1 Os ouvintes de João Batista foram chamados a viver entre dois batismos. Primeiramente existe este batismo na água que o profeta pode oferecer a eles, no deserto, para a remissão dos pecados. Mas este primeiro batismo não será o último. Depois de João Batista vem Jesus, maior e mais forte que João, e oferecerá um novo decisivo batismo que acontecerá no Espírito Santo e no fogo. Um fogo que queima para reduzir a cinzas aquilo que não dava bons frutos. Um fogo que, todavia, não é portador de morte, mas de vida. De fato, é o Espírito Santo em pessoa: purifica, consome as impurezas, incandesce, derrete para modelar melhor, para unir estavelmente. Jesus, por sua vez, também viveu entre dois batismos. Também para ele o primeiro batismo foi de água e foi administrado pelo próprio João Batista, mas no caso de Jesus este simples batismo já foi infinitamente mais eficaz daquele que os outros judeus igualmente receberam da mão do Batista. Acima de Jesus o céu se abre e o Pai toma a palavra para batizá-lo e para emergi-lo no seu amor - “Tu és 2 meu filho amado, em ti me comprazo” - e para ungi-lo com o seu Espírito que doravante repousará sobre ele. Nem mesmo para Jesus este primeiro batismo às margens do rio Jordão será o último. Este batismo inaugura um caminho - o caminho pascal - que Jesus deve percorrer até chegar ao o segundo batismo, ao batismo decisivo, aquele do seu sangue, nas águas da morte; um batismo a propósito do qual um dia Jesus confessará estar desejando tão ardentemente que chegue que a sua alma jaz angustiada até ao momento do seu cumprimento (Lc 12,50). Inaugurado nas águas do Jordão, o batismo de Jesus se concluirá na sua Páscoa dolorosa e gloriosa, que se tornou mistério da nossa redenção e da nossa transfiguração para, depois, ser a origem e a realidade secreta do nosso batismo de hoje. 3 De fato, nós, por nossa vez, fomos batizados no sacramento do batismo cristão. Batismo de água, ainda, é verdade, mas de valor e de eficácia infinitamente mais vasta daquele oferto por João Batista em seu tempo. Com efeito, o batismo cristão que recebemos da Igreja contém misteriosamente dentro de si a realidade integral do duplo batismo de Jesus: aquele recebido no Jordão que o revelou Filho amado de Deus e aquele recebido entre os tormentos da morte e na alegria da vida ressuscitada. E nem mesmo para nós será o último batismo. De fato, um segundo batismo aguarda sempre o discípulo de Jesus, o batismo no Espírito Santo e no fogo, em direção ao qual o discípulo de Jesus avança com alegria: um batismo que completará o seu encontro com Jesus e o 4 conhecimento que ele tem de Jesus, um batismo que tornará mais profunda a experiência que ele tem de Jesus e da sua Páscoa e que, enfim, o ligará para sempre á morte e ressurreição de Jesus, assim como à sua gloriosa transfiguração. Assim, também nós vivemos entre dois batismos, depois que já recebemos tudo no primeiro, mas somente em germe, como uma semente que necessita de tempo para desprender suas energias escondidas. Como um fogo, segundo as palavras de Jesus, que inicialmente é uma humilde centelha, crepitando em silencio, mas que depois acabará por inflamar-se verdadeiramente e a envolver tudo que toca. Um fogo, o Espírito Santo em pessoa, que nos inflama de amor consumindo dentro de nós tudo aquilo que não pode ser material deste amor. Um fogo que nos 5 torna maleável e nos dá a possibilidade de fundir-se com este Deus do qual as Escrituras nos dizem que é um fogo que consume. Este fogo é o fogo de Jesus, aquele que ele veio trazer sobre a terra e a propósito do qual ele anseia que se acenda e queime (Lc 12,49). E este batismo é também o batismo de Jesus, aquele que ele devia ainda receber na sua Páscoa e a propósito do qual anseia agora ardentemente que se cumpra para todos nós. AMÈM.