MESA 2
TABAGISMO O ESTADO DA ARTE
Coordenadora: Margareth da Silva Oliveira (PUCRS)
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Relatores:
Gabriela de Vasconcellos Baldisserotto
Maria da Graça de Castro
Renata Brasil Araujo
Rosemeri Siqueira Pedroso
Resumo 1: REDUÇÃO DE DANOS EM TABAGISMO: QUANDO A ABSTINÊNCIA
É UMA META DISTANTE
Gabriela de Vasconcellos Baldisserotto (Serviço de Tratamento do Tabagismo da
Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus - Porto Alegre)
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Neste relato apresenta-se uma revisão sobre a estratégia de redução de danos (RD) aplicada
a dependentes de nicotina. Inicialmente faz-se uma breve revisão sobre a RD em
dependências químicas, e a seguir, discute-se o porquê e as indicações de técnicas de RD
em tabagismo, examinando os prós e contras. Abordam-se as várias questões que
permanecem abertas nesse tópico tão controvertido, indo desde uma perspectiva de saúde
pública à individual. Realizou-se uma revisão das publicações recentes enfocando técnicas
comportamentais de RD. Os dados dos trabalhos mais relevantes são apresentados, assim
como produtos projetados para provocar menor dano são criticamente revisados. A RD é
uma prática que ainda carece de maior estudo no âmbito da dependência de nicotina, pois
os estudos comprovam que, apesar de fumar menos, diminuir o número de cigarros
fumados, trocar por marcas com baixos teores ou usar produtos que causem menor
exposição às substâncias nocivas do tabaco, não existe nível seguro para consumo dessas
substâncias. Ainda são incertos os impactos positivos e negativos sobre a saúde quando se
usam essas estratégias, variando a capacidade individual de manter as mudanças a longo
prazo. Além disso, certos produtos comercializados como menos nocivos, na verdade
expõem a pessoa a um nível maior de substâncias, como por exemplo, o monóxido de
carbono e, muitas vezes, não eliminam os sintomas desagradáveis da abstinência, inclusive
a fissura. Na prática clínica, estratégias de RD, muitas vezes, são adotadas como forma de
abordagem inicial de clientes muito ambivalentes, com elevado grau de dependência,
portadores de comorbidade psiquiátrica (transtorno de humor e/ou de ansiedade) e como
forma de desenvolver auto-eficácia em relação à capacidade de controlar o aspecto
compulsivo, às vezes sentido como compulsório, da dependência de nicotina. Para uma
minoria de clientes a obtenção de alguma forma de RD será a meta terapêutica possível,
devido a um ou mais dos fatores descritos acima. Alguns autores prevêem que no futuro a
RD seja incorporada como uma meta terapêutica de consenso, tendo em vista a população
que seguirá fumando a despeito das várias estratégias de controle do tabagismo: pessoas
mais dependentes, menos favorecidas economicamente, com maior comorbidade e menor
apoio social. Nesse complexo contexto as políticas públicas e institucionais se colocam
mais ou menos favoráveis à prática de redução de danos em diferentes países. A posição do
Ministério da Saúde e de outras organizações nacionais é discutida no final da
apresentação.
Palavras-chave: Redução de Danos; Tabagismo; Abstinência
Resumo 2: TABAGISMO E COMORBIDADE PSIQUIÁTRICA
Maria da Graça de Castro (PUCRS)
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O tabagismo é um problema de saúde pública mundial. Embora a prevalência de uso de
tabaco esteja diminuindo nos países desenvolvidos, o mesmo não é observado nos em
desenvolvimento, apesar de seus malefícios serem conhecidos desde 1964, quando foi
publicado o Surgeon General´s Report on Smoking and Health. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) informa que 47% de toda a população masculina e 12% da população
mundial feminina fumam. Dados do nosso país apontam o tabagismo como o transtorno
por uso de substância psicoativa mais freqüente, com uma prevalência de dependência de
9%. No que diz respeito à comorbidade de dependência de nicotina e outras doenças
psiquiátricas, sabe-se que, aproximadamente, 60% dos pacientes com alguma doença
psiquiátrica são tabagistas, com taxas que variam de 30 a 50% para aqueles com transtorno
de humor. Já os pacientes com diagnóstico de esquizofrenia ou de síndrome de dependência
de outras substâncias, essas chegam a 70%. Atribuí-se ao tabagismo o alto índice de morte
prematura em pacientes psiquiátricos, sendo cinco vezes maior do que na população em
geral. O abuso de substâncias, a depressão maior e os transtornos de ansiedade são as
associações diagnósticas mais prevalentes nos dependentes de nicotina. Vários estudos
encontraram correlações entre a história de depressão e o aumento da chance de tabagismo.
Essas pesquisas demonstraram um aumento de sete vezes no uso de tabaco entre aqueles
que apresentaram diagnóstico ou tratamento para depressão, em algum momento da vida.
Existem hipóteses causais e não causais, para tentar explicar essas comorbidades. As
causais consideram a existência de doenças psiquiátricas como aumento do risco para o
tabagismo, ocasionando possibilidade, duas a três vezes menor de interromper o uso do
tabaco do que a população geral. Outra hipótese causal é a de que o tabagismo está
implicado no aumento do risco para o aparecimento de outros diagnósticos psiquiátricos.
As hipóteses não causais atribuem essa associação ao ambiente e fatores genéticos
compartilhados que predisponham a ambos diagnósticos: dependência de nicotina e outras
desordens psiquiátricas. Devido à forte associação entre tabagismo e outras doenças
psiquiátricas, é importante a investigação diagnóstica e a abordagem terapêutica adequada
para melhorar as chances de manutenção da abstinência de nicotina.
Palavras-chave: Tabagismo; Comorbidade
Financiamento: CAPES
Resumo 3: DEPENDÊNCIA DE TABACO E CRAVING
Renata Brasil Araujo (PUCRS)
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O craving pode ser definido como um forte desejo de consumir uma determinada
substância, que pode ocorrer durante o uso desta substância, na fase de desintoxicação, ou
ainda após uma interrupção mais prolongada, sendo um dos sinais de alerta que poderia
levar a um lapso ou recaída. Ele é um estado motivacional subjetivo influenciado pelas
expectativas associadas a um resultado positivo, estado esse que pode induzir uma resposta
na qual o comportamento desejado esteja envolvido. Estes desejos de difícil controle
podem ser desencadeados por sugestões cognitivas internas ou ambientais, sendo que uma
das principais preocupações que o paciente deve ter é descobrir como estes gatilhos podem
levar a uma situação de risco para recaída. O craving pode ser considerado uma variável
interveniente: interpõe-se entre uma causa (por exemplo, a privação da nicotina, ou uma
situação estressante) e uma resposta (neste caso, o ato de fumar). Caso o conceito de
craving não seja operacionalmente definido, sendo esclarecidas as variáveis dependentes e
independentes associadas, ele pode ser considerado como a causa do comportamento
manifesto, o que ocorre em alguns modelos, como o "Doença", que acredita que ele é um
sintoma decorrente de uma necessidade interna fisiológica por uma substância, o que leva à
perda do controle do ato de consumir este produto. Alguns autores descrevem, por outro
lado, o craving como um termo que engloba não somente o desejo de utilizar uma droga,
como a intenção de realizar este desejo, a antecipação dos efeitos reforçadores associados a
sua utilização e o alívio do afeto negativo e dos sintomas relacionados à abstinência. A
divisão da natureza do craving em diversas direções conceituais resulta em desacordo não
só quanto ao seu significado como quanto à sua forma de avaliação: certos pesquisadores
questionam o craving ocorrido em dias ou semanas específicos, e outros entendem o
craving como um estado passageiro que persiste por apenas alguns minutos e, portanto,
impossível de ser verificado por um longo período, haja vista as suas flutuações no decorrer
de um mesmo dia A multi-causalidade do craving parece apontar para a necessidade de
uma avaliação, o mais completa possível para o entendimento deste fenômeno, no entanto,
em alguns momentos, na clínica do dependente químico, é útil o uso de instrumentos de
fácil aplicação e levantamento que sejam capazes de orientar estratégias de prevenção da
recaída e de auto-manejo. Pode-se concluir que não existe uma única medida de craving
que sirva para todas as situações, entretanto são necessárias novas pesquisas para que essas
medidas de avaliação possam oferecer subsídios para a melhor definição desse constructo,
bem como dos fatores a ele relacionados.
Palavras-chave: Craving; Tabagismo
Financiamento: CAPES
Resumo 4: EXPECTATIVAS DE RESULTADOS E USO DE TABACO
Rosemeri Siqueira Pedroso (PUCRS)
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Estudos demonstram que as expectativas de resultados são determinadas a partir do que as
pessoas acreditam acerca dos efeitos de substância psicoativa. Sabe-se que o uso de tabaco
é uma das principais causas de mortes ocorridas, prematuramente, no mundo e as doenças
decorrentes dos derivados dessa droga aniquilam cerca de quatro milhões de pessoas por
ano, sendo que no Brasil, de cada 100 pessoas que morrem por câncer de pulmão, 90 são
fumantes. Este trabalho relaciona expectativas de resultados e uso de tabaco, objetivando-se
compreender essa díade de modo a desenvolverem-se estratégias de prevenção e
tratamento. Os efeitos das substâncias psicoativas são veiculados na mídia e as pessoas
interagem com essas informações, constantemente, observando e aprendendo
comportamentos a partir das crenças em resultados positivos ou negativos. As expectativas
de resultados podem ser entendidas como representações cognitivas de aprendizado direto e
vicário que criam uma rede de memória, a qual pode ser ativada por fatores relacionados
com a droga (gatilhos). Uma vez na memória, as expectativas de resultados tendem a
permanecer, porém podem se modificar com o tempo, a partir da aprendizagem de novas
experiências. As expectativas de resultados são ativadas e desencadeiam o comportamento
dependente, fazendo com que o sujeito decida usar a substância quando as suas reações
psicológicas antecipam a compensação pelo uso, assim como o alívio dos sintomas da
abstinência. As expectativas de resultados negativos a respeito do uso do tabaco têm uma
associação com a abstinência, enquanto que as expectativas relacionadas aos efeitos
prazerosos estão associadas ao consumo dessa substância. Estudos demonstram que
técnicas da Terapia Cognitiva podem, enfatizando os resultados positivos da manutenção da
abstinência, incentivar os pacientes na alteração de suas expectativas a fim de fazer
mudanças permanentes em seu estilo de vida. A literatura científica sustenta que os
domínios das expectativas de resultados em relação ao uso das diversas substâncias
psicoativas são similares. No caso de indivíduos que usam nicotina, as expectativas de
resultados em relação ao uso desta substância, associam-se ao prazer social e físico, sendo
que o efeito esperado, relaciona-se à redução de tensão. Pensa-se que pesquisas acerca da
construção e papel das expectativas de resultados no desenvolvimento do abuso de
substâncias podem incrementar estratégias cognitivas e comportamentais que auxiliem na
mudança dessas crenças e seus significados, facilitando assim a mudança do
comportamento dependente. Observa-se, na prática clínica e pelas pesquisas realizadas, que
as expectativas de resultados influenciam no início e na manutenção do comportamento
dependente, e em função disto, a Terapia Cognitivo Comportamental apresenta-se como
uma abordagem terapêutica adequada para o tratamento de pacientes dependentes
químicos.
Palavras-chave: Expectativas de Resultados; Tabagismo
Financiamento: CNPq
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(a): Oliveira / Coordenadora