REDES COMUNITÁRIAS: PARCERIAS PARA FORMAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL GILBERTO FUGIMOTO 1 LUIZ FERNANDO SARMENTO 2 1 – Engenheiro. Agrônomo - UFV e Assessor de Projetos Comunitários - SESC / RJ 2 – Economista e Técnico da Assessoria de Projetos Comunitários - SESC / RJ Resumo Projeto de organização social comunitária que tem como objetivo promover conexão, estimular relações de confiança e fomentar cooperação e parcerias. Redes Comunitárias promovem encontros voltados para a prática de parcerias entre comunidades populares, instituições privadas, públicas e do terceiro setor. De modo simples e objetivo, cada representante de instituições e de comunidades se apresenta e fala do que veio procurar e do que veio oferecer. Todos têm oportunidade de falar e ouvir. Quando cada um sabe quem é quem, o espaço se abre para o aprofundamento de relações e formação de parcerias. Encontros de Redes Comunitárias são realizados mensalmente nas unidades do Sesc-Rio. Indicadores de avaliação estão sendo desenvolvidos. A metodologia de Redes tem sido adotada para atender a projetos temáticos e territoriais dentro e fora da instituição. Articular Redes Comunitárias representa um esforço de comunicação, uma confiança no coletivo; uma aposta radical na democracia que se expressa nas relações cotidianas. As conexões que os indivíduos estabelecem em uma comunidade através de redes têm produzido um ambiente de confiança mútua em benefício coletivo. Buscar caminhos para a transformação social através da ação coletiva, a criação de um ambiente de confiança e participação em redes comunitárias, pode parecer óbvio. Seria, não fossem os enormes muros erguidos pelo homem nas conexões consigo mesmo e com o próximo. Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 47 Artigo APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO O projeto Redes Comunitárias pode ser entendido como um esforço para promover conexões entre indivíduos, lideranças comunitárias, técnicos da área social, voluntários, esferas governamentais – município, estado, união – e empresas socialmente responsáveis. Cabe questionar porque promover o encontro desses atores sociais. Não haveria outras maneiras mais simples ou espontâneas? Para tentar responder a esse questionamento, e com isso delimitar o objetivo do projeto, se faz necessário contextualizar alguns elementos. A falta de cidadãos participando da vida comunitária vem sendo objeto de exame recente. Embora esta orientação tenha se iniciado no mínimo há um século atrás, só ultimamente as implicações deste declínio na participação comunitária têm sido mais profundamente exploradas. Falando em Redes é interessante tecer algumas comparações. A América do século XIX foi descrita por Alexis de Tocqueville ao visitar aquele país em 1831. Ele ficou impressionado com a pujança da vida associativa e a liberdade que lá se desfrutava. Mais que a simples associação, esse engajamento cívico parece ter contribuído, junto a outros fatores, para seu desenvolvimento econômico, a qualidade da vida pública e a consolidação democrática. Por outro lado Robert Putnam8 tece uma análise interessante ao desenvolver o conceito de Capital Social. Sua teoria procura explicar a relação entre cidadãos participantes na comunidade e o desempenho de governos e outras instituições sociais: “A premissa central da teoria de capital social é que redes sociais têm valor. Capital social representa a expressão coletiva de todas as “redes sociais” (de pessoas conhecidas) e a inclinação que surge em proporcionar benefícios aos seus integrantes.” PROBLEMA E JUSTIFICATIVA Mais que teorizar sobre Capital Social, Putnam analisa seu comportamento na sociedade americana. Ele notou que após a segunda metade do século XX, o nível de participação pública e engajamento cívico declinaram fortemente. As causas deste fenômeno parecem advir da maior participação da mulher no mercado de trabalho e a maior mobilidade geográfica dos núcleos familiares que contribuem para enfraquecer os laços familiares e comunitários. Mas um fator aparentemente inesperado parece 8 Robert Putnam in: http://www.bowlingalone.com/socialcapital.php3 Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 48 também ter contribuído para diminuir a vida associativa e comunitária: a privatização do tempo de lazer do trabalhador proporcionado pelas inovações tecnológicas iniciadas pela televisão. No Brasil podemos estimar, ainda que de forma empírica, que processos semelhantes estejam contribuindo para diminuir o capital social. Putnam cita pesquisa realizada pelo Institute for Social Research da Universidade de Michigan, entre 35 países pesquisados, o Brasil, ocupava o lugar mais baixo em confiança social e um dos mais baixos em engajamento cívico. Diante disso, que ações podemos desenvolver? A experiência do SescRio partiu da constatação de que trabalhos sociais e comunitários dependem diretamente da participação coletiva. Por outro lado o Sesc-Rio é identificado como um espaço de neutralidade partidária e dotado de capacidade de reverberar ações significativas que ocorrem em torno de suas unidades operacionais. Percebeu-se então que havia ali condições para promover o encontro e a troca num ambiente de confiança mútua. Um fórum de Transformações Sociais, normalmente com extensas e elaboradas palestras, não foi o suficiente para prender atenção do público. Em menos de uma hora notou-se grande evasão. Aberta a palavra ao público, muitos vieram à fila. Inicialmente para protestar. Procurando objetivar, abriu-se a fala de dois minutos para cada um dizer o que veio procurar e o que veio oferecer. METODOLOGIA Nesse contexto, surgiu o projeto Redes Comunitárias. Encontros mensais nas unidades do Sesc-Rio recebem lideranças populares – representantes de projetos e ações sociais – voluntários, instituições privadas, poder público e terceiro setor. Cada representante dispõe do mesmo tempo para se apresentar e falar, de modo simples e objetivo, sobre seu projeto, o que veio procurar e o que veio oferecer. Embora o interesse de muitos seja encontrar ajuda aos seus projetos e iniciativas, propõe-se que todos possam oferecer algo descobrindo potencialidades em meio a aparente escassez. Dispostos em roda, todos ali têm oportunidade de falar e ouvir. Ao final da apresentação todos já têm idéia clara da potencialidade de parceria dos presentes, de que trabalhos desenvolvem, etc. No momento seguinte do encontro, um café é oferecido de forma a promover a livre aproximação dos participantes quando informações e endereços são trocados para concretizar as parcerias. Esperando ampliar o encontro presencial, disponibilizam-se os endereços dos presentes potencializando o contato entre todos. Além disso, criaram-se os Classificados Sociais: em poucas linhas resume-se o que se oferece e o que se procura, identificando a instituição. Estas informações são Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 49 multiplicadas e distribuídas a cada pessoa no próximo encontro ou por e-mail, base para um futuro site de Redes Comunitárias. OBJETIVOS Destes encontros muitas parcerias têm sido realizadas. Informações valiosas repassadas auxiliam a condução de processos de projetos; insumos – muitas vezes disponíveis ou subutilizados nas mãos de doadores; além de afeto e encorajamento – abundantes quando se compartilham dificuldades ante os desafios; esses têm sido os elementos amplamente trocados a partir das conexões das Redes Comunitárias. Na medida em que os interessados se organizam, facilitam-se os acessos a recursos. Vínculos se formam, relações se fortalecem. Naturalmente surgem temas de interesse comum: renda, saúde, educação, ou mesmo uma comunidade ou bairro. A promoção de um ambiente e uma cultura de cooperação encerra os objetivos da Rede Comunitária, que se propõe a promover a conexão de diferentes atores, um ambiente de confiança para realização de parcerias de modo a fortalecer projetos e ações sociais. Espera-se, em última análise, que esse ambiente de conexão, confiança e cooperação promova a criação ou reconhecimento de uma – ou várias – identidades comuns. Nesse caldo de cultura se dá a formação de Capital Social, contribuindo assim para organização comunitária. Através desse trabalho continuado é possível desenvolver uma avaliação produzindo indicadores que meçam os resultados e, eventualmente, os impactos do projeto. CONCLUSÃO O projeto Redes Comunitárias pode ser entendido como um instrumento de um processo que contribui para o desenvolvimento comunitário na medida em que promove um ambiente que inclua todas as contribuições – individuais e coletivas – para o fortalecimento de ações e projetos sociais. BIBLIOGRAFIA DUDLEY, Richard G. The Dynamic Structure of Social Capital: How Interpersonal Connections Create Communitywide Benefits. A paper prepared for presentation at the 22nd International Conference of the System Dynamics Society July 25 –29 2004 - Oxford, UK. 16p + Figs. Disponível em: Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 50 http://poverty2.forumone.com/files/15162_dudley_040826.pdf. Acesso em: 25 maio 2006. PUTNAM, Robert. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community - New York: Simon & Schuster, 2000. Disponível em: http://www.bowlingalone.com/socialcapital.php3. Acesso em: 25 maio 2006. TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia na América – Leis e Costumes São Paulo: Martins Fontes, 1998. WWF-BRASIL. Redes - Uma Introdução às Dinâmicas da Conectividade e da Auto- Organização / WWF-Brasil; texto de MARTINHO, Cássio - Brasil: WWF, 2003. Disponível em: http://wwfbrasil.org.br/publicacoes/download/redes_ea_wwf.zip.Acesso em: 25 maio 2006. Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 51