UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE EDUCAÇÃO DTPEN – DEPARTAMENTO DE TEORIA E PRÁTICA DE ENSINO Projeto Licenciar “O arquivo escolar como eixo articulador de atividades de ensino, pesquisa e extensão: diálogos possíveis na escola e entre a Universidade e a escola” Cultura e uniforme escolar Haroldo Wilson da Silva1 Luana Oliveira Freire Maia2 Orientadora: Profª Drª Nádia G. Gonçalves3 Para entendermos o mundo hoje, há que compreender nosso caminho até aqui. Vladimir Nabokov (apud GONTIJO, 1987, p. 10) diz que a história é uma sucessão de eventos, e toda síntese é a tese do que se segue. A partir deste pressuposto podemos supor que nosso mundo atual é, em grande parte, conseqüência dos fatos passados. Assim é também com a cultura escolar, e aqui, especificamente, trataremos do uniforme escolar. Para que os alunos compreendam isso, vale que aprendam, pesquisem, reflitam e discutam a cultura escolar inscrita na forma de vestir esse uniforme, as mudanças e permanências históricas inscritas nesse objeto e suas possibilidades e diferenças locais e regionais. Uma fonte muito interessante para trabalhar este tema é a fotografia, de que trataremos a seguir. Discussão metodológica Rousseau, em seu livro Emílio (apud TRAVERIA, 2006:151) afirma que o papel docente não é, antes de tudo, ensinar as diversas ciências, mas fazer com que os alunos se apaixonem por elas e aí então ensinar-lhes a aprender. Fontes primárias como documentos, arquivos, objetos, entrevistas, fotografias, trabalhados no processo de ensino podem causar impactos emocionais e intelectuais que despertam a curiosidade. Mas as fontes não servem apenas como uma motivação antes do ensino. Há fontes que ilustram, que exemplificam, que podem ser trabalhadas durante o desenvolvimento de determinado conteúdo e ainda aquelas ideais para a conclusão de um trabalho. O contato com as fontes históricas permite infinitas possibilidades didáticas: há estudos de casos, resoluções de problemas, projetos, dramatizações, simulações... Mas, além disso, é 1 Estudante de Pedagogia/UFPR bolsista Licenciar. Estudante de Pedagogia/UFPR bolsista Licenciar. 3 Professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino – UFPR. 2 preciso que os professores dominem estes métodos de ensino e os trabalhem com arte, assim como os conteúdos a serem desenvolvidos, e não que sejam subjugados e condicionados por eles; que o professor busque investigar para ensinar, ensine investigando e ensine a investigar (TRAVERIA, 2006:41). Outra opção é discutir histórias, o que também desenvolve a imaginação, um aspecto do desenvolvimento do pensamento infantil que, às vezes, é ignorado (COOPER, 2005:184). Dentre todas as fontes documentais possíveis, é nos registros fotográficos que o grupo dá ênfase neste trabalho. Surgida em 1830 e disseminada no século XX, a fotografia veio a ser um marco importante como fonte de registro histórico. Sendo um registro visual, ela nos leva a reviver, de forma especial, a época ali registrada. Devemos lembrar, porém, que as fotos também não nos dão uma visão imparcial da história: já foram usadas como uma forma de propaganda governamental no decorrer da II Guerra, em períodos eleitorais, e em diversas formas de criação de fatos, versões e imagens. O uso da fotografia como documento histórico deve, pois, tomar o cuidado de levar em consideração a intencionalidade que estava por trás do registro. Este aspecto não é exclusivo das fotos de propaganda. Porém, da mesma forma que outros tipos de fonte, o professor deve ter clareza do que quer, usando de estratégias coerentes com seus objetivos. A realização de leituras de fotografias com os alunos, favorecerá a sua introdução no método de análise de documentos históricos (BITTENCOURT, 2004:368), sendo um passo para a formação de uma relação de autonomia com o conhecimento, ou seja, cultiva-se hábitos de curiosidade e investigação não apenas no campo da história – já que este relaciona-se com todos os outros –, mas nas variadas áreas do conhecimento. Texto-base para a atividade (sugestão: segundo ciclo dos anos iniciais) No Brasil, é principalmente a partir das primeiras décadas do século XX que os uniformes escolares começaram a ser mais comuns, identificando os alunos de diferentes escolas e classes sociais. Em sua origem, o uniforme teria três funções básicas: representar a identidade da instituição, promover a segurança dos alunos fora da escola e estimular o orgulho dos estudantes pelo colégio. Porém, no período mais recente podemos nos perguntar se ele cumpre ainda essas funções, e se outras lhe foram acrescentadas. De acordo com Umberto Eco (1989:20), vestuário é comunicação. Um grupo se uniformiza para formar um grupo coeso, uno, no nível das aparências. Cada um se uniformiza para melhor caracterizar sua categoria, posição social, profissão ou função dentro de um contexto prédeterminado. Em grandes estruturas, o uniforme ajuda com a praticidade: sabemos que a moça de jaleco branco no hospital pode nos ajudar se esfolarmos o braço, ou que numa loja os uniformizados geralmente sabem onde está aquilo que estamos procurando. Da mesma maneira, o uniforme escolar também tem objetivos e mensagens. A cultura escolar sempre é o reflexo de uma cultura mais ampla, a cultura social. Se, atualmente, os uniformes priorizam o conforto, a praticidade e uma estética jovem e bonita, sabemos que a ideologia do nosso contexto social valoriza estes aspectos. As fotos em anexo também demonstram ideologias. Que forma de pensar o mundo (valores) estariam por trás deste tipo de vestuário? Proposta de Atividades 1) Diálogo O professor pode começar com os alunos, como um primeiro e motivador passo, um diálogo perguntando se eles sabem, ou desconfiam do porque existe o uniforme escolar, se usam na escola, se gostam – ou gostariam – ou concordam com o uso. Seria interessante os estudantes tomarem conhecimento da própria etimologia da palavra "uniforme": uma forma, ou seja, o enquadramento dos alunos em uma aparência semelhante. Para isso, o professor deve ter suficiente embasamento teórico para poder guiá-los com questionamentos para que a conversa não se perca. Os alunos usam o uniforme na escola? O motivo pode ser pesquisado e discutido junto às instâncias responsáveis, da escola. O professor pode começar a introduzir também argumentos sobre as razões de se haver uniforme e posições da própria escola. Serão identificados os conhecimentos prévios dos alunos para que se comece o trabalho de pesquisa. 2) Uso das fotos O uso das fotos em anexo, ou de outras que o professor escolha, pode ser feito de duas maneiras: na abertura do trabalho com os alunos, como uma introdução motivadora, ou como conclusão, ao final do trabalho, com um panorama histórico mais amplo, que também amplie o conceito de uniforme. 3) Pesquisa e roteiro Os alunos pesquisarão com sua família fotos de escola de pais/ avós, etc. com respectivos depoimentos sobre elas. Em grupos pequenos, então, eles serão guiados pelo professor a fazerem um roteiro histórico, catalogando as fotos com legenda, data e local. Esta é uma interessante ocasião para explicar aos alunos a importante noção de que todo o fato histórico está situado em um tempo e em um espaço. É como se fosse seu "endereço", ou "identidade". É necessário que se atente para o cuidado com a preservação das fotografias do acervo familiar: se possível, para o uso das fotos no trabalho, usar cópias ou colocá-las em plásticos, sem fazer registros ou usar fita adesiva diretamente nas fotos. É importante também relacionar este tempo com o de hoje: poderão trazer fotos suas com uniforme, se tiverem, ou de revistas, jornais, etc. O que mudou? O que permaneceu? Outra sugestão é a professora trazer livros, por exemplo os citados no tópico referência e materiais, como os em anexo, que abordem as mudanças sociais que influenciaram no vestuário escolar, traçando relação com a história da sociedade, para que possam entender de forma mais ampla a pesquisa realizada: qual era o contexto social daquela determinada época? Uma linha do tempo que relacionasse estes dois aspectos seria uma interessante atividade para desenvolver a perspectiva temporal. Ao final do trabalho, retomar com os alunos seu trajeto: as hipóteses do início do projeto foram confirmadas? Quais os resultados e conclusões? 4)Exposição Em um mural, os alunos organizarão sua pesquisa para a exposição em sala. Eles poderão apresentar seu trabalho para a turma contando como foi a atividade de pesquisa e organização dos dados. Referências BASILE, Aissa Heu; LEITE, Ellen Massucci. Como pesquisar moda na Europa e nos Estados Unidos. São Paulo: SENAC, 1996 BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. BRAZ, Antonio de Castela. Coisas da moda. São Paulo, 1923. COOPER, Hilary. Aprendendo e ensinando sobre o passado a crianças de três a oito anos. Educar em Revista, Editora UFPR. Curitiba, p.171-190, 2006. ECO, Umberto e al. Psicologia do Vestir, 3ª edição. Lisboa: ed. Assírio e Alvim, 1989 GONTIJO, Silvana. Oitenta anos de moda no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987 LONZA, Furio. 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Acervo do Colégio Estadual do Paraná – Curitiba Alunos treinando corrida em aula de Educação Física com o prof. Berezowski. Estavam usando o uniforme de Educação Física. Provavelmente década de 1960. Acervo do Colégio Estadual do Paraná – Curitiba Estudantes com a professora Joana Abranches (prof. de inglês) que comandava grupos de alunos a cantar canções em inglês para aprender e aprimorar o idioma. Provavelmente década de 1960. Acervo do Colégio Estadual do Paraná – Curitiba Aula de Geometria no antigo Gymnásio Paranaense – década de 1930 (hoje colégio Estadual do Paraná). Acervo do Colégio Estadual do Paraná – Curitiba