Ter uma vida normal não é viver conforme os preceitos de uma sociedade, mas viver conforme os seus próprios conceitos e verificar que os outros o olham com dignidade Cada dia é um RECOMEÇO Marcelo Queiroz VIVIANE BUENO Fabiana Peixoto Lopes Quem nunca sentiu medo que atire a primeira pedra! É praticamente impossível encontrar um indivíduo que nunca tenha sentido, pelo menos em algum momento de sua vida, medo. Tem gente que tem medo do escuro, de baratas, de aranhas, de altura, mas já pensou ter medo do seu próprio futuro? Pois bem, muitas pessoas, juntamente com seus familiares, carregam esse sentimento. A maioria delas são portadoras de alguma deficiência que, de uma forma ou outra, as impede de ter uma perspectiva positiva de seu futuro. Porém, existem pessoas que mudam essas estatísticas, procurando apoio e tratamento a fim de conseguirem seguir uma vida “normal” e traçar os caminhos que acharem melhor. Uma história que pode retratar bem esse trabalho de derrota do medo é a dos pequenos Júnior Glósqui, 11 anos, e Luana Oliveira, 10 anos. Eles frequentam a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais de Mesmo que Luana e Júnior tenham algumas restrições em função de suas deficiências, não deixam a desejar na vontade em aprender São Jerônimo – APAE e, mesmo com suas limitações, cursam o 2º ano do ensino fundamental em uma escola normal, com colegas sem nenhum tipo de deficiência. A presidente e o diretor da instituição, Maria Virginia Vaz Araújo e Rafael Costa, falam de maneira carinhosa e com muito orgulho sobre seus alunos, em torno de 38. Todas as manhãs, a APAE, em sua sede improvisada em uma casa na Rua 30 de setembro, disponibiliza aos seus alunos apoio para que possam ser incluídos, normalmente, à sociedade. Lá, eles aprendem a escrever e aprimoram sua coordenação motora, além de terem aulas de informática, atendimento psicológico e acesso a livros. “Para o próximo ano, vários projetos estão sendo elaborados visando melhorar ainda mais a aprendizagem de nossos alunos”, ressalta a presidente. Com um sorriso fácil, Júnior, que tem Déficit Intelectual e Hiperatividade, chegou distribuindo beijos e abraços. Para controlar sua hiperatividade, ele toma remédios regularmente. O mais importante, é que todos os medicamentos que ele precisa são doados, ou seja, sua família tem custo zero com seu tratamento. Mesmo sendo um pouco acanhado, não economizou nas manifestações de afeto, que pareciam ser a maneira mais fácil, encontrada por ele, de agradecer pela presença e apoio de todos que estavam ali. Na mesma sala de Júnior, estava uma beleza de menina, a Luana. Vaidosa, esperta, inteligente e um tanto quanto falante. Em questão de segundos já havia organizado as poses para as fotos, mostrou seus trabalhos e falou sobre seus hobbies: assistir filmes, desenhar, passar batom e ver o “namorado”. O encanto de menina faz com que a dificuldade na fala, em função da Síndrome de Down, passe despercebida. As manifestações de afeto, tanto com os professores, quanto entre eles, eram constantes e espontâneas. O carinho que Júnior tem por Luana, além de recíproco, é muito verdadeiro. As atividades da dupla não se restringem apenas as duas aulas semanais na APAE. No turno da tarde, como já fora citado anteriormente, são colegas na Escola Municipal Padre Luiz de Nadal, onde cursam o 2º ano do ensino fundamental. Os laços entre eles se estreitam cada vez mais, e o que facilita a aprendizagem dos dois, é que o diretor da instituição também é professor deles na escola. Apesar de Luana e Júnior terem algumas restrições, em função de suas deficiências, não deixam a desejar na vontade em aprender e nas notas. É com muito orgulho que Rafael fala do empenho que ambos têm nos estudos. “São ótimos alunos, mas acabam esbarrando nas limitações que a deficiência impõe a eles”. Assim como os demais alunos da instituição, os | 4 | PORTAL DE NOTÍCIAS - ESPECIAL FINAL DE ANO - 20 DE DEZEMBRO DE 2011 dois vêm de famílias com poucos recursos, mas que estão sempre dispostas a ajudar. “Mesmo as famílias sendo humildes, sempre compreendem as necessidades e limites de seus filhos”, conta a presidente. Todos os colaboradores se empenham, ao máximo, para que os alunos da APAE tenham um aprendizado que os possibilite um futuro mais próspero e uma integração mais rápida e fácil à sociedade. Luana, que mora bem distante da sede, só passou a frequentar a APAE há quatro anos. Sua mãe, Dona Lurdes, era quem trazia a menina nos dias em que tinha aula. Porém, durante suas idas até a instituição, ela descobriu que também tinha uma deficiência, uma espécie de Déficit Intelectual. Diante desta descoberta, pediu para ser aluna. Hoje, a mãe aprendeu a ler e a escrever, e passou a frequentar com sua filha a instituição que as acolheu e as ajudou a conhecer suas limitações e habilidades. Quem conhece a história dessas duas crianças, passa a perceber que, assim como elas, muitas pessoas enfrentam algum tipo de superação diariamente. O medo do futuro termina quando ele esbarra com a esperança de um dia melhor. É por este motivo, que a cada dia, o Júnior e a Luana, escrevem nas páginas do livro de suas vidas um novo começo.