MARCELO CAMELO “Toque Dela” “Toque Dela” é um completo retrato de um novo trecho da jornada de Marcelo Camelo em busca de sua essência e âmago, fonte inesgotável das mais diversas resultantes: as letras, os batuques, as cordas tocadas, as melodias, os arranjos, as ideias, os acordes, o canto e as escolhas tomadas. Os dias no estúdio paulista El Rocha foram regados ao melhor café da cidade, feito pelo próprio Seu Claudio, pai de Maurício Takara, Daniel Ganjaman e Fernando Sanches que, nesse ano torceu todos os botões da mesa de som até chegar na sonoridade que Marcelo procurava. Na companhia de Pascoal (o querido boxer), de Zenilda, esposa de Cláudio e mãe dos meninos, e de uma linda pitangueira, o estúdio no bairro de Pinheiros foi a casa de Marcelo, que se concentrava em cada notinha e palavra, produzindo um trabalho novo, uma nova estética, carregada do asfalto e dos amigos paulistas. O compositor partiu de inúmeros e dedicados ensaios, para os quais chamou os amigos e parceiros Hurtmold (Fernando Cappi, guitarra/Guilherme Granado, teclado e vibrafone/Marcos Gerez, baixo/Mário Cappi, guitarra/Maurício Takara, bateria/Rogério Martins, percursão). Sabendo da importância de cada detalhe, Marcelo escolheu a dedo timbres e ataques de cada instrumento, o que tomou quase dois meses. O tempo de reflexão sobre resultado obtido até o momento calhou com o convite de Luiz Fernando Carvalho (diretor de minisséries da Globo, como “Hoje é Dia de Maria”) para produzir a trilha sonora de seu novo trabalho “Afinal, o que querem as mulheres?”. Marcelo, então, voltou ao Rio. Durante a estada na cidade natal, descobriu mais uma peça da imensidão de “Toque Dela”. Era a composição do amigo André Dahmer, “Três Dias”. Foi num fim de tarde, na varanda, que Dahmer (desenhista dos clássicos quadrinhos Malvados e, recentemente, compositor) cantarolou uma linda melodia cavada com força da garganta, junto a uma letra que mais parecia poema. Encantado, Camelo agarrou pelo pulso o violão e deu cama harmônica e asas à canção do novo parceiro. Foi ainda perto do mar que o artista compôs o trio de canções que completariam a dezena escolhida para o novo álbum - “Tudo Que Você Quiser”, “Pra Te Acalmar” e “Ôô” trouxeram a cor que faltava para o disco e a certeza de repertório completo para o artista. Passados os meses no Rio, o compositor volta a São Paulo, e traz para perto o talento de Marcelo Jeneci (compositor, cantor e instrumentista), que gravou pianos acústicos e elétricos e um tanto de acordeon. Também juntavam-se ao imenso leque de instrumentos o inconfundível cornet de Rob Mazurek (grande improvisador, compositor e artista multimídia) e, ainda, detalhes das guitarras do parceiro de longa data Kassin (dispensa apresentações). Marcelo, então, já tinha cabeça arejada e ideias claras para dar continuidade e polimento a seu álbum e debruçou-se, outra vez, em meses de foco e escolhas detalhistas no El Rocha. Nesta etapa, explorou seu talento e criatividade no expansivo movimento de tocar todos os instrumentos que compunham o arranjo, também de sua autoria, de suas novas composições. Gravou primeiro as bases, apenas as harmonias de guitarra, violão de aço, ukelele e um tantinho do tradicional violão de nylon. Daí, realizando um sonho de infância, gravou bateria em “Tudo Que Você Quiser”, “Ôô” e “Acostumar”. Completou com algumas linhas de baixo, e muitas melodias nas guitarras, clarone, glockenspiel, diversas e inusitadas percussões e, é claro, vozes, que iam carregando palavras específicas e decisivas, em letras diretas, claras e complexas, de tão imensa precisão. Enquanto tudo corria, Biel Carpenter (jovem artista de talento distinto) aparecia de tempos em tempos na casa de Camelo, encantando os olhos do compositor com as marcantes gravuras e desenhos que levava. O curitibano viria ouvir o “Toque Dela” apenas dois encontros depois, mas sua sensibilidade artística parecia já caminhar na mesma órbita. Já quase no final do ano (no caso, 2010), Camelo chamou o companheiro de Los Hermanos, Índio (Marcelo Costa, saxofonista), para lhe auxiliar na escrita das melodias de metais e madeiras, gravadas no estúdio Lobo Mao por Duda Mello, com Jessé Sadoc no trompete, Zé Canuto no saxofone, Aldivas Ayres no trombone, Eliézer Rodrigues da Silva na tuba e Edu Morelenbaum no clarone e clarinete. Faltava, agora, pouco. As noites viradas foram muitas, ao lado da indispensável dedicação e trabalho do engenheiro Fernando (Sanches). Gravados dezenas de canais, o disco esperava pela chegada de Victor Rice (conceituado produtor, engenheiro de som e baixista de Nova Iorque), que assumiu a cadeira da frente da mesa do estúdio e deu, na mixagem, a claridade que pedia aquela montanha de informação que constrói o álbum. E foi orgulhoso e satisfeito que o artista encaminhou seu novo disco para a gravadora Universal. Agora é só esperar para ver e ouvir mais um histórico autorretrato de Marcelo Camelo. por Damião Villas-Boas Abril de 2011