ENSAIOS EXPERIMENTAIS PARA A AVALIAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS COM ATIVIDADE ANTIINFLAMATÓRIA TÓPICA Laura Licia Milani de Arruda (PIBIC/CNPq- UEM), Ciomar Aparecida Bersani-Amado (Orientadora), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Farmacologia e Terapêutica/Maringá, PR. Ciências da Saúde/Farmácia Palavras-chave: edema de orelha, antiinflamatório, produto natural Resumo: O objetivo deste estudo foi implantar e padronizar novos modelos experimentais para o estudo da atividade antiinflamatória tópica de produtos naturais. Os agentes flogísticos usados foram acetato de forbol miristato (PMA), ácido araquidônico (AA), fenol (F), capsaicina (CP) e óleo de cróton (OC). Tais substâncias apresentam ação tópica e induzem uma inflamação local, resultando na produção de mediadores pró-inflamatórios. O edema de orelha, em camundongos da linhagem Swiss, foi determinado medindo-se a espessura da orelha com o auxílio de um micrômetro digital (μm) ou pesando a orelha em balança analítica (mg), antes e após a indução do processo inflamatório. A atividade da enzima mieloperoxidase (MPO) foi determinada no homegenato das orelhas. Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), seguida pelo teste de Tukey (P<0,05). Introdução A utilização do edema como parâmetro de avaliação em modelos validados, como o modelo de edema de orelha induzido por diferentes agentes flogísticos, permite avaliar o potencial antiinflamatório tanto por via tópica quanto sistêmica de vários agentes, sejam eles compostos sintéticos ou extratos de plantas (DE YOUNG et al., 1989). Além disso, quando o objetivo é o desenvolvimento de medicamentos de uso tópico, esse modelo oferece a vantagem de identificar compostos que apresentam uma absorção cutânea apropriada, de forma a atingir concentrações adequadas na pele para exercer um efeito farmacológico (BOUCLIER et al., 1990). O objetivo deste estudo foi implantar e padronizar novos modelos experimentais para o estudo da atividade antiinflamatória tópica de produtos naturais ou sintéticos, complementares aos já padronizados no laboratório de inflamação da UEM. Materiais e métodos 1. Animais - Foram utilizados camundongos machos Swiss. Os animais foram mantidos sob temperatura controlada e ciclo claro/escuro, com água e ração ad libitum. O protocolo para estes experimentos foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal da UEM. 2. Avaliação do edema de orelha - O edema de orelha foi avaliado com o auxílio de um micrômetro digital (GREAT MT – 045B), que mede o aumento Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. da espessura da orelha dos animais (μm), ou através da determinação do peso (mg) da orelha. 3. Edema de orelha induzido pela aplicação tópica do PMA - O edema foi induzido pela aplicação tópica de 2,0 μg de PMA, dissolvido em 20 μL de acetona e determinado 4 horas após a aplicação do PMA. 4. Edema de orelha induzido pela aplicação tópica de ácido araquidônico - O edema foi induzido pela aplicação tópica de 1,0 mg de ácido araquidônico, dissolvido em 20 μL de acetona e determinado 1 hora após a aplicação do agente flogístico. 5. Edema de orelha induzido pela aplicação tópica do fenol- A solução de fenol a 10% (v/v) foi dissolvida em acetona 70% (20 μL) e aplicada na orelha esquerda dos camundongos. Neste modelo, o edema foi determinado 1 hora após a aplicação do fenol. 6. Edema de orelha induzido pela aplicação tópica da capsaicina - O edema foi induzido pela aplicação tópica de 2,0 μg de capsaisina, dissolvido em 20 μL de acetona e avaliado 30 minutos após a aplicação do agente flogístico. 7. Edema de orelha induzido pela aplicação múltipla do óleo de cróton O processo inflamatório crônico foi induzido pela aplicação do óleo de cróton (0,4 mg/orelha em 20 μL de acetona) em dias alternados durante 9 dias. No último dia de tratamento amostras das orelhas foram coletadas e pesadas 8. Medida da atividade enzimática da MPO - A atividade MPO foi avaliada no sobrenadante de homogenados das secções de orelhas (controles e inflamadas). 9. Análise Estatística - Os resultados foram apresentados como média ± erro padrão da média (E.P.M.). Os dados foram submetidos ao Teste T de Student. P < 0,05 foi considerado como nível de significância. Resultados e Discussão Efeito da aplicação tópica do PMA - O PMA é um potente agente flogístico capaz de promover uma resposta inflamatória e hiperproliferativa bastante intensa, assemelhando-se com algumas doenças cutâneas (GÁBOR, 2003). Esse modelo permite identificar inibidores da biossíntese das PG e LT, podendo ser utilizado na triagem de compostos que pertencem à classe dos inibidores da COX e/ou LOX. A aplicação tópica do PMA na orelha dos camundongos promoveu um aumento significativo da espessura da orelha na quarta hora após o desafio. Também promoveu um aumento significativo da atividade da MPO (tabela 1). Efeito da aplicação tópica do ácido araquidônico – O AA quando aplicado topicamente é metabolizado em vários mediadores que promovem a formação do edema, como a PG e LT, como conseqüência do processo inflamatório instalado (HUMES et al., 1986). Assim, compostos que inibem o metabolismo do ácido araquidônico em prostaglandinas e leucotrienos são identificados neste modelo. A aplicação tópica do AA na orelha de camundongos induziu uma resposta inflamatória intensa na primeira hora. O Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. peso da orelha aumentou três vezes quando comparada à orelha controle (veículo - acetona) (tabela 1). Efeito da aplicação tópica do fenol 10% - O modelo de edema de orelha induzido pela aplicação tópica do fenol consiste num modelo de inflamação cutânea causada por um agente irritante que se assemelha à dermatite de contato que ocorre em humanos (LIM et al., 2004). A aplicação tópica do fenol 10% na orelha de camundongos induziu uma resposta inflamatória bastante evidente na sexta hora. O peso da orelha aumentou três vezes quando comparada à orelha direita (veículo – acetona 70%) (tabela 1). Efeito da aplicação tópica da capsaicina - A capsaicina quando aplicada topicamente, induz a liberação de vários mediadores pró-inflamatórios que promovem vasodilatação e eritema como resposta imediata, seguido da formação de edema cujo pico máximo é atingido até 30 minutos após sua aplicação. A aplicação tópica da capsaicina (200µg/orelha) na orelha de camundongos induziu uma resposta inflamatória bastante evidente após 30 minutos. Como observado, o peso da orelha aumentou aproximadamente duas vezes quando comparada à orelha direita (veículo – acetona, sem aplicação da capsaicina) (tabela 1). Efeito da aplicação tópica e múltipla do óleo de cróton – A aplicação repetida de óleo de cróton em orelhas de camundongos promove uma resposta inflamatória crônica caracterizada por edema, infiltração celular e hiperproliferação celular na epiderme (STANLEY et al., 1991). Este modelo é adequado para avaliar o efeito antiinflamatório de produtos naturais em um processo inflamatório já estabelecido. A aplicação tópica múltipla do OC na orelha de camundongos induziu uma resposta inflamatória intensa no 9º dia. Como observado, até o 5º dia o peso da orelha aumentou três vezes. A orelha direita foi utilizada como controle (aplicado veículo-acetona) (figura 1). Conclusões Os agentes flogísticos utilizados apresentaram ação tópica induzindo uma resposta inflamatória local como resultado da produção de mediadores próinflamatórios que promovem vasodilatação, infiltração de células e extravasamento de plasma, conduzindo à instalação dos sinais clássicos da inflamação. Tabela 1. Peso da orelha de camundongos (edema) após a aplicação de diferentes agentes flogísticos. Atividade da mieloperoxidase no modelo de edema induzido pelo PMA. Agente Flogístico Dose PMA ÁA F CP 2,0 µg 1,0 mg 10,0% 200,0 µg Peso do Orelha (mg) Controle 10,9 ± 0,5 9,8 ± 0,2 10,6 ± 0,2 9,8 ± 0,2 Inflamada 24,4 ± 1,9 26,7 ± 0,9 31,4 ± 0,5 16,7 ± 1,3 Tempo de Medida 4h 1h 1h 30 min Atividade Mieloperoxidase (DO=densidade óptica) Controle Inflamada 0,027±0,004 0,12±0,02 - Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. 700 Edema (µ m) 600 Veículo acetona OC 0.4mg + Veículo acetona 500 400 * * * * 6 7 8 9 300 200 100 0 0 1 2 3 4 5 10 Dias Figura 1 - Edema de orelha induzido pela aplicação múltipla de óleo de cróton. Os valores estão expressos como média ± EPM. * p< 0,001 comparado ao grupo inflamado (OC) (Teste t de Student). Agradecimentos: Apoio financeiro CNPq. Referências BOUCLIER, M., CAVEY, D., KAIL, N., HENSBY, C. Experimental models in skin pharmacology. Pharmacology. Review, v. 42, p. 127-154, 1990. DE YOUNG, L.M., KHEIFETS, J.B., BALLARON, S.J., YOUNG, J.M. Edema and cell infiltration in the phorbol ester-treated mouse ear are temporally separate and can be differentially modulated by pharmacologic agents. Agents and Actions, v. 26, p.335-341, 1989. GÀBOR, M. Models of acute inflammation in the ear. In: WINYARD, P.G. and WILLOUGHBY, D.A. Inflammation protocols, New Jersey: Humana Press, p.129-131, 2003. HUMES, J. L.; OPAS, E. E.; BONNEY, R. J. Arachidonic acid metabolities in mouse ear oedema. In: LEWIS, A.; CAPETOLA, R. Advances in inflammations research I. Otternes, Raven Press, New York, p. 57-65, 1986 LIM, H.; PARK, H.; KIM, H.P. Inhibition of contact dermatitis in animal models and suppression of proinflammatory gene expression by topically applied flavonoid, wogonin. Archives of Pharmacol Research. v. 27(4), p. 442-448, 2004. STANLEY, P.L., STEINER, S., HAVENS, M., TRAMPOSH, K.M. Mouse skin inflammation induced by multiple topical applications of 12-O-tetradecanoylphorbol-13- acetate. Skin Pharmacology, v. 4, p. 262-271, 1991. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.