ESTUDO DA PRODUTIVIDADE NA EXECUÇÃO DE INSTALAÇÕES ELÉTRICAS Fabiane Vieira Romano Sandra Gaspar Novais Universidade Federal de Santa Catarina E-mail: [email protected], [email protected] Resumo O presente trabalho tem por objetivo a medição de produtividade (levantamento de informações) da etapa de instalação elétrica de um prédio residencial localizado em Florianópolis-SC. O trabalho consistiu basicamente na coleta dos seguintes dados: (i) mão de obra envolvida na execução das instalações elétricas; (ii) áreas em m2 de piso; (iii) números de pontos elétricos; (iv) comprimento total de eletrodutos; e, (v) atividades e suas respectivas durações. A partir dessas informações, calculou-se então, a produtividade na execução das instalações elétricas da edificação, comparando os resultados obtidos aos números constantes na literatura. Abstract This paper reports the measurement of the productivity of electrical installation in a residential building in Florianópolis-SC. The work presents a survey of the following: (i)work force involved in the activity of electrical installation; (ii) apartment areas; (iii) number of electric points; (iv) total length of conduits; and, (v) list of activities and respective durations. Based on those information, it was calculated the productivity of electrical installation of the construction, comparing the results obtained to the numbers in the current literature. Palavras chaves: produtividade, instalações elétricas, medição. Introdução Este trabalho tem por objetivo a realização de um estudo de produtividade nas instalações elétricas de um edifício residencial, na cidade de Florianópolis, SC. Na realização deste trabalho adotou-se a divisão do edifício em 3 partes: Torre (8 pavimentos com 5 apartamentos em cada um, com exceção do último que é composto de 4 apartamentos), Periferia (2 pavimentos de garagens, hall, salão de festas, zeladoria, jardins, etc.) e Cobertura, conforme proposto por ASSUMPÇÃO e FUGAZZA (1999), para edifícios tradicionais. Neste caso, entende-se por sistema construtivo tradicional aquele concebido através de estruturas em concreto armado moldadas in loco, vedações externas e internas em alvenaria de blocos cerâmicos ou de concreto, instalações embutidas nas alvenarias e prumadas em shafts e acabamentos convencionais como por exemplo cerâmica em paredes e pisos e forros de gesso. Desenvolvimento Segundo VARGAS (1999), na construção civil adota-se como um dos parâmetro de produtividade o número de homens que executaram o serviço por metro quadrado de área. Entretanto, neste trabalho utilizaremos para o cálculo de produtividade a seguinte expressão: Produtivid ade = Nº Homens × Horas Tabalhadas (Hh/m 2 ) 2 Área em m (1) Logo, em particular interessam as quantidades globais de: mão de obra envolvida na execução das instalações elétricas, no caso duas equipes, ou seja, dois oficiais eletricistas com um ajudante cada; áreas em m2 de piso (Tabela 1); números de pontos elétricos (Tabelas 2, 3 e 4); comprimento total de eletrodutos; e, atividades e suas respectivas durações. Tabela 1 - Áreas em m2 de piso. Pavimento 1 Torre Pavimento 2 a 7 Pavimento 8 Garagem 1 Periferia Garagem 2 Cobertura Casa de Máquinas 2 Área Total (m ) 418,17 312,52 312,52 769,20 729,26 48,37 4152,64 Tabela 2 – Quantitativos da instalação elétrica. Pavimento 1 257 Pavimento 2 269 Pavimento 3 261 Pavimento 4 264 Torre Pavimento 5 260 Pavimento 6 267 Pavimento 7 268 Pavimento 8 246 Garagem 1 100 Periferia Garagem 2 62 Cobertura 18 Além dos pontos já levantados, existem outros, cujo trabalho do eletricista é o de preparo para serviços posteriores, ou seja, cabe a ele as tarefas de rasgo, tubulação e colocação das caixas, sendo que o restante, fica por conta de equipes especializadas, conforme a Tabela 3. Tabela 3 – Quantitativos da instalação elétrica: serviços especializados. Interfone Telefone Antena Coletiva TV a Cabo Torre 39 117 117 117 Periferia 4 5 2 2 Cobertura 0 0 0 0 Totais 43 122 119 119 N° de Pontos 390 13 0 403 Tabela 4 – Distribuição dos pontos elétricos na torre, periferia e cobertura Local Pontos Normais Pontos Extras Número de Pontos Pavimento 1 257 50 Pavimento 2 269 50 Pavimento 3 261 50 Pavimento 4 264 50 Pavimento 5 260 50 Pavimento 6 267 50 Pavimento 7 268 50 Pavimento 8 246 40 Periferia 162 13 175 Cobertura 018 0 018 Totais 2272 403 2675 Torre 2482 No levantamento dos eletrodutos, verificou-se o comprimento dos eletrodutos horizontais e verticais (m), independente do diâmetro, cujos valores foram obtidos do Relatório de Apropriação de Compras, junto a empresa. ª Compriment o total de eletrodutos = 6255,00 metros Destes 6255 metros, 539,60 metros correspondem à periferia, conforme a Tabela 5. Tabela 5 – Comprimento total de tubulação (m): periferia (valores obtidos das plantas baixas). Tub. Emb. no Teto e Paredes (m) Local Tub. Emb. no Piso (m) Total (m) Garagem 1 126,50 204,30 330,80 Garagem 2 000,00 208,80 208,80 126,50 413,10 539,60 Uma vez que o comprimento de eletroduto na periferia e cobertura, em relação ao total é muito pequeno, pode ser descosiderado, e, pode-se então dizer que o comprimento de eletrodutos na torre é de 5715,40 metros. Aproveitando, os dados já apresentados, calculou-se a relação entre o comprimento dos eletrodutos e o número de pontos. Segundo OLIVEIRA et. al. (1995), este indicador (Ie) tem o objetivo de verficar a eficiência do projeto elétrico quanto ao traçado dos eletrodutos, relacionando o comprimento dos mesmos (Ce) ao número de locais de atendimento (Pte). Este indicador pode fornecer informações para estimativas de custo. Ie = Ce 6255 = = 2,34 m/Pt Pte 2675 (2) Da mesma forma, o levantamento da quantidade de pontos elétricos permitiu calcular um índice médio (Im1), dado pela relação entre estas quantidades e a área construída (Ac). Im1 = Pte 2675 = = 0,64 Pt/m 2 Ac 4152,64 (3) E ainda, um índice médio (Im2), dado pela relação entre o comprimento de eletrodutos e a área construída. Im2 = Ce 6255 = = 1,51 m/m 2 Ac 4152,64 (4) Pode-se ainda saber a quantidade de cada tipo de ponto por metro quadrado de área construída, conforme a Tabela 6. Tabela 6 – Índice de pontos por m2 de área construída. Ponto Elétrico Arandela H = 180 cm Arandela H = 200 cm Caixa 4 x 2 Caixa de Espera/Comandos do Elevador Caixa de Passagem Caixa de Passagem/Quadro de Comando Campainha Interruptor a H = 110 cm com Tomada Média Interruptor de 1 secção Interruptor de 1,2 e 3 secções Interruptor de 2 secções Interruptor Paralelo Interruptor Simples + Paralelo Luminária Externa Luminária Tartaruga Medidores Minuteria Ponto de Luz no Teto Poste Ornamental Pulsador de Campainha Quadro de Aterramento Equipotencial Quadro de Disjuntores Quadro Geral Relé Fotoelétrica Sinaleiro Tomada 2P + T (20 A) – Aquecedor Cardall H = 60 cm Tomada 2P + T (20 A) – Chuveiro e Condicionador de Ar Tomada 2P + T (20 A) – Chuveiro H = 200 cm Tomada 2P + T (20 A) – Condicionador de Ar H = 30 cm Tomada 2P + T (20 A) – Máquina de Lavar Louça sob Bancada H = 30 cm Tomada 2P + T (20 A) – Máquina de Lavar Roupa H = 110 cm Tomada 2P + T (20 A) Aterrada H = 30 cm Tomada Alta H = 200 cm Tomada Baixa H = 30 cm Tomada Média H = 110 cm Quantidade 14 107 4 2 9 4 40 106 109 5 37 38 27 1 19 1 88 486 3 40 2 42 2 1 4 113 1 76 60 Índice (Quant./Ac) 0,0034 0,0258 0,0010 0,0005 0,0022 0,0010 0,0096 0,0255 0,0262 0,0012 0,0089 0,0092 0,0065 0,0002 0,0046 0,0002 0,0212 0,1170 0,0007 0,0096 0,0005 0,0101 0,0005 0,0002 0,0010 0,0272 0,0002 0,0183 0,0144 39 0,0094 39 0,0094 106 101 339 212 0,0255 0,0243 0,0816 0,0511 Com base no estudo da ocorrência das atividades relativas às instalações elétricas, verificou-se que essas atividades para a primeira equipe, tiveram uma duração de 15 meses, e, para a segunda equipe, tiveram uma duração de 8 meses. Logo, o consumo de eletricista (considerando somente o oficial) por m2 nesta obra foi de: 1 Homem × 15 meses + 1 Homem × 8 meses 1 H × (15 × 190) horas + 1 H × (8 × 190 ) horas = = 1,05 H.h/m 2 2 2 4152,64 m 4152,64m Ou, considerando, conforme verificado no diário de obra, que foram trabalhados: (i) na primeira equipe, 270 dias ou 2376 horas; e, (ii) na segunda equipe, 247 dias, período correspondente 2173,6 horas, tem-se: 1 H × 2376 h + 1 H × 2173,6 h = 1,09 H.h/m 2 2 4152,64m (6) A esta produtividade calculada, equivale dizer que são necessárias 4526,38 horas para a execução das referidas instalações elétricas. Como parâmetro de verificação, optou-se então pelo consumo de eletricista por m2 de piso, de Solano citado por HEINECK (19--) que aponta 1,50 Hh/m2 (Homens-hora por metro quadrado) para edificações de luxo em Porto Alegre. Além deste, têm-se os índices de produtividade – Homens-hora por quantidade de serviço, das tabelas de composição de custos da TCPO (2000), conforme mostra a Tabela 7. Tabela 7 – Produtividade TCPO (2000) versus produtividade da obra. Pela TCPO (2000) Atividade Quant.1 Consumo Consumo Médio2 (h) Calculado (h) Fios isolados (Fiação) (a) 43500 m 0,12 5220,00 Abertura de rasgos para embutir 6255 m 0,45 2814,75 eletrodutos (b) Eletrodutos (c) 6255 m 0,35 3627,90 Caixas de Passagem (d) 13 un. 0,40 5,20 Quadro de Distribuição (e) 42 un. 3,00 126,00 Totais 11793,85 Da Obra Consumo verificado (h) 227,57 455,24 2189,25 79,20 202,40 3153,66 A seguir explica-se como os valores da tabela acima foram calculados: (a) Para verificação deste item na TCPO (2000), tomou-se: (i) uma média entre o consumo de eletricista para todos os diâmetros, uma vez que todos foram utilizados em obra em proporções semelhantes, com exceção do fio 1,5 mm2, quase o dobro dos demais. Por outro lado, da obra foram observadas as seguintes durações: 1 dia/pavimento para fiação de áreas de serviço e banheiro e 2 dias/pavimento para as demais peças. Logo, considerou-se para a fiação, 3 dias/pavimento, num total de 24 dias ou 211,2 horas para a torre. Recorrendo à uma regra de três, chegou-se a 14,87 horas para a periferia e 1,50 horas para a cobertura, perfazendo um total de 227,57 horas para fiação total da obra. 1 Nos itens (a), (b) e (c) os valores foram tirados do Relatório de Apropriação de compras de Instalações Elétricas da empresa. Para os itens (d) e (e), os valores foram obtidos das plantas. 2 Considerando somente o oficial. 211,2 horas x y → → → 2482 Pte na Torre 175 Pte na Periferia 18 Pte na Cobertura (b) Neste item, verificou-se em obra a duração de 6 dias/pavimento, ou seja, 48 dias/torre ou 422,40 horas/torre. Recorrendo ao mesmo artifício do item anterior, chegou-se a 29,78 horas/periferia e 3,06 horas/cobertura, num total de 455,24 horas para abertura de rasgos para tubulação de toda a obra. 422,4 horas x y → → → 2482 Pte na Torre 175 Pte na Periferia 18 Pte na cobertura (c) Com relação ao cálculo do consumo em obra procedeu-se da mesma forma que no item anterior. Entretanto, para verificação do consumo na TCPO (2000), tomou-se como base o diâmetro de 20 mm, o mais utilizado; e calculo-se a média entre o consumo apresentado para eletroduto de PVC rígido roscável (inclusive conexões) e para eletroduto de PVC corrugado, uma vez que ambos foram utilizados. (d) Para as caixas de passagem verificou-se em obra a duração de 0,50 dia/pavimento, logo, 4 dias/torre e mais 1 dia/periferia, perfazendo um total de 9 dias/obra ou 79,20 horas. Da TCPO (2000), tomou-se o consumo de 0,40 Hh, correspondente às dimensões internas de 100x100x80, mais próximas das utilizadas em obra. (e) Neste item foram necessários 2,5 dias/pavimento, ou 20 dias/torre, mais 3 dias/periferia, num total 23 dias/obra ou 202,40 horas. Da TCPO (2000) tomou-se o consumo de 3 Hh, correspondente à quadro de distribuição de luz, montagem embutida em alvenaria, com até 24 divisões modulares, dimensões externas de 332x332x95 mm, e de acordo com a descrição apresentada para este item no Relatório de Apropriação de Compras de Instalações da empresa. Resultados e Discussão Primeiro, com relação ao indicador de eficiência no projeto elétrico (Ie), igual 2,34 m/Pt, não foi encontrado na literatura nenhum valor que sirva de parâmetro para uma verificação. Da mesma, não se encontrou nada a respeito das relações número de pontos elétricos/área construída, e, comprimento de eletrodutos/área construída. Por outro lado, quando comparados os consumos de 1,05 Hh/m2 ou 1,09 Hh/m2 na execução das instalações elétricas desse edifício residencial, com o consumo apontado por Solano de 1,50 Hh/m2, parece ser razoável, uma vez que o autor obteve este valor para edificações de luxo, e o prédio em questão, tem padrão normal de acabamento. Quanto ao consumo calculado de homens- hora por serviço, com base na TCPO (2000), mesmo considerando que os dados ali contidos extrapolam o real, parece estar muito distante da realidade, sobretudo se for observado a ausência de inúmeros serviços. A esse respeito, é preciso ressaltar que, dadas as circunstâncias em que o trabalho foi realizado, com observações e coleta dados, realizadas já no final da obra, em muitos casos não foi possível chegar ao nível de detalhe que se gostaria. Por outro lado, estabeleceu-se como serviços para comparação com a TCPO (2000), somente aqueles cujas durações vinham sendo observadas in loco, e portanto com valores confiáveis. Ainda, com relação ao valor total do consumo verificado em obra de 3151,66 horas, considerando que para este não contribuem todos os serviços, sobretudo aquelas atividades relativas à acabamentos, quando comparado ao consumo estabelecido de 4526,38 horas, mostra-se dentro do esperado. Referências Bibliográficas ASSUMPÇÃO, J. F. P.; FUGAZZA, A. E. C. Planejamento da Produção de Edifícios: proposta de WBS e seqüências de execução como facilitadores do processo. In: I Simpósio Brasileiro de Gestão da Qualidade e Organização do Trabalho (1998 : Recife). Anais... Recife: GEQUACIL/DPE/DEC/POLI/UPE, 1999. HEINECK, L. F. M. Dados básicos para a programação de edifícios altos por linha de balanço. [S.I. : s.n.], [19--]. OLIVEIRA, M. et. al. Sistema de Indicadores de Qualidade e Produtividade para a Construção Civil. Manual de Utilização. 2ª ed. Série SEBRAE: Construção Civil. Porto Alegre: SEBRAE/RS, 1995. TCPO 2000: Tabelas de composições de preços para orçamentos. 1ª ed. São Paulo: Pini, 1999. VARGAS, C. L. S. Produtividade e perdas na construção civil. Curso Web de planejamento e controle de obra. Florianópolis, 1999. [online] Disponível na Internet via WWW. URL: http://www.cesec.ufpr.br/~pco/pco99/ e http://www.eps.ufsc.br/~gecon/cursos/pco99/. Arquivo capturado em 23 de novembro de 1999.