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O papel da televisão na contemporaneidade
J. Levi de Freitas
Resumo: Este trabalho foi apresentado no II Encontro de Iniciação Científica – FA7, e
reflete sobre os impactos da televisão nos modos contemporâneos de organização da
vida social e das subjetividades.
Abstract: This work was presented at the II Encontro of Undergraduate - FA7, and
reflects on the impact of television on contemporary modes of organization of social life
and subjectivities.
Palavras-Chave: televisão, contemporaneidade, ideologia
Key-words: television, actuality, ideology
“Quem quer riso, quem quer choro
Não faz mais esforço não
E a própria vida
Ainda vai sentar sentida
Vendo a vida mais vivida
Que vem lá da televisão”Chico Buarque de Holanda – ‘A televisão’.
Do modo de falar ao modo de vestir. Das expressões à opinião. Dos sonhos de
consumo aos ideais de vida. Dos nomes dos filhos ao assunto da rodinha de amigos no
domingo à tarde. Ôpa, domingo? Domingão! Sempre em frente à televisão! E ela nos
leva por um mundo de sonhos e magia, onde tudo é aparentemente possível.
Com a cobertura ‘ao vivo’, a vida é transportada pelas ondas eletromagnéticas e
invade os lares, proporcionando um mundo antes inimaginável. Ora, o que seria de
Napoleão Bonaparte se soubesse por onde as tropas inimigas atacariam, vendo-as ‘ao
vivo’ pela TV? Leve-se em conta a forma figurativa do exemplo. A informação em
tempo real possibilita uma visão mais ampla, permite um entendimento de maior raio do
mundo em que se vive.
Maniqueísmo explícito: sempre a visão do herói e do vilão. Algumas vezes,
surge o anti-herói. Invertendo-se os papéis, mostra-se o lado mais ‘humano’ daquele
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que fora criado para subjugar quem assim o fosse. Desta forma, possibilita-se ver vários
lados de uma mesma história. Acaso, com tal situação, não se estaria expondo o mal
como uma ‘coisa boa’ e assim incentivando-o? Ora, quem nunca torceu pelo ‘Filho de
Chucky’ no filme homônimo ou por algum assassino-vilão de outrem, pelo mero fato de
estar sendo exposto bem mais o seu lado, o seu favorecimento, em detrimento da dita
‘realidade’, mostrando o lado ‘bom’ como uma coisa estúpida? Desta forma, incita-se
uma tomada de posição,
“O homem nasce bom. A sociedade o corrompe.” Com estas palavras de JeanJacques Rousseau, clamo vossa atenção ao seguinte questionamento: não estaria, por
analogia, também a mídia ‘corrompida’ por esta sociedade hipócrita e tirânica,
escravista e subserviente à sua autodestruição e corrompendo ao seu modo, de forma a
obrigar, através de seus maquiavélicos anúncios publicitários e estórias novelísticas, as
pessoas a seguirem padrões, a quererem ser como aquilo que elas vêem? Acaso, ao
nascer, já fora criada a televisão com o intuito de alienar e escravizar? Perverter? Creio
que não.
Perversão, do latim perversio, define a "ação de perverter", "transformar em
mal", "depravação", "corrupção".
Segundo Antônio Brasil, do Observatório de Imprensa, a televisão não é culpada
pelos nossos males, mas, simplesmente o reflexo do nosso desleixo com o país. Então, o
que dizer da queda de qualidade da televisão em outros lugares do mundo? Será que é
uma síndrome de desleixo anti-nacionalista? Uma epidemia?
Graças ao plano Real o número de aparelhos de televisão nos lares brasileiros
aumentou drasticamente. Segundo uma estimativa de 1998, 92,6% das moradias com
energia elétrica no país possuíam aparelhos de TV. Neste aumento significativo, uma
classe sobressaiu-se às demais ao deixar o praticamente anonimato e alcançar ponto de
notoriedade: a classe C, que passou a usufruir deste bem e pôde transformá-lo em item
indispensável em seus lares, de certa forma, mais valioso, emotivamente falando, até
que uma geladeira ou um fogão, por exemplo, mas não necessariamente nestes termos.
Não por isso, mas de certa forma incentivado por, o nível da programação sofreu
drástica queda, uma vez que havia agora uma maior popularização do aparelho
televisão, logo, da programação também. A fim de agradar a maioria, já que no Brasil
ser ‘desletrado’ faz parte da cultura, paradoxalmente e ironicamente falando, as
emissoras investem em 'bichos' tagarelas e hipocritamente metidos a 'assistentes sociais',
que falam como o povo e fazem o povo se sentir feliz em ser apenas o povo, roubando-
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lhes assim qualquer sentimento de revolta e pensamento iluminador. Verdadeiramente,
lavagem cerebral.
Apesar disto, conforme estudos do PNAD (IBGE) em 2006, a maior parcela da
população que possui televisão é a que declara receber de dois a cinco salários
mínimos/mês. Ainda segundo este estudo, entre 2001 e 2006 houve um aumento de 8%
nos domicílios que possuem aparelho de televisão.
Em países desenvolvidos, naturalmente dentro de suas realidades - por exemplo,
o Japão, dito "o pais da classe média por excelência" ou ainda a França, onde o estudo
secundário é invejável - observa-se um elevado índice de audiência dos programas
populares, o que sugere que a qualidade da programação não é um reflexo do grau de
instrução ou do nível sócio-econômico da população, mas, que mesmo com certa
faculdade mental, a alienação chegou a um ponto tal que quem deveria ter forças para
ver além do que o senso comum enxerga, não o faz por ter tido sua vida inteira ligada
naquela tela tubular colorida.
O mundo piorou com o "emburrecimento" imposto pela televisão. Segundo
muitos críticos da contemporaneidade, se hoje a TV deixasse de existir, estaríamos,
muito melhores.
Recentemente, em um canal português, um incidente chamou a atenção do
mundo: um ex-premiê luso era entrevistado acerca da situação política de seu país. No
decorrer da conversa, ele é bruscamente interrompido pela jornalista para ser
apresentada a chegada a Portugal de um técnico de futebol que acabara de ser demitido.
Durante cerca de três minutos, um repórter tentou, sem sucesso, falar com o técnico. Ao
retornar aos estúdios, a fim de prosseguir a entrevista, o parlamentar recusou-se,
alegando seguir as leis do jornalismo, demonstrando ter personalidade. Ora, e se todos
fizéssemos o mesmo? Se mudássemos, por exemplo, o canal ou desligássemos o
aparelho cada vez que presenciássemos momentos patéticos, tal qual a injustificável
interrupção de assunto sério para chamada irrelevante? Haveriam de ser mudadas e
repensadas as estruturas e o bom senso dos editores e suas editorias. Ganharíamos mais
matérias interessantes, mais assuntos de valia para a sociedade.
Puxando ao campo da dialética marxista, onde nada é eterno, já se sabe que a
televisão não será aquela a fugir à regra, uma vez que, por exemplo, pessoalmente, já
evito assistí-la, preferindo acompanhar as notícias e/ou mesmo curtir os momentos de
entretenimento através de outros meios, normalmente ligados à internet, em especial,
canais de notícias e o “Youtube”.
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"Quisera Deus fosse tão fácil remediar o vício que produz todos os dias tantos
escritos mercenários, tantas citações infiéis, tantas mentiras, tantas calúnias com as
quais a imprensa inunda a república das letras". Essa afirmação de Voltaire cabe
perfeitamente em nossos dias, principalmente em relação ao que é produzido pela nossa
televisão. Ora, quem nunca se sentiu ofendido intelectualmente por algum infame
programinha de fim-de-tarde dominical, ou por algum reality show medíocre?
A TV e o seu subproduto maldito, a imagem, que nos manipula impiedosamente
e que simboliza o eixo de todo o mal que assola a sociedade, são ambos responsáveis
pela degradação de nossos valores mais preciosos – nos tornam indiferentes a tudo,
meros atores em um verdadeiro simulacro de realidade que se tornou um decadente
mundo pós-moderno.
Observemos as imagens representadas por telenovelas ou programas de
auditório, ou ainda reconstituição de crimes (e, atualmente, acompanhamento
praticamente ao vivo de ações criminosas), ou seja, estas produções que oscilam entre
ficção e documentário, que apenas querem, perversamente, diga-se de passagem, fazer o
telespectador crer naquela realidade construída, naquele mundinho feliz ou não,
verdadeiramente narcísico, e ter naquilo a 'sua' realidade, ou melhor, seu ideal de
realidade, sua utopia de vida.
A televisão pode até não ter sido feita para o divertimento, mas é para isso que
está servindo, não para educar, e menos ainda para fazer que se reflita sobre o contexto
sócio-político de uma nação, gerando desta forma uma "cultura da massa", e não uma
"cultura para a massa". Incentiva comportamentos e sugere "valores sociais de
felicidade" absolutamente inalcançáveis, para a grande maioria da sociedade. Em nome
do consumo, como fora apresentado por Pierre Bourdieu em seu trabalho “Sobre a
Televisão”, certas emissoras não medem esforços para manter os pontos da audiência,
às custas, assim, da qualidade de seus programas ou da quantidade de anúncios
publicitários subliminares ou não. Assim sendo, a criação de referências ético-morais
divergentes das necessárias à construção de uma sociedade próspera e reta tende a
corromper as mentes mais fracas e aliená-las sem piedade.
Existe uma clara diferença entre poder ver os bastidores dos absurdos e apenas
saber deles de ouvido. Isto é o que faz Pierre Bourdieu em seu livro. Mostra-nos o que
realmente acontece por trás das câmeras, de uma forma estarrecedora e intrigante,
violenta e anárquica.
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Explana que a mídia tende a ser conivente com abusos e crimes, de lei e fato,
uma vez que corromperam-se e venderam-se às grandes corporações.
Nunca se verá num canal de TV uma notícia que difame ou ‘suje’ a imagem de
algum de seus aliados financeiros, isto é, anunciantes publicitários. Da mesma forma,
um partido político, uma igreja e outrem também produzem o mesmo efeito, desde que
exista o ‘feedback’.
Segundo Freud, "psicologia individual é ao mesmo tempo, também psicologia
social". Portanto, uma análise completa da situação requereria também uma análise do
social, pois a constituição do sujeito não pode prescindir dos movimentos sociais onde
este sujeito está enquadrado. Desta forma, a saída seria uma análise da sociedade como
um todo, de forma a chegar ao âmago, à raiz do problema 'televisão-imbecil'.
Ao propor padrões comportamentais e representativos, de forma a 'identificar' o
sucesso, o trabalho da TV está exatamente em satisfazer o narcisismo: certa vez, um
garoto de 12 anos, interno da FEBEM, foi perguntado sobre os motivos que o levaram a
ser um 'aviãozinho', isto é, aquele que leva drogas da favela para os consumidores.
Respondeu, sem pestanejar, que “receberia um bom dinheiro e assim poderia comprar
um tênis Nike e ser igual a todo mundo”. Assim sendo, o que é exibido pela TV é quase
que por mitose, transformado em valor social de felicidade.
À luz da psicologia social, entendemos que um ‘líder’ só surge se existir algo ou
alguém a ser ‘liderado’. Da mesma forma, somente por existir alguém disposto a alienar
sua mente e engolir todo o antagonismo e hipocrisia da televisão é que ela segue os
padrões que conhecemos, estes citados até aqui. Como diz Silvia Maurer, “a dominação
só se exerce se houver dominados que a entendem como necessária”. Você julga
necessário ser dominado por uma caixa de madeira recheada de tubos e lâmpadas?
Charles Peirce afirmou que “os positivistas são os metafísicos modernos”. Desta
forma, sugere-se que aqueles que julgam o sistema televisivo como algo a ser
permanente, satisfeitos pois que estão com o modelo de dominação de massas que nos é
imposto gratuitamente, estes são verdadeiros utópicos da antagonia, fiéis escudeiros de
uma ideologia fajuta, visto que, em suma, pseudo-orientam, massageiam o ego e
aplicam uma confortável ilusão de sentidos. Portanto, é chegada a hora de lutarmos por
uma televisão melhor, verdadeiramente digna de seu povo. Que seja responsável por
seus atos e consciente de seus objetivos, os mais sociais, imparciais, democráticos e
úteis possível.
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“A gente se vê por aqui.”
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http://www.ceccarelli.psc.br/artigos/portugues/
http://www.culturaemercado.com.br/
http://www.teleco.com.br
Bibliografia:
O que é dialética – Konder, Leandro. Editora brasiliense, 2003.
O que é semiótica – Santaella, Lúcia. Editora brasiliense, 2007.
O que é psicologia social – Lane, Silvia T. Maurer. Editora brasiliense, 2006.
Os pensadores – Rousseau – Rousseau, Jean-Jacques. Editora Abril, 1997.
Sobre a televisão – Bourdieu, Pierre. Jorge Zahar Editor, 1997.
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