INFORME PUBLICITÁRIO QUANDO OS VENTOS DE MUDANÇA SOPRAM “Umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”, diria Érico Veríssimo. Em um vasto trecho do Piauí, na divisa com Ceará e Pernambuco, a parceria entre moradores e companhias que investem no potencial eólico do Estado está escrevendo uma nova história. 52 • www.revistarevestres.com.br POR PAULO LIMA E THYAGO MATHIAS FOTOS DE MARCELA MARQUES O último período de estiagem na Chapada do Araripe começou em 2011 e perdurou até o final de 2014, mas o que poderia ser encarado como o início de uma década perdida está despontando como um renascimento para a população desses municípios, espalhados na divisa entre Piauí, Pernambuco e Ceará. Nascido e criado em Marcolândia (PI), Paulo Alves de Carvalho, 58, viu de perto os altos e baixos da região. Comerciante há mais de dez anos, gerencia, junto com a filha, Isamara, 24, o negócio da família, o Carvalhos Grill, considerado um dos mais conhecidos da cidade. Saudoso, ele se lembra como se fosse ontem do auge da colheita da mandioca que garantia o sustento da família. “Nos bons tempos os pequenos agricultores da região tiravam cerca de 4 toneladas de mandioca por colheita”, lembra. Além disso, ele também foi dono da Fábrica de Farinha São Pedro, que acabou indo à falência com a seca de 2011 a 2014. A família Carvalho tocava uma barraca de lanches e petiscos na Barragem do Macedo, próximo a Marcolândia, quando o movimento de engenheiros e pesquisadores que vinham erguer torres de medição da velocidade dos ventos – chamadas de anemométricas – se intensificou na região. A barraca foi ampliada e se tornou um pequeno restaurante no centro da cidade. O negócio cresceu junto com a chegada das construtoras que começariam a erguer os primeiros complexos eólicos na Chapada do Araripe. Para atender a essa emergente demanda que vinha almoçar após um turno de trabalho, eles tiveram a ideia de alugar o ginásio do clube da cidade e lá servir as refeições. “Dessa forma, chegamos a atender mais de 400 pessoas em um dia”, afirma Paulo. É aí que a história dos Carvalhos se assemelha com a de Eraldo Francisco, 39. Morador de Simões (PI), o agricultor adotou uma fonte de renda extra para sua família. Trata-se de um pequeno restaurante adaptado na varanda de casa. No local, ele recebe orgulhoso os operários que trabalham na região, um público que chega a 40 pessoas por dia, entre almoço e jantar. No cardápio, as opções privilegiam a produção regional: arroz, feijão, salada, farofa, frango frito e refogado, pirão, baião de dois, mandioca frita, além de ovo frito, feito com manteiga de garrafa. Tudo fresco, feito na hora com ajuda de sua esposa, dona Maria. Paulo Alves Carvalho de 58 anos, e Isamara da Silva Carvalho, de 24 anos. Pai e Filha, comerciantes de Marcolândia. www.revistarevestres.com.br • 53 INFORME PUBLICITÁRIO Os ovos vêm de 60 aves que convivem lado a lado com uma plantação de mandioca e os três aerogeradores – turbinas que transformam a força dos ventos em energia elétrica – instalados em sua propriedade. “As turbinas acabaram de ser instaladas e não vejo a hora de funcionaram, para eu receber o meu percentual sobre a venda de energia delas”, afirma Eraldo, que pretende fazer melhorias em casa e na plantação com o dinheiro recebido da parceria estabelecida com a companhia que o procurou para instalar as torres em seu terreno. Pré-sal dos ventos E stas duas histórias fazem parte de um mesmo círculo virtuoso que tem sido impulsionado pelo aproveitamento do potencial eólico da região. Em um evento que marcou o início da construção dos primeiros parques na Chapada do Araripe, falou-se até que aquela região representava para o potencial eólico brasileiro o equivalente ao que o pré-sal significa- 54 • www.revistarevestres.com.br Eraldo Francisco, 39. Morador de Simões (PI) va para o mercado de petróleo do país, em uma alusão à dimensão e relevância dessas duas reservas energéticas. Comparações à parte, os investimentos aplicados no Estado são os maiores desde a construção da Usina Boa Esperança, hidrelétrica inaugurada em 1970. Somente a companhia Casa dos Ventos, principal desenvolvedora de projetos na região da Chapada do Araripe, prevê a aplicação de R$ 6,5 bilhões neste e nos próximos anos em projetos que incluem pesquisas, arrendamento de terras, aquisição, instala- ção e manutenção de equipamentos e melhorias em infraestrutura. No total, mais de 3 mil empregos diretos e cerca de 10 mil indiretos são esperados com a construção e operação dos parques atualmente em construção, em municípios como Marcolândia, Caldeirão Grande e Simões. Os benefícios, diretos e indiretos, contudo, estão espalhando-se rapidamente. A trajetória da Damião Rodrigues de Oliveira é um exemplo. Natural de Serrolândia, distrito de Ipubi (PE), o rapaz começou a trabalhar aos oito anos na roça de mandioca ajudando a família. Engajado em um esforço pessoal para crescer, estudou o magistério, voltou aos campos e prestou concurso para um trabalho temporário no IBGE. Foi como recenseador que conheceu Erasmo Ferreira, da equipe da Casa dos Ventos em Araripina (PE). Impressionado com a motivação e a competência de Damião, Erasmo convidou o jovem, hoje com 28 anos, a integrar a equipe local da companhia. Desde então, Damião passou pela equipe de georreferenciamento, continuou se aperfeiçoando, concluiu a faculdade de Gestão Ambiental e foi promovido a técnico ambiental da Casa dos Ventos. Casado com Josiclesia, 22, é pai de Jennifer de apenas seis meses. Juntos, e com uma nova perspectiva de vida, planejam reconstruir a vida da família, de volta a Ipubi, a pouco mais de uma hora dos parques. “Nunca imagi- Fazendo a economia girar M Damião Rodrigues de Oliveira, 28. nei que a energia dos ventos pudesse transformar minha vida. A primeira vez que eu ouvi falar nela eu estava na escola e tinha apenas nove anos”, pontua. “Hoje, ela se tornou realidade. A gente pode ver as turbinas e viver essa transformação”. Neste sentido, o depoimento de Damião ecoa o de Erasmo: “Essa energia não é apenas o nosso futuro. Ela está aqui, cada vez mais perto, botando comida na mesa. E ainda contribui para baixar o preço de energia do Brasil”, empolga-se. ais do que a geração de empregos em si, é a geração e circulação de renda que tem transformado a realidade e as perspectivas dos moradores da região. Proveniente não apenas de salários, mas da remuneração pela cessão de uso das terras, além dos investimentos diretos em infraestrutura, esse dinheiro adicional tem feito a economia girar, com um efeito quase tão duradouro e perene quanto a força dos ventos. As oportunidades abertas ao empreendedorismo vão sendo aproveitadas com a consolidação de uma rede de serviços mais sofisticada. Abrir uma academia de ginástica em Marcolândia, por exemplo, é o próximo passo para Jayne Barbosa Santana, 21, que separa parte do salário que recebe como técnica de edificações de uma das construtoras que atuam na cidade para pagar a faculdade de Educação Física. “Eu imaginava que precisaria me formar e ir para outra cidade conseguir trabalho”, conta Jayne, que está no segundo ano do curso. “Com a chegada das eólicas, muitos amigos e familiares desistiram de ir para fora e ficaram aqui. Depois de formada, quero proporcionar uma qualidade de vida melhor para essas pessoas que se instaram aqui”. E, no que se refere a qualidade de vida, o melhor indicador é percebido nas escolas da região. Com a renda complementar, muitas famílias deixaram de mobilizar suas crianças e adolescentes nas lavouras de mandioca. Segundo a professora Maria Aparecida da Conceição Nascimento, da Escola Municipal Érico Veríssimo, que atende alunos da área rural do município de Simões e outras cidades do Piauí, o índice de reprovação tem caído sensivelmente em relação aos anos anteriores. “Em 2014 apenas sete pessoas foram reprovadas, contra treze do ano anterior. Já o percentual de transferência caiu em 20% se comparado a 2013. Estamos começando a direcionar alunos para outras escolas da região, enquanto não abrimos novas vagas”, conclui a professora. Pouco a pouco, as companhias que passaram a atuar na região têm firmado convênios com as prefeituras para reformar e ampliar as escolas. Compromisso com as comunidades C omo seria esperado, a chegada dessas companhias não se deu sem alguma desconfiança. Natural de Muquém (PI), Dona Maria Otília, 68, lembra que o começo foi difícil. Muitos amigos, vizinhos e conhecidos da agricultora recebiam desconfiados o convite para ceder o uso de suas terras à montagem de aerogeradores e ofereciam resistência: “As pessoas tinham medo que a empresa fossa roubar a terra deles”, lembra. Com a realização de reuniões, palestras e visita a projetos similares em outras cidades, a comunidade foi se sensibilizando, vendo nesta iniciativa www.revistarevestres.com.br • 55 INFORME PUBLICITÁRIO Casa dos Ventos P Maria Otília de Oliveira, 68 anos, Agricultora e agente de saúde. a oportunidade de obter uma renda extra. “O pessoal das empresas foi chegando aos poucos, explicando devagar e a gente foi acreditando. Hoje está aí o resultado. Tem mais dinheiro entrando, o pessoal está comprando mais, estão todos mais felizes. Hoje os que não aceitaram, lamentam não ter entrado no projeto”, afirma Maria Otília. O aproveitamento do potencial eólico na região trouxe um alento à família de Maria Otília. Depois de entrar em acordo com a companhia desenvolvedora para mudar-se para uma casa nova, ela terá três aerogeradores em 56 • www.revistarevestres.com.br sua propriedade. Arrimo de família, há alguns anos, a história dela converge com a de Jayne, Damião, Josiclésia, Eraldo e Paulo e Isamara Carvalho. Todos, faces de uma nova história que está apenas começando a se desenvolver nesta parte do Piauí. “Eu tenho quatro bocas para alimentar e com a mandioca em baixa por causa da seca, a chegada dessas turbinas mudou nossa realidade para melhor. Vento por aqui é o que não falta e enquanto estiver soprando, estará nos garantindo uma melhor condição de vida”, comemora Maria Otília. rincipal desenvolvedora de projetos de energia eólica no Estado, a Casa dos Ventos é uma das pioneiras neste setor, no Brasil. Um em cada quatro projetos desenvolvidos no país são realizados pela empresa. Há oito anos no mercado, ela é responsável pelo maior número de projetos que venderam energia nos leilões e no ambiente de contratação livre. Além de ter desenvolvido aproximadamente 30% de todos os empreendimentos em implantação ou operação no país, a empresa é detentora do maior portfólio de projetos eólicos do Brasil. De acordo com Lucas Araripe, diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos, os projetos implantados pela empresa promovem o fomento da região. “Além de identificar os maiores recursos eólicos no país, estimulamos de forma sustentável o desenvolvimento das cidades com as quais fazemos pesquisas de viabilidade e implantamos nossos projetos. O nosso diferencial é a combinação de alta tecnologia e metodologias exclusivas, aliada a uma equipe especializada dedicada no desenvolvimento e implantação dos parques, sempre respeitando as características de cada região”, conclui Lucas. Quando concluídos os projetos da companhia na região da Chapada do Araripe, eles devem gerar mais de 1200 MW. A Casa dos Ventos inaugura o primeiro deles ainda em 2015 e o segundo em 2017. O estado, que tem prospectado muitos investimentos na área, caminha para ultrapassar o Ceará em geração energética eólica, para ficar atrás só do líder no quesito, o Rio Grande do Norte.