UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA SENSIBILIDADE INTEROCEPTIVA E RESPOSTAS PSICOFISIOLÓGICAS AO EXERCÍCIO SUBMÁXIMO Luiz Fernando de Farias Junior NATAL - RN 2014 SENSIBILIDADE INTEROCEPTIVA E RESPOSTAS PSICOFISIOLÓGICAS AO EXERCÍCIO SUBMÁXIMO Luiz Fernando de Farias Junior Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação Física. ORIENTADOR: PROF. Dr. ALEXANDRE HIDEKI OKANO i AGRADECIMENTO Agradeço a Deus por tudo que tem realizado em minha vida. A meus pais Luiz Fernando e Ana Lúcia, e minhas irmãs, Ana Paula e Mariana, e cunhados, Anderson e Sílvio Leônidas que me apoiam nas minhas decisões e sonhos. Agradeço de forma especial a minha esposa Julianna Ionnely, que durante está fase da vida tem suportado as dificuldades junto comigo, sempre dando apoio. Agradeço ao Prof. Alexandre Okano, que abriu a possibilidade de atuação profissional no campo da pesquisa e docência. Aos professores Hassan Elsangedy, Eduardo Caldas e Nery Chao que sempre estiveram por perto neste processo de formação acadêmica. Agradeço a todos os amigos que tenho no grupo de pesquisa: Daniel Machado, Pedro Agrícola, Leônidas Neto, André Fonteles, Gertrudes Nunes, Thiago Brito, Gabriel Brasil, Luiz Inácio, Samara Anselmo, Cinthia Beatriz, Weslley Quirino, e os recém chegados Amanda Maria, Renee Caldas que participam do nosso convívio diário. Agradeço a pessoas que abriram as portas dos seus lares para minha estadia por alguns dias: Henrique, Claudine e Rafael (São Paulo), Eduardo Barreto e Juliana Excel (Barão Geraldo), Eduardo Bodnariuc, Fernanda e Gabriel (Barão Geraldo), Kell, Raquel e Luciana (Barão Geraldo), Nicola e Zeine (Barão Geraldo) e o Sr. Okano e Dona Lúcia, pais do professor Alexandre (Londrina). Agradeço aos amigos short time Lucas Muniz, Gabriel, Camila Campanhã, Júlia que são alunos do prof. Paulo Boggio que abriu seu laboratório (Mackenzie-SP) para uma estádia. Agradeço ao prof. Rickson Mesquita e Reember Cano (UNICAMP), com quem tive o prazer de conviver por alguns dias. Agradeço a todos e minha oração é que Deus vos abençoe e toda as suas famílias!! Abraço s todos do irmão Luiz ii SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ................................................................................................ IV LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. V LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS ................................................ VI RESUMO ................................................................................................................. VIII ABSTRACT ................................................................................................................ X 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 2 OBJETIVO ............................................................................................................... 3 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................................................... 3 3 HIPÓTESES ............................................................................................................. 4 4 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 5 4.1 CONSCIÊNCIA INTEROCEPTIVA ............................................................................................................... 5 4.2 QUANTIFICAÇÃO DA SENSIBILIDADE INTEROCEPTIVA CARDÍACA .............................................................. 5 4.3 MECANISMO CEREBRAL INTEROCEPTIVO ................................................................................................ 6 4.4 SENSIBILIDADE INTEROCEPTIVA, HIPERTENSÃO, ESFORÇO FÍSICO E COGNITIVO ..................................... 7 4.5 REGULAÇÃO DA INTENSIDADE DO EXERCÍCIO ......................................................................................... 8 4.6 FOCO DE ATENÇÃO, NÍVEL DE PENSAMENTOS DISSOCIATIVOS-ASSOCIATIVOS .......................................10 5 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 12 5.1 DESENHO EXPERIMENTAL .....................................................................................................................13 5.2 PROCEDIMENTOS ..................................................................................................................................13 5.2.1 Índice de massa corporal ...........................................................................................................13 5.2.2 Medidas hemodinâmicas em repouso.......................................................................................14 5.2.3 Tarefa de contagem de batimentos cardíacos .........................................................................14 5.2.4 Parâmetro Perceptual .................................................................................................................15 5.2.5 Parâmetros Afetivos (Prazer/Desprazer) ..................................................................................15 5.2.6 Pensamentos dissociativos e associativos ...............................................................................15 5.2.7 Teste Incremental .......................................................................................................................16 5.2.8 Limiar de variabilidade da frequência cardíaca ........................................................................16 5.2.9 Teste retangular ..........................................................................................................................16 5.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA ...........................................................................................................................17 6 RESULTADOS ....................................................................................................... 18 7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 23 8 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 26 iii 9 REFERÊNCIA ........................................................................................................ 27 iv LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Caracterização da amostra ...................................................................... 12 Tabela 2 - Comparação das variáveis de esforço no TI e nas sessões experimentais .................................................................................................................................. 18 v LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fórmula matemática do cálculo de acurácia cardíaca ............................... 6 Figura 2 - Comportamento da FC nas S80 e S120 .................................................. 19 Figura 3 – Comportamento da PSE nas S80 e S120 ............................................... 19 Figura 4 - Comparação da taxa de aumento da PSE na S80 ................................... 20 Figura 5 - Comportamento da resposta afetiva nas S80 e S120 .............................. 20 Figura 6 - Comparação da taxa de declínio da resposta afetiva na S80 .................. 20 Figura 7 - Comportamento do estado de alerta nas S80 e S120 .............................. 21 Figura 8 - Comportamento do nível de pensamento nas S80 e S120 ...................... 21 vi LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS % - Percentual; %FCres – Percentual da frequência cardíaca de reserva; %FCresS120 – Percentual da frequência cardíaca de reserva S120; %FCresS80 – Percentual da frequência cardíaca de reserva S80; °C – Graus Celsius; ANOVA – Análise de variância; ASI – Alta sensibilidade interoceptiva; bpm – Batimentos por minuto; BSI – Baixa sensibilidade interoceptiva; CEP – Comitê de ética em pesquisa; FC – Frequência cardíaca; FCrep – Frequência cardíaca de repouso; IMC – Índice de massa corporal; iRR – Intervalos R-R cardíacos; kg – Quilogramas; kg.m-2 – Quilogramas por metros ao quadrado; LiVFC - Limiar de variabilidade da frequência cardíaca; m – Metros; mmHg – Milímetros de mercúrio; ms – Milisegundos; P120 - Potência da sessão com intensidade a 120% do LiVFC; P80 – Potência da sessão com intensidade a 80% do LiVFC; vii PA – Pressão arterial; PAD – Pressão arterial diastólica; PAR-Q – Questionário de prontidão para atividade física; PAS – Pressão arterial sistólica; PLiVFC – Potência do limiar de variabilidade da frequência cardíaca PP - Potência pico; PSE – Percepção subjetiva de esforço; RH – Humidade relativa do ar; rpm – Rotação por minuto; S120 – Sessão com intensidade a 120% do LiVFC; S80 – Sessão com intensidade a 80% do LiVFC; SD1 – Desvio padrão 1 da Plotagem de Poincaré; SNC – Sistema nervoso central; TAC – Taxa de acurácia cardíaca; TCBC – Tarefa de contagem dos batimentos cardíacos; TCLE – Termo de consentimento livre e esclarecido; TI – Teste incremental; UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte; VFC – Variabilidade da frequência cardíaca; W – Watts; W.min-1 – Watts por minuto; viii RESUMO SENSIBILIDADE INTEROCEPTIVA E RESPOSTAS PSICOFISIOLÓGICAS AO EXERCÍCIO SUBMÁXIMO Autor: LUIZ FERNANDO DE FARIAS JUNIOR Orientador: Prof. Dr. ALEXANDRE HIDEKI OKANO O complexo comportamento humano de realizar exercício físico envolve processamento cognitivo, físico e emocional. As recentes teorias sobre regulação da intensidade do exercício tem destacado o papel dos aspectos psicofisiológicos no controle da intensidade do exercício físico. Nesse sentido, evidências recentes relatam haver variabilidade na capacidade humana em perceber estímulos interoceptivos. Assim, pessoas mais sensíveis apresentam maior excitação fisiológica ao estresse físico e/ou emocional, e maior intensificação das sensações. Adicionalmente, estudos tem relatado que feedback interoceptivo altera o comportamento no exercício físico com ritmo livre. No entanto, os modelos de prescrição de exercício físico apresentam padrão de esforço constante. Portando, o presente estudo verificou a influência da sensibilidade interoceptiva sobre as repostas psicofisiológicas em exercício dinâmico constante. A amostra foi composta por 24 homens jovens adultos que foram alocados de acordo com o nível de sensibilidade interoceptiva: Alta sensibilidade (n=11) e Baixa sensibilidade (n=13). Todos foram submetidos a teste incremental (TI). Posteriormente, foram submetidos (em ordem aleatória e cruzada) a dois protocolos de exercício físico em cicloergômetro durante 20 minutos com intensidade moderada e severa. Durante os protocolos as respostas de frequência cardíaca (FC), percepção subjetiva de esforço (PSE), sensação afetiva, estado de alerta e nível de pensamentos dissociativosassociativos foram registradas. A ANOVA two away para medidas repetidas verificou as possíveis diferenças entre as repostas psicofisiológicas. Houve diferença ix estatisticamente significante entre os grupos na PSE, resposta afetiva e no estado de alerta na intensidade moderada. Concluímos que sujeitos com alta sensibilidade interoceptiva sentem o exercício dinâmico em intensidade moderada de forma mais intensa. Palavras chaves: Interocepção Cardíaca; Percepção Subjetiva de Esforço; Resposta Afetiva; Estado de Alerta; Pensamento Dissociativo-Associativo; Exercício Dinâmico. x ABSTRACT INTEROCEPTIVE SENSIBILITY AND PSYCHOPHYSICS RESPONSES TO SUB MAXIMUM EXERCISE Author: LUIZ FERNANDO DE FARIAS JUNIOR Mastermind: Prof. Dr. ALEXANDRE HIDEKI OKANO The complex human behavior related to exercise involves cognitive, physical and emotional processing. The recent theories about exercise’s intensity regulation have highlighted the role played by psychophysics aspects in controlling exercise’s intensity. In this regard, recent evidences have shown that there is variability in human capacity in perceiving interoceptives clues. Thus, subjects more sensitive show higher physiological arousal to physical and/or emotional stress, and sensations with higher intensity. In fact, studies have evidenced that interoceptive feedback modifies behavior in exercise with free load. However, exercise recommendations are based in a constant load standard. Therefore, we aimed to analyze the influence of interoceptive sensibility on psychophysics responses during dynamic exercise performed with constant load. Twenty-four adult males were allocated into two groups accordingly with their interoceptive sensibility: high sensibility (n=11) and low sensibility (13). They underwent to an incremental test (IT) and then randomly to two sections of moderate and severe exercise intensity for 20 minutes. Heart rate (HR), rating of perceived exertion (RPE), affective feelings (AF), alert state (AS), and percentage of associative thoughts were collect during exercise. A two-way ANOVA with repeated measures was used to assess differences between psychophysics responses. There were differences between group in RPE, AF, and AS in moderate intensity. There was no difference in any measure in severe xi intensity. We conclude that subjects with high interoceptive sensibility feel dynamic moderate exercise more intense than the subjecs with low interoceptive sensibility. KEY-WORDS: cardiac interoception; rating of perceived exertion; affective feelings; alert state; associative-dissociative thoughts; dynamic exercise. 1 1 INTRODUÇÃO O modelo clássico na ciência do exercício de entender a regulação da intensidade de realização do exercício físico historicamente não considera aspectos psicofisiológicos que influenciam o comportamento durante o exercício físico1,2. No entanto, modelos teóricos recentes como o do Governador Central1, o Modelo Psicobiológico-Motivacional3 e o Modelo da regulação cerebral consciente4 suportam o importante papel de fatores cognitivos e interoceptivos que influenciam o controle da intensidade de realização do exercício físico. A interocepção é definida como a informação aferente que surge dos órgãos periféricos corporais que afeta a cognição ou o comportamento de um organismo de forma consciente ou inconsciente. Já a sensibilidade interoceptiva está relacionada à capacidade de um indivíduo perceber tais sinalizações aferentes5. Pennebaker e Lightner 6 realizaram um estudo com dois experimentos para verificar a influencia dos sinais interoceptivos sobre o esforço físico. No primeiro experimento, quando os sujeitos realizam exercício com carga constante em ambiente fechado recebendo informação sonora de sua respiração, a percepção de fadiga ao exercício físico foi maior6. No segundo experimento, o exercício físico foi realizado em dois ambientes abertos com diferentes quantidades de estímulos exteroceptivos (externos ao organismo, por exemplo, visuais e/ou auditivos) os quais competem com vias de atenção às informações interoceptivas, no ambiente onde os estímulos exteroceptivos eram menores os sujeitos percorreram o percurso determinado em maior tempo6. Recentemente, Herbert et al 7 evidenciaram que quando permitido que indivíduos com diferentes níveis de sensibilidade interoceptiva regulem a intensidade de realização do exercício físico, os indivíduos que possuem alta sensibilidade interoceptiva (ASI) selecionam uma intensidade menor, embora a percepção de fadiga seja igual a dos indivíduos com baixa sensibilidade interoceptiva (BSI). Entretanto, apesar da grande contribuição desses estudos6,7 para entendermos a contribuição dos aspectos psicofisiológicos no controle individual da 2 intensidade de esforço físico, outros aspectos relacionados à prescrição da intensidade do exercício físico necessitam ser esclarecidos. Os modelos de recomendação de prescrição do exercício físico8 sugerem uma intensidade de esforço físico constante, o que torna obscuro a maneira que a sensibilidade interoceptiva influencia as percepções psicofisiológicas em relação ao exercício nessa circunstância. Ademais, os estudos supracitados avaliaram as respostas ao exercício físico apenas após seu término, permanecendo uma lacuna sobre o comportamento perceptual durante a realização do exercício físico e, além disso, investigaram apenas um constructo de percepção psicofisiológicas relacionada à fadiga, esquecendo aspectos importantes das percepções psicofisiológicas ao exercício físico como a resposta afetiva9, que é definido pelo prazer/desprazer sentido durante o exercício físico, o estado de alerta9 e o nível de pensamento dissociativo-associativo, todos os quais influenciam o comportamento relacionado ao exercício. Outro fator ainda a ser esclarecido na literatura, é o comportamento de indivíduos com diferentes níveis de sensibilidade interoceptiva na realização do exercício físico em diferentes intensidades. Nesse sentido, Ekkekakkis10 propôs a teoria do modelo duplo, que afirma que os indivíduos em intensidade moderada de exercício físico, tendem a demonstrar um padrão homogêneo de respostas afetivas positivas. Por outro lado, no domínio severo do exercício as respostas, embora homogêneas, passam a ser negativas. De fato, vários estudos tem confirmado essa teoria11–17. Contudo, ao propor essa teoria, Ekkekakkis18 não considerou a variabilidade individual da sensibilidade interoceptiva às informações aferentes dos órgãos periféricos. Dessa forma, outra lacuna a ser preenchida é de qual modo às respostas afetivas são influenciadas pela sensibilidade interoceptiva em diferentes intensidades de exercício físico. 3 2 OBJETIVO O objetivo desse estudo é verificar a influência da sensibilidade interoceptiva sobre as respostas psicofisiológicas durante a realização de exercício físico com intensidades diferentes e constantes. 2.1 Objetivos específicos Comparar as resposta de PSE, afeto, estado de alerta e pensamentos dissociativos-associativos entres os grupos de sensibilidade interoceptiva. Verificar o efeito da psicofisiológicas entre os grupos. intensidade do exercício sobre as respostas 4 3 HIPÓTESES A alta sensibilidade interoceptiva aumentará as respostas psicofisiológicas na intensidade moderada. O aumento das informações interoceptivas na intensidade severa anulará o efeito da sensibilidade interoceptiva devido a minimização dos fatores cognitivos. 5 4 REVISÃO DA LITERATURA 4.1 Consciência Interoceptiva Atualmente, o que é denominado interocepção (consciência das sensações corporais) teve sua base na ideia de Claude Bernard da existência de parâmetros fisiológicos que definem o estado interno normal do organismo “milieu interieur”5. Décadas depois da ideia de Bernard, Cannon denominou o estado de equilíbrio interno de homeostase e adicionou a ideia de mecanismos corporais os quais permitem o organismo ajustar-se a cada momento às flutuações destes parâmetros fisiológicos que não são fixos5. Porém, foi a partir da Teoria da Emoção de JamesLange que a consciência interoceptiva tornou-se importante na tentativa de explicar a forma como conseguimos sentir as emoções. Assim, eles descreveram a importância das informações aferentes de alterações viscerais ao cérebro para produção dos sentimentos emocionais5,19. Evidências apontam a existência de variabilidade individual da capacidade interoceptiva20,21. Desta forma, maior sensibilidade de percepção da alteração do estado corporal interno tem relação positiva com a magnitude da emoção sentida e com a ativação das estruturas cerebrais envolvidas no processamento emocional21. Também, o comportamento da FC à visualização de imagens afetivas é afetada pelo nível de sensibilidade interoceptiva20. 4.2 Quantificação da sensibilidade interoceptiva cardíaca Há dois métodos de quantificar a sensibilidade interoceptiva cardíaca, que consiste em estimar a quantidade de batimentos cardíacos sem manipulação tátil. Um dos métodos de avaliar a sensibilidade é através da estimativa dos próprios batimentos cardíacos de forma intrínseca, que direciona à atenção do sujeito, apenas, aos próprios batimentos cardíacos. O outro método, determina a sensibilidade através da discriminação de sincronização dos próprios batimentos cardíacos com eventos sonoros ou luminosos externos 22,23. Schandry22 estabeleceu a tarefa de contagem dos batimentos cardíacos (TCBC) como modelo para medir a sensibilidade interoceptiva cardíaca que é representativa da capacidade interoceptiva geral do organismo24. Este método 6 submete o indivíduo a estimar a quantidade de batimentos cardíacos intrinsicamente, sem manipulação tátil, durante três períodos de tempo de 30, 45 e 60 segundos, em ordem aleatória, permitindo seis combinações possíveis. A quantidade de batimentos cardíacos estimado pelo sujeito, dentro destes períodos de tempo, são comparadas com a medida real de batimentos cardíacos registrados por cadiofrequencímetro. Os valores estimados e reais de batimentos cardíacos são plotados em fórmula matemática (figura 1), resultando o nível percentual de acurácia cardíaca do sujeito avaliado22. Figura 1 - Fórmula matemática do cálculo de acurácia cardíaca Onde: ACSchandry = Medida de acurácia cardíaca pelo método de Schandry de contagem dos batimentos. Σ BCreal = Soma dos batimentos cardíacos reais. Σ BCestimado = Soma dos batimentos cardíacos estimados. O método por determinação de sincronização externa consiste da exposição dos sujeitos a sequências de sinais sonoros ou luminosos corresponde ou não corresponde ao seu ritmo cardíaco25. O sujeitos são orientados a julgar, e os acertos de índices de julgamento de sincronização e não sincronização com os batimentos cardíacos determina a acurácia cardíaca25. 4.3 Mecanismo cerebral interoceptivo Na formulação da Teoria da emoção de James-Lange, o mecanismo do processamento cerebral da interocepção não foi esclarecido. Contudo, os avanços tecnológicos de neuroimagem funcional tem possibilitado a identificação das áreas cerebrais responsáveis pelo processamento emocional19,21,26. Critchley et al.27 apontam a existência de uma estrutura hierárquica para a representação das emoções. O córtex insular, o córtex somatosensório e o tronco cerebral são estruturas de primeira ordem responsáveis pela representação subconsciente do 7 nível de excitação autonômica corporal27. O córtex cingulado e o córtex pré-frontal são estruturas de segunda ordem importantes para a formação da representação cognitiva e da consciência do estado emocional19,21,28. Confirmando a importância desta rede neural, evidência aponta associação positiva entre a percepção do estado corporal e a intensidade da emoção sentida com aumento da atividade das estruturas de primeira e segunda ordem de processamento emocional21. Entre as estruturas de primeira ordem, Critchley et al19 apontam o córtex insular como uma área importante para representação subconsciente das alterações corporais, devido à associação positiva da sua ativação e do aumento da massa cinzenta desta região cerebral com o melhor desempenho na TCBC. Adicionalmente, sujeitos com doença idiopática que afeta o sistema nervoso autonômico periférico apresentam baixa interocepção cardíaca, baixo aumento na FC e na PA decorrente de estresse físico e cognitivo e, baixa ativação nos córtices somatossensório e insular27. A via interoceptiva ao córtex somatossensório é evidenciada no caso de Roger, um paciente que apresenta dano completo bilateral nos córtices cingulado e insular, porém percebe mudanças qualitativas nas sensações cardíacas29. 4.4 Sensibilidade interoceptiva, hipertensão, esforço físico e cognitivo Duas linhas teóricas sugerem relações opostas entre o nível de pressão arterial e sensibilidade interoceptiva30. A primeira linha, a hipótese do barorreceptor fundamenta-se nas evidências de manipulação de aumento da FC e da atividade barorreceptora não produzir aumento da sensibilidade31. Outra evidência é que sujeitos com maior nível de pressão arterial comparado aos sujeitos de menor nível de pressão arterial possuem maior limiar sensorial quando expostos à estímulos táteis não dolorosos e estímulos táteis aversivos32. A segunda linha, o modelo de percepção balística postula que a percepção é parcialmente baseada nas sensações de pulso sanguíneo da circulação periférica18. O’Brien et al 33 e Koroboki et al30 evidenciaram que sujeitos com maior nível de pressão arterial são mais acurados na TCBC. Critchley et al27 submeteram sujeitos saudáveis e sujeitos com doença autonômica periférica a estresse físico de preensão manual e estresse cognitivo de 8 cálculo matemático, em uma condição de esforço e uma condição controle. Verificaram que os sujeitos com doença autonômica periférica, os quais possuem baixa sensibilidade interoceptiva, apresentam respostas menores nas alterações de FC e pressão arterial (PA) nas duas tarefas de estresse independente da condição27. Igualmente, a comparação entre grupos de sujeitos saudáveis com alta e baixa reatividade cardiovascular ao exercício isométrico de preensão manual, evidenciou que os sujeitos com alta reatividade hemodinâmica (FC, PA sistólica e diastólica, resistência periférica, volume de ejeção, débito cardíaco) apresentam alta sensibilidade interoceptiva comparados aos sujeitos com baixa reatividade hemodinâmica (88 ± 10 vs. 76 ± 06 acurácia cardíaca)34. Herbert et al7 objetivando verificar a influência da sensibilidade interoceptiva sobre o controle do esforço físico, encontraram que sujeitos com menor sensibilidade apresentam maior aumento na resposta hemodinâmica durante tarefa de ciclismo livre durante 15 minutos. Assim, estes percorreram uma distância maior estatisticamente significativa (7.41 ± 0.96 km vs. 6.66 ± 0.58 km), no entanto os dois grupos não diferiram no nível percepção de fadiga ao final do exercício medido por uma escala numérica de 0-10 (7,51 ± 1,32 vs. 7,30 ± 1,49)7. 4.5 Regulação da intensidade do exercício O modelo clássico da fisiologia do exercício e da ciência do exercício postula que o controle da intensidade de realização do exercício físico e da fadiga física apresenta uma relação linear com as mudanças no metabolismo, na demanda energética, e cardiovascular nas respostas hormonal, termorregulatória, respiratória e 1,2,35 . Nesse sentido, o que limitaria a realização do exercício físico seria quando a demanda excede a capacidade em um ou mais sistemas orgânicos, causando a falha catastrófica1,35. Como resultado, a homeostase não é mantida no músculo ativo ou no sistema nervoso central (SNC) causando fadiga e o término do exercício físico35. Esse modelo não inclui o papel dos feedbacks aferentes nem os aspectos psicofisiológicos que influenciam o comportamento no exercício. No entanto, modelos mais recentes apresentam a importância dos feedbacks aferentes e os aspectos psicofisiológicos entre os mecanismo de controle da intensidade do exercício físico e fadiga. O modelo teleoantecipatório incluído no modelo teórico do 9 Governador Central admite que os feedbacks periféricos influenciam a magnitude dos drives neurais que determinam a extensão do recrutamento do músculo esquelético35. Assim, informações psicológicas e fisiológicas antes do exercício estabelece o ritmo de esforço inicial do sujeito. Estes fatores incluem estado fisiológico no início do exercício, expectativa da distância e duração da sessão de exercício, o grau de experiência prévia do sujeito e o nível de motivação entre outro fatores35. Durante o exercício, contínuos feedbacks informam o comando central sobre o estado de reserva de combustível, a taxa de acúmulo de calor, estado de hidratação. Como resultado, essas informações são integradas para regular o comportamento do exercício pela modificação contínua do número de unidade motoras recrutadas nos músculos exercitados. Esse modelo avança em relação a outros modelos de fadiga central, no sentido que permite o cérebro antecipar a falha sistêmica futura e modificar o comportamento para assegurar a homeostase e prevenir a falha catastrófica35. A forma consciente de modificação comportamental durante a realização do exercício físico ocorre através da PSE, em que seu aumento indica o quanto o indivíduo está próximo de finalizar o esforço físico35. O modelo Psicobiológico-Motivacional baseado na teoria de intensidade motivacional postula que o desengajamento da tarefa ocorre quando o esforço requerido de realização do exercício é igual ao esforço máximo que o sujeito desprenderá para finalizar o exercício ou quando o sujeito acredita que excedeu o esforço máximo, e continuar o exercício é percebido como impossível3. Nesse modelo, o aumento da PSE é decorrente do aumento da ativação do músculos respiratórios e do membros em exercício devido a demanda fisiológica, não resultado de um cálculo antecipatório baseado na integração de informações aferentes periféricas36. O modelo da Regulação cerebral consciente postula que o cérebro sempre recebe informações aferentes periféricas para continuamente regular o recrutamento muscular, porém, isso ocorre em diferentes níveis de consciência cerebral4. Em baixa intensidade de esforço, na qual o desconforto físico é mínimo, o cérebro é capaz de regular a atividade muscular por vias automáticas e reque nível mínimo de consciência4. No entanto, quando sensações aferentes alcançam o nível crítico, 10 atingem um nível de consciência superior requerendo um comportamento consciente que atenda os feedbacks periféricos negativos4. Assim, o comportamento de diminuir a intensidade de esforço físico ou o aumento da PSE é decorrente da intensificação da sinalizações periféricas que alcançam nível altos de consciência modificando a resposta comportamental. 4.6 Foco de atenção, nível de pensamentos dissociativos-associativos O foco de atenção é um aspecto cognitivo que altera ou mantem a atenção dos pensamentos do executante em determinado alvo. Inicialmente essa estratégia foi utilizada como possível recurso ergogênico para os maratonistas37 e mais recentemente é aplicada na tentativa de aumentar a sensação de prazer e consequentemente aumentar a aderência a programas regulares de atividade física38–40. Dividida em dois extremos, o nível de pensamento dissociativoassociativo, diferem quanto as vias de competição dos estímulos internos e externos do organismo37. Nesta revisão o nível de pensamento associativo é atribuído aos pensamentos sobre as percepções corporais em geral como respiração, fadiga muscular e temperatura, no outro extremo, o nível de atenção dissociativo caracteriza-se como um processo onde as sensações físicas corporais são menos percebidas41. O Attentional Focus Questionnaire (AFQ), desenvolvido por Brewer, Van Raalte e Linder42, é um instrumento psicométricos bastante usado na literatura atual para avaliar a nível dos pensamentos dissociativos-associativos. Morgan e Pollock37 analisando dois grupos de maratonistas – elite e não elite, perceberam que os atletas da elite utilizam durante o treinamento mais o foco associativo que o dissociativo, enquanto o grupo de atletas não elitizados utilizaram mais o foco dissociativo. Kirby43 explica que essa “escolha” provavelmente ocorre não por preferência, mas sim por que atletas de alto nível normalmente treinam em intensidades muito próximas das capacidades máxima, o que explicaria a maior prevalência de pensamentos associativos neste grupo. Lind, Welch e Ekkekkakis41 realizaram um estudo de revisão avaliando o desempenho de diferentes estratégias cognitivas, de associação e dissociação, em alguns esportes e notaram que a 11 seleção de estratégias associativas produzem melhores resultados no desempenho, como redução do tempo de prova, quando comparados com o momento dissociativo. Contudo, quando se observa os resultados sobre algumas variáveis psicofisiológicas como PSE, FC, consumo de oxigênio e resposta afetivas, os resultado são bastante contraditórios. Embora seja um assunto já bastante debatido na literatura, especialmente na área do desempenho esportivo, pouco se sabe sobre os possíveis mecanismos que influenciam a estratégia de atenção e que possivelmente explica o porquê dos resultados contrastantes encontrado por Lind, Welch e Ekkekkakis41. Atualmente, dois modelos teóricos são muito usados para explicar esses mecanismos, o modelo Sócio-Cognitivo de Percepção e Tolerância a Dor44 e a Teoria do modelo-duplo10. Tenenbaum44 propõe que durante o exercício físico realizado em baixa intensidade, o executante alterna facilmente entre os dois estilos de estratégia cognitiva. Entretanto, com o aumento da intensidade, o esforço claramente aumenta e havendo aumento associativo, consequente ao aumento do esforço, desta forma a estratégia cognitiva consciente vai perdendo eficácia em minimizar a percepção de esforço produzindo respostas afetivas mais negativas. Ekkekkakis10 postula que o limiar ventilatório representa um nível de intensidade de esforço que demarca a transição de dominância do fatores cognitivos para dominância dos fatores interoceptivos sobre as resposta afetivas e de esforço. Adicionalmente, Tenenbaum44 relata que a capacidade de atenção do homem é limitada e reduzida e, que o corpo prioriza as informações interpretadas como prejudiciais ao funcionamento do organismo. Sugerindo que o aumento da intensidade do exercício provoca maior percepção de esforço, reduzindo a capacidade de manter pensamentos dissociativos e aumentando a atenção para alterações internas, assim verificada pelo aumento dos pensamentos associativos. 12 5 MATERIAL E MÉTODOS A amostra do estudo foi composta por 24 jovens adultos do sexo masculino,. A caracterização da amostra está descrita na tabela 1. Tabela 1 - Caracterização da amostra Baixa sensibilidade Alta sensibilidade (n=11) (n=13) TAC (%) 66,0 ± 17,8 95,0 ± 4,0 0,001 Idade (anos) 25,5 ± 4,0 23,2 ± 3,6 0,15 Massa corporal (kg) 72,8 ± 8,8 73,1 ± 8,1 0,92 Estatura (m) 1,72 ± 0,06 1,74 ± 0,05 0,36 IMC (kg.m ) 24,5 ± 2,6 23,9 ± 1,8 0,49 FCrep (bpm) 74,8 ± 7,0 65,4 ± 6,6 0,003 PAS (mmHg) 121,4 ± 10,3 119,2 ± 6,4 0,52 PAD (mmHg) 73,0 ± 12,2 68,0 ± 4,6 0,69 -2 p TAC – taxa de acurácia cardíaca; IMC – índice de massa corporal; FCrep – frequência cardíaca de repouso; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica. Dados expressos em média e desvio padrão. Os critérios de inclusão foram ser insuficientemente ativo fisicamente, sem doenças pré-diagnosticadas. Os critérios de exclusão compreenderam o não comparecimento em alguma das visitas ao laboratório ou não participação em algum dos procedimentos do estudo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP/UFRN), parecer número 488.110. Todos os participantes foram instruídos a não realizarem exercícios físicos e a não ingerirem bebidas alcoólicas ou cafeinadas durante as 24 horas que antecederam os procedimentos experimentais. Os participantes após terem sido informados sobre os riscos, benefícios e procedimentos do estudo, assinaram o Termo de Consentimento 13 Livre e Esclarecido (TCLE), conforme Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil45, e foram submetidos aos procedimentos experimentais. 5.1 Desenho experimental O estudo caracteriza-se como sendo do tipo experimental com delineamento cruzado, e ordem aleatorizada. As coletas de dados ocorreram em três visitas ao laboratório em dias distintos com intervalo mínimo de 48h e máximo de 72h. Na primeira visita, foram apresentados os riscos, os benefícios e os procedimentos do estudo e, aplicado o Questionário de prontidão para Atividade Física (PAR-Q), aferidas as medidas antropométricas e obtido o TCLE. Em seguida, foram realizadas medidas hemodinâmicas em repouso e, a TCBC para verificação da sensibilidade interoceptiva cardíaca. Assim, de acordo com o seu nível de sensibilidade interoceptiva os sujeitos foram designados à um dos grupos: Alta sensibilidade interoceptiva (ASI, n=13) e Baixa Sensibilidade interoceptiva (BSI, n=11). Na sequência, foi realizado um teste incremental (TI) para identificação do limiar de variabilidade da frequência cardíaca (LiVFC) e a potência pico (PP), parâmetros que determinaram as intensidades dos protocolos experimentais, sessão intensidade moderada (S80), 20% abaixo do LiVFC, e sessão intensidade severa (S120), 20% acima do LiVFC . Nas outras duas visitas foram realizados os protocolos experimentais submáximos com carga constante, S80 e S120. 5.2 Procedimentos 5.2.1 Índice de massa corporal O índice de massa corporal (IMC) foi calculado considerando-se o quociente entre a massa corporal em quilogramas e a estatura em metros ao quadrado. Uma balança digital (Welmy – modelo H110) com estadiômetro acoplado foi utilizada para mensuração da massa e da estatura corporal. 14 5.2.2 Medidas hemodinâmicas em repouso Em todas as visitas, ao chegarem ao laboratório os sujeitos permaneceram em repouso na posição sentada em sala silenciosa e temperatura controlada (25º C e 70%RH) durante dez minutos para verificação dos parâmetros hemodinâmicos de repouso. A frequência cardíaca de repouso (FCrep) foi considerada o valor médio do trecho de cinco minutos mais estável dos intervalos R-R (iRR). Os sinais dos iRR foram registrados através do cadiofrequencímetro (RS800CX training computer, Polar®, Finland) com frequência de registro a cada 5 segundos. A PA, em cada dia, foi verificada em três medidas com intervalo de um minuto, sendo considerado o valor mediano das três medidas. Para fins de comparação entre os grupos, os valores medianos de FCrep e PA nos três dias foram utilizados para análise. 5.2.3 Tarefa de contagem de batimentos cardíacos A TCBC desenvolvidos por Schandry22 consiste da contagem silenciosa dos batimentos cardíacos em 6 tentativas, com combinação aleatória de três períodos de tempo (30, 45 e 60 segundos) intercalado por 30 segundos. Os indivíduos permaneceram deitados em decúbito dorsal e foram questionados sobre a existência de algum estímulo tátil que facilitasse a identificação dos batimentos cardíacos. Antes do início da tarefa, os sujeitos foram orientados a focar sua atenção em seus próprios batimentos cardíacos, a abstrair-se de outros pensamentos e relaxar. Em seguida, os sujeitos foram orientados sobre o início do teste. Um sinal sonoro indicou o início e o final do período de tempo no qual os batimentos cardíacos deveriam ser contados. Os participantes foram orientados a reportar o número de batimentos cardíacos estimado por cada período, que, posteriormente, foram comparados ao número de batimentos cardíacos reais registrados através do cardiofrequencímetro (RS800CX training computer, Polar®, Finland). O nível sensibilidade interocepção cardíaca foi calculado através da fórmula de acurácia de Schandry22, (ver figura 1). Todos os sujeitos realizaram a TCBC no mesmo período do dia, pela manhã entre 08h e 11h, em ambiente silencioso e com temperatura controlada (25°C e 70%RH), para evitar influências circadiana e 15 ambiental sobre a medida de acurácia cardíaca. Os critérios de definição para BSI foram acurácia menor que 85%46 e, para ASI, acima de 85%47. 5.2.4 Parâmetro Perceptual A PSE pode ser definida como a intensidade subjetiva de esforço, tensão, desconforto e ou fadiga experimentada durante a realização de exercício físico48. No presente estudo, as respostas perceptuais durante a realização do exercício físico foi verificada através da escala de PSE de Borg 6-2049. Esse instrumento de classificação subjetiva do esforço é uma escala categórica composta por 15 pontos, que varia do extremo mínimo 6 (“nenhum esforço”) até extremo máximo 20 (“esforço máximo”). Os procedimentos descritos por Robertson e Noble (1997) foram adotados para utilização da escala de PSE. 5.2.5 Parâmetros Afetivos (Prazer/Desprazer) A resposta afetiva é um componente básico das respostas contrastantes emocionais intensas e de curto prazo. Neste estudo, foi definida operacionalmente como descritor de respostas positivas (prazer) e negativas (desprazer) em relação à intensidade de realização do exercício físico. A resposta afetiva foi avaliada através da escala de sensação de Hardy e Rejeski (1989)50. Esse instrumento é uma escala de Likert bipolar composta de 11 pontos, variando entre +5 (“muito bom”) a -5 (“muito ruim”). 5.2.6 Pensamentos dissociativos e associativos A Escala de Foco de Atenção (EFA) de Brewer et al.42 foi empregada para mensurar o percentual do foco de atenção as alterações fisiológicas provocadas pelo exercício (Pensamento Associativo) durante toda a atividade. Essa escala apresenta uma medida de 10 pontos que analisam o percentual de presença de pensamentos dissociativos e associativos ao exercício, variando de 10% à 100%, onde os extremos estão a máxima utilização de cada tipo de foco de atenção, 100% para máxima utilização de pensamento associativo e 10% a máxima utilização de pensamento dissociativo e consequentemente a mínima utilização de pensamento associativo. 16 5.2.7 Teste Incremental A realização do TI teve o objetivo de identificar o LiVFC e a PP. O teste consistiu de incremento escalonado em cicloergômetro eletromagnético (modelo CG-04; marca - Imbramed ®) com protocolo de carga inicial de 25W, incremento de 15W.min-1 e rotação entre 60 e 70 rpm. O teste foi interrompido por exaustão voluntária ou quando a rotação mínima (60 rpm) não foi mantida por mais de cinco segundos. A FC foi registrada através do cadiofrequencímetro (RS800CX training computer, Polar®, Finland). A PSE, a resposta afetiva, o estado de alerta e o nível de pensamento dissociativo-associativo ao exercício foram registrados a cada dois estágios de incremento de carga. Este processo foi adotado como protocolo de familiarização com as escalas psicofisiológicas. 5.2.8 Limiar de variabilidade da frequência cardíaca O LiVFC foi determinado pela redução do valor do índice SD1 da Plotagem de Poincaré, que reflete a retirada da modulação parassimpática cardíaca. O trecho dos últimos cinco segundo de cada estágio do teste incremental foi utilizado para representar o SD1 correspondente ao estágio. O primeiro estágio no qual o valor de SD1 apresentou-se inferior a três milissegundos foi considerado a carga equivalente ao LiVFC (PLiVFC). Adicionalmente, o percentual em torno de 50% da PP foi utilizado como critério de confirmação do LiVFC51,52. 5.2.9 Teste retangular Os dois protocolos experimentais foram realizados de forma aleatória e cruzada, em dias diferentes com intervalo mínimo de 48h e máximo de 72h. Os testes consistiram da realização de exercício físico em cicloergômetro durante 20 minutos com intensidade moderada S80 e intensidade severa S120. Antes do início do teste, foi adotado um período de aquecimento de 3 minutos (sem carga). Após, foi adicionada a carga correspondente ao protocolo experimental. A FC foi registrada através do cadiofrequencímetro (RS800CX training computer, Polar®, Finland) e a FC média dos últimos cinco segundo anteriores aos minutos 5, 10, 15 e 20 foram utilizados para análise estatística. O percentual da FC de reserva (%FCres) foi calculado a partir desses valores médio para descrever a intensidade na qual a 17 sessões de exercício físico foram realizadas. A PSE, a resposta afetiva, o estado de alerta e o nível de pensamento dissociativo-associativo ao exercício foram registrados a cada cinco minutos. 5.3 Análise Estatística Os dados estão apresentada em média e desvio padrão. O Teste de ShapiroWilk e a análise da média, assimetria e curtose atestaram a normalidade de distribuição dos dados. O Teste de Mauchly verificou a esfericidade dos dados de medidas repetidas. O Teste t para amostra independente verificou as diferenças nas variáveis descritivas entre os grupos. A análise de variância (ANOVA) two away (2 x 4) para medidas repetidas , grupo (ASI vs. BSI), momentos (5, 10, 15, 20 minutos) foi empregada com post hoc de Tukey para verificar as possíveis diferenças entre as variáveis FC, PSE, afeto, estado de alerta e nível de pensamento dissociativoassociativo. Adicionalmente, foi realizado o slope do comportamento da reta das respostas psicofisiológicas, refletindo a taxa de aumento ou declínio. Para comparação entre os grupos foi utilizado o Teste t para amostra independente. 18 6 RESULTADOS A tabela 2 apresenta a estatística descritiva das medidas de esforço durante a realização do exercício físico no TI e nas sessões experimentais. Tabela 2 - Comparação das variáveis de esforço no TI e nas sessões experimentais Baixa sensibilidade Alta sensibilidade (n=11) (n=13) PP (W) 192,7 ± 34,7 205,0 ± 21,2 0,29 PLiVFC (W) 95,9 ± 23,3 102,3 ± 17,2 0,44 P80 (W) 76,7 ± 18,7 81,8 ± 13,7 0,44 P120 (W) 115,1 ± 28,0 122,0 ± 21,6 0,50 %FCrS80 40,8 ± 11,1 43,8 ± 7,0 0,43 %FCrS120 67,0 ± 12,3 69,0 ± 8,8 0,66 p PP – potência pico; PLiVFC – potência no limiar da variabilidade da frequência cardíaca; P80 – potência à 80% do limiar da variabilidade da frequência cardíaca; P120 – potência à 120% do limiar da variabilidade da frequência cardíaca; %FCrS80 – percentual da FC de reserva na S80; %FCrS120 – percentual da FC reserva na S120. Dados expressos em média e desvio padrão. As figuras 2,3,5,7 apresentam o comportamento das respostas psicofisiológicas durante a realização do exercício físico nas duas intensidades (A) S80 e (B) S120. As figuras 4 e 6 apresentam a comparação dos slopes da PSE e resposta afetiva entre os grupos. Frequência cardíaca 19 Figura 2 - Comportamento da FC nas S80 e S120 * Diferença do 5º minuto para os outros momentos A FC não alterou na S80 nos dois grupos (p=0,371). E na S120 houve efeito do momento (F(3,36)=40,39, p=0,000), a FC no início difere dos outros momentos nos dois grupos. Percepção subjetiva de esforço Figura 3 – Comportamento da PSE nas S80 e S120 * Diferente do 5º minuto do grupo ASI # Diferente de todos os momentos do grupo BSI Na PSE, na S80 houve efeito do momento (F(3,36)=18,62, p=0,000) e da interação grupo x momento (F(3,36)=18,50, p=0,000). No efeito entre os grupos a PSE é menor no início e maior no final para o grupo ASI. Na S120 houve efeito o momento (F(3,36)=34,95, p=0,000). A figura 4 apresenta a comparação entre os grupos da taxa de aumento da PSE na S80. 20 Figura 4 - Comparação da taxa de aumento da PSE na S80 * Diferença estatisticamente significante p<0,05. Resposta afetiva Figura 5 - Comportamento da resposta afetiva nas S80 e S120 * Diferente do 5º minuto do grupo ASI # Diferente do 20º minuto do grupo ASI A resposta afetiva para o grupo ASI, na S80 houve efeito do momento (F(3,36)=22,75, p=0,000). E entre os grupos (F(3,36)=4,14, p=0,01). Na S120 houve efeito do momento (F(3,36)=59,81, p=0,000), apresentando um declínio linear. A figura 6 apresenta a comparação entres os grupos do declínio da resposta afetiva. Figura 6 - Comparação da taxa de declínio da resposta afetiva na S80. 21 Estado de Alerta Figura 7 - Comportamento do estado de alerta nas S80 e S120 * Diferente do 5º minuto do grupo ASI; # Diferente do 5º minuto do grupo ASI ¥ Diferente do 5º minuto nos dois grupos O estado de alerta, na S80 houve efeito do momento (F(3,36)=7,21, p=0,000) apresentando um aumento linear até o 15º minuto no grupo ASI. E houve efeito entre os grupos (F(3,36)=4,03, p=0,01), menor estado de alerta no início e maior no final, no grupo ASI. Na S120 houve efeito do momento (F(3,36)=26,56, p=0,000), aumento linear nos dois grupos. Nível de pensamento dissociativo-associativo Figura 8 - Comportamento do nível de pensamento nas S80 e S120 * Diferente do 5º minuto do grupo ASI # Diferente do 5º minuto do grupo BSI 22 O nível de pensamento dissociativo-associativo houve efeito do momento na S80 no grupo ASI, o primeiro momento é menor que os dois momentos finais (F(3,36)=11,85, p=0,000). Na S120, houve aumento é linear nos dois grupos (F(3,36)=22,52, p=0,000). 23 7 DISCUSSÃO O objetivo desse estudo foi verificar a influência da sensibilidade interoceptiva sobre as respostas psicofisiológicas durante a realização de exercício físico com intensidades diferentes e constantes. Os principais achados do presente estudo mostraram que no domínio moderado de intensidade do exercício os sujeitos com ASI apresentam maior PSE, menor afeto e maior estado de alerta, comparado aos sujeitos com BSI, embora em intensidade severa ambos se comportem do mesmo modo. A forma diferenciada de perceber a intensidade do exercício pode ser explicada pela teoria da teleoantecipação53,54 que propõe que o ritmo de exercício físico é estabelecido com o objetivo de evitar a falha catastrófica dos sistemas fisiológicos, e esse ritmo é reajustado durante o exercício utilizando como base as informações aferentes provenientes dos órgãos periféricos. Entretanto, no presente estudo a intensidade do exercício foi fixa, não podendo ser alterada pelos sujeitos. Dessa forma, uma vez que os sujeitos com ASI percebem as informações aferentes de forma mais acentuada21,34 e que intensidade do exercício não poderia ser alterada, a forma de prevenir a falha catastrófica foi aumentar a PSE nesse grupo de sujeitos. Tal suposição é fortalecida quando é analisada a taxa de aumento da PSE (figura 4), que demonstrou que os sujeitos com ASI aumentaram de modo mais acentuado a PSE. Além disso, a resposta diferenciada da PSE evidencia a influência da sensibilidade interoceptiva nas respostas perceptuais ao exercício, uma vez que os dois grupos apresentaram a mesma demanda de FC ao exercício físico. Contrariamente, o grupo de BSI mostrou uma resposta perceptual fixa durante o exercício, uma vez que os sinais aferentes periféricos destes são percebidos de forma menos intensa21,34. Tal explicação é suportada pelos achados de Herbert et al7. Em seu estudo os sujeitos foram permitidos modificar a intensidade do exercício. Dessa forma, para a mesma duração de esforço os sujeitos com ASI adotaram uma intensidade menor de esforço físico quando comparado aos sujeitos com BSI. Entretanto, a percepção de fadiga para o exercício foi a mesma. Portanto, quando é permitida aos sujeitos 24 com diferentes níveis sensibilidade interoceptiva a escolha da intensidade do exercício os indivíduos com ASI adotam uma menor intensidade/ritmo de exercício. De fato, nossos achados e o da Herbet et al7 corroboram os de Pennebaker e Lightner6. Eles evidenciaram com diferentes experimentos que em tarefas de exercício físico aberta, a qual o sujeito pode modificar a intensidade de esforço, o aumento da informação interoceptiva influencia na diminuição da intensidade/ritmo, enquanto que em tarefa de exercício físico fechado, que a intensidade não pode ser alterada, o aumento da informação interoceptiva influencia no aumento da percepção de fadiga. Contudo, uma questão que pode ser lançada sobre os nossos resultados é a respeito de como a PSE foi diferente tendo em vista que as respostas fisiológicas foram iguais. Acreditamos que a resposta a essa questão encontra-se no padrão de respostas afetivas apresentadas pelos sujeitos. Nossos resultados demonstraram que os sujeitos com ASI sentem o exercício físico de mesma intensidade de maneira menos prazerosa que os sujeitos com BSI, evidenciado pela taxa de declínio na resposta afetiva (figura 6). De fato, Baden et al55 evidenciaram que as respostas afetivas ao exercício físico influenciam na PSE. Em seus achados verificaram que mesmo sem alteração na FC, consumo de oxigênio e/ou frequência de passadas a PSE foi modificada em função da queda do prazer55. Portanto, acreditamos que a maior intensidade das informações internas nos sujeitos com ASI promoveu uma queda no prazer relacionado ao exercício físico e foi refletido numa maior PSE, o que pode ser interpretada como uma forma de desencorajar os sujeitos a manter-se no exercício. Adicionalmente, Polman e Edwards4 destacam que o aumento das sensações aferentes através dos feedbacks metabólicos negativos (sensações desagradáveis) desperta a consciência cognitiva e, também, aumenta a PSE. De fato, o maior estado de alerta apresentado pelos indivíduos com ASI reflete a maior intensidade dos sinais interoceptivos sentido por esses sujeitos durante o exercício. Portanto, a influência da sensibilidade interoceptiva nas respostas perceptuais e afetivas ao exercício pode ser evidenciada, também, pelo comportamento similar apresentado entre PSE e o estado de alerta, pois ambos aumentaram concomitantemente no grupo com ASI durante o exercício, enquanto 25 nos indivíduos com BSI ambos permaneceram estáveis. De fato, Polman e Edwards4 afirmam que o nível de consciência cerebral através de processamento dos feedbacks aferentes está relacionado tanto a intensificação destas sinalizações quanto a intensidade do exercício. Dessa forma, uma vez que a intensidade do exercício físico permaneceu constante, as diferenças evidenciadas na PSE, afeto e estado alerta relacionado ao exercício são resultantes do nível de sensibilidade interoceptiva. Todavia, todas essas diferenças foram vistas apenas no domínio de intensidade moderada. Na sessão de exercício no domínio severo, as respostas psicofisiológicas não diferiram entre os grupos. Este comportamento já era esperado uma vez que a teoria do Modelo Duplo proposto por Ekkekakis10 postula que no domínio severo do exercício há uma minimização dos fatores cognitivos o que gera uma homogeneidade nas respostas afetivas que tornam-se negativas devido a maior contribuição dos fatores interoceptivos relacionado à tarefa, o que possivelmente dever ter contribuído para respostas psicofisiológicas semelhantes entre os grupos. Portanto, acreditamos que a intensificação das informações interoceptivas tornou a interpretação dos sinais aferentes periféricos semelhante para todos os indivíduos, independente da sensibilidade interoceptiva. Entretanto, nosso estudo faz uma importante contribuição a teoria do modelo duplo ao apontar que: no domínio moderado de intensidade do exercício físico embora as respostas sejam homogêneas positivas, os sujeitos com ASI sentem o exercício de forma menos prazerosa que os de BSI. 26 8 CONCLUSÃO Concluímos que sujeitos com alta sensibilidade interoceptiva em exercício dinâmico em intensidade moderada o sentem de forma mais intensa, menos prazerosa, tudo isso por serem mais alertas aos sinais fisiológicos durante o exercício. Nossos achados contribuem no sentido de destacar a importância em se considerar a sensibilidade interoceptiva dos sujeitos na prescrição da intensidade do exercício físico. 27 9 REFERÊNCIA 1. St Clair Gibson A, Noakes TD. Evidence for complex system integration and dynamic neural regulation of skeletal muscle recruitment during exercise in humans. Br J Sport Med [Internet]. 2004/11/25 ed. 2004;38(6):797–806. 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