Carlos Corrêa Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Centro de Investigação em Química (U.P.) Indice - Estereoisómeros .................................................................. 4 - Objectos quirais ................................................................... 6 - Que se entende por sobreponibilidade? ........................... 8 - Sobreponibilidade de moléculas – CH3Cl ........................ 11 - CH2Cl2 ................................................................................... 12 - CHBrCl2 ................................................................................ 13 - CHBrCl I ............................................................................... 14 - Como verificar, à priori, a sobreponibilidade .................. 17 - Configurações. Regras de sequência .............................. 18 - Com a ajuda das mãos ....................................................... 20 - Isomeros cis/trans .............................................................. 21 - Molécula quiral ................................................................... 22 - Átomo de carbono quiral .................................................. 23 - Luz normal .......................................................................... 24 - Luz polarizada linearmente ............................................... 26 - Substâncias com actividade óptica ................................. 27 - Placas polaróide ................................................................ 28 - Polarímetro ......................................................................... 31 - Substâncias levógiras e destrógiras ............................... 32 - De que depende a rotação, .............................................. 33 - Estereoquímica das substâncias opticamente activas..... 34 - Moléculas com 1 carbono quiral ......................................... 34 - Moléculas com 2 carbonos quirais ..................................... 36 - Moléculas com 2 carbonos quirais e plano de simetria ... 41 - Ácido tartárico ....................................................................... 46 - Como verificar a quiralidade de uma molécula sem desenhar a sua imagem ........................................................ 49 - Moléculas com plano de simetria. ..................................... 50 - Derivados do ciclo-hexano .................................................. 51 - Moléculas com centro de simetria ...................................... 53 - Carbonos pseudo quirais ..................................................... 57 Isómeros – compostos com a mesma fórmula molecular Isómeros constitucionais Isómeros estereoquímicos ou estereoisómeros fórmula de estrutura Mesma fórmula de estrutura, fórmula estereoquímica De grupo funcional, De cadeia, De posição Enantiómeros (1) Objecto | Imagem Diastereómeros ou diasteroisómeros Não são (1) Estereoisómeros ou isómeros estereoquímicos São isómeros (mesma fórmula molecular) que só diferem na fórmula estereoquímica. Cl-CH=CH-Cl A Cl I – C – Br H B C D Objecto Imagem A e B – diastereoisómeros ou diasterómeros C e D – enantiómeros Mola direita Mão esquerda Mão direita Mola esquerda Espelho plano São objectos quirais Não sobreponíveis com a sua imagem num espelho plano. Não sobreponíveis A=-A -A A B=-B -B B B=-A A=-B -A A=B A -B B Que se entende por sobreponibilidade? Duas esferas com o mesmo raio são sobreponíveis. Duas esferas com raios diferentes não são sobreponíveis. Dois cubos com igual aresta são sobreponíveis. Dois cubos com diferentes arestas não são sobreponíveis. Sobreponíveis Espelho plano Objecto Imagem Não sobreponíveis Sobreponibilidade de moléculas CH3Cl Não-quiral Objecto Imagem As fórmulas estereoquímicas são sobreponíveis: CH2Cl2 Rodar a molécula de 180º Não-quiral Objecto Fórmulas sobreponíveis Imagem CHBrCl2 Rodar a molécula de 60º Não-quiral Objecto Imagem Fórmulas sobreponíveis Rodar novamente de 60º Cl A B I – C – Br H Quiral Objecto Br e H trocados. A e B não-sobreponíveis Imagem Rodar de 180º B Espelho O carbono apresenta duas configurações diferentes. Par de enantiómeros Não sobreponíveis Clica Imagem Objecto Como verificar, à priori, a sobreponibilidade de duas fórmulas estereoquímicas, A e B? Basta olhar A e B segundo uma qualquer ligação e verificar se a ordem dos substituintes é a mesma: Diferentes sequências, diferentes fórmulas. A . B . Configurações do carbono. Como as distinguir? H Regras de sequência de Cahn, Ingold e Prelog. Br Cl F 1 - Definir a prioridade dos substituintes do carbono quiral: nº atómico (Z) do átomo ligado ao carbono Br > Cl > F > H 2 – Olhar os substituintes pelo lado oposto ao de menor prioridade Br > Cl > F > H Br Cl R Cl . H F F Br > Cl > F Rectus F (direita) F . H S Br Br Cl Cl Sinister (esquerda) Br Com a ajuda das mãos I I R P P M Médio > Indicador > Polegar M Mão direita - R I I P M Mão esquerda - S P S M Extensão das regras de sequência a isómeros cis/trans Cl Z OH -Cl > H -OH > -COOH H Grupos de maior prioridade COOH Do mesmo lado: Z Em português: Zuntos De lados opostos: E Z de Zuzammen, juntos (alemão) E de Entgegen, opostos (alemão) Nome do composto: Ácido (Z)-2-hidroxi-3-cloroprop-2-enóico Molécula quiral: não-sobreponível com a sua imagem num espelho plano Carbono ligado a 4 átomos ou grupos diferentes. Carbono quiral: centro estereogénico B B A–C–C C D A C D Carbono quiral Objecto Imagem Por cada carbono quiral há duas configurações. Par de enantiómeros Mesmas propriedades químicas e físicas; só diferem numa propriedade óptica denominada poder rotatório específico. Vamos analisar esta propriedade óptica: A luz consiste na propagação no espaço de vibrações electromagnéticas. B B E E Campo eléctrico, E Campo magnético, B Na luz normal as vibrações dos campos eléctrico (E) e magnético (B) dão-se em todas as direcções normais à direcção de propagação da luz. E ou B Se todas as vibrações (do campo eléctrico, E, ou do campo magnético, B) se passarem a dar num só plano a luz diz-se polarizada linearmente. E Luz normal E Luz polarizada linearmente A luz pode ser polarizada por reflexão e por passagem através de certos materiais (prismas de Nicol, placas polaróide, etc.). Há substâncias com actividade óptica, isto é, que fazem rodar o plano de polarização da luz polarizada linearmente. Substância opticamente activa Observador O plano de polarização rodou Luz polarizada Rotação, À entrada À saída Pode obter-se facilmente luz polarizada utilizando placas polaróide. Duas placas cruzadas não deixam passar a luz. A primeira placa polariza a luz que não passa na segunda placa por estar cruzada. Placas polaróide paralelas Luz polarizada Passa Analogia Passa Placas polaróide cruzadas Não passa Luz polarizada Passa NOTA – Estes desenhos foram parcialmente retirados de: http://www.glenbrook.k12.il.us/GBSSCI/PHYS/CLASS/light/u12l1e.html e de http://plc.cwru.edu/tutorial/enhanced/files/lc/light/light.htm O poder rotatório das substâncias é medido pelo polarímetro. Rotação Polarizador Tubo com uma substância opticamente activa Analisador Luz polarizada Luz normal Plano de polarização Rotação, Rotação negativa Substâncias levógiras, l Rotação positiva Substâncias dextrógiras, d De que depende a rotação, ? Depende: a) Natureza da substância b) Percurso da luz através da substância (l) c) Concentração (caso de soluções) (c) = [] l c [] - Poder rotatório específico (característico da substância; depende da temperatura e do comprimento de onda da radiação). 25º Representa-se: []D= 13,5 Luz amarela do sódio, l = 589,3 nm, risca D Substâncias opticamente activas. Como serão? São todas as substâncias cujas moléculas são quirais. * Ácido láctico: CH3-CHOH-COOH Carbono quiral (assinalado com *) Ácido láctico l ou (-) H H Ácido láctico d ou (+) C HOOC Apresenta dois isómeros ópticos CH3 OH [a]D= -13,5 º H3C HO C COOH [a]D= +13,5 º Não sobreponíveis: quirais. Um par de enantiómeros Vamos estabelecer as configurações de cada um dos estereoisómeros. Prioridade dos substituintes: -OH > -COOH > CH3 > H HOOC H H C C S CH3 OH H3C HO -C COOH R 2 HOOC 2 . S 3 -C -O = OH C 1 1 HO H3C 3 H -H -H -H Moléculas com dois carbonos quirais Quantos estereoisómeros existirão? * Duas configurações possíveis * Duas configurações possíveis 2 x 2 = 4 configurações possíveis 4 estereoisómeros possíveis Comecemos por um dos isómeros, por exemplo Verifiquemos se é quiral: A B A B B Serão sobreponíveis? Trocados Conclusão: não são sobreponíveis. Dois estereoisómeros (par de enantiómeros). Vamos procurar os outros dois isómeros. B C A H F Trocando o H com o F D C Segundo par de enantiómeros Verificar que não são sobreponíveis: D . 1 C 2 1 3 . 4 4 D 2 3 C Dois carbonos quirais e plano de simetria Quantos estereoisómeros existirão? * Duas configurações possíveis * Duas configurações possíveis 2 x 2 = 4 configurações possíveis 4 estereoisómeros possíveis Comecemos por um dos isómeros, por exemplo Será quiral ? A Trocados B Trocados B Conclusão: não sobreponíveis. Dois estereoisómeros (par de enantiómeros). Como obter os restantes estereoisómeros? Invertendo a configuração de um dos carbonos: A C Será este 3º isómero opticamente activo? Estas duas fórmulas estereoquímicas são sobreponíveis por uma simples translação: C = D C D Plano de simetria Em vez de dois isómeros temos somente um estereoisómero, opticamente inactivo. É o isómero meso. Ácido tartárico Par de enantiómeros Meso HOOC H H A HO H OH HO COOH HOOC [] = -12 º HOOC B OH HO H [] = +12 º Meso OH H C H COOH COOH Centro de simetria (nesta conformação) A e B : Objecto e imagem. São enantiómeros. A e C ou B e C : Não são objecto e imagem. São diasteroisómeros. Natural H HOOC H HO R R OH HOOC H S HO COOH S OH H COOH (2R,3R)-Ácido tartárico (2S,3S)-Ácido tartárico [] = + 12 º; p.f. = 170 ºC Solubil.água (25 ºC) = 147 g/L Densidade = 1,7598 g/mL [] = - 12 º; p.f. = 170 ºC Solubil.água (25 ºC) = 147 g/L Densidade = 1,7598 g/mL HOOC HO H H S R OH COOH (2S,3R)-Ácido tartárico (Meso) [] = 0º; p.f. = 146 ºC Solubil.água (25 ºC) = 120 g/L Densidade = 1,666 g/mL Meso Em resumo 1 C* - 1 par de enantiómeros 2 C* - s/ plano de simetria: 2 pares de enantiómeros 2 C* - c/ plano de simetria: 1 par de enantiómeros 1 isómero meso n C* - número máximo de estereoisómeros: 2n Dada uma determinada molécula, será possível saber à priori se ela é quiral, sem ter desenhar a sua imagem num espelho plano? É possível. Nos casos mais comuns, uma molécula não será quiral se tiver: a) Plano de simetria ou b) Centro de simetria CH2Cl2 CHBrCl2 Cl Cl H H H H H Cl H H H H H H H H H Cl H H Cl Cl H H Cl HH Cl H H Ciclo-hexano Cadeira Cl Cl Barco Eclipsadas Br Cl Br Alternadas Cadeira empenada Br Barco empenado Cl Cl Plano de simetria Plano de simetria Br Br Não é quiral Para a tornar quiral basta introduzir assimetria: ligação dupla. Cl Cl Br Br Carbono Cl quiral Cl Br Br Par de enantiómeros Moléculas com centro de simetria Cl H Br H H H que são sobreponíveis: O mesmo sucede com os Hs Cl Br Br Cl Br Para não sobrecarregar a imagem Vejamos Cl Br Cl Cl Br 90º Cl Br Br Cl Sobreponíveis Br Cl Cl Br Cl Br Br 180º Cl Br Cl Cl Br Cl 90º Br Br Cl 180º Br Cl Clica 1º - Rotação de 90º Cl Br Clica 2º - Rotação diagonal * * * CH3-CHOH-CHOH-CHOH-CH 3 HO H H OH H3C Meso CH3 H3C H3C Meso CH3 HO H H OH HO H H OH H H OH HO H HO Carbono pseudo quiral H H OH HO CH3 H3C OH H CH3 2 mesos + 1 par de enantiómeros