Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE RUBIO JOSÉ FERREIRA AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA E POLÍTICAS PÚBLICAS: CONTRIBUIÇÃO À DISCUSSÃO DO TEMA A PARTIR DE UMA ANÁLISE ESPACIAL EM RECIFE E VITÓRIA DE SANTO ANTÃO/PE Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Geografia, Curso de Doutorado em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Jorge Moura de Castilho. Recife 2013 Rubio José Ferreira Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Catalogação na fonte Bibliotecária Divonete Tenório Ferraz Gominho, CRB4-985 F383a Ferreira, Rubio José. Agricultura urbana e periurbana e políticas públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE / Rubio José Ferreira. – Recife: O autor, 2013. 231 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Jorge Moura de Castilho. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Programa de Pós–Graduação em Geografia, 2013. Inclui bibliografia e anexos. 1. Geografia. 2. Agricultura urbana. 3. Política pública. 4. Análise espacial (estatística). 5. Crescimento urbano. I. Castilho, Cláudio Jorge Moura de. (Orientador). II. Título. 910 CDD (22.ed.) Rubio José Ferreira. UFPE (CFCH2013-18) 2 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ RUBIO JOSÉ FERREIRA AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA E POLÍTICAS PÚBLICAS: CONTRIBUIÇÃO À DISCUSSÃO DO TEMA A PARTIR DE UMA ANÁLISE ESPACIAL EM RECIFE E VITÓRIA DE SANTO ANTÃO/PE Tese defendida e aprovada pela banca examinadora: Orientador:___________________________________________ Prof. Dr. Cláudio Jorge Moura de Castilho (UFPE) 2º Examinador:_________________________________________ Profª. Drª Lívia Isabel Bezerra de Miranda (UFCG-UAEC) 3º Examinador:__________________________________________ Profª. Drª. Kátia Cristina Ribeiro Costa (UFCG-UAG) 4º Examinador:__________________________________________ Profª. Drª. Aldemir Dantas Barboza (UFPE-DCG) 5º Examinador:___________________________________________ Profª. Drª. Maria de Nazaré Baudel Wanderley (UFPE-PPGS) Recife, 05 de março de 2013 Rubio José Ferreira. 3 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 4 À Deus, pelo que Ele é, e por tudo que faz. À minha família. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 5 AGRADECIMENTOS Agradecer é uma tarefa difícil porque corremos o risco de nos esquecer de mencionar alguém. Mas um coração agradecido é ouvido até sem palavras. Por isso, agradeço sinceramente até a quem não foi mencionado, mas que sabe ler os olhos. Ao professor e amigo Cláudio Castilho, por me conduzir no caminho da pesquisa em Geografia, desde a iniciação científica. Sempre primando pela minha autonomia. Já são 9 anos de convivência. Ao amigo e professor Caio Maciel, pela generosidade demonstrada nas aulas, nos trabalhos de campo e nas nossas conversas. E por ter sempre um sorriso tranquilizador e encorajador durante todos esses 9 anos. Sua presença na defesa da tese foi fundamental para mim. À professora Lívia Miranda, pelas contribuições na ocasião da qualificação da tese. E por mais uma vez se dispor a contribuir para o trabalho de um aspirante a doutor. À professora Aldemir Barbosa, pelos conhecimentos transmitidos. Por se interessar pelo meu objeto de pesquisa e consequentemente por meu trabalho. Por ter ido ao campo comigo e por participar da banca examinadora. À professora Maria Ângela, por tão generosamente ter contribuído para o meu trabalho na ocasião da defesa da minha dissertação. À professora Maria de Nazareth, pela contribuição e por examinar minha tese. Ao professor Jan Bitoun. A nossa última conversa no corredor do CFCH contribuiu significativamente para os rumos da minha tese. Aos professores do PPGeo: Ana Cristina, Beatriz Pontes, Nilson Crócia, Josicleda Domiciano e Marlene Silva. À professora Suely Leal, do MDU, pelos conhecimentos transmitidos na ocasião em que cursei a disciplina “Planejamento e Gestão Urbana”. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 6 Às professoras Edvânia Tôrres e Kátia Costa, por terem aceito o convite para compor a banca examinadora. Aos entrevistados que tão gentilmente contribuíram para a realização desse trabalho. Aos amigos de perto e de longe desde a graduação: Cacau, tão longe e tão perto. Não veio para a defesa da tese, mas sua mãe a representou muito bem; Talitha, amiga valorosa, com toda nossa correria no IFPE e nas finalizações nas nossas teses está sempre disposta a ajudar. Débora, apesar da distância não me esqueço de ti; o casal Priscila e Filipi, sempre presente e apoiando incondicionalmente, Cristiane, Márcio e tantos mais com quem compartilhamos nossas angústias acadêmicas e pessoais. Ao colega Antônio Marcos, pelo apoio no campo e pela elaboração de alguns dos mapas apresentados na tese. À colega Signe Dayse, pelo apoio discreto ao longo desses anos, e pela força com a logística na ocasião da defesa da tese. Ao colega Ivan, pelo apoio com o abstract e pelos sorrisos nos momentos tensos. À Maria José, pela oportunidade dada com a coordenação da Licenciatura em Geografia do IFPE. À Fernanda Dornellas e Clayson, por todo apoio na DEaD do IFPE. Aos demais amigos do IFPE Fábia, Stefânia, Aldo, Rosa, Domingos... Aos amigos que passaram pela minha vida nesses últimos 10 anos: André, Denys, Evandro, Moisés, Elaine (meu anjo)... E aos que estão bem presentes: Irvison, José, Alysson, com quem compartilhamos tanto angústias, quanto sorrisos soltos. Alysson, você é um exemplo a ser seguido como profissional e lutador, sempre. Ao pastor Cláudio Henrique, pelas orações e pelas palavras de conforto em momentos cruciais. À FACEPE, pela bolsa concedida. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 7 À minha família, que sempre me apoia mesmo não entendendo as minhas loucuras. À Deus, acima de tudo e de todos. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Em nome da justiça... Enquanto a violência acabar com o povão da baixada E quem sabe tudo disser que não sabe de nada... Enquanto os salários morrerem de velhos nas filas E os homens banirem as leis ao invés de cumpri-las... Enquanto a doença tomar o lugar da saúde E quem prometeu ser do povo mudar de atitude... Enquanto os bilhetes correrem debaixo da mesa E a honra dos nobres ceder seu lugar à esperteza... Não tem jeito não... João Alexandre, 1999. JOÃO ALEXANDRE. Em nome da justiça. Composição; interpretação: João Alexandre In. João Alexandre. Acústico. São Paulo: 1999.1 CD. Faixa 10. Rubio José Ferreira. 8 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ LISTA DE FIGURAS 1.1 Localização de Recife na RMR.............................................................. 24 2.1 Situação de Vitória de Santo Antão em PE........................................... 26 3.1 Relocação da rodovia BR-232 em Vitória de Santo Antão...................... 31 4.1 Recife: hortas comunitárias urbanas....................................................... 37 5.1 Recife: unidades de conservação municipais......................................... 38 6.1 Recife: renda média dos responsáveis pelo domicílio (2000)................. 39 1.2 Esquema básico do ciclo sistêmico........................................................ 58 2.2 Esquema dos procedimentos metodológicos......................................... 64 1.3 Diagrama do fluxo de água e uso de solo na produção agrícola em áreas urbanas e periurbana............................................................... 80 2.3 Localização da área de estudos em Vitória de Santo Antão................... 90 3.3 Agricultura urbana: dimensões integradas.............................................. 93 4.3 Agricultura urbana: fatores de integração/relação socio-econômicoespacial.............................................................................................. 98 5.3 Agricultura urbana e periurbana: tipos de cultura/criação...................... 101 6.3 Fontes geradoras de pressão sobre os governos.................................. 132 7.3 Programas, projetos e ações do MDS.................................................... 141 1.4 Recife: bairros de Guabiraba e Pau Ferro............................................... 147 2.4 Vitória de Santo Antão: área periurbana................................................. 160 3.4 Representação espacial da AU em Recife............................................. 163 4.4 Mapa de uso e ocupação do solo em Vitória de Santo Antão................ 176 5.4 Alteração da mancha urbana em Vitória de Santo Antão....................... 177 6.4 Localização dos assentamentos periurbanos de Vitória de Santo Antão................................................................................................... 178 7.4 Localização da bacia hidrográfica do rio Natuba..................................... 179 8.4 Principais usos da terra em Natuba........................................................ Rubio José Ferreira. 180 9 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 1.5 Organograma da gestão local da PR para implementação do programa de apoio às hortas comunitárias urbanas 2004.................. 10 190 LISTA DE GRÁFICOS 1.3 Brasil: população por situação de domicílio 1940 – 2010....................... 109 2.3 Nordeste: urbanização entre 1940 e 2007.............................................. 109 1.4 Recife: evolução da população residente por situação de 1980 a 2010................................................................................................... 153 LISTA DE TABELAS 1.3 Recife e Vitória: pessoal ocupado nos estabelecimentos agropecuários (2006).................................................................................................... 77 2.3 Pernambuco: população residente por situação de domicílio................. 110 1.4 Recife: taxas de urbanização de 1940 a 2010.......................................... 153 2.4 Vitória de Santo Antão: população residente 1970 a 2010...................... 154 3.4 Recife: Pessoal Ocupado e Produção Agropecuária em 2012................. 158 4.4 Recife e Vitória: número de estabelecimentos agropecuários e área ocupada (2012)..................................................................................... 158 1.5 Vitória de Santo Antão: assentamentos do INCRA................................... Rubio José Ferreira. 206 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ LISTA DE FOTOS 1.1 Novos usos da terra na área periurbana de Vitória com a relocação da rodovia BR 232: preparação para construção de posto de combustíveis em 2010....................................................................... 31 2.1 Posto de combustíveis localizado às margens da rodovia BR-232....... 32 3.1 Oficina mecânica localizada na área periurbana de Vitória, às margens da rodovia BR-232:............................................................ 32 4.1 Restaurante localizado na área periurbana de Vitória, às margens da rodovia BR-232: em 2012.................................................................. 33 5.1 Loja de frutas e verduras localizada na área periurbana de Vitória, às margens da rodovia BR-232: em 2012.................................................. 33 1.3 Recife: trecho de um córrego entre os canteiros de plantio nas áreas do entorno do CEASA/Recife........................................................... 83 2.3 Rio Tapacurá nas proximidades da Vila Natuba................................... 84 3.3 Rio Natuba nas áreas de plantio de hortaliças em Natuba................. 84 4.3 Sementeira “orgânica” no LFC............................................................ 86 5.3 Horta “orgânica” no LFC...................................................................... 86 6.3 Sementeira “orgânica” em Natuba...................................................... 87 7.3 Horta “orgânica” em Natuba................................................................ 87 1.4 Bairro de Lagoa Redonda).................................................................... 161 2.4 Bairro Lagoa Jardim Ipiranga)............................................................... 161 3.4 Assentamento Natuba........................................................................... 162 4.4 AU em Recife: plantio agrícola às margens do rio Capibaribe............. 172 5.4 AU em Recife: carcinocultura no estuário do rio Capibaribe................ 172 6.4 Rodovia BR-232 entre Trancados, Sítio Duarte, Natuba e Figueira............................................................................................. 179 7.4 Canteiros com couve, alecrim, cebolinha, alho poró, coentro e manjericão......................................................................................... 181 8.4 Estábulo de bovinos em Natuba............................................................ Rubio José Ferreira. 181 11 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 9.4 Estábulo de bovinos na Fazenda Figueira............................................. 182 10.4 Situação de Natuba, Figueira, Sítio Duarte e Trancados em relação à rodovia BR-232.................................................................................... Rubio José Ferreira. 182 12 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ LISTA DE QUADROS 1.2 Categorias teóricas e empíricas.............................................................. 62 1.3 Fatores da agricultura urbana, da agricultura periurbana e da agricultura rural.................................................................................. 94 2.3 Potencialidade da AU e da AP para desenvolvimento socioespacial...................................................................................... 100 3.3 Tipos de áreas utilizadas para prática da AU e AP no Brasil................. 102 4.3 Tipologias de políticas públicas, segundo SOUZA, C. (2006)................ 124 5.3 Quadro temporal das políticas de SAN no Brasil.................................... 138 1.4 Recife: dimensionamento da cobertura vegetal..................................... 148 2.4 Recife: áreas com agricultura urbana e tipo de atividades................... 164 3.4 Recife: classes da AU por tipo de produto, tipo de manejo e tipo de espaço utilizado................................................................................. 173 4.4 Recife: caracterização da agricultura urbana por fatores....................... 174 5.4 Espaços da AP em Vitória por tipo de atividade e de produtos............ 183 6.4 Espaços da AP em Vitória por classe de produtos, manejo e espaço................................................................................................ 184 7.4 Vitória: caracterização da AP por fatores............................................... 184 8.4 Comparativo dos fatores da AU (Recife) e da AP (Vitória).................... 185 1.5 Instâncias responsáveis pela implementação do 1º projeto de apoio a AU em Recife...................................................................................... 188 2.5 Avaliação qualitativa do 1º projeto da PR................................................ 196 3.5 Avaliação qualitativa do 2º projeto.......................................................... Rubio José Ferreira. 201 13 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 14 LISTA DE SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ADAGRO Agência de Pernambuco AF Agricultura Familiar AP Agricultura Periurbana AU Agricultura Urbana AR Agricultura Rural AUP Agricultura Urbana e Periurbana CCF Programa Global Cidades Cultivando Para o Futuro CEASA Centro de Abastecimento Alimentar Sociedade Anônima de Pernambuco CEMPO Centro de Educação e Medicina Popular CEPAS Centro de Ensino Popular e Assistência Social CEPF Centro Educacional Profissionalizante Flau CHESF Companhia Hidrelétrica do São Francisco Defesa CONDEPE/FIDEM Agência Estadual Pernambuco e de Fiscalização Planejamento Agropecuária e Pesquisa de de CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional CNPq Conselho Nacional Tecnológico CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais CTG Centro de Tecnologia e Geociências DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte DASA Diretoria de Abastecimento e Segurança Alimentar EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EUA Estados Unidos da América FACEPE Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco FAO Organização Alimentação IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Humano INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPA Instituto Agronômico de Pernambucano IPES Promoción Del Desarrollo Sostenible Rubio José Ferreira. das de Desenvolvimento Nações Unidas para Científico Agricultura e e Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano ITERPE Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco ITR Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural LFC Lar Fabiano de Cristo LOSAN Lei Orgânica Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional LOA Lei Orçamentária Anual LT Linhas de Transmissão MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MDU Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano MAS Ministério da Assistência Social MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário MESA Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome ONG Organização Não Governamental PPA Programa de Aquisição de Alimentos PR Prefeitura do Recife PET Programa de Educação Tutorial PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PNDS Pesquisa Nacional Sobre Demografia e Saúde PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PRONAC Programa Nacional de Crédito Fundiário PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PROPESQ Pró-reitoria de Pesquisa PP Políticas Públicas PPA Plano Plurianual PSB Partido Socialista Brasileiro PT Partido dos Trabalhadores RD Região de Desenvolvimento RM Região Metropolitana REDE Rede de Intercâmbios de Tecnologias Alternativas RMR Região Metropolitana do Recife RPA Região Político-Administrativa RUAF Centro de Recursos para a Agricultura e Silvicultura Urbanas Rubio José Ferreira. 15 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ SAGI Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação SAN Segurança Alimentar e Nutricional SARA Secretaria de Produção Rural e Reforma Agrária de Pernambuco SEAF Seguro da Agricultura Familiar SERTA Serviço de Tecnologia Alternativa SESAN Secretaria Nacional de Segurança Alimentar SENARC Secretaria Nacional de Renda e Cidadania SNAS Secretaria Nacional de Assistência Social SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SOS Corpo Instituto Feminista Para Democracia SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste UDH Unidades de Desenvolvimento Humano UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco ZAPE Zoneamento Agroecológico de Pernambuco ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social ZEPA Zonas Especiais de Proteção Ambiental ZUP Zonas Especiais de Urbanização Rubio José Ferreira. 16 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 17 RESUMO A Agricultura Urbana (AU) e a Agricultura Periurbana (AP) são atividades que, notoriamente, apresentam potencialidades para o desenvolvimento dos sistemas urbanos e periurbanos de organização espacial. Isto também porque contribuem para a segurança alimentar, promovendo trabalho e renda etc. Assim sendo, elas têm sido alvo de investimentos por parte do poder público, no sentido do seu desenvolvimento, promovendo maior acesso, por parte da população, aos seus produtos. O estudo do tema em Recife e em Vitória de Santo Antão justifica-se, também, pelo fato de que são poucos os estudos que procuram entender o espaço da aglomeração urbana na perspectiva de identificar as ações do Estado no processo de produção do espaço local mediante políticas públicas (PP) para a AU e AP, tendo em vista o desenvolvimento socioespacial. Considera-se a ideia de que, para se promover efetiva justiça social e consequentemente desenvolvimento socioespacial, é preciso que as PPs tenham base local, não apenas nos aspectos gerais das demandas sociais, como também no que tange às relações de decisão e gestão públicas. Políticas públicas (public policy), entendidas como orientações e ações do Estado no sentido de resolver problemas públicos, se verticalizadas, não levam em conta as especificidades e os anseios da população que pretende atender, pouco contribuindo para o desenvolvimento socioespacial. A tese objetiva analisar as políticas públicas voltadas para AU E AP, em Recife e Vitória de Santo Antão, observando em que medida elas, a partir do uso do espaço, promovem efetivo desenvolvimento socioespacial. A pesquisa tem caráter explicativo, partindo do empírico. O problema de pesquisa foi elaborado mediante identificação de problema púbico, com base empírica. Os procedimentos metodológicos são na perspectiva da análise qualitativa, para evitar análise puramente de dados estatísticos. Foram feitas descrições dos processos no/da produção do espaço (situações e ambientes) nos âmbitos institucional, cotidiano, ou seja, social. Os resultados apresentados a partir dessa abordagem correspondem à forma, à função, à estrutura da AU e da AP. Os dados coletados são interpretados, por vezes recorrendo a métodos hermenêuticos no sentido de tornar clara a interpretação geral do trabalho. A partir do trabalho de campo e levantamento aerofotogramétrico, as áreas estudadas foram plotadas e gerados mapas, utilizando-se do software arcgis/arcmap. Os resultados da pesquisa dão conta que, não obstante às ações dos governos no sentido de apoiá-las, a AU em Recife e AP em Vitória, desenvolvem-se nesses espaços, atendendo aos interesses das populações envolvidas, contribuindo, também, para a segurança alimentar e nutricional. Por outro lado, o atraso em desenvolvimento de PPs efetivas (apenas no final de 2012 foi criado Decreto Executivo Federal 7.794/2012, de apoio à AU e AP) tem mostrado que as ações do Estado são ainda pontuais, e não consideram a real demanda social, o que não contribui para o efetivo desenvolvimento socioespacial. Espera-se que a criação de legislação que vise o fomento da AU e da AP signifique avanços que devem ser objeto de análises futuras. Palavras-chave: Agricultura urbana. Agricultura periurbana. Políticas públicas. Análise espacial. Desenvolvimento socioespacial. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 18 ABSTRACT Urban agriculture (UA) and Peri-Urban Agriculture (PA) are activities that, notoriously, have the potential for the development of the urban and peri-urban spatial organization. This is also because, they contribute to food security, promoting employment and income etc. Therefore, they have been targeted for investment by the government in the sense of its development, promoting greater access by people to their products. The study of the subject in Recife and Vitoria de Santo Antao is justified also by the fact that there are few studies that seek to understand the space of urban agglomeration in order to identify the actions of the State in the production process through public policy for the UA and PA, in view of the social and spatial development. It is considered, the idea that in order to promote effective social justice and consequently social and spatial development, it is necessary that public policies have local base, not only on general aspects of social demands, but about relations of public decision and management. Public policies, understood as guidelines and actions of the State to resolve public problems, if verticalized, do not consider the specificities and concerns of the population you want to serve, contributing superficially to sociospatial development . The thesis aims to analyze public policies for UA and PA, in Recife and Vitoria de Santo Antao, noting the extent to which they, from the use of space, promote effective sociospatial development. This research has explanatory character, starting from the empirical. The research problem was developed through the identification of pubic problem, empirically based. The methodological procedures are in the perspective of qualitative analysis to avoid purely statistical data analysis. It was made descriptions of processes in / of the production of space (situations and environments) in institutional areas, daily, or social. The results reported from this approach correspond to the shape, function, structure. The collected data are interpreted, sometimes using hermeneutic methods in order to make clear the general interpretation of the work. From the fieldwork survey and aerophotogrammetric, the study areas were plotted and generated maps, using software arcgis / ArcMap. The results show that, despite the actions of governments towards supporting them, the UA in Recife and PA in Vitoria, grow in these spaces, serving the interests of these people involved, contributing also to food and nutrition security. On the other hand, the delay in development of effective PPs (only at the end of 2012, it was created a Federal Executive Decree 7.794/2012, giving support to PA and UA) has shown that the actions of the State are still punctual, and do not consider the actual social demand, which does not contribute to effective social and spatial development. It is hoped that with the creation of legislation to promote the UA and PA, this advancement could be the subject of future analyzes. Keywords: Urban Agriculture. Peri-urban agriculture. Public policies. Spatial analysis. Sociospatial development. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 19 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 22 1.1 O TEMA DA PESQUISA E A JUSTIFICATIVA......................................... 22 1.2 FUNDAMENTOS DA PROPOSTA DE ESTUDO...................................... 34 1.3 OBJETIVOS DO ESTUDO........................................................................ 43 2 METODOLOGIA........................................................................................ 45 2.1 ANÁLISE DA LITERATURA............................................................................ 45 2.1.1 Agricultura urbana, agricultura periurbana e a relação urbanorural: abordagens e discussões teóricas e técnicas......................... 46 2.1.2 Políticas públicas e planejamento: discussões e contribuições........ 53 2.1.3 Políticas públicas para agricultura urbana e periurbana: análises da questão no Brasil.............................................................................. 55 2.2 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL DA TESE............................... 57 2.3 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA TESE...................................... 61 2.4 DISCUTINDO CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS................................................ 3 3.1 AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA E POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITOS, DEFINIÇÕES E CONTEXTUALIZAÇÕES.. 64 72 AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA NA PERSPECTIVA DA RELAÇÃO RURAL-URBANA................................................................. 73 Delimitando os conceitos de agricultura urbana e de agricultura periurbana.............................................................................................. 73 3.1.1.1 A dimensão espacial como elemento essencial para a diferenciação da agricultura, da agricultura e da agricultura rural. 92 3.1.2 105 3.1.1 Agricultura urbana e periurbana e a relação rural-urbana................ Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 20 3.1.2.1 As teorias do continuum rural-urbano.................................................. 112 3.1.3 Contextualizando a agricultura urbana e a agricultura periurbana no Brasil................................................................................................. 116 3.2 ESTADO, GOVERNO E POLÍTICAS PÚBLICAS...................................... 120 3.2.1 Prolegômenos para entender políticas públicas.................................. 120 3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS NO BRASIL......................................... 129 3.3.1 As políticas de SAN no Brasil e a agricultura urbana e periurbana... 135 3.3.2 As Políticas ambientais a agricultura urbana e periurbana................ 139 4 AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA EM PERNAMBUCO NO CONTEXTO DOS ESPAÇOS DE RECIFE E VITÓRIA DE SANTO ANTÃO................................................................. 144 4.1 AGRICULTURA URBANA E AGRICULTURA PERIURBANA EM PERNAMBUCO EM SUA RELAÇÃO COM O ESPAÇO......................... 144 4.1.1 Recife e Vitória de Santo Antão: caracterização de dois subespaços no contexto das dimensões da agricultura urbana e periurbana.............................................................................................. 4.1.2 Panorama geral da agricultura urbana em Recife e da agricultura periurbana em Vitória de Santo Antão................................................ 145 163 4.1.2.1 Panorama da agricultura urbana em Recife.......................................... 163 4.1.2.2 Panorama da agricultura periurbana em Vitória................................... 174 5 ANÁLISE ESPACIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADADAS PARA AGRICULTURA URBANA EM RECIFE E PERIUBANA EM VITÓRIA DE SANTO ANTÃO................................................................. 187 5.1 OS PROGRAMAS E PROJETOS PARA AGRICULTURA URBANA EM RECIFE................................................................................................... 5.1.1 Avaliação do Programa Agricultura Urbana: hortas e pomares urbanos (2004 – 2007)........................................................................... Rubio José Ferreira. 187 188 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 21 5.1.1.1 Fases de implementação e desenvolvimento do projeto.................... 192 5.1.1.2 A prática proposta x prática desenvolvida........................................... 193 5.1.2 Avaliação do Projeto de Apoio Complementar ao Programa de Agricultura Urbana e Periurbana do Recife (2007 – 2009)................. 198 5.2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AGRICULTURA PERIURBANA EM VITÓRIA DE SANTO ANTÃO................................................................ 204 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 209 6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 211 APÊNDICES.......................................................................................................... Rubio José Ferreira. 227 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 22 1 INTRODUÇÃO Embora toda teoria se faça tendencialmente pretensão absoluta, pois gostaria de explicar tudo, na prática, como toda proposta historicamente contextuada, realiza apenas uma versão. (DEMO, 1995, p. 30). 1.1 O TEMA DA PESQUISA E A JUSTIFICATIVA As questões referentes à urbanização e, consequentemente, aos diversos tipos de problemas enfrentados pelas sociedades, no mundo, são notórias, até porque, sabese que a maior parte da população mundial vive nas cidades. Os problemas parecem crescer a cada ano, nos diversos âmbitos, desde as questões da sobrevivência dos grupos sociais pobres nos espaços urbanos e periurbanos, até questões ambientais e da “vida moderna” que atingem também até as classes mais abastadas da sociedade. No Brasil, mais de 84%, e em Pernambuco, cerca de 80% da população vive nas cidades, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – (IBGE, 2010). No caso de Recife, já em 1970, 92,1% da população residente era considerada urbana (MELO, 1978); e, posteriormente, na década de 1980, ela chegou aos 100%, conforme Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco – CONDEPE/FIDEM (1981 – 1990). Em Vitória de Santo Antão, dos cerca de 129 mil habitantes em 2010 (IBGE, 2010), apenas 16.545 vivem nos espaços rurais ou no entorno do espaço urbano – os espaços periurbanos. Ademais, como destaca Veiga (2004), é preciso considerar que o rural não significa necessariamente agrário. As grandes e médias cidades, ou até as aglomerações metropolitanas não estão desvinculadas do rural em diversos aspectos, um dos quais diz respeito à agricultura. Segundo Hadda-Kessous & Sabrou (2005, apud ARRUDA, 2006, p. 16), nos últimos 50 anos, grande parte dos migrantes, na cidade, desenvolve atividades ligadas à agricultura. Logo, a vida urbana é impregnada de “um certo rural”. Somam-se ainda diversas outras práticas socioespaciais ligadas ao “mundo rural” praticadas nas cidades em articulações entre os tipos de espaços. O que ocorre é certo continuum espacial, o qual, como mostra Wanderley (2001), abrange os aspectos econômicos, socioculturais, políticos e socioambientais. As articulações entre o rural e o urbano constituem-se de ruralidades, as quais são Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 23 importantes fatores de desenvolvimento econômico-territorial (ABRAMOWAY, 2000; VEIGA 2004), tanto dos espaços urbanos, quanto dos rurais e dos periurbanos. Vale ressaltar que a Agricultura Urbana (AU) e a Agricultura Periurbana (AP), como exemplos de ruralidades, funcionam, em certa medida, como elos de interelações entre o rural e o urbano, perpassando pelo periurbano. Isso significa dizer que o processo de urbanização, na atualidade, não extinguiu atividades agrícolas em espaço das cidades. Pelo contrário, a AU e AP são praticadas atualmente por mais de 800 milhões de pessoas no mundo segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 1996). Tratam-se de atividades que, além de outras funções, promovem ocupação e renda, e contribuem para a segurança alimentar, principalmente de grupos sociais pobres. No Brasil, segundo Santardeu; Lovo (2007), a Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) é praticada em todas as regiões do país. A Aglomeração Metropolitana do Recife, mostrada na figura 1.1, segundo Santardeu; Lovo (ibidem), é lugar de diversos espaços usados com AU e AP, produzida, em sua maioria, sob os moldes da agricultura familiar. Entretanto, vale destacar que, segundo dados do IBGE, em 2010, dos 49.196 hectares plantados com lavoura temporária, na Região Metropolitana do Recife (RMR), 46.090 hectares são destinados ao cultivo de canade-açúcar. O que significa dizer que apenas 3.106 hectares podem ser destinados à agricultura familiar rural, urbana e periurbana. Ao mesmo tempo, é preciso salientar que nem a AU e nem a AP são incluídas nos censos agropecuários, e que os dados apresentados no último Censo Agropecuário (IBGE, 2006) mostram dados municipais de forma geral, retratando apenas parcialmente a realidade nesses espaços. Especificamente, Recife conta, atualmente, com cerca de 580 agricultores1 urbanos, dos quais, cerca de 92, entre os anos de 2004 a 2009, trabalhavam comunitariamente, recebendo apoio institucional, enquanto os demais desenvolvem suas atividades agrícolas em diversas áreas espraiadas pela cidade. 1 Dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006) dão conta de 580 pessoas ocupadas em estabelecimentos agropecuários em Recife. Se o Recife é considerado totalmente urbanizado, em primeira análise, esses 580 agricultores são agricultores urbanos. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Figura 1.1 – Localização de Recife na RMR Fonte: Elaborado pelo autor deste trabalho com base cartográfica do ZAPE (SILVA et al., 2001). Rubio José Ferreira. 24 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 25 No caso do Recife, os agricultores que produzem hortaliças às margens de rodovias não apenas estão situados à margem do apoio institucional, como também trabalham em meio a conflitos e tensões com os proprietários das terras ocupadas, dentre os quais se acha o Estado. Pode-se contar ainda a agricultura praticada em quintais de residências, escolas, pomares, etc. para fins, geralmente, de autoconsumo, troca e/ou doação. Ao mesmo tempo, Vitória de Santo Antão, que não integra a metrópole pernambucana, pois faz parte da Mesorregião da Mata Pernambucana, Microrregião de Vitória de Santo Antão, segundo a Agência CONDEPE/FIDEM (2010), na prática, este município interliga-se com a Região Metropolitana do Recife (RMR), limitandose a Leste com o município de Moreno (Figura 2.1). No que tange à agricultura praticada nesse município, parte pode ser considerada periurbana. A produção agrícola de Vitória, tanto no seu espaço rural, quanto no periurbano possui importância significativa para a economia do estado, uma vez que, como mostrou Lima (1983), este município faz parte do cinturão verde de Pernambuco, abastecendo não apenas a metrópole, como também estados vizinhos como Alagoas, Rio Grande do Norte etc. Vale salientar, que grande parte da produção agrícola de Vitória está voltada à cana-de-açúcar. Segundo dados da Pesquisa Agrícola Municipal (IBGE, 2007), Vitória possui mais de 6.000 hectares plantados com cana. Por outro lado, a agricultura periurbana de Vitória se destaca, primordialmente, por produzir hortifrutigranjeiros. Ao mesmo tempo, a agricultura urbana do Recife produz, preponderantemente, hortaliças as comercializadas em feiras, centros de distribuição, supermercados etc. Rubio José Ferreira. quais são Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 26 Figura 2.1 – Localização de Vitória de Santo Antão em PE Fonte: elaborado por Antônio Marcos dos Santos, com base em dados de campo. Mediante essa conjuntura, não apenas a agricultura urbana, como também a periurbana, assumem papel relevante para grande número de famílias da RMR, que acabam ligando-se a essa atividade. O que acontece, tanto em virtude da ausência de alternativas de trabalho em atividades terciárias, quanto dos hábitos culturais do trabalho com a terra inerente às famílias que a ela se dedicam. Por outro lado, seguindo-se uma prática já existente em diversos países, o poder público, no Brasil, em suas três instâncias de governo, tem elaborado e implementado ações voltadas ao desenvolvimento desses tipos de agricultura. As ações do Estado Brasileiro, no sentido de apoiar a agricultura urbana e/ou periurbana, ocorrem no âmbito das políticas públicas de proteção e desenvolvimento social. Em Recife, desde 2004, a prefeitura municipal, articulada com Organizações não Governamentais (ONGs), apoia, com recursos próprios e do Governo Federal, hortas comunitárias urbanas, buscando abranger um contingente de 500 famílias em Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 27 situação de risco alimentar. Vale salientar que a agricultura produzida em Recife é considerada urbana levando-se em conta seus altos índices de urbanização. Em Vitória de Santo Antão, mesmo sem planos ou projetos, a agricultura periurbana recebe apoio da Secretaria Municipal de Agricultura, que disponibiliza sementes, assistência técnica etc. em conjunto com as associações de agricultores dos espaços atendidos. Ao mesmo tempo, a agricultura periurbana de Vitória é alcançada, por ações do Estado, em instância estadual, mediante planos de reforma agrária, de geração de emprego e renda, segurança alimentar, dentre outros. Sendo assim, a articulação dessas políticas públicas voltadas à AU e à AP em espaços do Recife e de Vitória constitui-se de parâmetro de investigação da presente tese, no sentido de averiguar em que medida elas possuem condições de promover o desenvolvimento socioespacial. Para Souza M. (2006), para que haja desenvolvimento socioespacial, é preciso que haja mudança positiva na qualidade de vida e bem-estar, tanto individual, quanto coletiva, o que resulta em justiça social. O desenvolvimento socioespacial perpassa pelo processo de superação de problemas sociais, não apenas no âmbito do acesso a bens econômicos. Pelo contrário, ele deve abarcar todos os âmbitos do espaço geográfico e da sociedade. Em assim sendo, a distribuição de objetos no espaço deve ser igualitária, de maneira que traga menor desigualdade social. Por outro lado, já que o sistema capitalista per se dificulta a formação de uma sociedade autônoma, a pressão social deve ser considerada uma ferramenta fundamental para que se vislumbre o desenvolvimento socioespacial. Portanto, este deve ser perseguido enquanto meta que poderá ser alcançada processualmente em etapas. Nesta perspectiva, a integração entre os diversos instrumentos de planejamento, dentre os quais as políticas públicas, constituis-se de uma importante ferramenta que contribui para o desenvolvimento socioespacial. A relevância do tema da presente tese consiste na necessidade de se conhecer facetas dos espaços urbano e periurbano, moldados por políticas públicas direcionadas à produção agrícola nas cidades (agricultura urbana) e em seu entorno (agricultura periurbana). No processo de gestão do espaço, as políticas públicas funcionam como ferramentas que podem ampliar ou entravar a agricultura, contribuindo, ou não, para o desenvolvimento socioespacial. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 28 A AU e a AP são atividades que, notoriamente, apresentam potencialidades para o desenvolvimento dos sistemas urbanos e periurbanos de organização espacial. Até porque, parte da sua produção possui base ecológica (agroecologia). Ademais, elas ainda contribuem para a segurança alimentar, promovendo trabalho e renda etc. Assim sendo, elas têm sido alvo de investimentos por parte dos poderes públicos, no sentido do seu desenvolvimento, promovendo maior acesso por parte da população aos seus produtos. Vale destacar, ainda, que o estudo do tema em Recife e em Vitória de Santo Antão justifica-se, também, pelo fato de que são poucos os estudos que procuram entender o espaço da aglomeração urbana na perspectiva de identificar as ações do Estado no processo de produção do espaço local mediante políticas públicas para a AU e AP, tendo em vista o desenvolvimento socioespacial. Em trabalhos anteriores (relatórios finais de pesquisa, apoiada pela PROPESQ/PIBIC/CNPq, trabalho de conclusão de curso de graduação e dissertação de mestrado), já se procurou discutir o referido assunto. Nos dois primeiros, buscou-se analisar o processo de produção agrícola em áreas do entorno do Centro de Abastecimento Sociedade Anônima (CEASA – Recife), na perspectiva de identificar alguma forma de inclusão socioespacial dos trabalhadores envolvidos a partir das referidas atividades (FERREIRA, 2006); no terceiro, tentou-se verificar as reais características de espaço periurbano na mesma área, tendo em vista a reprodução de ruralidades no núcleo da metrópole (FERREIRA, 2007); no quarto, buscou-se identificar o papel da agricultura urbana no processo de produção do espaço urbano do Recife, a partir do ponto de vista segundo o qual ela funciona como um elemento de complementaridade urbano-rural (FERREIRA, 2009). A originalidade do presente trabalho, com relação aos anteriores, reside basicamente no foco que será dado ao objeto, qual seja, o das políticas públicas voltadas para agricultura urbana e periurbana. Outro aspecto diz respeito à dimensão territorial do problema (no presente trabalho, sendo incluído um município que oficialmente não faz parte da RMR, mas que está integrado à aglomeração urbana em sua totalidade – Vitória de Santo Antão), bem como a inserção da agricultura periurbana na pesquisa, no sentido de trazer à tona o debate em torno da Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 29 necessidade de visibilidade de um aspecto que vem sendo apagado pela intensa urbanização. Diante do que já foi visto durante o desenvolvimento das pesquisas anteriores, surgiram questões que devem ser elucidadas no desdobramento do presente trabalho. Sabe-se da necessidade de se realizarem trabalhos mais aprofundados, pelos quais se procurem analisar o espaço sob a ótica do espaço social e da natureza do seu uso pela sociedade. O que pode, assim, contribuir para o conhecimento que poderá dar suporte ao planejamento dessas atividades, apropriado por políticas públicas que, realmente, atendam aos interesses efetivos das famílias envolvidas e, consequentemente, possam levar ao desenvolvimento socioespacial. No que tange às áreas em estudo, existe, em princípio, uma descontinuidade espacial. Enquanto Recife é o núcleo da metrópole pernambucana, Vitória de Santo Antão está localizada na Zona da Mata, estando as duas cidades dispostas espacialmente com distância de cerca de 50 km (de centro a centro), tendo os municípios de Jaboatão dos Guararapes e Moreno entre eles (Figura 2.1), considerando o acesso pela rodovia BR-232. Entre Recife e Vitória, alternam-se áreas urbanas, rurais e periurbanas. Outro aspecto relevante, diz respeito à ligação relacional entre os dois municípios. A área periurbana de Vitória, desde os anos 1980, destaca-se no estado de Pernambuco, como mostrou Lima (1983). Estudos mais recentes dão conta de que a relação de Vitória com a RMR tem se intensificado ao longo dos anos não apenas nos aspectos da agropecuária, como também em termos industrial e de equipamentos urbanos (CONDEPE/FIDEM, 2010). Em contrapartida, Recife é o maior mercado consumidor da produção agrícola de Vitória, sobremaneiramente através do CEASA2. Ou seja, embora haja descontinuidade no que tange à localização dos dois municípios, como mostrado na figura 2.1, as relações funcionais entre eles são intensas, formando, portanto, uma aglomeração, pelo menos do ponto de vista relacional. As questões referentes à aglomeração metropolitana do Recife estão presentes em diversas discussões nos âmbitos da academia e do próprio poder público, através de 2 Segundo dados de pesquisa de campo, a produção dos hortifrutigranjeiros de Vitória de Santo Antão permanece tendo em Recife o principal mercado consumidor. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 30 pesquisas, diagnósticos e relatórios técnicos, os quais visam, em sua maioria, ir além da teoria para realizar mudanças positivas para a sociedade. Vale destacar que a maior parte desses trabalhos evidencia a intensa ligação entre a institucionalizada RMR e os municípios de sua interlandia, área denominada de “Colar Metropolitano”. Um dos argumentos de que a relação entre Recife e Vitória de Santo Antão vão além da divisão político-administrativa da RMR, pode ser reforçada pela própria rodovia BR-232, a qual se estende pelo Estado da direção Leste-Oeste e, segundo a Agência de Planejamento e Pesquisas (CONDEPE/FIDEM, 2010), juntamente com a rodovia BR-101 e outras rodovias estaduais, assume importante papel para a interligação dos municípios do interior com a metrópole, especialmente os municípios limítrofes da RMR, “articulando os espaços rurais com o ambiente urbano e com as regiões do entorno” (CONDEPE/FIDEM, idem, p. 7). Ainda se levou em conta algumas mudanças ocorridas, recentemente, em certos espaços periurbanos de Vitória de Santo Antão, com a relocação da rodovia BR-232. Até 2001, a referida rodovia estendia-se pela área central da cidade de Vitória, marcando, perpendicularmente, o início da principal avenida (a Avenida Mariana Amália). Com a alteração da localização do trecho da rodovia, devido à sua duplicação, ela foi transferida para a área periurbana a sudeste da cidade (Figura 3.1), dividindo Sítio Duarte e Trancados de Natuba e Figueiras. O que mudou, em certa medida, a dinâmica do lugar, promovendo novos usos da terra, como, por exemplo, a construção de postos de combustível, lojas de automóveis etc. As fotos 1.1, 2.1, 3.1, 4.1 e 5.1 mostram essa atual configuração espacial. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Figura 3.1 – Relocação da rodovia BR-232 em Vitória de Santo Antão Fonte: Plano Diretor de Vitória de Santo Antão, 2002, apud Machado 2007, p. 50 Foto 1.1 – Novos usos da terra na área periurbana de Vitória com relocação da rodovia BR-232: preparação para construção de posto de combustíveis em 2010 Fonte: trabalho de campo. Fotos do autor deste trabalho em outubro de 2010. Rubio José Ferreira. 31 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 32 Foto 2.1 – Posto de combustíveis localizado às margens da rodovia BR-232 Fonte: trabalho de campo. Fotos do autor deste trabalho em janeiro de 2013 Foto 3.1 – Oficina mecânica localizada na área periurbana de Vitória, às margens da rodovia BR-232 Fonte: trabalho de campo. Fotos do autor deste trabalho em janeiro de 2013 Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 33 Foto 4.1 – Restaurante localizado na área periurbana de Vitória, às margens da rodovia BR-232 Fonte: trabalho de campo. Foto de Cássia Pernambuco em dezembro de 2012 Foto 5.1 – Loja de frutas e verduras localizada na área periurbana de Vitória, às margens da rodovia BR-232 Fonte: trabalho de campo. Foto de Aldemir Barbosa em dezembro de 2012 Pode-se perceber nas fotos supramencionadas, que de 2010 a 2012 o uso do espaço em tela se torna cada vez mais diversificado. Outro fator importante da nova Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 34 configuração espacial daquele município, refere-se ao fato de que, com o crescimento urbano de alguns bairros da cidade (Mário Bezerra, Pinga Fogo etc.), a área urbana aproxima-se cada vez mais da periurbana, o que é uma tendência do crescimento urbano periférico, como mostra Miranda (2008). Em assim sendo, a dinâmica urbana torna-se cada vez mais presente neste espaço, como se pode observar aspectos claros de intensa especulação imobiliária na área periurbana estudada nesta tese. Neste caso, os dois principais vetores de urbanização desta área são: o crescimento de atividades industriais e a rodovia BR-232. 1.2 FUNDAMENTOS DA PROPOSTA DE ESTUDO A agricultura tem papel fundamental na reprodução dos espaços geográficos. Se o rural é considerado “o lugar da agricultura”, a cidade, desde quando era apenas aldeola, há cerca de 15 mil anos atrás, já vislumbrava o abastecimento doméstico por reprodução de mudas e criação de animais, resultando numa revolução agrícola (MUNFORD, 1998). Portanto, como já dito, as economias urbanas sempre influenciam diretamente nos espaços rurais e vice-versa. Com o crescimento da urbanização, intensificado a partir dos séculos XVIII e XIX, mediante a Revolução Industrial, e todas as posteriores transformações ocorridas no espaço urbano, como resultado do processo da mundialização vigente, a cidade experimentou “novas” formas de reprodução e a agricultura continuou presente neste espaço e em seu entorno, em certa medida, adaptando-se às novas configurações espaciais. As relações entre o rural e o urbano são cada vez mais intensificadas levando ao consenso de que a integração do rural com o urbano abrange os âmbitos econômico, social e cultural. E a agricultura permanece como elemento integrador entre estes dois espaços. Isso, tanto a agricultura rural, que abastece o urbano e extrai dele tecnologias para sua própria reprodução; quanto a agricultura periurbana, produzida em espaços essencialmente híbridos de rural e urbano, ainda que possuindo suas características próprias; e a agricultura urbana, que é produzida em espaços, em certa medida, periféricos à dinâmica urbana strictu sensu (FERREIRA, 2009). Em assim sendo, não se pode negar que tanto a agricultura urbana, quanto a periurbana e a rural, são importantes para a sociedade e as economias espaciais. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 35 A agricultura urbana e a periurbana são praticadas por diversos grupos sociais em diferentes ambientes da cidade e de seu entorno, evidenciando a sua importância no processo de produção destes espaços. No caso do Recife, os índices de urbanização são próximos dos 100% em função do perímetro urbano que é o mesmo do perímetro do município. Os índices de situação de pobreza em Recife abrangem 2/3 da população total, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano no Recife (RECIFE, 2005). Este mesmo documento mostra que o índice de indigência em 2000, no Recife, alcançava 49,38% da população, e 13,56% da população desta cidade possuía renda per capta abaixo de R$ 37,75. Do mesmo modo, em Vitória de Santo Antão, os dados de desenvolvimento social não são tão diferentes dos do Recife. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Vitória, em 2000 era de 0,663; em 2006 naquele município constavam mais 15 mil famílias pobres, segundo dados do IBGE (2007). Por outro lado, como já dito, a agricultura urbana e a agricultura periurbana podem contribuir para a melhora nos índices de desigualdade social, acesso ao alimento etc. Para tanto, o Estado tem papel fundamental, a partir da implementação de políticas públicas. É de responsabilidade do Estado, distribuir benefícios sociais. Para isso, ele deve implementar políticas públicas que visem à diminuição das desigualdades, que são estruturais e produzidas pelo puro crescimento econômico. Diante disso, cada governo, ao seu modo, desenvolve ações que visam, pelo menos, à melhoria dos índices de desenvolvimento humano nestes municípios. Algumas dessas ações são direcionadas à AU e à AP, uma vez que se podem garantir benefícios ao menos no que tange à questão segurança alimentar. No caso do Recife, as políticas públicas diretas3 foram desenvolvidas mediante projetos de apoio à AU. Em 2004, a Prefeitura, através da secretaria de 3 As discussões teóricas em torno das políticas públicas não mencionam diretamente a diferenciação entre política direta e indireta. Por outro lado, vamos considerar 2 grandes aspectos que dizem respeito às políticas públicas: o primeiro circula em torno do próprio conceito de Estado (conjunto de instituições permanentes), que é quem possibilita a implementação das ações do governo (o qual é conjunto de programas e projetos que parte da sociedade) e política pública como ação do Estado (HÖFLING, 2001, p. 2). O segundo diz respeito aos mecanismos utilizados pelo governo para implementação das políticas. As ações mais específicas, as quais são realizadas diretamente para resoluções de problemas públicos mais diretos; e planos de ações mais gerais que dão origem aos diversos projetos, os quais visam à realização dos objetivos dos planos. Sendo assim, pode-se mensurar que quando as ações do governo, a partir do Estado (políticas públicas), são realizadas mediante projetos específicos, podemos chamar de políticas públicas diretas, e as ações de âmbito mais abrangentes ou generalistas, podemos chamar de políticas públicas indiretas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ desenvolvimento econômico, implantou o “Programa Agricultura 36 Urbana: manutenção das hortas e pomares comunitários” (RECIFE, 2004), com recursos do Governo Federal, por meio do “Programa Fome Zero”. O projeto visava ocupar espaços urbanos ociosos e degradados, com a prática da agricultura orgânica, no sentido de gerar trabalho, renda e segurança alimentar para 590 famílias em situação de insegura alimentar. Vale salientar que a situação de insegurança alimentar no estado, em 2009, segundo dados do IBGE (2012), constava de 42,1%, variando de insegurança alimentar leve a grave. Em 2007, com a conclusão do referido projeto e mediante a necessidade de continuar o trabalho de apoio à agricultura urbana, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, por meio da Diretoria de Abastecimento e Segurança Alimentar (DASA), desenvolveu, com 95% de recursos do Governo Federal, o “Projeto de Apoio Complementar ao Programa de Agricultura Urbana e Periurbana do Recife” (RECIFE, 2007), que vigorou até 2009. A figura 4.1 mostra a localização das primeiras hortas comunitárias apoiadas pela Prefeitura do Recife (PCR), e que são um dos focos de estudos da presente tese. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Figura 4.1 – Recife: hortas comunitárias urbanas Fonte: Elaborado pelo autor deste trabalho com base cartográfica do ZAPE (SILVA et al., 2001). Rubio José Ferreira. 37 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 38 Como se pode ver na figura 5.1, existe uma concentração de hortas comunitárias nas áreas próximas às reservas florestais. Isso ocorre, sobretudo, porque o em parte do processo de produção agrícola naqueles espaços utiliza-se de princípios agroecológicos, o que é um dos requisitos determinantes para a inclusão dos agricultores nos projetos da Prefeitura (FERREIRA, 2009). Figura 5.1 – Recife: unidades de conservação municipais Fonte: Recife/Secretaria de Meio Ambiente, 2012. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 39 Das 11 hortas comunitárias, destacadas na figura 4.1, apenas 08 mantiveram-se em funcionamento até 2007. Segundo o gestor do projeto, há pouca disponibilidade de recursos financeiros, pouco interesse de parte da população em desenvolver atividades agrícolas4 e dificuldades burocráticas nos âmbitos do poder público e das ONGs que são meios de ligação entre os grupos de agricultores e o poder público. Os recursos financeiros para o desenvolvimento do segundo projeto, até 2009, ainda não haviam sido disponibilizados pelo Governo Federal, levando a deficiência da continuidade do projeto. Outro aspecto que mudou entre os dois projetos foi a quantidade de pessoas previstas para serem atendidas, a qual se reduziu de 590 para apenas 240 famílias de agricultores. Entretanto, segundo o gestor do projeto, em 2007, apenas 92 agricultores, distribuídos pelas 08 hortas comunitárias em atividade, continuaram sendo beneficiados diretamente. Vale salientar que as hortas comunitárias mostradas na figura 4.1 estão localizadas em áreas cujos índices de pobreza são os mais altos da cidade, como demonstrado na figura 6.1. Figura 6.1 – Recife: renda média dos responsáveis pelo domicílio (2000) Fonte: Atlas de desenvolvimento humano no Recife, 2005. 4 Vale destacar que se não há interesse por parte dos moradores em cultivar alimentos na área urbana do Recife, e esse tipo de produção não tem escala econômica, as políticas públicas voltadas a esta atividade dificilmente conseguirão se efetivar. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 40 Sobrepondo-se os dados das figuras 5.1 e 6.1, percebe-se que as hortas comunitárias urbanas, em Recife, estão espacialmente distribuídas nas áreas mais pobres da cidade, como também nas áreas cuja agricultura tem características mais periurbanas, como é o caso das áreas próximas ao limite municipal de Recife e Camaragibe, e que, por sua vez, são áreas que margeiam reservas florestais. Das quatro subáreas com AU em Recife, apenas 5 unidades produtivas (Guabiraba, Bola na Rede, Pau Ferro, Casa Verde e Nova Aldeia) foram incluídas nos projetos de apoio à AU neste município. Isso ocorreu, principalmente porque para que sejam inseridas nos programas e projetos é preciso que haja alguma articulação entre os agricultores e ONGs. Contudo, com o desenrolar do projeto, os agricultores não deram continuidade às atividades, restando atualmente apenas duas hortas comunitárias até 2009. Um dos fatores que contribui para que a desmotivação dos agricultores em continuarem inseridos nos projetos da Prefeitura do Recife ocorre, sobretudo, por terem que trabalhar em grupo e a produção ser primordialmente para distribuição entre os agricultores. Outro fator diz respeito à obrigatoriedade de se trabalhar com princípios da agroecologia. O conjunto de fatores que levam a não efetividade do desenvolvimento dos referidos projetos consiste numa das etapas de investigação da presente tese. Para tanto, far-se-á comparação das dinâmicas espaciais da agricultura urbana em Recife e periurbana em Vitória de Santo Antão. Em principio, em Vitória, não há agricultura urbana, mas, periurbana. E as ações do Governo Municipal são no sentido de apoiar a atividade, sem, contudo, fazer distinção entre agricultura periurbana e agricultura rural. Neste caso, as Políticas Públicas (PPs) para a agricultura são indiretas. Portanto, não existem projetos específicos, mas ações da Secretaria de Agricultura do município, com vistas a fomentar a produção agrícola municipal, visando à melhoria dos índices econômicos. No âmbito da proteção social, as ações daquele governo acontecem no sentido de garantir recursos de programas como bolsa-família, financiamentos para a agricultura familiar etc. Assim sendo, enquanto que nos centros urbanos o fomento à agricultura parte de princípios da segurança alimentar, nos espaços periurbanos as ações públicas estão mais voltadas à reforma agrária. Segundo o IBGE (2006), em Vitória de Santo Antão, há 2.734 estabelecimentos agropecuários, perfazendo um total de 16.354 ha. cultivados. Desse total, cerca de Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 41 200 estabelecimentos estão localizados na área periurbana, que se constitui basicamente de assentamentos, os quais, segundo dados do ZAPE (SILVA et al., 2001) atendem a cerca de 345 famílias. Especificamente o espaço dos 4 assentamentos, objeto do presente estudo, abarca aproximadamente 200 agricultores distribuídos em áreas que variam entre 4 ha. e 1 conta5. Dos cerca de 200 agricultores, 106 dispõem do título de posse da terra, os demais estão em processo de aquisição. O contingente de trabalhadores agrícolas contratados de modo permanente varia entre 35, nas maiores unidades, e 5 nas menores. A Associação de Agricultores, fundada nos anos 1990, busca atender as 4 áreas (Sítio Duarte, Trancados, Natuba e Figueiras). Contudo, segundo depoimentos de agricultores e gestores, a única funcionalidade atual da Associação é a de ser ponto de expedição de mercadorias. As reuniões realizadas pela Associação, destinadas aos agricultores, no sentido de resolverem-se problemas ligados à reforma agrária ou abastecimento de água, etc. são pouco frequentadas, exceto se houver promessas de liberação imediata de recursos pelo poder público sob formas de empréstimos, bolsa família etc. Ao que se percebe, há uma grande lacuna entre realidade social, ações da sociedade e ações dos poderes públicos no sentido de amenizar as desigualdades sociais para a melhor qualidade de vida dos agricultores urbanos e periurbanos. Diante disso, as políticas públicas podem ser importantes instrumentos para a amenização dessas desigualdades sociais, desde que elas sejam desenvolvidas levando-se em conta as especificidades de cada espaço, ou seja, desde que se dê real importância às horizontalidades6 dos lugares para onde elas são elaboradas. 5 2 “Conta” é uma denominação utilizada pelos agricultores e corresponde a cerca de 50m . Não há , todavia, consenso entre eles quanto à dimensão exata da conta, por isso o termo será utilizado buscando-se aproximações. 6 Horizontalidades e verticalidades são, para Santos (2004), duas segmentações e dois arranjos, resultados das inter-relações e integrações de pontos, da superfície terrestre, que garantem o funcionamento econômico e social, influenciados de ações políticas em territórios e lugares; isso em escalas regionais (horizontalidades) e globais (verticalidades). Com suas próprias palavras: “As segmentações e partições presentes no espaço sugerem, pelo menos, que se admitam dois recortes. De um lado, há extensões formadas de pontos que se agregam sem descontinuidade, como na definição tradicional de região. São as horizontalidades. De outro lado, há pontos no espaço que, separados uns dos outros, asseguram o funcionamento global da sociedade e da economia. São as verticalidades. O espaço se compõe de uns e de outros desses recortes, inseparavelmente.” (SANTOS, 2004, p. 284). Sendo assim, as horizontalidades são processos internos ao território e ao lugar, que ocorrem no espaço, por força dos agentes locais, como a vida cotidiana das pessoas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 42 No caso do Recife, como a maior parte dos recursos para AU é de origem do poder público federal, o Governo Municipal observa a demanda local, desenvolve projetos que pouco levam em conta as reais necessidades dos agricultores locais e, com isso, perdem-se recursos e oportunidades de promover efetivo desenvolvimento socioespacial. Ao mesmo tempo, em Vitória, as políticas públicas voltadas à agricultura são desenvolvidas sem sequer considerar as diferenças entre as dinâmicas dos espaços rurais e periurbanos. Assim, a AP, naquele município, é assistida pelo Governo Municipal como se fosse igual à rural, desprovida das suas especificidades. Diante do exposto, surgem questões do tipo: quais as principais diferenças entre a agricultura urbana e a periurbana? Em que medida as políticas públicas desenvolvidas para essas atividades precisam levar em conta essas diferenças? Como os governos locais têm utilizado recursos disponibilizados para essas atividades? Por que, em se tratando de agricultura urbana e periurbana, em alguns municípios, os governos utilizam-se de políticas públicas diretas e em outros de indiretas? Seriam as políticas públicas diretas mais adequadas para a agricultura urbana e as indiretas para a agricultura periurbana? Até que ponto as políticas públicas são capazes de atender a demanda social dos agricultores urbanos e periurbanos? Diante de tantos questionamentos, delimitou-se a seguinte questão central para a tese: em que medida as ações do Estado e dos governos no sentido de apoiar as atividades de agricultura urbana e periurbana, contribuem para o desenvolvimento socioespacial em espaços de interface rural-urbano? As questões intermediárias são: As ações do Estado, voltadas à agricultura urbana e periurbana, têm de fato, contribuído para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas, ou são apenas ações pontuais para escamotear problemas sociais? Qual a base real da demanda por políticas públicas voltadas à agricultura urbana e periurbana? Os programas e projetos para AU têm considerado as especificidades de cada espaço? Ou seja, têm levado em conta as horizontalidades do lugar? A hipótese principal é a de que, uma vez que as políticas públicas, voltadas para AU e AP, não têm base local efetiva, já que são verticalizadas e não consideram as Portanto, remetem às relações de solidariedade e resistências às forças verticais dos agentes globais (verticalidades). Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 43 especificidades socioespaciais locais, nem tampouco as horizontalidades territoriais, suas ações impedem o desenvolvimento socioespacial metropolitano. As hipóteses intermediárias são as de que a escala de abordagem é um fator de extrema relevância no que tange à garantia da proteção social; portanto, uma vez que as decisões e os encaminhamentos da gestão e implantação das políticas públicas são, em sua essência, externos (verticalizados), não atendem aos anseios sociais locais, constituindo-se apenas ações pontuais. Ao mesmo tempo, a não consideração das especificidades espaciais locais (tipo de demanda, perfil social dos agricultores, modo de produção, tipo de espaço etc.), ou seja, das horizontalidades, leva as políticas públicas, voltadas à AU e a AP, a não promoverem a real justiça social, condição fundamental ao desenvolvimento socioespacial. 1.3 OBJETIVOS DO ESTUDO Partindo do pressuposto que as políticas públicas para a AU e para a AP não têm sido capazes de promover efetivo desenvolvimento socioespacial, tem-se como objetivo principal analisar as políticas públicas voltadas para a agricultura urbana e a agricultura periurbana, observando em que medida elas se constituem fator de promoção de justiça social, o que significaria avanços, no sentido do desenvolvimento socioespacial. Os objetivos intermediários são: a) analisar a abrangência territorial e espacial das políticas públicas de apoio à AU, em Recife e à AP em Vitória de Santo Antão, observando os elementos como acesso a terra, mercados, relações de trabalho, pressões externas e contextuais etc.; b) avaliar as políticas públicas para a AU em Recife, e a AP em Vitória de Santo Antão; e c) destacar as especificidades espaciais locais da AU e da AP, no sentido de contribuir para uma discussão que vise ao desenvolvimento de políticas públicas a partir de um uso mais consequente do espaço. Os conteúdos que compõem a tese estão apresentados em 6 capítulos, considerando as temáticas e os objetivos específicos. No primeiro capítulo (introdução) são explicitados as linhas gerais da temática da tese, os objetivos e as hipóteses. No segundo capítulo, são apresentada a metodologia, perpassando pela revisão da literatura pertinente ao tema geral da pesquisa, o arcabouço teóricoRubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 44 metodológico, os artifícios procedimentais da tese, bem como reflexões acerca das metodologias de avaliação de políticas públicas. O terceiro capítulo que versa sobre “Agricultura urbana e periurbana e políticas públicas: conceitos, definições e contextualizações”, são abordados os conceitos mais relevantes para o trabalho. Isso no sentido do “diálogo” com os textos base, ao mesmo tempo em que eles se tornam cada vez mais claros à compreensão. O quarto capítulo, de caráter empírico, retrata a agricultura urbana e agricultura periurbana em Pernambuco, destacando-a em Recife e Vitória de Santo Antão. Isso considerando sua relação com as políticas públicas voltadas para ela nesses dois espaços. No capítulo seguinte, são feitas análises das políticas públicas para a agricultura urbana e periurbana em Recife e Vitória de Santo Antão. Por fim, as considerações finais da tese são apresentadas, buscando-se também, refletir sobre as questões que perduraram, bem como os questionamentos que surgiram ao longo da pesquisa. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 45 2 METODOLOGIA Contudo, parece ser um tanto ingênuo pensar-se que ainda existam novos campos a serem explorados e sobre os quais nada tenha sido publicado anteriormente. (FLICK, 2009, p. 61) O presente capítulo aborda quatro aspectos do ponto de vista metodológico. A primeira parte trata de uma análise da literatura pertinente ao tema. A segunda parte trata do referencial teórico da tese. Na terceira parte, são apresentados os procedimentos metodológicos gerais da tese. Por fim, faz-se uma discussão em torno de uma metodologia que vise à avaliação de políticas públicas. 2.1 ANÁLISE DA LITERATURA A análise bibliográfica destaca as principais discussões sobre as temáticas da AU, da AP e das Políticas Públicas (PPs), dando-se ênfase às suas repercussões em termos de abordagem da realidade social em destaque. Neste tópico do capítulo não se farão reflexões e aprofundamentos acerca das perspectivas de cada texto citado. Isso será feito no tópico mais adiante, a saber, no referencial teórico-conceitual, que deu suporte ao desenvolvimento da pesquisa. Não obstante isso, do ponto de vista metodológico, a análise da literatura é indispensável para a realização de uma pesquisa científica. Até porque, como afirma Flick (2009), parece ser ingênua uma pesquisa científica que não considere as contribuições das pesquisas já realizadas. Observar a dimensão teórica é fundamental para o desenvolvimento de uma pesquisa científica. Destarte, faz-se mister analisar o que vem sendo debatido na academia acerca das categorias teóricas que fundamentam a pesquisa. Por outro lado, a análise do que vem sendo produzido no âmbito técnico também é fundamental para o entendimento do todo, até porque os relatórios técnicos também mostram a realidade de forma desnuda. O que se busca na Geografia, com uma análise da literatura que procura abarcar os conhecimentos recentemente produzidos nos âmbitos teórico e técnico, é entender a teoria em seus rebatimentos no espaço e vice-versa. Partindo deste pressuposto, serão abordados os principais Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 46 trabalhos que tratam da temática da agricultura urbana e periurbana nas dimensões teórica e prática. 2.1.1 Agricultura urbana, agricultura periurbana e a relação urbano-rural: abordagens e discussões teóricas e técnicas A agricultura urbana, bem como a periurbana são atividades que existem desde que existem cidades (BOUKHARAEVA et. al. 2005), há até quem defenda que a agricultura surgiu na cidade (JACOBS, 1971). Contudo, elas passaram a ser analisadas enquanto conceitos em estudos científicos mais recentes. Em assim sendo, são destacadas algumas abordagens acerca da temática, sabendo que muito ainda há a ser visto e analisado, ainda que haja pouco consenso teóricometodológico nos debates vistos. Mougeot (2000), no terreno da discussão teórica baseada na realidade, a partir de um esforço para conceituar a agricultura urbana, diz que ela deve ser pensada levando em conta determinantes que influem na realidade, tais como: tipo de atividade econômica, localização da atividade, tipos de áreas utilizadas para este fim, sistema e escala de produção, tipos e destinação de produtos. Portanto, para este autor, é preciso que se vá além da discussão teórica do conceito de agricultura urbana, devendo-se atentar, também, para sua diferenciação, com relação à agricultura periurbana. Este mesmo autor ainda destaca que, embora o fator da localização seja o mais evidente na diferenciação da agricultura urbana com relação à periurbana, não é apenas este elemento que as diferencia. Para se entender a diferenciação destas duas atividades, incluem-se, também, tipos de áreas utilizadas, de atividades econômicas e produtos, destinação dos produtos e sistemas e escalas de produção. Nesta diferenciação, ao que parece, esse último fator é o mais preponderante, depois do da localização, visto que uma escala maior de produção exige maior área disponível; elemento que os espaços periurbanos possuem em maior quantidade que os espaços intraurbanos. Desta forma, para a conceituação destes tipos de agricultura, não se pode abrir mão de se observar e analisar a realidade espacial. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 47 Até porque as conceituações teóricas apenas são úteis quando oferecem suporte para se resolver problemas da sociedade. Ainda mais, a agricultura que é, antes de tudo, uma atividade social, vem mostrando, ao longo dos anos, que se adapta às mudanças espaciais. Daí a necessidade de se atualizar as discussões teóricas em torno do tema. Ainda no campo da discussão do que vem a ser agricultura urbana e periurbana, Monteiro (2002) mostrou que elas devem ser entendidas a partir de suas repercussões nos âmbitos social, econômico e ambiental, ao que se deve acrescentar, também, a esfera cultural e política. Até porque, como um dos aspectos das ruralidades, hoje presente nas grandes cidades e em seus entornos, a agricultura urbana e a periurbana tem relevante papel na manutenção do sistema urbano e periurbano, tanto a mais capitalizada, produzida geralmente em áreas periurbanas, quanto a menos capitalizada, produzida nas unidades domésticas em áreas urbanas (NUGENT e EGAL, apud MONTEIRO, 2002). Dentre outros pesquisadores que tratam das questões conceituais desses tipos de agricultura, Boukharaeva et. al. (2005) fazem abordagens que discutem a AU e a AP levando em conta a questão dos usos dos territórios por esta atividade. Para tanto, realizaram trabalhos no Brasil, na Rússia e na França, buscando elucidar questões no que tange à sustentabilidade dessas atividades, bem como suas contribuições para o desenvolvimento humano sustentável. O que consideramos como primordial para o desenvolvimento socioespacial. Especificamente, no Brasil, destacam-se trabalhos como os de Bicalho (1992) e Turnowski (1992) que tratam da agricultura urbana e periurbana na cidade do Rio de Janeiro, tendo como base teórica o conceito de espaço periurbano, tratando muito mais de uma agricultura periurbana do que urbana. Os trabalhos de Monteiro (2002) e de Mendonça et. al. (2005), também tratam do tema na cidade do Rio de Janeiro, o primeiro destaca as questões sociais, econômicas e ambientais e as perspectivas da agricultura urbana e periurbana; o segundo mostra as diferenciações no uso daqueles territórios pelas agriculturas urbana e periurbana, considerando seus impactos nas famílias que as praticam. Por outro lado, Arruda (2011) desenvolveu tese de doutoramento na qual estuda a agricultura urbana na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, na perspectiva da sustentabilidade e reprodução das famílias Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 48 envolvidas. Essa autora menciona a importância da agricultura urbana para a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) das populações envolvidas. Ainda vale destacar o trabalho de Ottmann (2011), no qual a autora, na perspectiva do desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida, diagnostica a agricultura urbana em áreas de Curitiba (PR) e de Nova Iorque (EUA). Ainda no que tange ao aspecto da agroecologia e da agricultura orgânica, Aquino e Assis (2007) dizem que a primeira, que dá suporte à segunda, constitui importante instrumento viabilizador da agricultura urbana, uma vez que, segundo Altiere (2004), estimula a interação harmônica entre o homem, o agroecossistema e o ambiente. Ainda no Brasil, de modo geral, observa-se que os estudos e, consequentemente, os recursos disponibilizados pelo Governo Federal, estão concentrados nos maiores centros urbanos do país, ou seja, nas suas maiores áreas metropolitanas. Contudo, deve-se considerar que a agricultura urbana e a periurbana acham-se também presentes em outras áreas não contempladas nos referidos estudos, como é o caso de Teresina (PI), uma cidade que destina 177,2 ha. de sua área para a agricultura, como mostra Monteiro (2005). Pode-se citar ainda outras publicações que são relatórios de pesquisas, como as desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), dentre outros órgãos ligados ao Governo Federal que desenvolvem pesquisas em várias regiões do país. No caso do Nordeste, há de se destacar os trabalhos desenvolvidos em Teresina (PI), na medida em que vários estudiosos desenvolvem pesquisas como as de Bezerra et. al. (1996), que mostram um panorama das hortas comunitárias no espaço intraurbano e periurbano, bem como a já citada dissertação de mestrado de Monteiro (2005), dentre outros. No caso de Pernambuco, além dos que possuem a RMR como área objeto de pesquisa, existem estudos em Petrolina, no Sertão do estado, como os desenvolvidos por Farfán, Aragão & Albuquerque (2008). Estes autores mostram o perfil social e econômico dos agricultores das hortas comunitárias em Juazeiro (BA) e Petrolina, considerando as demandas de apoio destes agricultores. Ao mesmo tempo, no caso de Recife, destacam-se os trabalhos de Melo (1978) e Freyre (1982) os quais, embora não tivessem tratado diretamente da AUP, mostram Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 49 parte da realidade da relação urbano-rural nesta cidade, nas décadas de 1970 e 1980. Posteriormente, Lima (1983) identificou a existência de um “cinturão verde” na interlandia do Recife e sua aglomeração, mostrando a integração da agricultura urbana com a periurbana e, consequentemente, entre os dois municípios objetos de estudos da presente tese (Recife e Vitória de Santo Antão). Mais recentemente, Melo (2007), numa abordagem antropológica, tratou das relações humanas relacionadas à AU, mostrando que para essa atividade ser desenvolvida em parte do Recife (especificamente os agricultores urbanos próximos ao CEASA), é preciso que os agricultores recorram a “astuciosos” meios para tornarem-se “invisíveis” ao poder público. Portanto, o autor mostra as dificuldades dos agricultores urbanos, especificamente daqueles que estão à margem de apoio do poder público em continuar suas atividades agrícolas na cidade, mediante conflitos no que tange ao uso de espaços destinados a diversos fins, que não a agricultura. Vale destacar que recorrer a formas de tornarem-se “invisíveis”, não parece ser uma alternativa efetiva de sobrevivência da atividade. Visto que o individualismo torna-se cada vez mais latente, o que impede a organização em grupos sociais que poderiam lutar por conquistas sociais efetivas. Uma vez que estas discussões são relativamente recentes, grande parte dos registros bibliográficos acerca da agricultura urbana e da periurbana é encontrada em periódicos, por meio eletrônico em sítios como os da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture Organization of the United Nations - FAO), Centro de Recursos para a Agricultura e Silvicultura Urbanas – RUAF, dentre outros. A maioria dessas publicações trata de casos empíricos. Contudo, encontram-se alguns textos de cunho teórico que buscam conceituar a agricultura urbana e a periurbana, como é o caso do já citado Mougeot (2000). No caso do Brasil, a maioria das publicações acerca da agricultura urbana e da periurbana, também é constituída de relatórios de pesquisa e projetos, ou de trabalhos técnicos, os quais apresentam panoramas gerais destas agriculturas nas áreas analisadas. Mais recentemente, o Governo Federal, junto a diversas ONGs nacionais e internacionais (REDE, FAO, IPES – Promoción del Desarrollo Sostenible etc.), publicaram 12 relatórios descrevendo a situação da agricultura urbana e Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 50 periurbana em 11 regiões metropolitanas do país (Belém – PA, Fortaleza – CE, Recife – PE, Salvador – BA, Brasília – DF, Goiânia – GO, Belo Horizonte – MG, Rio de Janeiro – RJ, São Paulo – SP, Curitiba – PR e Porto Alegre – RS), no sentido de conhecê-las para, então, desenvolver políticas públicas de apoio aos agricultores e à produção (SANTARDEU; LOVO, 2007). São 11 relatórios que, para suas realizações, foram desenvolvidas metodologias aplicáveis em todas as áreas do estudo, levando em conta principalmente as formas e funcionalidades da agricultura urbana e periurbana nas regiões da pesquisa. E um relatório geral, sintetizando, analisando e propondo ações para as 11 áreas pesquisadas (SANTARDEU; LOVO, idem). Neste tipo de relatório, busca-se geralmente conhecer territorialmente, através de estudos empíricos, a dimensão da segurança alimentar, na qual a agricultura urbana e a periurbana assumem papel fundamental. No caso do Nordeste, encontram-se trabalhos realizados em quase todas as capitais como, as três Regiões Metropolitanas contempladas pelo estudo do MDS (Recife – PE, Fortaleza – CE e Salvador – BA) (SANTARDEU; LOVO, idem). Acerca da RMR, a ONG “SOS Corpo7” (2007) elaborou o “Relatório de Identificação e Caracterização de Iniciativas Focadas de Agricultura Urbana e Periurbana na Região Metropolitana de Recife”. Nele, faz-se uma descrição da agricultura urbana e periurbana na RMR, enfatizando a forma e funcionalidade, primeiramente, de 60 “iniciativas8” e, finalmente, de 12, das quais 10 estão localizadas no Recife. Por se tratar de um relatório descritivo, nele são apresentados dados referentes aos perfis tanto das iniciativas, quanto das entidades que apoiam a agricultura urbana e periurbana nesta área metropolitana. A adoção de uma metodologia que deixa de fora agentes do processo espacial da agricultura urbana e/ou periurbana pode comprometer a visão da sua forma, sua estrutura e sua função, o que não permite uma interpretação segura e apurada da realidade. Para uma análise profunda, é preciso que não se perca de vista que as informações tomadas no referido relatório devem ser checadas empiricamente, e devem ser tomados apenas os dados brutos, livres de interpretações. 7 SOS Corpo – Instituto Feminista Para Democracia – é uma organização da sociedade civil, autônoma e sem fins lucrativos, fundada em 1981, com sede na cidade do Recife. 8 Iniciativa é um termo de caráter econômico que tem a ver com o empreendedorismo; por sua vez, no referido relatório tratam-se dos empreendedores agrícolas presentes em cada espaço pesquisado. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 51 Mais dois trabalhos técnicos, referentes à agricultura urbana e periurbana em Recife, foram considerados nesta análise bibliográfica. Tratam-se de dois projetos, elaborados pela Prefeitura do Recife, ambos feitos com o sentido de granjear recursos financeiros federais voltados à segurança alimentar e ao combate à fome. O primeiro, implementado entre 2004 e 2007, pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico Municipal, faz um diagnóstico do problema da insegurança alimentar na cidade, que está acima da média nacional (RECIFE, 2004). O segundo, implementado entre 2007 e 2009, pela Diretoria de Abastecimento e Segurança Alimentar da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico buscou dar continuidade ao apoio às hortas comunitárias urbanas e periurbanas neste município. Estes, portanto, constituem-se de parte do objeto empírico de estudos da presente tese. Para o caso das áreas que a presente tese aborda, não existem trabalhos que façam análises de políticas públicas voltadas para a AU e a AP. Daí sua pertinência. Isto porque trabalhos que tratem profundamente de articulações das políticas públicas e a agricultura urbana e/ou periurbana ainda são poucos no Brasil. Por outro lado, a produção acadêmica e técnica, no tocante às relações urbanorurais e das aglomerações metropolitanas é vasta, há pesquisadores e técnicos de diversas ciências debruçados sobre o tema. No que tange especificamente a relação rural-urbana, dois grandes eixos são mais evidenciados por pesquisadores. O das ruralidades, o qual diz respeito à articulação do urbano com o rural mediante práticas de atividades tidas como do “mundo rural”, como salienta Wanderley (1997 e 2001), com suas particularidades históricas, sociais, culturais e ecológicas. O que significa dizer que as ruralidades podem ser analisadas do ponto de vista sociológico e dos hábitos rurais, nos estudos de Carneiro (1998 e 2005), Maia (2001 e 2006) dentre outros; como fator de desenvolvimento econômico-territorial, largamente discutida por Abramoway (2000), Veiga (2004) e outros; bem como no sentido da diferenciação do rural e urbano do ponto de vista espacial, como defende Silva (2002). O outro grande eixo da relação rural-urbana trata do continuum urbano-rural. Esta teoria foi largamente debatida desde os anos 1960 por Lefèbvre (1978), o qual defendeu a teoria da total urbanização e por Kaiser (1990), que trata da hipótese do Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 52 “renascimento rural”. Estudos atuais afirmam que a não clareza da fronteira urbanorural, hoje, tem fundamento principalmente na diversidade evidente nos dois polos (o rural e o urbano), como mostra Carneiro (2005). Outro aspecto que permeia grande parte do debate em torno da relação rural-urbana diz respeito ao papel dos agentes na produção e reprodução desses espaços. Especificamente acerca da relação urbano-rural, Miranda (1997), em sua dissertação de mestrado, desenvolveu trabalho concernente às chácaras no município de Carpina – PE e, em 2008, a tese de doutorado sobre a produção do espaço, mediante o planejamento, em áreas de transição rural-urbana. No que tange ao planejamento e à gestão de áreas de transição rural-urbana, a autora menciona que a “estrutura fragmentada e especializada do Estado para a operacionalização das políticas públicas” (MIRANDA, 2008, p. 218), é um dos fatores que, em certa medida, resulta em não efetividade das políticas públicas. Ainda sobre a relação rural-urbana, em 2001, Souza investigou a reprodução do espaço rural em Olinda. Na sua dissertação de mestrado, o autor faz uma análise da zona rural de Olinda, a qual foi negada pelo Poder Público Municipal, durante a década de 1980, mas que nos anos 2000, voltou a ser oficialmente reconhecida. O que mostra que o rural não pode ser desprezado, tal como se vinha pensando. Ao que parece, o papel do município na gestão e no planejamento urbanos adquire cada vez mais relevância, também, quando se procura analisar a produção do espaço em áreas de transição rural-urbana em escala metropolitana e em sua interlândia. É nesse aspecto que o Estado, como principal agente das políticas públicas, tem estado presente na maior parte dos trabalhos supramencionados, o que evidencia que a relação rural-urbana é latente e tem seu papel na dinâmica espacial, especialmente quando se pretende analisar o papel do Estado como agente de desenvolvimento socioespacial. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 53 2.1.2 Políticas públicas e planejamento: discussões e contribuições No que tange à temática referente às políticas públicas, ao planejamento e à gestão, são inúmeros os pensadores, em diversas áreas da ciência, que se debruçam sobre o assunto em suas diferentes abordagens, cada qual com suas perspectivas e contribuições construindo pensamentos durante muitos anos. Portanto, fazer uma análise da literatura que trate especificamente das políticas públicas, remete-nos, primeiramente, a delimitar, precisamente o que se pretende abordar, como também a destacar as principais abordagens na literatura clássica e na mais recente. Acerca do conhecimento das políticas públicas, Souza C. (2006) mostrou que, nas últimas décadas, houve ressurgimento da discussão da temática em diversos âmbitos. Esta autora imputa este ressurgimento a três fatores: (i) adoção de políticas restritivas de gastos nas agendas dos governos, especialmente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, redesenhando-se tanto as econômicas, quanto as sociais; (ii) novas visões sobre o papel dos governos que substituíram as políticas keynesianas do pós-guerra por políticas restritivas de gastos, principalmente nos anos 1980, nos países de inflação alta da América Latina; e (iii) o fato de, na maioria dos países em desenvolvimento e de democracia recente, ainda não se conseguir desenhar políticas públicas capazes de impulsionar o desenvolvimento e, ao mesmo tempo promover a justiça social (SOUZA C., ibidem, p. 20 e 21), tão necessária, por exemplo, no Brasil. O que se torna indispensável para gestores e pesquisadores da área, uma vez que essa discussão, ao mesmo tempo, traz à tona o debate sobre o tema, mostrando os modelos e as teorias, tornando clara a compreensão do problema para o qual as políticas públicas são delineadas. Ainda no que tange ao planejamento e ao papel do Estado na busca do desenvolvimento socioespacial no Brasil, destacam-se os trabalhos de Araújo (2000a) e Araújo (2000b). No primeiro, a autora trata da importância da pequena produção nesse processo, mostrando que a intensificação e consolidação da globalização, que torna o local cada vez mais conexo com o global, não extinguiram problemas antigos, herdados de um processo de excessiva concentração econômica, no Centro-Sul do país. Pelo contrário, diversas destas questões persistem e/ou surgem com outras formas. Ao chamar a atenção para estes Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 54 problemas, a autora argumenta que o planejamento, portanto, a proposta norteadora do Estado (as políticas públicas) deve atentar para as forças sociais. No segundo trabalho, a autora traz à tona a importância da descentralização das políticas públicas, ou seja, da valorização do poder local para um consequente desenvolvimento. Sendo assim, pode-se afirmar que a diversidade de escalas e de tipos de políticas públicas deve culminar em justiça social e desenvolvimento socioespacial. Outra pesquisadora que trata do papel do Estado no sentido de promover a justiça social é Höfling (2001). Para esta autora, a justiça social apenas pode acontecer se forem desenvolvidas políticas públicas atentas para as reais necessidades da sociedade. Ainda nesta perspectiva, Arretche (1999) faz uma análise da estrutura organizacional do sistema de proteção social no Brasil, mostrando seus delineamentos; e Boschetti (2009) mostra as conquistas e os limites à efetivação da seguridade social neste país. Além desses trabalhos, faz-se mister acrescentar os de Medeiros (2001), que trata do papel das políticas sociais no Brasil no século XX; Souza, C. (2006), que faz um apanhado das teorias que fundamentam as políticas públicas, bem como suas origens e perspectivas; e Fernandes (2007), que mostra as definições de políticas públicas, tratando da sua repercussão no Brasil No que tange às metodologias das análises dos diversos tipos de políticas públicas executadas, destacam-se os trabalhos de Silva; Melo (2000), que analisam o processo de implementação de políticas públicas no Brasil; Dagnino (2002), que mostra a contribuição de diversos autores, buscando melhorar a maneira como o processo de elaboração de políticas se desenvolve no âmbito do Estado contemporâneo. Nesse aspecto, Viegas (2003) publicou no Panamá um trabalho acerca dos procedimentos para análise de políticas públicas, e Faria (2005) argumentou que as avaliações das políticas públicas devem ser uma prática das políticas do Estado em todos os países da América Latina, visto que contribui para não se repetirem erros do passado. Nesse sentido é que se busca analisar eficiência, eficácia e efetividade das políticas públicas. Esta temática será retomada mais adiante, na seção 3.2, no sentido do debate em torno da metodologia de análise e de avaliação de políticas públicas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 55 2.1.3 Políticas públicas para agricultura urbana e periurbana: análises da questão no Brasil No que tange às análises de políticas públicas voltadas para AU e a AP, no âmbito acadêmico, far-se-á menção apenas a certos trabalhos mais recentes. Monteiro (2005) faz uma análise das hortas comunitárias em Teresina (PI), no sentido de identificá-las como alternativas econômica, social, e ambiental, ou seja, na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Na referida dissertação de mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, a autora, no capítulo 2, destaca que as políticas sociais devem abranger os setores formal e informal se quiserem promover alguma diminuição nas desigualdades sociais. Ao mesmo tempo, Arruda (2006) faz uma análise acerca do programa das hortas comunitárias urbanas e periurbanas em Campinas (SP), no intuito de fornecer subsídios para a formulação de políticas públicas. No âmbito das Ciências Agronômicas, a autora mostra um panorama das ações do governo municipal voltadas à agricultura urbana e sugere, tecnicamente, ações que podem melhorar sua produção etc. A contribuição à formulação de políticas públicas de apoio a esta atividade reside na sugestão de que as ações do governo sejam concatenadas entre as suas diversas secretarias. Em sua conclusão, a autora afirma que o sucesso dessas hortas em Campinas deve-se, em grande medida, às ações individuais dos beneficiários dos projetos implantados pelo poder público local, ficando claro que não há efetividade das ações realizadas pelo Estado a partir dos projetos. Daí a necessidade de se aprofundar a questão como estamos propondo. Em 2011, Arruda, em sua tese de doutorado, busca analisar o papel da agricultura urbana no que tange a reprodução das famílias na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Segundo a autora, a dimensão sociocultural predomina no sentido da superação de dificuldades e conflitos, pelos agricultores urbanos. Outro estudo recente sobre AU foi desenvolvido em Belo Horizonte por Coutinho (2010). A autora buscou analisar as formas de uso dos recursos locais, bem como a ação política e econômica dos agricultores daquela cidade, no contexto das políticas urbanas. Vale destacar que Belo Horizonte é a cidade do Brasil que mais se destaca no tocante à produção agrícola urbana. Em 2011, o governo municipal aprovou a Lei Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 56 nº 10.255, que institui a Política Municipal de Apoio à Agricultura Urbana. Ao final da sua dissertação de mestrado, Coutinho (ibidem) conclui que as políticas públicas e o planejamento são instrumentos importantes para a diminuição de desigualdades sociais. A necessidade da inserção da AU, nas políticas públicas, também foi a conclusão que chegou Covarrubias (2011), quando analisou o perfil da AU em Porto Ferreira, no estado de São Paulo. Esta autora afirma que a AU naquela cidade faz parte da dinâmica urbana, mas que está à margem de apoio institucional. A gama de trabalhos a serem citados é grande. Contudo, como já dito, foram destacados aqui apenas os mais recentes, e os que, em certa medida, estão mais próximas da temática que a presente tese se propõe analisar. A originalidade desta tese reside na hipótese de que, para se promover efetiva justiça social e, consequentemente desenvolvimento socioespacial, é preciso que as políticas públicas tenham base local, não apenas nos aspectos gerais das demandas sociais, como também no que tange às relações de decisão e gestão públicas. Políticas públicas verticalizadas, que não levem em conta as especificidades e os anseios da população que pretende atender, pouco contribuem para a justiça social e, por sua vez, para o desenvolvimento socioespacial. Cabe-nos aprofundar esta discussão no sentido, também, de contribuir para diminuir lacunas teóricas e assim poder cooperar com a justiça social. Vale salientar que os conceitos e estudos mencionados ao longo desta análise bibliográfica, de alguma forma contribuem para as reflexões que serão feitas no desenrolar desta tese. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 57 2.2 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL DA TESE No presente item, são retomados os principais conceitos, categorias de análise e variáveis mencionadas da análise da literatura, no sentido da discussão e do diálogo com um referencial teórico-conceitual sobre a temática da tese. Os artifícios econômicos e políticos contribuem para o processo de construção do espaço geográfico o qual é, ao mesmo tempo, usado pelas próprias ações sociais, de maneira que é impossível entendê-lo em sua forma, estrutura e função sem que se leve em conta as suas inter-relações. Em assim sendo, num esforço de apreensão do real, esta tese será desenvolvida mediante as categorias analíticas de forma, função, estrutura e processo, que são úteis para a apreensão do espaço como uma totalidade, em permanente processo de totalização. Isso porque, “o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento”. (SANTOS, 1997, p. 26). Ao mesmo tempo, quando se tem em vista que a reprodução do espaço acontece solidária e contraditoriamente, os sistemas de objetos e de ações, não devem ser considerados isoladamente, mas como um quadro único. Portanto, as categorias analíticas do espaço não devem ser analisadas individualmente, sob o risco de apreender apenas realidades parciais (SANTOS, 1985). Os processos, segundo Santos (1985), estão associados a tempo, mudança e direção, portanto trata-se de ação contínua no espaço e que acontece mediante o espaço, como por exemplo, o uso do espaço local para agricultura seguindo especificidades socioterritoriais dos agricultores (horizontalidades), as ações dos poderes públicos sobre a atividade agrícola (verticalidades). Nesse sentido é que a forma e a estrutura são partes de uma totalidade em que a forma corresponde aos objetos e ao seu arranjo ordenado (áreas agrícolas, rodovias etc.), a estrutura corresponde às inter-relações de todas essas partes articuladas num todo, e a função diz respeito ao papel da forma e da estrutura na dinâmica do espaço produzido (circulação da produção, dos insumos etc.). Portanto, ao analisar o Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 58 espaço como conjunto indissociável de dois sistemas, é preciso, antes de tudo, entender a natureza conceitual e filosófica desse espaço. Pensar o espaço de maneira sistêmica remete-nos à ideia de que nada acontece por acaso, ou naturalmente, isto é, que há organização e inter-relação entre todos os elementos, ou variáveis que compõem o sistema, gerando o que Demo (1995) chama de retroalimentação entre as partes. O que, por sua vez, apresenta especificidades do todo. Acerca deste aspecto, Demo (Ibidem) fala de um ciclo sistêmico baseado na recíproca entre os elementos, como se pode ver representado no esquema da figura 8.1. Figura 1.2 – Esquema básico do ciclo sistêmico ESQUEMA BÁSICO DO CICLO SISTÊMICO INPUT CONVERSÃO OUTPUT FEEDBACK Fonte: Demo, 1995, p. 208. Observando o esquema básico do ciclo sistêmico, pode-se considerar que a entrada (input), a conversão, a saída (output) e a devolutiva (feedback) significam processo, que associado à função geram forma e estruturas. No caso dos subespaços que são discutidos neste trabalho, a abordagem sistêmica, ou seja, a visão de que há um conjunto de elementos que compõem o espaço, é relevante na medida em que ele não é estático, mas dinâmico em seu processo contínuo de reprodução. Exemplos destas dinâmicas já foram abordados na primeira subseção deste capítulo 1 e serão retomados ao longo da tese. Depois de observado o método de análise espacial, é importante que se destaquem os eixos temáticos, ou seja, as categorias teóricas e/ou variáveis que são as bases para o desenvolvimento da pesquisa: AU, AP e políticas públicas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 59 A maior parte dos pesquisadores da agricultura urbana e periurbana considera que seu conceito é multidimensional, perpassando pela sua base produtiva (tipo de produtos, função econômica) e sua localização (intra ou periurbana). Mougeot (2000, p. 05) define AU como [...] a praticada dentro (intra-urbana) ou na periferia (periurbana) dos centros urbanos (sejam eles pequenas localidades, cidades ou até megalópoles), onde cultiva, produz, cria, processa e distribui uma variedade de produtos alimentícios e não alimentícios, (re)utiliza largamente os recursos humanos e materiais e os produtos e serviços encontrados dentro e em torno da área urbana, e, por sua vez, oferece recursos humanos e materiais, produtos e serviços para essa mesma área urbana. Por outro lado, este mesmo autor afirma que a localização não é o fator mais determinante para se definir agricultura urbana, mas o da integração da AU e da AP ao ecossistema9 urbano. Ao mesmo tempo, a hibridez é uma característica fundamental da AP, ainda mais evidente do que da AU. Isso ocorre ao mesmo tempo em que torna a questão mais complexa, no que tange aos aspectos teóricos e filosóficos da natureza deste tipo de agricultura, manifesta caminhos que tornam sua interpretação prática ainda mais confusa. Assim sendo, faz-se mister que sejam traçados paralelos entre os dois tipos de agricultura que estão sendo abordados neste trabalho. Portanto, tornaremos a tratar deste assunto no capítulo 2, no sentido de aprofundarmos o debate utilizando-nos de dados empíricos das nossas áreas de estudo. O outro eixo teórico que embasa a tese é o que se refere às políticas públicas (public policies), entendidas aqui, em linhas gerais, como orientações para decisões e ações no sentido de resolverem problemas públicos10. Segundo Secchi (2010), em países de língua latina, como no caso do Brasil, é preciso esclarecer a diferença 9 O que Mougeot (2000) chama de “ecossistema urbano”, abrange os sistemas econômico e ecológico urbano. Para este autor, este elemento é decisivo para distinguir agricultura urbana da rural. 10 Muitas das definições de políticas públicas focam na solução de problemas públicos. O que é alvo de críticas dos que afirmam que este “olhar” sobre as políticas públicas desconsidera o embate de interesses e ideias, deixando de lado o que realmente conduz as decisões do governo. Contudo, como afirma C. Souza (2007, p. 69) “definições de políticas públicas, mesmo que minimalistas, guiam o nosso olhar para o lócus onde os embates em torno de interesses, preferências e ideias se desenvolvem, isto é os governos. Apesar de optar por abordagens diferentes, as definições de políticas públicas assumem, em geral, uma visão holística do tema, uma perspectiva de que o todo é mais importante do que a soma das partes e que indivíduos, instituições, interações, ideologia e interesses contam, mesmo que existam diferenças sobre a importância relativa desses fatores”. Em assim sendo, acreditamos que uma conceituação de política pública, como a de Sechi (2010), a qual abarca as orientações que conduzem as decisões de um governo no sentido de resolver problemas sociais é útil para sua análise. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 60 entre os termos da língua inglesa politics e policy. O primeiro está relacionado ao exercício do poder, portanto, relacionando com as atividades políticas, enquanto que policy remete a orientações para decisão e ação. Assim sendo, políticas públicas (public policy) “tratam do conteúdo concreto e do conteúdo simbólico de decisões políticas, e do processo de construção e atuação dessas decisões” (SECCHI, ibidem, p. 18). Portanto, possui intencionalidade e resposta aos problemas públicos. Ainda no que tange às políticas públicas, faz-se mister abordar a questão referente à sua análise e avaliação. Para Sechi (2010), as maiores dificuldades na avaliação das políticas públicas dizem respeito aos recursos de informações precisas, tanto de dados como de objetivos da própria política; a dificuldade em identificar os efeitos externos à política (ações de outros agentes não diretos); resistência dos próprios avaliados e tempo de maturação da política. Daí a relevância de um método híbrido, ou seja, método técnico-científico. No âmbito técnico, comumente, as avaliações são realizadas pelos agentes públicos da realização da própria política. No âmbito da academia, as análises são realizadas a partir de pressupostos teórico-metodológicos em busca da verdade (ALVES, 2005). Em assim sendo, essas temáticas, também, serão retomadas no capítulo 2 desta tese. A opção por não aprofundar a temática no momento, dá-se pelo intuito de não acontecerem repetições. Para o desenvolvimento da presente pesquisa, os caminhos procedimentais tomados para a operacionalização estão apresentados em duas partes na tese. Na primeira, são mostradas as linhas gerais da pesquisa. A segunda parte, que trata da operacionalização detalhada por capítulo da tese, está apresentada nos próprios capítulos. Isto, no sentido de expor a metodologia específica de maneira mais aproximada possível das especificidades teóricas, metodológicas e empíricas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 61 2.3 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA TESE A pesquisa possui caráter explicativo, partindo do empírico. Em sendo assim, o problema de pesquisa foi elaborado mediante identificação de problema púbico, com base empírica. A pesquisa está baseada, também, nos conceitos e categorias de análise dispostos no referencial teórico supracitado, e em procedimentos metodológicos com perspectiva da análise qualitativa, para evitar análise puramente de dados estatísticos. Por conseguinte, foram feitas descrições dos processos no/da produção do espaço (situações e ambientes) nos âmbitos institucional, cotidiano, ou seja, social, sugeridos por Flick (2009). Os resultados apresentados a partir dessa abordagem correspondem à forma, à função, à estrutura mencionadas por Santos (1985). Os dados coletados são interpretados, por vezes, recorrendo a métodos hermenêuticos11, no sentido de tornar clara a interpretação geral do trabalho. A este método Flick (2009) chama de “método da triangulação”, pois que articula diversos métodos qualitativos e quantitativos, dando-lhes igual relevância. Portanto, para a realização dos objetivos propostos, o trabalho está divido em três fases: a primeira, de aprofundamentos teórico-metodológicos; a segunda, com ênfase trabalho empírico; e a terceira consta das análises e discussões. 1ª Fase – Aprofundamento – fase em que se buscou aprofundar discussões e reavaliações dos conceitos e categorias teóricas, fazendo reavaliação das categorias empíricas, bem como a seleção das variáveis necessárias para identificar o quadro socioespacial dos agricultores. Para o desenvolvimento desta fase, fez-se, simultaneamente, leituras teóricas e coleta de dados secundários, bem como análises da implementação dos projetos de apoio à agricultura urbana em Recife e os desdobramentos das ações do governo no que tange aos agricultores periurbanos em Vitória. Trata-se, portanto, de uma fase relativamente exploratória, mas que forneceu subsídios para a execução das demais fases. As categorias analíticas que foram aprofundadas estão expostas no quadro 1.2. 11 Segundo Demo (1995), a hermenêutica é a metodologia que mais se deve aplicar para interpretar textos e comunicação humana, uma vez que ela explora o sentido oculto dos textos revelando o que há no contexto. Portanto, é um método que atenta para o que está nas entrelinhas, o que é muito útil nas análises das entrevistas realizadas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 62 Quadro 1.2 – Categorias teóricas e empíricas Categorias aprofundadas teórica e empiricamente na tese Teóricas Empíricas Leituras convergentes Questões formuladas Agricultura urbana (AU); Agricultura periurbana (AP); Relação urbano-rural; Relação AU e AP na gestão territorial; Políticas públicas (public policy); Políticas públicas e poder local – verticalidades e horizontalidades. Relação sociedade (agricultor) e poder público; Relação poder público e espaço (da agricultura urbana); Relação poder público e espaço (da agricultura periurbana). Fonte: elaborado pelo autor deste trabalho. Nesta fase, fez-se levantamento das estratégias de uso do espaço pelo Estado e pelos grupos sociais envolvidos com a agricultura urbana e a periurbana, bem como sua distribuição no território. Assim, esboçou-se o quadro socioespacial dos bairros onde se encontram as hortas comunitárias, no caso de Recife, bem como nas 4 áreas do espaço periurbano em Vitória. O esboço, para Recife, foi feito mediante as informações disponíveis no Atlas de Desenvolvimento Humano no Recife (RECIFE, 2005). Para os casos de Recife e de Vitória, nos dados disponibilizados pelo IBGE (Censos Demográficos de 2000 e 2010, Censo Agropecuário de 2006, e outros sistemas de dados do IBGE) e no banco de dados do ZAPE (SILVA et al., 2001), bem como nos demais que foram sendo encontrados (sítios na internet, documentos disponibilizados nas secretarias das prefeituras e nas ONGs etc.). Para a elaboração dos dois quadros socioespaciais, abordou-se os seguintes aspectos: população urbana e rural, educação, renda, habitação, vulnerabilidade, reforma agrária e situação mediante os zoneamentos, etc. Dados primários foram coletados a partir dos trabalhos de campo, realizados entre 2005 e 2012. 2ª Fase – Ênfase no trabalho empírico – com base nas discussões e no aprofundamento das categorias supracitadas, bem como na análise dos dados secundários coletados e no acompanhamento da execução do projeto da Prefeitura (especificamente para os casos em Recife). Ainda no que tange ao caso específico do Recife, a coleta de dados primários foi realizada entre os anos de 2005 a 2012, Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 63 mediante a aplicação de questionários e realização de entrevistas, para identificar a situação dos agricultores em relação ao perfil socioespacial coletado na fase anterior da pesquisa. Foram entrevistados agricultores, dirigentes das ONGs e gestores do programa de apoio à agricultura urbana. Para os casos da AP em Vitória, realizou-se observação dos desdobramentos das ações do governo, no que tange aos agricultores periurbanos; a realização de entrevistas com agricultores e gestores entre os anos de 2010 a 2012. Com as entrevistas, buscou-se informações mais gerais quanto à realidade socioespacial dos agricultores, as quais foram confrontadas com as informações obtidas através dos questionários, nos caso da AU em Recife, e com os dados fornecidos pelas agências públicas, tanto em Recife, como em Vitória. Estes procedimentos foram perseguidos no sentido de diminuir ruídos de comunicação, para que as informações, por parte dos entrevistados, fluíssem com o menor “ruído” de comunicação possível. Segundo Gonçalves (1996), uma das formas de se tomar informações mais facilmente e de forma mais fidedigna com a realidade, é necessário estabelecer relação de confiança entre o entrevistado e o entrevistador. Daí a escolha pela realização de visitas nas diversas hortas, em Recife, e nos assentamentos em Vitória, para, posteriormente, realizar as entrevistas com os agricultores. Ainda nesta etapa foram confeccionados e revistos os mapas temáticos, empregando-se levantamento aerofotogramétrico, utilizando-se do programa eletrônico Google Earth, disponível na rede de Internet. Os mapas foram plotados, utilizando-se do software arcgis/arcmap 9.2. 3ª Fase – Análise e discussão dos Resultados – nesta fase, foram aprofundadas as análises dos dados, bem como dos resultados, considerando as relações empíricas do objeto com o referencial teórico. Fizeram-se, também, discussões dos resultados e a redação final da tese. A figura 2.2 mostra, esquematicamente, os procedimentos metodológicos gerais adotados para a realização da pesquisa. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 64 Figura 2.2 – Esquema dos procedimentos metodológicos Fonte: elaborado pelo autor deste trabalho. No momento de transição entre as fases 1 e 2 foi feita a reavaliação do projeto de pesquisa para o exame de qualificação. Os resultados dessa reavaliação contribuíram significativamente para os rumos definitivos da tese. Vale salientar que as etapas não são fechadas, de maneira que foram constantemente revistos os resultados obtidos em cada uma delas. 2.3 DISCUTINDO CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Considerando que as políticas públicas devem culminar em justiça social, a sua análise deve abarcar também a sua avaliação. Sobre a análise de política pública, Souza, C. (2006) lembra que, em meados do século XX, nos Estados Unidos, com a valorização da tecnocracia como ferramenta para enfrentar as consequências da Guerra Fria, evidenciou-se a necessidade de entender como e por que os governos optam por determinadas ações e não por outras. Na academia, passou-se a preocupar-se com a ação dos governos e, na Europa, a ênfase maior dada aos estudos das políticas públicas baseia-se nas explicações teóricas do papel do Estado. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 65 A esse respeito, Dagnino (2002) destaca três posturas: a policy orientation, que sugere que a preocupação do analista seja mais direcionada à “análise da determinação da política” (postura normativa) do que à “análise do conteúdo da política” (postura descritiva); a do “político”, interessado em Análise de Política na medida em que lhe permite aumentar sua influência política; e a do “empreendedor” interessado em usar a Análise de Política para influenciar a política. Contudo, sabe-se que não há análises totalmente neutras, desprovidas de valores, pois a pesquisa é sempre influenciada pelos valores do analista (DEMO, 1995). Desse modo, não se deve perder de vista que a análise de política pública envolve tanto a melhoria do entendimento acerca da política e do processo, como prescrições visando a melhores políticas (DAGNINO, 2002). Quanto aos tipos de análise de políticas públicas, Idem (ibidem) ainda fala de sete perspectivas de trabalho, dependendo dos objetivos, perspectiva ideológica, etc., que são: (i) estudo do conteúdo das políticas, (ii) estudo da elaboração das políticas, (iii) estudo do resultado das políticas, (iv) avaliação de políticas, (v) informação para elaboração de políticas, (vi) defesa do processo de elaboração da política e (vii) defesa de política. Nesta perspectiva é que, numa análise do rebatimento das políticas públicas em dado espaço, deve-se levar em conta as ações dos diferentes agentes: Estado e governo, capital e sociedade, procurando-se, identificar, efetivamente, a amplitude do papel de cada um desses agentes no processo de desenvolvimento socioespacial. Isso, tanto quando se está em processo de elaboração, execução e/ou acompanhamento das políticas públicas, quanto quando o objetivo é apenas analisá-las numa perspectiva teórica, visto que os diferentes interesses são expressos mediante relações de poder existentes em cada território. Desta feita, a aplicabilidade das políticas públicas é sempre evidente, ou seja, analisar política pública remete-nos primordialmente a buscar entender o seu papel e como se dá o seu processo na economia e na sociedade como um todo. Nesta perspectiva, Souza, C. (2006, p. 26) afirma que, independente da definição que se tome de política pública, estas Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 66 [...] guiam o nosso olhar para o lócus onde os embates em torno de interesses, preferências e idéias se desenvolvem, isto é, os governos. Apesar de optar por abordagens diferentes, as definições de políticas públicas assumem, em geral, uma visão holística do tema, uma perspectiva de que o todo é mais importante do que a soma das partes e que indivíduos, instituições, interações, ideologia e interesses contam, mesmo que existam diferenças sobre a importância relativa destes fatores. Se esses fatores forem considerados isoladamente, a análise será insuficiente, não contribuindo, efetivamente, para a solução de problemas da sociedade. Assim, mesmo que os governos sejam, a priori, os formuladores das políticas públicas, outros atores sociais, tais como os grupos de interesse e os movimentos sociais, também devem participar desta atividade. Esta perspectiva é útil à análise aqui proposta, considerando que até o momento não se vislumbram ações de movimentos sociais da parte dos agricultores da AU e da AP, como mostramos na fundamentação da proposta do estudo. Até o momento, o que se percebe é a não existência de movimentos sociais dos agricultores em questão. Pelo que se vê, analisar políticas públicas remete-nos, obrigatoriamente, a entender que os papéis desempenhados pelos agentes tem maior ou menor relevância mediante o modelo adotado por cada governo e grupo social. Figueiredo e Figueiredo (1986) entendem que a análise de uma política pública deve lançar mão da avaliação política e da avaliação da política12. Isso também porque os princípios de bem-estar social, ao mesmo tempo em são argumentos políticos para a formulação de políticas, deve ser o alvo maior da política pública. Especialmente das políticas públicas sociais. No que tange à avaliação de políticas públicas, principalmente nos países periféricos, como é o caso do Brasil, Cardoso e Ribeiro (1998, p. 01) afirmam que é útil na medida em que foca o “problema central [que seria a] incapacidade do Estado cumprir seus objetivos de ampliar o bem-estar geral, principalmente para as camadas mais desfavorecidas da população”. Em assim sendo, a avaliação de políticas públicas é capaz de mostrar os limites da ação do poder público, ao mesmo tempo em que questiona a capacidade de eficiência e eficácia, uma vez que atribui “valor” às ações do Estado. 12 Figueiredo e Figueiredo (2006) afirmam que a avaliação política deve considerar os critérios que fundamentam a política. Portanto, deve preceder a avaliação da política pública. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 67 Destarte, como bem lembra Fernandes (2007), para se avaliar políticas públicas, é preciso buscar entender sua natureza nas dimensões técnico-administrativa, bem como sua natureza política, que envolve processo decisório. O que, por sua vez, condiciona, e é condicionado por expectativas sociais, além do posicionamento ideológico de cada governo. Vale destacar, também, que a maior parte da literatura que trata da avaliação de políticas públicas está voltada ao trabalho do analista, vinculado ao corpo de atores governamentais. Essa avaliação corresponde a uma das fases do ciclo de políticas públicas, quais sejam, segundo Secchi (2010): identificação do problema, formação da agenda, formulação de alternativas, tomada de decisão, implementação, avaliação e extinção. Em trabalhos que visam discutir as políticas públicas de forma holística, as discussões travadas no sentido de contribuir para a análise no âmbito acadêmico são diversas, com contribuições mais ou menos abrangentes, dependendo dos objetivos delimitados nas avaliações. A maior parte dos métodos de avaliação de políticas públicas enquadra-se no ciclo da política, especificamente durante seu monitoramento (parte do processo de implementação da política), ou ex post (posterior à implementação), realizada pelos próprios agentes da realização da política. Por conseguinte, pouco contribui para a análise no âmbito acadêmico, a qual, a priori, deve evitar julgamentos e atribuição de valores deliberados sobre a validade da política pública per se. Assim sendo, esta tese buscou destacar métodos de mais de uma corrente de pensamento, os quais a priori estão voltados para a análise no âmbito da academia. Do ponto de vista metodológico, Cardoso; Ribeiro (1998) resgatam que os aspetos definidos por Dahl (1981 apud CARDOSO; RIBEIRO, 1998), acerca dos valores que devem ser levados em conta para a análise e avaliação de políticas públicas, são: i) a fundamentação da política pública (a natureza da política); ii) o arcabouço institucional que dá suporte à execução (máquina pública, governo); iii) as consequências de sua aplicação (rebatimento socioespacial); e iv) as necessárias adaptações à realidade socioespacial, durante o processo de implementação da política (flexibilidade). Este último item não foge ao problema da valoração, especialmente se o analista não atentar para o princípio da análise normativa mencionada por Souza, C. (2006). Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 68 Por outro lado, Secchi (2010, p. 51), sugere outros cinco critérios de avaliação, quais sejam: i) economicidade – referente ao nível de utilização dos recursos; ii) eficiência econômica – relação entre os recursos utilizados e a produtividade; iii) eficiência administrativa – nível de conformidade entre o executado e o preestabelecido; iv) eficácia – relação entre o proposto e o realizado; e v) equidade – referente à homogeneidade da distribuição dos benefícios. Como observa o autor, “os mecanismos de avaliação ou controle criam referências e permitem uma comparação espacial e temporal do problema e das políticas públicas”. Entretanto, se forem consideradas as avaliações, apenas do ponto de vista dos agentes políticos, corre-se o risco da ineficiência da própria avaliação, principalmente, no âmbito da academia. Cardoso e Ribeiro (1998) sugerem a observação de quatro indicadores, para operacionalização das avaliações de políticas públicas, considerando a questão da valoração: i) eficácia, que corresponde à comparação entre objetivos e metas originalmente propostos e resultados alcançados; ii) eficiência, que corresponde à comparação entre montante de recursos utilizados e resultados alcançados; iii) desempenho, que trata da comparação entre objetivos e metas originalmente e claramente propostos versus pressupostos e valores alternativos (ou seja, metas e objetivos não explícitos); e iv) legitimidade, que significa a possibilidade de exercer a política de modo justo e racional, refletida no reconhecimento por parte da comunidade13 da pertinência da política implantada. Considerando que nem sempre os resultados revelam a eficácia e nem sempre mostram as mudanças reais nas condições de vida da população, as autoras sugerem a avaliação do impacto da política. Para tanto, elas sugerem que se deve considerar a natureza do impacto: i) impacto objetivo (mudanças quantitativas); ii) impacto subjetivo (mudanças de estado de espírito); iii) impacto substantivo (mudanças qualitativas). Ainda sobre a avaliação de políticas públicas, Figueiredo e Figueiredo (1986) defendem que é necessário ter clareza do que vem a ser “avaliação política”, a qual é diferente da “avaliação de política”. Para esses autores a avaliação política é uma 13 Comunidade é aqui entendida como grupo social com identidade, objetivos e interesses comuns. (CASTELLS, 1999). Portanto, comunidade faz parte de um espaço local. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 69 etapa da avaliação de política. A avaliação política tem a ver com a identificação dos critérios que fundamentam a política. Enquanto que na avaliação de política volta-se para o produto e o impacto da política. Para a avaliação das políticas públicas para AU em de Recife, tomou-se como base o roteiro metodológico sugerido por Souza e Leal (s.d.). Vale salientar que o referido roteiro foi testado e discutido, a partir de uma análise prévia do primeiro projeto da Prefeitura (RECIFE, 2004). O roteiro supracitado constitui-se de uma adaptação que as autoras fizeram de Cardoso e Ribeiro (1998), como metodologia para a disciplina Planejamento e Gestão Urbana, ministrada no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU), no Centro de Artes de Comunicação (CAC), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Após realização do pré-teste, foram feitas adaptações, bem como ampliação da metodologia baseada em ideias de Mougeot (2000), dentre outros. Segundo o roteiro Metodológico para Avaliação de Políticas e Experiências de Gestão, Sugerido por Souza e Leal (s.d.), o primeiro aspecto a ser analisado deve considerar o perfil da experiência, pela qual se deve situar a experiência no contexto da administração, suas relações político-institucionais. Posteriormente, deve-se considerar o modelo proposto, ou seja, a engenharia política e princípios do ideário da experiência, observando também as intervenções e as metas quantitativas e qualitativas. Em seguida, deve-se considerar a prática desenvolvida no processo de implementação da experiência, o perfil metodológico, os recursos administrativos, etc. Após o quê, é sugerida a avaliação da experiência, atentando-se para variáveis quantitativas e qualitativas, bem como para os aspectos de custo/benefício em termos socioeconômicos, espaciais e políticos: os resultados e a relação entre o modelo proposto e a práxis política. É nessa parte da avaliação que se considera a eficiência x ineficácia, eficiência x ineficiência, legitimidade e impactos. Segundo este roteiro, é possível avaliar o modelo proposto x a práxis política, analisando inversões de prioridades na aplicação dos recursos; participação e controle social sobre o processo de elaboração e implementação da experiência; conflitos de interesse; sustentabilidade; capacidade de difusão da experiência e modelos comparativos com formatos administrativos e formas de participação similares. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 70 No que tange à análise de políticas públicas, propriamente dita, é preciso reforçar que a presente tese, a partir de uma análise espacial, possui como um dos focos de análise o conteúdo das políticas e sua avaliação. Ao mesmo tempo, a avaliação terá enfoque no destinatário – a população beneficiada. Para tanto, é preciso que se esteja atento às variáveis, categorias analíticas, relações de causalidade, bem como aos contextos socioeconômicos e socioespaciais dos dois municípios em tela: Recife e Vitória de Santo Antão. É preciso considerar, também, as dinâmicas operacionais dos governos, na implementação das políticas públicas. Visto que quando há incoerências intragoverno, por mais que se tenham objetivos bem delimitados, pequenos obstáculos no âmbito dos recursos humanos e/ou operacionais, ou ideológico, etc. bloquearão todo o sistema, impedindo ou enfraquecendo a realização dos objetivos. Se isso acontecer, o real sentido de dada política pública fenecerá, constituindo-se, assim, uma pseudo política, ou até uma não política pública. Ainda sobre a análise de políticas públicas sociais, Figueiredo e Figueiredo (1986, p. 109) lembram que os métodos da pesquisa social são os mais utilizados, uma vez que permitem, a partir da análise dos dados agregados, e da análise do conteúdo da política e seu objetivo e escopo social uma análise ampla que possibilita [...] conexões lógicas entre os objetivos da avaliação, os critérios de avaliação e os modelos analíticos capazes de dar conta da pergunta básica de toda pesquisa de avaliação: a política ou programa social sob observação foi um sucesso ou um fracasso? Em assim sendo, um dos grandes desafios de uma análise de políticas públicas, principalmente das políticas sociais, é o de se obter dados concretos que possibilitem analisar a fundo todos os aspectos da política. Os órgãos governamentais responsáveis pela implementação das políticas, geralmente são “fechados”, dificultando o acesso à informação ao pesquisador externo. Por outro lado, se a análise for feita por pesquisadores internos ao órgão público, corre-se o risco de ser voltada a atender interesses governamentais. Esses dois aspectos, por sua vez, constituem-se em fragilidades para a análise de PPs. Desta feita, as políticas públicas para AU e AP, em Recife e Vitória, são abordadas nesta tese, buscando-se analisar, a partir do espaço socialmente produzido, na Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ perspectiva de compreender como essas políticas contribuem para 71 o desenvolvimento socioespacial. Em assim sendo, os indicadores mencionados serão considerados a partir de variáveis de renda, população urbana e rural, educação, habitação, vulnerabilidade, reforma agrária e situação mediante os zoneamentos, etc. Isto, sem perder de vista os impactos das políticas públicas sociais para o desenvolvimento socioespacial dos grupos sociais envolvidos. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 72 3 AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA: CONCEITOS, DEFINIÇÕES E CONTEXTUALIZAÇÕES [...] o conhecimento só se legitima como mediação para o homem bem conduzir sua existência. É por isso que se diz que seu compromisso é com a construção da cidadania, entendida esta hoje como a única forma descente de sermos plenamente humanos. (SEVERINO, 2002, p.13) No presente capítulo serão retomados os conceitos de agricultura urbana, agricultura periurbana e de políticas públicas no sentido de aprofundar os debates dos conceitos que dão suporte teórico-conceitual à tese. Os procedimentos metodológicos adotados para este capítulo têm como base as leituras convergentes da literatura pertinente ao tema e às reflexões teóricas correlacionadas com a realidade empírica. Trata-se, portanto, de uma “releitura” e atualização das reflexões teóricas e empíricas de parte da dissertação de mestrado já mencionada anteriormente (FERREIRA, 2009), na qual defende-se que a AU tem importante papel na relação rural-urbana, funcionando como elo de complementaridade. Os conceitos de AU e AP são trazidos à tona, como também as teorias da relação rural-urbana e do continuum rural urbano, na perspectiva da análise espacial. Ao mesmo tempo, a agricultura urbana de Recife e a periurbana de Vitória são caracterizadas no sentido de identificar e relacionar as suas especificidades, para então retomar a discussão nas demais seções da tese. Os dados empíricos que darão suporte às análises datam do período de 2005 a 2012, no caso da agricultura urbana de Recife; e de 2010 a 2012, no caso da AP de Vitória de Santo Antão. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 73 3.1 AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA NA PERSPECTIVA DA RELAÇÃO RURAL-URBANA A agricultura e a cidade são conectadas desde seus primórdios. JACOBS (1971) defende que a agricultura nasceu na cidade. Independentemente disso, esta atividade que, a priori, é típica do rural, sempre esteve presente na cidade, como também defendem Boukharaeva et. al. (2005). Isto, de forma complementar, como já defendemos (FERREIRA, 2009). Se um dos mais importantes elementos de delimitação dos espaços rurais sempre foi a predominância das atividades agrícolas, a presença da agricultura praticada nos espaços urbanos e/ou periurbanos mostra que é necessário analisar mais os aspectos atinentes à diferenciação desses espaços. Se por um lado, nas últimas décadas no século XX, os espaços rurais adquiriram plurifuncionalidades (VALE, 2005), as economias urbanas e periurbanas influenciam diretamente os espaços rurais e vice-versa. Munford (1998) mostrou que, nas últimas fases do neolítico, a partir da união de componentes páleo e neolíticos, tevese como resultado uma revolução agrícola. Para este autor, nas aldeolas, há 15 mil anos, já se vislumbrava o abastecimento doméstico por reprodução de mudas e criação de animais. Portanto, os espaços urbanos e rurais, bem como os espaços periurbanos, sempre estiveram e ainda estão inter-relacionados. Desse modo, faz-se necessário debruçar sobre tarefa de entender a AU e a AP, no sentido de contribuir para o debate conceitual, o qual é imprescindível para nortear as pesquisas acadêmicas e as ações dos agentes da reprodução do espaço envolvidos com essa atividade. 3.1.1 Delimitando os conceitos de agricultura urbana e de agricultura periurbana Os debates em torno da conceituação da agricultura urbana e periurbana passam por diversos aspectos que vão desde a localização, até a sua relação com o ecossistema urbano. Desde o final dos anos 1990, diversos estudiosos vem se debruçando sobre o tema (SMIT; RATTA; NASR, 1996, FAO, 1996, MOUGEOT, Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 74 2000), dentre outros. Essas conceituações têm sido úteis, tanto no mundo acadêmico, como nas intervenções a que os poderes públicos se prestam. Uma das definições mais clássicas é a de Smit, Ratta e Nasr (1996). Esses autores ressaltam a perspectiva econômica da AU, na medida em que destacam que essa agricultura existe para atender à demanda dos consumidores urbanos. Por outro lado, nas concepções de instituições como a FAO, RUAF etc. destacam as potencialidades da AU para o combate a fome, segurança alimentar e inclusão social dos citadinos. Ademais, o conceito de AU mais utilizado é o de Mougeot (2000), mesmo que o próprio Mougeot afirme que muito há para se avançar no debate, para que então as definições de AU sejam menos genéricas. Para conceituar a AU, Mougeot (2000) aborda, também, a questão da localização, e ao mesmo tempo a da integração da AU ao ecossistema urbano. Daí a sua maior contribuição ao debate da conceituação desta atividade. A maior parte das reflexões acerca da AU considera a localização como sendo o fator determinante para a diferenciação da agricultura urbana da periurbana. Em assim sendo, a dimensão espacial parece ser a mais útil para essa diferenciação. Contudo, como lembra Mougeot (2000, p. 3), a diferenciação da AU e da AP a partir, apenas, da sua localização espacial pouco contribui para clarificar o conceito de AU ou de AP, porque “Os sítios periurbanos estão em contato mais próximo com as áreas rurais e tendem a sofrer, no decorrer do tempo, mudanças agrícolas mais profundas que os locais mais centrais e as partes construídas da cidade”. Por outro lado, existem outros aspectos que não podem deixar de ser considerados nesse debate. Se a localização é o aspecto mais comumente utilizado para diferenciar a agricultura urbana, da periurbana e da rural, as especificidades territoriais destes espaços podem indicar elementos para a diferenciação dos conceitos, teórica e empiricamente. No sentido da diferenciação desses conceitos (AU e AP), mediante o espaço, as categorias ou dimensões social, econômica, ambiental, política e urbanística são Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 75 úteis. Imbricadas entre si, estas dimensões referem-se ao espaço, portanto à dimensão espacial. No que tange à dimensão social da agricultura urbana e periurbana, pode-se destacar diversas questões como: gênero, inclusão social, saúde, acesso à alimentação por população mais pobre, segurança alimentar, etc. (MONTEIRO, 2002, p. 40). Para essa autora, nos países de capitalismo avançado14 “a AU pode ser uma opção de sustentabilidade, enquanto nos países pobres derivam da necessidade prática da sobrevivência física”. Destaca-se, assim, a integração desta dimensão social aos aspectos econômicos e ambientais, como defendido por Mougeot (2000). No que diz respeito à questão de gênero, na AU, por ser produzida em menor escala que a AP, a mulher geralmente é quem a lidera. Em Recife e Região Metropolitana, a agricultura urbana e periurbana são realizadas sob liderança de mulheres (SOS CORPO, 2007). Nas hortas comunitárias, o papel dos homens resume-se a desempenhar tarefas tidas como pesadas para as mulheres, tais como: construção e manutenção das estruturas dos canteiros, limpa e preparação da terra para o plantio, transporte etc. (FERREIRA, 2009). Por outro lado, as unidades produtivas, como as localizadas nas proximidades do CEASA, são de responsabilidade dos homens. A mão de obra contratada varia conforme o tipo de trabalho. Os homens cuidam geralmente da preparação da terra para o plantio (limpa, aração etc.), colheita e transporte. As mulheres são responsáveis por colheita, alguma irrigação e embalagem. A maior parte das mulheres companheiras dos proprietários das unidades produtivas assume, também, o papel de cuidar da família. Essa mesma divisão do trabalho encontra-se em Vitória de Santo de Antão, cujas unidades produtivas estão localizadas nas áreas periurbanas daquele município. Vale destacar ainda, que tanto a agricultura urbana de Recife localizada às margens das rodovias (FERREIRA, 2009), quanto à agricultura periurbana de Vitória de Santo 14 Países de capitalismo avançado são, na concepção de David Harvey, aqueles cujas relações econômicas capitalistas apresentam-se bastante ampliadas; neste grupo de países estão os desenvolvidos ou centrais. O oposto é chamado de países de capitalismo tardio. O Brasil possui elementos desses dois tipos. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 76 Antão, podem ser classificadas como agricultura familiar. Portanto, as questões referentes à inclusão social, saúde, acesso à alimentação por população mais pobre e segurança alimentar são também integradas às questões econômicas. Do ponto de vista da dimensão econômica, pode-se enfatizar que a AU, principalmente as unidades produtivas coletivas (hortas comunitárias) corresponde a um sistema de comercialização diferente (inovador) do habitual, um sistema produtivo que é profundamente integrado à dinâmica urbana. Por outro lado, os aspectos econômicos são mais evidentes na AU e na AP comerciais. Esses tipos de agricultura podem, muitas vezes, dar respostas às crises de abastecimentos locais, tratando-se, neste sentido, de atividade que permite retorno econômico. Vale destacar que as questões que dizem respeito a esse aspecto da agricultura em tela remetem às demandas de: “desemprego, desigualdade de distribuição de renda e a necessidade de agregação de renda e geração ou manutenção de empregos” (MONTEIRO, 2002, p. 41). Em Recife, as unidades produtivas localizadas às margens das rodovias (FERREIRA, 2009), juntamente com a agricultura periurbana de Vitória de Santo Antão apresentam aspectos de agricultura comercial. Mesmo que as escalas de produção sejam distintas (maior na agricultura periurbana e menor da urbana). Ainda que as hortas comunitárias comercializem parte de sua produção, este não é o seu principal objetivo. Pelo contrário, a produção destina-se primordialmente para o consumo das famílias envolvidas, ONGs, etc. A comercialização dos produtos das hortas comunitárias é realizada nas feiras orgânicas da cidade, objetivando a manutenção das hortas. Contudo, quando o excedente da produção permite lucros que são divididos entre as pessoas envolvidas com a horta. Outra questão no âmbito da dimensão econômica diz respeito ao emprego. Em Recife, a produção realizada nas proximidades do CEASA é voltada para a comercialização. Em sendo assim, a gestão é feita pela figura de um proprietário, o qual contrata mão de obra na medida em que dela necessita. Ao mesmo tempo, em Vitória, a escala de produção é muito maior que em Recife, e a contratação de mão de obra é contínua. São contratados trabalhadores rurais para as diversas atividades como: preparação da terra, plantio, colheita, embalagem, transporte etc. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 77 Os salários pagos aos trabalhadores nos dois espaços em destaque variam entre R$ 150 a R$ 200 semanais. Isto dependendo do tipo de trabalho que será executado. Em Vitória (agricultura periurbana), nas 4 áreas analisadas, trabalham cerca de 300 pessoas. Por outro lado, nas hortas comunitárias, o trabalho é dividido entre os participantes. Portanto, quando necessário, são contratadas pessoas externas apenas para execução de atividades como: instalação de máquinas para irrigação e construção de espaços para criação de animais etc. A tabela 1.3 mostra a quantidade de pessoal ocupado nos estabelecimentos agropecuários em Pernambuco, Recife, Vitória e nos municípios dos seus respectivos entornos. Tabela 1.3 – Recife e Vitória: pessoal ocupado nos estabelecimentos agropecuários (2006) Pessoal ocupado nos estabelecimentos agropecuários (2006) Total Municípios Pernambuco Total Homens Mulheres 944.907 637.581 307.326 Escada 3.484 2.867 617 Glória do Goitá 7.309 4.573 2.736 Jaboatão dos Guararapes 3.061 1.858 1.203 Moreno 3.697 2.893 804 435 307 128 3.694 2.575 1.119 580 507 73 7.998 5.690 2.308 Olinda Pombos Recife Vitória de Santo Antão Fonte: IBGE, 2006. Como se pode ver na tabela 1.3, o número de pessoas ocupadas com atividades agropecuárias em Recife é muito reduzido. Ao serem perguntadas sobre o número reduzido de pessoas envolvidas em hortas comunitárias, as lideranças respondem que há pouco interesse das pessoas porque não há retorno financeiro visível. Isto se constitui de uma questão importante para a própria reprodução da AU, no que tange à dimensão econômica. Os produtos “orgânicos” possuem maior valor de comercialização se comparados aos produtos advindos de produção convencional. Ao que parece, a forma como as hortas comunitárias são geridas é um fator que dificulta o alcance pleno de lucros. Por outro lado, a produção “orgânica” que não é produzida em regime de hortas comunitárias a perspectiva de lucros é maior, como Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 78 é o caso da AP em Vitória. Segundo os gestores da AU em Recife, os fatores que mais instigam as pessoas a continuarem com as hortas comunitárias, reside na oportunidade de produzir e consumir alimentos saudáveis, a ocupação do tempo com trabalho voluntário, o contato com a terra, bem como a recuperação de áreas ambientalmente degradadas. Daí a importância da agricultura para a sustentabilidade urbana e periurbana. No que diz respeito à dimensão ambiental, Goewie et. al. (2002) tratram da agricultura urbana ecológica. Nem toda agricultura urbana é ecológica. Contudo, a maior parte é realizada a partir de princípio da agroecologia 15. Os diversos tipos de agricultura com base ecológica (orgânica, biológica, natural, ecológica, biodinâmica, permacultura etc.), segundo Caporal e Costabeber (2004, p. 07) “são estilos de agricultura menos agressivos ao meio ambiente, capazes de proteger os recursos naturais” e são tipos alternativos à agricultura convencional, ou seja, trata-se de tecnologias inovadoras. Talvez pela escala de produção, é mais difícil encontrar agricultura orgânica nos espaços periurbanos do que nos urbanos. Discorrendo sobre a agricultura ecológica, bem como sobre a sua relação com o espaço urbano, Goewie et. al. (2002, s/n) dizem que: A agricultura ecológica está melhor adaptada que a agricultura convencional para se combinar com outras funções, como atividades de lazer, manejo paisagístico, proteção da biodiversidade, educação dos jovens, regeneração de áreas degradadas, etc. Mesmo que a agricultura urbana ecológica não seja a solução final para a degradação ambiental e para a decadência econômica, nem seja o fim da pobreza, é uma forma positiva e adequada de ver o desenvolvimento (urbano) sustentável, de trabalhar com a natureza, e vale à pena promovê-la ativamente. Aquino e Assis (2007, p. 137) complementam essa ideia defendendo que: [...] a agroecologia é um instrumento importante na implementação de estratégias para viabilizar produções agrícolas em pequena escala sob administração familiar, em função principalmente da baixa dependência de insumos externos dos sistemas de produção preconizados, que procuram manter ou recuperar a paisagem e a biodiversidade dos agroecossistemas. 15 Caporal e Costabeber (2004, p. 07), definindo a Agroecologia “como ciência que estabelece as bases para a construção de estilos de agricultura sustentável e de estratégias de desenvolvimento rural sustentável”, destacam a importância da agricultura com base ecológica, para a sustentabilidade ambiental. Contudo, ressaltam ainda, que simplesmente a substituição de agroquímicos por adubos orgânicos não significa o fim dos impactos ambientais causados pela agricultura. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 79 Outros aspectos que não podem ser desconsiderados, quando se pretende compreender a dimensão ecológica da AU e da AP, dizem respeito à água e ao solo. O uso da água é um fator de extrema relevância para o desenvolvimento ou não da agricultura, visto que sua escassez ou abundância, seu valor elevado ou baixo, sua qualidade razoável ou não, dentre outros fatores, tanto podem facilitar, como podem impedir o seu desenvolvimento, dependendo dos demais fatores locais. Ao mesmo tempo, com o uso de águas residuais na agricultura, os riscos ambientais e à saúde humana são altíssimos, como bem lembram Bradford, Brook e Hunshal (2002). Aquino e Assis (2007) reforçam que há ricos de contaminação do solo, bem como o solo pode já estar contaminado antes que se iniciem os cultivos em determinadas áreas. A figura 1.3 mostra elementos de integração da agricultura urbana e periurbana com o sistema urbano e fluxo de água e uso do solo. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 80 Figura 1.3 – Diagrama do fluxo de água e uso de solo na produção agrícola em áreas urbanas e periurbanas Fonte: Assis e Aquino, 2007, p. 142. Considerando que a agricultura praticada na cidade e em sua interlândia pode ser considerada orgânica, embora esta última seja em maior número convencional, vale destacar o que significa a agricultura orgânica. Para Gowie (2002, s/n), essa agricultura é definida como Um tipo de manejo dos agroecossistemas com a finalidade de obter uma provisão de bens agrícolas suficiente e sustentável, visando prioritariamente os mercados locais. Esse manejo se baseia no respeito, no conhecimento e na responsabilidade com relação à biosfera. Esta perspectiva de agroecossistema é corroborada por Altiere (2004, p. 20), que afirma que um agroecossistema é sustentável na medida em que resulta “do equilíbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos coexistentes”. Isso porque “A produção estável somente pode acontecer no contexto de uma organização social que proteja a integridade dos recursos naturais e Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 81 estimule a interação harmônica entre os seres humanos, o agroecossistema e o ambiente.” (ALTIERI, 2004, p. 27). No caso da AU e AP, a integração aos espaços aos quais estão agregadas precisa ser levada em conta, considerando-se o fato de que, quanto mais urbanizados forem os espaços, maiores desequilíbrios ambientais podem ser constatados. Este mesmo autor ainda acrescenta que a agricultura orgânica responde à demanda social de produção sustentável de alimentos. Esses fatores conduzem ao juízo de que a AU e a AP integram-se ao ecossistema urbano, como defende Mougeot (2000). Contudo, não se pode negar que, ao mesmo tempo em que essa agricultura contribui para a sustentabilidade urbana, se não houver gestão eficiente, ela pode também ser potencializadora de agravamentos dos problemas ambientais urbanos. Analisando os aspectos ecológicos dessa agricultura orgânica urbana ou periurbana, pode-se destacar a combinação de diversos aspectos mencionados por Goewie et. al. (2002), tais como: atividades de lazer, manejo paisagístico, proteção da biodiversidade, educação e regeneração de áreas degradadas. No que tange ao lazer e à educação, grande parte dos/as agricultores/as envolvidos/as nas hortas comunitárias é aposentado/a utilizando parte do tempo livre para manterem contato com a terra, como é o caso da horta orgânica do Lar Fabiano de Cristo. Outra parte é constituída de estudantes de escolas públicas ou privadas que, realizando a agricultura nas escolas, funciona como parte integrante das atividades escolares, portanto acrescenta-se aí a dimensão pedagógica dessa agricultura. Por outro lado, o Centro Educacional Profissionalizante Flau, utiliza a horta como atividade educativa e de lazer para os adolescentes em situação de risco social atendidos por esta ONG. No tocante ao aspecto do manejo paisagístico, há de se destacar que o cultivo associado de fruteiras e canteiros de hortaliças ou fitoterápicos ou plantas ornamentais, possui beleza cênica, além relacionadas ao tempo e ao clima da cidade. Rubio José Ferreira. de contribuir para amenidades Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 82 No que diz respeito à proteção da biodiversidade, a agricultura orgânica, por ser menos agressiva ao meio ambiente, é capaz de proteger os recursos naturais existentes (CAPORAL; COSTABEBER, 2004, p. 07). Este aspecto integra-se ao da regeneração de áreas degradadas. No tocante à regeneração de áreas degradadas a partir da agricultura orgânica, em Recife, pode-se fazer comparação entre a agricultura praticada em hortas orgânicas, a exemplo da do Lar Fabiano de Cristo, e a agricultura praticada nas proximidades do CEASA. No primeiro caso, tem-se uma área de pouco mais de 2000m2 que se constitui do quintal da propriedade do Lar, anteriormente sem utilidade, e que, atualmente, possui uma diversidade de cultivos agrícolas e pecuária, compostagem de lixo orgânico, reciclagem de resíduos sólidos etc. Por outro lado, em áreas do entorno do CEASA, o solo apresenta-se degradado, o cultivo é de poucos produtos, o uso de agrotóxicos e fertilizantes é grande; e se trata de uma área de fluxo intenso de veículos (nó de rodovias). Por isto, ouve-se dos agricultores que, a cada dia, a produção é reduzida porque o solo não é mais capaz de produzir (FERREIRA, 2009), o que evidencia o esgotamento do solo. Ao mesmo tempo, em Vitória de Santo Antão, o processo de produção, por vezes muito se assemelha ao das áreas do entorno do CEASA, especialmente no que tange à negação dos princípios da agroecologia. Como resultado, tem-se áreas ambientalmente degradadas, crescimento exponencial do uso de agrotóxicos e defensivos agrícolas, solos cada vez mais improdutivos, dentre outros. Contudo, não se pode desconsiderar que em algumas áreas em Vitória o cultivo é feito evitando-se o uso de agrotóxicos, para atender a uma demanda específica de grandes supermercados. Nestes casos, o cultivo é monitorado pelas empresas que compram essa produção. A própria relação com a água superficial (rios e córregos) apresenta semelhanças entre os espaços nos quais os princípios da agroecologia são negados. Nas áreas do entorno do CEASA - Recife, a água utilizada para a lavoura vem de poços artesianos, bem como de córregos visivelmente poluídos (Foto 1.2). Ao mesmo tempo, em Vitória, por se tratarem de áreas muito maiores do que essas primeiras, Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 83 os impactos nos dois rios (Natuba e Tapacurá16) são visíveis. Polui-se os rios com fertilizantes e agrotóxicos e, ao mesmo tempo, usa-se água desses rios para irrigação (Fotos 1.3, 2.3 e 3.3). Em períodos de chuvas intensas, as enchentes alagam as áreas de produção, carreando produtos químicos para as áreas de produção. Foto 1.2 – Recife: Trecho de um córrego entre os canteiros de plantio nas áreas do entorno do CEASA/Recife Fonte: Ferreira 2009, p. 111. 16 O rio Natuba insere-se na bacia hidrográfica do rio Tapacurá. Albuquerque (2010), subdivide a microbacia do rio Natuba em 3 partes: alto, médio e baixo. Para este autor o Assentamento Natuba está inserido no Baixo Natuba. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Foto 2.3 – Rio Tapacurá nas proximidades da Vila Natuba Fonte: trabalho de campo. Foto de Aldemir Barbosa em dezembro de 2012. Foto 3.3 – Rio Natuba na área de cultivo de hortaliças em Natuba Fonte: trabalho de campo. Foto de Cássia Pernambuco em dezembro de 2012. Rubio José Ferreira. 84 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 85 Na foto 1.3 que apresenta o córrego e plantas de quiabo, a cor da água é escura, existe lixo flutuando, e pode-se constatar o odor da água típico de canais poluídos de áreas densamente urbanizadas. Um estudo sobre a qualidade da água utilizada na AU em Recife, desenvolvido por Paula; Kato e Florêncio (2003) constata que, embora naquele período, a qualidade físico-química da água usada na irrigação, não apresente riscos de toxidade para as plantas, esta água retorna para o aquífero freático. A foto 2.2, que mostra um trecho do rio Tapacurá, nas proximidades da Vila Natuba, percebe-se a presença de lixo flutuando na água e nas margens do rio. A foto 3.2 mostra parte do rio Natuba onde foi feita escavação para alargamento das margens e tubulações para captação de águas para irrigação. Por outro lado, a utilização de princípios da agroecologia na AU e na AP é uma tendência na atualidade. Os projetos de apoio à AUP são baseados em princípios agroecológicos, o que se torna uma condição sine qua non para que os agricultores sejam contemplados pelos projetos. Ou, ao mesmo tempo, essa é uma condição para que a AUP seja incluída no mercado. As hortas comunitárias urbanas de Recife praticam a agricultura com base nos princípios da agroecologia, as fotos 4.3 e 5.3 mostram exemplos disso no Lar Fabiano de Cristo. Em Vitória, os agricultores que fornecem hortaliças para grandes varejistas também produzem sob esses princípios como forma de valorização da produção “orgânica”, como mostrados nas fotos 6.3 e 7.3. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Foto 4.3 – sementeira “orgânica” no LFC Fonte: trabalho de campo. Foto do autor deste trabalho em agosto de 2012 Foto 5.3 – Horta “orgânica” no LFC Fonte: trabalho de campo. Foto do autor deste trabalho em agosto de 2012. Rubio José Ferreira. 86 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE Foto 6.3 - Sementeira “orgânica” em Natuba Fonte: trabalho de campo. Foto de Cássia Pernambuco em dezembro de 2012. Foto 7.3 - Horta “orgânica” em Natuba Fonte: trabalho de campo. Foto de Cássia Pernambuco em dezembro de 2012. Rubio José Ferreira Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE Ao que parece, para que a AU e a AP possam ser capazes de contribuir positivamente para a sustentabilidade dos ecossistemas urbanos e/ou periurbanos, não se pode deixar de considerar a dimensão ambiental do problema. Até porque, como menciona Mougeot (2000), a integração da agricultura ao ecossistema urbano constitui-se de fator que pode tornar os ambientes urbanos e periurbanos ainda mais degradados. Daí a necessidade de não se perder de vista, também os aspectos políticos dessas atividades. A dimensão política, ou seja, a integração da agricultura às políticas urbanas faz-se importante, na medida em que os aspectos institucionais interagem com o espaço e as suas atividades, dentre as quais a agricultura, permitindo ou entravando o seu desenvolvimento, através de legislação, políticas de desenvolvimento, inclusão social e segurança alimentar etc. No aspecto político, é importante identificar que as políticas públicas são importantes fatores para o desenvolvimento e/ou crescimento da AU e da AP, uma vez que pode ser fonte de recursos afim de que esta atividade contribua para a segurança alimentar, inclusão social etc. Para tanto, é preciso que a agricultura seja contemplada tanto no planejamento, quanto na gestão pública, especialmente, no caso em tela, no planejamento e gestão urbanos. Alguns instrumentos são utilizados para o planejamento e consequentemente gestão urbana. Os instrumentos estão ligados às ações urbanísticas, aos zoneamentos de uso e ocupação do solo e aos índices ou parâmetros reguladores da densidade e forma de ocupação do espaço (SOUZA, M., 2006). Dependendo da forma do uso (político, técnico etc.) que se faz dessas ferramentas, o espaço urbano, bem como o periurbano, são modificados em suas estruturas, podendo-se vislumbrar à concretização ou não de justiça social. Algumas das ferramentas de planejamento e gestão são identificadas em Recife, principalmente as que interferem no uso e ocupação do solo urbano com a AU. Para a implementação de cada um destes instrumentos, busca-se apoio nas ferramentas que traçam os princípios, as diretrizes e os objetivos das políticas urbanas, que são: A Lei Orgânica que foi recentemente reformada em 2007, e o Plano Diretor, também reformado em 2008. Rubio José Ferreira Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 89 Outra ferramenta de gestão e planejamento, em Recife, é o zoneamento urbano que é utilizado desde 1936, quando se dividiu a cidade em 03 zonas. O zoneamento nesta cidade, segundo a Secretaria de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente (RECIFE, 2001) busca atender as mais diversas necessidades, dependendo do órgão que estabelece a divisão. Nesse sentido, as divisões estão classificadas em 03 tipos: divisões pela legislação urbanística, divisão para gestão e administração municipal e divisões para fins de informações. As informações disponibilizadas a partir desses zoneamentos são as mais diversas, abrangendo os mais distintos temas. O zoneamento mais divulgado é o das Regiões Político-Administrativas (RPA’s), o que talvez se justifique, hoje, pelo fato de seu objetivo maior ser o de facilitar a implementação do orçamento participativo. Outros zoneamentos existem na cidade, atendendo os mais diversos propósitos, dentre os quais o de Unidades de Desenvolvimento Humano (UDH), o de Zonas Especiais de Urbanização (ZUP), os ligados aos aspectos físicos ambientais (ZEPA) etc. Como nos últimos tempos, as questões ambientais somadas às questões sociais têm sido foco de diversas discussões e de atenção de planejadores e gestores públicos, sabendo-se que é no espaço urbano que ocorre concentração de diversos tipos objetos, atividades. Em outros aspectos, por ser o núcleo da Região Metropolitana, Recife é mencionada em diversos zoneamentos, dentre eles o das RD’s (Regiões de Desenvolvimento), realizado em 2003 (BRASIL, 2003). Ao mesmo, Vitória de Santo Antão também integra uma das RD’s, mais especificamente a RD Zona Mata Sul. Há várias outras regionalizações ou zoneamentos nos quais Vitória está incluída, destacando-se também o Colar Oeste Metropolitano (CONDEPE/FIDEM, 2010). Este refere-se à crescente industrialização daquele município e à Rodovia BR-232, importantes vetores de urbanização, e, ao mesmo tempo, de fomento às atividades agropecuárias tradicionais. Contudo, em âmbito da gestão urbana municipal de Vitória, não foram encontrados Zoneamentos efetivos para fins de planejamento e gestão. Ao que parece, as ações governamentais daquele município utilizam-se apenas do tradicional zoneamento de área urbana e área rural, como o representado na figura 2.3. Os zoneamentos são úteis ao planejamento, na medida em que funcionam Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 90 como instrumentos de gestão17. Quando um governo abre mão da utilização dessas ferramentas no planejamento das políticas públicas, consequentemente, a gestão dificilmente alcança resultados significativamente positivos. Vale destacar que, embora os zoneamentos e as demais ferramentas de gestão mencionadas por Bremaeker (2001) sejam voltados para o urbano, podem e devem ser utilizados, também, no planejamento municipal como um todo. Em assim sendo, a AU, a AP e AR seriam contempladas num planejamento efetivo. Figura 2.3 – Localização da área de estudos em Vitória de Santo Antão Fonte: elaborado por Antônio Marcos dos Santos, com base em dados de campo. 17 Os instrumentos de gestão mais comuns no Brasil, para Bremaeker (2001), são: Lei de Perímetro Urbano; Código de Posturas; Código de Obras; Lei de Parcelamento do Solo; Lei de Zoneamento e Plano Diretor. Para este autor, esses instrumentos funcionam como mecanismos que regularizam as ações do Estado no que tange à administração, ao planejamento e à gestão urbanos. Trata-se, portanto, de dispositivos legais, construídos com base territorial, com o intuito de regulamentar o uso do espaço urbano pela sociedade, pelo Estado e pelo capital. Vale salientar que, durante o processo de produção do espaço – urbano, periurbano e rural –, novos instrumentos de gestão são criados, na medida em que os territórios vão apresentando necessidades de reformulações e/ou criações de legislação específica, que contribua para a sua gestão. No Brasil, em 1999, os zoneamentos como instrumento de gestão urbana, estavam sendo utilizados em 3,59% dos 5.506 municípios (IBGE, apud BREMAEKER 2001, p. 11) No mesmo período, na Região Nordeste 820, dos 1.787 municípios utilizaram esta ferramenta, dentre os quais Recife, mas não Vitória. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 91 A figura 2.3 mostra a clássica delimitação entre o espaço rural e o espaço urbano em Vitória. Este tipo de zoneamento é útil para diversas atividades da gestão. Contudo, vale salientar que, para determinadas ações do Estado, outros tipos de zoneamentos caracterizam melhor o espaço, o que pode propiciar ações mais efetivas. A figura 2.3 ainda mostra a delimitação da área estudada em Vitória e sua proximidade com a rodovia BR-232 e a área urbana. Vale destacar ainda que o Estado, como importante agente de construção do espaço geográfico, detém poder que contribui para o desenvolvimento ou a eliminação de determinadas atividades sociais, como é o caso da AU e da AP. Contudo, é importante não perder de vista que, quando tratamos da dimensão política da AU e da AP, não podemos nos referir apenas à ação direta do Estado sobre o território, é preciso estar atento também para outros agentes que, para desenvolverem suas funções no espaço, são orientados, manipulados e subsidiados pelo Estado, ao mesmo tempo em que o fazem reciprocamente. O que reforça a importância da dimensão política, bem como da urbanística da AU e da AP. No que diz respeito à dimensão urbanística, observa-se que tanto a forma urbana quanto a sua dinâmica interferem grandemente na agricultura produzida na cidade e na sua interlândia. Isto porque as condições socioambientais são fatores importantes para o desenvolvimento da agricultura urbana e periurbana. A dimensão urbanística remete, também, ao fator da localização da agricultura, se no espaço intra ou periurbano. É preciso identificar o que significa urbano, periurbano e rural. Sobre o urbano, Dollfus (1991) mostra que a identificação de espaços urbanos, em todo o mundo, baseia-se em certos números de dados, mas não se pode perder de vista a situação (posição) e o sítio de cada cidade. Isto porque, a densidade, o sítio, a localização, a função e a organização de cada cidade refletem a organização social que é vista na paisagem, principalmente quando se olha internamente para a cidade (intraurbano) com seus bairros compondo uma totalidade. Em suas próprias palavras: [...] a cidade revela em seus diversos elementos espaciais os contrastes econômicos e a ventilação sócio-profissional de seus habitantes. Entretanto, cada categoria, cada grupo localizado num bairro da cidade grande tem uma percepção própria do espaço urbano, seus itinerários e seus contatos sociológicos. (DOLFUSS, 1991, p. 91). Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 92 Desta feita, é preciso atentar, também, para a organização social da cidade, e as relações com seu entorno (região), sem perder de vista a sua heterogeneidade funcional, visto que em cada subespaço intraurbano as peculiaridades locais influenciam e são influenciadas por seus moradores. As relações sociais de produção na cidade acontecem de maneiras distintas das relações no campo. Contudo, não se pode negar que, embora na cidade esteja o maior desenvolvimento técnico, este surge exatamente do resultado da evolução técnica da agricultura, que passou a produzir excedentes. Por isso, as diferenças entre campo e cidade iniciam-se baseadas nas relações de trabalho e se expandem para os demais aspectos, tanto no meio urbano quanto no rural, diversificando suas funcionalidades. Sobre essa temática trataremos mais adiante. 3.1.1.1 A dimensão espacial como elemento essencial para a diferenciação da agricultura urbana, da periurbana e da rural Sendo a agricultura uma atividade social, os seus processos sociais mediante o uso do espaço geográfico, devem ser destacados também para a conceituação de sua diferenciação (urbana, periurbana e rural). Como já dito, para Santos (1985), o espaço acha-se em constante processo de totalização, ou seja, de construção social. Nesse processo, as formas, funções e estruturas espaciais são reconfiguradas, de acordo com as ações da sociedade vigente. Mougeot (2000) atenta para o fato de que todos os aspectos referidos à AU e à AP funcionam imbricadamente. A dimensão espacial mostra esta integração, de maneira que, quando se busca conhecê-la, não se pode negligenciar nenhum destes aspectos. Senão, corre-se o risco de entendê-la parcialmente, o que pode levar a conclusões que não condizem com a realidade. O esquema apresentado na figura 3.3 mostra, didaticamente, que os aspectos da AU e da AP funcionam integradamente, considerando o espaço urbano e/ou periurbano como parte de um todo dinâmico. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 93 Figura 3.3 – Agricultura urbana: dimensões Integradas Fonte: adaptado pelo autor deste trabalho com base em Mougeot, 2000. Tomando ainda como base Mougeot (2000), que aponta seis fatores principais que devem ser observados na AU, o quadro 1.2 mostra as diferenças entre a AU e a AP. As diferenças entre a AU e a AP, apresentadas no quadro 1.3, dizem respeito a 4 dos 6 fatores analisados, que são: localização, o mais evidente porque cada tipo de espaço possui suas características peculiares; tipos de áreas utilizadas, na AP são muito próximas do local de residências mas, não no próprio local de residência como na AU; tipos de produtos, os quais na AP são mais diversificados; e destinação dos produtos, que na AU são voltadas também para trocas (valorizando a solidariedade e a dimensão pedagógica), enquanto o da AP geralmente são comercializados. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 94 Quadro 1.3 – Fatores da agricultura urbana e da agricultura periurbana Fatores da agricultura urbana, da agricultura periurbana e da agricultura rural Fator Agricultura Urbana Agricultura Periurbana Agricultura Rural Tipo de atividade econômica Base produtiva que inclui processamento e comercialização. Espaço urbano Áreas cedidas, arrendadas, próprio local de residências etc. Áreas pequenas se comparadas com as áreas disponíveis nos espaços periurbanos e rurais. Escala reduzida se comparada com a agricultura periurbana. Base produtiva que inclui processamento e comercialização. Espaço periurbano Áreas cedidas, arrendadas, áreas muito próximas ao local de residências etc. Áreas grandes se comparadas com a AU e pequenas se comparadas com a AR. Base produtiva que inclui processamento e comercialização. Espaço rural Áreas próprias ou arrendadas. Áreas grandes se comparadas com a AU e AP. Escala reduzida se comparada com a agricultura rural, mas aumentada se comparada com a agricultura urbana. Preponderantemente hortaliças, fitoterápicos, frutas etc. criação de animais de pequeno porte. Geralmente autoconsumo e/ou trocas, por vezes comercialização ou as três coisas ao mesmo tempo. Hortaliças, fitoterápicos, flores, frutas, silvicultura etc. criação de animais de pequeno, médio ou grande porte. Geralmente comercialização, autoconsumo, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Grande, média e pequena escala. A escala produção no espaço rural é muito mais vinculada à capacidade econômica do produtor, do que ao quantitativo de área disponível. Geralmente, produtos básicos (grãos), criação de animais de pequeno, médio ou grande porte. Localização Tipos de áreas utilizadas Sistema e escala de produção Tipos de produtos Destinação de produtos Geralmente autoconsumo (principalmente a agricultura familiar), municipal, regional e/ou ou para exportação. A destinação dos produtos, neste caso, varia dependendo do tipo e escala. Fonte: elaborado pelo autor deste trabalho, com base em Mougeot, 2000 e Covarrubias 2010. Quando se atenta para o tipo de atividade econômica, há de se levar em conta que, na base produtiva da agricultura, tanto da urbana quanto da rural e da periurbana, inclui-se também o processamento, a comercialização e a interação entre estas fases. Portanto, também este elemento, se analisado individualmente, é incapaz de contribuir para a definição da AU ou AP e para a sua operacionalização, o que por Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 95 sua vez repercute nas políticas públicas voltadas para o desenvolvimento dessa atividade. Quanto à localização, não se pode perder de vista a diferenciação da agricultura produzida em espaços intraurbanos daquela produzida em áreas periurbanas, pelo menos no que tange a alguns aspectos, dentre os quais se destaca a escala de produção, que nas áreas periurbanas é maior do que nos espaços intraurbanos. Esse fator não pode ser analisado individualmente, uma vez que a localização interfere no tipo de área utilizada e vice-versa. No que tange ao tipo de área utilizada para a produção, a AU pode ser realizada em áreas cedidas, arrendadas ou no próprio local da residência do agricultor etc. Ao mesmo tempo, a AP é realizada em sua maioria em terras próprias dos agricultores, ou que estão em processo de reforma agrária. Em assim sendo, pode-se encontrar agricultura urbana sendo produzida em diversos espaços tais como: margens de rodovias e avenidas, entornos de reservas florestais, manguezais, ilhas urbanas, margens de rios e reservatórios de água, dependências de residências, jardins, escolas, praças, associações de moradores, asilos etc. Por outro lado a agricultura periurbana é praticada em áreas de contato do rural com urbano. As escalas de produção da AU são reduzidas, em sua maioria, se comparadas às escalas de produção da AR e da AP. Mas isto não quer dizer que esta relativa redução seja incapaz de permitir sua sustentabilidade, ou seja, sua reprodução e comercialização. No que tange aos sistemas de produção, tanto na AU, quanto na AP estes também são variados, definindo os tipos de produtos dos quais os mais comuns são os alimentos para consumo humano ou animal, bem como flores e plantas ornamentais e fitoterápicos. Na análise desta dimensão é importante atentar para sua integração, sobretudo, com o tipo de atividade econômica e com o tipo e a destinação dos produtos. No que tange ao tipo e à destinação desses produtos, tanto a AU, quanto a AP acham-se representadas por necessidades do próprio autoconsumo, ou da comercialização, ou das duas situações ao mesmo tempo. Portanto, esta dimensão acha-se agregada, Rubio José Ferreira. sobretudo, ao sistema e à escala de produção e, Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 96 consequentemente, ao tipo de área utilizada. Tornaremos a tratar desse assunto no capítulo 3 da tese, quando caracterizamos a AU em Recife e a AP em Vitória. Vale relembrar que esses fatores acontecem integrados ao sistema econômico e ecológico urbano (MOUGEOT, 2000). Portanto, os princípios defendidos por Mougeot (ibidem) são úteis para a compreensão da AU, o mesmo é válido para AP. Desta feita, faremos a relação entre os princípios da AU mencionados por Mougeot (2000), no sentido de identificar as semelhanças e diferenças existentes entre a AU e a AP: o princípio da integração da agricultura urbana com o ecossistema urbano e o da agricultura periurbana ao ecossistema periurbano; o princípio da sistemática, ou seja, o tamanho e a complexidade (mais, ou menos intensiva) da agricultura, dependendo do tamanho do espaço urbano ou periurbano; e o princípio do crescimento do tipo intensivo da agricultura urbana ou periurbana. Esses princípios são úteis na diferenciação entre a agricultura urbana e a periurbana, na medida em que permitem identificar as especificidades e as semelhanças entre os dois tipos de agricultura. Cabe saber se essas especificidades estão sendo consideradas pelo planejamento, associado à gestão do território. E, consequentemente, nas políticas públicas. Desta feita, é imprescindível que se leve em conta as especificidades de cada espaço, bem como o seu tipo, ou seja, qual AU e qual AP pretende-se analisar. Seja no âmbito acadêmico, ou no da elaboração de ações da gestão púbica. Até porque, vale reforçar que o espaço geográfico não é homogêneo, e, portanto, cada subespaço possui as suas peculiaridades. Em assim sendo, fica claro que, para se entender AU e a AP, é necessário que não se perca de vista as suas especificidades espaciais, uma vez que, embora apresente alguns aspectos semelhantes à prática de Agricultura Rural 18 (AR), elas 18 O termo “agricultura rural” é uma denominação utilizada por diversos autores no sentido de diferenciar a agricultura produzida do espaço rural da agricultura produzida no espaço urbano e no Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 97 possuem peculiaridades não apenas no que tange à sua localização – espaços urbanos e/ou periurbanos –, mas também, como lembra Mougeot (2000), principalmente porque elas acontecem integradas intrinsecamente ao sistema econômico e ecológico urbano e periurbano; o que nos remete à complexidade desses espaços. É importante ressaltar que, dos elementos citados anteriormente, o da localização parece claramente mais contundente para a diferenciação da agricultura urbana e da periurbana com relação à agricultura rural. Isso reforça a importância do espaço como fator para a diferenciação da agricultura. Outrossim, é preciso destacar “o princípio da integração ao sistema econômico e ecológico urbano” desta atividade, para que, assim, se possa avançar numa definição mais sólida da agricultura urbana. Como mostra Mougeot (2000, p. 05): A característica principal da agricultura urbana, que a distingue decisivamente da agricultura rural, é sua integração no sistema econômico e ecológico urbano (que será chamado, a seguir, de “ecossistema” urbano). [...] Não é a localização, urbana, que distingue a AU da agricultura rural, e sim o fato de que ela está integrada e interage com o ecossistema urbano. Essa integração com o ecossistema urbano não é captada na maioria das definições do conceito de AU, e menos ainda é desenvolvida em termos operacionais. Ainda que a natureza das concentrações urbanas e de seus sistemas de abastecimento de alimentos tenha mudado, a necessidade da AU de interagir adequadamente com o resto da cidade, por um lado, e com produção rural e as importações, por outro, continua sendo tão decisiva hoje como era há milhões de anos. Ainda no que tange à conexão da agricultura urbana ao ecossistema urbano, ao qual se acrescenta o ecossistema periurbano, Mougeot (2000) destaca que este princípio de integração remete a três situações, dependo do tipo de relação entre o rural e o urbano, e, conforme for variando as circunstâncias, as três situações se destacam ao mesmo tempo. As situações que levam a reconhecer os três princípios acima referidos relacionamse com seis fatores que são, segundo Mougeot (ibidem): manejo do solo urbano, sistemas urbanos de abastecimento de alimentos, desenvolvimento urbano periurbano, tornando mais clara a discussão do conceito de agricultura urbana e de agricultura periurbana. Embora as atividades, em sua essência, sejam a mesma – preponderantemente o cultivo de vegetais ou a criação de animais –, elas possuem elementos diferenciadores como o texto tenta mostrar. Outros estudiosos preferem chamar “campos urbanos” ou “lavouras urbanas” ao que aqui chamamos de “agricultura urbana”. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 98 sustentável, segurança alimentar, estratégias de sobrevivência urbana e agricultura rural, como mostrado na figura 4.3. Figura 4.3 – Agricultura urbana: fatores de integração/relação socio-econômico-espacial Fonte: adaptado pelo autor deste trabalho com base em Mougeot, 2000. Ao que parece, o princípio da integração contribui significativamente para a diferenciação da AU com a AP. A primeira integra-se ao sistema urbano, e a segunda ao espaço periurbano. Sobre a definição de espaço periurbano, diz Turnowski (1992, s/d): “O espaço periurbano tem existência própria e se organiza desde/por/para a cidade, mas não é a cidade”. Existe uma diversidade em termos de interpretações quanto aos conceitos de AU e de AP com relação à realidade das próprias atividades; tanto que Mougeot (2000) afirma ainda ser preciso decodificar os aspectos conceituais do vínculo entre o tipo de agricultura e o ecossistema urbano e periurbano, para se poder avançar teórica e operacionalmente. Por isto, é imprescindível que se leve em conta as especificidades de cada espaço, bem como o tipo, ou seja, qual agricultura se pretende analisar, uma vez que o espaço geográfico não é homogêneo, mas uma instância social. Desta feita, é preciso que se faça distinção entre a AU e a AP, pelo menos no que tange aos aspectos conceituais, visto que se tratam de espaços distintos. E como lembra Vale (2005), mesmo que haja semelhanças entre os espaços urbanos e periurbanos, é Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 99 preciso que cada espaço seja entendido como o é na realidade. O mesmo se aplica à AU e a AP, na medida em que elas são atividades sociais, e, como tais, são diferentes no espaço geográfico. Isso ocorre ao mesmo tempo em que torna a questão mais complexa, no que tange aos aspectos teóricos e filosóficos da natureza deste tipo de agricultura, manifesta caminhos que tornam sua interpretação prática ainda mais confusa. Uma vez que a agricultura é uma atividade social que abrange cultivo, produção, processamento de produtos alimentícios ou não alimentícios e circulação, o seu grau de integração aos ecossistemas periurbano ou urbano contribui significativamente para sua conceituação. Isto considerando que a AU disponibiliza recursos humanos e materiais do, para e por meio do espaço urbano; e a AP do, para e por meio do periurbano. Daí, portanto, a ideia de que a diferenciação entre essas suas agriculturas são evidentes apenas quando se observa a partir do espaço geográfico. Tanto a AU quanto a AP apresentam potencialidades para o desenvolvimento socioespacial, sobretudo quando são consideradas as suas dimensões social, econômica, ambiental, urbanística e política. O quadro 2.3 mostra algumas dessas potencialidades em ambos os tipos de agricultura. No tocante aos tipos de cultura/criação, ou seja, quanto à atividade, são encontrados basicamente os mesmos, tanto na AU, quanto AP. O que diferencia os tipos produzidos em cada cidade ou área periurbana, geralmente, diz respeito às condições físico-geográficas, bem como aos hábitos alimentares de cada região. A figura 5.3 mostra, esquematicamente, os tipos produtos da AU e da AP. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 100 Quadro 2.3 – Potencialidade da AU e da AP para desenvolvimento socioespacial Potencialidades da AU e da AP para desenvolvimento socioespacial Dimensão Social Econômica Ambiental (ecológica) Urbanística Política Potencialidades Segurança alimentar - produção de alimentos frescos e saudáveis e produção de plantas medicinais. Fortalecimento de laços de solidariedade - produção coletiva (comunitária) ou familiar; troca de experiências e produtos; doação de produtos; fortalecimento da identidade e da autoestima dos agricultores. Geração de ocupação e renda. Oportunidade de emprego. Investimento inicial de recursos financeiros relativamente baixo se comparado com outras atividades. O investimento é baixo quando se considera a área ocupada para produção. Proximidade com o mercado, proporcionando menor custo da produção e menor concorrência. Pouca exigência de qualificação profissional – esta é uma evidência de que a AU é uma atividade socialmente pertinente, visto que pode atender a uma mão de obra disponível e relativamente de poucos custos. Reciclagem de material orgânico Reutilização de água Menor incidência de desgaste do solo Redução de processos erosivos Ocupação de espaços ociosos. Ferramenta de inclusão social Ferramenta de proteção social Diminuição de desigualdades sociais Demanda social clara e objetiva Necessidade de poucos técnicos para desenvolvimento de projetos Fonte: adaptado pelo autor deste trabalho com base em Mougeot, 2000. Para cada um do tipos de cultura/criação apresentados na figura 5.2 é preciso que haja elementos suficientes para sua existência: solo, água, adubo etc. Enfim, como qualquer atividade econômica, a AU e AP tornam-se mais complexas na medida em que aumenta a sua escala de produção mediante a disponibilidade de recursos para sua realização. Daí a importância, também, da dimensão econômica desta agricultura. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 101 Figura 5.3 – Agricultura urbana e periurbana: tipos de cultura/criação Fonte: Ferreira, 2009, p. 56. Segundo Santardeu; Lovo (2007), a AU e a AP são praticadas nos perímetros urbanos e nos espaços periurbanos dos municípios, principalmente em áreas doadas, arrendadas, terrenos vazios, etc. Como se pode ver no quadro 3.3, esses tipos de áreas utilizadas para AU e AP são comuns em Recife e em Vitória. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 102 Quadro 3.3 – Tipos de áreas utilizadas para prática da AU e AP no Brasil Tipos áreas possíveis para serem utilizadas para AU e AP no Brasil, em Recife e em Vitória de Santo Antão Tipologia Espaços Em Recife Em Vitória característicos Espaços Privados Lotes vagos, terrenos Lotes vagos, Lotes vagos; Áreas baldios particulares ou terrenos baldios periurbanas; Áreas com dúvidas sobre a particulares ou com verdes em conjuntos propriedade; Lajes ou dúvidas sobre a habitacionais. pátios; Áreas propriedade; Lajes periurbanas; Áreas ou pátios; Áreas verdes em conjuntos verdes em conjuntos habitacionais. habitacionais. Espaços Públicos Terrenos de propriedade municipal, estadual e federal com espaços possíveis de utilização de acordo com a caracterização feita nas linhas abaixo: Verdes Urbanos Praças e parques. Praças e parques. Áreas próximas à cidade. Institucionais Escolas e creches; Escolas e creches; Escolas e creches. Postos de saúde; Postos de saúde; Hospitais; Presídios; Hospitais; Presídios; Edifícios públicos e Edifícios públicos e privados. privados. Não Edificáveis Laterais de vias Laterais de estradas Laterais de estradas férreas; Laterais de e avenidas; Margens e avenidas; Margens estradas e avenidas; de cursos d’água; de cursos d’água; Margens de cursos Áreas inundáveis; Áreas inundáveis. d’água; Áreas Faixa sob linhas de inundáveis; alta tensão; Faixa sob linhas de Ambientes aquáticos alta tensão; Ambientes (rios e lagoas). aquáticos (rios e lagoas). Unidades de Áreas de proteção Áreas de proteção Áreas de proteção Conservação ambiental; ambiental; Reservas ambiental; Reservas Reservas ecológicas; ecológicas; Outras ecológicas; Outras Outras unidades unidades desde que unidades desde que desde que seja seja permitido o seja permitido o permitido o manejo e manejo e uso de manejo e uso de uso de potencialidades. potencialidades potencialidades. Fonte: elaborado pelo autor deste trabalho com base em Santardeu e Lovo, 2007, p. 13, bem como dados coletados em campo. Outro aspecto da AU e da AP que não pode ser negligenciado é o da sua dimensão familiar, o qual se manifesta, mais claramente, na medida em que se considera a integração das dimensões econômica, social e política de ambos os tipos de agricultura. Isto porque o espaço urbano e o periurbano também são utilizados para realização da agricultura, mediante a qual a família desempenha papel importante no âmbito geral das relações sociais de produção. Destarte, é preciso saber quais Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 103 são os elementos da agricultura urbana que revelam a sua dimensão familiar, ou seja, a maneira como é organizada essa atividade sob os princípios da Agricultura Familiar. No âmbito do debate em torno das formas sociais de produção da agricultura, destacam-se diversos aspectos, tais como: a superioridade das grandes explorações sobre as pequenas, da grande eficiência do trabalho familiar sobre o assalariado, da hegemonia das unidades individuais sobre as formas coletivas, etc. Assim sendo, essa discussão traz à tona, também, temas como o da agricultura familiar, uma forma social de produção que está presente nos espaços urbanos, rurais e periurbanos. A maior parte das discussões acerca do conceito de agricultura familiar possui base na Sociologia Rural e na Economia. Campos do conhecimento científico que evidenciou a dimensão social da produção agrícola, defendendo- a não como sinônimo de pobreza e nem de sistema arcaico como já foi aventado e mesmo afirmado. A literatura a respeito da agricultura familiar é vasta e grande parte dos textos mais recentes defende que, para se entendê-la, é preciso que se atente para questões ecológicas, sociais, políticas e econômicas da atividade humana. No Brasil, há duas principais vertentes do pensamento sobre a agricultura familiar. Uma delas que considera que a agricultura familiar moderna é gerada a partir das transformações experimentadas pelas sociedades capitalistas e que, portanto, para entendê-la, é preciso que se atente para diversos traços característicos do desenvolvimento agrícola, como mostra Abramoway (1997). Uma outra defende que a agricultura familiar brasileira, em seu processo evolutivo, com significativas raízes históricas vividas pelo agricultor familiar moderno, não representa ruptura definitiva com formas anteriores; mas, pelo contrário, mantém uma tradição camponesa que fortalece sua capacidade de adaptação às novas exigências da sociedade. Portanto, Wanderley (1997) destaca que, nesta perspectiva, o conceito de agricultura familiar é genérico e abrange múltiplas situações. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 104 Independentemente da corrente de pensamento que se adote, alguns pressupostos são sempre seguidos, inteira ou parcialmente, quando se pretende entender a agricultura familiar na atualidade. Estes pressupostos são características básicas identificadas por Gasson; Erigton (1993), que definem a agricultura familiar mediante os seguintes aspectos: a) a gestão é feita pelos proprietários; b) os responsáveis pelo empreendimento estão ligados entre si, por laços de parentesco; c) o trabalho é fundamentalmente familiar; d) o capital utilizado pertence à família; e) o patrimônio e os ativos são objetos de transferência intergeracional, no interior da família; f) os membros da família vivem na unidade produtiva. Abramoway (1997) ainda acrescenta que é preciso atentar para o tamanho e a capacidade geradora de renda das unidades produtivas, e que os aspectos “d”, “e” e “f” podem apresentar-se com diferenças, dependendo da realidade econômica, social e política de cada espaço. Em qualquer que seja o país, independentemente do seu sistema político-econômico e social, esta forma de produção particular mostra significativa capacidade em termos de permanência e adaptação às novas conjunturas. Na perspectiva de que a agricultura familiar é uma categoria genérica, Wanderley (1996) aponta cinco traços identificados por Henri Mendras, os quais mostram a agricultura campesina como uma das formas de agricultura familiar: Henri Mendras identifica cinco traços característicos das sociedades camponesas, a saber: uma relativa autonomia face à sociedade global; a importância estrutural dos grupos domésticos, um sistema econômico de autarcia relativa, uma sociedade de interconhecimentos e a função decisiva dos mediadores entre a sociedade local e a sociedade global. (WANDERLEY, 1997, p. 02). Desta feita, Wanderley (ibidem) acrescenta que a referida autonomia é demográfica, social e econômica. Por isto, no intuito de atender às necessidades domésticas e à reprodução das famílias pelas gerações subsequentes, decorrem duas características: a especificidade do sistema de produção e a centralidade da Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 105 constituição do patrimônio familiar. A mesma autora destaca que a agricultura familiar pode ser identificada quando se leva em conta a diversidade do sistema agrícola (policultura), a garantia da sobrevivência das gerações, a relativa autonomia das sociedades rurais e o intercâmbio de conhecimentos. O que se quer dizer com esse aspecto familiar da agricultura em tela, não consiste em que os agricultores da AUP são camponeses, no sentido strictu sensu, mas apenas destacar que independentemente da localização que a agricultura é produzida, aspectos como os supramencionados podem estar presentes. Se no século XIX as relações no campo tinham essa forma e estrutura, com o processo de transformações socioespaciais, mediante as necessidades do próprio sistema capitalista, o que se vê atualmente é o fluente intercâmbio de conhecimentos entre os próprios agricultores rurais, urbanos e periurbanos, como se pode constatar em eventos como exposições de animais, feiras de conhecimento dentre outros, realizados em diversas grandes cidades. Nos casos estudados em Recife e em Vitória, os agricultores não participam como expositores em eventos como os de exposição de animais, mas participam de feiras agroecológicas. O que não deixa de ser um espaço de intercâmbio de conhecimentos. Neste caso, acrescentamos que não apenas a agricultura produzida no espaço rural, ou seja, não é apenas o agricultor campesino que apresenta estas características. A agricultura urbana e a periurbana também são formas sociais em que aqueles aspectos também podem fazer-se presentes. 3.1.2 A Agricultura urbana e periurbana e a relação rural-urbana A presença de aspectos típicos do rural no urbano e vice-versa são elementos que aproximam estas formas espaciais, parecendo ser uma realidade que se tem tornado cada vez mais comum, em todo o mundo. Assim, quando se pretende pensar as relações rural-urbanas, na atualidade, não se deve perder de vista que as dinâmicas socioespaciais são dialéticas e solidárias. Portanto, o continuum urbanorural é cada vez mais evidente tornando a fronteira entre os espaços rurais e urbanos muito tênue. Daí a necessidade de se ter clareza do que significa cada um Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 106 desses espaços, as suas formas, as suas estruturas e as suas funções. Assim, poder-se-á apreender os processos de suas diferenciações e, por conseguinte, a importância da agricultura neles produzida. Nos dias atuais, principalmente nos países de capitalismo avançado e nas áreas mais dinâmicas dos países periféricos de capitalismo tardio19, são agregadas aos espaços rurais outras funções além daquelas ligadas à produção agrícola, rompendo-se com o relativo isolamento das populações rurais. Assim, o campo abriga também atividades para repouso, lazer, preservação de modos de vida e costumes, tornando-se multifuncional. Na verdade, tratar do espaço rural vai além de simplesmente tomá-lo como espaço da agricultura. A interação sociedade-natureza ultrapassa os limites da morfologia, abrangendo a dimensão cultural que perpassa a unidade cidade-campo. Do ponto de vista econômico e social, o espaço rural integra-se ao urbano na medida em que o rural define-se como um modo particular de utilização do espaço e da vida social (KAISER, 1990 p. 13). Portanto, os aspectos espaciais deste espaço são moldados de acordo com o modo capitalista de produção, cuja matriz é urbana. Isto quer dizer que seu caráter fundamental reside no fato de pertencer a um conjunto territorial cujo comando pertence ao urbano, formando um continuum de dois espaços (o rural e o urbano). Singer (1975), aponta que a origem das cidades e do urbano é baseada na capacidade humana de produzir excedentes, permitindo assim a composição de uma classe social que pudesse viver aglomerada e dedicada a outras atividades que não seja a da produção de alimentos. Portanto, trata-se de uma “inovação da técnica” (SINGER, idem, p. 15). Nessa ótica, o urbano seria o centro da produção não agrícola. Contudo, não são todas as atividades urbanas que estão ligadas ao setor terciário da economia (comércio, serviços etc.). Um dos aspectos da constituição da cidade refere-se ao que concerne à sua dimensão política, ou seja, à legal, a qual no Brasil, define cidade através do 19 Para David Harvey, países de capitalismo tardio são aqueles cujas relações econômicas apresentam-se atrofiadas ou pouco ampliadas; neste grupo de países estão os periféricos subdesenvolvidos e em desenvolvimento (ou emergentes). O oposto compreende os países de capitalismo avançado, ou centrais. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 107 Decreto-Lei nº 311/1938. No que tange às mudanças territoriais provenientes da urbanização e, portanto, do ponto de vista da gestão do território, o IBGE diz que a cidade é constituída pela área urbana do município, isto é, o local onde está sediada a prefeitura do município cujo perímetro urbano deve ser estabelecido por lei municipal, como mostra Girard (2008), independentemente do número de habitantes. Vê-se aí que, no Brasil, o aspecto administrativo, na delimitação do espaço urbano, não pode ser subtraído, mas somado aos aspectos sociais, funcionais e físicos. A esse respeito, Abramoway (2000) e Veiga (2004) chamam a atenção para questões decorrentes da identificação de espaço urbano, apoiado apenas em critérios político-econômicos, levando a uma visão de rural como espaço atrasado e ultrapassado, ideia que segundo Wanderley (2001), como já dissemos, está longe da realidade brasileira. Outro entrave para a delimitação, do ponto de vista apenas administrativo, do que é urbano e do que é rural, no Brasil, diz respeito a pouca harmonia no que tange aos instrumentos de gestão urbana (Bremaeker, 2001). Estes instrumentos, na maioria das vezes, são efetivados na gestão territorial, utilizando-se de critérios político-econômicos com vistas ao aprimoramento da arrecadação de impostos como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), inclusive em áreas de chácaras próximas à cidade. É preciso estar atento para a organização social da cidade, e para as relações com seu entorno, sem perder de vista a sua heterogeneidade funcional, visto que em cada subespaço intraurbano as peculiaridades locais influenciam e são influenciadas por seus moradores. Esta influência social ocorre tanto no âmbito do urbano quanto no do rural e do periurbano, sendo que, na cidade, o número de indivíduos habitantes por área é muito mais denso do que no campo. Portanto, mesmo numa análise do espaço intraurbano, ou seja, de áreas e não de redes urbanas, levando-se em conta os processos construtivos destes espaços, não se pode deixar de lado o conteúdo e a forma do espaço da fronteira entre o rural e o urbano, ou seja, o espaço periurbano. Isto também porque o espaço geográfico deve ser entendido em sua totalidade e em processo de totalização. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 108 Mesmo que a tendência da urbanização seja de uma lógica homogeneizadora, as cidades e, porque não dizer, os espaços de fronteira urbano-rurais são produtos singulares, ou seja, particulares, que devem ser vistos em sua complexidade e conexidade ao mesmo tempo. Uma vez que o espaço é resultado de processo contínuo, nele vão surgindo elementos como, por exemplo, a ampliação da conexão entre o campo e a cidade, advindo do desenvolvimento do meio técnico-científico-informacional que para Santos (2004), abarca tanto o rural quanto o urbano, dinamizando-os. Assim, as relações sociais de produção na cidade acontecem de maneiras distintas das relações no campo. Entretanto, não se pode negar que, embora na cidade esteja o maior desenvolvimento técnico, este surge exatamente do resultado da evolução técnica da agricultura, que passou a produzir excedentes. Por isso as diferenças entre campo e cidade iniciam-se baseadas nas relações de trabalho e se expandem para os demais aspectos, tanto no meio urbano quanto no rural, diversificando suas funcionalidades. O que torna pouco clara a definição/delimitação do rural/urbano na cidade não é apenas o crescimento urbano intensificado a partir da segunda metade do século XX ou a expansão dos limites urbanos, mas a dissolução dos conceitos tradicionais de cidade e campo. Freitas; Couto (2007) afirmam que entender o espaço como um híbrido permite explicar por que existem no espaço urbano elementos típicos do rural e vice-versa. Sabe-se que, ao processo de industrialização no Brasil, intensificado, sobretudo, na década de 1970, seguiu-se uma intensa urbanização, inclusive do ponto de vista do contingente populacional e da área urbanizada. Os gráficos 1.3 e 2.3, bem como, a tabela 2.3, mostram o crescimento da população urbana no Brasil, na Região Nordeste e em Pernambuco, nas últimas décadas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Gráfico 1.3 – Brasil: população por situação de domicílio 1940 – 2010 Fonte: IBGE, 2010. Disponível em: http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_urbaniza%C3%A7%C3%A3o.pdf Acesso em: 10/01/13. Gráfico 2.3 – Nordeste: urbanização entre 1940 e 2007 Fonte: IBGE, 2012. Disponível em: <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=POP122>. Acesso em 10/01/13. Rubio José Ferreira. 109 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 110 Tabela 2.3 – Pernambuco: população residente por situação de domicílio – 2000 - 2010 Pernambuco - População residente por situação do domicílio Variável X Ano Situação do domicílio População residente (Pessoas) População residente (Percentual) 2000 2010 2000 2010 Total 7.918.344 8.796.448 100,00 100,00 Urbana 6.058.249 7.052.210 76,51 80,17 Rural 1.860.095 1.744.238 23,49 19,83 Fonte: IBGE, 2012. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=202&z=t&o=4&i=P. Acesso em 10/01/13. Outro aspecto importante do crescimento da população urbana diz respeito a migrações rural-urbanas. As migrações no Brasil tornaram-se mais intensas a partir da década de 1950 e são responsáveis pela caracterização atual de diversos lugares. Por isso, contribuem inclusive para a diferenciação dos espaços urbanos ou rurais, como também contribuem para a dinâmica do espaço denominado periurbano, como afirmam Turnowski (1992), Roca (2004), Vale (2005) e outros. Vale (2007) diz que o “espaço periurbano é uma das muitas denominações utilizadas para designar o espaço rural no entorno sobre o qual se expandem as cidades” (VALE, 2007, p. 05). Ou seja, trata-se de um espaço cuja natureza é essencialmente híbrida de rural e urbano. Para vários estudiosos desta temática, o espaço periurbano, em princípio, é caracterizado por suas múltiplas funcionalidades, como mostra Vale (2005), motivado principalmente por estar localizado na fronteira entre o urbano e o rural, sendo a faixa de limite entre os espaços urbano (perímetro urbano20) e rural. Estes espaços, portanto, são híbridos de rural e urbano, principalmente no que tange às relações sociais. Assim, do ponto de vista morfológico, podem apresentar paisagens rurais não agrícolas e/ou elementos tipicamente urbanos em meio rural. Na busca por uma denominação precisa sobre o espaço periurbano, Vale (ibidem) cita as denominações pelas quais também se tentaram apreender o processo. A primeira é a de franja urbana, defendida por Smith em 1937; outras denominações, 20 Perímetro urbano, ou limite urbano. No Brasil, cabe aos municípios delimitá-los, para efeitos urbanísticos e de tributos. Os perímetros urbanos devem ser caracterizados pela presença de edificações e aglomeração de pessoas e atividades urbanas. É este perímetro que indica o limite oficial entre as áreas urbanas e rurais. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 111 que também já foram dadas a esses lugares, são as seguintes: franja rururbana e franja rurbana, dentre outras. Do ponto de vista clássico, espaços periurbanos são aquelas áreas situadas entre as periferias das metrópoles e as zonas rurais propriamente ditas. Segundo Turnowski (1992), cabe a este espaço a função de integrador e beneficiário da relação entre os dois meios (rural e urbano). Trata-se, portanto, de espaços plurifuncionais, como destacam Vale (2004) e Franca et al. (2005), podendo ser utilizados tanto para agricultura quanto para atividades de lazer e outras, sem, contudo, perder suas particularidades, “ele tem existência própria e se organiza desde/por/para a cidade, mas não é a cidade” (TURNOWSKI, 1992). Isto porque ele possui dinâmica própria (VALE, 2007, p. 01). Apesar de estarem localizados nas proximidades das cidades, os espaços periurbanos, do ponto de vista da paisagem, apresentam aspectos predominantemente rurais. Contudo, nem é espaço rural nem urbano. As áreas periurbanas são áreas de transição entre o campo e a cidade, portanto, nelas são encontradas tanto atividades rurais quanto urbanas. Contudo, o uso do solo, geralmente, é regido por instrumentos de gestão urbana. Daí a necessidade de se procurar entender este espaço, uma vez que este é, por excelência, um ponto de transição rural-urbana. A relação urbano-rural, ainda passa pela questão da relação de poder entre os seus agentes, como afirma Rua (2005). Isto porque o uso e a “apropriação” da terra são fundamentais no processo de produção desses espaços. A esse respeito, Lefèbvre (1978), baseado em Marx, dizia que a terra produz rendas diferenciais, conforme seu uso e condicionamentos naturais, de mercado e vias de comunicação. O uso da terra, segundo Lefèbvre (ibidem), é um dos fatores de influência da produção do espaço social, quer seja urbano ou rural. No bojo das discussões acerca do processo de urbanização, da capitalização do espaço rural etc., mediante a globalização do capitalismo vigente, são notórios os estudos que tratam das relações rural-urbanas, em razão da visibilidade das mudanças nestas relações, como mostra Veiga (2007), tanto do ponto de vista Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 112 econômico, quanto social, político e ambiental, repercutindo fortemente no processo contínuo de produção do espaço geográfico. Diante destas mudanças, desde o século passado, buscou-se desenvolver teorias que explicassem as relações rural-urbanas. Mediante o estreitamento das fronteiras entre o campo e a cidade, exacerbado na década de 1970, surgiram duas matrizes teóricas, que são antagônicas no que tange às suas hipóteses. Numa, defendida por Lefèbvre (1978), privilegia-se o polo urbano, enquanto na outra, defendida por Kayser (1990), privilegiam-se os valores rurais. Atualmente, debate-se a interrelação desses dois polos, constituindo um continuum rural-urbano. 3.1.2.1 As teorias do continuum rural-urbano A teoria do continuum rural-urbano representa um ponto em comum entre as duas visões supracitadas, ou seja, rompe-se com a ideia da dicotomia e busca-se explicar, a partir de polos diferentes, que há uma continuidade no que tange às relações sociais e econômicas dos dois espaços – o rural e o urbano – no sentido da valorização, talvez pouco demonstrada, do princípio da totalidade do espaço geográfico. A partir de uma visão centrada no urbano, Lefèbvre (1978) defendia a teoria da completa urbanização, mediante a qual o espaço rural “esvaziar-se-ia” com o crescimento urbano, já que se acreditava no urbano como fonte do progresso, o que levaria ao domínio do urbano sobre o rural. Quanto à hipótese do renascimento rural, Kayser (1996) tomava como base a ideia de que existe uma relativa aproximação e integração dos dois polos antagônicos – o rural e o urbano, formando um continuum espacial, com elementos inerentes aos dois espaços. Este continuum aconteceria tanto no que diz respeito às atividades econômicas, quanto no que tange ao modo de vida e às posições sociais (WANDERLEY, 2001). Esta hipótese está fundamentada também numa outra ideia defendida por Karl Marx quando este falou que “o desenvolvimento econômico da pequena propriedade Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 113 camponesa, ou seja, rural, modificou radicalmente a relação dos camponeses em relação às demais classes sociais” (MARX, 1987, p. 131). Que seja, o capitalismo destrói as formas de produção anteriores (a forma da pequena produção rural) porque o capitalismo agrário toma o lugar da pequena produção devido ao mercado capitalizado. O que ocorria no mundo, no que tange à interação urbano-rural sob a expansão capitalista, nas décadas de 1970-80, influenciou grandemente na proposição de Kayser e claro na de Lefèbvre também. Quanto ao renascimento do rural, Veiga (2004) chama a atenção para o fato de que no referido período havia, na maioria dos países de capitalismo avançado, uma tendência demográfica oposta ao denominado êxodo rural. Atualmente, o campo não tem sido esvaziado do ponto de vista demográfico. Pelo contrário, alguns dos movimentos migratórios têm sido do espaço urbano para o rural, tanto de pessoas quanto de capitais. Portanto, o continuum hoje é cada vez mais evidenciado, sem, contudo, haver uma preponderância nem do urbano sobre o rural nem do rural sobre o urbano. Desta feita, parece coerente que: Na atual etapa da globalização, a ruralidade dos países avançados não desapareceu, nem renasceu, fazendo com que as duas hipóteses fossem ao mesmo tempo parcialmente verificadas e refutadas, o que leva à formulação de uma terceira: o mais completo triunfo da urbanidade engendra a valorização de uma ruralidade que não está renascendo, e sim nascendo. (VEIGA, 2004, p. 58) (Grifo do nosso). É preciso, portanto, compreender a “ruralidade” dinâmica dos nossos dias. Isto porque, atualmente, utilizar apenas as classificações sustentadas em atividades econômicas ou morfológicas para delimitar as diferenciações entre os espaços urbanos e rurais tornou-se uma premissa insuficiente. Nesta perspectiva, Kayser (1996) já não fala mais de um renascimento rural, mas, de novas ruralidades. Ainda mais porque a expansão do modo de viver urbano, baseado no modo de produção capitalista vigente, com todas as características de uma sociedade pós-moderna, sugerida por Castells (1999) e discutida por Harvey (2002), vem alcançando o campo com o processo de modernização agrícola e com a idealização do rural. É por isto que, atualmente, as fronteiras entre os espaços rurais e urbanos tornaramse cada vez mais imprecisas. Abramoway (2000) aponta restrições no sentido da Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 114 nítida separação entre esses espaços, uma vez que a classificação oficial é definida na intenção de arrecadação fiscal, o que contribui para uma interpretação deficiente do espaço, quando se menospreza a dimensão geográfica, social e cultural, baseando-se apenas em aspectos econômicos. Donde geralmente se traduz o rural como atrasado e o urbano como o moderno e próspero (ABRAMOWAY, 2000). Assim sendo, Carneiro (1998) diz que o novo conceito de ruralidade está em processo de construção, uma vez que características comuns ao modo de viver urbano também chegaram ao campo, sem, contudo, descaracterizá-lo. Diante de uma ruralidade que se renova e de uma urbanidade que, também, se encontra cada vez mais autêntica, percebe-se que é preciso entender em que medida a relação urbano-rural deve ser vista como um processo dialético e complementar. Portanto, o papel da AU e da AP, neste processo integrativo da relação urbano-rural. Os espaços urbano e rural sempre funcionaram, e ainda funcionam, complementando-se um ao outro. Esta complementaridade existe, na medida em que o processo de reprodução de cada um destes espaços acontece de maneira conexa, ou seja, ambos funcionam de forma associada, mantendo relativa vinculação entre si. Nesse sentido, o processo de globalização vigente, atualmente, no mundo, é um fator que, em certa medida, acentua esta complementaridade. Não estamos aqui falando de complementaridade rural-urbana no sentido de harmonia e equidade de exploração entre ambos os meios. Até porque, como mostra Corrêa (1994), já houve uma ruptura deste equilíbrio desde que a sociedade primitiva perdeu sua estrutura igualitária, baseada em laços de parentesco, suscitando novas formas de propriedade, nova divisão social do trabalho, classes sociais, produção de excedentes e novas formas socioespaciais deste modo de produção, a cidade. O sistema urbano, desde seus primórdios, é baseado na exploração do campo, desde o momento em que os citadinos começaram a extrair do campo os excedentes alimentares que garantem sua existência e a reprodução do sistema social urbano. A exploração da cidade sobre o campo, nesta perspectiva, é Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 115 notadamente dialética, entendo-se o processo a partir da lógica capitalista, ou seja, desde o período da acumulação primitiva do capital. Para explicar tal tese, Corrêa (1994) diz que a exploração da cidade sobre o campo e da grande cidade sobre a região vem se tornando, a cada dia, mais exacerbada, fruto dos fatores de uma exploração que ocorre em ciclos. No 1º ciclo, a cidade remove do campo, via emigração campo-cidade; comercialização da produção rural, drenagem da renda fundiária; e no 2º ciclo a cidade exporta para o campo, via investimentos e capitais; distribuição de bens e serviços e difusão de valores e ideias (CORRÊA, 1994, p. 55). Nesta perspectiva, é evidente que a cidade sempre se opôs ao campo e quis e quer tê-lo sob seu jugo, no sentido de explorá-lo como fornecedor (de matéria-prima etc. a preços inferiores aos praticados na cidade); e, ao mesmo tempo, como consumidor dos seus bens, serviços, valores e ideias. Sendo assim, a tese da complementaridade seria apenas uma ideologia, como diz Corrêa (1994). Contudo, não se pode, pois, mais pensar o espaço rural e o espaço urbano como isolados, ou dicotômicos. Atualmente, há de se pensar numa relação complementar, ou seja, um continuum. Mesmo que no capitalismo não possa haver uma total homogeneização espacial, Abramoway (2000) mostra que há lugares, no Brasil e no mundo, em que o espaço rural é mais capitalizado que as cidades dos seus entornos. Não se pode esquecer que todo o desenvolvimento tem uma base territorial e que o espaço rural também é dotado de capital social, além de todos os outros fatores que, juntos, são capazes de promover desenvolvimento dos territórios, como defendem Abramoway (ibidem) e Veiga (2002 e 2004). Nesse sentido, a agricultura urbana, segundo Mougeot (2000, p. 05), “complementa a agricultura rural em termos de autoconsumo, fluxos de comercialização e fluxos de abastecimento do mercado”, pode-se assim pensar em complementaridade entre o rural e o urbano. Pensar o rural como atrasado, descapitalizado e apenas espaço de abastecimento do urbano, é uma ideia que precisa ser revista, não apenas por economistas, mas também por geógrafos. É preciso que atentemos para as dimensões, às vezes pouco claras, das relações rural-urbanas e isto será muito mais profícuo do que nos Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 116 limitarmos a defender a hegemonia de um ou de outro polo submetendo outra área à sua hegemonia. Portanto, falar em complementaridades rural-urbanas não significa, necessariamente, discorrer sobre equidade da “troca de recursos” entre os espaços; mas também é fazer referência à interação entre estruturas, funções e formas espaciais, e é nesse sentido que acredita-se haver, processualmente, complementaridade entre o rural e o urbano, quer seja, também, entre a agricultura e a cidade. Em assim sendo, a diferenciação entre agricultura urbana e agricultura periurbana apenas faz sentido quando se objetiva ações, por parte da gestão, que necessitem considerar as especificidades espaciais locais. Isto, também, porque a própria ideia de continuum rural-urbano evidencia a integração, ou complementaridade estes os espaços. 3.1.3 Contextualizando a agricultura urbana e periurbana no Brasil Nos últimos anos, ficaram evidentes as mudanças ocorridas no espaço mundial, tanto no que diz respeito aos arranjos dos objetos espaciais, quanto à organização social. Nesse sentido, Sábato (1993) mostrou que o dinheiro e a razão, elementos que alicerçaram as engrenagens do mundo atual, permitiram ao homem superar o naturalismo em busca de maior produção, transformando a massa humana em máquina. Isto acontece sob a égide do sistema capitalista de produção, que é guiado pela busca do crescimento econômico a todo custo e apoiado na exploração do trabalho, com o propósito principal de produzir um espaço, como diz Harvey (2002), voltado, sobretudo, aos interesses da acumulação de capital. Deste modo, o espaço urbano estimula fluxos de pessoas, mercadorias, informações, comunicação e capital, induzindo, como diz Santos (2004), à formação de um complexo de relações inter-humanas, exercidas territorialmente em um lugar, cujo principal propósito tem sido o da acumulação de capital, mesmo que à custa do bem-estar das pessoas. A agricultura urbana, bem como a periurbana vêm sendo moldadas de acordo com esse propósito, sob um processo de globalização que é contraditório porque, como mostra Bauman (2001), faz com que a cidade perca sua Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 117 essência de civilidade, criando territórios cada vez mais “ilhados”. No entanto, não se pode esquecer de que este processo é dialético, portanto ao mesmo tempo em que a agricultura é moldada segundo o modo urbano, ela também participa dessa “modelagem”. Em diversos países do mundo, em função da visibilidade que a agricultura urbana e a periurbana vem adquirindo, por estarem cada vez mais presente nos espaços das cidades e do seu entorno, elas também vem sendo consideradas nas agendas do planejamento dos Poderes Públicos e das entidades não governamentais, como já foi dito. O que há de comum nas ações destas entidades é que todas buscam garantir o acesso das populações à alimentação, ou seja, à segurança alimentar sem perder de vista aspectos do desenvolvimento humano sustentável. Isto, claro, contribuindo para que a sua função seja ampliada, extrapolando a dimensão da segurança alimentar e considerando o seu papel no desenvolvimento humano. Segundo um estudo da FAO (1999), a agricultura urbana é praticada nos principais corredores de saída das cidades, bem como nas periferias e nas margens dos rios que correm naqueles espaços públicos e privados. O mesmo estudo afirma que isto é possível devido à capacidade de adaptação da atividade às mudanças ocorridas nos espaços urbanos, tanto no que tange à expansão física, quanto à diminuição da visibilidade das fronteiras urbano-rurais. Em países da África, América Central (Cuba principalmente) e Europa (França e Portugal preponderantemente) há significativos projetos de desenvolvimento da AU e da AP, e estudos voltados para este tema. Segundo Boukharaeva et al. (2005), no século XX, houve um significativo desenvolvimento, ou pelo menos crescimento da produção da agricultura urbana e periurbana nos países do Hemisfério Sul. Vale salientar que precisar a quantidade atual de pessoas no mundo praticando AU e/ou AP, não é possível, visto que alguns governos ainda não reconhecem essa atividade social, portanto não existem trabalhos atuais que precisem esse quantitativo. Por outro lado, em países que reconhecem a AU e a AP, também, é difícil precisar sua abrangência territorial, visto que grande parte dos agricultores produz informalmente. Em assim sendo, acredita-se que esse número tenha Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 118 crescido significativamente na última década. Portanto é muito maior que o contabilizado oficialmente. Na Europa, a prática da AU ocorre desde séculos passados, muitas vezes, como lembra Silva (2006), como jardinagem, atualmente também praticada na América do Norte. Com base numa literatura permeada de simbolismo, Silva (2006, p. 219) trata da relação da agricultura com o próprio nascimento das cidades. Diz ele, que na República de Platão, por exemplo, os agricultores e artesãos, provedores da subsistência material, constituem uma das três classes da cidade. Dentre os países europeus cuja AU e AP se destacam, pode-se mencionar Portugal, Alemanha, Inglaterra e França, dentre outros. Na África e na Ásia, também são encontradas diversas experiências de AU e AP21. Sobre a América Latina e o Caribe, as mais diversas publicações sobre AU e AP, dão conta que essa atividade contribui significativamente para a amenização de mazelas sociais. Nessa região, Cuba se destaca desde os anos 1990, com a produção de alimentos no espaço urbano e periurbano. No primeiro semestre de 2010 Cuba produziu, em suas hortas urbanas, 362.608 toneladas de vegetais, empregando 300 mil pessoas, segundo Terramérica22 (2011). Neste país, as hortas urbanas ocupam cerca de 30 mil hectares. No caso do Brasil, as regiões Sudeste e Sul são as que apresentam as mais significativas quantidades de unidades produtivas com AU ou AP. O relatório do MDS em 2007 (SANTARDEU; LOVO, 2007), que fez um diagnóstico da AUP no Brasil, dá conta de que das 635 iniciativas pesquisadas nas regiões metropolitanas de Belém (PA), Recife (PE), Fortaleza (CE), Salvador (BA), Brasília (DF), Goiânia (GO), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ), 59% estão na região Sul-Sudeste; ao passo que 23% constam do Centro-Oeste e apenas 18% na região Nordeste. 21 Diversos sítios na internet, dentre eles o da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), da RUAF etc. podem-se encontrar relatos e análises de diversas experiências de AU e AP no mundo. 22 Terramérica é uma publicação colaborativa, online, que envolve ONGs entidades como PNUD e Envolverde. Trata de temas relacionados ao meio ambiente e cidadania. Disponível em: <http://www.webjornal.net/Envolverde/TerramericaPDF/Terra569.pdf>. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 119 O crescimento demográfico e econômico das cidades levou, segundo Roca (2004), à reconfiguração dos espaços urbanos através do uso do solo, das estruturas populacionais, das práticas sociais etc. Desta feita, parece ser consensual, entre alguns estudiosos, que a densidade populacional e todas as transformações dela advindas têm papel importante no processo de expansão e diversificação da AU e da AP. Mas, além da densidade populacional, existem outros fatores de expansão e diversificação da agricultura urbana e periurbana inerentes a especificidades socioespaciais de muitas cidades e de suas interlândias. Por isso, para entender a realidade, na atualidade, é preciso que se leve em conta, ao mesmo tempo, e dialeticamente, as ações de cada agente modelador do espaço, ou como diz Bauman (1999), “atores da globalização” e os “atores do lugar”, os quais são: a sociedade, ou seja, a coletividade; o capital monopolizador da economia e o Estado, monopolizador (dotado de recursos) da ordem política em defesa do território soberano. À medida que identificamos o papel da sociedade e o do Estado, entendemos que o capital permeia as relações socioespaciais, no sentido de sua realização. Mesmo diante de ações desenvolvidas pelo Estado, visando apoiar a AU e a AP, o que se percebe em todos os relatórios sobre o assunto, tanto naqueles realizados pelos órgãos públicos como pelas ONGs, é que as ações institucionais são apenas pontuais, em espaços selecionados, muitas vezes sob critérios imprecisos no que tange à eficácia e eficiência da aplicação dos recursos e da abrangência social. Desse modo, percebe-se que a AU e a AP ainda não têm recebido a atenção necessária da parte dos gestores públicos do planejamento urbano. Assim sendo, e tendo em vista as formas, estruturas e funções da agricultura num processo contínuo de reprodução espacial, não se pode pensá-la como sendo uma atividade exclusiva do mundo rural, nem tampouco se pode vê-la mediante uma manifestação dicotômica do real. É preciso pensar a agricultura como uma atividade humana integradora e, portanto, complementar dos espaços urbanos, periurbanos e rurais, e este papel é desempenhado, por excelência, pela face urbana desta atividade – a agricultura urbana. O que cabe, na atualidade, é compreender o papel socioeconômico e, portanto, espacial desta atividade. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 120 3.2 ESTADO, GOVERNO E POLÍTICAS PÚBLICAS A instabilidade e a descontinuidade administrativa também acarretam na acentuação de um padrão reativo frente aos interesses e pressões das forças políticas, com constantes mudanças das ações e de prioridades. (Miranda, 2008, p. 217). 3.2.1 Prolegômenos para entender políticas públicas Para se entender políticas públicas, faz-se necessário, antes, refletir acerca do que vem a ser Estado e governo. Em reflexões sobre Estado e sociedade, Arcoverde (2010) menciona que o Estado, como é percebido na atualidade, perpassa pelos pensadores clássicos da política. Em assim sendo, a autora destaca três grupos distintos de concepções acerca do Estado: i) Concepção liberal – N. Maquiavel, para quem o Estado é o mediador que equilibra as forças entre o dominador e o dominado; T. Hobbes, para quem o Estado é soberano e deve impor o respeito pela força; J. Locke, que fala do Estado como resultado da vontade da maioria; e I. Kant, que idealiza o Estado baseado em princípios da razão. ii) Concepção democrático-burguesa – J. J. Rousseau, que compreende o Estado como defensor do bem comum; A. Tocqueville, para quem o Estado deve ser democrático e igualitário; e G. Hegel, para quem o Estado é soberano e o construtor da sociedade. iii) Concepção marxiana – K. Marx e F. Engels, para os quais o Estado é a expressão política da dominação de classes, funcionando para o capital e não para a sociedade; V. I. Lênin, que compreende o Estado como máquina de opressão sobre a classe trabalhadora, em nome do capital; e A. Gramsci, para quem o Estado é, ao mesmo tempo, sociedade civil e política, voltado para validar a dominação da classe dirigente. Quando buscou refletir sobre o Estado, enquanto poder político agente da produção do espaço na geografia, Friedrich Ratzel enxergou o Estado como organismo que deve ser concebido em sua íntima conexão com o espaço na geografia, por se tratar de um organismo territorial. Isso significa dizer que o Estado é forte, centralizador e Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 121 está acima da sociedade, já que seu papel é o de estreitar ao máximo possível os laços de coesão e unidade para atingir toda a extensão do ecúmeno (COSTA, 1992). Nesta perspectiva, Andrade (1984, p. 19 e 20) diz que: o “Estado é o veículo utilizado pela sociedade para” a produção do espaço, o qual é o “produto da ação da sociedade”. Vale lembrar que Estado e governo são elementos distintos. Desse modo, o conjunto de instituições permanentes que possibilitam a ação do governo diz respeito ao Estado, enquanto que governo diz respeito ao conjunto de programas e ações dos grupos sociais (HÖFLING, 2001). Contudo, vale destacar que ambos são articulados e interdependentes. Outros elementos de compreensão dessa distinção circulam em torno do papel de cada um. Rocha (2009) afirma que cabe ao governo gerir os interesses da sociedade a partir da sua orientação ideológica. Em suas próprias palavras: A diferença entre Estado e governo é atualmente mais acentuada com a personalização jurídica do Estado, porque o Estado como pessoa tem vontade própria, distinta da vontade individual do governante. No Estado Democrático e de Direito há a perspectiva de reduzir a participação do governo ao máximo possível. Fazem parte deste Estado e não fazem parte do seu governo a Constituição, o conjunto de servidores públicos estáveis, o patrimônio público, a máquina burocrática pública, as forças públicas, etc. Isto porque a sociedade precisa que estas instituições sejam estáveis e impessoais, que não estejam sujeitas às mudanças de governo no processo eleitoral e que sejam republicanas – pertencente ao conjunto da sociedade e não aos interesses de quem está no poder. (ROCHA, 2009, p. 141). Em assim sendo, as políticas de governo são passageiras, enquanto que as políticas de Estado são duradouras, ultrapassando o período de determinado governo. Se uma política é institucionalizada numa sociedade de forma permanente, ela é considerada uma política de Estado; se a cada governo houver mudanças radicais na política, ou até extinção, ela é ou seria considerada política de governo. (Giovanni, s/d). Sobre este aspecto, Secchi (2010) afirma que as políticas governamentais procedem dos diversos órgãos dos poderes públicos. Entretanto, mesmo que elas formem o subgrupo mais importante das políticas públicas, há grande pluralidade de agentes, não apenas o Estado é responsável por políticas públicas. Portanto, para entender Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 122 políticas públicas, é preciso compreender as ações do Estado e dos demais agentes sociais. No que tange ao conjunto de ações do Estado, este desenvolve “uma série de decisões que, tomadas em seu conjunto, encerram mais ou menos o que é a política” (DAGNINO, 2002). Este conjunto de ações do Estado deve ser racional e lastreado por um aporte teórico, na perspectiva do planejamento e da gestão. Para diferenciar gestão de planejamento, Souza, M. (2006) menciona a escala temporal dos resultados esperados. Se na gestão esperam-se resultados imediatos, no planejamento eles são esperados à longo prazo. Em assim sendo, o planejamento geralmente ultrapassa o tempo de atuação de um determinado governo. Portanto, as Políticas resultantes desses processos constituem-se políticas públicas, também porque vão além das políticas de governo. Na visão de Santana (1990), planejar é antes de tudo um exercício de preparação racional para ações que visem concretizar o ideal para o futuro desejado. Logo, o planejamento socioeconômico constitui-se de “um processo de mobilização de forças e atores sociais para edificação de um estado desejado coletivo” (SANTANA, ibidem, p. 11). Portanto, parece que o grande desafio do planejamento é ir além do viável, ultrapassar o possível e realizar o ideal. Vale salientar que a mobilização externa ao grupo social envolvido deve ser fruto de mobilização interna, o que não parece acontecer com os agricultores em tela. Ao mesmo tempo, a diferenciação entre a gestão e o planejamento reside, principalmente, no tempo de ações consequentes e nos tipos de atividades. Se na gestão as respostas às ações devem ser imediatas; no planejamento o médio e o longo prazos são os tempos necessários para que os resultados apareçam. A esse respeito, Souza, M. (2006, p. 46) diz: [...] gestão remete ao presente, gerir significa administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos presentemente disponíveis e tendo em vista as necessidades imediatas. O planejamento é preparação para a gestão futura, buscando-se evitar ou minimizar problemas e ampliar margens de manobra; e a gestão é a efetivação, ao menos em parte (pois o imprevisível e o indeterminado estão sempre presentes, o que torna a capacidade de improvisação e a flexibilidade sempre indispensáveis), das condições que o planejamento feito no passado ajudou a construir. Longe Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 123 de serem decorrentes ou intercambiáveis, planejamento e gestão são distintos e complementares. (Grifo no original). É preciso que se atente, também, para a espacialidade do planejamento e da gestão, ou seja, não se deve perder de vista a importância do espaço enquanto instância social. É preciso que se leve em conta o tipo de espaço que receberá as ações, uma vez que o espaço não é apenas lócus, mas é também reflexo e, ao mesmo tempo, subsídio para o desenrolar da sua realização e o acontecer da vida social (SANTOS, 2004). Por isso, além da necessidade de não se confundir planejamento com gestão, para se realizar objetivos de políticas públicas que visam ao desenvolvimento socioespacial, deve-se estar atento para a escala de ação dos agentes sociais e ao tipo de espaço que se pretende atuar. Quando se atenta para a questão da escala de ação do planejamento, entende-se que os territórios são distintos, ou seja, possuem suas peculiaridades. Portanto, quanto maior for à escala de ação a ser atendida pelo planejamento, tanto mais complexo será o ato de planejar e desenvolver a gestão. Daí a necessidade de se procurar entender o papel de cada um destes agentes, ou seja, de identificar a repercussão das ações do Estado, do governo, do capital e da sociedade, diretamente envolvidos com a agricultura urbana e a agricultura periurbana. Portanto, não se pode entender políticas públicas se não se considerar as interações entre o Estado, o governo, a economia e a sociedade, ou seja, as formas, as funções, as estruturas e os processos de produção do espaço. Se for tomado apenas um desses aspectos isoladamente, consequentemente, a análise será insuficiente para dar suporte à realização do objeto maior da política pública que é, segundo Souza, C. (2006), a solução de problemas da sociedade. Em assim sendo, mesmo que o Estado seja, a priori, o formulador das políticas públicas, os governos participam desses processo, e outros segmentos da sociedade também podem participar desta atividade, com maior ou menor influência, os grupos de interesses e os movimentos sociais. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 124 Outro aspecto das políticas públicas para o qual se deve atentar é o que diz respeito às suas tipologias, uma vez que as decisões dos governos, que repercutem diretamente na vida da sociedade, são tomadas, como já dito, mediante relações de poder, as quais, por sua vez, ocorrem em meio às situações reais da sociedade e, portanto, mediante formas distintas de pensar e agir dos agentes sociais. Sobre esse aspecto, Secchi (2010), afirma que entender os tipos de políticas públicas é fundamental para sua análise. Isto, principalmente, considerando as suas limitações práticas. Até porque o estabelecimento de critérios de classificação, inevitavelmente, remete a reducionismos. Sobre as tipologias em termos de políticas públicas, Souza, C. (2006) mostra que a mais conhecida tipologia foi desenvolvida por Theodor Lowi (1964; 1972), que diz que a política pública faz a política, isso porque cada tipo encontra rejeição e apoio dependendo dos agentes e das situações. Este autor diferenciou as políticas públicas em quatro formatos: políticas distributivas, que geram impactos mais individuais que universais, já que privilegia certos grupos sociais, ou regiões; políticas regulatórias que são mais visíveis porque envolvem os grupos por interesse; políticas redistributivas, que trazem perdas no curto prazo e ganhos incertos no futuro; e políticas constitutivas, que trabalham com métodos (Lowi 1964; 1972, apud Souza, C., 2006). Vale salientar que estes quatro formatos de políticas públicas podem e devem ser desenvolvidos ao mesmo tempo. Os demais tipos de políticas públicas, segundo Souza, C. (idem), estão expostas no quadro 4.3. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 125 Quadro 4.3 – Tipologias de políticas públicas, segundo SOUZA, C. (2006) Continua Políticas Públicas: tipologias segundo Souza, C., 2006 Denominação Incrementalismo Formulador (res) Lindblom (1979), Caiden e Wildavsky (1980) e Wildavisky (1992 O ciclo da política pública O modelo “garbage can” Cohen, March e Olsen (1972) Coalizão de defesa Sabatier e Jenkins-Smith (1993) Arenas sociais Modelo do “equilíbrio interrompido” Baumgartner e Jones (1993), Modelos influenciados pelo “novo gerencialismo público” e pelo ajuste fiscal Olson (1965) Rubio José Ferreira. Argumentações Baseada na ideia de que as ações dos governos apenas incrementam decisões já tomadas anteriormente não trazendo mudanças substanciais Política pública como um ciclo deliberativo, formado por vários estágios e constituindo um processo dinâmico e de aprendizado que acontece em 4 estágios: definição de agenda, identificação de alternativas, avaliação das opções, seleção das opções, implementação e avaliação. Focaliza os problemas, a política propriamente dita e os participantes. As escolhas de políticas públicas dependem de soluções que os decisores têm no momento. As soluções não seriam detidamente analisadas gerando ideias com pouca consistência. A política pública deveria ser concebida como um conjunto de subsistemas relativamente estáveis, que se articulam com os acontecimentos externos, os quais dão os parâmetros para os constrangimentos e os recursos de cada política pública, gerando coalizões de defesa que se distinguem pelos seus valores, crenças e ideias e pelos recursos de que dispõem. A política pública é uma iniciativa dos empreendedores políticos. Três principais mecanismos para chamar a atenção dos decisores e formuladores de políticas públicas: divulgação de indicadores que desnudam a dimensão do problema; eventos tais como desastres ou repetição continuada do mesmo problema; e feedback, ou informações que mostram as falhas da política atual ou seus resultados medíocres. Constituem redes sociais. A política pública se caracteriza por longos períodos de estabilidade, interrompidos por períodos de instabilidade que geram mudanças nas políticas anteriores. Os subsistemas de uma política pública permitem ao sistema político-decisório processar as questões de forma paralela, fazendo mudanças a partir da experiência de implementação e de avaliação, e somente em períodos de instabilidade ocorre uma mudança serial mais profunda. Eficiência como o principal objetivo de qualquer política pública, aliada à importância do fator credibilidade e à delegação das políticas públicas para instituições com “independência” política. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 126 Conclusão Políticas públicas de caráter participativo Impulsionadas, por um lado, pelas propostas dos organismos multilaterais, várias experiências foram implementadas visando à inserção de grupos sociais e/ou de interesses na formulação e acompanhamento de políticas públicas, principalmente nas políticas sociais. No Brasil, são exemplos dessa tentativa os diversos conselhos comunitários voltados para as políticas sociais, assim como o Orçamento Participativo. Fonte: adaptado pelo autor deste trabalho com base em Souza, C., 2006. As políticas públicas para a AU e AP, na atualidade, abarcam em certa medida características dos oito tipos mencionados por Souza, C. (2006). Contudo, as características do tipo do “ciclo de políticas públicas” parecem ser mais evidentes no Brasil. Até porque, as etapas do ciclo de política pública, direcionam-se ao planejamento. Por outro lado, nos últimos anos, as políticas do tipo “participativas” têm sido empregadas por diversos governos, especialmente em escala municipal. Isto, claro, dependendo da orientação político-ideológica desses governos. Analisando o quadro supracitado, observa-se que, em certa medida, a natureza das políticas públicas leva à ideia de se resolverem problemas da sociedade, ou seja, problemas públicos. Portanto, os elementos das argumentações de algumas complementam-se, como por exemplo as que são influenciadas pelo gerencialismo público com as de caráter participativo. Resumindo as tipologias de políticas públicas, Souza, C. (2006, p. 36 e 37) destaca seus principais elementos: permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz; envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes; é abrangente e não se limita a leis e regras; é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados; embora tenha impactos no curto prazo, é política de longo prazo; envolve processos subsequentes após sua decisão e proposição, ou seja, implica também implementação, execução e avaliação. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 127 Portanto, não cabe apenas ao Estado elaborar as políticas públicas e nem tampouco desenvolvê-las como mecanismos de promoção de agenda política. Em sua concepção, elas devem ser motivadas pela ideia de atender aos anseios da sociedade, principalmente na atualidade em que já se fala de novas formas de se administrar, até com descentralização e participação social nas políticas públicas. Estas novas formas de governar, segundo Arretche (1999), especificamente no Brasil, gerou um redesenhamento da estrutura organizacional do Sistema de Proteção Social, iniciado nos anos 1990. Para esta autora, isso ocorre mediante as implantações “de programas de descentralização que vêm transferindo, paulatinamente, um conjunto significativo de atribuições de gestão para os níveis estadual e municipal de governo”, mudando, portanto, a abrangência das políticas públicas. Considerando a escala de abrangência das políticas públicas, enquanto norteadoras das ações do poder público, a descentralização, na visão de Araújo (2000 b, p. 145), significa A transferência da autoridade e do poder decisório de instâncias mais elevadas para instâncias de unidades espacialmente menores, entre as quais o município e as comunidades, conferindo capacidade de decisão e autonomia de gestão para as unidades territoriais de menor amplitude e escala. Representa uma efetiva mudança das escalas de poder, conferindo às unidades comunitárias e municipais capacidade de escolha e definição sobre suas prioridades e diretrizes de ação e sobre a gestão de programas e projetos. Para esta autora, a descentralização das políticas públicas é um importante fator para o desenvolvimento local, visto que os princípios da subsidiaridade permitem que o poder local assuma função central de decisão e gestão. Contudo, quando se trata de transferir autoridade para os grupos sociais, surgem questões do tipo: será que os grupos sociais estão preparados para tomarem suas próprias decisões? Daí é que o papel do Estado torna-se mais evidente. Assim sendo, os agentes locais, mediante as forças econômicas, no contexto da globalização, não devem perder suas funções nos territórios. O que deve ocorrer é uma relação de intercâmbio e interação: Com a descentralização, as instâncias locais (o município, a comunidade) devem se constituir em catalisadores das forças econômicas e energias sociais e síntese e convergência da intervenção e atuação de diferentes Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 128 instituições estaduais, regionais e nacionais. Mas, o corte local não pode levar a um isolamento do âmbito territorial restrito, ignorando o contexto social, econômico e ecológico, no qual está inserido e com o qual estabelece uma relação de interação e intercâmbio intenso (trocando externalidades negativas e positivas, numa relação de controle, concorrência e/ou complementaridade). (ARAÚJO, 2000 b, p. 173). (Grifo nosso). A descentralização das políticas públicas é necessária. Contudo, é preciso atentar para a efetividade dessa descentralização. Em assim sendo, as políticas públicas devem estar focadas nas especificidades espaciais locais, que abrangem os poderes locais, os grupos sociais, as economias etc. Isso porque, mesmo diante das transformações do Estado e os novos paradigmas de política pública, mediante a evolução e crise dos sistemas de proteção social, faz-se mister que os governos desenvolvam ações específicas que busquem resolver os problemas sociais em escalas de abrangências menores. As políticas nacionais precisam atentar para a escala de abrangência. Nesse contexto, a AU e AP devem ser alvo de ações do Estado nas três escalas de governo. O poder decisório não deve ser exclusividade do governo, os demais agentes sociais em escala local, de bairro etc. devem participar ativamente das ações governamentais. As transformações que ocorrem, no mundo, mediante os mecanismos do sistema capitalista global, tornam cada vez mais significativa a necessidade de mudanças no campo da gestão e do planejamento. A esse respeito, Harvey (1996) mostra que, desde meados da década de 1970, com o discurso do empreendedorismo, os agentes do Estado mudam quase que radicalmente sua forma de ação sobre o território e o espaço. Em um colóquio realizado em Orleans, em 1985, os gestores públicos chegaram ao consenso de que: Os governos urbanos tinham que ser muito mais inovadores e empreendedores, abertos para explorar diferentes meios para aliviar suas condições miseráveis e assim assegurar um futuro melhor para suas populações [...] a abordagem tão típica dos anos sessenta, deu prontamente lugar a formas de ação de empresariamento nos anos setenta e oitenta. Particularmente nos últimos anos, parece ter surgido um consenso geral em que todo o mundo capitalista avançado de que benefícios positivos têm que ser obtidos por cidades que assumem um comportamento empresarial em relação ao desenvolvimento econômico. (HARVEY, 1996, p. 49). Este processo de mudanças, iniciado nos países de capitalismo avançado, não acarreta efeitos apenas sobre os espaços daqueles países. Com o próprio desenrolar do processo de globalização, efetivado desde então através dos Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 129 mecanismos do neoliberalismo, traz aos países de capitalismo tardio os modelos de ação dos Estados. E, claro, dos mercados, que, por sua vez, acham-se interligados. Em assim sendo, as mudanças nas políticas públicas são cada vez mais evidentes. No caso em apreço destacam-se as políticas públicas voltadas à geração de emprego e renda, combate à fome e à pobreza, segurança alimentar etc. Vale salientar que a AU e a AP constituem-se em importante veículo para amenizações de mazelas sociais. Resta saber se essas políticas públicas têm sido eficazes no sentido de fazer com que elas contribuam para o desenvolvimento socioespacial. Daí a necessidade de avaliações dessas políticas. Sobre o aspecto da análise de políticas públicas retomaremos o debate na próxima seção. 3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS NO BRASIL Antes de falarmos das políticas públicas para a AU e para a AP, faz-se mister compreender o que significa políticas públicas sociais. As políticas sociais são mecanismos pelos quais o Estado busca amenizar as desigualdades socioespaciais produzidas pelo desenvolvimento econômico desigual. Entretanto, isto não quer dizer que as políticas sociais sejam implementadas com vistas, apenas, às reivindicações dos trabalhadores. Como mostra Höfling (2001), o Estado funciona como um mediador de interesses entre o capital, com sua acumulação latente, e os trabalhadores. Isto claro, mediante relações de poder. Nesse processo, a manutenção das relações sociais deve ser assegurada, também, porque as políticas sociais têm raízes nos movimentos sociais: Políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento sócioeconômico. As políticas sociais têm raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, do desenvolvimento das primeiras revoluções industriais. (HÖFLING, 2001 p. 31) Por outro lado, Souza, C. (2006, p. 26) afirma que Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 130 [...] as definições de políticas públicas assumem, em geral, uma visão holística do tema, uma perspectiva de que o todo é mais importante do que a soma das partes e que indivíduos, instituições, interações, ideologia e interesses contam, mesmo que existam diferenças sobre a importância relativa destes fatores. Na busca da diferenciação entre políticas públicas e políticas sociais, Souza, C. (2007), analisa à luz da diferenciação dos campos de conhecimento, considerando que são campos distintos e multidisciplinares. Para esta autora, políticas sociais se diferenciam de políticas públicas na medida em que os focos são distintos. Numa análise ou formulação de políticas públicas, o processo em si da política, ou seja, sua natureza assume maior importância. Nas análises de políticas sociais, as questões que a política busca resolver constituem foco da pesquisa, nesse caso as questões sociais, sendo a natureza da política apenas o “pano de fundo” (SOUZA, C., 2007, p. 68). Não obstante a isso, não se pode deixar de considerar que independentemente do foco de análise ou da formulação, quer seja a natureza da política ou seu efeito para a resolução de problemas sociais, como bem lembra Souza, C. (2007, p. 69), “A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações, que produzirão resultados ou mudanças no mundo real”. Destarte, longe do intuito de esgotar o debate, para fins de análise, entendemos como políticas públicas (sociais) as ações do Estado, no sentido de resolver ou amenizar questões socioespaciais, resultantes das desigualdades sociais típicas do crescimento econômico desigual, como defende Höfling (2001). Tratam-se de políticas e de gestão de serviços sociais, proteção social, seguridade social, segurança pública, dentre outras, que buscam, em certa medida e de forma diferenciada, promover alguma justiça social. O que, ao nosso ver, constitui-se de condição fundamental para o desenvolvimento socioespacial. As políticas públicas sociais, em países de capitalismo tardio como o Brasil objetivam atualmente, em linhas gerais, alguma proteção social. Ao contrário do que foram essas políticas do Estado brasileiro até os anos 1980, quando até os anos 1980 o Brasil era essencialmente rural. Araújo (2000, a) mostra que o foco das políticas do Estado brasileiro (desenvolvimentista, conservador, centralizador e Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 131 autoritário), entre os anos 1920 e 1980, objetivavam a consolidação do processo de industrialização. Isso em detrimento do bem-estar social. Esse crescimento urbano-industrial promovido pelo Estado brasileiro agravou significativamente as questões sociais. Formaram-se grandes aglomerados nas periferias das cidades, o Brasil se tornou um país essencialmente urbano e o Estado não foi capaz de desenvolver políticas públicas que impedissem o crescimento da pobreza, desemprego, exclusão socioespacial dentre outras mazelas do crescimento desigual. A partir do final dos anos 1980, com a Constituição Federal de 1998, o Estado brasileiro vê-se forçadamente impelido a olhar para a questão social deste país. Contudo, como bem lembra Araújo (2000 a), com a redefinição dos Estados nacionais, com base político-ideológica neoliberal, o Estado brasileiro passa a direcionar suas políticas para fortalecer a circulação do capital globalizado. Desse modo, as questões sociais consolidadas nos 1980 são agravadas ainda mais. Atualmente existe alguma desconcentração do poder que não é mais exclusividade do aparto estatal, “mas ‘distribuído’ e diluído em uma rede institucional e midiática complexa e intricada” (NOGUEIRA, 2005, p. 248) (Grifo no original). Ao mesmo tempo em que o mercado exerce pressão sobre o Estado, perpassando pelos governos, também o faz a sociedade civil. Este mesmo autor, ainda menciona que as forças transnacionais e subnacionais, também fazem parte do grupo de forças de pressão sobre os governos. A figura 6.3 mostra didaticamente esse conjunto de fontes geradoras de pressão sobre os governos. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 132 Figura 6.3 – Fontes geradoras de pressão sobre os governos Fonte: Nogueira, 2005, p. 126. As formas e as intensidades das pressões exercidas sobre os governos dependem dos interesses e do poder de cada agente. Seria ingênuo assegurar que a sociedade possui o mesmo poder de forças que tem os demais agentes. Contudo, não se pode deixar de considerá-la como fonte geradora de pressão sobre os governos. A formulação e implementação de políticas públicas deve considerar a sociedade, uma que ela é o destinatário das políticas. Quando se considera a pressão que a sociedade exerce sobre os governos, vislumbra-se avanços no processo democrático. Atualmente, já são identificadas diversas políticas públicas formuladas com mecanismos participativos. No caso brasileiro, Côrtes (2007, p. 125), atribui essa possibilidade de participação dos grupos sociais, na formulação de algumas políticas públicas, aos avanços da Constituição Federal de 1988. Essa mesma autora destaca os [...] conselhos de políticas públicas, nas áreas de saúde, trabalho e emprego, assistência social, desenvolvimento rural, educação, meio ambiente, planejamento e gestão urbana, e os conselhos de direitos da criança e do adolescente, do negro, da mulher, dos portadores de deficiências, do idoso. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 133 Somam-se a este grupo de conselhos, “as experiências de orçamento participativo” (CÔRTES, 2007 p. 125). Em Recife, desde os anos 1980 já se buscou alguma participação dos grupos sociais na gestão pública municipal. Na primeira década de 2000, entre 2001 a 200823, com o governo municipal do Partido dos Trabalhadores (PT), o orçamento participativo passou a ser uma realidade em Recife, contribuindo em certa medida, para a reeleição, em 2008, do candidato do PT (João da Costa) que esteve à frente do Orçamento Participativo (OP) durante o governo de João Paulo (2001 a 2008). No mesmo período, em Vitória, o prefeito José Aglailson (Partido Socialista Brasileiro – PSB), bem como seu sucessor Elias Lira (Partido Social Democrata - PSD), embora não tenham desenvolvido experiências de orçamento participativo, em seus governos também se viu atuação dos conselhos oficiais. Tornaremos a este assunto no capítulo 4 da tese. As políticas públicas sociais, como já dito, surgem em resposta às questões sociais. Teixeira (2007) afirma que, historicamente, a sociedade civil desempenha papel importante para a proteção social24. Para esta autora, no século XIX, o Estado, esporádica e emergencialmente, interveio em casos extremos de pobreza. No século XX, como resultado de pressões sociais sobre o Estado brasileiro, as políticas públicas se voltaram para objetivos de alguma proteção social. Sobre o sistema de proteção social, nos países periféricos como o Brasil, Teixeira (ibidem) afirma que existe uma tendência de divisão de responsabilidades entre a sociedade civil (privado), incluindo o mercado, e o Estado (o público). Se no início do século XX, o Brasil era essencialmente rural, a partir dos anos 1930 o governo deste país direciona a políticas para a industrialização, o que repercute posteriormente em intensa urbanização. Para Araújo (2000 a), o Estado brasileiro, até os anos 1980, caracterizava-se por ser desenvolvimentista, conservador, centralizador e autoritário. O que, obviamente, repercute em políticas públicas que atendam primordialmente aos interesses governamentais. Com as práticas neoliberais no Brasil a partir dos anos 1980 até os dias atuais, as políticas sociais 23 João Paulo de Lima e Filho (PT), na condição de prefeito do Recife assumiu a prefeitura em 2001, foi reeleito em 2004, e manteve-se como prefeito até o final do mandato em 2008. Em 2009, João da Costa Bezerra Filho (PT) assumiu a prefeitura do Recife. 24 Vale destacar que as políticas públicas sociais estão fortemente ligadas à proteção social. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 134 tornam-se ainda mais necessárias. Isto considerando a concepção de Estado mínimo. Para Castro e Ribeiro (2011), as políticas sociais no Brasil do século XX, em determinados momentos da história, apresentaram características distintas, indo desde políticas liberais/residuais – de caráter assistencial, seletivo e emergencial; às redistributivas – com intenção de compensar as desigualdades geradas pelo mercado. Daí, novamente a Constituição Federal de 1988, constitui-se como marco importante para as políticas públicas sociais, o que repercute até a atualidade. Em assim sendo, as políticas públicas sociais abarcam diferentes questões sociais, desde políticas de seguridade e assistência social, de educação, de inclusão social e combate à pobreza, até de inclusão digital. Numa análise das políticas públicas sociais brasileiras, Castro e Ribeiro (2011, p. 40) apontam que nas últimas décadas houve diversos avanços, tendo-se como lastro a criação dos conselhos referidos acima, com a participação da sociedade civil. Contudo, eles afirmam que é preciso haver maior efetividade das ações desses conselhos. Com suas próprias palavras: Outros problemas críticos devem ser apontados. Um destes consiste na escassez de canais de participação na formulação de políticas por parte dos outros níveis de governo, bem como da sociedade civil e dos demais atores envolvidos com a problemática social. Nesse sentido, a estrutura de conselhos estabelecida pela Constituição, e de fato montada nos últimos anos, ainda deve à sociedade um funcionamento mais efetivo. Esses avanços têm como base os direitos da Constituição de 1988, que sinaliza para participação da sociedade civil, o que corresponde à descentralização das políticas públicas. Por outro lado, no que tange a essa descentralização, Vaitsman, Rodrigues e Paes-Sousa (2006) afirmam que a própria extensão territorial do país, com 5.564 municípios, constitui fator desafiador para a construção de políticas públicas sociais. Neste caso, as tomadas de decisões devem ser balizadas por evidências empíricas. Mais uma vez, as escalas de atuação do Estado (federal, estaduais e municipais) assumem papel relevante nesse processo, não apenas com a participação da sociedade civil, como também com o financiamento de pesquisas que deem conta de mostrar a realidade em cada recanto deste país. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 135 Neste bojo de ações do Estado e dos governos, para amenizar problemas sociais, a AU e AP são contempladas, direta ou indiretamente, quando são desenvolvidas políticas, segundo Zeeuw, Gündel e Waibel (2000), de uso do solo, de segurança alimentar, de saúde, ambientais e de desenvolvimento social. Vale acrescentar ainda as políticas de educação, de acesso à água, políticas agrícolas, dentre outras que, de alguma forma, abrangem as políticas urbanas e de desenvolvimento socioespacial. O Estatuto da Cidade, criado por Lei Federal nº 10.257 de 10/07/2001, também pode ser considerado um marco legal para a AU e AP, na medida em que descentraliza tomadas de decisões importantes para o planejamento urbano, no sentido do desenvolvimento socioespacial. As políticas de uso do solo urbano repercutem na AU e AP, na medida em que “o acesso aos recursos de terra e água, assim como a segurança dos direitos dos usuários e o nível de preços dos lotes da terra são fatores cruciais para o desenvolvimento da agricultura urbana”. (ZEEUW; GÜNDEL; WAIBEL, 2000, p. 2). Por outro lado, as políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) repercutem na AU e na AP, quando são desenvolvidos projetos para aumentar a produção de alimentos nos espaços urbanos e periurbanos; visto que, segundo Zeeuw; Gündel; Waibel (2000), o acesso a alimentos de boa qualidade nutricional, por grupos de pobres da cidade, pode ser assegurado quando o Estado potencializa a AU e a AP. Isso, ao mesmo tempo, repercute em saúde e na sustentabilidade ambiental. 3.3.1 As políticas de SAN no Brasil e a agricultura urbana e periurbana No Brasil, as políticas públicas voltadas para a SAN, surgem no final do século XX, e são visivelmente fortalecidas no presente século; tendo a agricultura como importante veículo de redução da insegurança alimentar. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 136 Para o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA25), a segurança alimentar e nutricional consiste na Realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis. (MENEZES; BURLANDY; MALUF, 2004, p. 4) Ao mesmo tempo, Uma política de SAN é um conjunto de ações planejadas para garantir a oferta e o acesso aos alimentos para toda a população, promovendo a nutrição e a saúde. Deve ser sustentável, ou seja, desenvolver-se articulando condições que permitam sua manutenção a longo prazo. Requer o envolvimento tanto do governo quanto da sociedade civil organizada, em seus diferentes setores ou áreas de ação – saúde, educação, trabalho, agricultura, desenvolvimento social, meio ambiente, dentre outros – e em diferentes esferas – produção, comercialização, controle de qualidade, acesso e consumo. (MENEZES; BURLANDY; MALUF, 2004, p. 4) As políticas de SAN no Brasil significam avanços na questão da fome, mapeada por Josué de Castro (1984). Em seu mapeamento da desnutrição no Brasil, ele havia mostrado que as causas são políticas, históricas e sociológicas (RUANO, 2008). Castro (1984) fez referência à urbanização exacerbada, sem que se tivesse uma civilização rural enraizada como um dos fatores que contribui para o quadro de desnutrição no Brasil daquela época. Por outro lado, na atualidade a AU e AP tem sido importante veículo para alguma diminuição do quadro de insegurança alimentar nas cidades e em seu entorno. Se, no Brasil, a questão da fome e da pobreza passaram a ser alvo fortemente das políticas públicas no século XXI, organizações internacionais como a FAO, dentre outras, já contemplam essas questões desde o século XX. Por vezes, com avanços significativos, por vezes nem tanto. Contudo, não se pode deixar de considerar essas Instituições Internacionais (redes) e as ONGs. 25 O CONSEA, criado por Decreto Nº 6.272, de 23 de novembro de 2007, é um órgão de assessoramento imediato ao Presidente da República e integra o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), por sua vez, criado por Lei no 11.346, de 15 de setembro de 2006. Segundo o artigo 2º do decreto que criou o CONSEA, dentre as suas atribuições consta a de articular, acompanhar e monitorar, em regime de colaboração com os demais integrantes do SISAN, a implementação e a convergência das ações inerentes à Política e ao Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. (BRASIL, 2006). Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 137 Em se tratando do Brasil, a Constituição de 1988 pode ser considerada como um marco para as políticas de SAN. Isto porque, segundo Vaitsman, Rodrigues e PaesSousa (2006, p. 14), a partir dessa constituição, iniciaram as práticas de descentralização das políticas públicas. Como em suas próprias palavras: É dentro do sistema federativo e descentralizado, que se configurou com a Constituição de 1988, promulgada após o período de 20 anos de regime autoritário, que são implementadas as políticas de segurança alimentar, renda da cidadania e assistência social. Estados e municípios vieram a ter, a partir de então, novo papel, particularmente no que se refere à gestão das políticas sociais. Estados e municípios. Os municípios foram reconhecidos como entes federativos autônomos, com competência para organizar e prestar diferentes tipos de serviços públicos de interesse local, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão. O nível federal passou a transferir para os estados, e, principalmente, para os municípios, um conjunto de responsabilidades e prerrogativas na gestão das políticas, programas e prestação de serviços sociais e assistenciais. A referida Constituição garantiu, também, a criação de conselhos com participação da sociedade civil, dentre os diversos conselhos criados no Brasil, na última década destacam-se os conselhos de políticas de SAN, nas diferentes escalas (federal, estaduais e municipais). O quadro 5.3 mostra uma síntese das legislações, em âmbito federal, que dizem respeito às políticas públicas de SAN. Não se pode negar que as políticas de SAN no Brasil têm sido amparadas pelas mais diversas instâncias governamentais e da sociedade civil. O CONSEA e os Conselhos estaduais permitem a participação da sociedade civil. No caso de Pernambuco, o CONSEA/PE, foi criado em 2008, a partir da Lei nº 13.494, de 02 de julho de 2008 (PERNAMCUCO, 2008). Cabe ao CONSEA/PE propor e deliberar as diretrizes gerais da Política Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional e programas e ações que tornem efetivo, no Estado de Pernambuco, o direito à alimentação e à nutrição, como direito humano. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 138 Quadro 5.3 – Quadro temporal das políticas de SAN no Brasil Quadro temporal das políticas de SAN no Brasil Título da produção Decreto nº 7.492, de 2 de junho de 2011. Institui o Plano Brasil sem Miséria. Decreto nº 7.494, de 2 de junho de 2011. Altera o Decreto 5.209,de de 17 de setembro de 2004, que regulamenta a Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família. Decreto nº 6.275, de 23 de novembro de 2007. Cria, no âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN, a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. Autor Presidência da República. Brasília, 2011. Presidência da República. Brasília, 2011. Palavras-chave Plano Brasil sem miséria. Bolsa família. Categoria SAN – LegislaçãoNacional SAN – LegislaçãoNacional Sistema Nacional de SAN – Segurança Alimentar Legislaçãoe Nutricional Nacional (SISAN); Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. Lei Orgânica Nacional de Segurança Brasília, 2006 Lei Orgânica SAN – Alimentar e Nutricional (LOSAN) – Nacional de LegislaçãoLei nº 11.346 de 15 de setembro de Segurança Alimentar Nacional 2006. e Nutricional (LOSAN); Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). O perfil de extrema pobreza no Ministério do Perfil; Pobreza; SAN – Brasil com base no Censo de 2010. Desenvolviment Censo; Instituto Legislaçãoo de Combate à Brasileiro de Nacional Fome. 2011. Geografia e Estatística (IBGE). Decreto de 1º de dezembro de 2010 DOU. Brasília, Conferência SAN – – Convoca a VI Conferência 2010. Nacional; Segurança LegislaçãoNacional de Segurança Alimentar e Alimentar e Nacional Nutricional. Nutricional; Convocação; Soberania alimentar. Decreto nº 6272 – Dispõe sobre as Brasil. Brasília, Competência; SAN – competências, a composição e 2007. Conselho Nacional Legislaçãofuncionamento do Conselho de Segurança Nacional Nacional de Segurança Alimentar e Alimentar e Nutricional. Nutricional; Composição; Funcionamento. Decreto 7272 de 2010 – Brasil. Brasília, Sistema Nacional; SAN – Regulamenta a Lei nº 11.346, de 15 DF, 2010. Segurança Alimentar Legislaçãode setembro de 2006, que cria o e Nutricional; Direito Nacional Sistema Nacional de Segurança humano; Alimentar e Nutricional – SISAN com Alimentação vistas a assegurar o direito humano adequada; Política à alimentação. nacional. Fonte: Rede SAN. Disponível em: http://www.ufrgs.br/redesan. Acesso em: 20/02/2012. Rubio José Ferreira. Governo do Brasil. Brasília, 2007. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 139 Como integrantes do CONSEA/PE, os municípios, dentre os quais Recife e Vitória de Santo Antão, criaram seus conselhos municipais e os fóruns de SAN. Ao mesmo tempo, os Conselhos estudais de SAN integram o CONSEA-nacional. Também participam, como membros do CONSEA-nacional, os ministérios da Casa Civil, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), das Cidades, do Desenvolvimento Agrário (MDA), da Educação, da Fazenda, do Meio Ambiente, do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Saúde, do Trabalho e Emprego, da Integração Nacional, da Ciência e Tecnologia, das Relações Exteriores, dentre as diversas secretarias ligadas a alimentação, direitos humanos, de gênero etc. 3.3.2 Políticas ambientais e agricultura urbana e periurbana Como oposição à agricultura moderna, claramente causadora de grandes impactos negativos ao ambiente natural e à saúde, nos 1970, surgem movimentos que buscavam alternativas de uma agricultura sustentável. Nos anos de 1980, segundo Barbosa e Santos (2012, p. 07), estes movimentos agroecológicos visavam [...] o desenvolvimento de técnicas que conciliem a atividade agrícola com a manutenção das características naturais e ecológicas do ambiente, passando a diagnosticar e incentivar alternativas de manejo que reduzam os agrotóxicos nos agroecossistemas e que considere, sobretudo, as questões sociais e culturais, e não apenas tecnológicas e econômicas. Nesse universo de busca por agriculturas alternativas a AU e a AP, o interesse por parte de ONGs, pela AU e AP foi aumentado desde os anos 1980, período em que as questões ambientais no mundo passaram a ocupar as agendas de debates pelo mundo. Esse olhar para AU e AP dá-se pela sua dimensão ambiental (ecológica). A Conferência das Nações Unidas “Habitat II”, realizada em Istambul, Turquia, em 1996, foi um marco para a AU E AP no mundo. Nesta conferência, foi apresentado um relatório sobre agricultura urbana em 18 países, pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Como já dito, o referido relatório dá conta de que, naquele ano (1996), cerca de 800 milhões de pessoas no mundo praticavam AU e AP, sua grande maioria baseada em princípios agroecológicos. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 140 Sobre o papel da AU para a sustentabilidade, Smit (2000) afirma que ela pode reduzir os impactos negativos das cidades sobre a biodiversidade. Isso também porque ela incentiva a reciclagem de lixo orgânico na própria adubação, mantém superfícies permeáveis entre o ar e o solo etc. Este, portanto, como já dito, constituise de um dos aspectos da AU e da AP no que tange agrobiodiversidade. Isto posto, fica claro que as políticas públicas para a agricultura urbana e periurbana no Brasil abrangem diferentes escalas e objetivos. Em publicação da FAO, sobre a AU na América Latina e no Caribe, vê-se o seguinte: Em Cuba, os cultivos organopônicos urbanos cobrem aproximadamente 30 mil ha e produzem mais de 3 milhões de toneladas de verduras frescas por ano; Em El Alto (Bolívia), as microhortas familiares beneficiam mais de 500 famílias pobres urbanas que vivem a cerca de 4.000 metros acima do nível do mar, aproveitando o uso de tecnologias apropriadas como as miniestufas solares para produção de hortaliças; Na Colômbia, em 90 municípios do departamento de Antióquia existem 7.500 hortas familiares urbanas e periurbanas que produzem mais de 18 espécies diferentes de hortaliças, frutas e ervas aromáticas, em um programa que objetiva implantar 23 hortas em três anos. Em Bogotá, Medelin e Cartagena, os governos locais e a cooperação internacional capacitaram mais de 50 mil pessoas para cultivarem hortas em diversos espaços urbanos que incluem terraços, lajes e quintais domésticos. Estimase que as famílias envolvidas economizam US$ 1,30 por dia graças ao cultivo próprio de vários alimentos que consomem; Em Curitiba (Brasil), cerca de 8 mil agricultores urbanos e 6 mil estudantes cultivam alimentos em 1.280 hortas que ocupam mais de 200 ha de solos urbanos que chegam a produzir mais de 4.100 toneladas de alimentos por ano; Em Quito (Equador) o programa AGRUPAR promove atividades hortícolas e de criação de animais que envolvem mais de 455 hortas demonstrativas, familiares e escolares e mais de 56 empreendimentos para produção de aves, coelhos, porquinhos-da-índia e peixes; Em Moreno (Argentina), o programa municipal de AUP implementou 4.860 hortas familiares e 29 hortas comunitárias; Em Lima (Peru), vários distritos contam com Programas Municipais que ocupam mais de 10 ha de solos urbanos localizados em áreas de risco. Belo Horizonte (Brasil) integrou a AUP em sua política de segurança alimentar e no ordenamento territorial e uso do solo urbano. (FAO 2010. Disponível em: http://www.agriculturaurbana.org.br/sitio/textos/fum%20ipes_fao.pdf). Acesso em: 20/04/2011. (Destaques nossos) As referências que a FAO faz à AU no Brasil, destacam a imperiosa necessidade de que esta atividade seja contemplada no planejamento neste país, pois ela está presente nas grandes cidades, por todo o território, destacando-se as cidades de Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 141 Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Teresina (PI), Recife (PE), dentre outros lugares. As políticas públicas que buscam realizar algum desenvolvimento socioespacial, direta ou indiretamente contemplam a AU e AP. Vaitsman, Rodrigues e Paes-Sousa (2006, p. 15) afirmam que, a partir de 2004, no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)26, as secretarias Nacionais de Renda e Cidadania (SENARC), de Assistência Social (SNAS), e de Segurança Alimentar (SESAN), juntamente com outras secretarias e órgão do Governo Federal, “passaram a responder pelas políticas nacionais de desenvolvimento social, de segurança alimentar e nutricional, de assistência social, e de renda de cidadania”. A articulação entre essas secretarias e os projetos por elas desenvolvidos está mostrada figura 7.3. Figura 7.3 – Programas, projetos e ações do MDS Fonte: Vaitsman, Rodrigues e Paes-Sousa 2006, p.16. 26 Segundo Vaitsman, Rodrigues e Paes-Sousa (2006, p. 13 e 14), o MDS foi criado pela Medida Provisória nº 163, de 23 de janeiro de 2004, transformada na Lei nº 10.869, de 13 de maio de 2004, fundindo o Ministério da Assistência Social (MAS), o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e a Secretaria Executiva do Programa Bolsa Família, a qual era vinculada diretamente à Presidência da República. Em maio do mesmo ano, foi instituída a estrutura organizacional do novo Ministério, que passou a reunir as atribuições dessas três organizações. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 142 Os programas implementados pelas SENARC, SNAS e SESAN foram avaliados, na perspectiva da avaliação como parte do ciclo de políticas públicas pela Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI), também vinculada ao MDS. Essa avaliação será abordada no capítulo 5 da tese. Como resultado de ações do MDS, em parceria com a FAO, o Instituto de Promoção do Desenvolvimento Sustentável (IPES), a Rede de Intercâmbios de Tecnologias Alternativas (REDE), a RUAF e diversas ONGs, em 2007 foi feito levantamento da AUP em 11 Regiões Metropolitanas do país, como já mencionado, resultando no “Panorama da agricultura urbana e periurbana no Brasil e diretrizes políticas para sua promoção27 (SANTARDREU; LOVO, 2007). Apesar de alguns dos aspectos metodológicos do referido relatório serem questionáveis, há de se considerar que se trata de marco importante para o desenvolvimento dessa atividade no Brasil. Isto considerando que um panorama da AU e da AP, somado a análises críticas da realidade e do papel dos agentes envolvidos no processo, constituem avanços que culminaram em marcos legais para este segmento no Brasil. O relatório do MDS (2007) identifica que a AU e AP no Brasil constituem-se de demanda social. A sociedade civil, ONGs e o setor privado realizam mais ações para o fomento desta atividade do que o Estado. Isso, segundo Rosa (2011), constitui-se de um dos fatores que impede a verticalização da produção, e, por sua vez, a AU e AP não cumprem seu papel de geração de renda e mão de obra. Segundo Santardreu; Lovo (2007), os estados brasileiros, com ações dos governos estaduais e municipais, são agentes ativos no fomento da AU e AP. São eles: São Paulo, capital, com o Programa de Agricultura Urbana e Periurbana, além de inserção no Plano Diretor do município; Rio Grande do Sul, com experiências exitosas em boa parte da Região Metropolitana, que desenvolve ações em parceria com o Programa Fome Zero, do Governo Federal. Há de se destacar ainda o Distrito Federal, uma vez que Brasília, desde 2004, desenvolve ações, juntamente o IPES e 27 Para a elaboração do documento “Panorama da agricultura urbana e periurbana no Brasil e diretrizes políticas para sua promoção”, Santardreu; Lovo (2007) foram realizados relatórios regionais em 11 Regiões Metropolitanas: Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Brasília (DF), Goiânia (GO), Belém (PA), Fortaleza (CE), Recife (PE) e Salvador (BA), em parceria com ONGs locais, o resultou no relatório final em 2007. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 143 a ONU, e Minas Gerais. Este último estado aprovou a Lei Estadual nº 15.973 de 12/01/2006, além de decretos que visam o apoio a AU. Os programas e projetos em Belo Horizonte, são desenvolvidos em parceria com a RUAF e o IPES, através do Programa Global Cidades Cultivando Para o Futuro (CCF). Nessa parceria, está integrada a Prefeitura de Belo Horizonte e a ONG REDE. Este município decretou a Lei nº 10.255, de 13 de setembro de 2011, que institui a Política Municipal de Apoio à Agricultura Urbana. Por outro lado, na Região Nordeste do Brasil, apenas o município de Maracanaú no Ceará, possui legislação específica para AU e AP. Nos demais municípios das regiões metropolitanas pesquisadas por Santardreu; Lovo (2007), incluída a RMR, a AUP é produzida a partir de articulações entre a sociedade civil e ONGs, sem sistematização efetiva das atividades em epígrafe com as políticas públicas, nem no âmbito dos poderes públicos municipais. Salvo em ocasiões em que a orientação político-ideológica de algum desses governos municipais é popular e a demanda social pela AU e AP é visível a partir de movimentos sociais. Os marcos legais são muito importantes para o desenvolvimento da AU e da AP, na medida em que permite que os programas e projetos se constituam políticas públicas que visem o desenvolvimento socioespacial. Como se pode ver, as políticas públicas em seus diversos aspectos, atingem a AUP direta ou indiretamente, na medida em que perpassa por questões sociais, econômicas e ambientais, portanto, espaciais. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 144 4 AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA EM PERNAMBUCO NO CONTEXTO DOS ESPAÇOS DE RECIFE E VITÓRIA DE SANTO ANTÃO Depois de observadas as políticas públicas voltadas para a AU e para a AP, e consequentemente para o desenvolvimento socioespacial no Brasil, serão abordadas especificamente as PPs voltadas ao desenvolvimento da agricultura urbana e periurbana em Recife, Região Metropolitana e Vitória de Santo Antão. Antes, contudo, faz-se necessário conhecer a AU e AP em Pernambuco e sua relação com o espaço regional e local. É preciso conhecer os espaços dessa agricultura para então proceder a uma análise espacial. 4.1 AGRICULTURA URBANA E AGRICULTURA PERIURBANA EM PERNAMBUCO EM SUA RELAÇÃO COM O ESPAÇO Para o desenvolvimento das atividades humanas, em qualquer lugar, é preciso que haja não apenas investimentos financeiros, como também articulações com as dinâmicas econômica e social. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer da dimensão físico-geográfica do espaço. Pensar apenas no econômico, como se este fosse a “força que move o mundo”, é antes de tudo, uma incoerência social. O crescimento, apenas, econômico alcança favoravelmente alguns poucos grupos sociais, mas não atinge os demais grupos. Isto porque, em sua essência, o capitalismo promove desigualdades, uma vez que sempre busca a acumulação de capital a todo custo. Quando se busca o desenvolvimento de uma atividade social, outro aspecto que se deve levar em conta é o que diz respeito a fatores como a relação sociedadenatureza, ou seja, a forma e o conteúdo de cada espaço. Fatores que podem contribuir favoravelmente ou entravar tal desenvolvimento. Nessa perspectiva, a presente seção procura apresentar a AU e AP em Pernambuco, mais especificamente em Recife e Vitória, em sua relação com o espaço geográfico. Em assim sendo, as dimensões da agricultura urbana (social, política, econômica, ecológica e urbanística) são retomadas indiretamente, na medida em que se analisa o espaço. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 145 4.1.1 Recife e Vitória de Santo Antão: caracterização de dois subespaços no contexto das dimensões da agricultura urbana e periurbana Recife constitui-se de um aglomerado urbano de grande relevância do ponto de vista estadual e regional, como diz Araújo (2000a); isto porque, junto com Salvador e Fortaleza, comandam parte relevante da vida econômica do Nordeste. Entretanto, no que tange à caracterização do espaço local, mediante a AU, essa cidade também apresenta suas especificidades ambientais, sociais, econômicas, políticas etc. Do ponto de vista das suas condições físico-naturais, Recife apresenta fatores que contribuem para a reprodução e o desenvolvimento da agricultura urbana, tanto para o cultivo de vegetais, quanto para a realização de outros tipos de atividades relacionadas com a produção agropecuária. Portanto, faz-se mister que se observe, de maneira geral, o papel do sítio geográfico sobre o qual se ergueu a cidade, bem como o das suas condições ambientais na atualidade. Segundo o Atlas Ambiental da Cidade do Recife (RECIFE, 2000), o sítio urbano desta cidade, é uma planície flúvio-marinha, que é circundada por colinas, também de origem sedimentar, formando um anfiteatro. O mesmo Atlas divide o Recife em 05 ambientes denominados de unidades ambientais: i) Ambiente Litorâneo, cujo solo de areia é densamente ocupado e economicamente dinâmico; ii) Ambiente de Planície, que possui solo de massapê, largamente utilizado para monocultura da cana-de-açúcar até o século XIX, e que hoje é ocupado por mais de 500 mil pessoas, grande parte da AU produzida nesta cidade tem lugar neste ambiente; iii) Ambiente do Baixo Estuário, onde ocorre encontro de água doce com salgada, formando manguezais, que passam por processos de aterros desde o início da história da cidade, e que é ocupado, atualmente, pela carcinocultura; iv) Ambiente Aquático, com o qual a sociedade local nutre intensa relação, tanto que os habitantes do Recife já foram conhecidos como homens anfíbios; e v) Ambiente dos morros, cuja altitude das colinas varia entre 50 a 80 metros na área sul da cidade, alcançando os 100 metros nos tabuleiros e chãs da área norte. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 146 Em áreas das zonas norte e noroeste da cidade, situadas nestes últimos ambientes, mais especificamente nos bairros da Guabiraba e Pau Ferro, estão localizadas diversas chácaras, granjas etc. No zoneamento urbano do Recife, realizado em 1949, estas áreas eram consideradas semi-rurais. Desde os anos de 1980 que o município do Recife é considerado 100% urbano (CONDEPE/FIDEM, 1981- 1991), a agricultura ali produzida apresenta algumas características de AP. Os bairros de Guabiraba e Pau Ferro estão representados na figura 1.4. Do ponto de vista hidrográfico, Recife é banhado pelos rios Capibaribe, Beberibe, Tejipió, Jiquiá e Jordão, e por diversos canais e córregos que passam por entre as colinas, sendo este um dos fatores que contribuem para o fato de grande área da cidade apresentar solos aluviões, argilosos e arenoargilosos. As áreas nas quais se pratica agricultura em Recife variam entre “terras agricultáveis de bom potencial” a “não indicadas para atividades agrícolas”. As áreas “não indicadas para atividades agrícolas” referem-se a algumas das quais são utilizadas para cultivos de camarões, mariscos etc. uma vez que se constituem de solos típicos de mangue. As áreas de “silvicultura e reflorestamento” são as que abrigam as reservas florestais da cidade. Vale lembrar que os princípios agroecológicos, aplicados à AU e à AP, contribuem como fatores de sustentabilidade ambiental, por isso a maior parte da AU e da AP, no mundo, é realizada sob estes princípios. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Figura 1.4 – Recife: bairros de Guabiraba e Pau Ferro Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano na RMR (RECIFE; CONDEPE/FIDEN, 2011). Rubio José Ferreira. 147 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 148 Outro aspecto a ser destacado, no que tange às condições ambientais da cidade, é o que diz respeito às chuvas que ocorrem, em sua maioria, no outono e inverno. Este fator é importante, na medida em que nem sempre os agricultores urbanos têm acesso à água para irrigação, e quando o tem, o custo para utilizá-la pode diminuir a lucratividade da produção. Por isso, os fatores climáticos também influenciam diretamente na vegetação dos lugares. Somando-se este dado ao da temperatura média do local (25,4º C), classifica-se o clima do Recife, segundo Köppen, de Tropical quente-úmido, ou seja, As’. Em Recife, encontra-se uma cobertura vegetal típica de diversas cidades litorâneas brasileiras e, especialmente, nordestinas. O Atlas Ambiental do Recife (RECIFE, 2000) diz que a cobertura vegetal desta cidade é composta de remanescentes de mata, variando em termos de grau de conservação, mediante a ocupação urbana. O quadro 1.4 mostra que mais de 10.000 ha. do território do Recife possui revestimento vegetal. Quadro 1.4– Recife: dimensionamento da cobertura vegetal Recife: dimensionamento da cobertura vegetal Padrões Vegetais Vegetação Arbórea densa Vegetação Arbórea aberta Vegetação Arbustiva densa Vegetação Arbustiva aberta Vegetação Arbustiva Herbácea Vegetação Herbácea Vegetação de Mangue Campos de várzea Aracarceae Pomar Cultura de subsistência Total Fonte: Atlas Ambiental do Recife (RECIFE, 2000). Área coberta ha. 1.833,3 1.693,9 909,1 549,5 523,6 1.035,6 432,3 240,2 118,8 1.598,8 1.099,5 10.034,6 % 8,5 7,7 4,2 2,5 2,4 4,7 2,0 1,1 0,5 7,3 5,0 45,9 Contudo, diante destes dados, não se pode deixar de observar que parte do que o Atlas Ambiental considera revestimento vegetal, trata-se de pomares e cultura de subsistência, ou seja, a AU praticada no ano de 2000, em mais 12% do território municipal, como se pode ver no quadro supramencionado. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 149 Por outro lado, o município de Vitória de Santo Antão está localizado na mesorregião Mata e na Microrregião Vitória de Santo Antão do Estado de Pernambuco, limitandose a norte com Glória do Goitá e Chã de Alegria; a sul com Primavera e Escada; a leste com Moreno, Cabo de Santo Agostinho e São Lourenço da Mata; e a oeste com Pombos. (MASCARENHAS, 2005). Ainda de acordo com Mascarenhas (2005), a sua área municipal ocupa 344,2 km2 e representa 0.35 % do Estado de Pernambuco. Está inserido na Folha SUDENE de Vitória de Santo Antão na escala 1:100.000. A sede do município tem altitude aproximada de 156 metros e coordenadas geográficas de 08 Graus 07 minutos 05 segundos de Latitude Sul e 35 Graus 17 minutos 29 segundos de Longitude Oeste, distando 45,1 km da capital – Recife. Souza et al. (2008) destacam que a bacia hidrográfica do rio Tapacurá é de grande importância estratégica para a Região Metropolitana do Recife, uma vez que se trata de manancial para abastecimento público de mais de um milhão de habitantes, por meio do reservatório da barragem do Tapacurá. Portanto, as atividades humanas, rurais e urbanas, que se estabelecem a montante do reservatório, têm o potencial de comprometer o abastecimento público metropolitano. O município de Vitória de Santo Antão abrange porções superiores de importantes bacias hidrográficas da Zona da Mata do Estado de Pernambuco: Bacia do Rio Tapacurá que corta o município e é um dos mais importantes afluentes do Capibaribe. Afluentes: Rio Natuba, Riacho Ronda, Pacas, Mocotó. E as do Jaboatão que abastece a cidade de Moreno, Pirapama, cuja nascente no município é pequena parte da Bacia do Rio Ipojuca, servindo de limite com o município de Primavera. (MASCARENHAS, 2005). A sub-bacia hidrográfica do rio Natuba possui uma área de drenagem de aproximadamente 39 km² (3.874,08 ha), que correspondem a 8,23% da área da bacia do Tapacurá. O seu curso principal, com extensão de 17,5 km, possui um afluente na sua margem esquerda com comprimento de aproximadamente 1,6 km e 24 afluentes na margem direita, que totalizam 39,6 km de cursos d’água (SILVA, 2007). A nascente do curso principal localiza-se no interior do fragmento da Mata do Ronda na região do Alto Natuba. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 150 Gelogicamente, Gomes e Santos (2008) apontam Vitória de Santo Antão com constituição basicamente representada por rochas metaplutônicas (mesoproterozóica) compostas por leucogranitóides contendo biotita e muscovita. Além do Complexo Belém de São Francisco (mesoproterozóico) formado por biotita ortognaisses tonalíticos/granodioríticos, leucocrático de cor cinza, geralmente migmatizados e migmatitos com mesossoma quartzo diorítico/tonalítico a anfibólio e/ou biotita, etc. Apresenta também suíte Magmática (neoproterozóico) compostos por monzonitos e granodioritos com enclaves máficos/filiação alcalina-metaluminosa e suítes Magmáticas (neoproterozóico) formados por quartzodioritos com variações para monzodioritos, monzogranitos e biotitagranodioritos. O relevo de Vitória de Santo Antão faz parte da unidade das Superfícies Retrabalhadas que é formada por áreas que têm sofrido retrabalhamento intenso, com relevo bastante dissecado e vales profundos. Na região litorânea de Pernambuco e Alagoas, é formada pelo “mar de morros” que antecedem a Chapada da Borborema, com solos pobres e vegetação de floresta hipoxerófila em sua grande parte. Os solos dessa unidade geoambiental são representados pelos Latossolos nos topos planos, sendo profundos e bem drenados; pelos Podzólicos nas vertentes íngremes, pouco a medianamente profundos e bem drenados e pelos Gleissolos de Várzea nos fundos de vales estreitos, com solos orgânicos e encharcados. O clima dominante na área da bacia do rio Natuba é o Tropical chuvoso ou Megatérmico úmido, com temperatura média anual de 23,8ºC, variando entre a mínima de 19,3ºC e a máxima de 30,9ºC (SILVA, 2007). De acordo com os dados pluviométricos dos postos de Vitória de Santo Antão e Engenho Serra Grande, a área apresenta uma precipitação média anual entre 1.008 mm e 1.395 mm com o período chuvoso entre os meses de março a julho, ou seja, chuvas de outono-inverno, concentrando-se nessa estação em torno de 70% da precipitação média anual (BRAGA et al.,1998). Segundo Braga (2011), originalmente toda a área da bacia do rio Natuba era coberta pela floresta tropical úmida atlântica, típica da Zona da Mata de Pernambuco. Com a Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 151 expansão da monocultura da cana-de-açúcar para o interior, quase toda a região foi ocupada por canaviais, pertencentes a grandes latifúndios. Essa cobertura vegetal foi em grande parte degradada devido à expansão da monocultura de cana de açúcar, a qual a partir do início da década de 90, com a crise canavieira, foram gradativamente substituídos pela horticultura folhosa. Vale destacar que a cobertura atlântica tem domínio num importante remanescente conhecido como Mata do Ronda, que possui cerca de 512 ha de extensão e a caatinga é encontrada nas escarpas da Serra das Russas (BRAGA, 2005). É nesses contextos físico-naturais que a agricultura urbana em Recife e a periurbana em Vitória se desenvolvem. Contudo, convém lembrar que para que a agricultura se desenvolva, não basta apenas que os fatores ecológicos lhe sejam favoráveis; é preciso, também, que haja conexão com todos os outros fatores, dentre os quais aqueles relativos à demografia e à urbanização. No que concerne aos movimentos de população, estes são de fundamental importância para as transformações do espaço geográfico, já que eles produzem migrações, concentrações, descentralizações e aglomerações, ou seja, diferenciações espaciais quanto à distribuição, à densidade etc. Ademais, as concentrações, aglomerações, etc. ocorrem tanto no que diz respeito à população quanto aos objetos geográficos. Desse modo, os espaços urbanos e periurbanos são mais ou menos urbanizados, economicamente produtivos, etc. mediante as densidades das ações do homem sobre ele. A distribuição populacional não ocorre homogeneamente no espaço, ou seja, numa mesma cidade há alguns lugares densamente construídos e habitados e outros com menores concentrações de pessoas e objetos urbanos. Ademais, os fatores de crescimento populacional são de grande relevância para o processo de urbanização mais ou menos adensado, permitindo que alguns espaços da cidade sejam utilizados para agricultura, apesar da situação de total urbanização, processo este que, nos caso de Recife e Vitória, foi iniciado desde o século XVII, conforme dados do IBGE (2000). Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 152 Em seu processo evolutivo de urbanização, Recife cresceu em extensão territorial e importância, principalmente a partir da Conquista de Pernambuco pelos holandeses, no século XVII. Com as mudanças econômicas e sociais ocorridas no mundo, e no Brasil, especificamente a partir da segunda metade do século XX, houve também, nos espaços intraurbanos, um forte processo de urbanização. Em Recife, no final dos anos de 1980, a população rural deixou de ser contabilizada nos anais de contagem da população, com a argumentação de serem números inexpressivos. Como se pode ver no gráfico 1.4, o crescimento da população é notoriamente urbano. Gráfico 1.4 – Recife: evolução da população residente por situação de 1980 a 2010 Fonte: elaborado pelo autor deste trabalho com dados do IBGE, 2012 e CONDEPE/FIDEN 1980 a 1991. Até 1986, a população rural de Recife correspondia a 0,87% do total da população. Isso pode ser verificado na tabela 1.4, mediante a qual se percebe que as taxas de urbanização nesta cidade já eram elevadas desde os anos 1940, o que continuaria aumentando até alcançar os 100% no censo demográfico de 1991. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 153 Tabela 1.4 – Recife: taxas de urbanização de 1940 a 2010 Recife: taxa de urbanização 1940 – 2010 Total 348.400 Pop. Urbana Pop. Rural *** Tx. Urbanização % 1940* Ano **** **** 93,06 1950** 533.844 **** **** 97,65 1960** 797.200 788.600 8.700 98,91 1970 1.060.701 1.046.320 14.381 98,65 1980 1.203.887 1.183.363 20.524 98,30 1991 1.298.229 1.298.229 - 100 1996 1.346.045 1.346.045 - 100 2000 2010 1.422.905 1.536.934 1.422.905 1.536.934 - 100 100 Notas: * Dados de Melo, 1978. ** Dados do Censo 1950 disponível: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20%20RJ/CD1950/CD_1950_XVII_t1_PE.pdf> Acessado em 03/10/2006. Para os anos de 1970, 1980 e 1991. *** Dados de Souza, 2001. **** Sem dados. Demais: IBGE - Censo Demográfico 2000 disponível em: www.ibge.gov.br. Acessado em 05/09/2006. Fonte: adaptado pelo autor deste trabalho com base em Melo 1978, IBGE, 2006 e 2010 e Souza, 2001. Observando os dados da tabela 1.4, no seu conjunto, nota-se que a população urbana de Recife cresce com taxas que seguem relativamente a média nacional. As taxas de população urbana do Brasil, ao longo das últimas 4 décadas foram, de 67,70% em 1980; 75,47% em 1996 e 81,23% em 2000 (SOUZA, 2001), 84,3% em 2010. Como a área territorial da capital pernambucana é relativamente pequena, 218,7 km2 , sua densidade demográfica é de 7.050 habitantes por km2, segundo dados do IBGE (2010). Ao mesmo tempo, os movimentos populacionais em Vitória são semelhantes aos do Recife, uma vez que a população total do município cresce, enquanto a população rural diminui. A tabela 2.4 mostra o crescimento populacional de Vitória entre os anos 1970 e 2010. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 154 Tabela 2.4 – Vitória de Santo Antão: população residente 1970 a 2010 Vitória de Santo Antão: população residente (Pessoas) Situação do domicílio Total Ano 1970 1980 1991 2000 2010 80.537 93.198 106.848 117.609 129.974 41.682 Rural 38.855 Fonte: IBGE/SIDRA, 2012 63.611 85.363 99.342 113.429 29.587 21.485 18.267 16.545 Urbana No que tange a forma de urbanização do Recife, Pontual (2001) diz que este processo ocorreu de forma tentacular, a partir da segunda metade do século XIX, com o aparecimento das ligações (caminhos) do centro até os subúrbios. Na década de 1940, quando foi desenvolvido o Plano de Urbanização e Desenvolvimento do Recife, foram realizadas diversas pavimentações, interligando avenidas (PONTUAL, 2001). Com o passar do tempo, as edificações foram preenchendo os espaços existentes entre os citados tentáculos, dando origem a vários bairros, mudando a fisionomia da cidade e interligando fisicamente os seus territórios. Essa mancha urbana do Recife, construída através de relações entre sítio geográfico e urbanização, constitui rugosidades importantes para a dinâmica urbana atual e, claro, para a agricultura desenvolvida nesta cidade. O processo de urbanização e o aumento do contingente populacional na cidade, mediante as transformações econômicas, políticas e sociais, excluíram a monocultura da canade-açúcar, permanecendo impressas suas marcas em diversos bairros através de denominações (Engenho do Meio, Casa Forte etc.) e de edificações (Sobrado da Madalena, casario em Apipucos etc.). Diversos lugares, hoje, são atualmente usados para uma nova agricultura, a urbana, representando rugosidades espaciais. Contudo, vale salientar que a AU praticada, atualmente, em Recife, pouco tem a ver com o período da monocultura da cana-de-açúcar. Trata-se, hoje, de uma produção agrícola que muito mais possui vínculos com o modo de vida urbano e os processos de urbanização atuais. A maior parte dos agricultores em Recife, atualmente, é emigrante do interior do estado, e possui pouca relação com cultura da cana-deaçúcar. São agricultores voltados para a agricultura familiar. Dependendo da Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 155 localização e do perfil produtivo de cada área da cidade, os agricultores apresentam perfis distintos e, consequentemente, a motivação para a prática da agricultura. Ao serem questionados sobre os motivos que os levaram a produzir agricultura na cidade, ouviu-se dos agricultores o seguinte: Estava faltando as coisas em casa e tinha um monte de terra que era só mato, pertinho de casa, então fui plantar pra ter o que comer e arrumar dinheiro. Eu vim do Sertão faz mais de 40 anos. Trabalhei no cabo da enxada a vida toda, até vir pra Recife. No meio de um monte de casas, prédios e asfalto a gente ainda encontra lugares como esse aqui que dá pra plantar. (Transcrição de um comentário de um agricultor, próximo ao 28 CEASA, em agosto de 2008). (Foram feitas correções ortográficas ). Eu sou aposentado, mas a família é grande, eu vim do Sertão, aqui tinha essa área toda com mato, terra boa, várzea aí eu peguei a enxada e fui pro mato, depois encheu de gente, mas dá pra todo mundo. Hoje está diferente, a terra está muito fraca e tem uns donos de terras aqui que são ricos aí a gente que é pequeno, fica só comendo a rebarba. (Transcrição de um comentário de um agricultor, próximo ao CEASA, em agosto de 2008). Essa terra aqui é muito boa, a gente já plantava faz muito tempo. Um tempo desses vieram uns professores e estudantes da faculdade querendo ajudar a gente, eles ensinaram a trabalhar em grupo, mas quando eles foram embora, só algumas pessoas como eu continuamos plantando, o resto abandonou. Na verdade a gente quer continuar plantando o que a gente come e não essas plantas medicinais que não rende nada pra gente. (Transcrição de um comentário de um agricultor, próximo ao Horto de Dois Irmãos, em outubro de 2008). Chegou um pessoal aqui, da Prefeitura, sei lá, e disse que quem quisesse trabalhar com agricultura era só se cadastrar, foi um monte de gente, mas o trabalho é pesado e a gente não vê resultado logo, por isso saiu todo mundo, só fiquei eu. Nem meus filhos quiseram continuar. (Transcrição de um comentário de uma agricultora, no CSU – Totó, em outubro de 2008). As falas desses agricultores evidenciam que a AU em Recife, constitui-se de alternativa de renda e segurança alimentar, dentre tantos outros aspectos já mencionados. Daí a importância de que as ações para essa agricultura sejam – oriundas da própria sociedade civil, do Estado ou de ONGs –, contínuas e vinculadas com a realidade desses agricultores. Ao que se vê, embora as realidades sejam distintas, o principal fator que motiva a agricultura urbana tem base familiar e não aparenta ter nenhuma ligação com a monocultura da cana. Portanto, sua opção em termos de atividade no espaço tem muito mais a ver com o modo de vida rural dos primeiros agricultores durante o 28 Para todas as transcrições de entrevistas serão feitas correções ortográficas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 156 processo de configuração espacial da cidade, do que com o sistema econômico da monocultura. O que é reforçado pelo processo de urbanização. Portanto, o modo da agricultura rural, antes praticada pela população do Recife, que hoje é imigrante, aliado às necessidades de sobrevivência na cidade e à ociosidade de terras – não cumprindo com sua função social – nos diversos espaços urbanos, são os principais fatores para a reprodução da AU. Vale salientar que grande parte da população migrou de cidades ou de zonas rurais do interior do estado, trazendo consigo hábitos ligados ao modo de vida no campo, dentre os quais a prática da agricultura. E se, atualmente, a agricultura praticada na cidade possui outra configuração, uma vez que grande parte dos agricultores já não é a mesma que iniciou as atividades há dezenas de anos atrás, esta foi moldada processualmente no desenrolar da dinâmica do espaço urbano, com seus diversos usos, mediante diferentes aspectos sociais, econômicos e políticos. Desta forma, o uso do solo é um fator relevante deste processo. Em Vitória, a atual mancha urbana possui intensa relação com marcos históricos que contribuíram para o seu processo de urbanização. A construção da Estrada de Ferro Central de Pernambuco, em 1885, foi de um desses marcos. Foi construída em 1886, uma estação ferroviária nesta cidade, intensificando a ligação entre Vitória e Recife e, dinamizando a economia local. Já no século XX, com indústrias se instalando no município e a pujança da monocultura da cana-de-açúcar na Zona da Mata de Pernambuco, a população deste município cresceu ainda mais. Na segunda metade do século XX, Vitória passou a ser classificada, segundo sua área de influência, como centro subrregional, por sua relativa densidade em termos de equipamentos e serviços (IBGE, 2007). Ao longo dos anos, o setor industrial e de serviços em Vitória recebeu investimentos públicos e privados, assim como o setor agrícola. Contudo, o investimento neste setor se deu principalmente para a monocultura da cana-de-açúcar. Em assim sendo, os agricultores familiares migraram para a cidade. Andrade (1984, p. 36) lembra que o “crescimento urbano, sobretudo nas cidades de pequeno porte, está ligado diretamente ao problema da terra”. Esse crescimento sem planejamento repercutiu em problemas de ordem econômica, social e ambiental, portanto, espacial nessas cidades. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 157 Diante dessa configuração espacial, a mancha urbana de Vitória cresceu em todas as direções, alcançando áreas antes voltadas exclusivamente para atividades agropecuárias, como é o caso do espaço objeto de análise desta tese. O uso do solo acontece mediante a superposição de aspectos econômicos, sociais e políticos. Logo, a AU e a AP poderão desenvolver-se, ou entravar o desenvolvimento dependendo das ações dos agentes sociais locais e externos a cada lugar. O espaço vai sendo processualmente moldado mediante as transformações nos âmbitos econômico, político e social. Em assim sendo, a agricultura produzida em Recife e em Vitória foi, também, sendo moldada mediante as transformações espaciais locais. No que tange aos aspectos econômicos, a agricultura perdeu sua importância desde o tempo em que a base da economia do Recife passou a se constituir de atividades terciárias. Se Recife teve seu início como uma colônia de pescadores, posteriormente tomou função portuária, constituindo-se, hoje, em um polo de serviços (ANDRADE, 1979, p. 37). Por outro lado, em Vitória, a agricultura continua como uma das bases produtivas do município, mas os setores da indústria e dos serviços é que absorvem a maior parte da população economicamente ativa local, segundo dados do IBGE (2012). Em Recife, os valores movimentados na economia local, referentes à agropecuária, correspondem às atividades de produção vegetal e animal nas diversas unidades produtivas distribuídas pela cidade. A produção agropecuária tornou-se mais evidente, nesta cidade, por volta dos anos 2000 quando ONGs, Estado e universidades passaram a apoiar os agricultores urbanos, através de recursos financeiros, apoio técnico etc. Segundo dados do IBGE, em Recife, em 2003 havia 871 ha. de área plantada e 704 pessoas ocupadas em atividades distribuídas em agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal (IBGE, 2007), como mostrado na tabela 3.4. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 158 Tabela 3.4 – Recife: pessoal ocupado e produção agropecuária em 2012 Pessoal ocupado em estabelecimentos agropecuários* 2012 Município Recife Homens 3.498 Mulheres 1.012 Total 4.510 Vitória de Santo Antão 5.280 2.581 7.861 *Pessoas com 10 anos ou mais de idade, cuja atividade de trabalho principal é agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura. Fonte: IBGE/Censo Agropecuário 2006 (atualizado em 2012) Numa pesquisa mais detalhada, realizada pelo IBGE, em 2006, o Censo Agropecuário, verifica-se que, em Recife, havia 725 hectares utilizados, de alguma forma, para agricultura urbana, a tabela 4.4 mostra isso. Tabela 4.4 – Recife e Vitória: número de estabelecimentos agropecuários e área ocupada (2012) Número de estabelecimentos e área ocupada com agropecuária em Recife e Vitória Município Recife Vitória de Santo Antão Total de estabelecimentos agropecuários 170 2.734 Área (ha) 725 16.354 Fonte: IBGE/Censo Agropecuário 2006 (atualizado em 2012) Dos 16.354 hectares utilizados com atividades agropecuárias em Vitória, cerca de 25 hectares compõem a área periurbana pesquisada nesta tese. Por outro lado, em Recife, a agropecuária é pouco integrada ao desenvolvimento econômico local, e a agricultura ainda está menos integrada. Ao que parece, a AU é vista como uma atividade de “passa-tempo”, a qual pode auxiliar na diminuição da insegurança alimentar para os grupos sociais pobres da cidade. Mesmo que assim o fosse, a AU já desempenharia papel social importante, na cidade. No entanto, é preciso considerar o fato de que os grupos de pessoas envolvidas com a AU em Recife são constituídos de pobres que buscam, nesta atividade, uma forma de complementar suas rendas familiares. Ao passo que em Vitória, a AP está vinculada ao desenvolvimento rural. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 159 A AU, enquanto atividade agrícola, também é uma atividade econômica importante para os envolvidos. Todavia, ela tem sido desconsiderada, durante algum tempo, pelo planejamento urbano, o qual desconsidera também todos os benefícios que ela pode oferecer para a população da cidade. Mais uma vez, vale destacar a importância da dimensão espacial para se entender as engrenagens da agricultura, na sua diferenciação entre rural e urbana. O espaço do Recife é totalmente urbanizado, o de Vitória apresenta a clássica divisão do espaço rural diferenciado do urbano. Contudo, não se considera o espaço periurbano daquele município. O espaço periurbano de Vitória tem intensa ligação com a agricultura. Em trabalho de campo foi possível constatar que, excetuando a área pesquisada nesta tese e outras áreas onde estão sendo instaladas grandes indústrias (margens das rodovias BR-232 e PE-50), as demais áreas do entorno da cidade são claramente definidas do que é rural e o que é urbano. Por outro lado, algumas áreas estão em acelerado processo de urbanização, como mostrado na figura 2.4. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 160 Figura 2.4 – Vitória de Santo Antão: área periurbana Fonte: elaborado por Antônio Marcos dos Santos, com base em dados de campo. A figura citada acima, mostra a área de contato entre o rural e o urbano em Vitória, representada com a cor amarela. Consideramos área periurbana todo o entorno da cidade. Contudo, o espaço da produção hortaliças (AP) é apenas a que está representada na figura em verde. A área de contato entre a cidade e a área periurbana em Vitória por vezes se confunde visualmente. Comparando-se com a classificação de área de transição rural urbana, do tipo urbano-rural, mostrada por Miranda (2008), a área em tela muito se assemelha. Contudo, vale lembrar que esta semelhança que estamos falando, diz respeito à escala municipal e não de RM como no estudo da referida pesquisadora. As fotos 1.4, 2.4 e 3.4 mostram a configuração espacial dessas áreas de contato urbano-rural. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 161 Fotos 1.4 – Bairro de Lagoa Redonda Fonte: trabalho de campo. Fotos do autor deste trabalho em janeiro de 2013 e imagem de Mapwiki. Foto 2.4 - Bairro Jardim Ipiranga Fonte: trabalho de campo. Fotos do autor deste trabalho em janeiro de 2013 e imagem de Mapwiki. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 162 Foto 3.4 – Assentamento Natuba Fonte: trabalho de campo. Fotos do autor deste trabalho em janeiro de 2013 e imagem de Mapwiki. A foto 3.4 corresponde ao que na figura 2.4 está representado como “área residencial de assentamento”, mostrado na cor rosa. A maior parte dos agricultores periurbano residem na área do assentamento. Como já dito, os vetores de expansão urbana em Vitória são ligados à industrialização e à dinâmica em torno das rodovias. Portanto, cabe buscar conhecer a AP de Vitória e AU de Recife, buscando-se relacionar com a reprodução desses espaços e o próprio processo de intensificação da urbanização. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 163 4.1.2 Panorama geral da agricultura urbana em Recife e da agricultura periurbana em Vitória de Santo Antão Para a caracterização da AU em Recife, tomou-se os dados empíricos coletados entre 2005 e 2012, e para a AP de Vitória, os coletados entre 2009 e 2012. Como base teórico-metodológica, tanto para a AU quanto para a AP, tomou-se as variáveis destacadas por Mougeot (2000): tipo de atividade econômica; localização; tipos de áreas utilizadas; sistema e escala de produção; tipos de produtos; e destinação de produtos. Estas variáveis, ou fatores, se analisadas em conjunto, e levando-se em conta as dimensões da agricultura urbana e da periurbana como um todo, permitem análises espaciais de abrangência ampla. 4.1.2.1 Panorama da agricultura urbana em Recife A agricultura, em Recife, tem lugar em áreas da cidade que são desprovidas de construções ou de outras formas de urbanização (parques, jardins, praças, margens de rodovias e de reservas florestais etc.). As áreas ociosas são ocupadas de duas formas: ou são ocupadas por famílias que constroem casas formando as “favelas” 29, ou são ocupadas para a produção de alguma atividade econômica, dentre as quais a agricultura. Analisando a AU em Recife, foram identificadas 20 áreas com algum tipo desta atividade, como se pode ver no quadro 2.4. A distribuição espacial da AU em Recife está representada na figura 3.4. 29 Em 2000, em Recife, havia 134.790 pessoas residindo em aglomerados subnormais, segundo dados do Atlas de Desenvolvimento Humano no Recife (RECIFE, 2005). Vale ressaltar que as áreas com agricultura urbana estão localizadas em áreas que apresentam altos índices de pobreza. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 164 Quadro 2.4 – Recife: áreas com agricultura urbana e tipo de atividades Espaços da agricultura urbana em Recife, por tipo de atividades e classes de áreas Área 01 02 03 04 05 06 07 08 09 Bairro Local Estuário do rio Capibaribe Hortas comunitárias Hortas comunitárias Hortas comunitárias Hortas urbana localizadas próximo à reserva florestal; Hortas comunitárias Hortas comunitárias Ilha Joana Bezerra Cabanga Dois Unidos Dois Irmãos Dois Irmãos Ilha do Zeca Cabanga – Quartel Vale do Senhor Sítio dos Pintos Dois Irmãos Casa Amarela Agricultura Hortas urbana localizadas próximo à reserva florestal; Hortas comunitárias Hortas urbana localizadas próximo à reserva florestal; Hortas comunitárias Hortas urbana localizadas próximo à reserva florestal; Hortas comunitárias Guabiraba Sítio da Trindade (Sementeira) Bola na Rede/ Diversas Pau Ferro Pau Ferro Agricultura Córrego do Jenipapo Centro Comunitário CEMPO Fitoterápicos Cidade Universitária Caxangá UFPE Agricultura Caxangá Piscicultura Lar Fabiano de Cristo e Escola Senador Novaes Filho Centro de Ensino Popular e Assistência Social (CEPAS) Contorno Avenida Recife Contorno BR- 101 Agricultura 10 11 12 Hortas situadas próximo à rodovias Hortas comunitárias 13 Hortas comunitárias 14 Várzea Torre Hortas situadas próximo à Curado rodovias 15 Hortas situadas próximo à Curado rodovias 16 Hortas situadas próximo à Curado rodovias; Hortas urbana localizadas próximo à reserva florestal 17 Hortas comunitárias; Hortas Totó urbana localizadas próximo à reserva florestal; 18 Estuário do rio Capibaribe Imbiribeira 19 Estuário do rio Capibaribe Imbiribeira 20 Estuário do rio Capibaribe Imbiribeira Fonte: Trabalho de Campo (2005 a 2012). Rubio José Ferreira. Tipos de Atividade Predominante Carcinocultura Carcinocultura Agricultura Agricultura Agricultura Agricultura Fitoterápicos Agricultura Agricultura BR-232/Jardim Botânico Agricultura CSU Bido Krause Agricultura Ilha de Deus Vila São Miguel Imbiribeira/Jiquiá/Areias Carcinocultura Carcinocultura Carcinocultura Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Figura 3.4 – Representação espacial da AU em Recife Fonte: elaborado pelo autor deste trabalho com base cartográfica do ZAPE (SILVA et al., 2001). Rubio José Ferreira. 165 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 166 Das 20 áreas supramencionadas, podemos classificá-las em quatro níveis: conjunto de áreas situadas às margens de rodovias; hortas comunitárias apoiadas institucionalmente; hortas urbanas localizadas próximas às reservas florestais; e carcinocultura no estuário do rio Capibaribe. Somam-se ainda a agricultura urbana produzida nos quintais, às margens dos rios etc. Vale destacar que, uma mesma horta pode ser classificada em mais um nível, como visto no quadro citado acima. A AU em Recife existe, em sua maioria, por demanda social, ou seja, da própria sociedade civil. Numa breve descrição das áreas, têm-se o seguinte: 1. Ilha do Zeca – Localizada entre os bairros de Afogados e Joana Bezerra, nesta área, pratica-se carcinocultura nas bordas da ilha em área de mangue; além de criação sazonal de siris e peixes. A ilha possui 25 hectares, com dezenas de viveiros e três campos de futebol. Segundo Silva (2004), as 150 pessoas que cultivam camarões, peixes e siris na área são residentes em duas “comunidades” em seu entorno: Caranguejo e Tabaiares. O grupo de moradores da ZEIS Caranguejo e Campo Tabaiares é, para Silva (ibdem), um “grupo humano marginal urbano”. A área é uma ZEPA (Zona Especial de Proteção Ambiental) , situada no braço sul do Rio Capibaribe, sendo bastante visível para quem viaja de metrô entre as estações Afogados e Joana Bezerra. As ações do Estado nesta área estão vinculadas às políticas sociais da Prefeitura, no âmbito de saneamento básico, saúde etc. 2. Cabanga – Numa área de propriedade do Ministério do Exército, nas instalações do 7º Depósito de Suprimentos do Exército, numa área de cerca de 5.000m2 o acesso foi permitido à população do bairro para o cultivo de hortaliças. Atualmente, a horta encontra-se desativada. 3. Vale do Senhor – Trata-se de uma área de 10.000 m2, situada no bairro de Dois Unidos. Esta área está inserida no projeto de apoio à AU, da Prefeitura, em 2004. Contudo, a horta foi desativada no mesmo ano. Segundo depoimento de agricultores e do gestor do projeto, logo após a instalação da horta comunitária as máquinas e utensílios foram roubados inviabilizando a continuidade das atividades. Isso, ao mesmo tempo desestimulou os agricultores e a horta foi desativada. Ainda existe cultivo de hortaliças nesse bairro, realizado por moradores em pequenos espaços nas praças e quintais das residências. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 167 4. Sítio dos Pintos (vários pontos) – Localizada no limite entre Recife e Camaragibe, nas proximidades com Aldeia e próxima à Mata de Dois Irmãos, nesta área encontram-se diversas chácaras, com atividades agrícolas, principalmente cultivo de frutas. Segundo SOS Corpo (2007), neste local encontram-se diversas unidades produtivas de alimentos como macaxeira, frutas, batata-doce, inhame, hortaliças, bem como plantas medicinais. A produção destas “iniciativas” serve tanto para consumo das famílias, quanto para doação entre os vizinhos e, por vezes, conta com o apoio da UFRPE. Uma vez que, na área, há diversos pontos onde se pratica a agricultura urbana. Para o mapeamento adotou-se o ponto central da área. 5. Dois Irmãos (vários pontos) – Nesta área de reserva de Mata Atlântica, também se pode encontrar cultivo de hortaliças, macaxeira e frutas nas bordas da reserva, isto principalmente nos quintais das casas e nas margens dos caminhos e rodovias. O lugar também abriga o horto da cidade e o campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Neste local, uma horta de 3.000m2 recebe apoio da UFRPE e da Prefeitura do Recife. 6. Sítio da Trindade – Nesta área, até 2007, esteve instalada uma sementeira da Prefeitura, onde eram produzidas plantas ornamentais e frutíferas para fins paisagísticos. O local contou, também, com uma horta para produção de sementes de hortaliças e plantas medicinais, que eram distribuídas pelas demais hortas apoiadas por esta instituição. Em 2009, a sementeira foi levada para o Jardim Botânico, às margens da rodovia BR-232, no Curado. 7. Guabiraba (vários pontos) – Trata-se de uma área de relevo bastante movimentado onde se vê inúmeros córregos, sendo uma área pouco habitada e pouco urbanizada em Recife. Isto também porque, está localizada próximo à Mata de Dois Irmãos cuja vegetação arbórea típica de Mata Atlântica é delimitada ao longo da BR-101 Norte. No entanto, encontram-se cultivados produtos agrícolas em áreas relativamente planas que vão se seguindo pelas estradas de barro que dão acesso à área. Ali também se podem ver diversas chácaras e uma estufa onde se cultiva flores ornamentais distribuídas para várias regiões do país. Numa localidade chamada “Bola na Rede”, localizada entre a Guabiraba e o bairro de Pau Ferro, uma área de 1.000m 2 recebeu o apoio da Prefeitura do Recife entre 2004 e 2007. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 168 8. Pau Ferro (vários pontos) – Com várias das características destacadas em Guabiraba, nesta área também são encontradas diversas chácaras e hortas em vários pontos. Neste bairro há uma horta que recebe apoio da Prefeitura do Recife, tratando-se de uma área com 1500m2, chamada de “Nova Aldeia”, cujo nome se justifica pela localização e acesso, muito próxima à Aldeia, em Camaragibe. 9. Córrego do Jenipapo (CEMPO - Centro de Educação e Medicina Popular) – Localizado no bairro do Córrego do Jenipapo, cultivam-se plantas medicinais para a produção e comercialização de remédios. A unidade produtiva é monitorada pela UFRPE, Departamento de Ciências Farmacêuticas, e também contou com o apoio da Prefeitura do Recife até 2007. Segundo a ONG SOS Corpo (2007) a área total plantada neste local é de 2,5 ha. 10. Cidade Universitária (UFPE) – Localizada no Campus da UFPE, esta área, situada em frente ao Centro de Tecnologia e Geociências (CTG), é cortada pelo riacho cavouco e parte (um hectare) é utilizada para o cultivo de frutas como banana, mamão, melão, pinha, pitanga, laranja etc. Planta-se também cana, da qual é retirado caldo e comercializado. Segundo a proprietária do estabelecimento, a maior parte das frutas comercializadas no local é produzida no próprio local. No mesmo sítio ainda se planta milho e feijão para consumo familiar, nos períodos juninos. A família, procedente de Panelas, no interior do estado, mora no local (uma casa no meio do pomar) há mais de 30 anos, segundo a proprietária do lugar. 11. Caxangá – Localizada na margem direita (sentido Recife-Camaragibe) da Avenida Caxangá, muito próximo ao limite municipal de Recife e Camaragibe, nesta área é praticada a piscicultura, bem como o cultivo de hortaliças. Trata-se de uma área com aparência de pouco uso, uma vez que se vê os tanques com aspecto deteriorado por vegetação “natural” e dificilmente se vê algum plantio. Esta área de várzea está localizada na margem esquerda do Rio Capibaribe. 12. Várzea – Neste bairro, foram identificadas 02 áreas onde se pratica agricultura urbana. Uma nas instalações do “Lar Fabiano de Cristo” (LFC), uma ONG com projetos ligados a uma rede nacional de assistência com inclusão social, onde são cultivadas plantas medicinais e horti-fruti que são distribuídas entre as famílias envolvidas, e comercializadas em feiras de produtos orgânicos. A outra Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 169 horta, na Escola Senador Novaes Filho, que contava com apoio da Prefeitura, foi desativada em 2007. 13. Torre - CEPAS (Centro de Ensino Popular e Assistência Social) – Localizado no Bairro da Torre contou com o apoio da Prefeitura do Recife até 2009. 14. Curado – Contorno Avenida Recife – Área cujos contornos viários das confluências das rodovias BR-232 e 101 e Avenidas Recife e Abdias de Carvalho são densamente utilizados para agricultura, principalmente, de hortaliças, bem como para criação de animais. A agricultura é praticada também ao longo das rodovias, envolvendo considerável número de pessoas. 15. Curado – Contorno BR- 101 – Localizado ao lado do CEASA, os espaços ociosos entre os contornos são utilizados para cultivo de hortaliças e macaxeira. Vê-se também nesta área equinos alimentando-se de pastagem. 16. Curado – BR-232/Jardim Botânico – Área com cultivo de hortaliças e macaxeira ao longo da margem esquerda (sentido Recife-Caruaru) da rodovia BR-232 em frente à entrada do Jardim Botânico. Localizada no bairro do Curado, próximo ao limite municipal com Jaboatão. 17. Totó – Centro Social Urbano Bido Krause – Numa área inicialmente de 1.500 m2, moradores do bairro do Totó cultivavam hortaliças, nas instalações do Centro Social Urbano Bido Krause, e contou com o apoio da Prefeitura do Recife até 2009. 18. Imbiribeira - Ilha de Deus – Área proveniente de aterro sobre manguezal, urbanizada, situada entre o bairro da Imbiribeira e do Pina. A carcinocultura é praticada em tanques sob regime de controle das marés. Grande parte da população sobrevive destas atividades. 19. Imbiribeira -Vila São Miguel – Tanques utilizados para a carcinocultura, utilizando-se do regime de marés. Localizado nos limites dos bairros da Imbiribeira e Jiquiá, próximo à Lagoa do Araçá e entre as Avenidas Pinheiros e São Miguel. 20. Imbiribeira/Jiquiá/Areias – Trata-se de um prolongamento localizado ao Sul do ponto da Vila São Miguel. Analisando as áreas, segundo a classificação mostrada no quadro 2.4, observa-se que: Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 170 A agricultura urbana às margens de rodovias - a questão do uso do solo urbano mediante a legislação e os zoneamentos para a agricultura tem sido um fator relevante no desenvolvimento dessa atividade, uma vez que se pode gerar tensões ou conflitos entre os próprios agricultores, entre os agricultores e o Estado e eventuais proprietários de áreas onde se pratica a atividade. Um exemplo de tensões entre agentes espaciais atrelados ao uso do espaço urbano para agricultura acontece nos espaços do entorno do CEASA-Recife, como mostrou Ferreira (2007 e 2009). Nessa classificação estão as áreas nº 14, 15 e 16, segundo o quadro 2.4. Ao que parece, as tensões ocorrem porque cada grupo de agentes tem interesses distintos sobre os referidos espaços. Trata-se, portanto, de usos do espaço, mediante as dimensões política, econômica e urbanística da agricultura urbana. Nesse contexto, não se pode esquecer que a condição de vulnerabilidade em que se encontram os agricultores urbanos é o principal fundamento para a produção agrícola na cidade. A densidade, comum ao espaço urbano, faz dele um lugar atrativo e, portanto, seu uso acontece mediante disputas como as que ocorrem no conjunto de terras localizadas próximas ao CEASA-Recife. Das áreas com agricultura urbana em Recife, a produzida às margens de reservas florestais, cujas unidades produtivas estão localizadas próximas às reservas florestais apresentam a maior parte de elementos complementares entre o espaço rural e o urbano. Isso ocorre por diversos motivos, dentre as quais se acha o fato de que estes espaços são os que apresentam os menores índices de densidade de urbanização. Tanto que, em alguns documentos, estes espaços são classificados como semirrurais. Trata-se de áreas com predominância de mata, que em certos pontos, são seccionadas para ocupação por chácaras, pequenas propriedades, arruados de casas e, no caso das áreas localizadas nas proximidades do Horto de Dois Irmãos, a UFRPE. Por serem áreas de mata, à primeira vista, percebe-se que o grau de urbanização é bem menor do que nas áreas anteriormente destacadas. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 171 Esta área também está muito ligada à Aldeia, em Camaragibe. Segundo Andrade (2006, p. 142), tratam-se de áreas de antigos engenhos em que, ao longo dos anos, foram sendo construídos condomínios residenciais. Em suas próprias palavras: No caso de Aldeia, em Camaragibe, o número de granjas ocupadas para lazer é grande, bem como para primeira residência. No caso de residência principal, os agentes imobiliários têm investido em condomínios, tanto de primeira como de segunda residência, oferecendo lotes menores que variam de 0,5 a 3,0 ha, com uma infraestrutura destinada ao lazer. Em sua maioria habitada por uma população de classe média e alta. Essa área está localizada no limite entre Camaragibe e Recife, e as características de Aldeia transbordam para Recife. A riqueza ecológica e a biodiversidade da Mata Atlântica, presente nesta área, confere-lhe características plurifuncionais, típica de áreas periurbanas, como defende Vale (2005). Segundo a classificação mostrada no quadro 2.4, fazem parte deste grupo as áreas de número 03, 04, 05, 07, 08 e 17. A agricultura nos quintais das residências encontra-se pulverizada por toda a cidade. Pode-se encontrar AU desde os bairros de baixo poder econômico, quanto nos bairros de alto poder econômico. No caso dos bairros mais pobres, a agricultura produzida geralmente serve para autoconsumo e troca. Cultiva-se geralmente fitoterápicos e cria-se animais de pequeno porte, como aves e animais de grande porte como cavalos e porcos. Por outro lado, nos bairros mais ricos, a AU é produzida como jardinagem, ou em varandas de apartamentos; ambos para autoconsumo, na perspectiva da alimentação livre de agrotóxicos. Esta agricultura não está mostrada na classificação do quadro 2.4 por ser difícil o seu mapeamento. A agricultura urbana em hortas comunitárias – “são hortas urbanas, comunitárias, instaladas nas proximidades de “comunidades”, nas quais os próprios moradores trabalham em coletividade” (SILVA, et al., 2006). Em Recife, essas hortas estão espalhadas pela cidade. Este constitui-se um dos aspetos abordados nesta tese, portanto, o tema está abordado ao longo do trabalho. Fazem parte deste grupo, segundo a classificação mostrada no quadro 2.4 as áreas de nº 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08 09, 12, 13 e 17. A AU, também é produzida às margens do rio Capibaribe, e a carcinocultura no estuário do rio Capibaribe, como se pode ver nas fotos 4.4 e 5.4. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Foto 4.4 – AU em Recife: plantio agrícola às margens do rio Capibaribe Fonte: Lima et. al., 2010, p. 82. Foto 5.4 – AU em Recife: carcinocultura no estuário do rio Capibaribe Fonte: Lima et. al., 2010, p. 23. Rubio José Ferreira. 172 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 173 No que tange ao tipo e à destinação desses produtos, a AU, em Recife, acha-se representada por necessidades do próprio autoconsumo ou por necessidades da comercialização ou as duas situações ao mesmo tempo. Portanto, esta dimensão acha-se agregada, sobretudo, ao sistema e à escala de produção e, consequentemente, ao tipo de área utilizada, como se pode ver no quadro 3.4. Quadro 3.4 – Recife: classes da AU por tipo de produto, tipo de manejo e tipo de espaço utilizado Agricultura Urbana em Recife – por classe de produto, manejo e espaço Por tipo de produto Alimentos vegetais Todos – exceto 01, 11, 19 e 20. Fitoterápicos/flores e plantas ornamentais 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 12, 13 e 17 Criação e pesca de camarões/peixes etc. 01, 11, 19 e 20. Criação de aves e animais de pequeno e Todos – exceto 06, 09,13 e 17. * grande porte Por tipo de Princípios agroecológicos manejo 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 12, 13 e 17. Cultivo tradicional (uso de insumos 01,10, 11, 14, 15, 16, 18, 19 e químicos) 20. Margens de rodovias/avenidas 11, 14, 15 e 16. espaço Margens de reservas 01, 03, 04, 05, 07, 08, 09, 18, 19 utilizado florestais/mangues/rios e 20. Escolas/associações de 02, 03, 04, 05, 06, 09, 12, 13 e moradores/CSU/etc. 17. Por tipo de A numeração da 3ª coluna corresponde à 1ª coluna do quadro 2.3. * Há diversos estábulos, distribuídos pela cidade, mas, eles não foram mapeados, os que constam do quadro são aqueles integrantes das unidades produtivas destacadas. Fonte: Trabalho de Campo (2005 a 2012). Considerando o tipo específico da atividade de cultivo, conforme os tipos de espaço que são utilizados e a relação dos grupos sociais com estes espaços, foram identificados quatro tipos de espaços com agricultura urbana e Recife: i) Agricultura urbana às margens de rodovias, ii) Agricultura urbana às margens de reservas florestais; iii) Agricultura nos quintais, e iv) Agricultura urbana em hortas comunitárias. O quadro 4.4 sintetiza os fatores da agricultura urbana de Recife, segundo os fatores mencionados por Mougeot (2000). Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 174 Quadro 4.4 – Recife: caracterização da agricultura urbana por fatores Caracterização da agricultura urbana de Recife por fatores Tipo de atividade econômica Localização Tipos de áreas utilizadas Sistema e escala de produção Tipos de produtos Destinação de produtos Cultivo de produtos alimentícios e fitoterápicos; Criação de bovinos e suínos e camarões; Processamento de produtos alimentícios e fitoterápicos. Intraurbana. Terrenos baldios; Margens de rodovias; Estuário e margens do rio Capibaribe; Quintais de residências; Escolas; Chácaras; Entorno de reservas florestais. Agricultura familiar; Pequenas unidades produtivas Hortaliças; Frutas; Tubérculos. CEASA, feiras livres, feiras de produtos orgânicos pequenos mercadinhos de bairro, doação e troca. Fonte: Trabalho de Campo (2005 a 2012) A dinâmica espacial em cada um dos lugares supracitados é diferenciada, não apenas porque a produção é realizada de maneiras diferentes em cada lugar, mas também porque os grupos sociais envolvidos têm perfis socioeconômicos distintos e porque o uso do solo urbano, em cada um desses lugares, é diferenciado mediante legislações específicas do poder público municipal. O que repercutirá no esboço de especificidades dos lugares e da AU observados. 4.1.2.2 Panorama da agricultura periurbana em Vitória A agricultura periurbana, em Vitória, tem lugar no limite entre o rural e o urbano daquele município, nos assentamentos Natuba e Engenho Figueiras e nos sítios Duarte e Trancados. Esses assentamentos foram iniciados no final da década de 1980. Tratam-se de áreas ocupadas por agricultores a partir da iniciativa do Movimento Camponês, no sentido da reforma agrária na Zona Canavieira de Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 175 Pernambuco30. Desde o início de ocupação das áreas de Natuba e Engenho Figueiras, as famílias ocupantes buscavam o policultivo da agricultura familiar. Em linhas gerais no que tange ao uso e ocupação do solo, o município de Vitória de Santo Antão muito se assemelha aos diversos municípios da Mata Pernambucana. A figura 4.4 reflete a configuração do espaço de Vitória no que tange ao uso e ocupação do solo. A área com AP, em Vitória, inicialmente se constituía de área rural, com chácaras e sítios, muito próximos à cidade. O crescimento da mancha urbana de Vitória, para Lima et al. (PERNAMBUCO, 2010), ocorre principalmente pelo surgimento de novos loteamentos, pela relocação da rodovia BR-232, bem como pelo surgimento de empreendimentos econômicos ligados ao setor industrial. Assim sendo, cada vez mais, a macha urbana aproxima-se da área periurbana de Vitória. A figura 5.4 mostra o crescimento da mancha urbana deste município, na última década de 2000. 30 Sobre o Movimento Camponês na Zona da Mata de Pernambuco, Silva-Junior e Machado (2009), mencionam que se trata de um movimento social que luta contra as desigualdades sociais provocadas pela monocultura da cana-de-açúcar que se manteve preponderante desde o processo de ocupação da Zona Mata Pernambucana (ANDRADE, 1979). Para Silva-Junior e Machado (ibidem), as políticas públicas do Governo Federal, voltadas para a Indústria Canavieira, a partir do Instituto do Açúcar e do Álcool esteve muito atuante na Zona da Mata de Pernambuco até os anos 1990. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Figura 4.4 - Mapa do uso e ocupação do solo de Vitória de Santo Antão Fonte: Plano diretor de Vitória de Santo Antão, 2002, apud Machado. 2007, p. 38. Rubio José Ferreira. 176 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 177 Figura 5.4 – Alteração da mancha urbana em Vitória de Santo Antão Fonte: Adaptado pelo autor deste trabalho com em Lima et al, 2010. Esse crescimento da mancha urbana de Vitória interferiu diretamente no espaço entre a rodovia BR-232 e a cidade - o espaço periurbano objeto do presente estudo, e, consequentemente, na agricultura ali produzida. A figura 6.4 mostra a localização das áreas de hortaliças. Localizadas no baixo curso do rio Natuba (BRAGA et al. 1998). Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 178 Figura 6.4 – Localização dos Assentamentos Periurbanos de Vitória de Santo Antão .Fonte: Adaptado pelo autor deste trabalho com base em Albuquerque 2010. A figura, adaptada de Albuquerque (2010), mostra os assentamentos periurbanos de Vitória, bem como os de Pombos, que fazem parte da mesma bacia hidrográfica, como se pode ver na figura 7.4. Contudo, não apresenta as áreas de Sítio Duarte e Trancados. Estas duas áreas estão localizadas à margem direita da rodovia BR-232, numa área mais colinosa do que nos assentamentos Natuba e Figueiras (Foto 6.4). Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Figura 7.4 – Localização da Bacia hidrográfica do rio Natuba Fonte: Barbosa Neto et al., 2011. Foto 6.4 – Rodovia BR-232 entre as áreas de Trancados, Sítio Duarte, Natuba e Figueiras Fonte: trabalho de campo. Foto do autor deste trabalho em janeiro de 2013. Rubio José Ferreira. 179 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 180 Os tipos de produtos agrícolas produzidos são predominantemente de hortaliças, tais como: alface, acelga, berinjela, coentro, quiabo, cebolinha, couve, pimentão, repolho, manjericão, alecrim, dentre outros. Encontram-se também, capim, área de pastagem, fruteira como banana, goiaba dentre outros. Numa análise do uso da terra na Bacia Hidrográfica do rio Natuba, Barbosa Neto et. al. (2011, p. 9) mencionam a horticultura do assentamento Natuba. Ao mesmo tempo em que ressaltam que o plantio de hortaliças nas áreas em tela foi intensificado na década de 1990: Em 6,2% da área, mas especificamente no baixo curso do rio Natuba, encontra-se de forma mais homogênea uma ocupação intensiva do solo com horticultura. Esta é uma das formas mais expressivas de utilização da área da bacia, com uma predominância no plantio de hortaliças folhosas, principalmente após a crise da cultura da cana-de-açúcar na década de 1990 (Braga, et al., 1998, p. 17). Esse aspecto de área de policultura pode ser obsevado na figura 8.4 e nas fotos 7.4, 8.4, 9.4 e 10.4. Figura 8.4 – Principais usos da terra em Natuba Fonte: Adaptado pelo autor deste trabalho com base em Barbosa Neto et. al. 2011, p. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Foto 7.4 – Canteiros com couve, alecrim, cebolinha, alho poró, coentro e manjericão Fonte: Trabalho de campo. Foto de Aldemir Barbosa em dezembro de 2012 Foto 8.4 – Estábulo de bovinos em Natuba Fonte: Trabalho de campo. Foto de Aldemir Barbosa em dezembro de 2012 Rubio José Ferreira. 181 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 182 Foto 9.4 – Estábulo de bovinos na Fazenda Figueira Fonte: Trabalho de campo. Foto do autor deste trabalho em janeiro 2013 Foto 10.4 – Situação de Natuba, Figueira, Sítio Duarte e Trancados em relação à rodovia BR-232 Fonte: Trabalho de campo. Foto do autor deste trabalho em janeiro 2013 e imagem de Mapwiki. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 183 Como se pode ver na figura 8.4 e nas fotos acima, a agricultura periurbana de Vitória é bem diversificada. Diversificado, também, é o tipo de manejo. Em algumas áreas, a agricultura é produzida com base em princípios agroecológicos; em outras áreas, são utilizados agrotóxicos. O quadro 5.4 mostra as áreas de produção agropecuária no espaço periurbano de Vitória, por tipo de produtos. O quadro 6.4 mostra os tipos de produtos, manejo e espaço. Quadro 5.4 – Espaços da AP em Vitória por tipo de atividade e de produtos Espaços da agricultura periurbana em Vitória, por tipo de atividade e produtos Área de Produção 01 Localidade Tipos de Atividade Predominantes Natuba Agricultura e pecuária 02 Figueiras Agricultura e pecuária 03 Trancados Agricultura e pecuária 04 Sítio Duarte Agricultura e pecuária Fonte: Trabalho de Campo (2009 a 2012) Tipos de Cultivo e Criação Predominantes Hortaliças, frutas, feijão, milho e bovinos e suínos. Hortaliças, frutas, feijão, milho e bovinos e suínos. Hortaliças, frutas, feijão, milho e bovinos e suínos. Hortaliças, frutas, feijão, milho e bovinos e suínos. Nas quatro áreas da AP, em Vitória, existe cerca de 300 lotes, diferenciados em tamanho, tipos de produtos e tipo de manejo. Alguns dos lotes, geralmente os maiores, comercializam sua produção para grandes redes de supermercados como Carrefour, Bompreço e Extra. Nesses lotes, a diversidade de produtos é menor, mas há controle por parte dos compradores dos produtos no que tange ao uso de agrotóxicos, os quais não são permitidos. Sazonalmente são feitos testes e análises do solo e da água utilizada. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 184 Quadro 6.4 – Espaços da AP em Vitória por classe de produtos, manejo e espaço Agricultura periurbana em Vitória – por classe de produto, manejo e espaço Por tipo de Alimentos vegetais (hortaliças) Todos Alimentos vegetais (fruticultura) Todos Criação de bovinos 01 e 02 Criação de suínos 01 e 02 Princípios agroecológicos Lotes em todas as áreas Cultivo tradicional (uso de insumos químicos) Lotes em todas as áreas Área Periurbana Todos espaço Margem do rio Natuba Todos utilizado Margem da rodovia BR-232 Todos produto Por tipo de manejo Por tipo de A numeração da 3ª coluna corresponde à 1ª coluna do quadro 5.3. Fonte: Trabalho de Campo (2009 a 2012) Fazendo uma relação com os fatores da agricultura periurbana, segundo Mougeot (2000), temos o quadro 7.4. Quadro 7.4 – Vitória: caracterização da AP por fatores Caracterização da agricultura periurbana de Vitória por fatores Tipo de atividade econômica Cultivo de produtos alimentícios (preponderantemente hortaliças); Criação de bovinos e suínos; Localização Periurbana. Tipos de áreas utilizadas Bacia hidrográfica do rio Natuba; Margens da rodovia BR-232; Assentamento da reforma agrária. Sistema e escala de produção Agricultura familiar; Pequenas unidades produtivas Tipos de produtos Hortaliças; Frutas; Leite. Destinação de produtos CEASA, CEAV, Feira livre local, Grandes Supermercados, dentre outros. Fonte: Trabalho de Campo (2009 a 2012) As diferenças entre a AU e AP não ficam tão claras quando analisamos Recife e Vitória, contudo sinalizam aspectos dessa diferenciação. No quadro 8.4, faz-se uma Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 185 síntese das diferenciações entre a AU e AP, procurando mostrar que não é apenas a localização o fator que diferencia essas agriculturas. Quadro 8.4 – Comparativo dos fatores da AU (Recife) e da AP (Vitória) Comparativo dos fatores da agricultura urbana (Recife) e da agricultura periurbana (Vitória) Fator Agricultura Urbana (Recife) Tipo de atividade econômica Localização Tipos de áreas utilizadas Base produtiva que inclui processamento e comercialização. Espaço urbano. Áreas cedidas, arrendadas, próprio local de residências etc. Sistema e escala de produção Escala reduzida se comparada com a agricultura periurbana; Tipos de produtos Cultivo de hortaliças, fitoterápicos, flores, frutas, tubérculos etc.; criação de animais de grande e pequeno porte. Destinação de Autoconsumo e/ou trocas e produtos comercialização, ou as três coisas ao mesmo tempo. Fonte: Trabalho de Campo de 2005 a 2012. Agricultura Periurbana (Vitória) Base produtiva de comercialização; Espaço periurbano. Assentamentos da reforma agrária, áreas arrendadas, áreas muito próximas ao local de residências. Escala reduzida se comparada com a agricultura rural, mas aumentada se comparada com a agricultura urbana. Cultivo de hortaliças, fitoterápicos e frutas; criação de animais de grande porte. Comercialização e autoconsumo, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Isto posto, vale retomar os princípios da integração, da sistemática e do tipo intensivo da AU e da AP, uma vez que estes contribuem, também, para sua diferenciação, quais sejam: O princípio da integração da agricultura urbana com o ecossistema urbano e o da agricultura periurbana ao ecossistema periurbano; o princípio da sistemática, ou seja, o tamanho e a complexidade (mais, ou menos intensiva) da agricultura, dependendo do tamanho do espaço urbano ou periurbano; e o princípio do crescimento do tipo intensivo da agricultura urbana ou periurbana. Esses princípios são úteis na diferenciação entre a AU e a AP nas áreas estudadas, na medida em que permitem identificar as especificidades e as semelhanças entre Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 186 os dois tipos de agricultura. Cabe saber se essas especificidades estão sendo consideradas pelo planejamento, associado à gestão. Se por um lado, a AU está intensamente ligada ao modo de vida urbano do Recife, a AP de Vitória é híbrida de elementos do rural e alguns aspectos do urbano. A própria forma de ação da sociedade civil e sua demanda pela agricultura, ONGs e Estado nessas áreas, são distintas. complementam, Contudo, vale destacar que essas agriculturas se assim como, também, se complementam esses espaços, reforçando a relação rural-urbana. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 187 5 ANÁLISE ESPACIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA AGRICUTURA URBANA EM RECIFE E PERIURBANA EM VITÓRIA DE SANTO ANTÃO Falar de políticas públicas voltadas especificamente para um objeto trata-se de uma tarefa árdua, contudo necessária. As dificuldades são em torno do emaranhado de informações que são coletadas, bem como da pouca transparência em termos de informações de alguns órgãos públicos em fornecer dados. Entretanto, considerando a imperiosa necessidade de se conhecer o contexto das políticas públicas (PPs) da AU e da AP, objeto de análise desta tese, faz-se necessário observar as políticas públicas que em certa medida repercutem na AU e na AP em Pernambuco, mais especificamente em Recife e em Vitória de Santo Antão. A metodologia para este capítulo está especificada no capítulos 2 da tese. Do mesmo modo, na seção 2.3 já se fez uma análise das PPs sociais no Brasil, no âmbito das quais se acham as dos casos ora abordados. Cabe agora observar as PPs que, de alguma forma, repercutem especificamente nos espaços e nas atividades de agricultura analisados na tese. E a este aspecto que o presente capítulo se presta. 5.1 OS PROGRAMAS E PROJETOS PARA AGRICULTURA URBANA EM RECIFE Como já dito, as políticas públicas para a AU em Recife são diretas, através da implementação de projetos específicos de apoio a esta atividade. Em assim sendo, as avaliações das políticas públicas foram feitas para os dois projetos: “Programa Agricultura Urbana: hortas e pomares urbanos”, implantado em 2004 e “Projeto de Apoio Complementar ao Programa de Agricultura Urbana e Periurbana do Recife”, implantado em 2007. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 188 5.1.1 Avaliação do Programa Agricultura Urbana: hortas e pomares urbanos (2004 – 2007) Como já dito, desde o início dos anos 2000, que órgãos públicos procuram desenvolver projetos de apoio à AU em Recife. Em 2005, o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), em parceria com o Programa Fome Zero, do Governo Federal, através da Secretaria de Produção Rural e Reforma Agrária (SARA), desenvolveu projeto de apoio à AU na RMR, construindo hortas em escolas, creches e associações comunitárias. Por outro lado, em 2004, a Prefeitura do Recife, implementou o projeto “Programa Agricultura Urbana: hortas e pomares comunitários”. Com a perspectiva de atender a 240 famílias, considerando-se a implantação de 02 unidades produtivas medindo aproximadamente ½ hectare, em cada uma das 06 Regiões Político Administrativas do Recife, totalizando 12 hortas comunitárias. Dentre os objetivos deste projeto, consta o de beneficiar também as Cozinhas Comunitárias e o Banco Municipal de Alimentos, totalizando 590 famílias beneficiadas diretamente. As unidades institucionais responsáveis pela execução do projeto estão mostradas no quadro 1.5 Quadro 1.5 – Instâncias responsáveis pela implementação do 1º projeto de apoio a AU em Recife Responsabilidades pelas diversas áreas envolvidas no projeto Áreas Coordenação geral do projeto Organização e desenvolvimento das hortas/pomares comunitárias Diagnóstico inicial (viabilidade econômicofinanceira. Responsáveis Prefeitura do Recife e MDS Prefeitura do Recife / Comunidade Prefeitura do Recife / URB / IASC / Secretaria de Saúde / Secretaria de Desenvolvimento Econômico Ações de acompanhamento Prefeitura do Recife / URB / Secretaria de Saúde / Secretaria de Desenvolvimento Econômico Suporte técnico, capacitação no planejamento Prefeitura do Recife / URB Financiamento Prefeitura do Recife e MDS Fonte: Adaptado pelo autor deste trabalho com base em Recife (2004). A Rede de Articulação institucional incluiu o MDS, o IPA, e o Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), através do Programa de Educação Tutorial (PET) de Agronomia. Os outros agentes são: ONG’s Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 189 locais (Centro Educacional Profissionalizante do Flau, Lar Fabiano de Cristo e Serta), Centro Social Urbano Bido Krause, Escola Estadual Senador Nilo Coelho, Centro de Educação e Medicina Popular (CEMPO), Centro de Ensino Popular e Assistência Social (CEPAS) e agricultores. O Programa Fome Zero Municipal faz parte do programa do Governo Federal e foi instituído pelo então Prefeito do Recife, João Paulo, através da portaria nº 383, publicada no Diário Oficial no dia 4 de fevereiro de 2003. Os projetos desenvolvidos no âmbito deste programa são: Banco Municipal de Alimentos, Cozinhas Comunitárias, Hortas e Pomares Comunitários, Restaurante-Escola, Rede Solidária de Restaurantes Populares, Compra de Produtos da Agricultura Familiar, restaurante Prato Popular, Peixes nos Mercados. Segundo o projeto, a coordenação de responsabilidade da Prefeitura do Recife (PR) deveria ser coordenada por uma Comissão Gestora composta por representantes da Prefeitura do Recife e da sociedade civil, como mostrado na figura 1.5. A administração das Hortas/Pomares a cargo de um coordenador geral que conduz e orienta os trabalhos da equipe interdisciplinar, bem como as atividades de natureza administrativa. Toda equipe executora deveria estar submetida a processos de capacitação, formação e qualificação, além das reuniões sistemáticas de avaliação do projeto. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 190 Figura 1.5 – Organograma da gestão local da PR para implementação do programa de apoio às hortas comunitárias urbanas 2004 Fonte: Recife, 2004. A situação normativa e Legislação pertinente abrange as atividades da Diretoria de Abastecimento e Segurança Alimentar (DASA), que viabilizaria programas e atividades decorrentes do Plano Plurianual (PPA) 2002-2005 e da Lei Orçamentária Anual (LOA) 2005. O Plano Diretor do Recife (Lei Nº 15.547/91) - Capítulo III, fala em intensificar a ocupação do espaço urbano, para desestimular a retenção de terrenos vazios em áreas dotadas de infraestrutura básica mediante diretrizes para a promoção do desenvolvimento econômico: o turismo, a cultura, o lazer, os setores modernos de serviços, indústria, comércio e a produção artesanal e familiar, além de capacitação profissional e desenvolvimento tecnológico. Os mecanismos de gestão são traduzidos por: plenárias, conselhos e fóruns realizados no âmbito da segurança alimentar, como mostrado na seção 3 da tese. Segundo o documento do projeto, no que tange à concepção do ideário, o controle social deve ser exercido pelo CONSEA municipal. Tal Conselho acompanha a criação e implantação de procedimentos e instrumentos que garantam, ao longo do Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 191 tempo, a transferência da gestão de forma a manter sua operação sustentável ao longo do tempo, independente da atuação dos Poderes Públicos. O Projeto Hortas é uma iniciativa de parcerias entre comunidade e poder público municipal. Na sua concepção, o empreendimento obedece aos princípios da gestão compartilhada, participativa, solidária e persegue os caminhos da sustentabilidade, na medida em que encontra formas de gestão e captação de recursos próprios – geração de trabalho e renda. Outro princípio de grande relevância diz respeito à integralidade das ações, ou seja, articular ações de combate à fome e à desnutrição, conjugando ações de diferentes políticas sociais, tais como: assistência social, saúde, educação, geração de renda e abastecimento alimentar. No entanto, é de fundamental importância o envolvimento de todos desde a concepção da proposta até o gerenciamento do projeto, atentando para os seguintes princípios: conhecimento da realidade – concebido a partir de um diagnóstico local onde se considere elementos socioeconômicos, populacionais, gênero, raça e outros dados relevantes; conceber o projeto de forma participativaenvolvendo os principais atores na concepção, formulação, execução e monitoramento da ação; criar uma comissão gestora do projeto (comunidade, e governo municipal), como forma de garantir a ação compartilhada e sustentável e de controle social; criar mecanismos de avaliação e monitoramento, envolvendo a todos na formulação e controle das ações; registrar de forma sistemática a experiência, prevendo a memória, visibilidade e publicização; manter de forma articulada as áreas de atenção básicas: apontados pelo projeto – saúde, abastecimento, assistência social, geração de trabalho e renda. Portanto, os conceitos predominantes são: Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) com a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. No que se refere aos princípios inovadores, destacam-se: i) o educativo, em relação aos hábitos e práticas alimentares; ii) o organizativo, porque defende os direitos da Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 192 cidadania; iii) o emancipativo, porque visa promover a autonomia e não a dependência dos beneficiários na perspectiva da cidade fisicamente organizada, economicamente sustentável e socialmente justa; iv) o associativismo, em suas distintas formas, ou seja, o fortalecimento de laços comunitários entre os participantes e a valorização das redes de economia solidária, sobretudo na gestão do crédito e na comercialização da produção. Os objetivos da experiência são: gerais - o de ocupar espaços urbanos ociosos e degradados, com a prática de agricultura orgânica, trabalhando tanto no sentido de superar a carência nutricional das populações das comunidades nelas inseridas como também concorrer para a geração de renda das mesmas, com a comercialização de produtos horti/fruti em mercado especializado. Através de dados fornecidos por mapas que apontam áreas de extrema pobreza no Recife, direcionar a implantação de hortas/pomares comunitários, se possível próximos de Cozinhas Comunitárias (que atenderam os mesmos critérios para instalação), acarretando com isso a potencialização dos dois projetos. O objetivo geral do programa, portanto, é melhorar a qualidade de vida dos produtores e da população de baixa renda das cidades, transformando espaços ociosos em espaços de produção autossustentáveis, propiciando condições para aumentar a capacidade produtiva e gerando oportunidades de ocupação e de renda. Específicos: Geração, organização e disponibilização de informações sobre agricultura urbana; incentivo e apoio às iniciativas da população na implementação e gestão de hortas e pomares comunitários; e oferecimento de apoio técnico a projetos de instituições públicas e privadas (escolas, creches, hospitais, etc.) para produção de alimentos e fitoterápicos. 5.1.1.1 Fases de implantação e desenvolvimento do projeto Os procedimentos metodológicos adotados para o funcionamento do projeto foram: Articulação, mobilização e seleção das famílias produtoras, incluindo definição do arcabouço conceitual para desenvolvimento do projeto e critérios para Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 193 participação; levantamento e cadastramento das famílias; realização de trabalho de sensibilização; Desenvolvimento e organização do processo de produção familiar, incluindo a definição de grupos de produtores para a formação de associação com vistas à comercialização dos produtos; Melhoria das condições de produção e de gestão, incluindo a capacitação e suporte técnico. Isto posto, cabe-nos avaliar o resultados deste projeto, como foi proposto nos objetivos desta tese. 5.1.1.2 A prática proposta x prática desenvolvida A proposta foi que a coordenação do Projeto seria de responsabilidade da Prefeitura do Recife, a qual trabalharia em estreita parceria o MDS. O Projeto seria coordenado por uma Comissão Gestora, composta por representantes da Prefeitura do Recife e da sociedade civil. A administração das Hortas/Pomares ficaria a cargo de um coordenador geral que conduziria e orientaria os trabalhos da equipe interdisciplinar, bem como as atividades de natureza administrativa. A Comissão Gestora atuaria na dimensão político-estratégica do projeto, visto que a dimensão operacional seria exercida pelo coordenador, cabendo àquela instância a ação de monitoramento. Toda equipe executora estaria submetida a processos de capacitação, formação e qualificação, além das reuniões sistemáticas de avaliação do projeto. Na prática, a representação da sociedade civil foi composta por ONGs e ocorreu apenas uma Câmara temática com participação de agricultores. Este fato sinaliza dois grandes problemas articulados das políticas públicas: o da pouca participação da sociedade civil, ou seja, ausência de força social a partir dos movimentos sociais, o que repercute em não identificação dos verdadeiros anseios dos beneficiários da política; e o da implementação das políticas. Como resultado desses dois grandes problemas tem-se à não descentralização das políticas públicas. Ao contrário do proposto no projeto. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 194 Quanto às fases de implantação e desenvolvimento, foi proposto: articulação, mobilização e seleção das famílias produtoras, incluindo definição do arcabouço conceitual para desenvolvimento do projeto e critérios para participação; levantamento e cadastramento das famílias; realização de trabalho de sensibilização; desenvolvimento e organização do processo de produção familiar, incluindo a definição de grupos de produtores para a formação de associação com vistas à comercialização dos produtos; melhoria das condições de produção e de gestão, incluindo a capacitação e o suporte técnico. Na prática, as articulações, mobilizações e seleções das famílias produtoras foram realizadas a partir das ONGs. Este é um fator positivo para a efetivação das PPs, considerando que as ONGs estão mais próximas da realidade socioespacial do que o Governo. Contudo, vale salientar que o papel das ONGs como “ponte” entre o Governo e os beneficiários da política incorre em dois riscos: quando essas organizações não conseguirem expressar os reais anseios dos agricultores; e quando ocorre o sufocamento da força política da sociedade. A seleção das áreas a serem cultivadas foi realizada a partir de contratos de possessão, os quais foram adaptados à legislação e aos moldes do governo federal. Este é um fator negativo para a implementação dos projetos, quando o espaço a ser utilizado para a instalação das hortas é privado. A organização do processo de produção familiar foi acrescida de máquinas, utensílios e insumos. No que tange às transferências da gestão de cada horta comunitária para os agricultores, o que ocorreu foram desistências de diversos agricultores. Ao serem perguntados sobre os motivos das desistências, a maior parte dos desistentes considerou três principais aspectos: i) não disposição para trabalho comunitário, o que significa não crescimento econômico visível; ii) resistência a treinamentos ligados à prática da agricultura; e iii) por não se sentirem representados pela Prefeitura. Sobre este último aspecto um agricultor falou: “A gente já cultiva a terra aqui faz tempo, agora a Prefeitura vem com essa história de criar hortas. Na verdade a gente trabalha e eles que aparecem. Saem por aí dizendo que estão criando hortas na cidade toda”. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 195 Quanto aos recursos financeiros, a proposta seria de empregar R$ 173.700,00, dos quais R$ 144.900,00 seriam financiados pelo MDS, e o restante pela própria Prefeitura. Ao final do projeto em 2006, cerca de 35% dos recursos foram devolvidos, muitas hortas não foram instaladas, e diversas máquinas e equipamentos tornaram-se obsoletos para a realidade local. O que corresponde a desperdício de insumos e sementes e desistências de muitos agricultores. No que tange aos recursos administrativos, no âmbito da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a Prefeitura disponibilizou três pessoas para trabalharem diretamente na implementação do projeto: um engenheiro florestal e dois auxiliares. Em suma, com a implementação do projeto houve oito hortas instaladas; noventa e dois agricultores foram contemplados; duas unidades produtivas incluídas no sistema de economia solidária. Para o técnico da PR, as maiores dificuldades para o sucesso do projeto dizem respeito à pouca disponibilidade de recursos financeiros (grande parte desses recursos demoraram muito a serem liberados); à pouca possibilidade de adaptação do projeto local com o programa do governo; ao pouco interesse de pessoas para a prática da agricultura urbana; e às dificuldades burocráticas (Poderes Públicos, ONGs etc.). Esses problemas mencionados pelo técnico da Prefeitura, em certa medida, são entraves importantes para o desenvolvimento da AU. Na medida em que o projeto local precisa ser encaixado no programa vertical do Governo Federal, vários aspectos identificados localmente têm de ser descartados, alterando a própria concepção do projeto local. Isso significa outro exemplo de centralização de políticas públicas. O que é identificado pelo gestor local como “falta de interesse de citadinos em praticar agricultura”, na verdade, significa pouco interesse dos agricultores urbanos em adaptar suas práticas agrícolas aos moldes verticais do governo. Se o próprio gestor admite que as engrenagens da burocracia da máquina pública dificultam o desenvolvimento dos projetos, os agricultores sequer conseguem entender esse funcionamento. O quadro 2.5 mostra uma síntese qualitativa dos resultados do 1º projeto de apoio à AU em Recife. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ Quadro 2.5 – Avaliação qualitativa do 1º projeto da PR Avaliação qualitativa da implementação do 1º projeto (2004 – 2007) Eficácia x ineficácia Eficácia Social Eficácia Espacial Melhora quantitativa e qualitativa de consumo de alimentos - diminuição do número de pessoas em situação de insegurança alimentar. Ineficácia Social 8 hortas em funcionamento. Eficácia Econômica Geração de renda para os agricultores urbanos envolvidos. Ineficácia Espacial Construção de 8 das 12 hortas propostas. Ineficácia Econômica Renda gerada a partir das atividades, insuficiente para a manutenção familiar; Eficiência x Ineficiência 35% dos recursos retornaram ao MDS. Máquinas, utensílios e sementes foram desperdiçados. Incapacidade de reprodução da atividade sem apoio financeiro externo. Terra urbana desperdiçada. Impactos Situação anterior Situação posterior Agricultores apoiados por ONGs – pouca expectativa de continuidade. Continuidade das ações, perspectivas de criação de novas hortas. Resultado negativo não esperado Resultado não esperado, mas positivo Solicitação de instalação de hortas em escolas públicas e privadas, não contempladas no projeto. Pouco interesse por parte dos agricultores para desenvolver atividades comunitárias; pouca receptividade dos agricultores em assimilar “novas” técnicas agrícolas; esvaziamento do número de agricultores atendidos. Pouca possibilidade de ocorrerem as mudanças constatadas se não tivesse sido implantada a experiência. Os resultados esperados foram alcançados parcialmente. Fonte: trabalho de campo entre 2005 e 2007 Rubio José Ferreira. 196 Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 197 Como se pode ver, os avanços qualitativos, após a implementação do 1º projeto de apoio à AU da Prefeitura do Recife, são poucos. Contudo, a perspectiva de continuidade não deixa de ser um fator relevante para os beneficiários desse tipo de política pública. Ao mesmo tempo, esses avanços, embora poucos, contribuem para o processo de descentralização e efetivação de PPs. “Os aspectos analisados no quadro 2.5 são corroborados pelas falas de diversos agricultores urbanos do Recife, bem como de gestores. Como se pode observar nas falas de alguns dos entrevistados: “Continuar plantando aqui foi pra mim muito bom, quando a prefeitura chegou, a gente já plantava, mas agora a gente tem apoio.” (Fala de um agricultor em 2007) “A gente agora come melhor, pode levar comida saudável pra mesa. Isso que é bom de plantar, a gente sabe o que tá dando pros nossos filhos comer.” (Fala de uma agricultora, 2008) “Mas a gente não consegue tirar nada daqui, o que tira só dá pra comprar pão. Se for viver disso aqui a gente vai comer só verdura.” (Fala de um agricultor em 2008) “Eles trouxeram umas máquinas pra gente irrigar tudo, mas era tudo estrangeiro e a gente não soube usar, depois eles levaram de volta porque ficou aí parado.” (Fala de um agricultor) Um ponto que nos deu muito trabalho para adaptar o nosso projeto ao que pedia o Governo Federal foi o das máquinas e utensílios. O material de irrigação não era compatível com o tamanho das hortas, então tivemos que devolver tudo. As sementes também era outro problema, chegaram em latas para serem usadas em dezenas de hectares, uma vez aberta a lata a semente te que ser plantada em no máximo 2 horas. Os agricultores tiravam a quantidade que precisavam e jogavam o resto fora. Tivemos que pedir à Secretaria (Prefeitura do Recife) para disponibilizar recursos para compramos sementes e entregar aos agricultores. Fizemos um projeto de continuidade do apoio aos agricultores, foi aprovado, agora estamos aguardando os recursos. (Fala de um gestor em abril de 2008) Como se pode ver, o principal aspecto notado nas entrevistas, diz respeito à insatisfação dos agricultores urbanos, ao considerarem que o apoio não se efetiva considerando a realidade local. Em assim sendo, em 2007, com a conclusão do referido projeto, e mediante a necessidade de continuar o trabalho de apoio à agricultura urbana, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, por meio da Diretoria de Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 198 Abastecimento e Segurança Alimentar, desenvolveu, com 95% de recursos do governo federal, o “Projeto de Apoio Complementar ao Programa de Agricultura Urbana e Periurbana do Recife” que vigorou até 2009. Este projeto será analisado na próxima seção. 5.1.2 Avaliação do Projeto de Apoio Complementar ao Programa de Agricultura Urbana e Periurbana do Recife (2007 – 2009) O desenvolvimento deste 2º projeto de apoio à AU em Recife foi desenvolvido mediante algumas adaptações em relação ao primeiro. A primeira mudança diz respeito à secretaria que operou o projeto no âmbito da Prefeitura. No primeiro projeto a secretaria era a de Desenvolvimento econômico. Após reestruturação da Prefeitura, esta passou a ser a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico. O segundo projeto foi desenvolvido no âmbito da Diretoria de Abastecimento e Segurança Alimentar. Essa mudança ocorreu por motivo de uma reestruturação interna da Prefeitura. Outra mudança ocorrida entre os dois projetos refere-se à quantidade de pessoas previstas para serem atendidas; reduziu-se de 590 para 240 famílias de agricultores de forma indireta e 100 de forma direta. A PR justifica essa mudança, considerando que este segundo projeto buscaria dar continuidade às ações do projeto anterior, nas oito hortas restantes e não mais a criação de novas hortas comunitárias como previsto o total de doze. Os objetivos deste 2º projeto são: Geral – implantar sistemas produtivos da AU e AP para melhoria da qualidade da dieta familiar, comercialização do excedente e fortalecimento dos processos coletivos nas comunidades, visando combater a fome e as causas estruturais que geram a exclusão social, buscando garantir a segurança alimentar da população recifense. Especificamente, tem-se os objetivos de ampliar a oferta de alimentos com qualidade, criando oportunidades de trabalho e renda para famílias de baixa renda; e capacitação de pessoas, de grupos específicos resultando na organização de espaços para o desenvolvimento da agricultura Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 199 urbana familiar, agregando valor ao produto agrícola e, promovendo dinamização da economia local. Ainda há de se considerar que, enquanto o 1º projeto foi iniciado e concluído no governo municipal de João Paulo Lima e Filho do Partido dos Trabalhadores (PT), o segundo foi concluído no governo de João da Costa Bezerra filho, também do PT. Este fato, embora pareça não ser relevante, modificou a estrutura organizacional da Prefeitura, repercutindo negativamente no processo de implementação do 2º projeto. Isto ficou evidente quando ocorreu desarticulação interna na Prefeitura, entre as secretarias, os próprios técnicos e as ONGs. O fato de um gestor ser filiado ao mesmo partido que o anterior não significou que as ações do 2º foram moldadas pela mesma ideologia. Por sua vez, isso repercutiu no andamento da implementação do 2º projeto. Segundo a avaliação da própria PR sobre os resultados do 1º projeto, para elaboração do segundo, detectou-se que a organização e articulação entre os grupos sociais são fracas ou inexistentes, o que repercutiu em dificuldades para a implantação do sistema de hortas. Avaliou-se, também, que a pouca ou nenhuma organização social repercutiu em manutenção do estado de miserabilidade de grande parte dessa população. Vale destacar que, a desarticulação dos grupos sociais impede que se lute por direitos e a força política da população torna-se inexpressiva. Sobre isso, como lembra Souza, C. (2007), pode significar algum conforto para o Governo. Contudo, o próprio sistema capitalista fomenta a desarticulação de grupos sociais, no sentido de garantir sua reprodução em busca de mais lucros. Os procedimentos metodológicos adotados para o funcionamento do projeto foram: Sensibilização das famílias beneficiárias; Capacitação de recursos humanos; implantação de viveiros de ervas medicinais e árvores nativas e frutíferas, como parte da capacitação dos beneficiários; e Implantação de unidades de produção agroecológica. Quanto aos recursos financeiros, a proposta seria de empregar R$ 130.700,00, dos quais R$ 124.700,00 financiados pelo MDS, o restante pela própria Prefeitura. No Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 200 que tange aos recursos administrativos, manteve-se o mesmo relativo ao projeto anterior. Ao final de 2009, o projeto não teve continuidade. A Diretoria foi desarticulada e as atividades voltadas à segurança alimentar e ao combate à pobreza em Recife, passando a enfocar outras agendas que não a agricultura urbana. Conforme resultados de entrevistas, parte da equipe técnica que trabalhou nos projetos de AU, afirmou que a manutenção das hortas e a disponibilização de recursos técnicos (pessoal) deixou de ser interessante para a Prefeitura. O que levou a não continuidade do projeto. Atualmente, o IPA desenvolve projetos de apoio à AU em Recife e RMR, também com recursos do Governo Federal e do Governo Estadual. Esse projeto do IPA teve início em 2009, com um montante de R$ 920.000,00, sendo R$ 799.000,00 a contrapartida do Governo Federal e 120.000,00 a contrapartida do IPA. O quadro 3.5 abordam-se as variáveis que permitem a avaliação qualitativa do 2º projeto da Prefeitura. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 201 Quadro 3.5 – Avaliação qualitativa do 2º projeto da PR Avaliação qualitativa da implementação do 2º projeto (2007 – 2009) Eficácia x ineficácia Eficácia Social Eficácia Espacial Melhora quantitativa e qualitativa de consumo de alimentos - diminuição do número de pessoas em situação de insegurança alimentar. Ineficácia Social 6 hortas em funcionamento. Eficácia Econômica Geração de renda para os agricultores urbanos envolvidos. Ineficácia Espacial Construção de 8 das 12 hortas propostas. Ineficácia Econômica Renda gerada a partir das atividades, insuficiente para a manutenção familiar; Eficiência x Ineficiência 25% dos recursos retornaram ao MDS. Incapacidade de reprodução da atividade sem apoio financeiro externo. Terra urbana desperdiçada. Impactos Situação anterior Situação posterior Resultado negativo, Resultado não não esperado esperado, mas positivo 92 agricultores 50 agricultores Pouco interesse por Solicitação de instalação apoiados pelo atendidos; parte dos de hortas em escolas projeto ONGs – expectativa de agricultores para públicas e privadas, não perspectiva de continuidade do desenvolver contempladas no projeto. continuidade do projeto. atividades projeto; comunitárias; continuidade das Pouca receptividade ações, perspectivas dos agricultores em de criação de novas assimilar “novas” hortas. técnicas agrícolas. Pouca possibilidade de ocorrerem as mudanças constatadas se não tivesse sido implantado o projeto. Os resultados esperados foram alcançados parcialmente; O projeto não teve continuidade. Fonte: trabalho de campo entre 2007 e 2012. Em 2009, com a não continuidade do projeto, os agricultores envolvidos voltaram à mesma situação inicial. Claro que não se pode deixar de considerar os benefícios, principalmente no aspecto de infraestrutura que os agricultores “herdaram”. Quanto perguntados sobre o final do projeto, alguns agricultores se mostraram surpresos. Como em suas próprias palavras: Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 202 Ah, então o projeto parou? Por isso que não veio mais ninguém da prefeitura aqui. Nem o pessoal do IPA veio mais. A gente tá só. Se não fosse o pessoal daqui mesmo (da ONG) a gente já tinha parado faz tempo. Uma coisa que mais me deixa chateada, é que porque quando eles chegaram aqui dizendo que ia montar horta fornecer semente, e muito mais, a gente já tinha tudo isso organizado. Não to dizendo que ajuda não foi boa, aquelas mangueiras, as caixas d’água essas coisas todas foi eles trouxeram. Mas eles diziam que iam fazer uma horta quando a horta já existia. Isso é querer aparecer com o trabalho dos outros. Agora param de vir aqui e ajudar e nem tem coragem de dizer que não tem mais projeto. (Fala de uma agricultora em 2012). Quando os técnicos da Prefeitura foram questionados sobre a continuidade do projetos, ouviu-se o seguinte: Como você pode ver, a Prefeitura foi reestruturada, as secretarias mudaram de gestores e de nomes. Nosso Departamento de Segurança Alimentar foi trazido aqui para baixo (térreo do prédio) e estamos agora com apenas 3 pessoas para atender a demanda que antes era atendida por uma equipe grande, dividida em diversos setores, dente eles o da agricultura urbana. Depois da reestruturação, o projeto ainda ficou funcionando até o final de 2009, mas depois não tinha ninguém para tocar um novo projeto para atender os agricultores, então parou tudo. Das pessoas que estão aqui hoje, apenas 2 era daquele tempo, mas dos 3 que trabalhavam com os projetos de agricultura urbana, nenhum está mais por aqui. O secretário simplesmente não quis mais continuar com esse trabalho. (Fala de funcionário da Prefeitura em 2012). As secretarias que desenvolveram os projetos que apoiaram a AU em Recife visam ao desenvolvimento econômico e tecnológico, não havendo nenhuma articulação com a Secretaria de Desenvolvimento Social. Este é um dos fatores que, impede que a AU nesta cidade seja incluída no planejamento e sejam desenvolvidas ferramentas de gestão que possibilitem o desenvolvimento efetivo desta atividade. O Plano Diretor do Recife (Lei Nº 15.547/91), realizado na década de 1990, deu suporte à realização de zoneamentos e elaboração de diversas outras ferramentas legais de planejamento urbano, tais como: Lei Orgânica, Lei de Uso e Ocupação do Solo, Lei de Edificações e Instalações etc. O Plano foi revisto em 2006, o que gerou um “Diagnóstico Urbano” que destaca quatro pontos: Dinâmica Social do Recife, Dinâmica Físico-Territorial, Identidade Urbanística e Gestão. A quantidade de zoneamentos em Recife é grande e de excelente qualidade técnica31, podendo servir para o planejamento e a gestão deste espaço urbano, desde que seja considerada a importância dos aspectos sociais, econômicos, territoriais e espaciais na sua 31 O Sítio, na internet, da Prefeitura disponibiliza uma gama de informações acerca das suas atividades, dentre as quais documentos da maioria das ferramentas de planejamento e gestão: plano diretor, lei de uso e ocupação do solo etc. além de grande parte dos zoneamentos. Constitui-se, portanto, uma importante ferramenta de consulta para a população interessada no assunto. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 203 totalidade. Na segunda metade de 2008, a Câmara Municipal do Recife aprovou a nova revisão do plano diretor, mas novamente a AU não foi considerada. A AU ainda não é avaliada como uma atividade a ser contemplada no planejamento urbano do Recife. Se assim o fosse haveria menção a esta atividade em algumas das ferramentas supracitadas. Pelo contrário, quando tratam da questão da produção e organização do espaço urbano (capítulo III do Plano Diretor do Recife), fala-se em intensificar a ocupação do espaço urbano, para desestimular a retenção de terrenos vazios em áreas dotadas de infraestrutura básica. Quando, ademais, este mesmo plano trata das diretrizes para a promoção do desenvolvimento econômico, aborda o turismo, a cultura, o lazer, os setores modernos de serviços, indústria, comércio e a produção artesanal e familiar, além de capacitação profissional e desenvolvimento tecnológico. Ao verificar a menção ao apoio à produção artesanal e familiar, nota-se que a agricultura urbana é incluída como a produção artesanal e familiar, dizendo respeito às pequenas indústrias (dentre as quais se destacam as de alimentos). Portanto, o apoio que é dado à agricultura urbana, como foi mostrado nesta tese, não passa de ações pontuais baseadas em políticas de abastecimento de alimentos, que visam atender apenas às necessidades nutricionais da população de baixa renda. Isso significa que a gestão é limitada, não se constituindo planejamento. Viu-se, portanto, que o descaso com a agricultura urbana em Recife impede seu desenvolvimento. Sequer é contabilizado o número exato de agricultores na cidade, nem se conhece, com maior profundidade, os espaços onde estas pessoas trabalham. Como, então, identificar suas reais necessidades? Como acreditar em política pública efetiva, quando sequer os projetos não funcionam como planejados? Enquanto a agricultura urbana não for vista, pelos poderes públicos, como uma atividade social e legítima, não se poderá promover justiça social e bem-estar para as pessoas envolvidas a partir desta atividade, tal como veiculado – como objetivos – nos programas públicos. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 204 5.2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AGRICULTURA PERIURBANA EM VITÓRIA DE SANTO ANTÃO Depois de avaliados os projetos de apoio à AU em Recife, faz-se necessário que se analise as PPs voltadas para a AP em Vitória. No caso das políticas públicas para agricultura periurbana em Vitória, por se tratarem de políticas públicas indiretas, tomou-se como procedimentos metodológicos, a captação de dados. As entrevistas foram realizadas entre os anos de 2010 e 2012, com gestores, técnicos, agricultores e trabalhadores rurais. Em âmbito nacional, as políticas que alcançam o espaço periurbano de Vitória são as agrárias. As políticas agrárias mais recentes no Brasil possuem relação com a Constituição Federal de 1988, dentre as quais a da reforma agrária e a do fortalecimento da agricultura familiar. A questão agrária brasileira, largamente discutida, tem as raízes de suas mazelas no latifúndio colonial, hoje modernizado. Segundo Ferreira, Alves e Carvalho Filho (2009), a reforma agrária no Brasil, na atualidade, se caracteriza por embates permanentes, poucos avanços e muitas derrotas. Por outro lado, o fortalecimento da agricultura familiar (AF) é contemplado pelas políticas públicas que visam em linhas gerais atender aos agricultores familiares que têm acesso à terra. Diante de diversos conflitos, avanços e entraves, em 2006, a Lei da Agricultura Familiar (Lei nº 11.326/2006) definiu, em nível federal, os conceitos, princípios e instrumentos destinados à formulação das políticas públicas direcionadas à AF. Essas políticas são implementadas a partir de programas como o Programa de Valorização da Pequena Produção Rural (PROVAP), em 1994, e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), em 1995. No âmbito dessas políticas, outros programas são implementados, atingindo de forma mais direta à agricultura periurbana: o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que visa à compra dos alimentos produzidos pela agricultura familiar pelo próprio Governo; o Seguro da Agricultura Familiar (SEAF) e o Garantia-Safra, ambos voltados à proteção do financiamento da produção agrícola, para o caso de perda. O Garantia-Safra está voltado exclusivamente para a área de atuação da SUDENE. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 205 Em suma, essas políticas nacionais repercutem nos territórios regionais e locais. Em Pernambuco, as políticas agrárias estão a cargo de diversos órgãos que atuam, em certa medida, articulados com os órgãos federais. No âmbito da Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária de Pernambuco (SARA), diversos órgãos públicos estaduais atuam na área de políticas agrárias. A SARA é dividida em três secretarias executivas, das quais duas (Secretaria Executiva de Tecnologia Rural e Programas Especiais e Secretaria Executiva de Agricultura Familiar) desenvolvem ações diretas no espaço rural do estado. Vinculados à SARA, cinco órgãos públicos desenvolvem as ações e os projetos vigentes. São eles: O Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (ITERPE), foi criado por Lei Estadual nº 13.900, de 27 de outubro de 2009. A Autarquia desenvolve ações articuladas com o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PRONAC), dentre outros. Ao mesmo tempo em que realiza ações na área de regularização fundiária e assentamentos; A Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (ADAGRO), voltada para ações de saúde animal e vegetal; O Centro de Abastecimento Alimentar de Pernambuco (CEASA), que controla a comercialização e do abastecimento de produtos alimentícios do estado. Apesar de ser uma organização civil, está vinculada diretamente à SARA; Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), trata-se de um órgão de pesquisa e extensão voltado à geração de tecnologia rural nas áreas de infraestrutura hídrica, desenvolvimento sustentável e agronegócio. Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (ProRural), vinculado à SARA, implementa e apoia políticas de desenvolvimento rural sustentável. Esses órgãos e programas públicos, em certa medida alcançam o espaço periurbano de Vitória, e consequentemente a agricultura periurbana. O histórico de políticas públicas direcionadas aos agricultores de Natuba, Figueiras, Sítio Duarte e Trancados tem início nos anos 1980 com a ocupação dessas áreas por agricultores expulsos da monocultura da cana-de-açúcar. No período em tela, foi concedida a esses agricultores a possibilidade de cultivarem hortaliças nas terras desapropriadas pelo então governo estadual de Marco Maciel. Contudo, no que tange ao processo de reforma agrária, esses agricultores só começaram a receber títulos de posse nos Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 206 anos 2000, partir do ITERPE. Ao serem questionados sobre a posse das terras, alguns agricultores disseram que ocuparam-nas nos anos 1980: Das 300 famílias assentadas, cerca de 180 possui título da terra, o restante ainda não. Mas eles não estão muito interessados em produzir não, eles querem mesmo é vender a terra. (Transcrição de um comentário de uma liderança da área periurbana de Vitória, em dezembro de 2010). Quando a gente se juntou ao movimento camponês, umas 300 famílias viemos pra essa área aqui, começamos a plantar hortaliças em 25 hectares. O governo na época desapropriou e a gente ficou por aqui. Hoje, muita gente já tem o título de posse, mas é muita fiscalização. (Transcrição de um comentário de um agricultor na área periurbana de Vitória, em dezembro de 2010). Ao mesmo tempo, constata-se que nenhuma das quatro áreas da pesquisa possuem assentamentos vinculados ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). A tabela 1.5 mostra os assentamentos da reforma agrária vinculados ao INCRA em Vitória. Tabela 1.5 – Vitória de Santo Antão: assentamos do INCRA Vitória de Santo Antão: projetos da reforma agrária conforme fases de implementação Nº de famílias Projeto Área (ha) assentadas Data de desapropriação Engenho Serra Grande 900 88 1994 Açúde Grande 300 47 1997 Serra Grande 758 100 1998 Livramento 344 84 1999 Caricé 204 21 2000 Pedreiras 458 83 2001 261 30 2001 Cacimbas Fonte: BRASIL; MDA; INCRA, 2011. Como não foi possível ter acesso aos dados dos assentamentos do ITERPE, a partir dos resultados das entrevistas, acredita-se que os assentamentos de Natuba, Figueira, Sítio Dantas e Trancados são atendidos, pelo Governo do estado, como informaram alguns dos agricultores periurbanos: “Os técnicos da ADAGRO vem aqui pelo menos uma vez por mês”. (Transcrição de um comentário de um agricultor na área periurbana de Vitória, em dezembro de 2012). Vale destacar que, para que os agricultores dessas áreas sejam contemplados com recursos de políticas sociais como bolsa família, dentre outros. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 207 Neste espaço, as políticas municipais concretizam-se em duas frentes: as políticas urbanísticas e as políticas agrárias. Por se tratar de uma área de transição ruralurbana do município, principalmente depois da relocação da rodovia BR-232, a relação com urbano tornou-se cada vez mais intensa. A vila rural de Natuba, atualmente, tem 50% das ruas calçadas, energia elétrica, algum saneamento básico, entre outros serviços públicos mais comuns do urbano. Esses serviços são frutos de políticas urbanísticas efetuadas principalmente em períodos de eleições municipais. No que tange ao perfil dos agricultores de Natuba, estes estão distantes do perfil do tradicional homem do campo. Os atuais agricultores, segundo Machado (2007), são administradores de lotes. Como em suas próprias palavras: Aquela paixão pela terra a qual os camponeses são lembrados, foi sendo deixada de lado. Hoje, os trabalhadores agrícolas em Vitória deixam a sua paixão pela atividade e tornam-se verdadeiros administradores de um lote de produção agrícola, assimilando valores capitalistas típicos de áreas urbanas. (MACHADO, 2007, p. 86). Por outro lado, essa “moldagem” do agricultor repercute, não apenas na intensificação da relação rural-urbana naquele município, como também, na própria força política desses grupos sociais. Na mesma medida em que eles perdem o estímulo em trabalhar na agricultura, eles também são desestimulados a lutar por seus direitos, o que torna ineficaz qualquer organização social naquela área. Sobre estes assuntos, um agricultor falou: Eu tenho sorte, minha área é grande, tenho 25 trabalhadores comigo. Mas eu trabalho na agricultura porque sou obrigado. Não quero que meu filho trabalhe na agricultura de jeito nenhum. Ele tem que se formar. Aquela associação, antigamente era boa, a gente se reunia, falava com a Prefeitura, com o sindicato. Mas hoje, não serve pra nada, só pra o pessoal que de lá. (Transcrição de comentário de um agricultor na área periurbana de Vitória, em dezembro de 2012). Vale ressaltar que o agricultor citado acima é um dos que possui maior área de produção. Quando ele mencionou o “pessoal de lá”, referia-se ao Presidente da Associação de Produtores de Natuba, a qual é gerida por uma única família. Ademais, o presidente dessa associação assumiu cargo legislativo de vereador por duas vezes no município. Por sua vez, a Prefeitura de Vitória desenvolve ações na área de Natuba, principalmente a partir das secretarias de Agricultura, de Ação Social e de Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 208 Infraestrutura e Obras. A Secretaria Municipal de Agricultura disponibiliza sementes, assistência técnica. Contudo, não foi encontrado nenhum projeto efetivo da Prefeitura voltado ao fomento da agricultura periurbana. Diante desse contexto as PPs não podem ser desconsideradas como importante fator de desenvolvimento socioespacial. Contudo, como defendemos, a nível de hipótese, o maior desafio reside na implementação da política. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 209 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que, para que haja desenvolvimento socioespacial, é preciso que se tenha mudança positiva na qualidade de vida, tanto individual quanto coletiva, como defende Souza, M. (2006), todos os agentes do espaço participam, mais ou menos, desse processo. Ademais, cabe ao Estado a responsabilidade de distribuir benefícios sociais que visem à diminuição das desigualdades socioespaciais que são promovidas pelo sistema capitalista. Em assim sendo, a integração entre os diversos instrumentos de planejamento, dentre os quais as políticas públicas, é uma importante ferramenta para a diminuição dessas desigualdades socioespaciais. Por outro lado, como já dito, para que o Estado promova efetiva justiça social e bemestar das pessoas – condições essenciais ao desenvolvimento socioespacial –, é preciso que as políticas públicas tenham base local, não apenas nos aspectos gerais das demandas sociais, mas, ao mesmo tempo, no que tange às relações de decisão e gestão públicas. As ações do Governo nas instâncias federal, estadual e municipais, voltadas para AU e para AP são realizadas mediante a seguinte lógica: Conhecimento da realidade da AUP no país, é um aspecto positivo porque o conhecimento é condição para o planejamento. Por outro lado, cabe a crítica de que os relatórios individuais, em certa medida, o relatório da AUP da RMR não representou alguns aspectos da realidade como é de fato; A inserção dos agricultores urbanos e periurbanos em políticas sociais, ambientais, de promoção de renda e de segurança alimentar, dentre outras, também pode ser considerado um fator positivo, porque indiretamente repercute em alguma melhora em termos da qualidade de vida dos agricultores envolvidos; As políticas nacionais recentes voltadas para a AUP, mediante marcos regulatórios específicos, significam avanços significativos para que se alcance o referido desenvolvimento. Isto, também, porque contempla a participação da sociedade civil através dos conselhos, descentralização das ações decisórias das PPs. Rubio José Ferreira. numa perspectiva de Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 210 Quando se analisa as PPs para a AU em Recife e para AP em Vitória, percebe-se, porém, que a verticalidade das políticas públicas tem sido um fator negativo para sua implementação. Isto na medida em que não levam em conta as especificidades e os anseios da população que pretende atender. Por outro lado, o fato de AU e AP não serem contempladas nos planejamentos dos municípios de Recife e Vitória, constitui fator preocupante quanto à possibilidade desses tipos de agricultura serem ferramentas de proteção social. Em assim sendo, essas PPs, diretas ou indiretas, acontecem como ações pontuais compensatórias que, em certa medida, escamoteiam a ausência de políticas públicas efetivas. Pode-se mensurar que o fato de as PPs serem verticalizadas, somado à ausência de mobilização dos grupos de agricultores urbanos e periurbanos no sentido de se fazerem presentes no planejamento das ações voltadas a AUP, dentre outros vários aspectos, são fatores que dificultam significativamente o desenvolvimento socioespacial. No que tocante à agricultura urbana e periurbana, muito já tem avançado teórica e empiricamente. Contudo, ainda há aspectos a serem aprofundados, especialmente quando essa agricultura é abordada na perspectiva da relação rural-urbana, baseada em princípios da teoria dos espaços enquanto continuum, complementar. Acredita-se que outros aspectos devem ser exaustivamente estudados no sentido clarificar determinados questionamentos. Alguns desses questionamentos dizem respeito, por exemplo, às articulações entre as instancias do poder público no sentido do desenvolvimento de PPs para AUP, bem como o papel dos grupos sociais e ONG’s, envolvidos com AUP no Brasil. Embora as hipóteses defendidas nesta tese tenham sido confirmadas, ainda são necessários estudos que tratem do tema em seus muitos aspectos. Questões como o que significa o periurbano no Brasil, dentre tantos outros ainda precisam de aprofundamentos que devem ser realizados em pesquisas futuras. Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 211 REFERÊNCIAS ABRAMOWAY, Ricardo. Agricultura Familiar e Uso do Solo. In: São Paulo em Perspectiva. v.11, nº 2, p. 73-78, abr/jun, 1997. Disponível em: <http://www.econ.fea.usp.br/abramovay/artigos_cientificos/1997/Agricultura_familiar. pdf>. Acesso em: 12/08/2007. ______. Funções e Medidas da Ruralidade no Desenvolvimento Contemporâneo. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, IPEA, Texto para Discussão nº 702. 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Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 227 APÊNDICES A- Pontos a serem a abordados nas entrevistas: 1 Gestores da Secretaria de Agricultura de Vitória de Santo Antão Entrevistado:___________________________________ Data: ____/____/____ Função:_____________________________________________________ Avaliação/importância da agricultura produzida nas 5 comunidades para o município; Quanto ao tempo de ocupação da área; Quantitativo de pessoas ou famílias produzindo; Quanto ao processo de reforma agrária; Quanto a assessoria que a secretaria presta aos agricultores; Quanto a possibilidade de elaboração e implantação de projetos específicos que visem trazer desenvolvimento para aquele espaço; Quanto a eventual mobilização por parte daqueles agricultores em reivindicar algum direito; Quanto ao futuro daquela área. 2 Gestores do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Agricultura de Vitória de Santo Antão Entrevistado:_____________________________________ Data: ____/____/____ Função:_____________________________________________________ Avaliação/importância da agricultura produzida nas 5 comunidades para o município; Quanto ao tempo de ocupação da área; Quantitativo de pessoas ou famílias produzindo; Quanto ao processo de reforma agrária; Quanto ao papel do sindicato no que tange aos agricultores; Quanto a possibilidade de elaboração e implantação de projetos específicos que visem trazer desenvolvimento para aquele espaço; Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 228 Quanto a eventual mobilização por parte daqueles agricultores em reivindicar algum direito; Quanto ao futuro daquela área. 3 Gestores da Associação de Agricultores de Natuba Entrevistado:_____________________________________ Data: ____/____/____ Função:_____________________________________________________ Avaliação/importância da agricultura produzida nas 5 comunidades para o município; Quanto ao tempo de ocupação da área; Quantitativo de pessoas ou famílias produzindo; Quanto ao processo de reforma agrária; Quanto ao papel da associação que tange aos agricultores; Quanto aos principais problemas encontrados; Quanto as principais vantagens; Quanto a mobilização por parte daqueles agricultores em reivindicar algum direito; Quanto ao futuro da agricultura da área. B) Questionário Entrevistado:______________________________________Data:____/____/___ I – Identificação da área 1. Nome do sítio____________________________________________________ 2. Qual a tamanho do lote?___________________________________________ 3. Qual a forma de acesso a terra? ( )Compra ( )Posse ( )Arrendamento ( )Outros. Qual?_____________________ 4. Há quanto tempo trabalha no local? __________________________________ 5. Possui documentação de posse da terra? ( )Sim, Qual__________________ ( )Não Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 229 6. O que produz? a. ( )Roça. Quais?__________________________________________________ b. ( )Horta/Pomar. Quais?____________________________________________ c. ( )Criação de animais. Quais?_______________________________________ d. ( )Extrativismo. Quais?_____________________________________________ e. ( )Beneficiamento de Produtos. Quais?________________________________ f. ( )Outros. Quais?_________________________________________________ II – Trabalho 1. Quantas pessoas da família trabalham no lote?__________________________ 2. Quantas pessoas são contratadas para trabalhar no lote?_________________ 3. As atividades recebem apoio externo? ( )Sim ( )Não Se Sim, de quem? ( )Prefeitura Municipal ( )Governo do Estado ( )Governo Federal ( )ONG(s). Qual(is)?______________________________________________ ( )Outros? Quais?________________________________________________ Se sim, qual o tipo de apoio?________________________________________ 4. A Secretaria Municipal de Agricultura oferece algum apoio? ( )Sim ( )Não Se sim, qual_____________________________________________________ 5. Existe crédito para as atividades? ( )Sim ( )Não Se sim, de qual instituição? ( )Bancos ( )Cooperativa ( )Associação ( )Outros. Quais?________ 6. Todos que trabalham na área fazem parte da comunidade? ( )Sim ( )Não Se não, a. De onde vêm os demais trabalhadores?______________________________ b. Como são contratados?__________________________________________ 7. A família possui outras fontes de renda? ( )Sim. Quais?_____________________________________________ ( )Não 8. Faz parte de alguma cooperativa de agricultores? ( )Sim ( )Não Se não, porque?____________________________________________ Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 9. Utiliza-se de irrigação? ( )Sim ( 230 )Não Se sim, de qual tipo? ( )artesanal ( )motorizada 10. Como você classificaria o trabalho no local? ( )Familiar ( )Produção de baixa renda ( )Subsistência IV – Produção 1. Qual o destino da produção? ( )Consumo das próprias famílias ( )Comercialização ( )Outros. Quais?_______ 2. Se comercialização, as vendas são feitas: ( )Em barracas instaladas na própria comunidade ( )Em feiras livres. Quais?___ ___________________________________________________________________ ( )Em supermercados/mercadinhos localizados nas proximidades ( )Ambulantes. Onde?____________ ( )Outros. Quais?___________________________________________ V – Acesso a serviços públicos 1. De onde vem a água utilizada nas atividades? ( )Água encanada fornecida pela COMPESA COMPESA ( )Poço ( )Rio, Riacho ( ( )Água encanada retirada da )Água da Chuva ( )Outros. Quais?___________________________ 2. De onde vem a água utilizada nas residências? ( )Água encanada fornecida pela COMPESA COMPESA ( )Poço ( )Rio, Riacho ( ( )Água encanada retirada da )Água da Chuva ( )Outros. Quais?__________________________________________________ 3. De onde vem a energia elétrica utilizada nas atividades? ( ) Fornecida pela CELPE ( )Retirada da CELPE ( )Não se utiliza de energia elétrica ( )Outros. Quais?___________________________________________________ 4. De onde vem a energia elétrica utilizada nas residências? ( ) Fornecida pela CELPE ( )Retirada da CELPE ( )Não se utiliza energia elétrica ( )Outros. Quais?____________________________________________________ 5. Para onde vai o lixo produzido nas atividades? Rubio José Ferreira. Agricultura Urbana e Periurbana e Políticas Públicas: contribuição à discussão do tema a partir de uma análise espacial em Recife e Vitória de Santo Antão/PE ____________________________________________________________________________________ 231 ( )Coletado pela Prefeitura ( )Jogado em terrenos ( )Jogado nos rios ( )Enterrado ( )Queimado ( )Outros. Quais?__________________________________________ 6. Para onde vai o lixo produzido nas residências? ( )Coletado pela Prefeitura ( )Jogado em terrenos ( )Jogado nos rios ( )Enterrado ( )Queimado ( )Outros. Quais?________________________________________________ 7. Para onde vai o esgoto sanitário das residências? ( )Vaso sanitário para cada casa ( )Vaso sanitário compartilhado ( )Fossa escavada no solo ( )Rio,riacho ( )Outro. Qual_________________________ 8. Para onde vai o esgoto doméstico (cozinha, banho etc.)? ( )Canalizado para tubulações coletivas (saneamento) canais abertos nas ruas ( )Fossa escavada no solo ( ( )Canalizado para )Rio,riacho ( )Outro. Qual____________________________________________ 9. Qual o tipo de acesso que liga a “comunidade” as outras áreas da cidade? ( )Rua asfaltada ( )Rua calçada ( )Caminho ( )Ponte ( )Rua de barro ( )Avenida ( )Rodovia ( )Outros. Quais?_______________________________ 10. Que tipo de transporte atende a “comunidade”? a. ( )Transporte coletivo regular – EMTU ( )ônibus ( )micro-ônibus ( )Van ( )Outros. Quais_____________ b. ( )Transporte alternativo ( )Van ( )Combi ( )Outros. Quais?___________________________ ( )Outros. Quais?____________________________________________________. Rubio José Ferreira.