PROGRAMA ESCOLA ABERTA E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO SÓCIO-EDUCACIONAL Márcia Cristina Rosa de Vasconcelos1 Maria da Conceição de Oliveira Gangorra2 Aída Monteiro3 RESUMO Nós vivemos em uma sociedade aterrorizada pela violência, que não deixa passar despercebidas nem mesmo as escolas, pois estas são, muitas vezes, um meio de controle da juventude que, por sua vez, demonstra sua revolta com atos violentos. No entanto, há uma movimentação mundial de combate à violência que pretende desenvolver atividades que ajudem os jovens a ter um novo objetivo de vida, diminuindo, assim, as agressões, sejam elas físicas ou de outros tipos. No Brasil, uma das propostas é o Programa Escola Aberta, implantado com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que visa oferecer aos jovens atividades nos finais de semana, envolvendo a comunidade e proporcionando lazer e cultura. Por isso, este artigo produto do Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é um reflexo sobre o Programa Escola Aberta e suas contribuições, no campo sócio-educacional. O mesmo foi produzido com base em pesquisas bibliográficas, entrevistas e observações, com o objetivo de analisar o referido Programa. PALAVRAS-CHAVES: Violência; vulnerabilidade social; escola. 1 PRIMEIRAS PALAVRAS Nossa sociedade, apesar de ter se desenvolvido em muitas áreas como na política, na tecnologia e na cultura, não desenvolveu uma forma de minimizar as desigualdades e os conflitos sociais, que provocam reações preocupantes como a violência que se manifesta nas diversas esferas da sociedade. A violência aparece na forma de desigualdades, concentração da renda, pelo grande contingente de armas de fogo, pelas crescentes guerras, o analfabetismo, a discriminação, a dominação pelo mais forte e as guerras em nome de crenças religiosas. Esses tristes fatos são característicos de nosso passado e do presente. 1 Graduanda do Curso de Pedagogia da UFPE. Graduanda do Curso de Pedagogia da UFPE. 3 Professora do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino do Centro de Educação da UFPE e coordenadora do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. 2 VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 2 O Brasil possui um assustador índice de desigualdade social que se propaga desde a sua colonização, quando existia o mínimo de pessoas de posse, ou seja, com o domínio do poder econômico. Acreditamos que a desigualdade é o ponto de partida das grandes crises sociais, como o fenômeno da violência. O Brasil é conhecido no mundo por suas riquezas naturais; por outro lado, apresenta uma má distribuição de renda, ocasionando a desigualdade social. Ostenta um lamentável índice de milhões que vivem abaixo da linha da pobreza, enquanto uma pequena parcela é quem detêm o poder. Esse quadro social é favorável à manifestação da violência, que alcança principalmente os jovens. Para termos uma idéia, em 2000 tivemos um número assustador de 2.220 homicídios, predominando a faixa etária de 15 a 24 anos. Como pode ser visto no gráfico 1. Fonte: SIM/DATASUS No ano de 2001, a Diretoria executiva de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA) do Estado, constatou que, em Pernambuco, sete jovens de 12 e 17 anos cometeram homicídios. Em 2002, esse índice mais que triplicou. O mapa da violência III, divulgado pela UNESCO revela que o crescimento do índice de violência, entre os jovens, em Recife é duas vezes maior que o índice nacional. São 102,7 homicídios por 100 mil habitantes, à nível nacional. E esse número cresce ainda mais no Recife, onde a taxa é de 238,6. Para agravar esta situação, a violência está invadindo outros campos sociais como a escola, visto que esta reflete as características da sociedade. Pesquisas da UNESCO (2002) mostram que em Pernambuco, em 40% dos casos de violências nas escolas, são usadas armas de fogo e em 60% dos casos, são utilizadas outros tipos de armas. Os estupros e as violências sexuais, também são apontados pelas alunas como outros tipos de violência comuns, principalmente, no caminho em direção as suas casas. As gangues e os tráficos, também aparecem no interior e no exterior da escola. Destacando a violência na escola, Guimarães (1996), aponta esta, representada pelos quebra-quebras, pelas brigas entre grupos e pela bagunça que aumenta com o excesso de controle e dominação exercidos pelas escolas sobre os alunos. Por isso, o tema violência é bastante atual e, na tentativa de reduzir esse quadro de violência, surgiram algumas iniciativas públicas e não governamentais. VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 3 Em relação às iniciativas públicas, o destaque está no Programa Escola Aberta que já se popularizou na cidade do Recife, em outros municípios do Estado e em outras regiões do país. Este Programa, criado em parceria com a UNESCO e com o apoio das prefeituras da Região Metropolitana do Recife, está beneficiando milhares de jovens, com a oferta de várias atividades recreativas e educativas, gratuitas, durante os finais de semana, visto que os índices de violência aumentam nestes dias em torno de 60%, Como pode ser visto no gráfico 2. Fonte: SIM/DATASUS O Programa teve início, no ano de 2000, em 30 escolas na Região Metropolitana do Recife, sendo vinte da Rede Estadual e dez na Rede Municipal; hoje já conta com mais de 400 escolas. Diante deste fato, percebemos a importância deste estudo de caso em escolas públicas da cidade do Recife, para conhecermos de perto a realidade vivida nas escolas após a implantação deste Programa. Forneceremos, neste trabalho, informações que procuram responder aos seguintes questionamentos: Quais as contribuições do Programa Escola Aberta para a comunidade escolar em relação à diminuição da violência? Quais os fatores que influenciam positivamente ou negativamente o Programa? Qual a influência do Programa no campo social e educacional? Portanto, a finalidade deste artigo é discutir os aspectos que possam, através dos resultados apresentados, acrescentar entendimentos acerca deste problema (a violência) e dos caminhos que estão sendo tomados na busca de soluções. 2 UMA SOCIEDADE VIOLENTA: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO Com o desenvolvimento industrial e tecnológico, a sociedade passou a valorizar o consumo e o lucro, o que provocou uma grande concentração de renda e, conseqüentemente, a exclusão social; isso provocou uma eclosão da violência que se manifesta de várias formas. VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 4 A realidade vivida nos dias de hoje, mostra que a violência vem crescendo exacerbadamente, através de uma gama variada de modalidades, como a violência doméstica, contra a mulher, contra a criança, depredação do patrimônio, entre outras. A Violência, no entanto, não é uma preocupação recente, pois desde muito tempo a insegurança e o medo tomam conta das pessoas em todo mundo. Hoje em dia, esta se caracteriza como um aspecto representativo e problemático da atual organização da vida social, especialmente nos grandes centros urbanos, manifestando-se nas diversas esferas da vida social. Logo, viver nesta época, implica enfrentar uma diversidade de situações de risco e, entre os conflitos sociais da atualidade, situa-se o da violência. Neste caso, percebese um imenso movimento de massificação no qual impera o individualismo e a solidão, provocando um processo de exclusão social e econômico, no qual se inserem às práticas da violência. Ao procurarmos compreender o conceito de violência, verificamos que Santos (2002, p.23) afirma: “É uma forma de interação social na qual se dá a afirmação de um poder legitimado por uma determinada norma social, conferindo-lhe então, o aspecto de forma de controle social, enfim, é um dispositivo de poder, uma prática disciplinar que produz um dano social, atuando sobre espaços abertos, e que se instaura com uma justificativa racional, desde a exclusão até a prescrição dos estigmas” A violência toma destaque na sociedade, principalmente entre os jovens, na faixa etária de 15 a 24 anos. Esse fato está relacionado com a condição de vulnerabilidade social vivida por esta parcela da sociedade que tem dificuldades de acesso a bens e serviços, associado às condições sócio-econômicas vividas no país, o que afeta diretamente em sua integração social, fazendo-a refletir de forma violenta. A juventude no Brasil, especificamente da década de 90 foi marcada por uma ausência de perspectivas, principalmente em relação ao mercado de trabalho, o que leva muitos autores a acreditar que a violência seria uma alternativa encontrada pelos jovens para se rebelarem contra a sociedade. Contudo, é necessário explicitarmos mais o que a bibliografia traz sobre o significado de violência e suas formas. Na concepção de Minayo (2002), a violência é expressa e entendida em conjunto e que varia da violência visível, que se expressa nas mortes e nas lesões corporais, à violência invisível, caracterizada por questões psicológicas, espirituais, pela insegurança, medo, dor etc., e a violência naturalizada pela cultura que alimenta a exclusão,os preconceitos,os favores e os privilégios, assim como a omissão e a impunidade. Essa autora ainda afirma que, o combate à violência é uma questão de cidadania, de direitos humanos e sociais, do reconhecimento do outro, exigindo a colaboração da sociedade, do governo e da participação dos movimentos sociais, com abordagem multiprofissional e interdisciplinar, pois a paz só pode ser conseguida com a garantia dos direitos e o reconhecimento do próximo. VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 5 3 REALIDADE ESCOLAR: OS REFLEXOS DA VIOLÊNCIA Atualmente, percebe-se que, na realidade escolar, a violência toma as mesmas proporções que na sociedade. Cresce cada vez mais a ocorrência de casos de violência dentro das escolas, sejam elas praticadas ao patrimônio escolar ou contra as pessoas, alunos, professores e funcionários. Sobre a violência na escola, E. Guimarães (1998), afirma que essa questão é um problema que já existe há um bom tempo, principalmente nas formas de agressão aos colegas e/ou professores. Mas a violência não é só o uso da força física, são, também ameaças, e agressões verbais, que dão à pessoa a idéia de poder e de imposição de sua vontade. A mesma autora diz que a violência tem um caráter múltiplo e varia de acordo com o contexto social no qual está inserida. Esta atinge principalmente a instituição escolar, sob a forma de três abordagens: A primeira é resultado da violência de indivíduos e vem de fora da escola, como o roubo. A segunda é produzida no interior da escola, pode ser por causa de drogas, grupos rivais, agressão verbal etc. E a terceira é gerada pela reação do aluno a processos e práticas escolares, como autoridade dos professores. Existem várias formas de manifestação de violência na escola e uma que mais se destaca é o vandalismo, por ser a escola um espaço de contradições. Sobre este assunto Guimarães (1996-p.25)cita: “A forma mais destacada de violência na escola é o vandalismo. A escola é um dos alvos preferidos deste tipo de violência, pois ela contraria todos os seus pressupostos, Isto é, se diz democrática, mas não o é; diz que prepara para a vida,mas não o faz; é lugar do novo,mas propaga o velho”. Nessa concepção, os alunos se revoltam diante da injustiça na qual estão envolvidos e reagem de forma violenta. Hoje em dia, freqüentar uma escola, com instalações precárias e com professores mal remunerados, é um indicador social, pois pertencer a uma escola assim, mostra as condições sob as quais o indivíduo está submetido. Portanto, sendo a escola um espaço de formação cidadã deve estar preocupada com as causas que geram a violência no seu interior e no exterior, e junto com a sociedade e órgãos competentes, buscar soluções para prevenir e combater este fenômeno. 4 AS INICIATIVAS PÚBLICAS NA BUSCA DE SOLUÇÕES PARA A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS O que se percebe é que a questão da violência é um tema recentemente discutido em nossas escolas, principalmente com o processo de democratização da VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 6 escola. A partir da década de 80, onde administrações - estaduais e municipais – buscam respostas variadas ao problema da violência, que vem sendo alvo de discussões por vários setores da sociedade. Havia um consenso, tanto no debate acadêmico como no político, da necessidade de democratizar a escola, promovendo o maior acesso à educação e melhoria na qualidade do ensino. Como também de que era necessário eliminar processos de exclusão, de evasão e da repetência. Como conseqüência da ampliação desse acesso às escolas, muitas vezes despreparadas para receberem esse contingente de alunos, pois o cenário era de crise e de redução de investimentos na área educacional, a tendência era ampliar ainda mais os problemas. Outro fator considerável é a crescente cobertura que a mídia vêm dando à violência entre os jovens e particularmente aos casos de vandalismo dentro das escolas. Este fenômeno tem causado preocupação entre as camadas da sociedade e esta começa a cobrar providências, ações públicas que busquem solucionar o problema. Segundo as pesquisas realizadas por Gonçalves e Espósito (2002), surgiram várias iniciativas do poder público para dar resposta à sociedade, como citam os exemplos abaixo: A cidade de São Paulo introduziu alguns projetos que visavam a integração da escola com a comunidade, pois, nesse momento, a violência era entendida, em grande parte, como expressão do isolamento da unidade escolar em relação aos seus usuários. Surgiram, pois, duas iniciativas advindas do poder público.Uma delas, em âmbito estadual, tornou-se obrigatória, por decreto do poder executivo, a abertura das escolas nos fins de semana para uso da população em atividades de lazer, cultura e esporte. Já a outra iniciativa, vinda da Secretaria Municipal de Educação-gestão Mário Covas (1983/1985),e o projeto fim de semana, com atividades envolvendo professores, alunos, grupos organizadores da comunidade e moradores do bairro. O projeto incentivava a adesão das unidades escolares, oferecendo àquelas que decidissem dele participar o material necessário para o desenvolvimento das atividades. Porém, essas medidas mais educativas se esvaecem, ainda dentro da década de 80, nas seguintes administrações. Utilizando-se de medidas de segurança, como as rondas escolares, instalação de alarmes, colocação de policiais no interior das escolas. Algumas dessas práticas, consideradas negativas, estende-se até os dias atuais e não é incomum ver episódios em que policiais são chamados para resolver problemas nas escolas. Desta forma, o caso da violência nas escolas era visto como questão de segurança, não como questão de cunho educativo. A este respeito, Guimarães (1996) adverte que: “O objetivo de eliminar a violência e a indisciplina, ou de colocá-las para fora do espaço escolar, faz com que se perca a compreensão da ambigüidade desses fenômenos que, entre a ordem e o ordenamento, restauram-se a unicidade grupal e instalam uma tensão permanente. Quando essa tensão é vivida coletivamente,ela assegura a coesão do grupo; quando impedida de se expressar, transforma-se numa violência tão desenfreada que nenhum aparelho repressor, por mais eficiente que VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 7 seja, poderá conter (pág. 80)”. Enfrentar a violência na escola como caso de polícia é oportunizar a interrupção de um processo educativo, é o que pensa o programa “Paz nas Escolas” (PNPE), que possui o apoio da polícia militar, e faz parte das estratégias de redução da violência no Estado de Pernambuco. Ao contrário dessas medidas mais repressoras, está sendo desenvolvido o Programa Escola Aberta, objeto de análise do nosso trabalho, que se estabelece como uma iniciativa de cunho educativo e preventivo no combate à violência, abrindo as escolas públicas nos finais de semana, oferecendo alternativas de lazer, esporte e cultura para os jovens. 5 FUNDAMENTOS DO PROGRAMA ESCOLA ABERTA Devido aos crescentes casos de violência em todo mundo a ONU (Organização das Nações Unidas) em 1998, proclamou o ano de 2000 como sendo o Ano Internacional da Cultura de Paz, por uma resolução 52/15, de 15 de janeiro de 1988. Mas, para a ONU, o conceito de paz não é só evitar os flagelos das guerras, mas sim promover o desenvolvimento humano e a justiça social. Sabendo que a cultura é uma conseqüência das relações humanas desenvolvidas de acordo com a realidade vivida em cada local e época, percebe-se que a proposta é desenvolver um novo tipo de relação humana, que valorize a paz. A sociedade hoje sofre com a violência exacerbada que aflige a todos e não deixa escapar nem mesmo as classes economicamente altas. Viver, nos dias de hoje, é conviver com situação de medo e de insegurança que são, muitas vezes, provocadas, por jovens que não têm perspectiva de vida. As pesquisas desenvolvidas pela UNESCO (2002), mostram que a violência é causada pela vulnerabilidade social dos jovens, que não têm acesso ao lazer, à cultura, ao esporte, à saúde a aos direitos humanos, de um modo geral. Como resposta à falta de acesso e de oportunidades, especialmente de cultura e lazer, e com base em uma série de pesquisas realizadas pela UNESCO (2002), sobre a juventude, violência e cidadania, foi criado o Programa “Abrindo Espaços: Educação e Cultura para a Paz”. Programa este que pretendia, através da abertura das escolas nos finais de semana, realizar diversas atividades com o objetivo de combater a exclusão social, ponto de partida para a violência, tendo como público alvo os jovens que não possuem alternativas de lazer neste período, colaborando com a reversão do quadro de violência e proporcionando a construção de espaços de cidadania. O Programa privilegiou jovens das regiões de maior violência e as localidade de menor alternativa de cultura e lazer. Este trabalho que vem sendo desenvolvido pela UNESCO com o apoio de órgãos do Estado, ao mesmo tempo que é preventivo, é transformador,pois pretende modificar as relações dos jovens com a escola, com seu próximo e com a comunidade. O seu objetivo é a construção de uma cultura de paz por meio da inclusão social. Segundo estudos realizados por Júlio Jacobo (2002), coordenador do escritório regional da UNESCO, em Pernambuco, os índices de violência são elevados, VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 8 principalmente em sua Região Metropolitana,. Esses índices aumentam, principalmente nos finais de semana, em torno de 60%. Essa constatação veio acompanhada com a justificativa de que os jovens de famílias menos abastadas sentem falta de alternativas culturais, artísticas, esportivas e de lazer. Para tentar reverter esse quadro é que surgiu a iniciativa de abrir as escolas nos finais de semana. Em Pernambuco, esse Programa surgiu em agosto de 2000, com o nome de Programa Escola Aberta, em parceria com o Governo do Estado de Pernambuco. A princípio, participaram 30 escolas da Região Metropolitana do Recife e hoje são aproximadamente 400 escolas públicas das redes estadual e municipal, espalhadas territorialmente por uma área que vai de Ipojuca à Ilha de Itamaracá. A atual organização do Programa Escola Aberta na cidade do Recife possui uma equipe técnica que está estruturada da seguinte forma: • Coordenação Executiva; • Equipe Pedagógica (Coordenação, Supervisão e Apoio); • Equipe de Comunicação (Coordenação, Assessoria de imprensa e Portal); • Coordenação de Áreas (Cultura e Esportes); • Assessoria Temática (Origami, Teatro, Coral, Atletismo, Xadrez, Percussão, Hip-Hop, Dança, Futebol de Campo e Futebol de Salão) Projetos Especiais (Inclusão Digital, Qualificação Pessoal e Reforço Escolar). A proposta é oferecer diversas atividades esportivas e culturais que são determinadas em cada escola de acordo com as suas necessidades. As escolas, que integram este Programa e os coordenadores do Programa de cada escola, recebem uma ajuda mensal, assim como os dinamizadores, que oferecem as oficinas. Mas o Programa Escola Aberta conta com um número consistente de voluntários, que ultrapassam consideravelmente o número de dinamizadores. Os estudos realizados por Júlio Jacobo (2002),indicaram diminuição de até 60% do índice de violência nas escolas onde o Programa funciona há mais tempo, o que vem recebendo elogios da UNESCO. 6 A ESCOLA E O PROGRAMA: DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DE INTEGRAÇÃO A Secretaria de Defesa Social do Estado, na tentativa de combater a violência, elaborou um mapa dividindo as áreas de criminalidade. O Recife está dividido em cinco áreas. O trabalho de campo feito para a elaboração deste artigo foi realizado em três escolas da região Metropolitana do Recife, localizadas na periferia e com um considerável índice de exclusão, desigualdade social e de violência. O trabalho teve um total de 37 sujeitos entrevistados. As características que nos levaram a escolher essas escolas foram por serem consideradas modelos em termo de implantação do Programa. Uma das escolas participa do Programa desde o início, a outra há dois anos e a última4 acabou de se 4 4 Segundo a Diretora, a escola citada foi desligada do PEA (Programa Escola Aberta), pois não tinha uma quantidade considerável de participantes nos finais de semana. A Diretora afirma que um dos critérios utilizados pelo Programa para que a escola participe dele, seria um quantitativo grande de pessoas participando do Programa nos finais de semana. VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 9 desligar do Programa. As escolas, escolhidas para a pesquisa, localizam-se nas áreas 4 e 5 da cidade do Recife. A área 4 possui 282,866 habitantes e é composta por vinte e um bairros, dentre eles o bairro pesquisado de Jiquiá, que apresentou um índice de 89,44% homicídios por 100 mil habitantes. Já a área 5 possui 377,448 habitantes, é composta por dezesseis bairros, dentre eles os bairros pesquisados de Casa Amarela e Torre. Esses bairros são caracterizados por uma gama variada de desigualdade social, em que a classe alta convive de perto com a classe baixa. No ano de 2003, foram contabilizados 179 homicídios nesta área, totalizando uma taxa de 47,42 de homicídios por 100mil habitantes. O bairro de Casa Amarela teve um total de 27 homicídios neste mesmo ano, dos quais 16% foram assassinatos da área. (Secretaria de Defesa Social, julho de 2004). Procurou-se, no processo de investigação, identificar os benefícios obtidos pela escola e pela comunidade local, diante das ações realizadas pelo Programa, como também, as dificuldades que vem enfrentando durante sua existência. No processo de investigação identificamos quatro eixos: 1)Organização do Programa na escola; 2) Envolvimento dos profissionais da escola; 3) Participação dos alunos e da comunidade; 4) Benefícios do Programa. A coleta dos dados foi dividida em duas etapas, pesquisa bibliográfica e de campo. Na segunda etapa a coleta dos dados foi feita através de entrevistas e observações. Entrevistamos 37 pessoas, das quais foram 8 professores, 8 alunos (entre 14 e 24 anos),7 voluntários, 1 dinamizador , 2 coordenadores, 3 diretoras e 8 pessoas da comunidade. 6.1 ORGANIZAÇÃO DO PROGRAMA NA ESCOLA Nas escolas pesquisadas encontramos oficinas de dança, Jiu-Jitsu, kungfu,informática,desenho, futebol, desenho, volley e marionetes. Essas oficinas são oferecidas à comunidade e alunos de acordo com a disponibilidade dos voluntários.Portanto, a comunidade não define quais as oficinas que a escola pode oferecer, apenas escolhe, entre as que estão disponíveis, quais as que vão participar. No caso dos dinamizadores é que há uma diferença, pois a escola pode solicitar ao Programa um dinamizador para determinadas oficinas que a escola deseja oferecer à comunidade; contudo, em nossa observação, vimos que há escolas que só funcionam com voluntários. Cada dinamizador deve passar três meses na escola, deixando em seu lugar um multiplicador que dará continuidade àquela oficina. Isto em teoria, pois nem sempre é possível realizar esta tarefa, pois em apenas três meses nem sempre é possível capacitar um multiplicador, que também será responsável em conseguir mais multiplicadores.Isso porque depende muito da complexidade das oficinas e da boa vontade de conquistar esse multiplicador, já que ele não recebe remuneração pelo seu trabalho. Conforme observamos, a coordenação do Programa Escola Aberta ainda precisa buscar uma maior interação com as escolas campos de pesquisa, visto que não há um acompanhamento sistemático das atividades e das reais necessidades das escolas observadas. O relacionamento se dá basicamente mais de forma burocrática, visto que na fala das diretoras, identificamos que o contato acontece nos momentos de VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 10 captação dos recursos, dos envios dos dinamizadores e voluntários e das visitas fiscalizadoras. Como foi observado na fala da diretora: “O Escola Aberta quer a escola cheia, mas nem sempre isso é possível. Eles querem trezentas pessoas dentro da escola nos fins de semana. Se a escola não estiver cheia eles mandam uma carta comunicando o Eu acho muito imparcial”. fechamento . Este relato indica que o Programa se preocupa muito com a quantidade de participantes nos finais de semana, sem ter o cuidado de observar quais as dificuldades enfrentadas pela escola, e tentar superar os obstáculos. Desta forma, há uma contradição nos objetivos propagados pelo programa com a realidade vivida, pois quando o Programa é fechado em uma escola, há um desrespeito com a comunidade participante, tirando-lhes esse espaço de lazer, deixando-os novamente sem essas oportunidades. De acordo com os resultados encontrados, observamos que há uma falta de divulgação do Programa dentro da própria escola, apesar das diretoras afirmarem que colocam cartazes em alguns estabelecimentos comerciais para chamar a comunidade. Na escola não é feita uma divulgação consistente, apenas no “boca-a-boca” entre os colegas. Consideramos uma falha de comunicação, que dificulta ainda mais o envolvimento dos alunos. Alguns alunos não sabiam da própria existência do Programa na escola. A única divulgação feita era através de uma faixa colocada no prédio da escola, pela UNESCO. A respeito dos recursos, disponibilizados para a escola, há uma reclamação geral, pois tanto os coordenadores, quanto voluntários e alunos afirmam que os recursos não são suficientes. Faltam materiais para as oficinas e não é raro ver os próprios voluntários ou coordenadores arcando com custos para o desenvolvimento das atividades. Os voluntários trazem gravador, cds, roupas, bolas, material de artes, entre outros. O coordenador, às vezes, paga uma passagem, providencia lanches, tudo para conseguir manter as oficinas na escola. Como o Programa Escola Aberta tem por objetivo abrir a escola para a comunidade, isso ocasiona certos transtornos, pois nem sempre é possível observar o que ocorre dentro do espaço escolar. Por este motivo, alguns professores e diretores não aceitam muito bem o Programa dentro da escola. Conforme podemos observar no depoimento dos professores: “A comunidade escolar aceita o Programa, mas não é muito bem quisto não, porque é o patrimônio da escola e se houver algum caso de depredação não tem como repor”(Vice-diretora e ex-coordenadora do Programa na escola). Esse ponto é polêmico, pois contraria um dos pontos atualmente discutidos, que a escola seria depredada porque não abre para a comunidade e por isso não é valorizada e conservada. Abrir as escolas seria uma proposta para reduzir a depredação. Então como isto estaria ocasionando um efeito contrário? Contudo, não é possível tal afirmação, visto que não foram identificados os autores dos vandalismos ocorridos dentro das instituições pesquisadas. Também, há testemunhos contrários, onde a coordenadora de uma das escolas VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 11 pesquisadas afirma que esse fato não ocorre, pois a comunidade valoriza o ambiente escolar, uma vez que se sente responsável pelo espaço, precisa dele e, portanto, o conserva. Realmente, nesse estudo não foi possível identificar mais profundamente esta questão o que demandaria uma pesquisa mais detalhada sobre esse ponto. Podemos observar, nos relatos abaixo, afirmações positivas quanto ao acesso às escolas: “A escola passa a ter valor pra eles. Isso aqui é o espaço deles. Eles têm que zelar porque se não, não vão ter. Se eles quebram o bebedouro, vai faltar pra eles mesmos” (Coordenadora). “Se eles estão usando, se tão gostando do que eles estão fazendo, eles não acabam com a escola não. Se eles estão no maracatu, eles gostam de participar do maracatu Eles não picham a escola, não vão acabar com a escola”(Diretora). Na verdade encontramos opiniões diferentes, onde cada escola vive uma situação diferente e, por isso, tem pontos de vistas, às vezes em comum e em outros, não. Contudo, as pesquisas mostraram que predomina a opinião de que a escola não sofre depredação por conta dos que participam do Programa, porque a comunidade está envolvida nas atividades e valoriza o espaço escolar, porque precisam dele. 6.2 ENVOLVIMENTO DOS PROFISSIONAIS DA ESCOLA Os resultados da pesquisa revelaram que o envolvimento dos profissionais da escola no Programa se restringem, basicamente, ao coordenador do Programa, que é um profissional da escola e participa ativamente do processo e o diretor, que atua na esfera mais administrativa. Em relação aos professores não percebemos um engajamento no Programa; muitos resistiram a participar da pesquisa, pois não tinham conhecimento sobre o desenvolvimento do Programa na escola. Não havia articulação entre o Programa e a prática pedagógica. Os professores entrevistados não se mostraram estimulados em participar, pois alegaram falta de tempo e incentivo financeiro. Quando questionamos sobre o comportamento dos alunos após a implantação do Programa na escola, estes afirmaram que não percebiam diferença em sala de aula, não viam influência no comportamento dos alunos, até porque não sabiam identificar quem participava do Programa. A maior parte dos professores demonstraram resistência ao Programa. Este fato pode estar relacionado com a falha de comunicação que percebemos dentro das escolas, onde os coordenadores e diretores não colocam os professores em sintonia com os acontecimentos relativos aos Programa Escola Aberta. Os professores entrevistados afirmam não terem sido consultados, nem comunicados a respeito do Programa. 6.3 PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS E DA COMUNIDADE Um dos objetivos do Programa Escola Aberta é o envolvimento da comunidade com a escola, no interesse de proporcionar uma maior interação entre si, pois a falta de VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 12 integração entre eles é apontada como um fator que gera a violência na escola. No relato dos entrevistados foi possível perceber uma satisfação dos participantes do Programa, pois segundo eles, o Programa trouxe mais opções de lazer para a comunidade, de forma saudável e construtiva, pois diminui o perigo de os jovens se envolverem com gangues, drogas e brigas. Eles se reúnem em um ambiente adequado com o objetivo de se divertirem; e os pais ficam mais tranqüilos porque sabem que seus filhos não estão nas ruas, envolvendo-se com pessoas nem sempre bem intencionadas. Estes formam grupos de acordo com os seus interesses e integram-se em atividades educativas e de lazer. Essas constatações foram feitas conforme o depoimento de uma Vice-diretora. “Eles jogavam futebol nos bairros e a chance de ter violência é maior, porque é geralmente no campo; é mais aberto, é mais livre para eles estarem alcoolizados ou drogados e aqui eles começam a obedecer limites, regras”. Nas escolas em que foram realizadas as pesquisas, identificamos que a participação da comunidade é maior que a dos próprios alunos. Alguns fatos podem estar influenciando para este fato. Acreditamos, pelos depoimentos, que este fato pode estar atrelado à falta de divulgação do Programa dentro da própria escola para incentivar os alunos a participarem dele. O fato de muitos alunos morarem um pouco distante da escola pode desestimulá-los, pois eles teriam que pagar passagem, uma vez que as escolas públicas atualmente possuem uma camada de estudantes que não têm boas condições econômica. O fato notável é que a comunidade que participante é mais de jovens e que não estuda na escola onde está implantado o Projeto. Contudo, o importante é percebermos a importância dessas atividades para os participantes que encontram uma forma de ocupar o seu tempo e se afastam mais da condição de vulnerabilidade social em que estão inseridos. 6.4 ALGUNS BENEFÍCIOS DO PROGRAMA O Programa Escola Aberta tem como objetivo principal a redução da violência e da vulnerabilidade juvenil, mas podemos identificar outros pontos positivos encontrados no Programa, não só no campo social como também no educacional. O Programa cria oportunidades para que os jovens criem vínculos e valores que possibilitem uma mudança do seu cotidiano e a redescoberta de sua identidade. Em nossa análise, identificamos alguns benefícios que o Programa pode trazer para a comunidade, como: • Interação da comunidade com a escola; • Proporciona a inclusão social; • Valorização da auto-estima; • Valorização da própria escola e de seus espaços, pois a comunidade sente-se parte da instituição; • Opção de lazer para a comunidade nos finais de semana, ocupando os jovens neste espaço de tempo e afastando-os de situações de risco; • Proporciona um ambiente de valores, respeito, afetividade, limites e convívio VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 13 social; • Promove a inclusão digital (nas escolas em que oferecem aulas de informática); • Propicia um ambiente que valoriza as práticas esportivas e artísticas; • Amplia as possibilidades e horizontes dos alunos; • Reduz a vulnerabilidade juvenil. Os dados obtidos não revelaram com precisão se o Programa está conseguindo diminuir a violência nas escolas pesquisadas e no seu entorno. Contudo, testemunhos afirmam que a violência diminuiu e que o Programa afastou alguns jovens das drogas ou do caminho da criminalidade. Porém, a diminuição da violência no bairro, geralmente, não está ligada apenas ao Programa e, sim, a outras ações, como o próprio desenvolvimento do bairro, um policiamento mais ostensivo, o trabalho desenvolvido nas comunidades. Os testemunhos abaixo confirmam o que foi dito anteriormente. “Houve muita mudança porque eu vi muitos colegas meus que andava por aí roubando, usando drogas, depois que veio pra cá, pararam mais. Muitas pessoas que eu vi tava quase matando pessoas aí, mas depois que entrou aqui ficaram melhor, mudou muito” (Aluno.) “Tem alguns que saíram das drogas, esqueceu a droga por causa da dança. Eu disse a ele: se não deixar você não dança mais. Aí ele deixou” (voluntário). 7 PALAVRAS FINAIS Cada vez mais percebemos a necessidade de lutarmos contra os flagelos de nossa sociedade, instaurar uma cultura de paz e buscar soluções para enfrentarmos a violência que tem se tornado um desafio de nossa época. Na luta por este objetivo, todos se unem, sociedade e estado se mobilizam cada vez mais. Contudo, não é fácil essa tarefa, pois os motivos que geram a violência são maiores do que se imagina. Eles envolvem uma série de questões sociais e econômicas que cada sociedade enfrenta. Todavia, vem se buscando algumas alternativas de minimizar os efeitos e de reverter esse quadro. A sociedade reclama seus direitos e exige mais segurança; as escolas também são alvos da violência e o poder público se vê pressionado a tomar atitudes. São criadas iniciativas de combate à violência em vários estados do Brasil e inicia-se o processo de implantação de diversos Programas com o objetivo de combater a violência. A escola é vista como um local em que poderão ser desenvolvidas algumas atividades, com o sentido de combater tanto a violência dentro da escola, como a violência fora dela, visto que os jovens são os alvos dos programas. Além de aprovações de leis e de Programas como o desarmamento da população, entre outras que possuem um cunho educativo e de conscientização da população, é necessária a implementação de políticas públicas que possam garantir os direitos básicos das crianças e jovens. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 4°, atribui a responsabilidade da educação de crianças e adolescentes à família, à sociedade e ao VASCONCELOS, Márcia Cristina Rosa de; GANGORRA, Maria da Conceição de Oliveira; MONTEIRO, Aída. Programa Escola Aberta e suas contribuições no campo sócio-educacional. In: BORBA, R.; BOTLER, A. (org.). Caderno de Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia – V.1 - 2004.1 – 2004.2 - 2005.1. Recife, Centro de Educação, UFPE, 2006, 15p. 14 estado. Estes devem assegurar que os direitos fundamentais como a vida, saúde, lazer, cultura e respeito sejam garantidos. Por isso, deve-se garantir que todos tenham acesso aos direitos essenciais e possam desenvolver a sua cidadania. Partindo para a escola, que é o alvo de nossa pesquisa, encontramos o Programa Escola Aberta, que abre as escolas nos finais de semana e que visa atender às classes menos favorecidas, ofertando-lhes atividades de cultura, lazer e esporte, com o objetivo de reduzir a violência e a vulnerabilidade juvenil. Não basta, apenas, abrir as escolas para tais atividades; é necessário toda uma organização e planejamento da utilização desse espaço com objetivos específicos. Acreditamos que antes da realização de qualquer Programa, é necessário fazer um diagnóstico da realidade e das necessidades em que será implantado o Programa. Especificamente, na escola, é preciso que envolva todos os profissionais que nela trabalham e haja o comprometimento de toda a comunidade escolar. È necessário informar aos professores, aos técnicos, a todos que fazem parte da escola, quais os objetivos do Programa, como eles podem colaborar; quais as sugestões que eles apresentam, mesmo que o Programa aconteça nos finais de semana. Isso irá afetar a escola de alguma forma; e as pessoas que trabalham nesta instituição não devem estar alheias ao que acontece no seu interior. Como haverá realmente uma diminuição dentro da escola se os profissionais que nela atuam desconhecem todo o processo e nem conseguem perceber as mudanças de atitude de seus alunos? É necessário que o Programa se articule com a Proposta Pedagógica da Escola em que esteja inserido, estando os professores informados do que acontece com os seus alunos para poder incentivá-los. Nesse aspecto, podemos dizer que o Programa é deficiente porque ainda não faz esse paralelo. Outro ponto negativo encontrado no Programa foi a forma de como ele está sendo desligado das escolas participantes. O motivo para o fechamento do Programa nas escolas que encontramos durante a pesquisa, foi a falta de participantes no Programa nos finais de semana. No entanto, acreditamos que antes disto acontecer, é necessário fazer um levantamento das necessidades que a escola apresenta, buscando soluções para conseguir a adesão da comunidade. É necessário perceber quais as carências da escola, respeitando a realidade de cada uma. O Programa Escola Aberta deve ser visto não apenas como uma ocupação momentânea para os jovens, mas como um pólo de desenvolvimento humano e de integração do cidadão. A construção desse perfil depende muito de como o Programa está sendo conduzido e de seus reais objetivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GONÇALVES, Luis Alberto Oliveira e ESPOSITO, Marília Pontes. Iniciativas Públicas de redução da violência escolar no Brasil. Cad, Pesquisa., mar. 2002, n° 115,p.101-138. GUIMARÃES, Áurea Maria. 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