTANTE DE ALGUM ÓRGÃO DO ENSINO SUPERIOR NÃO 16,7% SIM 83,3% Gráfico 13 – Percentual de representação em Órgão Governamental, Fórum, Conselho ou Afins representativo do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 196 SUL P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Valor Absoluto Valor Relativo SUDESTE NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 1 1 1 6 1 1 33,4% 50% 8,3% 8,3% Quadro 14 – Identificação da região em que atua no ensino superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 REGIÃO EM QUE ATUA NO ENSINO SUPERIOR CENTRO-OESTE NORDESTE 8,3% 8,3% SUL 33,4% SUDESTE 50,0% Gráfico 14 – Identificação da região em que atua no ensino superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 197 P1 P2 P3 P5 P8 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 São Paulo - SP Ribeirão Preto - SP Goiás - GO Pelotas - RS Bragança Paulista - SP Itatiba - SP Campinas - SP Florianópolis - SC Chapecó – SC São Luis – MA Ponta Grossa – PR CIDADES São Paulo - SP Ribeirão Preto - SP São Paulo – SP Goiás – GO Pelotas - RS Bragança Paulista – SP Itatiba – SP São Paulo – SP Campinas - SP Florianópolis – SC Chapecó – SC São Luis - MA Ponta Grossa – PR Florianópolis – SC Chapecó – SC São Paulo - SP São Paulo - SP São Paulo - SP Valor Absoluto 6 1 1 1 1 Valor Relativo 1 1 2 2 1 1 5,6% 5,6% 11,1% 11,1% 5,6% 5,6% Quadro 15 – Identificação das cidades em que atua no ensino superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 33% 5,6% 5,6% 5,6% 5,6% 198 CIDADE DE ATUAÇÃO Po nt a G r o ssa – PR 5, 6 % São Luis – M A 5, 6 % São Paulo - SP 3 3 ,0 % C hap ecó – SC 11,1% F l o r ianó p o li s - SC 11,1% R ib ei r ão Pr et o - SP 5,6 % C amp i nas - SP 5,6 % It at ib a - SP 5, 6 % B r ag ança Pauli st a - SP 5,6 % G o iás - G O 5, 6 % Pelo t as - R S 5,6 % Gráfico 15 – Percentual das cidades em que atua no ensino superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora - Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 • Descrição do Perfil Acadêmico Profissional dos sujeitos pesquisados O Perfil Acadêmico Profissional dos sujeitos pesquisados pode ser assim descrito, de acordo com os dados coletados, 58,4% tem idade superior a 46 anos, sendo que 83,3% é do sexo masculino, com formação de mestrado (33,3%) e doutorado (33,3%). Destes 8,3% com Pós-Doutorado. Estes sujeitos pesquisados estudaram em instituições públicas na sua maioria (75%) e tiveram alguns de seus estudos custeados por agências de fomento (66,7%) como CAPES (50%), CNPq (25%) e outras não identificadas (25%). Estas lideranças pesquisadas (91,7%) atuam no ensino superior, sendo que a maioria delas tem uma vasta experiência profissional. Foi relatado que 16,7% atua no ensino superior entre 16 a 20 anos e 66,7% a mais de 20 anos. Dos sujeitos pesquisados 83,3% atua na mesma instituição desde que iniciou suas atividades, sendo que a maioria (66,7%) em IES privada. Um aspecto a ser destacado é que 100% dos entrevistados já atuou ou ainda atua como professor universitário e 83,3% já atuou ou atua em cargo de liderança. 199 A pesquisa realizada abrangeu algumas regiões brasileiras, sendo que 50% dos sujeitos pesquisados atuam na região sudeste, 33,4% na região sul, 8,3% na região nordeste e 8,3% na região centro-oeste. 4.1.3.2 Apresentação dos dados coletados por meio de entrevistas transcritas e de questionários Os dados coletados por meio de entrevistas gravadas e transcritas (em anexo) e por meio de questionários enviados e respondidos por meio eletrônico (em anexo) serão apresentados, na sequência, por meio de citações e quadros para melhor visualização e compreensão. A metodologia para apresentação das citações em forma de quadros se dará, inicialmente, agrupadas sob eixos de análise que nomeiam os quadros que apresentam os dados. O questionário completo será apresentado em anexo. Os quadros terão como objetivo reproduzir as falas dos sujeitos entrevistados ou pesquisados, orientados por subcategorias de análise. Cada quadro será dividido em colunas verticais e horizontais. Nas colunas verticais serão apresentados os sujeitos agrupados pelas instituições que representam. Nas colunas horizontais serão reproduzidas as falas dos sujeitos pesquisados, destacando-se o eixo de análise em negrito. Os quadros apresentados serão divididos em dois grupos: o primeiro grupo, identificado pela letra “a” será formado pelos Presidentes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato identificados pela letra “P” – que significa o cargo que ocupam na instituição, completado com algarismos arábicos, em sequência, em ordem crescente. O segundo grupo, identificado pela letra “b” será formado pelas lideranças representantes das Instituições de Ensino Superior Federal, Estadual, Comunitária e Privada. Os sujeitos pesquisados das Universidades Federais, das Universidades Estaduais, da Universidade Comunitária, do Centro Universitário e das Universidades Privadas serão identificados pela letra “L” que significa liderança seguida de números arábicos em ordem crescente. O sujeito pesquisado do Instituto ETHOS será identificado também pela letra “L” 200 (liderança), juntamente com o segundo grupo, seguido de número correspondente em ordem crescente. Um terceiro quadro, identificado pela letra “c” apresentará uma análise comparativa das falas dos dois grupos de sujeitos pesquisados. Logo após a apresentação destes três quadros “a”, “b” e “c” será apresentada a análise geral dos quadros. Os sujeitos pesquisados serão identificados desta forma para preservar o anonimato dos sujeitos e reafirmar o compromisso assumido pela pesquisadora para com os integrantes da pesquisa, diante do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido firmado entre as partes. 201 • Apresentação dos dados: citações e quadros devidamente numerados. Categoria Compreensão do conceito de responsabilidade social mediante a Lei dos SINAES Instituições SUJEITO P1 Compreensão: A ação que integra a Graduação, a Pesquisa e a Extensão. Periodicidade: As ações de Responsabilidade Social já fazem parte da rotina de empresas e cidadãos Objetivos: Melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento da comunidade em geral. Ações: Desenvolvimento e apoio de diversas iniciativas Envolvidos: Alunos, professores e funcionários. Área: Extensão SUJEITO P2 Compreensão: Guarda relação com sua função precípua de promover o desenvolvimento e a inclusão e emancipação social. Ações: Através da formação adequada no âmbito da graduação e da pósgraduação, da pesquisa e da extensão, realizadas com base no princípio de que essas atividades devem ocorrer de modo indissociado. Ações contrárias: A X é reconhecida nestes campos embora existam iniciativas no sentido de quebrar essa indissociabilidade e de direcionar a instituição para interesses privados. SUJEITO P3 Compreensão: Conjunto de princípios que estão contidos no seu Estatuto. Objetivos: Respeitar a diversidade e o pluralismo de idéias, sem discriminação de qualquer natureza; promover a universalidade do conhecimento e fomentar a interdisciplinaridade; ter compromisso com a qualidade, com a orientação humanística e com a preparação para o exercício pleno da cidadania ao desenvolver suas atividades; ter compromisso com a democratização da educação, no que concerne à gestão, à igualdade de oportunidade de acesso, e com a socialização de seus benefícios; e ter compromisso com a democracia, com o desenvolvimento cultural, artístico, tecnológico e socioeconômico do País, por meio da manutenção da paz, com a defesa dos direitos humanos e a preservação do meio ambiente. Ações: Desenvolver o ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociável SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa 202 SUJEITO P5 Compreensão: Desafio para a qualidade das relações com seus alunos, com seu quadro de colaboradores (funcionários e professores) e de fornecedores ou prestadores de serviços. Ocupar-se e preocupar-se com sua sustentabilidade econômico-financeira, bem como voltar seus olhos e suas atenções para a sustentabilidade ambiental, compreendida, aqui, não apenas, do ponto de vista micro (a Instituição e seu entorno direto), mas, igualmente, na sua dimensão macro, ou seja, da amplitude geográfica mais ampliada, que vai além de suas paredes e atinge, até mesmo, o próprio universo. A expressão “Responsabilidade Social”, normalmente, tem sido confundida com “assistencialismo”, “filantropia” ou ações outras que representem ato voluntário. Envolvidos: Cultivar adequadas e qualificadas relações com seus alunos, seus professores e funcionários, tornando-os coparticipante dos processos de gestão, envolvendo-os, também, nas discussões que tenham por foco a sustentabilidade econômica da Instituição, inclusive a partir de análises dos novos processos de competitividade no Ensino Superior. Ações: Presença forte nas ações voltadas ao “ambiente”, seja através dos cursos focados nesse tema (Ecologia, Química Ambiental, Pedagogia, Ciências Biológicas e outros), seja com uma presença marcante nas grandes discussões locais e regionais sobre o tema. Abrangência: Participar, ativamente, de inúmeros processos regionais de discussão dos temas que envolvem não só a cidade sede da Universidade, mas as demais cidades da região. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 Compreensão: Este conceito está largamente desenvolvido e entendido (como portador de significado) no contexto empresarial, lugar onde surgiu. Este conceito para as IES surge para dar concretização à exigência da LDB para que estas instituições se vinculem à sua região e se comprometam com o seu desenvolvimento. A Responsabilidade Social chega à IES como forma de comprometê-la a esta relação. Objetivos: O esforço é criar um liame entre a academia e o desenvolvimento local e regional. Ações: A Extensão, canal de comunicação entre Academia e Comunidade, se sentiu fortemente responsabilizada para dar vazão às políticas de Responsabilidade Social da IES. As atividades relacionadas às práticas de Responsabilidade Social se confundem com a Extensão, a Ação Comunitária e a Filantropia, realizada por meio de projetos sociais. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 1a – Compreensão do Conceito de Responsabilidade Social pelos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 203 Categoria Instituições SUJEITO L1 Compreensão do conceito de responsabilidade social mediante a Lei dos SINAES Compreensão: A Lei do SINAES estabelece efetivamente que a responsabilidade social da instituição será analisada e avaliada, no que se refere à sua contribuição em relação quatro aspectos; a) inclusão social, b) desenvolvimento econômico e social; c) defesa do meio ambiente, d) da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural. Estas questões, portanto, estão muito claramente estabelecidas. Ações: valorização da literatura regional, da música regional, recuperação econômica e social de aldeias de pescadores com uso de novas tecnologias de plantio e colheita no mar, nos rios e lagos da região, entre outras. SUJEITO L2 Compreensão: A Responsabilidade Social da instituição vem sendo aprimorada a cada ano. Objetivos: A adesão e participação de vários programas e projetos direcionados não só a inclusão de alunos advindos da rede pública bem como os que participam das cotas para afro-descendentes, indígenas e portadores de deficiência tem contribuído de forma bastante eficaz nesse processo de inclusão social. Ações: A Pró-Reitoria de Extensão tem desenvolvido alguns projetos em parceria com outras instituições como o projeto conexões de saberes e escola aberta, com o departamento de assuntos culturais que em conjunto com o departamento de artes desenvolvem vários projetos na área da cultura com um enfoque na cultura maranhense. Recentemente, foi criado o núcleo de acessibilidade da universidade e que tem a coordenação da PróReitoria de ensino. SUJEITO L3 Compreensão: Na formação de qualidade que oferece. As ações extensionistas de forma geral estão focadas na responsabilidade social. Objetivos: A instituição atua com projetos e atividades que atendem a comunidade atuando junto a elas na busca de melhores condições de saúde, moradia, educação. SUJEITO L4 Compreensão: O papel da responsabilidade social tem a ver com a função que a IES tem e tornar o local onde está inserida melhor de se viver. Ações: formar bons bacharéis e atuar em vários projetos de extensão e pesquisa. 204 SUJEITO L5 Compreensão: A responsabilidade social é inerente ao trabalho desenvolvido pelas IES, qual seja: produção do conhecimento em sua dimensão de ensino, pesquisa e extensão. Objetivos: Conhecimento este que deve estar voltado para a melhoria da sociedade no tocante à formação e ação de profissionais voltados ao crescimento humano e ao mundo do trabalho. SUJEITO L6 Compreensão: A relação, o contato, a troca, a interação com a comunidade local na qual está inserida, na forma de programa de serviço, na forma de programa de ensino, na forma de divulgação científica, na forma de interações na área do ensino, da pesquisa, dos serviços e da cultura. Na relação dela (da Universidade) com a territorialidade, com a sociedade civil e com os entes governamentais do local onde ela se insere e faz parte da sua própria história, da sua própria vocação. O programa de formação dos alunos desde o primeiro ano tem um espaço para as atividades chamada de Extensão Universitária, atende demandas sociais, que atende demanda de parte da população, que como o Estado não consegue cumpri todas as suas obrigações na área de saúde, na área de educação, na área de saneamento, nas mais variadas áreas. Objetivos: A universidade tem um papel acessório, um papel complementar, um papel cooperativo com as políticas públicas no sentido de atender as demandas sociais. Ações: Hospital-Escola que atende a política do SUS, ligada a Faculdade de Ciências Médicas e Saúde; a divisão de reabilitação e educação da área de comunicação, que tem uma escola de ensino fundamental dirigida as crianças oriundas de classes sociais desfavorecidas, no nível de ensino básico e ensino médio atende deficientes auditivos; uma clínica psicológica que atende demandas na área de saúde mental, pessoas que precisam de atendimento psicológico, psicopedagógico; um teatro que produz muitas peças e atividades de natureza cultural; a Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia que produz projetos ligados a área de energia elétrica, tecnologia da informação, formação e inclusão digital e desenvolvimento e qualificação de professores do ensino de física para o ensino médio. SUJEITO L7 Compreensão: Sistema de avaliação nacional considerável, de excelente qualidade. Talvez, o que se discute são os mecanismos como são feitos. Hoje, ainda não fica claro o poder do Estado e o poder das entidades privadas e do terceiro setor; e hoje está se revelando muito a confusão da responsabilidade social, institucional, enquanto ela é inserida no mercado, enquanto ela é inserida numa cidade, enquanto ela é importante na transformação deste espaço, com a assistência social propriamente dita, o fazer misericórdia, o fazer filantropia, o fazer, dentro deste conceito de assistencialismo. Acho isso muito interessante e profícuo para o Estado. A Universidade atendendo a área social, a área educacional, envolvendo os três leques: ensino, pesquisa e extensão. 205 Objetivos: Uma parceria entre o público e o privado. Ações: Projetos para acabar com a Prostituição Infantil e projetos voltados a atendimento ao idoso. SUJEITO L8 Compreensão: Declararam-se sem interesse em participar da pesquisa. SUJEITO L9 Compreensão: Não responderam a pesquisa. SUJEITOL10 Compreensão: Não responderam a pesquisa. Quadro 1b – Compreensão do Conceito de Responsabilidade Social para as Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 1 – De acordo com a Lei nº 10.861, de 14 de Abril de 2004 que institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), em seu artigo 3º, inciso III estabelece que as Instituições de Ensino Superior serão avaliadas quanto a seu papel de Responsabilidade Social. Como o (a) senhor (a) compreende este papel de “Responsabilidade Social”? E como a Instituição a que o (a) senhor (a) pertence ou representa atua nesta área? Quais ações são realizadas? PRESIDENTES LIDERANÇAS a) Ação que integra Graduação, a) A lei é clara: quatro aspectos – Pesquisa e Extensão; inclusão social, desenvolvimento b) Guarda relação com sua função econômico e social, defesa do meio ambiente, da memória cultural, da precípua de promover o desenvolvimento e a inclusão e produção artística e do patrimônio cultural; emancipação social; b) Adesão e participação de vários c) Conjunto de princípios contidos no programas e projetos de inclusão de Estatuto; alunos, afro-descendentes, indígenas e d) Qualidade das relações com seus portadores de deficiência; alunos, colaboradores, fornecedores ou c) Ações extensionistas de forma geral; prestadores de serviço, d) Função que a IES tem: tornar o local sustentabilidade econômico-financeira, onde está inserida melhor de se viver; e) É inerente ao trabalho desenvolvido sustentabilidade ambiental; e) Esforço é criar um liame entre a pela IES: produção do conhecimento em academia e o desenvolvimento local e sua dimensão do ensino, pesquisa e regional; extensão; f) Interação com a comunidade, programas de ensino e divulgação científica na áreas de ensino, pesquisa e 206 extensão – atividades de extensão universitária que atenda as demandas sociais; g) Confusão sobre o conceito por parte das IES – transformação do espaço onde está inserida atendendo a área social, prestando assistência social. Quadro 1c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (1a/1b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Ao analisar a fala dos sujeitos pesquisados se identifica quatro grupos com percepções distintas: a) GESTÃO – aqueles que percebem a universidade como um todo; b) RSC – aqueles que vinculam visão corporativa a Responsabilidade Social da IES; c) EXTENSÃO – aqueles que visualizam este conceito atrelado a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão; d) POLÍTICO – aqueles que afirmam que a lei é clara ao definir o conceito. Um aspecto relevante é que um dos sujeitos pesquisados destaca o conceito de Responsabilidade Social da IES atrelado ao processo de gestão da Universidade, baseandose na análise de competitividade estabelecida no Ensino Superior Brasileiro, a partir da implementação da Lei dos SINAES. Outros dois sujeitos pesquisados conseguirem descrever a abrangência e complexidade deste conceito a partir da relação precípua que envolve a universidade em promover o desenvolvimento e a inclusão e emancipação social, respeitando a diversidade e o pluralismo de idéias, sem discriminação de qualquer natureza, promovendo a universalidade do conhecimento através do compromisso com a qualidade voltada a uma formação humanística, tendo compromisso com a educação, gestão, igualdade de oportunidade de acesso, por meio da paz. Outros se posicionaram afirmando que a Responsabilidade Social das IES envolve uma relação mais ampla entre alunos, professores, funcionários e fornecedores, buscando 207 sustentabilidade da Universidade e a preocupação ambiental de forma mais abrangente. Esta compreensão se assemelha a definição do conceito de Responsabilidade Social Corporativa. Uma afirmação de outro sujeito pesquisado pode ser destacada quando ele afirma categoricamente que este conceito de Responsabilidade Social das IES está arraigado no contexto empresarial, onde teve seu início. A compreensão desta liderança estabelece que o conceito de Responsabilidade Social no Ensino Superior surgiu com o intuito de comprometer a Universidade com o desenvolvimento local e regional, criando o que ele denominou de “liame entre a academia e o desenvolvimento local e regional”. Diante disto, coube aos projetos de extensão sentirem-se responsabilizados a cumprir o que havia sido determinado pela Lei. Ainda referenciando o sujeito pesquisado, ele afirma que “a Responsabilidade Social se confunde com a Extensão, Ação Comunitária e a Filantropia realizado por meio de projetos sociais”. Em relação a percepção do conceito de Responsabilidade Social das IES se caracterizar como sendo uma prática que envolve a graduação, pesquisa e extensão indissociavelmente, como classificar então as IES que não se caracterizam como universidade e que, portanto, não são, na forma da lei, responsáveis por desenvolver pesquisa e extensão, e estarem vinculadas ao mesmo processo avaliativo aplicado pelo poder público? Tudo leva a crer que há um equívoco nesta relação. A LDB admite uma variedade de tipos de instituições de ensino superior que compreendem, segundo PIMENTA e ANASTASIOU (2008): a Universidade, que se caracteriza pela autonomia didática, administrativa e financeira e por desenvolver ensino, pesquisa e extensão; os Centros Universitários que atuam em uma ou mais áreas, responsáveis por graduação e ensino de qualidade; as Faculdades Integradas que se caracterizam por reunir instituições de diferentes áreas do conhecimento, oferecendo ensino e, em alguns casos, extensão e pesquisa e os Institutos e Escolas Superiores, que atuam em área específica e que podem ou não realizar pesquisa, estando vinculadas ao Conselho Nacional de Educação para criação de novos cursos. Apenas diante desta análise da LDB percebe-se que a Lei dos SINAES estabelece que as Instituições de Ensino Superior, e não apenas as Universidades, serão avaliadas quanto a seu papel de Responsabilidade Social. Isto, portanto, significa que o conceito de Responsabilidade Social ultrapassa os limites do ensino, pesquisa e extensão e não apenas se caracteriza como uma prática da Universidade e sim de todas as Instituições de Ensino Superior. Para outra 208 liderança, o conceito de Responsabilidade Social das IES complementa a função social da Universidade, formando “bons bacharéis para atuar em vários projetos de extensão e pesquisa”. Bons bacharéis podendo ser compreendido como a responsabilidade da Universidade em formar profissionais qualificados para atender ao mercado de trabalho. Pode-se compreender, diante da fala do sujeito pesquisado, que a Responsabilidade Social da IES deveria ser a lógica do mercado. Esta é uma afirmação que PIMENTA e ANASTASIOU (2008) se contrapõem de forma veemente, afirmando que a Universidade ou IES deveria se preocupar em desenvolver um processo educativo voltado a formação humanista, a formação integral da pessoa humana. Uma liderança pesquisada afirma que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior é positivo, porém ainda não define com clareza qual é o papel do Estado, qual é o papel das entidades privadas e o papel do Terceiro Setor. Esta liderança afirma que muitos projetos de extensão estão apresentando características assistencialistas, características de filantropia, sendo isto interessante ao Estado que se exime de uma responsabilidade ou de um papel que deveria desempenhar. A pesquisadora compreende que os projetos de extensão das IES e suas práticas acadêmicas necessitam ser distinguidas de ações assistencialistas desenvolvidas por instituições filantrópicas, entidades assistencialistas e ONGs. No capítulo II, no subtítulo intitulado “Surgimento do Terceiro Setor – Responsabilidades Inovadas”, a pesquisadora apresenta a constituição da ONGs, OSCIPs e OSs, definindo suas competências baseadas na legislação atual e que são diferenciadas das competências de uma IES. Na fala dos sujeitos pesquisados que representam ‘lideranças’ do Ensino Superior Brasileiro se percebe nas afirmações aqueles que estiveram envolvidos com a elaboração da legislação, aqueles que a interpretam e aqueles que a executam e ainda não tem clareza ou informações suficientes a respeito do tema. Ao ser questionado sobre a compreensão do conceito de Responsabilidade Social das IES perante a Lei dos SINAES, um dos sujeitos pesquisados se expressa afirmando que a lei é clara ao definir a abrangência do conceito. A pesquisadora compreende que este representa o grupo Político, talvez, porque tenha estado envolvido com a elaboração da legislação vigente. Pode-se afirmar também que a lei não apresenta sinais de clareza tão evidentes em função de não haver uma unanimidade entre as lideranças a respeito deste conceito. 209 Estas mesmas lideranças ao serem questionadas sobre as ações que são desenvolvidas pelas instituições a que pertenciam, a maioria delas, não conseguiram definir as ações de Responsabilidade Social que devem ser desenvolvidas pelas IES a partir de sua compreensão como Presidente de um órgão que representa na pesquisa. A maioria fez referência às ações que são realizadas nas Instituições de Ensino Superior na qual atuam como reitores, próreitores de pesquisa, de graduação e não sobre o que é discutido, debatido, nas Associações, nos Conselhos, nos Fóruns e Sindicatos em que são Presidentes. Não conseguiram se despir dos cargos que ocupam nas IES. Categoria Surgimento: a Lei dos SINAES foi inspirada... Instituições SUJEITO P1 Na Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, bem como Os quatro pilares da Educação são conceitos de fundamento da educação baseado no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. A educação deve se comprometer cada vez mais em oferecer um ensino de qualidade, que atenda às demandas do mercado e que forme cidadãos conscientes do seu papel na transformação de uma sociedade mais justa, ou seja, cumprir sua função social. SUJEITO P2 Na perspectiva da padronização das IES, com desobrigação do Estado quanto ao seu financiamento e como processo que permita ao governo obter dados para suas políticas e necessidades de apresentar indicadores de metas no setor. SUJEITO P3 No Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub), que foi implementado no Governo Itamar Franco. O Paiub foi um programa que pensou a avaliação institucional em toda sua complexidade e procurou implantar – sem premiação e sem punição – a cultura da avaliação organizada nas universidades brasileiras, tanto públicas quanto privadas. Infelizmente ele foi praticamente desativado com a implementação do exame nacional de cursos, o provão, no Governo Fernando Henrique. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 No propósito de avaliação, de regulação, embora tenha utilizado, positivamente, alguns indicativos relevantes, dentre os quais o da responsabilidade social. Não tem o SINAES, entretanto, o poder indutivo de ações dessa natureza, porque ainda trabalha, demasiadamente, a partir de indicativos numéricos e não de uma leitura “qualitativa” das ações das Instituições de Ensino Superior. A concepção legal é válida; no entanto, 210 sua aplicação ainda deixa muito a desejar. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 A Prática da Pesquisa e o investimento a ela destinado tinham uma cultura que provocava o distanciamento do pesquisador (e da ciência) das realidades e necessidades sociais. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 2a – Compreensão do surgimento da Lei dos SINAES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Categoria Surgimento: a Lei dos SINAES foi inspirada... Instituições SUJEITO L1 Ela é uma nova síntese: ela inclui muito do Paiub do início dos anos 90, inclui as experiências com as comissões de especialistas da SESu, também do início dos anos 90, e inclui a experiência do provão. A única questão verdadeiramente nova no SINAES é o seu conceito de avaliação institucional, definindo-a e diferenciando-a da avaliação de programas, cursos e de outras avaliações menores. A avaliação institucional é a alma do SINAES e torna este sistema, combinado à avaliação de cursos e de desempenho de ingressantes e concluintes, único no mundo. SUJEITO L2 Criar um mecanismo mais eficaz para avaliação dos cursos de graduação, propiciando assim uma radiografia mais fidedigna no que diz respeito aos cursos, aos alunos, a formação acadêmica, estrutura física e laboratorial para o desenvolvimento das atividades acadêmicas. SUJEITO L3 Ela tem falhas, mas constitui-se num avanço no que diz respeito a avaliação da educação superior. Os processos de avaliação externa tem também por finalidade a regulação das IES e que recebe influência das reformas já ocorridas em outros países. SUJEITO L4 Não tenho idéia SUJEITO L5 Integrar concepções, processos e procedimentos sobre avaliação, antes dispersos em vários dispositivos legais e instâncias administrativas, agora integrados num “corpus” único para regulação, avaliação e aperfeiçoamento da educação. SUJEITO L6 No tripé, na idéia da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. O SINAES reflete esse tripé da extensão universitária, que em cada Instituição de Ensino Superior está organizado de uma determinada maneira, viabilizada através de ações, através de projetos; que 211 acontecem e que fazem parte hoje já dos Balanços de Responsabilidade Social das Instituições Universitárias. SUJEITO L7 A avaliação da instituição não é simplesmente técnica, ela é humanística, é de transformação da sociedade. Ela tem como objetivo dizer porque está ai, para que o governo saiba disso, até para tentar melhorar e sanear os programas e serviços disponíveis para a população. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 2b – Compreensão do surgimento da Lei dos SINAES na percepção das Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 2 – Na sua concepção, em que a Lei dos SINAES foi inspirada para ser elaborada? PRESIDENTES LIDERANÇAS a) Nos quatro pilares da Educação; b) Padronização das IES = Desobrigação do Estado – obter dados para políticas; c) PAIUB; d) Avaliação e regulação – leitura qualitativa (SINAES); e) A prática da pesquisa e o investimento a ela destinado. a) PAIUB, Comissão de especialistas e Provão = SINAES – único no mundo; b) Mecanismo eficaz para avaliação dos cursos de graduação; c) Avanço em avaliação - Regulação das IES – influências de outras reformas de outros países; d) Não tenho idéia; e) Integrar concepções, processos e procedimentos de avaliação num único “corpus” – regulação, avaliação e aperfeiçoamento; f) No tripé, ensino, pesquisa e extensão – indissociabilidade; g) Avaliação humanística – melhorar os serviços disponíveis para a população. Quadro 2c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (2a/2b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 212 • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Quando questionados em relação à concepção da Lei dos SINAES, em que ela havia sido baseada para sua implementação, as respostas dos sujeitos pesquisados pode ser dividida em grupos distintos quanto a esta compreensão: a) PROCESSOS AVALIATIVOS ANTERIORES; b) RELATÓRIO DA UNESCO; c) IMPOSIÇÃO DO PODER PÚBLICO; d) INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS DE AVALIAÇÃO; e) DESCONHECIMENTO. A afirmação de um sujeito pesquisado é que a Lei dos SINAES foi inspirada na experiência do PAIUB, na experiência das comissões de especialistas em avaliação e também na experiência do Provão. Para esta liderança, a avaliação institucional é a essência da Lei dos SINAES e um sistema único no mundo. Esta afirmação reflete a crença desta liderança neste processo de avaliação considerado amplo e único e de extrema importância para a Educação Superior Brasileira. Outro sujeito pesquisado defende a idéia de que a Lei dos SINAES foi criada a partir do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) que havia sido implementado no Governo de Itamar Franco. Esta liderança considera que o PAIUB foi um programa de avaliação institucional que procurou implementar uma cultura de avaliação organizada, sem premiação e sem punição, tanto para as Universidades Privadas quanto para as Universidades Públicas. Esta Liderança representa uma instituição de ensino superior pública. Compreende-se, a partir de seus relatos, que seu conhecimento da história dos processos avaliativos pelo poder público às instituições de ensino superior está atrelada aos anos de experiência que as universidades públicas detêm neste país e por se caracterizarem em instituições com estrutura administrativa que remonta a história das universidades, sendo destacado este tema pela pesquisadora no capítulo I, onde foi apresentado um resgate da evolução do histórico das universidades no Brasil. Não afirmase com isto que as IES privadas não disponham de uma estrutura administrativa adequada, e sim, ressalta-se a importância da experiência acumulada das instituições públicas, apesar da universidade ser uma instituição extremamente nova neste país. As instituições privadas 213 intensificaram seu surgimento a partir dos anos 90, podendo-se considerar uma história muito recente para compreensão da complexidade e desenvolvimento destes processos avaliativos em todo o país. Um dos sujeitos pesquisados afirmou que a referida lei havia sido criada a partir da Declaração Mundial sobre Educação para Todos e, como também, sob os Quatro Pilares da Educação apresentado em relatório da UNESCO. A afirmação deste sujeito defende que a partir destes documentos e da criação da Lei dos SINAES, a educação se compromete a oferecer ensino de qualidade, que atenda às necessidades do mercado, formando cidadãos conscientes para a construção de uma sociedade mais justa, cumprindo com o que ele definiu como sendo a função social da educação. Outro Presidente representante das instituições pesquisadas afirma que o objetivo principal em se criar a Lei dos SINAES foi padronizar as IES, desobrigando o Estado de seu financiamento e como processo para o governo obter dados para criação de políticas no setor do Ensino Superior. Para outra liderança o propósito desta lei é de avaliação e regulação. Considera os SINAES ainda um processo quantitativo, sem a preocupação ou sem mecanismos para avaliar qualitativamente as ações que são desenvolvidas pelas IES no Brasil. Outro sujeito pesquisado refere-se ao SINAES como um sistema de avaliação que apresenta falhas, mas pode ser considerado como um avanço para o ensino superior brasileiro e teve como objetivo, a criação da lei, a regulação das IES pelo Estado. Integrar concepções, processos e procedimentos sobre avaliação, antes dispersos em vários dispositivos legais – esta é a afirmação de um dos sujeitos pesquisados com relação ao embasamento da criação da Lei dos SINAES. O objetivo principal da lei, de acordo com esta liderança, é de regulação, avaliação e aperfeiçoamento da educação superior brasileira. Um dos sujeitos pesquisados foi categórico ao afirmar que “não tem idéia” em que a Lei dos SINAES foi inspirada para sua criação. Esta afirmação retrata a necessidade de ampliar debates sobre a lei de um modo geral e não apenas com relação à compreensão do conceito de Responsabilidade Social das IES, que também não possui uma definição concreta, nem unânime entre as lideranças. 214 Tem-se como princípio que todas as lideranças pesquisadas neste trabalho e que representam o Ensino Superior Brasileiro possuem um papel de influência na elaboração das políticas públicas no país, e que, diante disto, necessitam ter conhecimento detalhado da legislação do setor. Um aspecto que se destaca nas falas dos sujeitos pesquisados refere-se ao fato de nenhum deles se manifestar contrário a um sistema nacional de avaliação. Todas as lideranças pesquisadas consideram a Lei dos SINAES um avanço como sistema de avaliação para o ensino superior brasileiro, mesmo apresentando algumas críticas com relação à mensuração ou aspectos do processo, mas não contrários a uma cultura de avaliação que, parece, consolidada no cenário do setor. A pesquisadora apresenta uma análise sucinta da evolução dos processos avaliativos às instituições de ensino superior no país, a partir dos anos 80, apresentado no capítulo II. Categoria Conceito de Responsabilidade Social das IES é... Instituições SUJEITO P1 Compreendida no âmbito pedagógico e administrativo. No aspecto didático pedagógico: ações, projetos e programas que integram os diversos saberes e conectam a graduação à pesquisa e a extensão universitária. No âmbito administrativo: respeito aos princípios éticos, legais e financeiros para construção da prática interna, quanto compromisso com a educação e ao mercado como um todo. SUJEITO P2 Esse não é um conceito bem estabelecido e ainda menos homogêneo no âmbito das IES, que permita responder a questão. SUJEITO P3 Um conjunto de princípios e que estão contidos no Estatuto da Instituição. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 Ainda predomina um entendimento mais limitado, por boa parte das Instituições de Ensino Superior brasileiras, e isso pode decorrer da própria forma como o processo de avaliação acontece. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa 215 SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 Há um problema conceitual com a questão da Responsabilidade Social aplicada à Instituição de Educação Superior. Primeiro porque este conceito está largamente desenvolvido e entendido (como portador de significado) no contexto empresarial, lugar onde surgiu. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 3a – O conceito de Responsabilidade Social das Instituições de Ensino Superior na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Categoria Instituições Conceito de Responsabilidade Social das IES é... SUJEITO L1 A lei estabelece uma definição bastante clara, com grandes possibilidades para projetos de extensão e de pesquisa. SUJEITO L2 Cada instituição através dos seus gestores tem um programa e metas a serem desenvolvidas durante sua gestão. A instituição tem um projeto macro a ser desenvolvido: “a universidade que cresce com inovação e inclusão social”, garantir acesso, permanência e formação dos alunos. SUJEITO L3 Ao estabelecer a missão institucional, a Universidade expressa seu compromisso social. SUJEITO L4 O papel da responsabilidade social tem a ver com a função que a IES tem e tornar o local onde está inserida melhor de se viver. SUJEITO L5 Em linhas gerais está articulada à prestação de serviços. SUJEITO L6 A universidade é uma instituição social, portanto tem íntimas relações com a territorialidade no qual está inserida. 216 SUJEITO L7 Não tem um conceito formado – uniforme. Não são para todas o mesmo conceito. Cada uma faz o seu próprio conceito; ele se confunde com assistência social. A responsabilidade social é o grau de amadurecimento dela (da Universidade) naquela comunidade, e o quanto ela consegue transformar o ambiente. Esta transformação deste ambiente, pela educação, é o conceito de responsabilidade, que a instituição que eu atuo acredita e pratica. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 3b – O conceito de Responsabilidade Social das Instituições de Ensino Superior na percepção das Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 3 – Qual é o conceito que as Instituições de Ensino Superior tem sobre “Responsabilidade Social das IES”? PRESIDENTES LIDERANÇAS a) Âmbito pedagógico e administrativo – projetos entre graduação, pesquisa e extensão – compromisso com a educação e o mercado com um todo; a) A Lei estabelece uma definição bastante clara, com grandes possibilidade para projetos de extensão e pesquisa; b) Não há um conceito bem estabelecido e ainda menos homogêneo no âmbito das IES; c) Princípios contidos no Estatuto da IES; b) Projeto macro – acesso, permanência e formação dos alunos; c) Missão institucional compromisso social; – d) Função da IES: melhorar o local onde está inserida melhor de se viver; e) Prestação de serviços; d) Predomina um entendimento limitado em função do processo de avaliação como ocorre; f) Relações territorialidade; e) Há um problema conceitual das IES -Conceito ainda muito desenvolvido e entendido no contexto empresarial. g) Não tem um conceito formado – uniforme = Não é para todos o mesmo conceito; íntimas com a Quadro 3c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (3a/3b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 217 • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Quando perguntado sobre qual o conceito que as Instituições de Ensino Superior tem sobre “Responsabilidade Social das IES”, os sujeitos pesquisados apresentaram duas posições diferentes: a) AUSÊNCIA DE DEFINIÇÃO DO CONCEITO; b) PROJETOS DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO (Prestação de Serviços). Um dos sujeitos pesquisados declarou que este não é um conceito bem estabelecido e “ainda menos homogêneo no âmbito das IES”, portanto, esta questão, segundo o entrevistado, não poderia ser respondida. Outro sujeito pesquisado declarou também que ainda existe um entendimento limitado por boa parte das IES brasileiras, enfatizando que isto poderia decorrer do processo de avaliação que ocorre atualmente. Há ainda hoje, mesmo após seis anos da implementação da lei, um problema conceitual com a questão da Responsabilidade Social das IES, muito ainda arraigado ao contexto empresarial, destaca um dos sujeitos pesquisados. Uma liderança afirmou que não há um conceito formado, uniforme. Esta liderança declarou que hoje cada instituição compreende de uma forma, “cada um faz o seu próprio conceito” e, muitas vezes, se confunde com assistência social. Para a instituição que esta liderança representa a Responsabilidade Social pode ser compreendida como o “grau de amadurecimento dela (da Universidade) naquela comunidade” e o quanto ela consegue transformar o ambiente onde está inserida. Outro sujeito pesquisado afirmou que a Responsabilidade Social das IES tem a ver com a função social que a IES tem ou desempenha, tornando o local onde está inserida em um lugar melhor para se viver. Outra liderança expôs que ao estabelecer a missão institucional, a universidade expressa seu compromisso social. A Responsabilidade Social das IES se faz compreender por um conjunto de princípios que estão contidos no Estatuto da Instituição defende um dos sujeitos pesquisados. Talvez, esta liderança possa ter se equivocado ao responder esta pergunta, pois o objetivo era pesquisar a compreensão do Presidente de um órgão específico do ensino superior e não o representante de um cargo em uma determinada IES. A resposta deste sujeito refere-se à IES 218 da qual ele atua e não como Presidente representante de uma Associação, Conselho, Fórum ou Sindicato do Ensino Superior Brasileiro. Percebe-se, talvez, uma dificuldade pessoal em desempenhar diferentes papéis de acordo com o momento solicitado. O conceito de Responsabilidade Social das IES para outra liderança pode ser compreendido no âmbito pedagógico e administrativo, desenvolvendo ações, projetos e programas que tenham como objetivo unir a graduação à pesquisa e a extensão universitária e respeitar princípios éticos, legais e financeiros, assumindo compromisso com a educação e com o mercado como um todo. Outra liderança declarou que a Responsabilidade Social das IES está atrelada à prestação de serviços desta universidade para com a comunidade e a sociedade. A lei estabelece uma definição bastante clara, afirma um dos sujeitos pesquisados enfaticamente, com grandes possibilidades para projetos de extensão e de pesquisa. De acordo com as respostas apresentadas pelos sujeitos pesquisados pode-se afirmar que, como ocorreu em questões anteriores, o conceito de Responsabilidade Social das IES está diretamente atrelado ao modelo de gestão vigente e não se consegue distinguir ou definir com clareza os conceitos de Responsabilidade Social, função social, compromisso social e missão institucional. Após seis anos da implementação da Lei dos SINAES, percebe-se a ausência evidente da definição de um conceito de Responsabilidade Social para as Instituições de Ensino Superior. Tema este que necessita ser discutido, debatido e vivenciado em todas as IES no Brasil. 219 Categoria Instituições A relação do conceito de Responsabilidade Social com o ensino, pesquisa e extensão SUJEITO P1 No aspecto didático pedagógico articular ações, projetos e programas que integram os diversos saberes e conectam a graduação à pesquisa e a extensão universitária. No âmbito administrativo o respeito aos princípios éticos, legais e financeiros colaborando para a construção do compromisso com a educação e ao mercado como um todo. SUJEITO P2 Deve existir essa relação, no entanto, no geral se procura se distanciar dela. Novamente é muito variável a forma como as IES encaram o papel que deve ser dado a este conceito. SUJEITO P3 Respeitar a diversidade e o pluralismo de idéias, sem discriminação de qualquer natureza; desenvolver o ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociável; promover a universalidade do conhecimento e fomentar a interdisciplinaridade; ter compromisso com a qualidade, com a orientação humanística e com a preparação para o exercício pleno da cidadania ao desenvolver suas atividades; ter compromisso com a democratização da educação, no que concerne à gestão, à igualdade de oportunidade de acesso, e com a socialização de seus benefícios; e ter compromisso com a democracia, com o desenvolvimento cultural, artístico, tecnológico e socioeconômico do País, por meio da manutenção da paz, com a defesa dos direitos humanos e a preservação do meio ambiente. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 Deveria existir uma forte relação entre esses conceitos. No entanto, isso não é, ainda, uma realidade. A qualidade do ensino e da pesquisa, de modo especial, é medida por indicativos numéricos: nota do ENADE, número de professores com titulação de mestre ou doutor, número de professores com tempo integral, volume de pesquisas, quantidade de publicações em periódicos importantes, etc. etc. Eventualmente, o exame dos trabalhos de extensão, pode ser olhado sob a perspectiva da responsabilidade social, mas seu peso relativo é pouco significativo. Dificilmente, será melhor “avaliada” uma Instituição com poucos projetos de alta relevância social ou ambiental, em relação a uma outra com número expressivo de trabalhos puramente burocráticos, mais “papel” do que “ação”. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 Não há como vincular Responsabilidade Social com qualidade de Ensino, Pesquisa ou Extensão. O objeto do PDI e do PPI de uma IES 220 deveria ser ele todo um ato, um compromisso aberto e público da IES para com a coletividade do seu entorno ou região. Um compromisso com o desenvolvimento e projeto de país e de nação. Se não há esse compromisso, a IES está equivocada. E este compromisso não se confunde com Responsabilidade Social, pois este compromisso está diretamente vinculado à sua gênese e natureza. Citando um amigo da Universidade Católica de Brasília, a Universidade é o lugar da Paideía e da Politéia, da Educação e da Cidadania – não cabe o conceito de Responsabilidade Social nisso, seria diminuir o significado da Universidade. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 4a – O conceito de Responsabilidade Social e o trinômio: qualidade de ensino, pesquisa e extensão na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Categoria Instituições A relação do conceito de Responsabilidade Social com o ensino, pesquisa e extensão SUJEITO L1 Com certeza! A qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão não é um conceito abstrato. Ela está sempre fortemente associada à sua utilidade para alguém, em algum tempo e espaço. Ela pode ser uma qualidade a serviço de poucos, como ocorre em universidades historicamente elitistas que consideram que quantidade vem em detrimento da qualidade e por isso excluem. A tônica do país tem sido exatamente esta em sua história. Hoje convivemos com o absurdo do elitismo na educação superior. Se o indicador do SINAES, que trata da responsabilidade social, conseguir reduzir o elitismo brasileiro já terá feito um papel importante. Além disso, é sabido, que a pesquisa e a extensão sempre estão associadas à melhoria do ensino. No caso específico, a extensão e a pesquisa, preocupadas com a pertinência social, darão também maior pertinência ao ensino ministrado. SUJEITO L2 Claro! A Responsabilidade Social a que uma universidade se predispõe a desempenhar não pode ser separada da questão do ensino no que concerne à formação técnica do indivíduo, a pesquisa que irá fornecer subsídios para o desenvolvimento do ensino e, principalmente, com relação à extensão, onde se verifica uma via de mão dupla entre o saber acadêmico e o saber popular. SUJEITO L3 Penso que sim. Acredito que o conceito de responsabilidade social está sempre presente na instituição. Todas as ações institucionais devem levar em conta principalmente seu papel social e sua inserção na comunidade. 221 SUJEITO L4 Tudo a ver, pois: a) qualidade de ensino cumpre a responsabilidade social em formar verdadeiros cidadãos; b) a Pesquisa permite que a IES aprofunde temas que podem e devem ser aplicados; c) Extensão, pois efetivamente se pode atuar junto à comunidade, auxiliando na resolução de problemas. SUJEITO L5 A responsabilidade social é inerente ao trabalho desenvolvido pelas IES, qual seja: produção do conhecimento em sua dimensão de ensino, pesquisa e extensão. SUJEITO L6 Tem! A extensão tem um papel fundamental hoje na avaliação, na formação do estudante de graduação e de pós-graduação para atuação nas políticas públicas, na relação com a própria comunidade. SUJEITO L7 A extensão está galgada neste fazer das instituições com a comunidade. E agora a extensão por si, ela provoca pesquisa e ao mesmo tempo ela vem do ensino que se desenvolve em sala de aula para o ensino. Então, para a mudança, é principalmente da pessoa em cima da vivência; então, não se pode dissociar ensino, pesquisa e extensão. Ensino, pesquisa e extensão, com responsabilidade social, é tudo o que se quer; isto, as vezes se tem dificuldade de colocar em prática, porque nem todas as pessoas acreditam nisso; não esse tipo de formação, não tem esse tipo de universo, esta visão de ciência. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa. SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 4b – O conceito de Responsabilidade Social e o trinômio: qualidade de ensino, pesquisa e extensão na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 222 QUESTÃO 4 – Na sua opinião, existe alguma relação do conceito de Responsabilidade Social com o trinômio: Qualidade de ensino, pesquisa e extensão? Que papel reserva este conceito às instituições de ensino superior? PRESIDENTES LIDERANÇAS a) Articular ações que integrem: a) Com certeza! Ensino, pesquisa e graduação, pesquisa e extensão – extensão não é um conceito abstrato – SINAES – reduzir o elitismo existente na compromisso: educação e o mercado; b) Deve existir essa relação – no educação superior; b) Claro! RSIES = Ensino (formação geral, se procura distanciar dela; c) Desenvolver o ensino, a pesquisa e técnica), pesquisa (fornecer subsídios) e a extensão de forma indissociável, extensão (saber acadêmico + saber popular); orientação humanística, exercício pleno da cidadania, oportunidade de acesso; c) Penso que sim! Ações institucionais x papel social – inserção na comunidade; d) Deveria existir uma forte relação entre esses conceitos – mas ainda não é d) Tudo a ver! Ensino (formar uma realidade; cidadãos), pesquisa (aprofundar temas) e extensão (atuar na comunidade = resolução e) Não há como vincular RSIES com de problemas); ensino, pesquisa e extensão. e) Trabalho desenvolvido pela IES = produção do conhecimento – ensino, pesquisa e extensão; f) Tem! A extensão= formação do estudante para atuar na elaboração de políticas públicas; g) Ensino, pesquisa e extensão, com responsabilidade social, o que se quer. Quadro 4c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (4a/4b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Questionados sobre a existência de alguma relação do conceito de Responsabilidade Social com o trinômio: qualidade de ensino, pesquisa e extensão e que papel este conceito reservaria às Instituições de Ensino Superior, a maioria dos sujeitos pesquisados respondeu: HÁ RELAÇÃO RESPONSABILIDADE (OU DEVERIA SOCIAL: EXISTIR) QUALIDADE DE ENTRE ENSINO, O CONCEITO PESQUISA E EXTENSÃO. Um dos sujeitos pesquisados declara que a qualidade de ensino, pesquisa e extensão não é um conceito abstrato. Ele afirma que as universidades brasileiras são historicamente 223 elitistas, atendendo a uma minoria privilegiada. Este sujeito afirma que se o “indicador do SINAES, que trata da Responsabilidade Social, conseguir reduzir o elitismo brasileiro já terá feito um papel importante”. Aqui, uma referência a Responsabilidade Social das IES considerando-a como um instrumento para possibilitar o acesso à grande parcela da população à Universidade. Talvez, este seja o maior desafio da Universidade na atualidade. Deveria existir essa relação, mas no geral se procura distanciar dela, afirma outro sujeito pesquisado. Declara que, como na questão anterior, é muito variável a forma como as IES encaram o papel que deve ser dado a este conceito. Outro sujeito pesquisado parece concordar com a afirmação do sujeito anterior, declarando também que deveria existir uma forte relação entre esses conceitos, mas também afirma que ainda isto não é uma realidade. A crítica deste sujeito está relacionada ao processo avaliativo atualmente apresentar um caráter quantitativo em detrimento ao qualitativo. Ele afirma que se a IES tiver poucos projetos de extensão que tenham alta relevância social ou ambiental não será melhor avaliada que outra que possua um número expressivo de trabalhos puramente burocráticos, “mais de papel do que de ação”. Outra liderança afirma que a Responsabilidade Social é inerente ao trabalho desenvolvido pelas IES, que envolve produção do conhecimento em sua dimensão de ensino, pesquisa e extensão. Qualidade de ensino, pesquisa e extensão para outro sujeito pesquisado significa formar cidadãos, aprofundar temas através da pesquisa e auxiliar a comunidade na resolução de seus problemas. Outro aspecto relevante a ser destacado por uma liderança pesquisada refere-se a sua percepção quanto ao papel da extensão na Universidade. Esta liderança afirma que a formação do estudante de graduação e de pós-graduação interfere diretamente na atuação destes como participantes, atuantes, na elaboração de políticas públicas em relação à comunidade. Talvez, esta seja uma aproximação da definição do conceito de Responsabilidade Social das IES: a atuação dos estudantes, a partir dos conhecimentos adquiridos e desenvolvidos na Universidade, na avaliação das condições da realidade daquela comunidade, com o objetivo de apresentar propostas para melhoria da qualidade de vida da população, contribuindo também na elaboração de políticas públicas que beneficiem aquela sociedade. 224 Outra liderança é enfática ao afirmar que “não há como vincular Responsabilidade Social com a qualidade de ensino, pesquisa e extensão”. Na sua concepção, o conceito de Responsabilidade Social deveria ser “um compromisso aberto e público da IES para com a coletividade do seu entorno ou região. Um compromisso com o desenvolvimento e projeto de país e nação”. Este compromisso, ainda afirma o sujeito pesquisado, não se confunde com Responsabilidade Social, pois este compromisso está vinculdado a sua gênese (a gênese da IES). A pesquisadora, complementando a percepção do entrevistado, compreende que o conceito de Responsabilidade Social parece ser muito mais abrangente e complexo do que o que se tem vivenciado, discutido e apresentado pelas IES até o momento. O compromisso da Responsabilidade Social ultrapassa os muros da Universidade. Esse “compromisso” da Universidade não pode ser reduzido à qualidade de ensino, pesquisa e extensão porque este pode se caracterizar como o seu papel social. Este é o compromisso que as IES tem para com a educação, esta é sua atividade fim, é para isto que são constituídas e não podem ser “premiadas” por realizar, concretizar ações que são de sua competência como instituição de ensino superior. A pesquisadora apresenta uma referência, baseada em pressupostos teóricos, do papel social da universidade no capítulo II. O conceito de Responsabilidade Social é muito mais abrangente do que as atividades desempenhadas por todas as IES e não apenas as Universidades. Ainda referenciando a percepção da pesquisadora, se o conceito de Responsabilidade Social fosse reduzido à qualidade de ensino, pesquisa e extensão somente as Universidades estariam aptas a serem avaliadas por este sistema nacional de avaliação, já que os Centros Universitários, as Faculdades Integradas, os Institutos e Escolas Superiores não são obrigados pela legislação vigente no país a desenvolver pesquisa e extensão. Então, porque o conceito de Responsabilidade Social é aplicável a todas as IES? Outra liderança afirma que a Responsabilidade Social está diretamente relacionada à questão do ensino, que visa à formação técnica do indivíduo, a pesquisa que fornecerá subsídios para o aprimoramento do ensino e a extensão onde se concretiza o saber acadêmico com o saber popular. Esta liderança afirma que a Universidade deve ir até a comunidade, ouvir as pessoas, respeitar suas experiências e unir o conhecimento científico com o 225 conhecimento popular. Já defendia Paulo Freire esta prática, o “Saber de Experiência Feito”. Categoria A Proposta dos SINAES às IES Instituições SUJEITO P1 A educação pública ou privada deve se comprometer em oferecer um ensino de qualidade, que atenda às demandas do mercado e que forme cidadãos conscientes do seu papel na transformação de uma sociedade mais justa, ou seja, cumprir sua função social. SUJEITO P2 De padronização e enquadramento aos indicadores estabelecidos pelo governo para as IES. SUJEITO P3 Uma concepção de avaliação institucional que abarca todas as complexas dimensões de atuação da IES e que está condizente com os princípios sob os quais devem se dar as ações da IES, pensando nas suas responsabilidades sociais. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 Que a Instituição estabeleça o perfil e o significado de sua atuação através das atividades, cursos, programas e projetos, tendo como norteadoras as dez dimensões nele consagradas. Não há relevância especial para a responsabilidade social. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 Objetiva identificar em que medida há este compromisso da IES para com o seu entorno e por isso vale-se da Responsabilidade Social como quesito capaz de aferição de quantidade e valor às práticas realizadas. É um indicador escolhido e utilizado. Poderiam ser ou ter outros, mas foi este o escolhido. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 5a – A proposta do SINAES às IES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 226 Categoria A proposta do SINAES às IES Instituições SUJEITO L1 Maior preocupação das IES com o entorno em que se situam, tirando-as da torre de marfim na qual têm historicamente o hábito de se isolar. SUJEITO L2 Uma postura de orientação para que as IES possam através de um processo interno e externo de avaliação ter um olhar para as suas ações, analisar, avaliar, propor e mudar. SUJEITO L3 Propõe um olhar e a qualidade e repercussão de suas ações. SUJEITO L4 Reguladora SUJEITO L5 Propõe uma uniformidade nos procedimentos de avaliação e focam a melhoria da educação superior. O SINAES propôs também, como a Universidade se vê, como a Universidade se entende, trabalha em relação ensino, pesquisa e extensão, de acordo com o seu projeto. SUJEITO L6 Propõe nos itens de avaliação, os avaliadores vem para verificar quantas pessoas são beneficiadas, que comunidades são beneficiadas, que ações são feitas. SUJEITO L7 Uma postura de seriedade, de compromisso, com responsabilidade de conferência também porque além das avaliações, se tem também avaliações in loco, não é só de papel, aquilo que você coloca no papel, aquilo que você preenche, depois é verificado, e eu acho que isto é um grande avanço, e a postura do SINAES é em cima disto. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 5b - A proposta do SINAES às IES na percepção das Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 227 QUESTÃO 5 – Na sua concepção, que postura o SINAES propõe para as IES? PRESIDENTES LIDERANÇAS a) Ensino de qualidade, para atender demandas do mercado, forme cidadãos conscientes, sociedade mais justa; a) Maior preocupação da IES com seu entorno – tirando-as da torre de marfim na qual tem historicamente o hábito de se isolar; b) Padronização e enquadramento; c) Avaliação institucional dimensões de atuação das IES; = d) Perfil e significado de sua atuação – Não há relevância especial para a responsabilidade social; e) Identificar compromisso da IES com seu entorno. b) Ter um olhar para suas ações, analisar, avaliar, propor, mudar. c) Propõe um olhar, qualidade e repercussão de suas ações; d) Reguladora; e) Uniformidade nos procedimentos – SINAES – Refletir a universidade; f) Verificar quantas pessoas beneficiadas, que comunidades beneficiadas; g) Postura compromisso. de seriedade, são são de Quadro 5c – ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (5a/5b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Quando questionados sobre que postura o SINAES propunha as IES, os sujeitos pesquisados apresentaram visões diferenciadas: a) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL – ENSINO DE QUALIDADE; b) PERFIL E SIGNIFICADO DE ATUAÇÃO; c) OLHAR PARA AS PRÓPRIAS AÇÕES; d) COMPROMISSO DA IES COM SEU ENTORNO; e) PADRONIZAÇÃO, ENQUADRAMENTO, REGULAÇÃO. 228 Uma das lideranças pesquisadas afirma que a proposta do SINAES se caracteriza como uma concepção de avaliação institucional que engloba todas as dimensões de atuação da IES, analisando as ações da instituição, voltadas a Responsabilidade Social. O SINAES estabelece a IES que se comprometa em oferecer ensino de qualidade, que atenda às demandas do mercado, que forme cidadãos conscientes, preocupados com a construção de uma sociedade mais justa, que cumpra com sua função social, destaca outra liderança pesquisada. Os SINAES propõe as IES, de acordo com a percepção de uma liderança, uma postura de seriedade, de compromisso até em função da avaliação in loco. Aquilo que a IES declara realizar é averiguado pelos avaliadores quando visitam estas instituições. De acordo com esta liderança, um aspecto positivo do SINAES. Outro sujeito pesquisado enfaticamente afirma que o SINAES busca estabelecer qual é o perfil e o significado de atuação de cada IES, através de seus cursos, programas, projetos. Na opinião desta liderança, não há relevância especial a Responsabilidade Social. Propõe um olhar sobre a qualidade e repercussão de suas ações, afirma outra liderança pesquisada. Outro sujeito pesquisado afirma que os SINAES propõe as IES a possibilidade de se auto-avaliar no sentido estrito da palavra, com objetivo de “olhar para as suas ações, analisar, avaliar, propor e mudar”. Um dos aspectos relevantes do SINAES apresentado por um sujeito pesquisado refere-se à uniformidade no processo de avaliação. Este processo possibilita, como já afirmou outra liderança, a universidade se perceber, a universidade se ver, se entender, em relação a seus programas, processos e ações em relação ao ensino, pesquisa e extensão. Uma liderança defende uma percepção que merece destaque, de que a proposta do SINAES é comprometer a IES com seu entorno, enfatizando que as IES devem descer “da torre de marfim na qual tem historicamente o hábito de se isolar”. Outro sujeito pesquisado concorda com a percepção do sujeito anterior, considerando que o SINAES objetiva identificar em que medida há o compromisso da IES com seu entorno, utilizando como mecanismo o conceito de Responsabilidade Social para “mensurar a quantidade e valor às práticas realizadas”. 229 Um dos sujeitos pesquisados declarou que a proposta dos SINAES às IES é de padronização e enquadramento. E outro respondeu apenas – reguladora. De acordo com as declarações dos sujeitos pesquisados pode-se perceber que o SINAES, em forma de lei, é algo imposto às IES pelo Estado, com objetivos claros de avaliação, regulação e controle. Um aspecto positivo dos SINAES merece ser enfatizado: este Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior é abrangente, envolvendo várias etapas de avaliação, contudo, proporcionou as IES uma oportunidade única – de se perceberem no cenário nacional. Uma liderança destaca que as universidades estavam historicamente habituadas a se isolar em seus próprios muros e a imposição desta lei, porque toda lei tem um caráter impositivo para manter a ordem e/ou o desenvolvimento, abriu as portas das IES, possibilitando que elas se avaliassem como instituição social que são, refletissem sobre seu papel na sociedade, que não se considerassem tão auto-suficientes a ponto de não cometer equívocos. Com certeza, esta lei pode apresentar alguns aspectos que devam ser revistos, mas esta possibilidade de se rever proporcionado as IES é de extrema relevância para a definição da função social da universidade e de todas as Instituições de Ensino Superior neste país. Categoria Função Social Responsabilidade Social Instituições Lei dos SINAES SUJEITO P1 A lei dos SINAES estabelece que as IES devem se comprometer cada vez mais em oferecer um ensino de qualidade, que atenda às demandas do mercado e que forme cidadãos conscientes do seu papel na transformação de uma sociedade mais justa, ou seja, cumprir sua função social. SUJEITO P2 A responsabilidade social da universidade guarda relação com sua função precípua de promover o desenvolvimento e a inclusão e emancipação social. SUJEITO P3 O SINAES procura avaliar a responsabilidade social da IES através de suas ações. A função social de uma IES é cumprida quando se efetiva a “transmitir, sistematizar e produzir conhecimentos, ampliando e aprofundando a formação do ser humano para o exercício profissional, a reflexão crítica, a solidariedade nacional e internacional, objetivando alcançar uma 230 sociedade mais justa, em que os cidadãos se empenhem na busca de soluções democráticas para os problemas nacionais.” SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 Há relação direta e necessária entre função social das IES e Responsabilidade social das mesmas. Não tenho a mesma segurança se essa relação está claramente proposta pela Lei do SINAES; creio que há indicativos nesse sentido, mas são tênues. A função social das Instituições de Ensino Superior: o “saber” obriga; a “posição privilegiada das IES obriga; e assim por diante. A função social das IES acarreta, para todas elas, que suas ações “devem ser feitas no interesse geral”, no interesse da sociedade, no interesse do ambiente, nas relações qualificadas com seus colaboradores, no seu diálogo aberto com seu entorno. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 O conceito de função social da IES é facilmente entendido a partir da LDB quando estabelece um vínculo entre a IES e o seu entorno, bem como das políticas específicas para a pesquisa e o ensino de graduação. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 6a – Relação entre a Função Social das IES, a Responsabilidade Social das IES e a Lei dos SINAES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 231 Categoria Instituições Função Social Responsabilidade Social Lei dos SINAES SUJEITO L1 A função de uma universidade é produzir e disseminar o saber – o que significa dizer que a sua função é fazer avançar o conhecimento e colocá-lo a serviço da melhoria da qualidade de vida das pessoas. A função básica da universidade de verdade, portanto, é social. O papel do SINAES é, portanto, educativo no sentido de relembrar o que a universidade deveria ser e o que ela não é e não deve ser. SUJEITO L2 As instituições de ensino superior têm um papel importantíssimo no que diz respeito à Responsabilidade Social. É através da formação dos seus alunos proporcionando a este uma formação democrática, científica e com espírito crítico inovador que poderão promover mudanças não só no seu campo de atuação, mas em todo um contexto de vida. SUJEITO L3 A lei do SINAES tem um objetivo: estabelecer critérios e indicadores que permitam verificar as contribuições das IES dentro de determinados parâmetros. Considerando que a função social de uma instituição educacional é a formação de pessoas e, no caso das IES, a produção de conhecimentos novos e sua socialização entendo que deva fazer muito bem isso. SUJEITO L4 Sim, acredito que estes conceitos estão ligados e a Lei do SINAES acaba servindo de instrumento para a realização dos mesmos. A função social para as IES tem a ver com a necessidade de atuação na sociedade, proporcionando desta forma uma maior integração entre a IES e a Comunidade, auxiliando na solução de problemas. SUJEITO L5 A função é formação do cidadão. É a formação de profissionais que sejam críticos, que sejam autônomos, que exerçam estas cidadanias, que tenham sensibilidade para esta questão dos problemas da sociedade, que tenham feito esta transformação social e, a função social não pode estar desvinculada dos valores, da ética, da cidadania e, evidentemente, com toda uma formação profissional também porque a Universidade ela forma seus profissionais para atuar no mercado de trabalho, mas ela forma pessoas na sua integralidade, na sua formação como um todo. SUJEITO L6 Sem dúvida! A função social é a relação intrínseca da universidade com a comunidade e, portanto, com esse conceito de territorialidade. A universidade tem um vínculo intrínseco com a sociedade civil, tem um vínculo intrínseco com a comunidade, a 232 territorialidade no qual está inserida, portanto, ela cumpri a função social contribuindo para o desenvolvimento da sociedade, para suas políticas de qualificação da cidadania e desenvolvimento social. SUJEITO L7 A função social da Universidade é a função educacional. É a sensibilidade, a formação integral da pessoa, é inerente da própria universidade esta função social, é a atividade que ela faz; na missão deve estar estampada a responsabilidade social da universidade. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 6b – Relação entre a Função Social das IES, a Responsabilidade Social das IES e a Lei dos SINAES na percepção das Lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 6 – Existe alguma relação entre a “Função Social” da Instituição de Ensino Superior em nosso país, o conceito de Responsabilidade Social e a Lei dos SINAES? Qual é o seu conceito de função social, considerando-se as instituições de ensino superior? PRESIDENTES LIDERANÇAS a) Função social: ensino de qualidade, atender demandas do mercado, formar cidadãos conscientes e transformação da sociedade – mais justa; a) Função social da IES: produzir e disseminar o saber e colocá-lo a serviço da melhoria da qualidade de vida das pessoas; b) Função da IES: desenvolvimento, inclusão e emancipação social; c) Função social: transmitir, sistematizar e produzir conhecimentos = formação do ser humano, reflexão crítica, sociedade mais justa, soluções democráticas; b) Função social: Formação do aluno – democrática, científica e espírito crítico = promover mudanças no contexto de vida; c) Função da IES: formação de pessoas, produção de conhecimentos e sua socialização; d) Há relação direta e necessária; d) Função social: atuação na sociedade; e) Função social da IES: LDB = e) Função da IES: formação do 233 vínculo entre a IES e seu entorno. cidadão,críticos, autônomos, sensíveis aos problemas sociais = forma pessoas na sua integralidade, na sua formação como um todo; f) Função social: vínculo intrínseco com a comunidade, desenvolvimento da sociedade, elaboração de políticas de qualificação da cidadania; g) Função social = Função educacional – formação integral da pessoa, sensibilidade. Quadro 6c – ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (6a/6b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Quando questionados se havia relação entre a função social, a responsabilidade social das IES e a Lei dos SINAES, as lideranças pesquisadas apresentaram algumas indefinições quanto à inter-relação destes conceitos e a divisão dos dois grupos se evidenciou: a) PERCEPÇÃO DOS PRESIDENTES; b) PERCEPÇÃO DAS LIDERANÇAS. O grupo dos Presidentes apresentou definições voltadas à função social da universidade de forma mais abrangente, e as lideranças representantes das IES, suas definições direcionaram-se mais a formação do educando, a formação integral da pessoa humana. Nesta questão, na percepção da pesquisadora, os Presidentes transpareceram suas posições de liderança em suas falas, com uma visão mais voltada ao processo de gestão. As lideranças das IES também se impregnaram de seus cargos para aflorar uma visão mais específica da universidade: a formação do ser humano. Um dos sujeitos pesquisados declarou que a Responsabilidade Social da Universidade guarda relação precípua de promover o desenvolvimento e a inclusão e emancipação social. A pesquisadora não conseguiu identificar se há uma relação entre a função social e a Lei dos SINAES. Outra liderança afirmou em várias questões que a Lei dos SINAES busca comprometer as IES com um ensino de qualidade, para atender as demandas 234 de mercado, formando cidadãos conscientes, atuantes na tranformação da sociedade para que seja mais justa, cumprindo com sua função social. O SINAES procura avaliar a Responsabilidade Social das IES, através de suas ações, afirma um outro sujeito pesquisado. A função social da IES é produzir conhecimento, aprofundando a formação do ser humano para o exercício profissional, reflexão crítica, objetivando alcançar uma sociedade mais justa, onde os cidadãos se empenhem na busca de soluções democráticas para os problemas nacionais. Uma das lideranças afirma que a função da Universidade é produzir e disseminar o saber, enfatizando que pode-se compreender como sendo a função de “fazer avançar o conhecimento e colocá-lo a serviço da melhoria da qualidade de vida das pessoas”. Esta liderança é enfática ao afirmar que a função básica da universidade é social. O SINAES, portanto, reproduzindo a afirmação desta liderança, tem papel educativo, fazendo com que a universidade repense seu papel: o que ela deve e o que não deve ser. Esta liderança refere-se ao que ele denomina de universidade de verdade – estas, segundo ela, tem uma função básica que se caracteriza como sendo social, mas destaca que nem todas as universidades são “de verdade”, já que algumas foram criadas por “indivíduos, donos de instituições, que visam antes o lucro e apenas marginalmente disseminar o saber”. Aqui, o sujeito entrevistado faz um desabafo indignado quanto a instituições privadas. Entretanto, afirma que o SINAES tem como objetivo balizar as ações e controlar e regular todas as IES. Apenas um sujeito pesquisado responde a questão afirmando que há uma relação direta e necessária entre a função social das IES e sua Responsabilidade Social, afirmando que, na sua concepção, esta relação não está proposta com clareza na Lei dos SINAES. Esta liderança afirma que a função social das IES acarreta que suas ações devem ser realizadas no interesse geral, no interesse da sociedade, no interesse do ambiente, nas relações qualificadas com seus colaboradores, no seu diálogo aberto com seu entorno. Pode-se empreender que esta descrição de função social mantêm uma relação direta com o conceito de Responsabilidade Social que esta liderança percebe. Outro sujeito pesquisado defende que a função social da IES está explicitado na LDB e vincula a função social dela com seu entorno. 235 Um dos sujeitos pesquisados enfatiza a função da universidade em relação a formação dos alunos. Esta liderança compreende que esta formação deve ser democrática, científica e deve desenvolver no educando espírito crítico inovador com intuito de promover mudanças, não só em seu campo de atuação, mas em seu contexto de vida. A função social da universidade, de acordo com outra liderança pesquisada, está pautada na formação de pessoas, na produção de conhecimentos novos e a socialização deste conhecimento. Outra liderança refere-se à função social da universidade, destacando a necessidade de atuação desta na sociedade, proporcionando maior integração entre a IES e a comunidade. A função da universidade é a formação do cidadão, afirma uma das lideranças entrevistadas. Ressalta-se novamente a preocupação com a formação do aluno, que sejam críticos, autônomos, que tenham sensibilidade com questões que envolvam a sociedade. Esta liderança destaca que a universidade forma profissionais para atuar no mercado de trabalho, mas precisa se preocupar também com a formação da pessoa “na sua integridade, na sua formação como um todo”. Outra liderança afirma que a função social da universidade está diretamente atrelada a relação desta com a comunidade. Para esta liderança, a universidade tem um vínculo intrínseco com a comunidade, com a territorialidade onde está inserida, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade, participando de suas políticas de qualificação da cidadania e desenvolvimento social. A função social da universidade para outra liderança é educacional. “É a sensibilidade, a formação integral da pessoa, é inerente a própria universidade esta função social”. Para esta liderança, a função social é a atividade que a universidade desempenha, estampada em sua missão. A pesquisadora identificou, através dos relatos apresentados, que os conceitos de Responsabilidade Social e função social da IES ainda são termos que não estão bem definidos no meio acadêmico e necessitam ser melhor especificados. 236 Categoria Sensibilização das IES na concretização de ações Instituições SUJEITO P1 Todo o processo de avaliação somente alcança sucesso ao longo de certo tempo, bem como com a adesão dos atores envolvidos. Neste sentido, as IES tem se manifestado muitas vezes crítica aos critérios de avaliação o que demonstra seu envolvimento nesta questão. Além disso, muitas tem ajustado suas estruturas administrativas e pedagógicas adaptando as questões da Lei dos SINAES. SUJEITO P2 Sensibilizar não, de impor os parâmetros do governo, sim. SUJEITO P3 Todo processo de avaliação pode induzir as ações do avaliado. O SINAES tem provocado mudanças positivas nas IES; mais nas IES privadas que nas públicas, pois estas já atuavam e continuam a atuar segundo os princípios que norteiam o SINAES. As dez dimensões avaliativas do SINAES não possam ser consideradas como ações a serem implementadas, pois são gerais e propõem caminhos amplos para as IES. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 As dimensões alinhadas no SINAES e suas relações com os Planos de Desenvolvimento Institucional e os Planos Pedagógicos Institucionais deveriam ser indutores da sensibilização das IES na concretização de ações de responsabilidade social. Certamente, para algumas instituições isso pode e deve estar acontecendo. No entanto, os Instrumentos de Avaliação ainda deixam muito a desejar: primeiro, porque estão constantemente sofrendo alterações, a demonstrar uma fragilidade de suas linhas mestras; segundo porque estão fortemente focados no aspecto quantitativo, que raramente consegue distinguir ações relevantes de responsabilidade social, mas, predominantemente, quantidade de ações nesta ou naquela linha. Não há indícios fortes de que – decorridos seis anos de implantação do SINAES – isso tenha provocado a concretização de ações de responsabilidade social, como um todo, sistemático, nas Instituições de Ensino Superior brasileiras. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição. SUJEITO P8 Sem dúvida. O viés da Responsabilidade Social foi um caminho adotado, poderia ter sito outro. E se olharmos para os resultados, principalmente após este período longo de experimentação, percebe-se que muitas IES despertaram para isso, engrossaram seus projetos de extensão e sociais, alargaram a participação da comunidade em suas 237 ações. Enfim, houve um avanço significativo. No entanto, muitas IES também tem usado desta política como elemento mercadológico, ou seja, um “plus” em suas campanhas de marketing. Elas seguem a “onda” do ramo empresarial, pois a questão do momento é sustentabilidade e responsabilidade social. Estas IES não querem ficar de fora deste mercado. E mais, possuem uma chancela governamental (SINAES) para reforçar e publicamente divulgar seus resultados e índices, em ranking´s cada vez mais criativos. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 7a – O SINAES como processo de avaliação para sensibilizar as IES na concretização de ações de Responsabilidade Social na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Categoria Sensibilização das IES na concretização de ações Instituições SUJEITO L1 Sim/Não. A lei do SINAES obteve significativo êxito na implantação da avaliação de cursos e na avaliação dos estudantes. A avaliação institucional, no entanto, tem sofrido vários revezes. Só no início de 2006, após quase dois anos de discussão na CONAES, o primeiro instrumento de AI obteve consenso e, mesmo assim, a sua aplicação, por várias razões, foi retardada. Com as trocas de equipe no INEP, na CTAA, na CONAES e no MEC, com a criação do IGC, implantação do e-mec, etc., os instrumentos começaram a sofrer novas modificações e isto tudo deu pouca oportunidade para que a AI avançasse. No entanto, quando a AI começar para valer, sem interrupções e com conseqüências sérias no processo regulatório, o poder de indução da avaliação será mais fortemente notado do que é hoje. Mesmo assim, considero a sinalização do SINAES extremamente importante. SUJEITO L2 Sim. Verifica-se hoje, um crescimento marcante na qualificação docente, o número de professores qualificados (mestrado e doutorado) tem aumentado significativamente, a participação dos alunos em novos modelos de aprendizagem, o envolvimento dos técnicos administrativos, etc. tem contribuído sobremaneira nesse processo. SUJEITO L3 Sim. Há maior clareza institucional do que se avalia no SINAES e também no estabelecimento das metas da instituição. SUJEITO L4 Não. Ainda não temos uma cultura de avaliação 238 SUJEITO L5 Sim/Não. As instituições hoje elas tem outro olhar para as questões avaliativas. Antes dos SINAES, havia boicote dos alunos pelo Provão, que era um momento político de repúdio a uma avaliação de cima para baixo. Mudou-se a concepção, mas ainda há certa desconfiança das instituições em relação à eficiência dessas avaliações. Ela ainda representa uma regulação, ainda ela representa mais uma punição do que um aperfeiçoamento, de uma forma geral. SUJEITO L6 Sim. O SINAES consolida, contribui, fomenta as ações da extensão. O SINAES coloca isso como um indicador faz com que a extensão possa ser melhor estruturada, melhor desenvolvida. Consolida esse indicador da tríade que é a extensão e ajuda a fazer o desenvolvimento, traz indicadores, traz fomento, traz a necessidade da universidade ter ações de natureza extensionista. SUJEITO L7 Sim. Faz a instituição repensar. Hoje, a instituição tem que ter coerência entre a sua missão, aquilo que se propõe a ensinar e qual o perfil do egresso. Se a instituição tem estas três partes bem entendidas, bem pensadas, dispensa-se qualquer tipo de marketing, porque por si só ela fala. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 7b – O SINAES como processo de avaliação para sensibilizar as IES na concretização de ações de Responsabilidade Social na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 7 – Na avaliação das instituições, algumas dimensões serão consideradas para que as IES sejam avaliadas, de acordo com a Lei dos SINAES. Pergunta-se: passados seis anos da implantação desta lei, este processo de avaliação está sendo eficaz para sensibilizar as IES na concretização destas ações? O que o leva a esta resposta? PRESIDENTES LIDERANÇAS a) SINAES = Processo de avaliação demanda tempo b) SINAES = Imposição do governo c) SINAES = Mudanças positivas d) SINAES = Dez dimensões avaliativas - gerais e amplas a) SINAES = Êxito – avaliação de cursos e avaliação de estudantes, AI – em processo; b) SINAES = Êxito – Qualificação docente, participação dos alunos, envolvimento técnico; 239 e) SINAES = alterações constantes e aspectos quantitativos; f) SINAES = Participação na comunidade - elemento mercadológico c) SINAES = Êxito – Maior clareza institucional; d) SINAES = Não há uma cultura de avaliação; e) SINAES = Desconfiança pelas IES (Regulação/Punição); f) SINAES = Êxito – Consolidação da tríade: ensino, pesquisa e extensão; g) SINAES = Êxito – Repensar a IES Quadro 7c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (7a/7b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Nesta questão apresentada aos sujeitos pesquisados percebe-se os grupos bem definidos e com percepções delimitadas de acordo com a função que desempenham. a) GRUPO – POLÍTICO; b) GRUPO – GESTOR. Um dos aspectos a serem destacados pela pesquisadora refere-se ao fato de que existe um distanciamento implícito entre as universidades públicas e privadas. Percebe-se que, na fala dos sujeitos pesquisados, aqueles que representam instituições públicas, sejam federais ou estaduais, demonstram um certo orgulho altivo, se posicionando de uma maneira como se a instituição pública já estivesse estabelecida e claramente definida, não necessitando ou se eximindo do processo avaliativo pelo poder público. Em contrapartida, as IES privadas criticam e apóiam o sistema nacional de avaliação e se disponibilizam a se auto-avaliar, se transformar, se reconstruir a cada processo de avaliação. Parece que existem dois mundos extremamente distintos e diferenciados neste contexto do ensino superior brasileiro. Percebe-se também que existem críticas quanto aos indicadores, a aspectos quantitativos, mas nenhum destes sujeitos pesquisados até o momento apresentaram posições contrárias a este processo de avaliação imposta pelo poder público. Desta feita, pode concluir que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior Brasileira (SINAES) nas IES brasileiras já pode ser considerado como efetivo. 240 Um dos Presidentes pesquisados respondeu que todo processo de avaliação demanda certo tempo para alcançar sucesso, como também a adesão dos atores envolvidos. As críticas apresentadas pelas IES a este processo e critérios de avaliação demonstram o envolvimento destas instituições com a questão. De acordo com este presidente, muitas instituições tem ajustado suas estruturas administrativas e pedagógicas, para adaptação as questões apresentadas pelos SINAES. Outro Presidente afirma que a proposta dos SINAES não visa a sensibilização das universidades, mas a imposição de parâmetros pelo Governo a todas as instituições de ensino superior no país. O relato de outro Presidente pesquisado enfatiza que o SINAES tem provocado mudanças positivas nas IES. Este Presidente afirma que estas mudanças estão ocorrendo mais em instituições privadas, que nas públicas. Este sujeito pesquisado destaca que as dez dimensões avaliativas do SINAES não podem ser consideradas como ações a serem implementadas, pois são gerais e propõem caminhos amplos para as IES. As dimensões alinhadas no SINAES e suas relações com os Planos de Desenvolvimento Institucional (PDI) e os Planos Pedagógicos Institucionais (PPI), de acordo com este Presidente, deveriam ser indutores da sensibilização das IES na concretização de ações de Responsabilidade Social. Este Presidente afirma que os instrumentos de avaliação deixam muito a desejar: primeiro, porque estão constantemente sofrendo alterações; segundo, porque estão fortemente focados no aspecto quantitativo; que não possibilita a distinção de ações relevantes de Responsabilidade Social e sim a quantidade de ações nesta ou naquela linha. “Não há indícios fortes de que – decorridos seis anos de implantação do SINAES – isso tenha provocado a concretização de ações de Responsabilidade Social como um todo, sistemático, nas IES brasileiras”. Outro Presidente pesquisado afirma que após a implantação da Lei dos SINAES, muitas IES despertaram seus interesses para a Responsabilidade Social, “engrossaram seus projetos de extensão e sociais e alargaram a participação da comunidade em suas ações. Enfim, houve um avanço significativo”. Entretanto, ainda referenciando a fala do Presidente, muitas IES tem usado desta política como elemento mercadológico, ou seja, um “plus” em suas campanhas de marketing. Estas instituições seguem a lógica empresarial e ainda possuem uma chancela do governamental (SINAES) para reforçar e publicamente divulgar seus resultados e índices, em ranking’s cada vez mais criativos. 241 Uma Liderança afirma que poderia responder “sim” e “não” para esta pergunta. Segundo este sujeito pesquisado a Lei dos SINAES obteve êxito na implantação da avaliação de cursos e na avaliação dos estudantes. Na avaliação institucional, os instrumentos sofreram várias modificações. Quando a Avaliação Institucional (AI) começar sem interrupções e com conseqüências sérias no processo regulatório, o poder de indução de avaliação será mais fortemente notado do que é hoje. Considero, afirma esta liderança, o SINAES extremamente importante. Outra Liderança afirma que “sim”, que o SINAES proporcionou um crescimento marcante na qualificação docente, um aumento significativo no número de professores com mestrado e doutorado, a participação dos alunos em novos modelos de aprendizagem e o envolvimento dos técnicos administrativos. Um outro sujeito pesquisado também afirma que “sim”. “Há maior clareza institucional do que se avalia no SINAES e também no estabelecimento das metas da instituição”. Outra Liderança é categórica em afirmar que “não”. Que as IES no Brasil ainda não possuem uma cultura de avaliação. Outra Liderança pesquisada afirma que “sim” e “não”. As instituições hoje tem outro olhar para as questões avaliativas, afirma esta liderança. Na época do Provão houve um momento político de repúdio a uma avaliação de cima para baixo. Hoje, mudou-se esta concepção, mas ainda há certa desconfiança das instituições em relação à eficiência dessas avaliações. Ela, a avaliação, ainda representa uma regulação, ainda representa uma punição, mais do que um aperfeiçoamento. O SINAES consolida, contribui, fomenta as ações de extensão. De acordo com uma das Lideranças pesquisadas, sua resposta a este questionamento é “sim”, o SINAES proporcionou as IES a possibilidade de que todos os processos institucionais fossem melhor estruturados, inclusive a extensão. Este processo de avaliação consolida esse indicador da tríade, que é a extensão. Segundo outra Liderança pesquisada sua resposta é “sim”, o processo de avaliação (SINAES) faz a instituição repensar. Este processo possibilitou às instituições a construção de uma coerência entre sua missão, aquilo que se propõe a ensinar e o perfil do egresso. A instituição, de acordo com esta Liderança, tem que ter estas três partes bem definidas, bem pensadas. 242 Categoria Avaliadores do MEC Instituições SUJEITO P1 Deveria combinar mais avaliadores de IES públicas com de IES privadas. SUJEITO P2 Não compreendeu o que estava sendo questionado. Não soube como responder. SUJEITO P3 São nossos pares, com qualidades e defeitos e que expõem as suas visões sobre como devem ser as IES quando avaliam os cursos e aspectos da instituição. A subjetividade existente e necessária em um sistema de avaliação como o SINAES permite concordar discordar de diversas avaliações que são promovidas. Existe, ainda, no Brasil, um aprendizado sobre como avaliar a complexidade existente em uma IES. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 O Brasil precisa avançar muito, ainda, na qualificação dos avaliadores, sobretudo para dar a eles uma visão mais alargada das grandes metas de formação superior brasileira. Impõe-se que os avaliadores se envolvam bem mais com a história da Instituição avaliada, com sua contextualização local e regional, com seu papel no espaço geográfico e temporal em que estão inseridas, do que no mero preenchimento de um questionário burocrático que, ao final, dará uma “nota” à IES. Terão eles a preocupação de saber se aquela “nota” corresponde à “leitura” que a sociedade faz da Instituição ou isso pouco interessa? SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 O cadastro diversificado de avaliadores causa um resultado muito interessante. Por mais que o SINAES tenha vinculado a observação do avaliador externo, é a sua compreensão do objeto observado. Surgem as diferanças do olhar de uma IES pública, do de uma privada, e esta privada comunitária, confessional ou filantrópica ou simplesmente particular e de finalidade econômica. O que realmente está em avaliação é o processo de avaliação, o próprio SINAES, mesmo porque não será a dimensão da Responsabilidade Social que irá confirmar a qualidade do ensino da IES visitada ou desencadear um Termo de Ajuste para adequações que impediriam o seu funcionamento. Por isso, se tem a oportunidade para avaliar o próprio SINAES, sua metodologia e o sistema federal de ensino como um todo. Pensar nesse todo é pensar num projeto nacional, num plano nacional de educação. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 8a – A apreciação com relação ao desempenho dos avaliadores do MEC na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 243 Categoria Avaliadores do MEC Instituições SUJEITO L1 O Banco de avaliadores do INEP deve ser constituído, analisando-se a trajetória educacional do professor, a sua formação, o seu currículo e sua capacidade para objetivamente avaliar. O ideal seria que todos fossem doutores, que tivessem noções de estatística, que fossem pessoas de reputação ilibada, responsáveis pelo que fazem, bons observadores, de bom relacionamento com as pessoas, para citar apenas algumas das muitas qualidades citadas pelos especialistas. SUJEITO L2 Deveria haver um melhor entendimento com respeito aos itens avaliados por parte dos avaliadores, verifica-se que o olhar difere entre avaliadores para um mesmo item avaliado. SUJEITO L3 Não tenho elementos para responder SUJEITO L4 Não tenho conceito formado sobre este assunto. SUJEITO L5 Não, nem todos os avaliadores foram capacitados ou tem essa concepção da avaliação como um instrumento de desenvolvimento. Merece cuidado especial a formação dos avaliadores, que não tem sido adequada esta formação ou esse treinamento que vem sendo feito. SUJEITO L6 O Ministério da Educação tem como responsabilidade interagir com os Fóruns Nacionais de Extensão, de Graduação, de Pesquisa, porque os representantes das Instituições de Ensino Superior podem receber e trocar informações para que eles qualifiquem conteúdo, para que eles possam fazer o processo de capacitação dos avaliadores. Para que quando os avaliadores visitaram as IES possam ter o olhar que respeitem a territorialidade, respeitem as relações da IES com aquela comunidade local, analisando o contexto de cidade, o contexto da comunidade no qual está inserida. SUJEITO L7 Os avaliadores quando visitam a instituição eles tem uma expectativa muito alta, de conhecer aquilo que é feito, e eles chegam à conclusão de que sim, que tudo que se diz é realizado. O Projeto Pedagógico é elaborado por professores doutores com grande experiência na área, elaborado pelas equipes, pelas coordenações, pelos colegiados de curso. A infra-estrutura também, colocada à disposição do aluno, as bibliotecas mais especializadas na área da saúde, com um acervo imenso, aberto link com todas as maiores universidades do mundo inteiro, os laboratórios com aquilo que o mercado está trabalhando. O corpo docente é formado por 73% com titulação de doutores em São Paulo. O projeto de incentivo à pesquisa, também forte. Com tudo isso bem estruturado e caminhando 244 com a sua diretoria; os avaliadores, estes profissionais percebem uma valorização da marca (da instituição) muito importante (...); é claro que você não consegue uma avaliação externa que vem com olhar (...) que sempre tem alguma coisa para você fazer, mas que não afeta a qualidade do ensino. A responsabilidade social é aquilo que a gente se propõe. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 8b – A apreciação com relação ao desempenho dos avaliadores do MEC na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 8 – Ainda complementando a pergunta anterior, baseado no número de IES públicas e privadas em nosso país e a variedade de cursos existentes em todo território nacional, qual a sua apreciação com relação aos avaliadores, com a instituição da qual faz parte? PRESIDENTES a) Avaliadores: públicas/privadas Misto LIDERANÇAS de IES Banco de avaliadores = Trajetória educacional b) SINAES = Processo de aprendizagem (complexidade) Formação: Doutorado c) Melhor qualificação dos avaliadores Currículo X Experiência d) Diversidade de avaliadores = Projeto Nacional Objetividade na avaliação Reputação ilibada Responsáveis/Observadores Capacidade em trabalhar com pessoas Melhor capacitação dos avaliadores Interação entre MEC X Fóruns Quadro 8c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (8a/8b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 245 • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Quando questionados sobre sua apreciação em relação ao desempenho dos avaliadores do INEP/MEC, os sujeitos pesquisados se manifestaram, em sua grande maioria, retratando a necessidade de: MELHORAR A CAPACITAÇÃO DOS AVALIADORES DO INEP/MEC Uma das falas dos sujeitos pesquisados merece referência da pesquisadora, sendo que este declarou que não respondeu a questão porque não compreendeu a pergunta e não soube como responder. A pesquisadora se retrata, pois considera que a pergunta não foi suficientemente clara ao ser formulada, entretanto, de maneira geral, este fato não comprometeu as análises das falas dos outros sujeitos pesquisados e não sofreu limitações para poder apresentar um parecer adequado. A fala de um dos sujeitos pesquisados merece destaque porque ele apresenta o que pode ser considerado como “Perfil” adequado de um avaliador INEP/MEC. Esta liderança enfatiza que o Banco de Avaliadores do INEP/MEC deve ser constituído, analisando-se a trajetória educacional do professor, sua formação, seu currículo e sua capacidade para objetivamente avaliar. Ainda defende que o ideal seria que “todos fossem doutores, que tivessem noções de estatística, que fossem pessoas de reputação ilibada, responsáveis pelo que fazem, bons observadores, de bom relacionamento com as pessoas”, citando apenas algumas das qualidades destes especialistas. Entretanto, não faz referência as condições de esclarecimentos e orientações pelas quais estes avaliadores são submetidos pelos órgão público. Um dos sujeitos pesquisados apresenta um dado interessante onde considera importante que houvesse uma combinação maior entre avaliadores de IES públicas com de IES privadas. A pesquisadora considerou adequado destacar este dado em função da percepção dela na questão anterior (nº 7) da evidência do distanciamento implícito das IES públicas e privadas. Esta inter-relação entre avaliadores com diferentes visões tornaria, sem dúvida, as avaliações mais ricas em troca de experiências. Outro sujeito pesquisado afirma que os avaliadores “são nossos pares, com qualidades e defeitos e que expõem suas visões sobre como devem ser as IES quando avaliam os cursos e aspectos da instituição”. O Presidente ainda afirma que existe uma 246 subjetividade necessária a todo sistema de avaliação, inclusive no SINAES, o que permite concordar ou discordar de diversas avaliações que são promovidas. O Brasil, ainda está em processo de aprendizagem sobre como avaliar a complexidade existente em uma IES. Esta fala parece retratar o respeito que as IES públicas devotam aos avaliadores. “O Brasil precisa avançar muito, ainda, na qualificação dos avaliadores, sobretudo para dar a eles uma visão mais alargada das grandes metas de formação superior brasileira” afirma um dos Presidentes entrevistados. Este Presidente compreende que os avaliadores deveriam se envolver, conhecer melhor, a história da instituição avaliada, analisando sua contextualização local e regional, seu papel no espaço geográfico e temporal em que estão inseridos. Não apenas preocupados com uma nota à IES, mas deveriam preocupar-se em reconhecer a “leitura” que a comunidade e a sociedade fazem daquela instituição. Uma fala que se sobressai de outra liderança pesquisada refere-se ao que está realmente em avaliação que é o próprio processo avaliativo. O cadastro diversificado de avaliadores, segundo esta liderança, causa um resultado interessante. A visita do avaliador externo cria a oportunidade para avaliar o próprio SINAES, sua metodologia e o sistema federal de ensino como um todo. “Pensar nesse todo é pensar num projeto nacional, num plano nacional de educação”. É um processo que está em constante aperfeiçoamento e apreciação. Dois dos sujeitos pesquisados, talvez, nunca tenha participado de um processo avaliativo na IES em que estão inseridos e, portanto, se declararam sem elementos para responder sobre o assunto. Uma das lideranças é enfática ao declarar que nem todos os avaliadores foram capacitados ou tem compreensão de que a avaliação deve ser considerada como instrumento de desenvolvimento. Defende ainda que deveria haver um cuidado especial em relação à formação dos avaliadores, considerando que tem sido inadequada. Esta liderança apresenta uma crítica à capacitação dos avaliadores. Outra fala a ser destacada relata que deveria haver um melhor entendimento pelos avaliadores dos itens a serem avaliados. Esta Liderança afirma que o olhar dos avaliadores difere de um mesmo item avaliado. 247 Uma das Lideranças pesquisadas compreende que o Ministério da Educação tem como responsabilidade interagir com os Fóruns Nacionais de Extensão, de Graduação, de Pesquisa, para que os representantes das IES possam receber e trocar informações, com intuito de fazer o processo de capacitação dos avaliadores. Categoria Cultura de Avaliação proposta pelo SINAES Instituições SUJEITO P1 As IES estão preparadas para incorporar esta cultura de avaliação, ainda que existam alguns aspectos que mereçam mais reflexão e ponderamento, levando-se em conta a realidade das IES privadas o que nem sempre é considerado, uma vez que o marco regulador são as IES públicas. SUJEITO P2 Não tenho conhecimento que exista essa “cultura” proposta pelo SINAES. Espero que as IES estejam preparadas para avaliar de forma crítica seu papel e também de modo crítico o que se propõe no SINAES. SUJEITO P3 As IES públicas estão plenamente preparadas para respeitar, discutindo/criticando os resultados, e compreender e incorporar a cultura proposta pelo SINAES. A cultura avaliativa proposta no SINAES é, na verdade, a cultura avaliativa que já existia nas universidades públicas, só que de forma não normatizada e não organizada. O SINAES, de certa forma, conduz a normatizar e organizar o processo avaliativo. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 Os processos de avaliação deverão estar, preferentemente, sustentados na vontade efetiva da Instituição de olhar para si, examinar seus pontos fortes e seus pontos fracos, para, a partir disso, nortear sua ação. A cultura de avaliação do SINAES é fortemente marcada pela autoridade estatal de permitir ou não a continuidade da Instituição e de colocá-la em um “ranking” de melhores ou piores instituições. Pouco tem sido feito, na verdade, para trabalhar adequadamente uma “cultura” de avaliação, que estimule as instituições a “respeitar, compreender e incorporar” a avaliação como mecanismo para superação das dificuldades de desempenho, tanto institucional quando educacional. É certo que a existência do SINAES – apesar de sua característica reguladora – provocou em muitas instituições, felizmente, essa cultura, notadamente quando a Instituição já desenvolvia algum trabalho nesse sentido, ou já tinha sido motivada a tal por outras ações não compulsórias. 248 SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 A maioria das Universidades e alguns centros universitários sim, estão preparados e interessados neste processo, mas a grande maioria das faculdades, que ultrapassam 70% das IES no país, não estão preparadas nem interessadas, haja vista a reação do maior segmento, o particular, em inúmeros artigos publicados a desfavor do SINAES. Mesmo porque, para a grande maioria destas, as políticas adotadas se situam no limite do mínimo possível, ou seja, da realização do mínimo legal. Talvez no final deste processo, é preciso estabelecer um “dead line”, tenha o Governo e o MEC que adotar medidas mais fortes para (re)organizar o setor e distribuir novas competências e autorizações segmentadas ou parciais. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 9a - As IES no Brasil preparadas para respeitar, compreender e incorporar, uma cultura de avaliação proposta pelo SINAES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Categoria Cultura de Avaliação proposta pelo SINAES Instituições SUJEITO L1 A criação da cultura da avaliação começa assim. Nos anos 80, falar em avaliação era tabu no Brasil. Nos anos 90 melhorou bastante e hoje estamos decididamente em outro patamar: pode-se até questionar instrumentos, metodologias, avaliadores, mas jamais questiona-se a avaliação como sendo um processo importante para a melhoria da qualidade das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. Preparados? Na época da ditadura havia quem afirmasse que o país não estava preparado para a democracia. Isto é argumento de quem não tem interesse em mudar. Mudar nem sempre é algo rápido como se gostaria que fosse, mas é fundamental especialmente quando se trata de processos educacionais, sabidamente lentos. Uma biblioteca ruim não mata ninguém repentinamente, como um remédio mal administrado, mas ela nociva à formação dos indivíduos e isto se refletirá anos mais tarde no desempenho profissional das pessoas. Somos descuidados com relação a isso talvez por causa do pouco impacto imediato, da pouca visibilidade que estas coisas têm no nosso dia a dia. 249 SUJEITO L2 Sim. A experiência vivenciada mostra que após cada avaliação, grupos de trabalho são constituídos no sentido de corrigir possíveis problemas encontrados. SUJEITO L3 Sim. Estão preparadas em sua maioria. A cultura da avaliação precisa ser efetivada. Há dificuldades na compreensão do processo avaliativo, pois é visto muitas vezes como punitivo ou simplesmente quantitativo. Essa é a dificuldade. AQ participação na avaliação é requisito para participação em editais do MEC. SUJEITO L4 Não. As dificuldades dizem respeito principalmente a priorização da avaliação, pois normalmente acaba-se voltando para as rotinas do dia-adia e deixando de lado a avaliação. SUJEITO L5 A instituição tem experiências de avaliação até porque tem um corpo docente altamente qualificado de pessoas na área de avaliação que são referências nacionais. Tem um grupo que está trabalhando a avaliação dos cursos, a avaliação do desempenho dos alunos, da avaliação dos coordenadores; porque a avaliação tem que estar de acordo com tomadas de decisões para correção de mundo. Fazer avaliação porque o MEC quer, porque o SINAES expõe tudo bem, mas não é só isso, tem que fazer a avaliação para que os gestores possam se apropriar desses resultados ou dessas análises de avaliação e fazer correção de rumo e ações de melhorias. Na cultura de avaliação é muito importante a avaliação, a discussão dos resultados e a tomada de decisões dos gestores para definir a ação, porque se não tiver isso não adianta avaliar ou se está avaliando só pró-forma. SUJEITO L6 Uma cultura de avaliação, ainda está em processo. Na tradição de Ensino Superior Brasileiro existe a questão da autonomia da universidade e isso fez com que a universidade se fechasse dentro dos seus próprios mecanismos institucionais. Quando se refere a sistemas de indicadores nacionais, esse processo de exercício da fiscalização do Ministério da Educação na própria estrutura de funcionamento das Políticas que dizem respeito ao Ensino Superior Brasileiro é um processo recente na sociedade. Ainda se está num processo de desenvolvimento e implantação. Na tríade: pesquisa, ensino e extensão, a extensão é, de certa forma, a atividade menos visível e mais carente de informação, de transparência. SUJEITO L7 Na avaliação de desempenho do aluno, as instituições se prepararam para receber este aluno diferente com a defasagem, se prepararam para fazer a equalização. O SINAES veio incorporar, compreender, essa dinâmica. A CPA (Comissão Própria de Avaliação), já era prática na instituição. A educação à distância já se fazia através de pós graduação ou de extensão ou de atualização, nas diversas regiões do país, não estruturado na forma da lei, mas estruturado internamente, de acordo com 250 os seus mecanismos de cobrança. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 9b - As IES no Brasil preparadas para respeitar, compreender e incorporar, uma cultura de avaliação proposta pelo SINAES na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Questão 9 – As IES no Brasil estão preparadas para respeitar, compreender e incorporar, como mecanismo para superação das dificuldades de desempenho, tanto institucional quanto educacional, uma cultura de avaliação proposta pelo SINAES? Quais seriam estas dificuldades? O que existe em contrapartida para auxiliar? PRESIDENTES LIDERANÇAS a) Há uma cultura de avaliação Marco regulatório dos SINAES = IES Públicas; b) Não há uma cultura de avaliação IES = Avaliação crítica de si e da proposta do SINAES; c) SINAES = Normatização e organização do processo avaliativo - IES Públicas preparadas; d) SINAES = Imposição autoridade estatal – permissão/punição - Cultura reguladora; e) SINAES = 70% das IES – não preparadas - Realização do mínimo exigido pela legislação. a) SINAES = Cultura de avaliação: Anos 80 – Construção, Anos 90 – Avanço, Atualmente – Consolidação - Não se questiona a avaliação – e sim os mecanismos; b) IES preparadas – avanços positivos; c) IES preparadas – questiona-se o caráter punitivo e quantitativo; d) IES não preparadas – relevância para atividades diárias; e) IES preparadas – Processo avaliativo envolve: Avaliação dos resultados e Tomada de decisão; f) Cultura de avaliação – processo recente no Brasil – Desenvolvimento e implantação. Quadro 9c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (9a/9b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 251 • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Outra questão em que os dois grupos apresentam-se distintamente: a) GRUPO POLÍTICO – CRÍTICA AO SINAES; b) GRUPO GESTOR – REPENSAR O SINAES Um das lideranças pesquisadas compreende que as IES estão preparadas para incorporar esta cultura de avaliação. Entretanto, alguns aspectos, segundo o sujeito pesquisado, ainda merecem reflexão e ponderamento, afirmando que o marco regulatório do SINAES são as IES públicas. Outro sujeito pesquisado declara que não tem conhecimento que exista essa “cultura” proposta pelo SINAES. O que este presidente espera é que as IES estejam preparadas para avaliar de forma crítica seu papel e também de modo crítico o que se propõe no SINAES. Ainda destacando a fala de outro sujeito pesquisado, este afirma que as IES públicas estão “plenamente preparadas para respeitar, discutindo/criticando os resultados, e compreender e incorporar a cultura proposta pelo SINAES. Este Presidente ainda afirma que a cultura avaliativa proposta no SINAES é uma cultura que já existia nas universidades públicas, só que de forma não normatizada e não organizada. O SINAES, de certa forma, conduz a normatizar e organizar o processo avaliativo. Um dos Presidentes pesquisados afirma que a cultura de avaliação do SINAES é fortemente marcada pela autoridade estatal, de permitir ou não a continuidade da instituição e de colocá-la em um “ranking” de melhores ou piores instituições. De acordo com este Presidente, pouco tem sido feito para trabalhar adequadamente uma cultura de avaliação que contribuísse para que as instituições respeitem, compreendam e incorporem a avaliação como mecanismo de superação de dificuldades de desempenho, tanto institucional quanto educacional. Mesmo assim, este Presidente considera que o SINAES, apesar de sua característica reguladora, provocou em muitas instituições essa cultura. A pesquisadora apresentou no segundo capítulo deste trabalho uma análise de SGUISSARDI (2008) afirmando que este processo avaliativo imposto pelo poder público as IES brasileiras (SINAES) não colabora com a criação de uma cultura de avaliação, que deveria constituir-se como um dos aspectos relevantes da IES, preocupada com a busca de um aperfeiçoamento constante da sua qualidade, reafirmando sua função precípua, e não tentando se embasar em uma vantagem competitiva. Pode-se destacar a percepção do autor e a fala dos 252 sujeitos pesquisados que se complementam, quando afirmam que as medidas de regulação e controle defrontam-se com alguns procedimentos como o da avaliação institucional, que busca estabelecer uma cultura de avaliação. Pode-se inferir que a concepção de uma avaliação institucional, que vise o aperfeiçoamento da IES, buscando sua melhoria através da qualidade da produção do conhecimento que desenvolve, se contrapõe a uma imposição estatal de regulação e controle. Mecanismos a serem discutidos, debatidos e executados. Outro Presidente quando questionado declarou que a maioria das Universidades e alguns Centros Universitários estão preparados para esta cultura de avaliação. Mas, na sua opinião, a grande maioria das Faculdades, que ultrapassam 70% das IES no Brasil, não estão preparadas, nem interessadas, fazendo referência a inúmeros artigos publicados a desfavor do SINAES. Este Presidente afirma que a grande maioria das Faculdades adota políticas de realizar o mínimo exigido pela legislação. Este Presidente ainda sugere que, talvez, o Governo e o MEC tenham que adotar medidas para (re)organizar o setor e distribuir novas competências e autorizações segmentadas ou parciais. Na visão de outra liderança, descrita através de um breve resgate histórico do início do processo de avaliação das IES no Brasil, esta “cultura de avaliação” vem sendo construída desde os anos 80. Neste período, segundo esta Liderança, falar de avaliação no Brasil era um tabu. Nos anos 90 houve um avanço significativo desta compreensão de cultura de avaliação. Atualmente, “estamos decididamente em outro patamar” – afirma. Este sujeito pesquisado percebe que as IES questionam os instrumentos de avaliação, a metodologia utilizada, os avaliadores, mas “jamais se questiona a avaliação como sendo um processo importante para a melhoria da qualidade das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes”. Esta liderança considera que “mudar nem sempre é algo rápido como se gostaria que fosse, mas é fundamental especialmente quando se trata de processos educacionais”. Outra Liderança investigada afirma que as IES estão preparadas para incorporar esta cultura de avaliação. Relata que a “experiência vivenciada mostra que após cada avaliação, grupos de trabalho são constituídos no sentido de corrigir possíveis problemas encontrados”. Outro sujeito pesquisado afirma também que sim, que as IES estão preparadas para respeitar, compreender e incorporar uma cultura de avaliação proposta pelo SINAES. Existe 253 dificuldades na compreensão do processo avaliativo, pois muitas vezes é percebido como punitivo ou simplesmente quantitativo. Não. Esta é a afirmação de outra Liderança pesquisada que considera que as IES, normalmente, voltam-se “para as rotinas do dia-a-dia, deixando de lado o processo de avaliação”. A afirmação de outra Liderança entrevistada refere-se à experiência que a IES da qual faz parte possui com relação a processos avaliativos, relatando que a instituição possui “um corpo docente altamente qualificado de pessoas na área da avaliação” e que são referências nacionais. Na concepção desta Liderança, todo processo de avaliação “tem que estar de acordo com tomadas de decisões para correção do mundo”. Esta Liderança defende que uma IES não pode fazer avaliação porque o MEC exige, porque o SINAES expõe. A avaliação é positiva quando seus gestores se apropriam dos resultados, das análises da avaliação para “fazer a correção de rumo e ações de melhorias”. Na cultura de avaliação, para este sujeito pesquisado, “é muito importante a avaliação, a discussão dos resultados e a tomada de decisão dos gestores para definir a ação, porque se não tiver isso não adianta avaliar ou se está avaliando só pró-forma”. Na compreensão de outra Liderança investigada, a cultura de avaliação ainda está em processo. O Ensino Superior Brasileiro possui uma tradição da “autonomia da universidade e isso fez com que a universidade se fechasse dentro dos seus próprios mecanismos institucionais”. Esta Liderança afirma que o exercício de fiscalização do Ministério da Educação, quando se refere a sistemas de indicadores nacionais, é um processo recente na sociedade. Este processo ainda está em desenvolvimento e implantação. 254 Categoria Características positivas e negativas da Lei dos SINAES Instituições SUJEITO P1 A educação pública e privada, ou seja, as IES, devem se comprometer cada vez mais em oferecer um ensino de qualidade, que atenda às demandas do mercado e que forme cidadãos conscientes do seu papel na transformação de uma sociedade mais justa. SUJEITO P2 Não vejo pontos positivos. Ele padece da lacuna de estabelecimento prévio de um plano democraticamente estabelecido para as IES e de que a avaliação guarde relação com os fundamentos deste plano. SUJEITO P3 São muitos os pontos positivos. Destacaria o fato de ele procurar avaliar a complexidade existente nas IES. Uma avaliação com o grau de complexidade proposto pelo SINAES não é possível se efetivar utilizando-se de uma metodologia muito quantitativista como a que foi implementada; assim, deveriam ser realizados esforços especiais para que a metodologia fosse se tornando cada vez mais qualitativa, à medida que fossem amadurecidos os mecanismos de avaliação institucional e os avaliadores se tornassem mais experientes. Destaco, ainda, o uso que se faz do resultado do ENADE, exageradamente midiático e que, em vários momentos, esconde a amplitude do SINAES. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 A existência do SINAES é altamente positiva para o Ensino Superior Brasileiro. Sua concepção é bastante boa e não se pode pensar, hoje, na qualificação do ensino superior sem contar com um Sistema dessa natureza. Penso que, ao menos, dois elementos deveriam ser mais qualificados: primeiro, uma maior estabilidade nos instrumentos de avaliação, de forma a torná-los mais permanentes e poderem permitir que as instituições consigam orientar-se sistematicamente por seus indicativos e preocupações; segundo, uma importante qualificação dos avaliadores, que inclua, necessariamente, uma visão mais alargada e socialmente comprometida com o verdadeiro papel do ensino superior, que valorize os elementos qualitativos acima dos meros indicativos quantitativos. Afora isso, o SINAES deveria buscar maior articulação com as Instituições (públicas, privadas e comunitárias), na discussão sobre suas dimensões, seus instrumentos de avaliação, a atuação dos avaliadores. Não é possível que, a cada dia, as instituições sejam surpreendidas com alterações e mais alterações, sobretudo, nos instrumentos de avaliação. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa 255 SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 O próprio fato de termos o SINAES é um sinal bastante positivo deste Governo e indica um caminho para a sedimentação de uma política de Estado para a Educação Superior. Ele também é positivo porque tenta ser completo e envolver diversas dimensões e quesitos. É compreensível que não pode ser um instrumento aberto, pois seu objetivo é coletar dados e informações nacionais – o que representa um volume considerável. No entanto, o mal maior está na utilização que dele é feita, amoldando-se conforme as conveniências e interesses particulares. Busco defender a necessidade de se ter uma avaliação condigna para a Extensão, sem valer-se de artifícios como o da Responsabilidade Social. O entanto, isto está longe de acontecer, pois a Extensão carece de um marco regulatório, um marco legal e de conteúdo político suficiente para ocupar um espaço gerencial dentro do MEC. Hoje, a Extensão não está em lugar algum, não há um órgão do MEC responsável por ela, não há financiamento suficiente. O CNPq, por meio de parcerias com o MDA, tem lançado editais de fomento para a Extensão, mas ainda são incipientes para dar conta de uma demanda reprimida. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 10a - As características positivas e negativas da Lei dos SINAES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Categoria Características positivas e negativas da Lei dos SINAES Instituições SUJEITO L1 Gosto do SINAES e gostaria que a avaliação institucional pudesse ser efetivamente implantada, retirando-se todos os elementos criados a posteriori que o contradizem na sua essência (o IGC–Índice Geral de Cursos, por exemplo). Pessoalmente, manteria o CPC (Conceito Preliminar de Curso) e mudaria a lei para permitir a avaliação de curso por amostragem, com avaliação institucional universal mais freqüente. Também recuperaria o Portal SINAES e o BASis nos termos originais – aquele que recebeu o prêmio latino-americano do Banco Mundial por inovação na divulgação estatística. SUJEITO L2 Pontos positivos: avaliação crítica da universidade em seu aspecto administrativo, infra-estrutura, político-pedagógico, produção científica, atividade de extensão, etc. 256 SUJEITO L3 O aspecto positivo é inaugurar uma cultura de avaliação com clareza de indicadores e categorias. O negativo é o uso desses dados para classificação e não para auto avaliação das IES e conseqüente correção de rumos e estratégias. SUJEITO L4 Não tenho conhecimento detalhado sobre o SINAES, mas entendo que um ponto positivo diz respeito a implementação de uma cultura de avaliação. SUJEITO L5 Os pontos positivos dos SINAES é que isto abrange o ENADE, que é o Exame Nacional de Desempenho (dos Estudantes), eles abrangem a avaliação interna e a auto-avaliação. Ele associa também a questão da qualificação do corpo docente e também quais são os procedimentos, a infra-estrutura adequada, então, ele conjuga vários fatores para que se possa ter uma nota ou um conceito. É um conjunto de coisas que estabelece o resultado. Então, são pontos positivos. Os pontos negativos é a questão dos avaliadores e outra o resultado como de um ranckeamento da competitividade entre as instituições. SUJEITO L6 O ponto positivo é que uma política de avaliação é fundamental num processo social. A avaliação busca o desenvolvimento dos pontos positivos e o enfrentamento dos pontos negativos. Os aspectos que devem ser revistos, é o financiamento das universidades, especialmente, das universidades comunitárias e das atividades de extensão. Na medida que as atividades de extensão, muito delas, são atividades de prestação de serviço, elas teriam que ter um processo de financiamento que não fosse só oriundo da própria IES, mas que fosse resultado também do serviço prestado. E isso requer o desenvolvimento de mecanismos de financiamento que estejam legalmente previstos e que componham o indicador nestas avaliações. E isso ainda não está espelhado nas avaliações. Uma coisa é se avaliar uma universidade pública que tem um certa produção, um certo financiamento de um verbo, recurso para o desenvolvimento de atividades extensionistas que é fruto da participação nela do orçamento do Estado onde ela está. Ou da Federação, que seja. No caso da universidade comunitária e das universidades particulares, o recurso depende de provimentos, que são provimentos internos, mas que podem e deveriam ter também provimentos externos numa participação dessas universidades em editais. O SINAES hoje ele só quantifica, ele só qualifica, mas ele não avalia o financiamento. Esta é uma questão importante que deve ser revista, incorporada e implementada. SUJEITO L7 O SINAES veio hoje como uma necessidade. Ele foi estruturado recentemente e precisa de algumas adaptações, de algumas mudanças que retrate mais a realidade. O ponto positivo do SINAES é estar aberto a receber os avaliadores. Houve um descontentamento quanto à composição dessas comissões que vinham avaliar. E o tempo de 257 aperfeiçoamento (do SINAES) dele está acontecendo agora. Quando o governo começou a falar no rancking da instituição, então complicou, quando já tem um rancking das IES, baseado nas três pessoas que foram visita-la por três dias, muitas entidades reclamaram pelas suas unidades, que foram prejudicadas neste sentido, mas pela (má) formação, pela (má) preparação dos avaliadores. Hoje quando os avaliadores chegam na unidade, eles chegam, eles ouvem, eles vão ver e só depois é que eles dão seu parecer. Já melhorou o perfil desses avaliadores, melhorou o perfil do atendimento das entidades, as entidades esperam ser avaliadas, solicitam a avaliação. Os instrumentos que vinham eram muito rígidos, mas hoje eu acho que isto já melhorou; não tem nada como tempo mesmo, ou a experiência já está mostrando, tanto para a instituição, quanto para o governo. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa Quadro 10b - As características positivas e negativas da Lei dos SINAES na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 10 – O SINAES, como o próprio nome o define, é um Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Como todo processo avaliativo possui características positivas e negativas, considerando-se também pelo fato de ser um processo recente no Brasil. Na sua opinião, quais os pontos positivos do SINAES e quais aqueles que deveriam ser revistos e em quais aspectos? Por quê? PRESIDENTES LIDERANÇAS Não há pontos positivos: Ausência de um plano democrático para as IES Pontos positivos: a) Avaliação Institucional – recuperar Portal SINAES e BASis; b) Avaliação crítica da Universidade; c) Criação de uma Política de Avaliação; d) Inaugurar uma Cultura de Avaliação: Indicadores e Categorias; e) ENADE, AI, Auto-Avaliação, Qualificação do corpo docente; 258 f) Procedimentos e Infra-Estrutura; g) IES abertas a receber os avaliadores; h) Perfil dos Avaliadores – Hoje i) Melhora nos instrumentos de avaliação. Há pontos positivos: a) Avaliação da complexidade das IES; b) Qualificação do Ensino Superior; c) Política de Estado para a Educação Superior; d) Envolve diversas dimensões e quesitos Pontos negativos: a) Questão dos avaliadores; b) Resultado do processo avaliativo: rankeamento da competitividade das IES; Propostas: Criar mecanismos de financiamento legais para as Universidades Comunitárias (atividades de extensão). Proposta: Processo mais qualitativo, amadurecimento dos mecanismos de AI, Formação/Qualificação dos avaliadores e estabilidade nos instrumentos de avaliação. Quadro 10c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (10a/10b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Os sujeitos pesquisados diante da questão anunciada posicionaram-se, em sua maioria, a favor do SINAES PONTOS POSITIVOS DOS SINAES Apenas duas lideranças pesquisadas declararam que não há pontos positivos neste sistema de avaliação. Uma afirmou que há uma lacuna no estabelecimento prévio de um plano democraticamente estabelecido para as IES e de que a avaliação deveria ter uma relação com os fundamentos deste plano. A outra considera um ponto negativo é que os dados são utilizados para classificação e não para aprimoramento das IES, corrigindo seus “rumos e estratégias”. Os outros sujeitos pesquisados apresentaram considerações favoráveis ao sistema nacional de avaliação. Um aspecto importante a ser destacado é que o SINAES é considerado 259 um processo avaliativo complexo, abrangente e necessário ao ensino superior, entretanto, alguns sujeitos pesquisados relatam que atualmente a metodologia de avaliação é muito quantitativista. A proposta apresentada por alguns se refere ao fato de, aos poucos, se rever este processo de avaliação e ir reformulando-o, de forma a que se torne qualitativo, a partir do amadurecimento dos mecanismos de avaliação institucional e da formação e experiência dos avaliadores. Outra proposta apresentada sugere que deveria haver uma maior estabilidade nos instrumentos de avaliação, tornando-os mais permanentes, possibilitando as IES orientarem-se por seus indicativos e preocupações. Outra fala a ser destacada diz respeito à ausência ou insuficiência de debates entre as IES a respeito do sistema nacional de avaliação. Este sujeito pesquisado defende que o SINAES deveria buscar maior articulação com as várias instituições, sejam elas públicas, privadas e comunitárias, discutindo as dimensões, seus instrumentos de avaliação e a atuação dos avaliadores. Esta afirmação reflete novamente o distanciamento entre as várias instituições de ensino, percebido pela pesquisadora e relatadas nas questões nº 7 e nº 8. Uma liderança considera que um dos aspectos positivos do SINAES seria a sedimentação de uma política de Estado para a Educação Superior, considerando a abrangência do sistema que envolve diversas dimensões e quesitos. Este sujeito compreende que por ter o objetivo de coletar dados e informações do Ensino Superior em todo o Brasil, não pode ser um instrumento aberto. Entretanto, indigna-se com o mau uso que é feito destes dados coletados, afirmando que estes servem a interesses particulares e estimula a competitividade através do rankeamento das instituições de forma negativa, tão propalado pela mídia. A criação do SINAES possibilitou a avaliação crítica da Universidade, em seus aspectos administrativo, infra-estrutura, político pedagógico, produção científica, atividade de extensão. Também contribuiu para a inauguração de uma cultura de avaliação com clareza de indicadores e categorias. Uma das propostas apresentada por uma liderança entrevistada é o financiamento das Universidades, destacando principalmente as Universidades Comunitárias e as atividades de extensão. Esta liderança considera que por ser as atividades de extensão, na maioria delas, atividades de prestação de serviço, elas deveriam ter um processo de financiamento 260 que não fosse só oriundo da própria IES, mas que fosse também resultado do serviço prestado. Esta liderança destaca que há necessidade de se criar mecanismos de financiamento que estejam legalmente previstos e que se tornem um indicador neste processo de avaliação. A pesquisadora diante da fala desta liderança diverge desta visão da extensão ser uma atividade de prestação de serviço. Como já discutido e embasado em capítulo apropriado fezse referência as atividades de extensão e compreende-se que estas atividades caracterizam-se, em primeiro lugar como atividade fim da universidade, e em segundo lugar como projetos educativos, pedagógicos e científicos, que envolvam várias áreas do conhecimento, com intuito de possibilitar ao aluno condições de aprimorar sua aprendizagem, ampliando sua visão de mundo diante das limitações e necessidades sociais do entorno da instituição, e através deste trabalho estimular a possibilidade de transformar esta realidade, baseado na oportunidade do acesso ao conhecimento desenvolvido pela IES, contribuindo com a formação integral do ser humano: Aprender a aprender; Aprender a conviver; Aprender a fazer; e Aprender a ser (DELORS, 1997). Categoria A Responsabilidade Social das IES embasada no conceito do ETHOS Instituições SUJEITO P1 A RS extrapola à apontada pelo Ethos ainda que se relacione com ele, uma vez que das empresas que participam do Ethos poucas são IES. SUJEITO P2 Não conheço o referido instituto, ainda menos o conceito “amplamente difundido”. SUJEITO P3 Não conheço. A responsabilidade social de uma IES pública é muito diferente de uma empresa privada que visa o lucro e que, em geral, vê a responsabilidade social como marketing institucional. Não é essa a proposta do Sinaes e nem das IES públicas. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 Entendo ser perfeitamente aplicável às Instituições de Ensino Superior o conceito difundido pelo Instituto Ethos sobre Responsabilidade Social, bastando que se faça uma simples adaptação. 261 SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 A questão da Responsabilidade Social já foi discutida. Entendemos que a temática da Responsabilidade Social não se enquadra ou se confunde com a Extensão ou Filantropia ou Ação Comunitária. SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 11a – A Responsabilidade Social das IES, através dos SINAES, embasada no conceito de Responsabilidade Social Corporativa defendido pelo Instituto Ethos ou a concretização de um conceito apropriado a realidade das IES na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Categoria A Responsabilidade Social das IES embasada no conceito do ETHOS Instituições SUJEITO L1 Há muitos pontos em comum entre o que o Instituto Ethos e o que o SINAES propõem como responsabilidade social. O SINAES não se inspirou no trabalho do Instituto, mas em tudo o que se publicou na literatura sobre avaliação ao longo dos anos no mundo. É importante registrar que as pessoas que trabalharam na formulação do Sinaes estavam quase todas envolvidas com a elaboração do PAIUB em 1993. São todas pessoas estudiosas da avaliação educacional e por isso mesmo não há uma escola específica que defina a influência sofrida pelo SINAES. O SINAES é uma síntese do que vinha sendo discutido no mundo e do que vinha sendo praticado ao longo dos anos no Brasil, buscando adequar conceitos de avaliação a um estado avaliador, como é o Brasil, articulando-os aos processos regulatórios. SUJEITO L2 Não. Sei muito pouco a respeito da função do Instituto Ethos, mas creio que a missão do mesmo está direcionada a empresa no que diz respeito a gerir seus negócios de uma forma sustentável e com responsabilidade social. As instituições de ensino superior não funcionam com esse perfil de empresa. A educação tem uma forma diferente de ser tratada, mas também com um enfoque prioritário a uma formação com responsabilidade social. 262 SUJEITO L3 Esse conceito não foi discutido com esse enfoque. SUJEITO L4 Não tenho idéia. SUJEITO L5 Eu não conheço este conceito. A Universidade não tem que se fechar nos seus muros e ela tem que ter o seu conceito. Quanto mais se discute, quanto mais se pode incorporar, trabalhando em parcerias, isso seria o meu conceito de responsabilidade social, desde que se possa discutir com outros atores e eles convirjam para que se possa ter clareza sobre a questão da responsabilidade social. O que sou contra é que uma ONG tenha um conceito de Responsabilidade Social e que não respeite o que as instituições tem discutido. É a realidade das instituições, pode-se até discutir como um instrumental a mais, uma ferramenta a mais, quando se discute a Universidade com os teóricos, mas não pode fugir à responsabilidade de ter a sua concepção baseada na sua realidade. As Universidades não têm um conceito definido de Responsabilidade Social. Elas ainda estão discutindo como se faz filantropia, assistencialismo, e ainda não tem esta característica de transformação de uma comunidade onde ela está inserida. Não há um consenso sobre extensão, porque sempre foi a prima pobre da Universidade que é o ensino, pesquisa e extensão. Ela (a extensão) não recebeu, por parte de órgãos da universidade, a discussão que deveria ter sido feita em termos de extensão. Quando surge a questão da responsabilidade social parece que se transferiu as coisas da extensão para a responsabilidade social, tanto que a filantropia continua, o assistencialismo continua, mas não houve uma rediscussão desse termo que é mais abrangente, que é da responsabilidade social. Tem que ter um trabalho de convergência da Universidade com vários setores da sociedade, mas (a universidade) não pode perder a sua identidade, que é a sua função e o seu trabalho, que a produção de conhecimento, a formação profissional e a formação do cidadão. É importante conhecer o conceito do Instituto Ethos? Sim, porque eles são idôneos, eles são uma referência, e esse diálogo deve se abrir para vários segmentos da sociedade para que ela possa se definir, a questão da responsabilidade social. Eu acho que isto é um ponto forte para a Universidade hoje. SUJEITO L6 O Instituto Ethos tem um espaço junto as empresas do setor privado e, portanto, ele desenvolve a questão da Responsabilidade Social no âmbito das empresas do setor privado. No caso da universidade ela tem um outro desenho, um outro sentido do que é Responsabilidade Social. Lógico que tem interações, há um diálogo com o Instituto Ethos. Países mais desenvolvidos, em alguns países da América do Norte, tem universidades que são financiadas por verbas que as próprias empresas, no exercício de sua Responsabilidade Social, financiam atividades do Ensino Superior, da pesquisa, respeitando os mecanismos de independência e de gestão das Instituições de Ensino Superior. No nosso país, não temos isso. O Instituto Ethos cuida das empresas e creio que a universidade tem competência, 263 tem condição de desenvolver a sua visão relativa a sua responsabilidade na sociedade na qual está envolvida e, nesse sentido, tem uma interação, mas são mecanismos diferentes. SUJEITO L7 Não tem um conceito unificado de responsabilidade social. A universidade é pública, embora tenha com carimbo de privada, mas ela é pública; ela é uma concessão, as empresas é a mesma coisa, então quando o Instituto Ethos definem isto, eles colocam de uma forma geral e agora tem especificidade. Este poder da educação tem uma força, é muito mais complexo que das empresas propriamente ditas. Na educação, não pode prevalecer o marketing , nas empresas prevalece o marketing. Então, vale ressaltar que as Instituições de Ensino Superior precisam ampliar a sua discussão sobre este conceito de responsabilidade social. Sempre fazer uma pergunta: por que eu sou importante para esse pedaço de chão? Por que eu escolhi esta região geográfica? Por que eu atuo nessa área? Se eu sair eu faço diferença? Esta é a grande pergunta! O que a população perde se eu sair daí? Esta é a grande questão. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITO L10 Não responderam a pesquisa QUADRO 11b – A Responsabilidade Social das IES, através dos SINAES, embasada no conceito de Responsabilidade Social Corporativa defendido pelo Instituto Ethos ou a concretização de um conceito apropriado a realidade das IES na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 11 – O Instituto ETHOS de Empresas e Responsabilidade Social, uma organização sem fins lucrativos, caracterizada como organização da sociedade civil de interesse público, possui um conceito amplamente difundido as empresas sobre Responsabilidade Social. O (a) senhor (a) conhece este conceito? Seria a Responsabilidade Social das IES, através dos SINAES, embasada neste conceito defendido pelo Instituto Ethos ou as IES já discutiram sobre este tema e possuem um conceito de Responsabilidade Social apropriado a sua realidade? PRESIDENTES LIDERANÇAS Conceito de Responsabilidade Social das IES Conceito de Responsabilidade Social das IES baseado no conceito de RSC do ETHOS: baseado no conceito de RSC do ETHOS: a) Responsabilidade Social da IES – extrapola este conceito a) Há pontos em comum entre o ETHOS e o SINAES – elaboração do 264 b) Não conhece o ETHOS, nem o conceito; c) Não conhece o ETHOS: IES pública ≠ Empresa privada d) Perfeitamente aplicável a IES – adaptações e) Responsabilidade Social das IES: se confunde com extensão, filantropia e ação comunitária. SINAES por pesquisadores de avaliação educacional; b) Não conhece o ETHOS; c) Responsabilidade Social da IES – não foi tratado com este enfoque; d) Não compreendeu o que foi questionado; e) Não conhece o conceito – defende uma universidade aberta, as IES não possuem um conceito definido, função da universidade = produção do conhecimento; f) Competência da IES – construir um conceito próprio, adequado a sua realidade; g) Não existe um conceito unificado – ampliar a discussão para construção de um conceito próprio. Quadro 11c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (11a/11b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Quando questionados sobre o conceito de Responsabilidade Social das IES, se este teria sido embasado no conceito de Responsabilidade Social Corporativa defendido pelo Instituto ETHOS ou as IES já discutiram este tema e possuiriam um conceito apropriado a sua realidade, os sujeitos pesquisados afirmaram, em sua maioria, que: NÃO CONHECEM O ETHOS – NEM O CONCEITO Duas lideranças pesquisadas foram categóricas ao afirmar que desconhecem o Instituto ETHOS e menos ainda o conceito defendido por ele e que a Responsabilidade Social de uma IES pública é muito diferente de uma empresa privada que visa lucro e utilizase do conceito de Responsabilidade Social como marketing institucional. A questão da Responsabilidade Social para outro sujeito pesquisado já foi discutida. Este Presidente afirma que a “temática da Responsabilidade Social não se enquadra ou se confunde com a extensão ou filantropia ou ação comunitária”. Entretanto, destaca a pesquisadora se a temática da Responsabilidade Social já foi discutida porque as lideranças não apresentam uma definição concreta, definida? As divergências de compreensão e 265 interpretação a respeito do tema desvelam a necessidade de se desenvolver debates e discussões para reflexão e aprofundamento do tema em questão. Uma Liderança pesquisada enfatiza que se pode destacar pontos em comum entre o que o Instituto ETHOS propõe e o SINAES, baseando-se no conceito de Responsabilidade Social. Entretanto, a proposta do SINAES não foi inspirada no trabalho do Instituto, e sim nos trabalhos que foram publicados sobre avaliação ao longo dos anos no mundo, como também no PAIUB. Esta Liderança ainda destaca que o SINAES é uma síntese do que vinha sendo discutido no mundo e do que vinha sendo praticado ao longo dos anos no Brasil, buscando adequar conceitos de avaliação a um Estado Avaliador, como é o Brasil, articulando-os aos processos regulatórios. Para outro sujeito pesquisado, o conceito de Responsabilidade Social difundido pelo Instituto ETHOS é “perfeitamente aplicável às Instituições de Ensino Superior [...], bastando que se faça uma simples adaptação”. Uma das lideranças pesquisadas, talvez, não tenha compreendido a questão apresentada ou, talvez, esta tenha sido mal formulada porque respondeu que não tinha idéia sobre o que havia sido perguntado. Uma declaração de um dos sujeitos pesquisados merece destaque porque enfatiza que desconhece o conceito difundido pelo Instituto ETHOS, mas é enfático ao afirmar que a “universidade não tem que se fechar nos seus muros e ela têm que ter o seu conceito”. A Universidade tem que estar aberta a discussão, trabalhar em parcerias, discutir com outros atores, este seria, segundo esta Liderança, o conceito de Responsabilidade Social que deveria ser defendido pela Universidade. De acordo com este sujeito pesquisado, as universidades não tem um conceito definido de Responsabilidade Social. “Elas ainda estão discutindo como se faz filantropia, assistencialismo, e ainda não tem esta característica de transformação de uma comunidade onde ela está inserida. Esta Liderança ainda defende a idéia de que deva haver um trabalho de convergência da universidade com os vários setores da sociedade, “mas (a universidade) não pode perder a sua identidade, que é a sua função e o seu trabalho, que é a produção de conhecimento, a formação profissional e a formação do cidadão. Esta Liderança ainda defende que este é um ponto forte para a universidade hoje: conhecer o conceito defendido por este instituto e estar aberta ao diálogo para os mais variados segmentos da sociedade, para que a universidade possa se definir com relação ao 266 seu papel de Responsabilidade Social. A pesquisadora compartilha da idéia da liderança e defende esta posição. A universidade necessita estar aberta ao diálogo com todos os atores envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem, para que ela possa se conhecer, se definir, se identificar neste contexto atual. Outra Liderança pesquisada é enfática ao afirmar que não existe, hoje, um conceito unificado de Responsabilidade Social das IES. A universidade é uma instituição pública, embora tenha procedimentos de uma instituição privada, ela é pública. Para esta Liderança a IES privada é uma concessão e considera que as empresas são da mesma forma – concessões. Entretanto, considera que a educação é um processo muito mais abrangente e complexo do que as empresas. Para esta Liderança, “na educação não pode prevalecer o marketing”. Esta Liderança ainda afirma que as “Instituições de Ensino Superior precisam ampliar a sua discussão sobre este conceito de Responsabilidade Social”. Categoria O objetivo da Responsabilidade Social das IES Instituições SUJEITO P1 O nome já diz bastante que o compromisso é com tanto a socialização e democratização do conhecimento quanto com a construção de uma sociedade mais justa e ética, que são os objetivos da RS. SUJEITO P2 Não compreendi a questão, que me parece também enviesada no sentido de partir da premissa de que esteja socialmente estabelecido “o objetivo” da Responsabiliade Social das IES. Não vejo vinculação da questão final, com a definição de um “viés”que remete para as possibiliades de enfoque apresentadas (assistencialista, filantrópico ou campanha de marketing). SUJEITO P3 Posso garantir que nenhuma IES federal tem as características apresentadas na pergunta. Em geral, a responsabilidade social nestas instituições é vista como um conjunto de princípios como já afirmamos e que não se aproximam do assistencialismo, filantropismo ou marketing. Como tenho ressaltado, ao longo das respostas, a responsabilidade social nas IES federais faz parte de seu cerne e não se explicita em ações isoladas e, sim, nos princípios e finalidades 267 institucionais e que se materializam nas atividades que são desenvolvidas no ensino, na pesquisa e na extensão. SUJEITO P4 Não responderam a pesquisa SUJEITO P5 Penso que já dei a resposta na questão inicial, ao acolher o conceito apresentado pelo Instituto Ethos, e ao dizer que ele é perfeitamente aplicável às Instituições de Ensino Superior. SUJEITO P6 Não responderam a pesquisa SUJEITO P7 Não foi localizado o Presidente da Instituição SUJEITO P8 No âmbito das IES, creio que o melhor caminho seja a afirmação do seu compromisso social. Primeiro porque é preciso romper com a lógica de mercado e da empresa. Universidade não é uma empresa. Ela se utiliza de mecanismos gerenciais para se sustentar, manter pagamento de seus funcionários, prestar contas aos sindicatos, governos, fisco, enfim, há um rol de stakeholders (é assim que se escreve....?) para quem a Universidade não pode romper com a linguagem deste setor. Mas a questão administrativa deve funcionar como um substrato, uma base para garantir o exercício da sua autonomia e o avanço da ciência. É preciso haver investimento no setor, tanto para a Universidade pública quanto para a Comunitária, de caráter público. Caso contrário, ela se voltará a se portar como uma empresa para sobreviver no mercado e em sua lógica. A política do SINAES deveria caminhar junto com uma política da sustentabilidade das Universidades. Não precisa ser o Governo ou o Estado o único financiador do segmento, mas deve ser ele o agente determinante para distribuição deste financiamento, segundo critérios trazidos de um sistema único de avaliação. E com relação à questão central, a Universidade não deve praticar Responsabilidade Social, para afirmar-se em seu Compromisso Social, é o seu Estatuto, o seu PDI e PPI que dá o sentido deste compromisso. Por isso, a IES deve ter muito claro o fim para o qual se destina. Hoje todas formam no ensino superior e vendem cursos. É preciso organizar este setor, de modo que o PDI, o PPI e o Estatuto de uma Universidade funcionem como uma Carta Política, onde haja participação da sociedade na sua elaboração e determinação de seus fins. É preciso dar um caráter público às Universidades, sejam elas Públicas-Estatais ou Comunitárias. Isso é o mesmo que criar um projeto político de Estado e da Educação que queremos. Outras IES particulares que não se filiarem a esta nova forma, poderão explorar economicamente o ensino, reguladas e fiscalizadas pelo Poder Público. Por isso entendo que a questão da Responsabilidade Social é equivocada. É preciso reafirmar o Compromisso Institucional. 268 SUJEITO P9 Não responderam a pesquisa Quadro 12a – O objetivo da Responsabilidade Social das IES: assistencialista, filantrópico ou “Campanha de Marketing” na percepção dos Presidentes representantes de Associação, Conselho, Fórum e Sindicato do Ensino Superior. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Categoria O objetivo da Responsabilidade Social das IES Instituições SUJEITO L1 Nem assistencialista, nem filantrópico, nem marketing – apenas ensino, pesquisa e extensão com pertinência, isto é, o desenvolvimento de atividades essencialmente universitárias adequadamente inseridas na comunidade local, regional e nacional. SUJEITO L2 Nenhum desses vieses deveria ser direcionado para as instituições de ensino superior. As IES devem responder ao seu compromisso, que prioritariamente estão relacionados à educação. SUJEITO L3 Não deva ser visto de nenhuma dessas formas. A responsabilidade social se caracteriza nas IES por sua própria função social de formação de quadros profissionais, produção e disseminação do conhecimento. Com essas ações as IES poderão dar retorno à sociedade dos recursos investidos, propiciando melhoria da qualidade de vida nas diferentes áreas. As ações das IES junto a sociedade devem servir a essas finalidades e retornando os benefícios a essa mesma sociedade. SUJEITO L4 Nenhum destes deva ser usado como fator para atender a responsabilidade social, pois uma ação assistencialista ou filantrópica tem curta duração, deve-se buscar ações mais duradouras e profundas, que possa efetivamente proporcionar modificações na Sociedade. SUJEITO L5 Depende muito da compreensão, da gestão da Universidade. Muitas vezes, ela pode fazer um trabalho de transformar a sociedade e a comunidade, como ela pode fazer um assistencialismo, como ela pode fazer algumas ações só para dizer que está tendo esta marca, cumprindo esta responsabilidade social. Quanto mais se tiver um ensino de qualidade, quanto mais a pesquisa for sedimentando este ensino de qualidade, quanto mais se tenha a qualificação do corpo docente e condições concretas de realização, mais se estará contribuindo para esta responsabilidade social, na medida em que se forma pessoas críticas, pessoas conscientes, pessoas inovadoras, pessoas com valores éticos, pessoas que estão sendo formadas para mudar o mundo, não para perpetuar esta sociedade injusta, enfim, depende muito da forma da 269 gestão, do projeto da Universidade como um todo. SUJEITO L6 É o desenvolvimento social. É a colaboração na construção de uma sociedade mais justa e de uma cidadania melhor desenvolvida. Portanto, é um objetivo de desenvolvimento da comunidade local na qual ela está inserida. Ela tem um papel de transformação, ela tem um papel de colaboração da construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais desenvolvida. SUJEITO L7 Transformação do seu ambiente. O ambiente como uma idéia macro: ambiente de transformação da família; tem o ambiente social onde se está, tem o ambiente educacional, tem o ambiente político onde se atua. Então, se representa uma universidade, uma comunidade, então tem que se ter a mesma postura. O comprometimento em tudo aquilo que se faz, tanto no ambiente institucional, como no ambiente de trabalho. SUJEITO L8 Declararam-se não interessados em participar da pesquisa SUJEITO L9 Não responderam a pesquisa SUJEITOL10 Não responderam a pesquisa Quadro 12b – O objetivo da Responsabilidade Social das IES: assistencialista, filantrópico ou “Campanha de Marketing” na percepção das lideranças representantes das Universidades Federais, Estaduais, Comunitárias, Privadas e ONG. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. QUESTÃO 12 - A Responsabilidade Social da IES tem um objetivo. Algumas instituições estão caracterizando ou dando um enfoque “assistencialista” a este conceito. Outras estão dando um enfoque “filantrópico” e outras estão utilizando este termo como “Campanha de Marketing”. Na sua opinião, qual o viés que deve ser conduzido pela IES para enfatizar e concretizar este conceito? Qual é ou quais são os objetivos da Responsabilidade Social? PRESIDENTES LIDERANÇAS Objetivo da Responsabilidade Social das IES: Assistencialismo, Filantrópico, Marketing? a) Compromisso da Universidade: Socialização/Democratização do Conhecimento; b) Conjunto de Princípios em seu cerne: não se explicita em ações assistencialista, filantrópica, nem Objetivo da Responsabilidade Social das IES: Assistencialismo, Filantrópico, Marketing? a) Não assistencialismo, não filantrópico, não marketing – Ensino, Pesquisa e Extensão com pertinência, inseridos na comunidade: local, regional e nacional; b) Não assistencialista, não 270 marketing; c) Acolher o conceito ETHOS – aplicável as IES; d) Compromisso social – Universidade não é uma empresa: Conceito de Responsabilidade Social das IES equivocado, atualmente. PROPOSTAS: a) Investimentos Públicos: Universidades Públicas e Comunitárias; b) Participação da sociedade – na elaboração e determinação de seus fins; c) Criação de um Projeto Político de Estado e de Educação. filantrópico, não marketing – compromisso com a Educação; c) Não assistencialista, não filantrópico, não marketing – Função Social: Formação de profissionais – Produção/Disseminação do Conhecimento; d) Não assistencialista, não filantrópico, não marketing – Ações duradouras e consistentes para transformação da sociedade; e) Depende da Gestão da Universidade: Pode ter um caráter transformador da sociedade, pode se caracterizar como assistencialista ou pode se concretizar como estratégia de marketing. Objetivo da Responsabilidade Social das IES: Ensino de Qualidade, Pesquisa, Corpo Docente Qualificado, Formação de Pessoas Críticas, Conscientes, Inovadoras, com Valores Éticos, formados para mudar o Mundo. Quadro 12c - ANÁLISE COMPARATIVA DAS FALAS DOS DOIS GRUPOS DE SUJEITOS PESQUISADOS (12a/12b) Fonte: Elaborado pela pesquisadora. • ANÁLISE DAS CITAÇÕES DOS SUJEITOS PESQUISADOS Quando questionados sobre o objetivo da Responsabilidade Social das IES, se assistencialista, filantrópico ou “campanha de marketing”, os sujeitos pesquisados que representam as universidades pesquisadas diferenciaram-se do outro grupo porque foram mais diretos em suas respostas afirmando que Responsabilidade Social das IES não é: NEM ASSISTENCIALISTA, NEM FILANTRÓPICA, NEM MARKETING. Este aspecto pode ser considerado pela pesquisadora como positivo porque enfatiza a percepção daquilo que ele não é. Algo pode não ser muito claro, pode ainda não apresentar definições precisas, exatas, mas quando se obtêm uma definição daquilo que não se quer que ele seja, talvez, já pode ser considerado como um grande avanço. 271 Um dos sujeitos pesquisados afirmou que “nenhuma IES Federal tem as características apresentadas na pergunta”. Este Presidente declara que a Responsabilidade Social nas Instituições Federais de Ensino Superior baseia-se em um conjunto de princípios e “não se aproximam do assistencialismo, filantropismo ou marketing. Ainda afirma que “a Responsabilidade Social nas IES Federais faz parte de seu cerne e não se explicita em ações isoladas e, sim, nos princípios e finalidades institucionais e que se materializam nas atividades que são desenvolvidas no ensino, pesquisa e extensão”. Pode-se perceber em sua fala certo ar de indignação em relação a pergunta e uma postura defensiva imediata para justificar as finalidades de uma instituição pública. Responsabilidade Social da IES refere-se ao compromisso da Universidade, tanto com relação a socialização e democratização do conhecimento, quanto a construção de uma sociedade mais justa e ética. Esta declaração de uma liderança pesquisada pode apresentar característica de um discurso político, provavelmente, de uma liderança de uma IES pública defendendo seus ideais e princípios atrelados a sua atividade. Outra liderança pesquisada afirma que acolhe o conceito apresentado pelo Instituto ETHOS e compreende que é perfeitamente aplicável às Instituições de Ensino Superior. O conceito de Responsabilidade Social das IES ainda é equivocado afirma outra liderança. É preciso reafirmar o compromisso institucional, defende este Presidente. A pesquisadora destaca uma declaração de um dos sujeitos pesquisados que afirma que a tendência da compreensão e aplicação deste conceito, de Responsabilidade Social da IES, depende do modelo de gestão da universidade naquele determinado momento. A Responsabilidade Social da IES pode ter o objetivo de transformar a sociedade e a comunidade, como pode querer fazer assistencialismo, como pode fazer algumas ações para firmar a marca da instituição. Segundo esta Liderança “quanto mais à pesquisa for sedimentando ao ensino de qualidade, quanto mais se tenha a qualificação do corpo docente e condições concretas de realização, mais se estará contribuindo para esta Responsabilidade Social, na medida em que se formam pessoas críticas, pessoas conscientes, pessoas inovadoras, pessoas com valores éticos, pessoas que estão sendo formadas para mudar o mundo, não para perpetuar esta sociedade injusta”. Ainda enfatiza que depende da forma da gestão, do Projeto da Universidade como um todo. Este posicionamento desta liderança deixa 272 transparecer a amplitude e abrangência do conceito que não se pode defini-lo a partir de visões simplórias ou imediatistas ou de tendências mercantis. A definição deste conceito, de acordo com a percepção da pesquisadora, apresenta uma amplitude reflexiva, com características subjetivas, que expressa uma qualidade abstrata e depende exclusivamente da dimensão da visão, percepção, vivência daquele que está gerindo a IES naquele momento e representando as mais diversas organizações que reproduzem a imagem da educação superior brasileira. Este é um tema que não se encerra aqui. Ainda há muito o que ser discutido, debatido, dimensionado e construído no que se refere ao conceito de Responsabilidade Social das IES. 273 CONSIDERAÇÕES FINAIS FAZER HISTÓRIA Em que momento se deve começar a fazer História? “Este” é o momento de se fazer a História. A Nossa História é construída todos os dias, a cada oportunidade apresentada, a cada encontro estabelecido, a cada gesto e em cada olhar que se intercala com o outro. Estamos construindo a História. Que sejamos, apesar das linhas tortuosas e dos obstáculos, edificadores de luz de esperança que se transparecerá em nossas ações. (A pesquisadora, março de 2011). Ao longo destes quatro anos (2007-2010) vivenciou-se momentos inesquecíveis e singulares na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O início do processo de seleção no curso de Doutorado em Educação: Currículo, as novas amizades, as longas conversas sobre o papel da educação neste país e a responsabilidade do papel do professor neste contexto globalizado. A presença nas aulas, as descobertas, o respeito imputado à busca e construção do conhecimento, experiências alimentadoras da alma. “Tempo de possibilidades”. A angústia iniciante dos primeiros esboços da forma como seria conduzida a pesquisa, quem seriam os entrevistados, qual o problema a ser levantado... Mais dúvidas do que certezas. Talvez, agora finalizado o trabalho, as angústias e dúvidas estejam em outra perspectiva, mas continuem presentes às reflexões e em desdobramentos futuros. A realização deste trabalho se caracteriza como um momento ímpar e indescritível. No decorrer de toda a pesquisa muitos foram os momentos de reflexão, de hesitação e incertezas. Mas, o que conduzia a determinação em continuar eram as descobertas e perspectivas constantes. O que mais se destaca em todo este trabalho é o que se propunha a investigar e tornouse o problema que moveu esta pesquisa: qual o significado do conceito de Responsabilidade Social para as lideranças que representam a Educação Superior Brasileira? Como ele é vivenciado nas instituições que estas lideranças representam? 274 O que conduziu a elaboração deste problema de pesquisa era a hipótese de que se supunha até então: compreendia-se que havia uma inexistência ou abstração de termos conceituais, na legislação do SINAES, que pudessem explicitar o que seria o conceito de Responsabilidade Social da Educação Superior. A ausência de uma definição a este conceito estaria gerando, no contexto acadêmico universitário controvérsias teórico-conceituais e práticas, tornando-se um termo polissêmico para as principais lideranças da Educação Superior Brasileira, desencadeando sua imediata relação com a implantação de projetos sociais a semelhança da tendência predominante do mundo empresarial. Diante da hipótese anunciada e a partir da pesquisa realizada pôde-se constatar que a prática da Responsabilidade Social Corporativa se apresenta num contexto diferenciado da prática da Responsabilidade Social das IES. As empresas são constituídas a partir da lógica do mercado, onde são desenvolvidas relações comerciais através de contratos de trabalho, sendo que a produção e a geração de lucro é o objetivo principal da organização. Esta lógica de mercado que estabelece o valor do trabalho humano, voltado à produção e geração de lucro para o empregador, foi alvo de críticas apresentadas por vários estudiosos: a supremacia do poder econômico de poucos sobre a grande massa dos menos favorecidos. Surge, então, diante da exploração do trabalho do homem uma crise mundial da confiança nas empresas. Inicia-se, assim, uma tendência à implementação de projetos sociais para melhorar a qualidade de vida e de trabalho a todos os envolvidos e para minimizar possíveis danos ambientais provocados pelas organizações. Projetos estes voltados as mais diversas áreas, não somente para atender às necessidades da melhoria do trabalho realizado pelo empregado, mas também projetos voltados às famílias dos trabalhadores, à comunidade onde a empresa está inserida, parcerias com o poder público nas áreas de educação, cultura, esporte, moradia, saúde, transporte, preservação ambiental entre tantas outras. A Responsabilidade Social Corporativa tem um papel fundamental na participação da transformação de um ambiente, de uma realidade da qual a empresa faz parte. Obviamente, que algumas organizações utilizam-se do modismo deste conceito para se autopromoverem através de campanhas de marketing. Não se pretende aqui apresentar críticas negativas a este processo implementado nas organizações. Considera-se que estas ações são significativas e de 275 grande valia para todos os envolvidos, tanto para a comunidade assistida com os projetos desenvolvidos quanto para todos os voluntários, parceiros, colaboradores que participam destas ações. Talvez, para estes muito mais do que para os que estejam sendo beneficiados. Diante do exposto pode-se afirmar que o conceito de Responsabilidade Social das IES não se enquadra a este conceito de Responsabilidade Social Corporativa. As características relacionadas à atividade-fim de uma empresa se apresentam totalmente distintas da atividadefim de uma instituição de ensino. Parte-se da premissa que o equívoco instaurado em relação ao conceito de Responsabilidade Social das IES se deva à tendência de a lei estabelecer parâmetros que são considerados sedimentados no conceito de Responsabilidade Social Corporativa: “à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultura”. Muitas das ações sociais (ações estas baseadas na legislação vigente específica a cada área) desenvolvidas por organizações têm como objetivo principal proporcionar condições para que jovens e adultos sejam introduzidos no mercado de trabalho. Grandes somas de doações são desembolsadas pelas empresas, muitas vezes em parcerias com instituições do Terceiro Setor, incentivando atividades artísticas, educacionais e culturais, programas de preservação ambiental, gerando renda e desenvolvimento econômico e social para as comunidades onde estão inseridas. Estes se transformaram em conceitos próprios do mercado e serviram de referência às IES quando do surgimento da lei. A Responsabilidade Social da IES não pode ser visualizada ou vislumbrada através de projetos desenvolvidos pela IES com características assistencialistas, mercantilistas ou filantrópicas. A universidade não pode prestar serviços à comunidade que deveriam ser de responsabilidade do Estado. Não é sua função social substituí-lo. Ela deve ser impiedosamente crítica e fortemente resistente a esta postura que muitas vezes lhe é imposta, de “salvadora” dos fracos, dos pobres e dos oprimidos, dando-lhes assistência e melhores condições de vida. A Responsabilidade Social da IES não pode ser limitada ao que muitos afirmam ser: que abrange a qualidade do ensino, pesquisa e extensão que a instituição desenvolve. O 276 “resultado” ou o “produto gerado” por uma IES extrapola as práticas pedagógicas desenvolvidas pela universidade. A Responsabilidade Social da IES não é algo palpável que possa ser mensurado ou “quantificado” como propõe o SINAES. Não é algo que possa ser medido pelo número de profissionais que as universidades formam a cada semestre, técnicos capacitados para o mercado de trabalho (será que a universidade realmente os capacita?) ou baseado no número de projetos desenvolvidos pelos estudantes, professores, coordenadores às comunidades. A universidade tem um papel social que se caracteriza como sendo sua Responsabilidade Social que, em primeiro lugar, está atrelada a sua responsabilidade quanto à formação individual de cada Ser Humano que tem a oportunidade de poder desfrutar deste universo emblemático, sedutor e encantador que é o espaço universitário. O ideal seria que todos os seres humanos pudessem ter esta possibilidade. A Responsabilidade Social da IES, e das lideranças que fazem parte deste universo, está vinculada a sua contribuição na elaboração de políticas públicas para condução da transformação real do contexto social, econômico e político da sociedade brasileira. Não basta a elaboração de políticas públicas sem o cuidado e interesse dos gestores de querer implementá-las. A universidade e todas as IES necessitam “abrir suas portas” para que todos possam ter acesso ao conhecimento. Este acesso, tanto discutido na universidade, não pode simbolizar a possibilidade de circulação ao portador de deficiência através de uma rampa, ou de um elevador ou de sanitários adaptados. Não basta inserir cotas para afrodescendentes, indígenas. Não basta possibilitar a oportunidade a alunos de escola pública frequentarem a universidade ou disponibilizarem bolsas de estudos a alunos em condição socioeconômica desfavorecida, se estes alunos não conseguem pagar a passagem do ônibus, comprar livros, ou pagar um aluguel para estar mais próximo geograficamente da universidade. Não basta equipar seus laboratórios com computadores de última geração ou suas salas com equipamentos eletrônicos. Não basta possuir uma biblioteca com grande quantidade e qualidade em seus acervos, se o aluno se depara com bloqueios maiores do que a possibilidade de sua entrada neste estabelecimento. Não basta as salas estarem lotadas de alunos matriculados para assistirem a uma aula. A universidade precisa abrir suas portas a todos os interessados. O 277 acesso ao conhecimento e à Responsabilidade Social da universidade transcende a estes instrumentos, mecanismos e artifícios. A Responsabilidade Social da IES deveria ser estabelecida e definida a partir de um conceito claro, envolvendo todos os que são responsáveis por sua existência e permanência no contexto educacional brasileiro. A Responsabilidade Social da IES poderia ser embasada em princípios que são fundamentais a sua perpetuação e concretização de suas ações como instituição educativa, transformadora e capaz de proporcionar oportunidades. Diante do problema proposto nesta pesquisa – identificar o significado do conceito de Responsabilidade Social para as lideranças que representam a Educação Superior Brasileira – pôde-se constatar, a partir dos dados coletados, que há divergências explícitas quanto ao que este conceito representa para as IES no Brasil. Pôde-se perceber que não há clareza na definição do conceito, ou melhor, há uma ausência de definição para este conceito de Responsabilidade Social das IES entre as principais lideranças que fazem parte do complexo cenário que envolve a Educação Superior Brasileira. E a interpretação deste conceito pela liderança entrevistada está diretamente atrelada ao papel que esta liderança desempenha naquele momento e sua visão de mundo diante da vida. A maioria das lideranças pesquisadas, em função da interpretação tendenciosa da lei, compreende a Responsabilidade Social das IES como tendo uma relação intrínseca entre qualidade de ensino, pesquisa e extensão. Soa equivocado tratar a Responsabilidade Social da IES como qualidade de ensino, pesquisa e extensão, compreendendo-se que esta seja sua atividade-fim, esta seja sua missão institucional, pois foi com este intuito que as universidades foram criadas, para gerar ensino de qualidade, desenvolver pesquisas e aplicá-las, promovendo a universalização do conhecimento. Um dos aspectos positivos do SINAES em relação ao conceito de Responsabilidade Social foi proporcionar às IES uma reflexão sobre suas próprias ações. Isto verifica-se tanto para as IES públicas, quanto para as comunitárias, como para as privadas. O momento é específico para o repensar da universidade, o repensar de sua função social, o repensar de sua Responsabilidade Social e o repensar de seu compromisso social: a universidade tem um 278 papel fundamental a contribuir sobre – qual sociedade se quer formar? A formação da sociedade humana passa pela universidade, faz parte de sua responsabilidade. Na pesquisa realizada pôde-se constatar que são apresentadas várias críticas ao SINAES como a instabilidade dos instrumentos de avaliação relatada por alguns sujeitos pesquisados; a fragilidade das linhas mestras do SINAES; a desqualificação ou má preparação dos avaliadores do INEP/MEC; a ineficácia da criação e concretização de uma cultura de avaliação para a Educação Superior, por imposição de uma cultura reguladora e punitiva por parte do poder público; a criação do Índice Geral de Cursos (IGC) que não contribui para o aprimoramento das limitações da IES, mas instiga o ranking das instituições tão explorado pela mídia; e o processo avaliativo ser altamente quantitativo em detrimento aos elementos qualitativos. Apesar de se afirmar que não existe uma cultura de avaliação em função da ação reguladora e restritiva imposta pelo SINAES, um aspecto importante a se destacar é que, a partir desta lei, as universidades iniciaram um processo de avaliação interna que as conduziu a um modelo de gestão, capaz de refletir sobre seus processos e estratégias institucionais e, principalmente, a partir de suas análises amadurecer seus processos decisórios para melhoria tanto institucionais quanto educacionais. Este é um processo que ainda está em construção. O SINAES ofereceu às IES, através da imposição do processo de auto-avaliação, entre outras reflexões, a possibilidade de rever seus projetos de extensão e, compreendendo-os, perceber que estas práticas acadêmicas não podem ser confundidas com as ações sociais que são desenvolvidas pelas organizações empresariais, ou por ONGs, por instituições religiosas ou organizações do Terceiro Setor. Esta compreensão pode ser percebida na fala dos sujeitos pesquisados quando eles afirmam que não existe um conceito único, não há um consenso, sobre a Responsabilidade Social da IES, entretanto, uma afirmação se tornou unânime em seus relatos: eles são enfáticos ao afirmar que a Responsabilidade Social da IES não pode ser comparada a ações assistencialistas, a projetos filantrópicos ou à campanha de marketing. Esta afirmação merece relevância porque se tem como pressuposto que se há clareza naquilo que a Responsabilidade Social não é, ou não pode ser comparada como tal, então este já se caracteriza como um princípio a ser discutido, debatido, sobre o que ela deveria ser. 279 A compreensão do conceito de Responsabilidade Social da IES está diretamente vinculada ao modelo de gestão que predomina em determinado período em uma universidade. Sendo a Responsabilidade Social da Educação Superior fundada em princípios e valores que permeiam as práticas pedagógicas, acadêmico-institucionais baseadas no modelo de gestão que se apresenta, então, deveria haver uma relação harmônica entre o discurso e a prática. Já afirmava Paulo Freire, citado nesta pesquisa (p.139), que a liderança é a coerência “entre o que se diz e o que se faz e prioriza a participação e construção coletiva de forma democrática”. A Responsabilidade Social deveria ser desenvolvida, estimulada e valorizada nas IES como projetos educativos e científicos, de maneira interdisciplinar entre os vários departamentos, envolvendo os alunos, professores, coordenadores e representantes da comunidade e do poder público para avaliarem sua realidade local, proporcionando condições para transformá-la, por meio do acesso ao conhecimento desenvolvido pela IES, sem perder de vista o contexto socioeconômico-político do país do qual faz parte. A pesquisa demonstrou que a intervenção de um Estado Avaliador tanto nos processos de trabalho educativo como nos aspectos de desempenho e resultados nas instituições de ensino, principalmente no contexto das universidades, que se caracterizou como o centro das atenções deste estudo, possibilitou o despertar de reflexões diante de temas como o conceito de Responsabilidade Social das IES. Pôde-se perceber que as considerações em torno deste tema se apresentam como abrangentes e complexas, em função da dimensão que a Educação Superior abarcou nesta sociedade do conhecimento. Diante disto, se deduz que este tema mereça relevância nos debates, discussões, fóruns, simpósios e encontros que serão realizados futuramente em todas as Instituições de Ensino Superior neste país, envolvendo a comunidade acadêmica e a sociedade como um todo, inclusive e, principalmente, representantes dos Fóruns, Associações, Sindicatos, Conselhos que atuam como lideranças na Educação Superior Brasileira. Que estes encontros não sejam específicos de universidades públicas, ou de comunitárias, ou de privadas. Que haja um intercâmbio de ideias e experiências entre todas as IES, independente de sua categoria administrativa. 280 Sugere-se que estes debates proponham o desenvolvimento de um conceito próprio de Responsabilidade Social, específico para todas as Instituições de Ensino Superior brasileiras. Que se reflita a partir da máxima estabelecida na Lei dos SINAES qual o significado do conceito de Responsabilidade Social para as IES. Que se estabeleçam indicativos e delineamentos, que não são contemplados atualmente na lei, determinando princípios que definam a Responsabilidade Social das IES, baseados no seu papel social, na sua missão como instituição educativa, principalmente aqueles voltados à formação humanística, sem discriminação de qualquer natureza, onde a produção e disseminação do conhecimento sejam sua máxima. Que possibilite o acesso ao conhecimento a todos e todas, respeitando as ideias e diversidade entre os envolvidos. Que seu compromisso seja com o ensino do SABER SER antes do SABER FAZER, para que se aprenda a SABER CONVIVER e se atinja a máxima do SABER VIVER. Encerramos estas reflexões compartilhando da concepção de universidade de DIAS SOBRINHO (2005, p. 172), em que ele afirma que a universidade não deve dar razão ao mercado, nem quando ele se impõe como razão da sociedade. “Que a universidade não seja um motor da globalização da economia de mercado, mas sim da globalização da dignidade humana”. Esta talvez seja a tarefa que se apresenta como o grande desafio da Educação Superior e, talvez, seja sua maior Responsabilidade Social. Tornemo-nos todos responsáveis pela concretização desta máxima. 281 REFERÊNCIAS ABRÃO, Bernadette S. (Org.) História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. AMARAL, Roberto Galassi. 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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Sede Campus Monte Alegre TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PESQUISADOR (A): Marcia Regina Chrispim Alvares Rosetto ENDEREÇO: Rua São João, 131 D apto 502 – Centro – Chapecó (SC) TELEFONE: (49) 3323-4669 (Residencial)/(49) 8816-2222 (Celular) ORIENTADOR (A): Prof. Dra. Regina Giffoni Luz de Brito TÍTULO DA PESQUISA: INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL: Um estudo sobre as representações de lideranças do Ensino Superior Brasileiro. NOME DO SUJEITO: .................................................................................... Venho por meio deste convidá-lo (la) a participar como voluntário (a) de uma pesquisa intitulada: INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL: Um estudo sobre as representações de lideranças do Ensino Superior Brasileiro, que se refere a uma Tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Esta pesquisa tem como objetivo principal estudar e identificar as representações sociais, em torno da questão da responsabilidade social das IES. Pretende-se, com esta pesquisa, explicitar como a responsabilidade social das IES é compreendida por suas lideranças, como faz parte de suas propostas e como se manifesta concretamente no cotidiano destas instituições. 296 Destaca-se que o nome do sujeito-pesquisado não será utilizado em qualquer fase da pesquisa, o que garante seu inteiro e completo anonimato. A pesquisa terá como técnica de coleta de dados a entrevista semiestruturada, que poderá ser gravada e embasada em um questionário-referência desenvolvido pela pesquisadora ou poderá ser respondido o questionário por escrito e enviado via correio ou devolvido por e-mail. Não haverá nenhuma cobrança em espécie; não haverá nenhum gasto ou despesa decorrente de sua participação nesta pesquisa; não estão previstos ressarcimentos ou indenizações devido a sua participação na pesquisa; não haverá benefícios imediatos nem risco algum na sua participação efetiva. Os resultados desta pesquisa contribuirão para um estudo mais aprofundado sobre o conceito de Responsabilidade Social das IES e suas ações concretas. Reitera-se que sua participação é voluntária e que poderá recusar-se a participar ou retirar seu consentimento, ou ainda, descontinuar sua participação, se assim o preferir. Este documento faz parte de uma exigência do Comitê de Ética e se apresenta como uma preocupação e cuidado ético da pesquisadora para com os sujeitos pesquisados. Eu, ............................................................. declaro que li as informações contidas nesse documento, fui devidamente informado(a) pelo pesquisador(a) – Marcia Regina Chrispim Alvares Rosetto – dos procedimentos que serão utilizados, riscos e desconfortos, benefícios, confidencialidade da pesquisa, e concordo em participar da pesquisa. Foi-me garantido que posso retirar o consentimento a qualquer momento, sem que isso leve a qualquer penalidade. Declaro ainda que recebi uma cópia desse Termo de Consentimento. _____________________________________________________________________ LOCAL e DATA _______________________________ Marcia Regina Alvares Rosetto RG 13.836.208-7 CPF 686.968.099-04 ____________________________ Nome do Sujeito Pesquisado RG_________________________ CPF________________________ Nome____________________________ Nome________________________ RG______________________________ RG__________________________ CPF_____________________________ CPF_________________________ 297 Anexo 3 QUESTIONÁRIO ELABORADO PELA PESQUISADORA, APLICADO SUJEITOS PESQUISADOS COLETA DE DADOS DA TESE DE DOUTORADO 1. QUESTIONÁRIO PERFIL ACADÊMICO/PROFISSIONAL a) NOME:______________________________________________________________ b) IDADE: _____________________________________________________________ c) SEXO: ( ) Masc. ( ) Fem. d) GRAU DE INSTRUÇÃO: ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Superior Incompleto ( ) Ensino Superior Completo ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) Pós-Doutorado: ( ) No Brasil ( ) No Exterior e) ESTUDOU EM IES: ( ) Privada ( ) Pública f) Os cursos que frequentou foram com bolsa de estudos? ( ) Sim Quais? ( ) CAPES ( ) CNPq ( ) Fundo de Apoio à Pesquisa ( ) Não ( ) Do Estado ( ) Outra: identificar ____________________________________________________ g) O (a) senhor (a) atua no Ensino Superior? ( ) Sim ( ) Não Se sim: em qual Instituição?_______________________________________________ h) Quantos anos atua no Ensino Superior? ( ) De um a cinco anos ( ) De cinco a dez anos ( ) De dez a quinze anos AOS 298 ( ) De quinze a vinte anos ( ) Mais de vinte anos i) Sua atuação no Ensino Superior sempre foi na mesma instituição a que pertence hoje ou atuou em outras? Em quantas? ______________________________________________________________ Públicas ou privadas?_______________________________________________________ j) Já atuou ou atua como Professor Universitário?__________________________________ k) Já atuou ou atua em Cargos de Liderança?_____________________________________ l) Já foi ou é representante de algum órgão governamental ou de algum Fórum, Conselho ou afins, representativo do Ensino Superior? ________________________________________ Em que período? ___________________________________________________________ m) Em qual região do Brasil já atuou no Ensino Superior? ( ) Sul ( ) Sudeste ( ) Norte ( ) Nordeste ( ) Centro-Oeste n) Em qual cidade?_________________________________________________________ ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA 1) De acordo com a Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, que institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), em seu artigo 3°, inciso III estabelece que as Instituições de Ensino Superior serão avaliadas quanto a seu papel de Responsabilidade Social. Como o (a) senhor (a) compreende este papel de “Responsabilidade Social”? E Como a Instituição a que o (a) senhor (a) pertence ou representa atuam nesta área? Quais ações são realizadas? 2) Na sua concepção, em que a Lei dos SINAES foi inspirada para ser elaborada? 3) Qual é o conceito que as Instituições de Ensino Superior têm sobre “Responsabilidade Social das IES”? 4) Em sua opinião, existe alguma relação do conceito de Responsabilidade Social com o trinômio: Qualidade de ensino, pesquisa e extensão? Que papel reserva este conceito às instituições de ensino superior? 5) Na sua concepção, que postura os SINAES propõem para as IES? 299 6) Existe alguma relação entre a “Função Social” da Instituição de Ensino Superior em nosso País, o Conceito de Responsabilidade Social e a Lei dos SINAES? Qual é o seu conceito de função social, considerando-se as instituições de ensino superior? 7) Na avaliação das instituições, algumas dimensões serão consideradas para que as IES sejam avaliadas, de acordo com a Lei dos SINAES. Pergunta-se: passados seis anos da implantação desta lei, este processo de avaliação está sendo eficaz para sensibilizar as IES na concretização destas ações? O que o leva a esta resposta? 8) Ainda complementando a pergunta anterior, baseado no número de IES públicas e privadas em nosso país e a variedade de cursos existentes em todo o território nacional, qual a sua apreciação com relação aos avaliadores, com a instituição da qual faz parte? 9) As IES no Brasil estão preparadas para respeitar, compreender e incorporar, como mecanismo para superação das dificuldades de desempenho, tanto institucional quanto educacional, uma cultura de avaliação proposta pelo SINAES? Quais seriam estas dificuldades? O que existe em contrapartida para auxiliar? 10) O SINAES, como o próprio nome define, é um Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Como todo processo avaliativo possui características positivas e negativas, considerando-se também pelo fato de ser um processo recente no Brasil. Em sua opinião, quais os pontos positivos do SINAES e quais aqueles que deveriam ser revistos e em que aspectos? Por quê? 11) O INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL, uma organização sem fins lucrativos, caracterizada como organização da sociedade civil de interesse público, possui um conceito amplamente difundido às empresas sobre Responsabilidade Social. O (a) senhor (a) conhece este conceito? Seria a Responsabilidade Social das IES, através dos SINAES, embasada neste conceito defendido pelo Instituto Ethos ou as IES já discutiram sobre este tema e possuem um conceito de Responsabilidade Social apropriado a sua realidade? 12) A Responsabilidade Social das IES tem um objetivo. Algumas instituições estão caracterizando ou dando um enfoque “assistencialista” a este conceito. Outras estão dando um enfoque “Filantrópico” e outras estão utilizando este termo como “Campanha de Marketing”. Em sua opinião, qual o viés que deve ser conduzido pela IES para enfatizar e concretizar este conceito? Qual é ou quais são os objetivos da Responsabilidade Social? 300 Anexo 4 QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELOS TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS SUJEITOS PESQUISADOS E QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO P1 1) A Responsabilidade Social do X é compreendida como ação que integra a Graduação, a Pesquisa e a Extensão. Neste sentido, as ações de Responsabilidade Social já fazem parte da rotina de empresas e cidadãos que se esforçam para melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento da comunidade em geral. Por este motivo, o X desenvolve e apoia diversas iniciativas que contam com o empenho de alunos, professores e funcionários. Essas ações fazem parte da Extensão Universitária do X. Projetos de Extensão: a) Projeto X – Arte e Inclusão O projeto é uma iniciativa de sucesso que teve início há mais de uma década e continua dando frutos e expandindo sua atuação. A parceria com o Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo e a Divisão de Medicina de Reabilitação se consolidou nas oficinas que atendem jovens deficientes a partir de 14 anos, onde conceitos estéticos fundamentam o ensino da arte e permitem que os alunos alcancem sonhos cada vez mais altos; hoje, o Projeto possui ainda uma Escola de Pais e um Centro de Estudos Multidisciplinar Pró-Inclusão. b) Projeto X O Lar da Bênção é uma entidade sem fins lucrativos que existe desde 1956 e passou a ser creche a partir de um convênio com a prefeitura, cuidando de crianças da faixa dos 7 aos 14 anos que precisam estar matriculadas em escolas para entrarem no Lar. O Projeto de arteeducação que o X possui lá foi iniciado em 2007 com aulas de desenho. A partir disso, diversas linguagens já foram trabalhadas com as crianças, como pintura, desenho, monotipia e gravura, sempre em módulos com duração semestral. No ano de 2010, a linguagem que está sendo trabalhada é a tridimensional. Em parceria com o Itaú Cultural, aliamos a obra de Hélio Oiticica a esses conceitos e, dessa forma, realizamos oficinas semanais para desenvolvimento de Parangolés e experimentação espacial através de Penetráveis com diferentes grupos de 301 crianças. A supervisão do projeto é feita por um professor de curso de Artes Visuais e toda a concepção, organização e desenvolvimento das propostas são feitos pelos próprios monitores alunos da X, sendo um forte exercício de mediação, arte-educação e adequação de linguagem vinculando um trabalho da graduação à Extensão. c) Biblioteca Cidadã As Bibliotecas do X realizam campanhas frequentes de arrecadação de donativos para entidades carentes. Além de atender às necessidades urgentes, como material escolar e alimentos não perecíveis, também há arrecadação de brinquedos para as crianças, chocolates na época da Páscoa, alimentos para festas juninas, etc., com o objetivo de oferecer mais qualidade de vida às pessoas atendidas. O X ainda conta com diversos projetos permanentes que ocorrem ao longo de todo o ano e que podem ser melhor acompanhados em nosso site. 2) A lei dos SINAES teve como inspiração o alinhamento da Educação Brasileira às questões colocadas pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem de Jomtien, 1990, bem como Os quatro pilares da Educação são conceitos de fundamento da educação baseados no Relatório para a UNESCO, da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Neste sentido, a forte concepção de que a educação pública e privada, ou seja as IES, deve se comprometer cada vez mais em oferecer um ensino de qualidade, que atenda às demandas do mercado e que forme cidadãos conscientes do seu papel na transformação de uma sociedade mais justa, ou seja, cumprir sua função social. O parágrafo primeiro, reproduzido abaixo, sinaliza esta questão: “1° O SINAES tem por finalidades a melhoria da qualidade da educação superior, a orientação da expansão da sua oferta, o aumento permanente da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de Educação Superior, por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos valores democráticos, do respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da autonomia e da identidade institucional”. 3) Compreendemos Responsabilidade Social no âmbito pedagógico e administrativo. No aspecto didático pedagógico articulamos ações, projetos e programas que integram os diversos saberes e conectam a graduação à pesquisa e à extensão universitária. No âmbito 302 administrativo, o respeito aos princípios éticos, legais e financeiros colaboram para construir tanto nossa prática interna quanto nosso compromisso com a educação e ao mercado como um todo. 4) Já respondida. (Q.3) 5) Já respondida. (Q. 2) 6) Já respondida. (Q. 2) 7) Acredito que todo o processo de avaliação somente alcança sucesso ao longo de um certo tempo, bem como com a adesão dos atores envolvidos. Neste sentido, as IES têm se manifestado muitas vezes crítica aos critérios de avaliação, o que demonstra seu envolvimento nesta questão. Além disso, muitas têm ajustado suas estruturas administrativas e pedagógicas adaptando as questões da Lei dos SINAES. 8) Penso que deveria combinar mais avaliadores de IES públicas com os de IES privadas. 9) Estão preparadas sim, ainda que existam alguns aspectos que mereçam mais reflexão e ponderação, levando-se em conta a realidade das IES privadas, o que nem sempre é considerado, uma vez que o marco regulador são as IES públicas. 10) Já respondido. (Q. 2). 11) Acredito que a RS extrapola à apontada pelo Ethos, ainda que se relacione com ele, uma vez que das empresas que participam do Ethos poucas são IES. 12) O nome já diz bastante – que o compromisso é tanto com a socialização e democratização do conhecimento quanto com a construção de uma sociedade mais justa e ética, que são os objetivos da RS. QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO P2 1) Na minha compreensão, a responsabilidade social da universidade guarda relação com sua função precípua de promover o desenvolvimento e a inclusão e emancipação social. Isso deve se dar através da formação adequada no âmbito da graduação e da pós-graduação, da pesquisa e da extensão, realizadas com base no princípio de que essas atividades devem ocorrer de 303 modo indissociado. A X é reconhecida nestes campos, embora existam iniciativas no sentido de quebrar essa indissociabilidade e de direcionar a instituição para interesses privados. 2) Foi inspirada na perspectiva da padronização das IES, com desobrigação do estado quanto ao seu financiamento e como processo que permita ao governo obter dados para suas políticas e necessidades de apresentar indicadores de metas no setor. 3) Esse não é um conceito bem estabelecido e ainda menos homogêneo no âmbito das IES, que permita responder a questão. 4) Deve existir essa relação, no entanto no geral se procura se distanciar dela. Novamente é muito variável a forma como as IES encaram o papel que deve ser dado a este conceito. 5) De padronização e enquadramento aos indicadores estabelecidos pelo governo para as IES. 6) Vide resposta na questão número 1. 7) Sensibilizar não, de impor os parâmetros do governo, sim. 8) Não compreendi o que está sendo questionado. Não sei como responder. 9) Parece-me que a questão parte da premissa de que o SINAES é algo positivo e que as IES deveriam se empenhar no sentido de respeitar “uma cultura de avaliação proposta pelo SINAES” (não tenho conhecimento que exista essa “cultura” proposta pelo SINAES). Não entendo assim e espero que as IES estejam preparadas para avaliar de forma crítica seu papel e também de modo crítico o que se propõe no SINAES. 10) Não vejo pontos positivos. Ele padece da lacuna de estabelecimento prévio de um plano democraticamente estabelecido para as IES e de que a avaliação guarde relação com os fundamentos deste plano. 11) Não conheço o referido instituto, ainda menos o conceito “amplamente difundido”. 12) Não compreendi a questão, que me parece também enviesada no sentido de partir da premissa de que esteja socialmente estabelecido “o objetivo” da Responsabilidade Social das IES. Não vejo vinculação da questão final, com a definição de um “viés” que remete para as possibilidades de enfoque apresentadas (assistencialista, filantrópico ou campanha de marketing). 304 QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO P3 1) Compreendo a Responsabilidade Social de uma Universidade Federal e, portanto, pública, como a que eu dirijo, como um conjunto do que posso chamar princípios e que estão contidos no seu Estatuto: respeitar a diversidade e o pluralismo de ideias, sem discriminação de qualquer natureza; desenvolver o ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociável; promover a universalidade do conhecimento e fomentar a interdisciplinaridade; ter compromisso com a qualidade, com a orientação humanística e com a preparação para o exercício pleno da cidadania ao desenvolver suas atividades; ter compromisso com a democratização da educação, no que concerne à gestão, à igualdade de oportunidade de acesso, e com a socialização de seus benefícios; e ter compromisso com a democracia, com o desenvolvimento cultural, artístico, tecnológico e socioeconômico do País, por meio da manutenção da paz, com a defesa dos direitos humanos e a preservação do meio ambiente. 2) A elaboração da Lei do Sinaes foi inspirada, em minha opinião, no Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub), que foi implementado no Governo Itamar Franco, em que o Ministro da Educação era Murílio Hingel. O Paiub foi um programa que pensou a avaliação institucional em toda sua complexidade e procurou implantar – sem premiação e sem punição – a cultura da avaliação organizada nas universidades brasileiras, tanto públicas quanto privadas. Infelizmente, ele foi praticamente desativado com a implementação do exame nacional de cursos, o provão, no Governo Fernando Henrique. 3) Ver a resposta da questão 1. 4) Ver a resposta da questão 1. 5) Na minha concepção, o Sinaes não propõe nenhuma postura para as IES. O que está proposto no Sinaes é uma concepção de avaliação institucional que abarca todas as complexas dimensões de atuação da IES e que, na minha visão, está condizente com os princípios sob os quais devem se dar as ações da IES, pensando nas suas responsabilidades sociais, como explicitei na primeira questão. 6) O Sinaes, na minha concepção, procura avaliar, como já disse, a responsabilidade social da IES procurando examinar se ela segue, em suas ações, os princípios que explicitei na questão 1. A função social de uma IES federal como a que dirijo é cumprida quando se efetivar, como 305 está previsto em seu Estatuto, as seguintes finalidades: “transmitir, sistematizar e produzir conhecimentos, ampliando e aprofundando a formação do ser humano para o exercício profissional, a reflexão crítica, a solidariedade nacional e internacional, objetivando alcançar uma sociedade mais justa, em que os cidadãos se empenhem na busca de soluções democráticas para os problemas nacionais.” 7) É claro que todo processo de avaliação pode induzir as ações do avaliado. Dessa forma, o Sinaes tem provocado mudanças positivas nas IES; no meu entender, mais nas IES privadas que nas públicas, pois estas já atuavam e continuam a atuar segundo os princípios que norteiam o Sinaes. Não vejo que as dez dimensões avaliativas do Sinaes possam ser consideradas como ações a serem implementadas, pois são gerais e propõem caminhos amplos para as IES. 8) Creio que há um problema na elaboração da questão. Primeiro, não consigo ver uma relação entre número de instituições, variedade de cursos e avaliadores! Além disso, não entendo o que está sendo perguntado: “qual a sua apreciação com relação aos avaliadores, com a instituição da qual faz parte?” Você quer saber qual a apreciação que faço em relação aos avaliadores que visitam a instituição que dirijo? No meu entender são nossos pares, com qualidades e defeitos e que expõem as suas visões sobre como devem ser as IES quando avaliam nossos cursos e aspectos da instituição em que trabalho. A subjetividade existente e necessária em um sistema de avaliação como o Sinaes nos permite concordar e, também, discordar de diversas avaliações que são promovidas. Existe, ainda, no Brasil, um aprendizado sobre como avaliar a complexidade existente em uma IES. 9) As IES públicas estão plenamente preparadas para respeitar, discutindo/criticando os resultados, e compreender e incorporar a cultura proposta pelo Sinaes. A cultura avaliativa proposta no Sinaes é, na verdade, a cultura avaliativa que já existia nas universidades públicas, só que de forma não normatizada e não organizada. O Sinaes, de certa forma, nos conduz, no bom sentido, para normatizar e organizar o nosso processo avaliativo. 10) São muitos os pontos positivos do Sinaes e eu destacaria o fato de ele procurar avaliar a complexidade existente nas IES. Uma avaliação com o grau de complexidade proposto pelo Sinaes não é possível se efetivar utilizando-se de uma metodologia muito quantitativista como a que foi implementada; assim, creio que deveriam ser realizados esforços especiais para que 306 a metodologia fosse se tornando cada vez mais qualitativa, à medida que fossem amadurecidos os mecanismos de avaliação institucional e os avaliadores se tornassem mais experientes. Destaco, ainda, o uso que se faz do resultado do Enade, exageradamente midiático e que, em vários momentos, esconde a amplitude do Sinaes. 11) Não conheço. A responsabilidade social de uma IES pública é muito diferente de uma empresa privada que visa o lucro e que, em geral, vê a responsabilidade social como marketing institucional. Não é essa a proposta do Sinaes e nem das IES públicas. 12) Posso garantir que nenhuma IES federal tem as características apresentadas na pergunta. Em geral, a responsabilidade social nestas instituições é vista como um conjunto de princípios como já afirmamos e que não se aproximam do assistencialismo, filantropismo ou marketing. Como tenho ressaltado, ao longo das respostas, a responsabilidade social nas IES federais faz parte de seu cerne e não se explicita em ações isoladas e, sim, nos princípios e finalidades institucionais, e que se materializam nas atividades que são desenvolvidas no ensino, na pesquisa e na extensão. QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO P5 1) A expressão “Responsabilidade Social”, normalmente, tem sido confundida com “assistencialismo”, “filantropia” ou ações outras que representem ato voluntário de disposição material em favor de pessoas menos favorecidas. Conquanto essas ações possam estar, efetivamente, compreendidas na Responsabilidade Social, entendo que esta é mais ampla e, nesse sentido, acolho, integralmente, a visão apresentada, dentre outros, pelo Instituto Ethos. Assim, da mesma forma que as empresas (concepção a partir da qual trabalha, originalmente, o Ethos), entendo que as Instituições de Ensino Superior – num mundo extremamente competitivo e disputado, muitas vezes, sem a mínima lealdade – devem compreender a Responsabilidade Social indicada no SINAES como um desafio para a qualidade das relações com seus alunos, com seu quadro de colaboradores (funcionários e professores) e de fornecedores ou prestadores de serviços. Na mesma linha, ditas Instituições deverão ocupar-se e preocupar-se com sua sustentabilidade econômico-financeira, bem como voltar seus olhos e suas atenções para a sustentabilidade ambiental, compreendida, aqui, não apenas do ponto de vista micro (a Instituição e seu entorno direto), mas, igualmente, na sua dimensão macro, ou 307 seja, da amplitude geográfica mais ampliada, que vai além de suas paredes e atinge, até mesmo, o próprio universo. Nossa Instituição tem buscado envolver-se nesse processo, buscando cultivar adequadas e qualificadas relações com seus alunos, seus professores e funcionários, tornando-os coparticipantes dos processos de gestão, envolvendo-os, também, nas discussões que tenham por foco a sustentabilidade econômica da Instituição, inclusive a partir de análises dos novos processos de competitividade no Ensino Superior. Da mesma forma, temos empreendido uma presença forte nas ações voltadas ao “ambiente”, seja através dos cursos focados nesse tema (Ecologia, Química Ambiental, Pedagogia, Ciências Biológicas e outros), seja com uma presença marcante nas grandes discussões locais e regionais sobre o tema. Impõe-se registrar, ainda, que a Universidade participa, ativamente, de inúmeros processos regionais de discussão dos temas que envolvem não só a cidade sede, mas as demais cidades da Região. 2) A Lei do SINAES nasce inspirada, fundamentalmente, no propósito de avaliação, de regulação, embora tenha utilizado, positivamente, alguns indicativos relevantes, dentre os quais o da responsabilidade social. Não tem o SINAES, entretanto, o poder indutivo de ações dessa natureza, porque ainda trabalha, demasiadamente, a partir de indicativos numéricos e não de uma leitura “qualitativa” das ações das Instituições de Ensino Superior. A concepção legal é válida; no entanto, sua aplicação ainda deixa muito a desejar. 3) Entendo que ainda predomina um entendimento mais limitado, por boa parte das Instituições de Ensino Superior brasileiras, e isso pode decorrer da própria forma como o processo de avaliação acontece (ver quesito anterior). 4) Entendo que deveria existir uma forte relação entre esses conceitos. No entanto, isso não é, ainda, uma realidade. A qualidade do ensino e da pesquisa, de modo especial, é medida por indicativos numéricos: nota do ENADE, número de professores com titulação de mestre ou doutor, número de professores com tempo integral, volume de pesquisas, quantidade de publicações em periódicos importantes, etc. Eventualmente, o exame dos trabalhos de extensão pode ser olhado sob a perspectiva da responsabilidade social, mas seu peso relativo é pouco significativo. Dificilmente, será melhor “avaliada” uma Instituição com poucos projetos de alta relevância social ou ambiental, em relação a uma outra com número expressivo de trabalhos puramente burocráticos, mais “papel” do que “ação”. 308 5) O SINAES propõe que a Instituição estabeleça o perfil e o significado de sua atuação através das atividades, cursos, programas e projetos, tendo como norteadoras as dez dimensões nele consagradas. Não há relevância especial para a responsabilidade social. 6) Ao falar-se de “função social’, sempre surge sua leitura a partir da materialidade da função social da propriedade. Parece, a propósito, que poderíamos partir, mesmo, da concepção oriunda da Constituição de Weimar, de 1919, quando, depois de reafirmar a garantia ao direito de propriedade, acrescenta: “A propriedade obriga. Seu uso deve ser igualmente feito no interesse geral”. Não é diferente a leitura que, hoje, pode ser feita da “função social” das Instituições de Ensino Superior: o “saber” obriga; a “posição privilegiada das IES obriga; e assim por diante. A função social das IES acarreta, para todas elas, que suas ações “devem ser feitas no interesse geral”, no interesse da sociedade, no interesse do ambiente, nas relações qualificadas com seus colaboradores, no seu diálogo aberto com seu entorno. Há, pois, segundo entendo, relação direta e necessária entre “função social” das IES e Responsabilidade social das mesmas. Não tenho a mesma segurança se essa relação está claramente proposta pela Lei do SINAES; creio que há indicativos nesse sentido, mas são tênues. 7) As “dimensões” alinhadas no SINAES e suas relações com os Planos de Desenvolvimento Institucional e os Planos Pedagógicos Institucionais são, ou melhor dizendo, deveriam ser indutores da sensibilização das IES na concretização de ações de responsabilidade social. Certamente, para algumas instituições isso pode e deve estar acontecendo. No entanto, os Instrumentos de Avaliação ainda deixam muito a desejar: primeiro, porque estão constantemente sofrendo alterações, a demonstrar uma fragilidade de suas linhas mestras; segundo porque – como já anteriormente manifestei – estão fortemente focados no aspecto quantitativo, que raramente consegue distinguir ações relevantes de responsabilidade social, mas, predominantemente, quantidade de ações nesta ou naquela linha. Não há indícios fortes de que – decorridos seis anos de implantação do SINAES – isso tenha provocado a concretização de ações de responsabilidade social, como um todo, sistemático, nas Instituições de Ensino Superior brasileiras. 8) Creio que o Brasil precisa avançar muito, ainda, na qualificação dos avaliadores, sobretudo para dar a eles uma visão mais alargada das grandes metas de formação superior brasileira. Impõe-se que os avaliadores se envolvam bem mais com a história da Instituição avaliada, 309 com sua contextualização local e regional, com seu papel no espaço geográfico e temporal em que estão inseridas, do que no mero preenchimento de um questionário burocrático que, ao final, dará uma “nota” à IES. Terão eles a preocupação de saber se aquela “nota” corresponde à “leitura” que a sociedade faz da Instituição ou isso pouco interessa? Esta não é uma observação a partir da nossa Instituição, mas um comentário que decorre de muitas conversas com Dirigentes de IES. 9) Os processos de avaliação deverão estar, preferentemente, sustentados na vontade efetiva da Instituição de olhar para si, examinar seus pontos fortes e seus pontos fracos, para, a partir disso, nortear sua ação. A cultura de avaliação do SINAES é fortemente marcada pela autoridade estatal de permitir ou não a continuidade da Instituição e de colocá-la em um “ranking” de melhores ou piores instituições. Pouco tem sido feito, na verdade, para trabalhar adequadamente uma “cultura” de avaliação, que estimule as instituições a “respeitar, compreender e incorporar” a avaliação como mecanismo para superação das dificuldades de desempenho, tanto institucional quando educacional. É certo que a existência do SINAES – apesar de sua característica reguladora – provocou em muitas instituições, felizmente, essa cultura, notadamente quando a Instituição já desenvolvia algum trabalho nesse sentido, ou já tinha sido motivada a tal por outras ações não compulsórias; por exemplo: a forte atuação do CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) em favor da autoavaliação das Universidades. Os sistemas “compulsórios” sempre acarretam dificuldades para criar uma “cultura”. 10) Sem dúvida alguma, a existência do SINAES é altamente positiva para o Ensino Superior Brasileiro. Sua concepção é bastante boa e não se pode pensar, hoje, na qualificação do ensino superior sem contar com um Sistema dessa natureza. Penso que, ao menos, dois elementos deveriam ser mais qualificados: primeiro, uma maior estabilidade nos instrumentos de avaliação, de forma a torná-los mais permanentes e poderem permitir que as instituições consigam orientar-se sistematicamente por seus indicativos e preocupações; segundo, uma importante qualificação dos avaliadores, que inclua, necessariamente, uma visão mais alargada e socialmente comprometida com o verdadeiro papel do ensino superior, que valorize os elementos qualitativos acima dos meros indicativos quantitativos. Afora isso, o SINAES deveria buscar maior articulação com as Instituições (públicas, privadas e comunitárias), na discussão sobre suas dimensões, seus instrumentos de avaliação, a atuação 310 dos avaliadores. Não é possível que, a cada dia, as instituições sejam surpreendidas com alterações e mais alterações, sobretudo, nos instrumentos de avaliação. 11) Já disse anteriormente, entendo ser perfeitamente aplicável às Instituições de Ensino Superior o conceito difundido pelo Instituto Ethos sobre Responsabilidade Social, bastando que se faça uma simples adaptação. 12) Penso que já dei a resposta na questão inicial, ao acolher o conceito apresentado pelo Instituto Ethos, e ao dizer que ele é perfeitamente aplicável às Instituições de Ensino Superior. QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO P8 Permita-me tecer breve comentário a respeito das três primeiras questões: 1,2,3) Preliminarmente, entendo haver um problema conceitual com a questão da Responsabilidade Social aplicada à Instituição de Educação Superior. Primeiro porque este conceito está largamente desenvolvido e entendido (como portador de significado) no contexto empresarial, lugar onde surgiu. Então, se considerarmos uma IES como uma instituição empresarial, entendida como o lugar onde há a relação empregador e empregado, pode-se aplicar o conceito largamente utilizado para a Responsabilidade Social. Da mesma forma onde há a relação empregador-empresa, enquanto tomador de serviços, e fornecedores de serviços e equipamentos ou suprimentos, também se aplica o conceito de Responsabilidade Social. Isso porque a Responsabilidade Social é o lugar onde as pessoas jurídicas que estabelecem relações comerciais e de trabalho, por meio do exercício do seu modo de produção para obtenção de lucro, que se dá mediante a exploração da mais valia do trabalho e da especulação de serviços e insumos, compromete-se a destinar parcela deste seu lucro para o social e a coletividade como um todo, de modo a reparar eventuais injustiças advindas pela exploração do capital e do meio ambiente ou insumos. É por conta desta lógica que ocorrem investimentos voltados para o social, o meio ambiente, a educação, saúde, etc. Ou seja, a prática da Responsabilidade Social tem por base o financiamento de ações que não fazem parte da atividade primeira ou principal da empresa. Por isso podemos dizer que se trata de uma prática reparadora. Então a IES vista sob essa ótica, enquanto empresa, pode tranquilamente valer-se deste expediente na sua relação com funcionários e fornecedores, realizando ações sociais para aqueles e estabelecendo redes de parcerias com estes para o 311 desenvolvimento de ações de Responsabilidade Social. Por outro lado, a introdução deste conceito (Responsabilidade Social) na Educação Superior vem iluminada por uma situação muito particular e que envolve a Pesquisa. Salvo engano, a Prática da Pesquisa e o investimento a ela destinado tinham uma cultura que provocava o distanciamento do pesquisador (e da ciência) das realidades e necessidades sociais. Tanto é verdade que a CAPES inaugurou a mesma dimensão na avaliação dos Programas de Pós-Graduação. Pareceme que esta inteligência veio igualmente dar concretização à exigência da LDB para que a IES se vinculasse à sua região e se comprometesse com o seu desenvolvimento. Assim, o esforço é criar um liame entre a academia e o desenvolvimento local e regional. Neste sentido, creio eu que a Responsabilidade Social chega à IES como forma de comprometê-la a esta relação. Por isso, a Extensão, canal de comunicação entre Academia e Comunidade, se sentiu fortemente responsabilizada para dar vazão às políticas de Responsabilidade Social da IES. O que percebi é que as IES, no momento de prepararem seus relatórios internos para submissão à CONAES, faziam grande confusão entre esta Dimensão do SINAES com o relato da Extensão, parte integrante da Dimensão Acadêmica (com o Ensino e a Pesquisa). No entanto, como forma de simplificar esta celeuma, as IES costumeiramente atribuíram à Extensão a carga da Responsabilidade Social, bem como à Ação Comunitária ou aos Projetos Sociais e de Filantropia por elas realizados. Pelo que pude observar nas IES com as quais me relacionei por meio do FOREXT, as atividades relacionadas às práticas de Responsabilidade Social se confundem com a Extensão, a Ação Comunitária e a Filantropia, realizada por meio de projetos sociais. 4) Por coerência, devo admitir que o conceito de Responsabilidade Social em nada serve para avaliar a qualidade de uma instituição, muito menos uma instituição educacional, de nível superior, nem mesmo a qualidade do ensino, pesquisa ou extensão. O escopo da uma IES é dado pela Constituição Federal e pela LDB, combinada com o Plano Nacional de Educação e políticas específicas para o setor. Sua “Responsabilidade Social” é inata à sua natureza, não há como distinguir de modo a identificar isto ou aquilo como prática ou ação de responsabilidade social. Ou a IES está compromissada com o social ou não, então torna-se uma empresa e seu papel social é o mesmo de uma empresa que explora uma prestação de serviços para obtenção de lucro, criando um contrassenso com os princípios Constitucionais e o direito social à Educação. Por isso, em minha opinião, não há como vincular 312 Responsabilidade Social com qualidade de Ensino, Pesquisa ou Extensão. O objeto do PDI e do PPI de uma IES deveria ser ele todo um ato, um compromisso aberto e público da IES para com a coletividade do seu entorno ou região. Um compromisso com o desenvolvimento e projeto de país e de nação. Se não há esse compromisso, a IES está equivocada. E este compromisso não se confunde com Responsabilidade Social, pois está diretamente vinculado à sua gênese e natureza. Citando um amigo da Universidade Católica de Brasília, a Universidade é o lugar da Paideía e da Politeia, da Educação e da Cidadania – não cabe o conceito de Responsabilidade Social nisso, seria diminuir o significado da Universidade. 5) Parece-me que o SINAES objetiva identificar em que medida há este compromisso da IES para com o seu entorno e por isso vale-se da Responsabilidade Social como quesito capaz de aferição de quantidade e valor às práticas realizadas. É um indicador escolhido e utilizado. Poderiam ser ou ter outros, mas foi este o escolhido. 6) Parece-me respondida na pergunta 4. Mas reforçando, o conceito de função social da IES é facilmente entendido a partir da LDB quando estabelece um vínculo entre a IES e o seu entorno, bem como das políticas específicas para a pesquisa e o ensino de graduação. 7) Sem dúvida. Como mencionado anteriormente, o viés da Responsabilidade Social foi um caminho adotado, poderia ter sito outro, mas, enfim, é esse. E se olharmos para os resultados, principalmente após este período longo de experimentação, percebemos que muitas IES despertaram-se para isso, engrossaram seus projetos de extensão e sociais, alargaram a participação da comunidade em suas ações. Enfim, houve um avanço significativo. No entanto, muitas IES também têm usado desta política como elemento mercadológico, ou seja, um “plus” em suas campanhas de marketing. Elas seguem a “onda” do ramo empresarial, pois a questão do momento é sustentabilidade e responsabilidade social. Estas IES não querem ficar de fora deste mercado. E mais, possuem uma chancela governamental (SINAES) para reforçar e publicamente divulgar seus resultados e índices, em rankings cada vez mais criativos. 8) O cadastro diversificado de avaliadores causa um resultado muito interessante. Primeiro porque, independentemente de quem olha, traz uma crítica do seu ponto de vista por mais que o SINAES tenha vinculado a observação do avaliador externo, ele dá a sua compreensão do objeto observado e aí notamos a diferença do olhar de uma IES pública do de uma privada, e 313 esta privada comunitária, confessional ou filantrópica ou simplesmente particular e de finalidade econômica. Acho que o que realmente está sendo analisado é o processo de avaliação, o próprio SINAES, mesmo porque não será a dimensão da Responsabilidade Social que irá confirmar a qualidade do ensino da IES visitada ou desencadear um Termo de Ajuste para adequações que impediriam o seu funcionamento. Por isso, acho que temos a oportunidade para avaliar o próprio SINAES, sua metodologia e o sistema federal de ensino como um todo. Pensar nesse todo é pensar num projeto nacional, num plano nacional de educação. 9) Acredito que a maioria das Universidades e alguns centros universitários sim, estão preparados e interessados neste processo, mas a grande maioria das faculdades, que ultrapassam 70% das IES no país, não estão preparadas nem interessadas, haja vista a reação do maior segmento, o particular, em inúmeros artigos publicados a desfavor do SINAES. Mesmo porque, para a grande maioria destas, as políticas adotadas se situam no limite do mínimo possível, ou seja, da realização do mínimo legal. Talvez no final deste processo é preciso estabelecer um “dead line”, tenha o Governo e o MEC que adotar medidas mais fortes para (re)organizar o setor e distribuir novas competências e autorizações segmentadas ou parciais. 10) Talvez eu não esteja qualificado para esta resposta, que é igualmente complexa. Mas o próprio fato de termos o SINAES é um sinal bastante positivo deste Governo e indica um caminho para a sedimentação de uma política de Estado para a Educação Superior. Ele também é positivo porque tenta ser completo e envolver diversas dimensões e quesitos. É compreensível que não pode ser um instrumento aberto, pois seu objetivo é coletar dados e informações nacionais – o que representa um volume considerável. No entanto, o mal maior está na utilização que dele é feita, amoldando-se conforme as conveniências e interesses particulares. Fora este aspecto, como professor extensionista, militante do movimento extensionista e ex-presidente de um fórum nacional, tenho que defender a necessidade de se ter uma avaliação condigna para a Extensão, sem valer-se de artifícios como o da Responsabilidade Social. No entanto, isto está longe de acontecer, pois a Extensão carece de um marco regulatório, um marco legal e de conteúdo político suficiente para ocupar um espaço gerencial dentro do MEC. Hoje, a Extensão não está em lugar algum, não há um órgão do MEC responsável por ela, não há financiamento suficiente – o Fórum dos Pró-Reitores de 314 Extensão das Universidades Públicas-Estatais tem conseguido alocar verbas para a Extensão e distribuí-la por meio de editais do PROEXT – mas isto não tem sido suficiente para atender às necessidades do segmento, nem muito menos para contemplar a participação das IES Comunitárias. Embora devamos reconhecer o esforço do MEC, especialmente do Ministro Haddad, ainda há muito para avançar com a Extensão. Apenas recentemente, na minha gestão do FOREXT, com a colaboração e apoio dos presidentes dos demais fóruns de extensão (IES Públicas-Estatais e Particulares) é que conseguimos chamar a atenção do CNE e de algumas FAP´s para a Extensão. Mas o CNPq, por meio de parcerias com o MDA, tem lançado editais de fomento para a Extensão, mas ainda são incipientes para dar conta de uma demanda reprimida. 11) A questão da Responsabilidade Social já foi discutida pelo FOREXT em 2004, no Encontro Nacional de Campinas. Publicamos a Carta de Campinas a respeito (acesso pelo site: www.uniso.br/forext). Entendemos que a temática da Responsabilidade Social não se enquadra ou se confunde com a Extensão ou Filantropia ou Ação Comunitária. 12) No âmbito das IES, creio que o melhor caminho seja a afirmação do seu compromisso social. Primeiro porque é preciso romper com a lógica de mercado e da empresa. Universidade não é uma empresa. Ela se utiliza de mecanismos gerenciais para se sustentar, manter pagamento de seus funcionários, prestar contas aos sindicatos, governos, fisco, enfim, há um rol de stakeholders (é assim que se escreve....?) para quem a Universidade não pode romper com a linguagem deste setor. Mas a questão administrativa deve funcionar como um substrato, uma base para garantir o exercício da sua autonomia e o avanço da ciência. É preciso haver investimento no setor, tanto para a Universidade pública quanto para a Comunitária, de caráter público. Caso contrário, ela se voltará a se portar como uma empresa para sobreviver no mercado e em sua lógica. A política do SINAES deveria caminhar junto com uma política da sustentabilidade das Universidades. Não precisa ser o Governo ou o Estado o único financiador do segmento, mas deve ser ele o agente determinante para distribuição deste financiamento, segundo critérios trazidos de um sistema único de avaliação. E com relação à questão central, a Universidade não deve praticar Responsabilidade Social; para afirmar-se em seu Compromisso Social, é o seu Estatuto, o seu PDI e PPI que dá o sentido deste compromisso. Por isso, a IES deve ter muito claro o fim para o qual se destina. Hoje todas formam no ensino superior e vendem cursos. É preciso organizar este setor, de 315 modo que o PDI, o PPI e o Estatuto de uma Universidade funcionem como uma Carta Política, onde haja participação da sociedade na sua elaboração e determinação de seus fins. É preciso dar um caráter público às Universidades, sejam elas Públicas-Estatais ou Comunitárias. Isso é o mesmo que criar um projeto político de Estado e da Educação que queremos. Outras IES particulares que não se filiarem a esta nova forma, poderão explorar economicamente o ensino, reguladas e fiscalizadas pelo Poder Público. Por isso entendo que a questão da Responsabilidade Social é equivocada. É preciso reafirmar o Compromisso Institucional. QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO L1 1) A Lei do Sinaes estabelece efetivamente que a responsabilidade social da instituição será analisada e avaliada. Estabelece ainda que será considerada especialmente a responsabilidade da instituição no que se refere à sua contribuição em relação a quatro aspectos; a) inclusão social, b) desenvolvimento econômico e social; c) defesa do meio ambiente, d) da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural. Estas questões, portanto, estão muito claramente estabelecidas. Difícil para os avaliadores não é identificar o que tem que ser avaliado, mas como mensurar cada um destes aspectos. Pois não basta dizer que a inclusão social está sendo efetivada por uma política de bonificação ou de quotas ou ações afirmativas desta e daquela natureza. É preciso saber também se os resultados são satisfatórios (o quanto é suficiente? Basta reservar 2% das vagas para estudantes originários das escolas públicas, ou precisam ser 90%?). Nem sempre estas questões estão muito claras nos instrumentos. De qualquer forma, as instituições às quais pertenço têm tido grande preocupação em cada um dos quatro aspectos apontados, com ações importantes (e.g., recuperação de fortes, valorização da literatura regional, da música regional, recuperação econômica e social de aldeias de pescadores com uso de novas tecnologias de plantio e colheita no mar, nos rios e lagos da região, etc., etc.) 2) A lei do Sinaes é, como diz o texto básico que a gerou, uma nova síntese: ela inclui muito do Paiub do início dos anos 90, inclui as experiências com as comissões de especialistas da SESu, também do início dos anos 90, e inclui a experiência do provão. A única questão verdadeiramente nova no Sinaes é o seu conceito de avaliação institucional, definindo-a e 316 diferenciando-a da avaliação de programas, cursos e de outras avaliações menores. A avaliação institucional é a alma do Sinaes e torna este sistema, combinado à avaliação de cursos e de desempenho de ingressantes e concluintes, único no mundo. 3) Só posso falar da minha instituição, mas creio que a lei estabelece uma definição bastante clara, com grandes possibilidades para projetos de extensão e de pesquisa. 4) Com certeza! A qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão não é um conceito abstrato. Ela está sempre fortemente associada à sua utilidade para alguém, em algum tempo e espaço. Ela pode ser uma qualidade a serviço de poucos, como ocorre em universidades historicamente elitistas que consideram que quantidade vem em detrimento da qualidade e por isso excluem. A tônica do país tem sido exatamente esta em sua história. É por isso que chegamos ao ano 2010 com apenas 15 de cada 100 jovens de 18 a 24 anos na educação superior, enquanto outros países já têm mais de 40 há muitos anos. No entanto, não há evidência alguma de que o ensino elitista brasileiro seja melhor do que o ensino amplamente democratizado dos Estados Unidos ou da Coreia do Sul. Parece, efetivamente, o contrário: nossa qualidade é pior! Inclusão, portanto, não é uma palavra abstrata: ela representa oportunidades concretas para que jovens inteligências possam ser colocadas a serviço do desenvolvimento da nação, graças à educação que recebem. Há algumas décadas achávamos que o ensino fundamental deveria ser para poucos. Pertenço a uma geração que teve que fazer exame de admissão ao ginásio (hoje equivalente ao oitavo ano do ensino fundamental!). E convivíamos pacificamente com este absurdo, como hoje convivemos com o absurdo do elitismo na educação superior. Se o indicador do Sinaes, que trata da responsabilidade social, conseguir reduzir o elitismo brasileiro já terá feito um papel importante. Além disso, é sabido que a pesquisa e a extensão sempre estão associadas à melhoria do ensino. No caso específico, a extensão e a pesquisa, preocupadas com a pertinência social, darão também maior pertinência ao ensino ministrado. 5) O Sinaes cobra maior preocupação das IES com o entorno em que se situam, tirando-as da torre de marfim na qual têm historicamente o hábito de se isolar. 6) A função de uma universidade é produzir e disseminar o saber – o que significa dizer que a sua função é fazer avançar o conhecimento e colocá-lo a serviço da melhoria da qualidade de vida das pessoas. A função básica da universidade de verdade, portanto, é social. Todas são 317 universidades de verdade? Não! Muitas não foram criadas pela sociedade para que a sociedade pudesse assim melhor ajudar-se a si própria (que é o que se esperaria!), mas foram criadas por indivíduos, donos de instituições, que visam antes o lucro e apenas marginalmente disseminar o saber. O papel do Sinaes é, portanto, educativo no sentido de que nos relembra o que a universidade deveria ser e o que ela não é e não deve ser. 7) A lei do Sinaes obteve significativo êxito na implantação da avaliação de cursos e na avaliação dos estudantes. A avaliação institucional, no entanto, tem sofrido vários revezes. Só no início de 2006, após quase dois anos de discussão na Conaes, o primeiro instrumento de AI obteve consenso e, mesmo assim, a sua aplicação, por várias razões, foi retardada. Com as trocas de equipe no Inep, na CTAA, na Conaes e no MEC, com a criação do IGC, implantação do e-mec, etc., os instrumentos começaram a sofrer novas modificações e isto tudo deu pouca oportunidade para que a AI avançasse. Creio, no entanto, que quando a AI começar para valer, sem interrupções e com consequências sérias no processo regulatório, o poder de indução da avaliação será mais fortemente notado do que é hoje. Mesmo assim, considero a sinalização do Sinaes extremamente importante. 8) 89% das IES são privadas, mas a grande maioria dos doutores está nas IES públicas. A grande maioria das IES privadas são também pequenas faculdades sem grande expressão no cenário educacional. O Banco de avaliadores do Inep deve ser constituído sem tomar como primeiro critério a origem institucional, mas a trajetória educacional do professor, a sua formação, o seu currículo e sua capacidade para objetivamente avaliar. Neste sentido, o ideal seria que todos fossem doutores, que tivessem noções de estatística, que fossem pessoas de reputação ilibada, responsáveis pelo que fazem, bons observadores, de bom relacionamento com as pessoas, para citar apenas algumas das muitas qualidades citadas pelos especialistas (ver Stufflebeam). 9) A criação da cultura da avaliação começa assim. Nos anos 80, falar em avaliação era tabu no Brasil. Nos anos 90 melhorou bastante e hoje estamos decididamente em outro patamar: podemos até questionar instrumentos, metodologias, avaliadores, mas jamais questionamos a avaliação como sendo um processo importante para a melhoria da qualidade das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. Preparados? Na época da ditadura havia quem afirmasse que o país não estava preparado para a democracia. Isto é argumento de quem não 318 tem interesse em mudar. Mudar nem sempre é algo rápido como gostaríamos que fosse, mas é fundamental especialmente quando se trata de processos educacionais, sabidamente lentos. Uma biblioteca ruim não mata ninguém repentinamente, como um remédio mal administrado, mas ela é nociva para a formação dos indivíduos e isto se refletirá anos mais tarde no desempenho profissional das pessoas. Somos descuidados com relação a isso talvez por causa do pouco impacto imediato, da pouca visibilidade que estas coisas têm no nosso dia a dia. 10) Gosto do Sinaes e gostaria que a avaliação institucional pudesse ser efetivamente implantada, retirando-se todos os elementos criados a posteriori que o contradizem na sua essência (o IGC, por exemplo). Pessoalmente, manteria o CPC e mudaria a lei para permitir a avaliação de curso por amostragem, com avaliação institucional universal mais frequente. Também recuperaria o Portal Sinaes e o BASis nos termos originais – aquele que recebeu o prêmio latino-americano do Banco Mundial por inovação na divulgação estatística. 11) Creio que há muitos pontos em comum entre o que o Instituto Ethos e o que o Sinaes propõem como responsabilidade social. É claro que o Sinaes não se inspirou no trabalho do Instituto, mas em tudo o que se publicou na literatura sobre avaliação ao longo dos anos no mundo. É importante registrar que as pessoas que trabalharam na formulação do Sinaes estavam quase todas envolvidas com a elaboração do Paiub, em 1993. São todas pessoas estudiosas da avaliação educacional e por isso mesmo não há uma escola específica que defina a influência sofrida pelo Sinaes. Como disse anteriormente, o Sinaes é uma síntese do que vinha sendo discutido no mundo e do que vinha sendo praticado ao longo dos anos no Brasil, buscando adequar conceitos de avaliação a um estado avaliador, como é o Brasil, articulando-os aos processos regulatórios. 12) Nem assistencialista, nem filantrópico, nem marketing – apenas ensino, pesquisa e extensão com pertinência, isto é, o desenvolvimento de atividades essencialmente universitárias adequadamente inseridas na comunidade local, regional e nacional. 319 QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO L2 1) A Responsabilidade Social da nossa instituição vem sendo aprimorada a cada ano. A adesão e participação de vários programas e projetos direcionados não só a inclusão de alunos advindos da rede pública bem como os que participam das cotas para afro-descendentes, indígenas e portadores de deficiência tem contribuído de forma bastante eficaz nesse processo de inclusão social. Além dessas ações a Pró-Reitoria de Extensão tem desenvolvido alguns projetos em parceria com outras instituições como o projeto conexões de saberes e escola aberta, com o departamento de assuntos culturais que em conjunto com o departamento de artes desenvolvem vários projetos na área da cultura com um enfoque na cultura maranhense. Além disso, a Pró-Reitoria de Pesquisa tem o projeto PIBIC para alunos cotistas de preferência afro-descendentes. Recentemente, foi criado o núcleo de acessibilidade da universidade, que tem a coordenação da Pró-Reitoria de ensino. 2) Acredito que a lei foi inspirada no sentido de criar um mecanismo mais eficaz para avaliação dos cursos de graduação, propiciando assim uma radiografia mais fidedigna no que diz respeito aos cursos, aos alunos, à formação acadêmica, estrutura física e laboratorial para o desenvolvimento das atividades acadêmicas. 3) É difícil responder a esta pergunta. Cada instituição através dos seus gestores tem um programa e metas a serem desenvolvidos durante sua gestão. Acredito que a nossa instituição tem um projeto macro a ser desenvolvido, neste aspecto, o próprio lema já traduz esta preocupação: “a universidade que cresce com inovação e inclusão social”; sob este lema todo um planejamento vem sendo desenvolvido para garantir acesso, permanência e formação dos nossos alunos. 4) Claro! Quando falamos de Responsabilidade Social a que uma universidade se predispõe a desempenhar não podemos separar a questão do ensino no que concerne à formação técnica do indivíduo, a pesquisa que irá fornecer subsídios para o desenvolvimento do ensino e, principalmente, com relação à extensão, onde se verifica uma via de mão dupla entre o saber acadêmico e o saber popular. 5) Acreditamos que o SINAES propõe para as instituições de ensino superior uma postura de orientação para que as IES possam, através de um processo interno e externo de avaliação, ter um olhar para as suas ações, analisar, avaliar, propor e mudar. 320 6) As instituições de ensino superior têm um papel importantíssimo no que diz respeito à Responsabilidade Social. É através da formação dos seus alunos proporcionando a estes uma formação democrática, científica e com espírito crítico inovador que poderão promover mudanças não só no seu campo de atuação, mas em todo um contexto de vida. 7) Acreditamos que sim. Verifica-se hoje, por exemplo, um crescimento marcante na qualificação docente, o número de professores qualificados (mestrado e doutorado) tem aumentado significativamente, a participação dos alunos em novos modelos de aprendizagem, o envolvimento dos técnicos administrativos, etc. tem contribuído sobremaneira nesse processo. 8) Acredito que deveria haver um melhor entendimento com respeito aos itens avaliados por parte dos avaliadores; verifica-se que o olhar difere entre avaliadores para um mesmo item avaliado. 9) Acredito que sim. A experiência vivenciada nos mostra que, após cada avaliação, grupos de trabalho são constituídos no sentido de corrigir possíveis problemas encontrados. 10) Pontos positivos: avaliação crítica da universidade em seu aspecto administrativo, infraestrutura, político-pedagógico, produção científica, atividade de extensão, etc. 11) Não. Sei muito pouco a respeito da função do Instituto Ethos, mas creio que a missão do mesmo está direcionada à empresa no que diz respeito a gerir seus negócios de uma forma sustentável e com responsabilidade social. As instituições de ensino superior não funcionam com esse perfil de empresa. A educação tem uma forma diferente de ser tratada, mas também com um enfoque prioritário a uma formação com responsabilidade social. 12) Acreditamos que nenhum desses vieses deveriam ser direcionados para as instituições de ensino superior. As IES devem responder ao seu compromisso, que prioritariamente estão relacionados à educação. 321 QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO L3 1) A responsabilidade social de uma instituição de ensino superior está localizada principalmente na formação de qualidade que oferece. Além disso, a instituição atua com projetos e atividades que atendem a comunidade, atuando junto a elas na busca de melhores condições de saúde, moradia, educação. As ações extensionistas de forma geral estão focadas na responsabilidade social. 2) Acredito que a lei do Sinaes tem falhas, mas constitui-se num avanço no que diz respeito à avaliação da educação superior. Sabemos que os processos de avaliação externa têm também por finalidade a regulação das IES e a influência das reformas já ocorridas em outros países. 3) Ao estabelecer a missão institucional, entendo que a X já expressa seu compromisso social. A X tem por finalidade produzir e difundir conhecimentos múltiplos, no âmbito da graduação e da pós-graduação, visando à formação de indivíduos éticos, críticos e criativos, para a qualidade de vida humana. 4) Penso que sim. Acredito que o conceito de responsabilidade social está sempre presente na instituição. Todas as ações institucionais devem levar em conta principalmente seu papel social e sua inserção na comunidade. 5) Acredito que propõe um olhar crítico sobre si mesma e a qualidade e repercussão de suas ações. 6) A lei do SINAES tem um objetivo de estabelecer critérios e indicadores que permitam verificar as contribuições das IES dentro de determinados parâmetros. Considerando que a função social de uma instituição educacional é a formação de pessoas e, no caso das IES, a produção de conhecimentos novos e sua socialização, entendo que deva fazer muito bem isso. 7) Acredito que sim. Há maior clareza institucional do que se avalia no Sinaes e também no estabelecimento das metas da instituição. 8) Não tenho elementos para responder. 9) Estão preparadas em sua maioria. A cultura da avaliação precisa ser efetivada. Há dificuldades na compreensão do processo avaliativo, pois é visto muitas vezes como punitivo ou simplesmente quantitativo. Essa é a dificuldade. AQ participação na avaliação é requisito para participação em editais do MEC. 322 10) O aspecto positivo é inaugurar uma cultura de avaliação com clareza de indicadores e categorias. O negativo é o uso desses dados para classificação e não para autoavaliação das IES e consequente correção de rumos e estratégias. 11) Esse conceito não foi discutido com esse enfoque. 12) Entendo que não deva ser visto de nenhuma dessas formas. A responsabilidade social se caracteriza nas IES por sua própria função social de formação de quadros profissionais, produção e disseminação do conhecimento. Com essas ações, as IES poderão dar retorno à sociedade dos recursos investidos propiciando melhoria da qualidade de vida nas diferentes áreas. As ações das IES junto à sociedade devem servir a essas finalidades, retornando os benefícios a essa mesma sociedade. QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO L4 1) O papel da responsabilidade social tem a ver com a função que a IES tem e tornar o local onde está inserida melhor de se viver. Com relação às ações, somos ainda um Centro em formação, com poucos professores efetivos e todos muito engajados nas mais variadas tarefas; no entanto, além de procurarmos formar bons bacharéis, temos atuado em vários projetos de extensão e pesquisa. 2) Não tenho ideia. 3) Entendo que na sua maioria o conceito é o mesmo definido na primeira pergunta. 4) Tudo a ver, quando temos a) qualidade de ensino estamos cumprindo a nossa responsabilidade social em formar verdadeiros cidadãos; b) Qualidade de Pesquisa permitimos que a IES aprofunde temas que podem e devem ser aplicados; c) Extensão: pois efetivamente podemos atuar junto à comunidade, auxiliando na resolução de problemas. 5) Reguladora. 6) Sim, acredito que estes conceitos estão ligados e a Lei do SINAES acaba servindo de instrumento para a realização dos mesmos. Em minha opinião, função social para as IES tem a ver com a necessidade de atuação na sociedade, proporcionando desta forma uma maior integração entre a IES e a Comunidade, auxiliando na solução de problemas. 323 7) Acredito que não. Ainda não temos uma cultura de avaliação. 8) Não tenho conceito formado sobre este assunto. 9) Acredito que ainda não. As dificuldades dizem respeito principalmente à priorização da avaliação, pois normalmente acabamos nos voltando para as rotinas do dia a dia, deixando de lado a avaliação. 10) Não tenho conhecimento detalhado sobre o SINAES, mas entendo que um ponto positivo diz respeito à implementação de uma cultura de avaliação. 11) Não tenho ideia. 12) Dentre estes três enfoques acredito que nenhum deva ser usado como fator para atender à responsabilidade social, pois uma ação assistencialista ou filantrópica tem curta duração, deve-se buscar ações mais duradouras e profundas, que possam efetivamente proporcionar modificações na Sociedade. QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO L5 1) A responsabilidade social é inerente ao trabalho desenvolvido pelas IES, qual seja: produção do conhecimento em sua dimensão de ensino, pesquisa e extensão. Conhecimento este que deve estar voltado para a melhoria da sociedade no tocante à formação e ação de profissionais voltados ao crescimento humano e ao mundo do trabalho. 2) Foi inspirada no sentido de integrar concepções, processos e procedimentos sobre avaliação, antes dispersos em vários dispositivos legais e instâncias administrativas, agora integrados num “corpus” único para regulação, avaliação e aperfeiçoamento da educação. 3) Em linhas gerais está articulada à prestação de serviços. 4) Já respondida na 1ª questão. 5) O SINAES propõe uma uniformidade nos procedimentos de avaliação e foca a melhoria da educação superior. O SINAES propôs também, como a Universidade se vê, como a Universidade se entende, trabalha em relação ao ensino, pesquisa e extensão, de acordo com o seu projeto. Mas, a gente percebeu que, infelizmente, na primeira oportunidade, já houve um ranckeamento, quando saíram, no que se diz respeito à graduação, as notas. E o que se dizia 324 era que a concepção dos SINAES foi feita de uma forma democrática, tinha um conceito mais amplo, em termos de avaliação não punitiva, mas que acabou sendo usado, ou pela imprensa ou pelas próprias Universidades, como um meio de propaganda de quatro ou cinco. Então, eu acho que se tornou mais uma competitividade entre Universidades; mais uma competitividade do que um instrumento de aperfeiçoamento. 6) A função é formação do cidadão. É a formação de profissionais que sejam críticos, que sejam autônomos, que exerçam estas cidadanias, que tenham sensibilidade para esta questão dos problemas da sociedade, que tenham feito esta transformação social e, eu acho assim, a função social não pode estar desvinculada dos valores, da ética, da cidadania e, evidentemente, com toda uma formação profissional também porque a Universidade forma seus profissionais para atuarem no mercado de trabalho, mas ela forma pessoas na sua integralidade, na sua formação como um todo. 7) Eu acho que é assim, eu tenho a impressão que as instituições, não sei se seria sensibilidade, mas, hoje elas olham com mais força para as questões avaliativas. Elas repensam porque, antes dos SINAES, o que tinha? Havia boicote dos alunos pelo Provão, por uma série de coisas, que era como um momento político de repúdio a uma avaliação de cima para baixo. Mudou-se a concepção, mas o que eu percebo é que ainda há uma certa desconfiança das instituições em relação à eficiência dessas avaliações. Ela ainda representa uma regulação, representa mais uma punição do que um aperfeiçoamento, de uma forma geral. 8) Não. Os que vêm aqui fazer avaliação não. Infelizmente, nós tivemos uma avaliação e a gente percebeu que nem todos os avaliadores têm essa capacidade, foram capacitados ou têm essa concepção da avaliação como um instrumento de desenvolvimento. Eu acho que merece cuidado especial com a formação desses avaliadores, uma vez que não tem sido adequada esta formação ou esse treinamento que vem sendo feito. 9) Então, o que eu posso responder é que aqui na X temos o IDEB, do PAIUB de 1990, temos experiências de avaliação, até porque nós temos um corpo docente altamente qualificado de pessoas na área de avaliação que são referências nacionais. E quando nós assumimos [...] (cargo), eu montei um grupo que está trabalhando a questão da avaliação dos cursos, a avaliação do desempenho dos alunos, a avaliação dos coordenadores, no sentido que 325 possamos ter vários elementos, porque a avaliação tem que estar de acordo com tomadas de decisões para se ter uma correção de mundo. Fazer avaliação porque o MEC quer, porque o SINAES expõe, tudo bem, mas não é só isso, tem que fazer a avaliação para que os gestores possam se apropriar desses resultados ou dessas análises de avaliação e fazer correção de rumo e ações de melhorias, então não adianta fazer avaliação e ela tem que ser imediata, você avalia, você tem que ter tomadas de decisões de melhoria, porque senão os dados caducam muito rapidamente. Você não pode fazer uma avaliação e só no ano seguinte tomar uma decisão. O que acontece, muitas vezes, é que as instituições fazem esse tipo de coisa, mas eu não vejo que elas são aproveitadas para definir ações e estratégias do Currículo Nacional. Na X, conseguimos fazer algumas e agora estamos empenhados, começando uma avaliação em termos de cursos de graduação, que nós temos quase 50 (cinquenta) aqui na X, mas que a gente possa usar estes dados para que possamos melhorar, porque se você não muda, o dado morre e não adianta nada. Na cultura de avaliação é muito importante a avaliação, a discussão dos resultados e a tomada de decisões dos gestores para definir a ação, porque se não tiver isso não adianta avaliar ou você avalia só proforma. 10) Os pontos positivos do SINAES são que ele abrange o ENADE, que é o Exame Nacional de Desempenho (dos Estudantes), a avaliação interna e a autoavaliação. Ele associa também a questão da qualificação do corpo docente e também quais são os procedimentos, a infraestrutura adequada; então, ele conjuga vários fatores para que você possa ter uma nota ou um conceito da X. Então, acredito que não é mais aquilo que quando o aluno ia mal, por exemplo, no provão, aquilo iria prejudicá-lo. Tem a questão da autoavaliação, tem a questão da qualificação do corpo docente e, eu acho que o SINAES chama muita atenção para isso. Isso as Universidades têm que repensar, em termos de como estão sendo qualificados os profissionais. Isso eu acho importantíssimo. Você olhar para que seja bem avaliado, você tem que ter esta capacitação, esta qualificação do corpo docente e também a questão da infraestrutura, dos recursos que (...) você muitas vezes vê que tem algumas universidades que são dotadas de escadas rolantes, um computador por classe, mas também se você não tem um corpo docente qualificado (...) É um conjunto de coisas que vai ter este resultado. Então, acho que são pontos positivos. Os pontos negativos que lhe falei é esta questão dos avaliadores e outra que também não seja usado, como muitas vezes, o resultado como de um ranckeamento da competitividade entre as instituições. 326 11) Eu não conheço este conceito. Eu conheço ETHOS, mas não sei qual que é o conceito que eles têm, mesmo porque nunca trabalhei com este tipo de coisa. Mas, o que eu acho é que a Universidade não tem que se fechar nos seus muros e ter o seu conceito. Ignorar o conceito que o Instituto ETHOS tem (...) quanto mais você discute, quanto mais você pode incorporar, trabalhar em parcerias, isso seria o meu conceito de responsabilidade social, desde que se possa discutir com outros atores e eles convirjam para que a gente possa ter uma clareza maior sobre a questão da responsabilidade social. Evidentemente, o que eu sou contra é que você tenha uma ONG ou um conceito de Responsabilidade Social, mas que isso também não seja, que também não respeite o que as instituições têm discutido. É a realidade das instituições, a gente pode até discutir como um instrumental a mais, uma ferramenta a mais, quando se discute na Universidade com os teóricos, isso é mais uma concepção para se discutir, mas não poder fugir à responsabilidade de ter a sua concepção baseada na sua realidade. As Universidades não têm um conceito definido de Responsabilidade Social. Não têm, elas ainda estão discutindo como se faz filantropia, assistencialismo, exatamente, e ainda não tem esta característica de transformação de uma comunidade onde ela está inserida. Então, porque o que acontece de toda a questão de extensão é que também não é uma questão fácil, não há um consenso sobre extensão, porque sempre foi a prima pobre da Universidade que é o ensino, pesquisa e extensão. Ela (a extensão) não recebeu, por parte de órgãos da universidade, a discussão que deveria ser feita em termos de extensão. Quando surge a questão da responsabilidade social, o que acontece, parece que se transferiram as coisas da extensão para a responsabilidade social, tanto que a filantropia continua, o assistencialismo continua, mas não houve uma rediscussão desse termo que é mais abrangente, que é da responsabilidade social. Eu acho que tem que haver uma sinergia, uma convergência dos dois lados, a unidade se fecha para as ONGs, alguém diz que a ONG é alguma coisa que está sendo excluída, coitadinha. Não, você tem que ter um trabalho de convergência da Universidade com vários setores da sociedade, mas você não pode perder a sua identidade, que é a sua função e o seu trabalho, que é a produção de conhecimento, a formação profissional e a formação do cidadão porque assim você tem algumas ONGs que trabalham sim na questão da responsabilidade social, ou por assistencialismo ou por filantropia, mas não se pode comparar o sentido da produção do conhecimento da Universidade com o sentido da produção do conhecimento da ONG, porque muitas vezes o interesse deste Instituto ETHOS 327 de empresas, da mesma forma que as Universidades se fecham para estar discutindo com outras entidades deste segmento, há muita coisa ruim nestes outros segmentos. Você escolheu uma que é referência, mas há outras que não são; então, se é importante conhecer o Instituto Ethos? Eu acho que é sim, porque eles são idôneos, eles são uma referência, e esse diálogo deve se abrir para vários segmentos da sociedade para que ela possa se definir, a questão da responsabilidade social. Eu acho que isto é um ponto forte para a Universidade hoje. 12) Se você pegar pelos dados normativos, pelos documentos, tem lá a definição de responsabilidade social. Depende muito da compreensão, da gestão da Universidade. Muitas vezes, ela pode fazer um trabalho de transformar a sociedade e a comunidade, como ela pode fazer um assistencialismo, como ela pode fazer algumas ações só para dizer que está tendo esta marca, cumprindo esta responsabilidade social. No meu entendimento, quanto mais você tiver um ensino de qualidade, quanto mais a pesquisa for sedimentando este ensino de qualidade, quanto mais você tenha a qualificação do seu corpo docente e condições concretas de realização, mais você está contribuindo para esta responsabilidade social, na medida em que você está formando pessoas críticas, pessoas conscientes, pessoas inovadoras, pessoas com valores éticos, pessoas que estão sendo formadas para mudar o mundo, não para perpetuar esta sociedade injusta, enfim, eu acho que depende muito da forma da gestão, do projeto da Universidade como um todo. QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO L6 1) A noção de Responsabilidade Social é uma noção mais recente, não é? Mas a X, nos seus X anos de vida, desde que foi criada pelo X e por alguns professores, ela teve uma vocação de estabelecer com a cidade de São Paulo e com a territorialidade com a qual ela está inserida, uma relação que a coloca como pioneira no que hoje se concebe como universidades comunitárias. O que isso significa? Significa universidades que nascem do seio de comunidades locais e que têm com essas comunidades uma intensa relação, quer com a sociedade civil, quer com o Estado, nos seus três níveis de poder. Então, desde o nascedouro da X ela tem uma relação íntima, uma relação vocacionada com a cidade de São Paulo e com a comunidade da territorialidade onde ela está inserida. Isto no andar do desenvolvimento da sociedade brasileira, no andar do desenvolvimento da própria cidade de São Paulo, que hoje é 328 uma das megalópoles do mundo contemporâneo, vem se transformando e ganha na instituição da lei, já reflete, de certo modo, uma organização do Ensino Superior Brasileiro, e universidades públicas, universidades particulares e universidades comunitárias ganham título de Responsabilidade Social, que nada mais é do que a relação, o contato, a troca, a interação com a comunidade local na qual ela está inserida, na forma de programa de serviço, na forma de programa de ensino, na forma de divulgação científica, na forma de interações na área do ensino, da pesquisa, dos serviços e da cultura. Então, a Responsabilidade Social da X, na relação dela com a territorialidade, com a sociedade civil e com os entes governamentais do local onde se insere e faz parte da sua própria história, da sua própria vocação. E como nós representamos a nossa atuação nesta área? Nós representamos a nossa atuação nesta área através das nossas estruturas, as estruturas da universidade, ou seja, os departamentos, as faculdades, as pró-reitorias. É nos seus níveis de competência. Então, as faculdades e os departamentos têm os programas de ensino e nos programas de ensino eles têm a possibilidade, a necessidade, o próprio desejo de fazer a interação com a sociedade, com a comunidade local. Então, todos os programas de estágio, os programas de atuação, os programas de formação dos nossos alunos, desde o primeiro ano, têm um espaço para as atividades chamadas de Extensão Universitária. Isto é parte daquilo que a gente entende no âmbito dos departamentos e das faculdades da Responsabilidade Social da Universidade, que atende às demandas sociais, que atende à demanda de parte da população que tem. Como o Estado não consegue cumprir todas as suas obrigações na área de saúde, na área de educação, na área de saneamento, nas mais variadas áreas, enfim, que as políticas públicas exercem, a universidade tem um papel acessório, um papel complementar, um papel cooperativo com as políticas públicas no sentido de atender às demandas sociais e a X, através de seus departamentos, através de suas faculdades, através de suas pró-reitorias, através de suas unidades suplementares e núcleos extensionistas realiza esses serviços, que a gente chama genericamente de extensão universitária, que estão no âmbito da prestação de serviço, no âmbito de colaboração, de cooperação com a comunidade na qual ela está inserida e com os entes do Estado organizado que são os três níveis: o município, o estado e a federação. Poderia dar inúmeros exemplos de programas que atendem neste sentido. Nós temos um Hospital-Escola que atende à política do SUS, que é o Hospital X, uma unidade suplementar, ligada à Faculdade de Ciências Médicas e Saúde, que, no caso, está no município de 329 Sorocaba; temos uma unidade suplementar que é a divisão de reabilitação e educação da área de comunicação que é a X, que tem uma escola de ensino fundamental dirigida para crianças oriundas de classes sociais desfavorecidas, no nível de ensino básico e ensino médio e para deficientes auditivos; temos uma clínica psicológica que atende, aqui na área de X, às demandas na área de saúde mental, pessoas que precisam de atendimento psicológico, psicopedagógico; temos um núcleo de trabalhos comunitários que fazem intervenção em comunidades pobres, tendo em vista o desenvolvimento e o fomento do desenvolvimento da cidadania e da libertação social; um núcleo, uma divisão de trabalhos especiais que atendem às prefeituras, especialmente voltadas para prefeituras pró desenvolvimento de assessoria em Políticas Públicas do ponto de vista do desenvolvimento dos municípios e do ponto de vista das estruturas de acompanhamento, de fiscalização através dos conselhos municipais, que é nosso núcleo de trabalhos especiais, o X; nós temos o nosso X, que produz muitas peças e atividades de natureza cultural que interagem na cultura da cidade de São Paulo. O X é uma instituição que tem reconhecimento, é um marco na cultura paulistana. Enfim, nós temos várias atuações nas nove áreas, das nossas nove faculdades e, além disso, temos atuação também no nível de Pós-Graduação porque muitas pesquisas da Pós-Graduação, financiadas pelas agências de fomento: FAPESP, CAPES, CNPq interagem também com comunidades locais, levando serviço, levando conhecimento, fazendo divulgação científica através de inúmeros eventos que acontecem nas comunidades e na própria universidade que traz aqui comunidades para que possam ser beneficiadas. Então, são muitas ações, eu não poderia listar todas porque elas são centenas de ações. Esqueci de falar também que, no caso, nós temos uma X, que também produz projetos que têm extensão universitária ligada à área de energia elétrica, ligada à área de tecnologia da informação, ligada à área de formação e inclusão digital e desenvolvimento e qualificação de professores do ensino de física, no ensino médio. São projetos de extensão que estão alocados na X. 2) Foi inspirada no tripé, na ideia da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Eu acho que ela foi inspirada no grande trabalho de extensão que a universidade brasileira, que é a pública, que são as universidades comunitárias e hoje também as universidades particulares realizam porque sempre através da discussão que envolveu essa tríade indissociável: Ensino, Pesquisa e Extensão, a Responsabilidade Social está ligada às atividades extensionistas que as universidades realizam. O SINAES reflete esse tripé da extensão universitária, que, em cada 330 Instituição de Ensino Superior no nosso país, está organizado de uma determinada maneira, está concebida de uma determinada maneira, está viabilizada através de ações, através de projetos que acontecem e que hoje já fazem parte dos Balanços de Responsabilidade Social das Instituições Universitárias. Então, todas as universidades, além do Balanço Contábil, têm hoje um Balanço Social que mostra exatamente como que ela está realizando, como que ela está atuando, que ações ela está fazendo na área da extensão universitária. 3) O conceito de responsabilidade é em relação à territorialidade na qual ela está inserida. A universidade é uma instituição social, portanto ela tem íntimas relações com a territorialidade na qual ela está inserida. Então, na hora que eu estou interagindo, por exemplo, com o poder público, buscando o desenvolvimento de transportes coletivos que cerquem a universidade e o entorno dela, eu estou desenvolvendo uma responsabilidade social dela, tendo em vista o desenvolvimento social da territorialidade, no caso daquela própria comunidade, da sociedade. Na hora que eu estou atendendo psicologicamente o filho daquele trabalhador que trabalha na territorialidade e que tem dificuldades de ordem emocional, de ordem psicológica, eu estou servindo essa territorialidade, eu estou servindo esta comunidade. Na hora que eu estou fazendo intervenções na área de saúde, no programa do SUS, na política pública da generalidade, da universalização dos serviços de saúde à população como extensão da política pública de saúde, eu estou fazendo um trabalho que explicita o conceito que nós temos de Responsabilidade Social que é exatamente devolver à sociedade os investimentos que a sociedade faz para a instituição universitária, para o seu desenvolvimento, para o desenvolvimento da própria sociedade que em última instância significa o desenvolvimento da pesquisa, o desenvolvimento do ensino, o desenvolvimento da extensão. 4) Tem! Ele é exatamente a explicitação daquilo que a gente entende como unidade do trinômio. A extensão e o papel que reserva é fundamental porque exatamente ele hoje é um dos itens de avaliação, é um dos itens de formação, de formação do próprio estudante de graduação e de pós-graduação para atuação nas políticas públicas, na relação com a própria comunidade. O enfoque da universidade é deste pensamento das universidades comunitárias, eu conheço isto porque tive uma atuação num Fórum de Extensão Brasileiro, portanto, faço parte do Fórum Sudeste de Extensão, mas existe um organismo hoje que estrutura toda a extensão universitária, nesse enorme país, que é um país continental, na região sudeste, na 331 região norte, na região sul. É exatamente articulando o espaço de atuação da extensão no nosso país, nas instituições comunitárias. 5) Ele propõe exatamente o que nos itens de avaliação, os avaliadores veem para verificar quantas pessoas são beneficiadas, que comunidades são beneficiadas, que ações são feitas. Existe um olhar do SINAES para a extensão universitária que vem se desenvolvendo nos últimos, vamos dizer, vinte anos. E vem ganhando maior importância e, vem especificando indicadores, vem trabalhando no sentido de melhorar o processo avaliativo que tem uma dimensão também de fomento porque na medida em que você avalia, você fomenta, você indica caminhos do ponto de vista das Instituições de Ensino Superior para que desenvolva atividades nessas áreas. 6) Sem dúvida! Então, a função social é essa relação que eu chamo de uma relação intrínseca da universidade com a comunidade e, portanto, com esse conceito de territorialidade. Eu presenciei nos Fóruns de Extensão, universidades comunitárias que são sequer universidades ligadas a religiões ou a um município, são universidades que nascem do seio da própria comunidade. No sul do Brasil, por exemplo, você tem universidades que quando a população tem questões na relação com o município, na relação com o Estado, é o reitor dessas universidades que é o porta-voz destas comunidades para levar suas demandas, para qualificar suas demandas e para fazer discussão com os níveis de intermediação com o Poder Público. Então, isso mostra exatamente que a universidade tem um vínculo intrínseco com a sociedade civil, tem um vínculo intrínseco com a comunidade, a territorialidade na qual ela está inserida, portanto, ela tem relações muito íntimas e estabelecidas com a sociedade na qual ela está inserida e, dessa maneira, ela cumpre a função social em desenvolver essa sociedade, de contribuir para o seu desenvolvimento, para suas políticas de qualificação da cidadania e desenvolvimento social. 7) Como eu disse, na história da X, ela é uma instituição que já nasce de um movimento ligado à comunidade da cidade, no caso específico, aos movimentos da juventude e do movimento ligado à Democracia Cristã, ligado à Responsabilidade Social da própria instituição igreja que tem uma longa história, longo caminho nisso. Então, é o fato de o SINAES vir sinalizado esse item da extensão é alguma coisa que já no processo da X é anterior ao próprio estabelecimento da lei. Agora, eu acho que a lei, de fato, consolida, ela 332 contribui, ela fomenta, conforme eu já respondi inclusive anteriormente. Então, o fato de o SINAES colocar isso como um indicador faz com que a extensão possa ser melhor estruturada, melhor desenvolvida e eu percebo que isso acontece nas universidades comunitárias, nas nossas coirmãs, todas as X e as universidades católicas desse grande país que é o Brasil. Então, o que me leva a fazer essa resposta é exatamente esse aspecto de que consolida esse indicador da tríade que é a extensão e ajuda a fazer o desenvolvimento, traz indicadores, traz fomento, traz a necessidade de a universidade ter ações de natureza extensionista. 8) Nós temos. Falar de uma universidade comunitária na cidade de São Paulo, e falar numa universidade comunitária num pequeno município do Rio Grande do Sul ou do norte do país, do Amazonas é, mais ou menos, querer comparar coisas que são incomparáveis. Então, o sentido da extensão são as relações que a universidade ou a instituição de ensino superior mantém com a sociedade e a territorialidade na qual ela quer. O que requer isso? Requer, do ponto de vista do treinamento, que o Ministério da Educação e Cultura faça para formação dos avaliadores, que tenha a sensibilidade, tenha a formação, que tenha o olhar para poder apreciar essas relações, que são relações que tomam forma, tomam maneiras totalmente diferenciadas em função dessa territorialidade. Então, o Ministério tem como responsabilidade interagir com esses Fóruns que são os Fóruns Nacionais de Extensão, de Graduação, de Pesquisa, porque nesses Fóruns você tem representantes das Instituições de Ensino Superior e eles podem receber e trocar informações para que eles qualifiquem conteúdo, para que eles possam fazer o processo de capacitação dos avaliadores. Nessa medida, esses avaliadores, quando veem as IES, possam ter o olhar que respeite essa questão da territorialidade, respeite essa questão de um olhar para as relações dessa IE com aquela comunidade local, dependendo do contexto de cidade, do contexto da comunidade na qual ela está inserida. 9) Então, uma cultura de avaliação ainda é algo que está em processo. Na nossa tradição de Ensino Superior Brasileiro, existe a questão da autonomia da universidade e isso fez com que a universidade se fechasse um pouco dentro dos seus próprios mecanismos institucionais. Isso quando se refere a sistemas de indicadores nacionais, quando se refere a esse processo de exercício da fiscalização do Ministério da Educação e Cultura, é na própria estrutura de funcionamento das Políticas que dizem respeito ao Ensino Superior Brasileiro, sem dúvida, é 333 um processo recente na nossa sociedade. Estamos num processo de desenvolvimento e implantação. As Comissões Internas de Avaliação estão trabalhando intensamente. Neste momento, nós estamos criando mecanismos para exatamente melhorar o nosso desempenho e melhorar a visibilidade das nossas informações para disponibilizar para os avaliadores. Então, por exemplo, nós estamos num processo que agora lentamente vai caminhando na implantação do que chamamos um Banco de Integração de Dados de Extensão. Então, isso é um dispositivo exatamente para auxiliar quando temos situações de gerar relatório, de mostrar indicadores, de produzir para que os avaliadores possam consolidar seus relatórios. E possam ter a disponibilidade de dados que, muitas vezes, como esses projetos são locados nos departamentos, nas faculdades, você não tem esses dados devidamente consolidados, devidamente informados, devidamente prestados, armazenados. Ainda mais num mundo que a gente tem hoje ligado à informática, ligado aos mecanismos de tecnologia da informação. Então, nós estamos trabalhando para superar algumas dificuldades que são da ordem da nossa pouca disponibilidade para Políticas de Avaliação. Tendo em conta a autonomia e a fragmentação que as universidades têm, nós estamos trabalhando sempre na ideia de ter um processo de informação, um processo onde o dado seja captado na medida em que o projeto esteja realizado, na medida em que existem responsabilidades institucionais envolvidas, envolvendo professores, envolvendo gestores, envolvendo alunos, envolvendo organizações da própria universidade e nós temos conseguido dar alguns passos. Eu sei que na tríade: pesquisa, ensino e extensão, a extensão é, de certa forma, atividade menos visível e mais ainda carente de informação, de transparência, mas tenho esperança que a gente possa estar nesses últimos cinco anos dos SINAES, seis anos, e anterior a ele próprio nós, a universidade tem uma tradição, especialmente as comunitárias, uma tradição de inserção na territorialidade e, por isso, esse tripé é valorizado, esse componente do tripé é valorizado e a gente tem procurado desenvolver e melhorar. 10) Os pontos positivos é que eu entendo que uma política de avaliação é uma política fundamental num processo social, eu acho que tudo devia ser avaliado. Porque avaliação busca exatamente o desenvolvimento dos pontos positivos e o enfrentamento dos pontos negativos. Então, eu entendo que o processo avaliativo é um processo bastante importante e acho favorável. Os aspectos que devem ser revistos, aí entra num problema que é o do financiamento das universidades. Especialmente das universidades comunitárias e das 334 atividades de extensão. Na medida em que as atividades de extensão, muitas delas, são atividades de prestação de serviço, elas teriam que ter um processo de financiamento que não fosse só oriundo da própria IES, mas que fosse resultado também, como contrapartida do serviço prestado. E isso requer o desenvolvimento de mecanismos de financiamento que estejam legalmente previstos e que componham o indicador nestas avaliações. E isso ainda não está espelhado nas avaliações. Quer dizer: qual é o financiamento que a universidade tem para ela realizar a extensão que faz? De onde vêm os recursos? Quais são os mecanismos legais de transferência de recursos da sociedade civil e do próprio Estado para colaborar com o financiamento destas atividades que a universidade realiza? Isso é um grande nó, porque envolve aspectos orçamentários, envolve financiamentos e que, obviamente, o SINAES deveria levar em conta porque uma coisa é você avaliar uma universidade pública que tem uma certa produção, um certo financiamento de um verbo, recurso para o desenvolvimento de atividades extensionistas que é fruto da participação nela do orçamento do Estado onde ela está ou da Federação, que seja. No caso do Ensino Superior é Federação. No caso da universidade comunitária e das universidades particulares, o recurso depende de provimentos, que são provimentos internos, mas que podem e deveriam ter também provimentos externos numa participação dessas universidades em editais. Por exemplo, o município quer fazer uma qualificação dos seus docentes no ensino de física no segundo grau. As universidades comunitárias deveriam poder concorrer juntamente com as universidades públicas para esse financiamento e, infelizmente, não se pode pôr limites legais hoje. Então, a lei tem que evoluir no sentido do financiamento das atividades extensionistas e o SINAES tem que olhar para essa questão do financiamento que ele hoje não olha, ele só quantifica, ele só qualifica, mas ele não vê o lado do financiamento. Então, isso é uma questão importante que deve ser revista e incorporada e implementada. 11) Eu entendo que o Instituto Ethos, numa sociedade evoluída, complexa, tem um espaço junto às empresas do setor privado e, portanto, ele desenvolve a questão da Responsabilidade Social no âmbito das empresas do setor privado. Eu acho que, no caso a universidade, ela tem um outro desenho, é um outro mecanismo, é um outro sentido do que é Responsabilidade Social. Eu acho, lógico, que tem interações, a gente dialoga com o Instituto Ethos, inclusive eu creio que parte dos empresários que estão no Instituto Ethos foram formados na nossa universidade. No caso de uma sociedade já bastante desenvolvida com estágios do 335 capitalismo, são estágios de um capitalismo contemporâneo, dos países mais desenvolvidos, porque em alguns países da América do Norte, no caso isso é mais na América do Norte, têm universidades que são financiadas por verbas e sustentabilidade que as próprias empresas, no exercício de sua Responsabilidade Social, financiam atividades do Ensino Superior, da pesquisa, respeitando, óbvio, os mecanismos de independência e de gestão das Instituições de Ensino Superior. Nós, no nosso país, não temos isso. O Instituto Ethos cuida das empresas e creio que a universidade tem competência, tem condição de desenvolver a sua visão relativa à sua responsabilidade na sociedade na qual está envolvida. 12) É o desenvolvimento social. É a colaboração na construção de uma sociedade mais justa e de uma cidadania melhor desenvolvida. Portanto, o objetivo é o desenvolvimento da comunidade local na qual ela está inserida. Ela tem um papel de transformação, ela tem um papel de colaboração da construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais desenvolvida. QUESTIONÁRIO RESPONDIDO SUJEITO PESQUISADO L7 1) Nossa, é longa e ampla. Eu acho que com o advento do sistema de avaliação nacional é um ganho para o país. Foi um ganho. Acho que hoje nós temos um sistema de avaliação considerável, de excelente qualidade. Talvez, o que se discute, um pouquinho, a forma como são feitos, os mecanismos como são feitos em si, mas acho que o sistema como um todo é ótimo, ele veio numa época certa, principalmente numa época de mudanças de legislação; hoje ainda não fica claro o poder do Estado e o poder das entidades privadas e do terceiro setor; e hoje está se revelando muito a confusão da responsabilidade social, institucional, enquanto ela é inserida no mercado, enquanto ela é inserida numa cidade, enquanto ela é importante na transformação deste espaço, com a assistência social propriamente dita, o fazer misericórdia, o fazer filantropia, o fazer, dentro deste conceito de assistencialismo. Acho que as campanhas realizadas nas entidades são válidas, até para aproximar as pessoas destas entidades, da realidade destas entidades, porque, embora se coloque entre aspas diferenças regionais, diferenças entre as pessoas, entre os mais pobres e os mais ricos, é preciso que essas coisas se entrelacem, se conheçam as realidades; tanto os ricos conhecerem a realidade dos pobres, quanto os pobres conhecerem a realidade dos ricos, que isto é uma mão dupla, 336 mas que é mais difícil se fazer conhecer a realidade de lá. Tomara que isto aconteça para não querer mais voltar. Neste sentido, fazer a avaliação das unidades, para conhecer a responsabilidade social delas, saber o quanto elas são importantes, portanto, acho isso muito interessante e profícuo para o Estado. Nessas mudanças de legislação é preciso deixar isto separado, muito bem caracterizado, até porque pela lei da filantropia há uma, até para a certificação da filantropia e a obtenção das isenções das contribuições, isso agora muda; quem avalia essa responsabilidade da filantropia, esse fazer, é o Ministério da Educação. Antes quem fazia era o Ministério do Desenvolvimento Social, quem certificava; agora não, ele vem para cá, vem para a educação; nós sabemos tudo o que temos que fazer, tanto da área social, tanto da área educacional, envolvendo os três leques: ensino, pesquisa e extensão, que a gente precisa trabalhar. Sempre me preocupa, professora, é o seguinte, é em dizer, eu coloco para os meus pares: se fechar uma unidade naquela determinada região, qual é o prejuízo que vai causar àquela instituição? Será que a população sairia na rua em defesa do fechamento disto hoje? Será que não está se passando mercantilismo, acima de tudo? Em busca do dinheiro, achando que a educação é um meio fácil; que, no meu ponto de vista, é totalmente muito complicado isso, porque não é fácil fazer educação, educação de qualidade! Hoje é muito caro. E nós que trabalhamos na área da saúde é ainda pior, porque eu não posso levar para o campo de estágio dentro de uma UTI (Unidade de terapia intensiva), mais de quatro alunos, máximo quatro, na verdade: temos dois ou três, com supervisor; uma classe de quarenta alunos, então você desdobra isso em oitenta; quarenta dividido por quatro, temos que pagar dez professores, dez supervisores para cada UTI, isto fica muito caro! E a nossa instituição trabalha mais nesta linha, de transformação de espaço. Os espaços públicos, nós deixamos muito claro para o nosso corpo docente; quais os objetivos desses espaços públicos, como nós podemos atuar e trabalhar com extensão e esta extensão depois vira uma pesquisa, uma pesquisa de acompanhamento, acho que aí então a gente tem, aí sim, condição de trabalhar com responsabilidade social; numa parceria entre o público e o privado, sempre. Acho que nesta linha o público e o privado que nós fazemos porque precisamos por legislação; mas sim no todo é uma coisa só, somos todos munícipes, é onde acontecem as coisas sempre no município. Nós precisamos trabalhar sempre em função disso. Tenho agora a responsabilidade com o Ministério do Desenvolvimento Social, acabar com a Prostituição Infantil. Então, a Prostituição Infantil dobrou o nosso esforço, nós temos trabalhado com isto, 337 temos procurado em diversas regiões, não só em São Paulo, como um projeto de educação; fazer uma pesquisa, uma extensão, dizendo da importância da escola onde estas crianças estão, mas é para todas as crianças em situação de vulnerabilidade, tentar fazer um levantamento através de uma área extensionista ou de uma data comemorativa ou uma data histórica propensa para isso; a partir daí nós catalogamos a criança, fazemos uma ficha dela e começamos. E disso tudo, desta atividade extensionista surge uma pesquisa, que depois a gente consegue fazer um acompanhamento na residência dessas pessoas e depois chamamos um programa próprio: se faz com escolaridade de manhã, corte e costura à tarde, ensina uma atividade de saúde e higiene, alguma coisa... roupagem, alguma coisa. Estas palestras são dadas à tarde. E também com os idosos. Então a X vai às praças, X vai à praia em busca de feiras; então a gente detecta, através de uma ficha de acompanhamento, estes idosos que precisam de um acompanhamento, eles moram sozinhos, não têm nenhuma estrutura formalizada, medicamentos ou acompanhamento, encaminhamento, triagem, para os postos de saúde e hospitais. Tem dado resultado, uma experiência bastante motivadora, pra gente continuar nesta linha; principalmente porque nós trabalhamos com humanismo, uma formação só técnica, para os nossos alunos esta formação humana é bastante interessante. 2) Eu acho que a lei do SINAES foi elaborada, exatamente, para você saber o que se faz, o que nós fazemos da responsabilidade social, na unidade, voltada para esse assunto, que é o objetivo da pesquisa. A avaliação da instituição não é simplesmente técnica, ela é humanística, é de transformação da sociedade, ela tem que dizer por que está aí, para que o governo saiba disso, até para tentar melhorar e sanear os programas e serviços disponíveis para a população. Porque, hoje, os municípios onde estão inseridas as universidades e as faculdades, se nós não disponibilizarmos isto, numa ação conjunta com a prefeitura, com os órgãos públicos, a população nunca vai saber quais são os serviços que existem nesta unidade de ensino ou neste município. Por isso que o plano do município tem que estar inserido nas universidades, tem que estar inserido no plano da universidade, que é a nossa parte. Acredito que uma revolução possível neste país é através da educação. Se não tiver educação envolvida dentro do plano anual das prefeituras e de suas diversas secretarias, vai ficar desconhecido e o povo não vai saber. 3) Eu acho que não tem um conceito formado – uniforme. Não é para todos o mesmo conceito. Cada uma faz o seu próprio conceito; umas, as confessionais católicas, trazem 338 dentro do seu bojo aquilo que ela, a mantenedora, foi criada, em que sentido foi criada. Na sua carta magna, das instituições católicas, dentro dos seus estatutos, elas foram criadas com determinados objetivos e muitas finalidades, e dentre elas está a de responsabilidade social, às vezes não muito claras; elas se confundem com assistência social, com assistencialismo, então elas têm aí o conceito amplo, mas o meu conceito é que nós estamos tentando entender isso de forma coletiva, que a responsabilidade social é um grau de amadurecimento dela naquela comunidade, e o quanto ela consegue transformar este ambiente. A transformação deste ambiente, pela educação, eu acho que é o conceito de responsabilidade, que a instituição em que eu atuo acredita e pratica. 4) Quando se coloca na sua carta de princípios, ou na sua apresentação ou no seu catálogo de curso, ele tem que permear pela responsabilidade social nas unidades, para que exista a extensão. Então, a extensão está galgada neste fazer das instituições com a comunidade. E agora a extensão, por si, provoca pesquisa e ao mesmo tempo ela vem do ensino que se desenvolve em sala de aula para o ensino. Então, para a mudança, é principalmente da pessoa em cima da vivência; então eu não posso dissociar ensino, pesquisa e extensão. Ensino, pesquisa e extensão, com responsabilidade social, é tudo o que nós queremos; isto, às vezes se tem dificuldade de colocar em prática, porque nem todas as pessoas acreditam nisso; não esse tipo de formação, não tem esse tipo de universo, esta visão de ciência e por isso que, às vezes, eu critico os meus doutores, de forma carinhosa, porque são especialistas em unhas, mas se esquecem do dedo. Focam numa visão única da coisa, num determinado plano. Uma visão geral de responsabilidade faz parte da missão da instituição, uma vez claro na missão, isto colocado para o seu povo, isso colocado para o seu pessoal discente, docente e também técnico e administrativo, todos com a mesma missão. É uma missão clara e acho que não tem problema. 5) Uma postura de seriedade, de compromisso, com responsabilidade de conferência também porque além das avaliações, nós temos também avaliações in loco, não é só de papel, aquilo que você coloca no papel, aquilo que você preenche, depois é verificado, e eu acho que isto é um grande avanço, e a postura do SINAES é em cima disto. 6) É, eu acho que dentro de tudo o que eu falei, já está embutido tudo. Esta função social da Universidade, ela tem, porque na verdade se eu falar que uma Universidade tem função 339 educacional (...) o que é educação? Se não mexer com a sensibilidade, com a formação integral da pessoa, eu acho que tudo isso faz parte da função social, é inerente da própria Universidade esta função social. Então, a função social é inerente da própria universidade, é a atividade que ela faz, e é isso que eu falei antes da missão; que a missão deve estar estampada, deixar claro, que não precisa estar escrita, mas que você consiga ver a responsabilidade social dentro dela, eu acho que esta é a mentalidade social que todos teriam que trabalhar; nós estamos trabalhando muito isto na educação básica, deixa isso evidente. Deixar isto evidente, como nós fomos pioneiros nesta área, e sempre trabalhávamos com educação de uma forma muito aberta, muito exposta, acho que isto hoje está resgatando estas coisas aí. 7) Eu acho que está sendo esses casos também para sensibilizar, porque também voltado para missão, porque faz a gente repensar. Hoje, quando a gente tem, porque se você pegar nos modelos de avaliação aí, vai ter que haver coerência entre a sua missão, aquilo que se propõe a ensinar e qual o perfil do egresso. Então, se você tem estas três partes bem entendidas, bem pensadas, dispensa-se qualquer tipo de marketing, porque por si só ela fala. 8) Sinto-me à vontade, para falar a respeito disso, porque eu tenho recebido os avaliadores do MEC, nesses últimos seis anos, em oito estados da Federação na qual nós estamos situados, não só em São Paulo. Interessante é que, estes avaliadores quando vêm para uma entidade como a nossa, X, não querendo ser diferente das demais, mas mantendo uma tradição de X anos nesta área, sempre voltados para a saúde, com foco sempre localizado na área da saúde, o carisma X e nesta posição, estes profissionais veem que nós temos uma valorização da marca muito importante, nós temos um conhecimento da marca. A X, hoje, já é conhecida em toda a área da saúde, na qual a gente luta para buscar outras áreas que não a área da saúde para reconhecer a nossa marca; os avaliadores quando vêm, eles vêm com uma expectativa muito alta, de conhecer aquilo que a gente faz, aquilo que a gente coloca e vão ver se esta marca confronta com aquela que está hoje aí no mercado, uma marca reconhecida ; é na realidade com isto e a minha satisfação é que eles chegam à conclusão de que sim. Porque a gente não dissocia; nós temos um Projeto Pedagógico, que é elaborado por um grande número de professores doutores com grande experiência da área, experiência de trabalho, portanto, nós temos o nosso saber pedagógico elaborado por essas equipes, por essas coordenações, esses colegiados de curso, são de muita competência, portanto eu não admito nenhuma nota 340 inferior ao máximo, quanto à realização do projeto pedagógico. Nesse conceito, nós temos que ter uma excelente nota. Quanto você fala em infraestrutura também, a nossa é colocada à disposição do aluno, nós temos as bibliotecas mais especializadas na área da saúde, com um acervo imenso, link aberto com todas as maiores universidades do mundo inteiro; temos também as instalações de laboratórios, que a gente busca trazer de acordo para as salas de aula, e para os laboratórios, aquilo que o mercado está trabalhando. Essa foi a décima-quinta feira internacional de produtos hospitalares do país; desta feira participam mais de oitenta países; nós somos parceiros desta feira desde os primeiros quinze anos, a gente tem contato com o mundo inteiro em cima disso; além de convênios com outras universidades de fora que a gente visita, traz pra cá para os laboratórios, aquilo que tem de mais novo, aquilo que o mercado coloca. Para São Paulo isso é mais latente, mais exigente. Quando você vai para fora (de São Paulo) para o Norte ou Nordeste, isto vai se tornando cada vez mais difícil, até para a operacionalização de certos equipamentos, porque você não tem formação para isso, mas a gente tem trabalhado e também na área de infraestrutura, o corpo docente, nós temos titulação acima de 73% de doutores em São Paulo. Temos também um projeto de incentivo à pesquisa, também forte. Então, quando você tem tudo isso montado, tudo isso bem estruturado e caminhando com a sua diretoria eu acho que é o grande louvor que têm hoje os avaliadores, quando eles vêm pra cá; é claro que você não consegue uma avaliação externa que vem com olhar (...) que sempre tem alguma coisa para você fazer, mas que não afeta a qualidade do ensino. A responsabilidade social é aquilo a que a gente se propõe. 9) Hoje, a avaliação de desempenho do aluno, é que nós recebemos um aluno diferente daquele que nós recebíamos há dez anos atrás. As instituições que não se prepararam para receber este aluno diferente com a defasagem tendem a sucumbir, elas tendem a patinar e perceber que precisam de ajuda externa. Para aquelas que enxergaram isso, há um tempo atrás se prepararam para fazer a equalização; acho que hoje elas estão mais confortáveis, embora o número de estudantes tenha aumentado muito, tem crescido muito, mas, no nosso caso, não tivemos muita diferença não. O SINAES veio incorporar, compreender, para nós era uma dinâmica. Quando se falou em CPA (Comissão Própria de Avaliação), nós já tínhamos isso há dez anos; quando se começou a falar da educação à distância, nós já praticávamos isto, porque era nosso objetivo ter em cada hospital no Brasil um administrador hospitalar formado. E como nós temos na rede X um número grande de hospitais, hoje são X próprios, nós tínhamos 341 a dificuldade de colocar profissionais na área da saúde. Nós fazíamos através de pósgraduação ou de extensão ou de atualização, nas diversas regiões do país, nós já praticávamos esse tipo de coisa, não estruturado na forma da lei, mas estruturado internamente, de acordo com os seus mecanismos de cobrança, mas não trouxe nenhuma dificuldade. 10) O SINAES veio hoje como uma necessidade, que nós precisávamos mesmo; não tem como mensurar qualidade, não tem como, se eu tenho qualidade, qualidade em quê? Então, como ele foi estruturado recentemente, precisa de algumas adaptações, de algumas mudanças que retratem mais esta igualdade, esta igualdade não, este levantamento, esta realidade que nós temos. Acredito que o ponto positivo do SINAES é estar aberto a receber os avaliadores. Que antes tínhamos até um certo (...) de quem vinha nos avaliar, como é que um avaliador de uma instituição pública vinha avaliar uma privada? Ou como uma (instituição) privada vai ver uma (instituição) pública; que às vezes, a pública (...); então quanto à sensibilidade e dificuldade que nós temos no momento. Houve um descontentamento quanto à composição dessas comissões que vinham avaliar; é próprio do que está começando; a gente falava na época, quando eles vinham fazer avaliação nesta instituição, com o tempo vai se aperfeiçoando. E o tempo de aperfeiçoamento dela está acontecendo agora. Quando o governo começou a falar o ranking da instituição, então aí complica, quando já tem um ranking das IES, baseado nas três pessoas que foram visitá-las por três dias, talvez não tenha dado tempo pra isso, para amadurecimento e muitas entidades aí reclamaram pelas suas unidades, que foram prejudicadas neste sentido, mas pela formação, pela preparação dos avaliadores não tiveram, porque eles vieram todos do MEC, eles vêm em nome do MEC. Quem é o MEC? O MEC é o órgão máximo, então, aí já desperta uma certa curiosidade para o corpo discente, para a comunidade principalmente, e até para o corpo docente, empresários em geral. Hoje é muito mais cômodo, muito mais fácil, a necessidade por todas as transformações que passaram. Hoje, quando os avaliadores chegam na unidade eles ouvem, eles vão ver e só depois é que eles dão seu parecer. Já melhorou o perfil desses avaliadores, melhorou o perfil do atendimento das entidades, as entidades esperam ser avaliadas, solicitam a avaliação, porque até então não sabiam por quê; os instrumentos que vinham eram muito rígidos, tem não tem [tem não tem; tem não tem] é não é; não tem o cem por cento, mas tem noventa e nove por cento, mas hoje eu acho que isto já melhorou; não tem nada como o tempo mesmo, ou a experiência já está mostrando, tanto para a instituição, quanto para o governo. 342 11) Hoje, nós não temos um conceito unificado de responsabilidade social. O que a gente lê, às vezes conhece e lê por aí, é que as empresas todas trabalham essa responsabilidade social, que pressionadas pela turma do marketing, o que seria voltado para metas, por isso que é importante o poder público e os municípios estarem em cima disso e divulgar cada empresa o que faz de responsabilidade social, e aí não só voltada para a universidade, que essa universidade é pública, embora tenha carimbo de privada, mas ela é pública; ela é uma concessão, com as empresas é a mesma coisa; então quando o Instituto Ethos define isto, ele coloca de uma forma geral e agora tem especificidade. Este poder da educação tem uma força, é muito mais complexo que o das empresas propriamente ditas. Então, não posso trabalhar na educação a linha do marketing , é o meu entendimento, nas empresas é que prevalece o marketing. Então, vale ressaltar: as Instituições de Ensino Superior precisam ampliar a sua discussão sobre este conceito de responsabilidade social? Claro que sim, sempre, sempre ampliar. Sempre fazer uma pergunta: por que eu sou importante para esse pedaço de chão? Por que eu escolhi esta região geográfica? Por que eu atuo nessa área? Se eu sair eu faço diferença? Esta é a grande pergunta! O que a população perde se eu sair daí? Esta é a grande questão, esta é a minha discussão no Conselho Nacional de Assistência Social; para lá também eu levo essas coisas. 12) Transformação do seu ambiente. Penso que quando a gente fala em ambiente, eu acho que é uma ideia de macro, eu acho que tem ambiente de transformação e família; tem o ambiente social onde você está, tem o ambiente educacional, tem o ambiente político onde você atua, então como unidade você representa uma entidade, você representa uma universidade, uma comunidade, então você tem que ter a mesma postura, desde o menor ambiente que é o da sua família até o ambiente da instituição como dirigente institucional, aquilo que ele abraça essa linha da educação com responsabilidade social deve estar estampado; onde ele está, ele leva a marca e o comprometimento em tudo aquilo que faz, tanto no ambiente institucional, como no ambiente de trabalho.