PLANO DIRETOR DE RIBEIRÃO DAS NEVES VOLUME I : HISTÓRICO E CONCEPÇÃO PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO DAS NEVES WALACE VENTURA Prefeito Municipal BÁRBARA LEITE Vice-Prefeito Municipal SUPEVISÃO GERAL DOS TRABALHOS PELA PREFEITURA CLAYTON VENTURA Secretário Municipal de Planejamento e Meio Ambiente ELABORAÇÃO DOS TRABALHOS Prefeitura Municipal de Ribeirão das Neves Coordenação Geral dos Trabalhos CLAYTON VENTURA BRUNO LEITE LÍVIA DE SOUZA EQUIPE DE REVISÃO HÉLEN DE AGUIAR, Economista Especializada em Meio Ambiente e Finanças Públicas LUIZ MARIO QUEIROZ LIMA, Dr. Engenharia Hidráulica e Saneamento LUIZ GLUCK LIMA, Biólogo, Mestrando em Biotecnologia Vegetal FEVEREIRO - 2006 BASE TECNOLÓGIC 1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................3 2. SÍNTESE DAS PRINCIPAIS ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO DE RIBEIRÃO DAS NEVES ...............................................................................10 3. INSERÇÃO MUNICIPAL........................................................................................11 4. DIRETRIZES PARA A GESTÃO MUNICIPAL......................................................45 5. DAS RAZÕES PARA A MODERNIZAÇÃO ADMINISTRITIVA MUNICIPAL.......52 6. ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL PARA O MEIO AMBIENTE...............................56 7. O MODELO TECNOLÓGICO................................................................................63 8. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA.............................................................................74 9. A POTÊNCIA QUE PODEMOS SER....................................................................78 10. DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO – NEVES-TECH..................................81 11. RIBEIRÃO DAS FLORES....................................................................................85 2 1. INTRODUÇÃO Abrangendo uma área de 154,67 km2, Ribeirão das Neves é um dos 34 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte - RMBH e contribuindo com 5,67% da população do total de 4 357 942 habitantes. A cidade é um dos núcleos mais antigos da região, tendo surgido por volta de 1747, quando foi erigida a Capela de Nossa Senhora das Neves. Somente a partir de 1943 passou a chamar-se Ribeirão das Neves e sua emancipação, como município se deu em 12 de dezembro de 1953. Com a construção da Penitenciária Agrícola de Neves é que seu núcleo urbano começou a se desenvolver, principalmente a partir da migração de parentes de penitenciários. Entretanto, o estigma “cidade presídio” agravado pela construção de novas unidades penitenciárias, desestimulou seu crescimento econômico, alicerçado na produção de hortigranjeiros para subsistência e na extração de areia nos córregos do município. A partir da década de 50, o município, que tinha 2.253 habitantes, começou a sofrer as conseqüências do processo de metropolização, quando lhe foi imposto a condição de periferia. As correntes migratórias, que demandavam os empregos ofertados principalmente no eixo leste/oeste da RMBH e, em menor escala, no eixo norte, esbarravam no alto custo dos terrenos, nos postos de emprego, no processo de retenção especulativa e na ausência de oferta de moradias para a população de baixa renda. A maior parte desta demanda reprimida passou a se assentar em Ribeirão das Neves, incentivada pela oferta massiva de lotes sem qualquer infra-estrutura. Esse processo de ocupação, talvez inédito no país, dado a sua velocidade e ao seu caráter seletivo, que concentrou, em sua maioria, população de baixa renda. Ao longo dos últimos 50 anos, a ocupação do município de Ribeirão das Neves, se deu tanto na forma de invasão da mancha urbana do aglomerado como também através do inchaço do seu núcleo sede com o crescimento periférico. A invasão ocorreu via Venda Nova (RMBH), na região de Justinópolis, e também na região da BR-040, na divisa com Contagem (RMBH). 3 Na década de 70, o município registrou um crescimento urbano da ordem de 21,36% a.a., a mais alta taxa registrada na RMBH. 4 A concentração de uma população de baixo nível de renda que hoje é estimada em 311.372 habitantes (DATASUS, 2005), dos quais 100.000 são crianças e adolescentes, (Secretaria Municipal de Educação 2004), a falta de uma base econômica capaz de absorver pelo menos parte dessa força de trabalho no local de assentamento, a falta de recursos públicos para fazer frente à demanda de serviços e infra-estruturas decorrentes desta ocupação acelerada, são fatores que desenham um quadro de miséria, carência e exclusão, que tende a se agravar nas próximas décadas. 5 Tabela 1: Síntese Estatística do Município de Ribeirão das Neves/ Belo Horizonte – Ano: 2000 Estatísticas Ribeirão das Neves Belo Horizonte População 246.589 2.238.526 População – DATASUS 2005 311.372 - População com menos de 15 anos 78.997 543.521 32,03 % 24,28% Proporção de Pobres 30,59 % 14,17% Proporção de crianças pobres 41,37 % 24,04% Proporção de crianças indigentes 15,90 % 8,82% 4 a 5 anos 60,91 % 36,39% 5 a 6 anos 35,25 % 19,67% 7 a 14 anos 3,59 % 2,19% 10 a 14 anos 3,70 % 2,22% 15 a 17 anos 22,12 % 13,22% 0,749 0,839 673º LUGAR 33º LUGAR Proporção da população com menos de 15 anos Proporção de crianças fora da escola IDH Posição de classificação entre os 853 municípios PIB/Habitantes mineiros: Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Coordenação de Contas Nacionais (CONAC). 6 É importante ressaltar que, apesar da maioria das crianças de 06 a 17 anos estar freqüentando regularmente a escola, a rede municipal de ensino, principalmente no que se refere a infra-estrutura física é deficitária: dos 48 prédios escolares, 31 funcionam em casas alugadas. O número de alunos de 0 a 5 anos atendidos na rede é insignificante frente a população de crianças dessa faixa etária. Com relação às crianças e adolescentes Portadoras de Necessidades Especiais, os serviços existentes na rede de atenção integral que promovem a inserção social e o aprendizado não são suficientes para atendimento à demanda explicitada no quadro abaixo. Pessoas com deficiência mental e/ou física 0 a 4 anos: 896 8 a 9 anos: 1666 10 a 14 anos: 2709 15 a 17 anos: 1431 Nº de alunos atendidos na APAE: 300 Nº de alunos atendidos na rede pública: 74 TOTAL DE CRIANÇAS SEM QUALQUER ASSISTÊNCIA: 6328 Além disso, é preciso salientar que a maioria das crianças e adolescentes de Ribeirão das Neves não tem o que fazer fora do período escolar, haja vista que o município não possui equipamentos públicos que promovam lazer, cultura, práticas esportivas e de convivência saudável, livre de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. 7 Segundo Pochmann (Atlas da Exclusão Social no Brasil – 2003), o município de Ribeirão das Neves, dentre os 34 municípios da RMBH, ocupa: - 6° lugar no ranking de violëncia; - 9° lugar no índice de exclusão social. Número de óbitos por causa externa e arma de fogo na faixa etária de 10 a 19 anos em Ribeirão das Neves no período de 2000 a 2004 80 60 40 54 47 47 35 25 20 0 80 73 8 2000 Causa Externa Arma de fogo 20 11 2001 2002 2003 Em Ribeirão das Neves, a principal causa de óbitos registrada na faixa etária de 0 a 19 anos é por causas externas 67% são por arma de fogo. 2004 Apesar de estar a apenas 23 km da 3ª maior Capital do País, seus indicadores sociais assemelham-se aos dos municípios mais pobres do semi-árido brasileiro. Nos seus 258 anos de vida, Ribeirão das Neves, encontra-se à margem do desenvolvimento econômico e social. O impacto causado pela presença do grande número de presídios, desestimulou os investimentos econômicos e sociais, mantendo um quadro de crescimento da pobreza de forma acelerada e de exclusão social, demandando urgência na implementação de políticas públicas que revertam o quadro atual, o que contribuirá 8 para que os mais de 300.000 cidadãos, onde 100.000 são crianças e adolescentes do município reescrevam sua história como sujeitos de direitos e deveres. Como proposta de reversão a tamanha carência, Ribeirão das Neves procura conclamar a sociedade civil na busca de parceiros que viabilizem mudanças significativas. As ações transformadoras que estão sendo propostas são apresentadas em forma de projetos de intervenção de curto, médio e longo prazo, e que visam a melhoria da qualidade de vida de todos os Nevenses. Ribeirão das Neves precisa garantir “ à sua população” o gozo dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata a Lei, assegurando-se-lhes, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes proporcionar uma cidade melhor para se viver. 9 2. SÍNTESE DAS PRINCIPAIS ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO DE RIBEIRÃO DAS NEVES Considerando os aspectos econômicos sociais, pode-se resumir as seguintes anomalias que comprometeram o desenvolvimento do município: Estrutura fundiária fragmentada, com grande número de pequenos produtores com baixo poder aquisitivo; Estigma da presença de presídios desvalorizando os imóveis e afastando investimentos necessários ao desenvolvimento sócio-econômico do município; Imobiliarismo clandestinos, descontrolado, enfocando a falta invasões, de uma loteamentos política urbana adequada; Crescimento demográfico acelerado, fato que dificultou as atividades de planejamento, acarretando o descontrole do processo de desenvolvimento urbano; Falta de uma política de desenvolvimento urbano capaz de frear o crescimento desordenado e revelar e ampliar as potencialidades do município. 10 3. INSERÇÃO REGIONAL A decisão de caminhar para o futuro requer a compreensão dos fatos históricos que permitiram atingir o estágio atual. Com a finalidade de conhecer melhor a inserção de Ribeirão das Neves na RMBH e no estado de Minas Gerais, serão utilizados três indicadores, o Produto Interno Bruto - PIB, o Índice de Condições de Vida - ICV - e o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, que serão sucintamente conceituados a seguir. O PIB é um índice estritamente econômico, que agrega de modo sintético o valor da produção de bens e serviços da unidade que se quer analisar, por exemplo, município, estado ou país. Até o final da década passada, as comparações entre países eram feitas com base no PIB. Desde 1990, a Organização das Nações Unidas - ONU - introduziu o IDH para que se pudesse captar os aspectos sociais do desenvolvimento, além da dimensão econômica. Este índice é, portanto, mais complexo do que o PIB, combinando, com pesos iguais, as dimensões de renda, educação e longevidade. Além de mais amplo, ele é também mais pertinente ao nível municipal do que o PIB, porque nem toda a renda apropriada por um município foi nele gerada, assim como nem toda a renda aí gerada foi por ele apropriada. A Fundação João Pinheiro, juntamente com o IPEA, operacionalizou o IDH para ser aplicado aos municípios mineiros. No trabalho da FJP e do IPEA, o indicador de longevidade é obtido com base na esperança de vida ao nascer; o indicador de educação, com base na taxa de alfabetização e no número médio de anos de estudo e o de renda, com base na renda familiar per capita média. Segundo os valores obtidos, os municípios podem ser classificados como apresentando IDH baixo (de 0 até 0,5), médio (entre 0,5 e 0,8) ou alto (acima de 0,8). O terceiro índice criado pela FJP e IPEA, acima referido, foi o ICV. É ainda mais abrangente que o IDH, pois não só acrescenta um bloco de dados específicos sobre a condição da infância, como amplia as informações dos blocos de renda, longevidade, educação e habitação. 11 O bloco infância compreende informações sobre infreqüência, defasagem escolar média, atraso escolar maior que um ano e crianças que trabalham. As modificações efetuadas nos outros indicadores são: - no bloco renda, ao indicador renda familiar per capita são acrescentadas - estimativas sobre desigualdade de renda e situação da pobreza; - no bloco longevidade, ao indicador esperança de vida ao nascer foi adicionada a informação sobre taxa de mortalidade infantil; - no bloco educação, o número de anos de permanência na escola (inclusive aqueles devidos à repetência) foi acrescentado aos indicadores constantes do IDH (taxa de alfabetização e número médio de anos de estudo) - no bloco habitação, foram incluídas a porcentagem da população vivendo em domicílios com densidade superior a duas pessoas por dormitório potencial, a porcentagem de população vivendo em domicílios duráveis e a porcentagem da população vivendo em domicílios com abastecimento adequado de água e instalação adequada de esgoto. Analisando-se a evolução de Ribeirão das Neves em relação ao PIB da RMBH e do estado, observa-se que o PIB do município apresentou, no período 1985/95, uma taxa de crescimento médio anual bastante superior à verificada na RMBH e no estado (Quadro 1). Constata-se, entretanto, que em todos os anos registrados (1985, 1990 e 1995), a contribuição do município para a formação do PIB estadual é ínfima. Quanto ao PIB por habitante (Quadro 2), observa-se que seus valores absolutos para o município são bem menores que os da RMBH e do estado. Não obstante, constata-se que, entre 1985 e 1995, o PIB por habitante de Ribeirão das Neves apresentou taxas positivas de crescimento, ao contrário do apresentado pela RMBH. 12 Tais taxas, no período considerado, revelaram-se bem superiores às apresentadas pelo estado. Os dados do Quadro 3 indicam que o IDH de Ribeirão das Neves apresenta, desde 1980, valores que o situam entre os municípios de médio desenvolvimento. De acordo com o IDH, o município apresentou ligeira evolução entre 1970 e 1991. Observa-se uma tendência à contínua melhora da tendência dos indicadores de longevidade e educação, enquanto o indicador renda revela um crescimento expressivo entre 1970 e 1980 e um declínio posterior, seguindo a tendência da RMBH e do estado. 13 Comparando-se a localidade sob análise com a RMBH e o estado de Minas Gerais, observa-se que os indicadores sociais do município encontram-se em níveis inferiores aos da RMBH e do estado, no que diz respeito à longevidade, renda e educação. Em 1970, o IDH do município se mostrava semelhante ao estadual (0,408 e 0,412, respectivamente). No decorrer dos anos seguintes, nota-se que os índices do município mantiveram-se sistematicamente abaixo dos índices apresentados pelo estado. O IDH passa para 0,699 no estado como um todo, enquanto em Ribeirão das Neves registrou-se 0,588 (84,1% da média estadual). Observa-se que os três indicadores (longevidade, educação e renda) tiveram um desempenho inferior ao do estado como um todo. 14 No que diz respeito à comparação entre o município e a RMBH, nota-se que, em 1991, os valores do IDH relativos ao município de Ribeirão das Neves mostram-se inferiores aos da RMBH em todos os indicadores considerados. Também quanto ao ICV, constata-se ser o desempenho do município inferior ao da RMBH, para todos os indicadores considerados, entre 1980 e 1991. Em comparação com o ICV do Estado de Minas Gerais, Ribeirão das Neves mostra um desempenho inferior no período considerado em todos os indicadores (com exceção do indicador longevidade). A fim de facilitar o acompanhamento da evolução do IDH e do ICV, foi elaborado Quadro 4, que apresenta o crescimento percentual dos índices e indicadores entre 1970 e 1991. Nele observa-se que, em todos os indicadores analisados (com exceção de longevidade), o crescimento do IDH e do ICV de Ribeirão das Neves se apresenta com menor intensidade que o do estado. 15 Cabe observar que a Fundação João Pinheiro e o IPEA acabam divulgar os resultados do IDH por município para o ano de 2000. Entretanto, devido a mudanças na metodologia de cálculo, os resultados de 2000 não são comparáveis aos calculados para o período 1970-1991.O IDH de Ribeirão das Neves foi de 0,749 em 2000, sendo o índice de longevidade de 0,773, o índice de educação, de 0,856 e o índice de renda, de 0,619. O IDH da RMBH foi de 0,811 em 2000, sendo o índice de longevidade de 0,757, o índice de educação, de 0,904 e o índice de renda, de 0,771. Finalmente, o IDH do estado de Minas Gerais foi de 0,773 em 2000, sendo o índice de longevidade de 0,759, o índice de educação, de 0,850 e o índice de renda, de 0,711. De acordo com estes dados, o IDH total de Ribeirão das Neves apresentava-se, em 2000, inferior ao da RMBH e ao do estado. 3.1. Aspectos Demográficos 16 Segundo o Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2000, Ribeirão das Neves apresenta uma população total de 246 846 habitantes, o que representa uma densidade demográfica de 1 602,69 hab/km2 (Quadro 5), considerada bastante elevada quando comparada com a do Estado, de 30,50 hab/km2. Cabe observar que, dentre os municípios que compõem a RMBH, apenas Belo Horizonte, Contagem e Ibirité têm maior densidade demográfica que Ribeirão das Neves. A distribuição da população segundo sexo (Quadro 6) mostra que a proporção de mulheres é idêntica à masculina, enquanto no estado a proporção de mulheres é um pouco mais elevada que a de homens. 17 Os dados do Quadro 7 mostram a população total localização urbana e rural, nos anos de 1970, 1980, Seguindo a tendência de urbanização verificada em pode-se perceber o crescimento da população urbana tanto em termos absolutos quanto percentuais. residente, por 1991 e 2000. Minas Gerais, no município, Em 1970, havia 57,1% dos habitantes de Ribeirão das Neves residindo na zona urbana, índice este elevado para 91,7 % em 1980 e 99,4% em 2000. Devido aos fatores analisados na parte 2 deste diagnóstico, Ribeirão das Neves registra, no período considerado, uma ocupação urbana acelerada, apresentando um índice de urbanização muito superior ao do estado. A população rural, por sua vez, elevou-se em números absolutos de 1970 a 1991, vindo a se reduzir a partir de então. Sua participação percentual ao longo do período de 1970 a 2000 decresce de 42,9% para 0,6% respectivamente. Enquanto a taxa média de crescimento anual da população urbana situou-se em torno de 27,2% e 6,2% nas décadas de 1970 e 80, respectivamente, e a da população rural manteve-se em torno de 3,0% e 14,1%, respectivamente, observa-se que, no período de 1991/2000, a primeira aumenta para 8,3% e a segunda se torna altamente negativa (–26,8%). Considerando-a para o município como um todo, nota-se que foi de, respectivamente 21,4% e 7,2% nas duas primeiras décadas sob análise, reduzindo-se para 6,2% no período 1991/2000. O crescimento municipal mostrou-se muito superior ao do estado em todos períodos analisados, sobretudo no período 1970/1980 (quando a taxa de crescimento médio anual foi de 21,4 % no município, contra 1,5% no estado). 18 No que se refere à distribuição da população por grupos de idade (Quadro 8), pode ser verificado que o município sob análise apresenta percentuais acima da média estadual para as faixas compreendidas entre 0 e 39 anos e menores que os do estado para as faixas de 40 anos e mais. Os dados sobre a movimentação eleitoral no município, fornecidos pela Fundação João Pinheiro, indicam que o número de eleitores inscritos em Ribeirão das Neves é de 115 348, sendo que 101 449 (88%) compareceram para votar nas eleições de 2000 e o grau de abstenção foi de 12,0%, contra 15,6% no estado. A população total residente segundo tipo de habitação em 2000 é apresentada no Quadro 9. Como se pode observar, o percentual da 19 população que reside em casas é um pouco maior em Ribeirão das Neves do que no estado e que os percentuais da população que vive em cômodos ou de forma coletiva são superiores no município, em comparação com o estado. Confirmando a tendência apontada pelo IDH e pelo ICV, o Quadro 10 apresenta dados relativos aos indicadores de esperança de vida ao nascer e de mortalidade infantil para o estado e para o município. Os dados mais recentes de que se dispõe mostram que a esperança de vida ao nascer no município é inferior à média do estado e que a taxa de mortalidade infantil é menor do que a média estadual. 20 Outro dado importante a ser destacado refere-se à distribuição da população economicamente ativa - PEA - por setor de atividade (Quadro 11). Enquanto em 1970 essa população correspondia a 25,4 % da população total, em 1980 tal percentual elevou-se para 30,3 % e para 35,6% em 1991. Com relação ao período analisado, a evolução observada no Quadro 11 indica que a PEA declinou fortemente no setor primário, tendo assim se deslocado para os setores secundário e terciário. O setor primário teve sua participação percentual na PEA reduzida de 34,5% em 1970 para 4,2% em 1980 e 2,3% em 1991, o que é um indicador da parca expressividade econômica das atividades agropecuárias no município. O setor secundário experimentou um aumento de sua participação na PEA de 22,6% em 1970 para 45,9 % em 1980, reduzindo sua participação para 35,6% em 1991. O setor terciário teve sua participação na PEA aumentada de 42,9 % em 1970 para 49,9% em 1980, elevando sua participação para 62,1% em 1991. 21 3.2. Economia Municipal 3.2.1. Introdução Como mostra o Quadro 12, o município tem sua base econômica assentada nos setores secundário e terciário, tendo o setor primário participação inexpressiva no PIB. Não obstante, algumas atividades agropecuárias desenvolvidas no município merecem destaque, como a produção de hortifrutigranjeiros, a bovinocultura e a avicultura. Na exploração mineral, destaca-se a extração de argila, areia e brita. O setor terciário, embora apresente participação hegemônica no PIB municipal, caracteriza-se pela sua pouca diversificação, prevalecendo aquelas atividades de apoio à população. O Quadro 13 apresenta dados do Valor Adicionado Fiscal (VAF) do município para o ano de 2000, que permitem avaliar a importância relativa das atividades secundárias e terciárias na economia municipal. Como se pode constatar, o comércio varejista e atacadista é o setor que mais agrega valor ao município (61,55% do total), vindo a seguir a indústria de transformação, com 32,92% do total. O detalhamento dos ramos da indústria de transformação destaca a importância relativa da indústria de produtos farmacêuticos e veterinários (9,61% do total) e da indústria de mobiliário (5,61%). As demais atividades industriais e de 22 serviços encontram-se pulverizadas em diversos ramos, não havendo propriamente um setor que sirva de carro-chefe para o desenvolvimento municipal. 3.2.2. Setor Primário Utilização das Terras e Estrutura Fundiária No que se refere à utilização das terras, o Quadro 14 permite visualizar uma série de transformações tendenciais ocorridas no período 1970/96. Os dados comparativos para o período como um todo mostram tendências de médio prazo, a saber: 23 - redução significativa da área usada para a atividade agropecuária a partir de 1985, sendo que, em 1996, esta representava 16,7% da registrada em 1985; - redução da utilização das terras para lavouras de caráter permanente e temporário; - redução da área ocupada por pastagens naturais e incremento da área ocupada por pastagens plantadas; - redução da área ocupada por matas e florestas, das terras inaproveitáveis e aumento das terras em descanso e produtivas não utilizadas. - Essas mudanças podem ser analisadas de forma distinta, quando se refere a partes isoladas do período em pauta, uma vez que algumas modificações tiveram lugar de 1970 a 1980, outras de 1980 a 1996. A principal delas reside no fato de que, no primeiro período considerado, verificou-se a redução das lavouras permanentes e temporárias, das pastagens naturais e das matas e florestas plantadas, enquanto ocorreu o aumento das áreas de pastagens plantadas, das matas e florestas naturais e das terras inaproveitáveis. - Por outro lado, no período seguinte, percebe-se uma redução das áreas de lavouras permanentes e temporárias, das pastagens naturais, das matas naturais e plantadas e das terras inaproveitáveis e, ao mesmo tempo, o aumento das terras em descanso e das pastagens plantadas. 24 Quando se analisa a estrutura fundiária do município (Quadro 15), percebe-se que houve aumento do percentual da área ocupada pelos estabelecimentos até 200 ha,assim como uma redução do percentual dos estabelecimentos de 200 a 1.000 ha. (com respectivo acréscimo do percentual de área ocupada) e a redução do percentual e da área ocupada pelos estabelecimentos acima de 1.000 ha. Cabe destacar que as propriedades com tamanho até 200 ha representam cerca de 91,8% do total de estabelecimentos, embora cubram apenas 34,1% da área total. Pecuária Segundo dados do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), a atividade pecuária predominante em Ribeirão das Neves é a bovinocultura mista (de leite e de corte).O município apresentava em 1985 uma produção anual de 1 741 000 litros. No cômputo geral do município, o gado de corte atende basicamente ao consumo local do município. Em 1985, segundo informações do IBGE, o rebanho bovino em Ribeirão das Neves contava com 6 151cabeças. O rebanho bovino acusa uma forte redução de 1970 a 1980, voltando a se elevar de 1980 a 1985, o mesmo se observando para os eqüinos. O efetivo de aves elevou-sede 1970 a 1980, apresentando forte redução de 1980 a 1985 e o rebanho 25 de suínos apresentou uma elevação em todo o período analisado, crescendo 46,0% de 1970 a1985. A produção de leite de vaca (Quadro 17) um aumento de 81,9% entre 1970 e 1985. A produção de ovos (Quadro 17), por sua vez, reduziu-se no período analisado, não constituindo atividade relevante na economia municipal. Agricultura A produção agrícola de Ribeirão das Neves não é muito expressiva, sendo destinada principalmente ao comércio local. Dentre os produtos agrícolas produzidos no município, destacam-se os hortifrutigranjeiros, como couve, espinafre, mostarda, alface e agrião. A instalação do CEASA nas proximidades do município incentivou, em seus primeiros anos, a produção hortifrutigranjeira em Ribeirão das Neves.A queda nas quantidades comercializadas, a partir de 1980, vem se tornando cada vez mais rápida, numa demonstração clara da perda de ritmo das atividades agrícolas no município. Os dados relativos aos produtos hortifrutigranjeiros procedentes do município comercializados no CEASA-MG entre 1980 e 2001, mostrados no Quadro 18, indicam quedas expressivas para todos os produtos. 26 3.2.3. Setor Secundário Em função das reservas minerais existentes na região (argila, areia, pedras britadas), estão instaladas no município 1 britadora, 10 indústrias de fabricação de tijolos, 1 fábrica de fabricação de filtros de barro e 2 fábricas de pré-moldados. Outra atividade industrial importante no município é a fabricação de móveis, com 8 indústrias, que geram 705 empregos. No setor de fabricação de produtos farmacêuticos, Ribeirão das Neves conta com 1 indústria,com 120 empregados. Pode-se citar, ainda, a existência, em Ribeirão das Neves, de indústrias de fabricação de artigos de vestuário, têxteis, etiquetas e adesivos, tubos de PVC, aparelhos e materiais elétricos, artefatos de borracha e plástico, etc. De acordo com o Cadastro de Empresas do IBGE, destacam-se no município as seguintes empresas industriais por setor de atividade: - Confecção de Artigos de Vestuário e Acessórios: Seculus Industrial S/A, Industrial Sales & Kadoura Ltda, Othero Luís Cia. Ltda. Fabricação de Produtos Farmacêuticos: Hipofarma – Instituto de Hipodermia e Farmácia Ltda. Extração de Minerais não Metálicos: Britadora Santiago Ltda. 27 - - Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos: Cerâmica Marbeth Ltda, Cerâmica Braúnas Ltda, Aza Branca Indústria de Filtros Ltda, Premoldados Estilo Ltda, Slate Pool Table Indústria Exp. e Importação Ltda, Cerâmica Iolanda Ltda, Cerâmica Ipê Ltda, Cerâmica Luve Ltda, Cerâmica Tijolão Ltda, Cerâmica Jacarandá Ltda, Maria Marlene Martins da Silva, Premoldhec Comercial & Industrial Ltda, Cerâmica Metropolitana Ltda, Cerâmica Santo Antônio Ltda. Fabricação de Artigos de Borracha e Plásticos: Sociedade Brasileira de Artefatos Látex Ltda, D.V.G. Indústria e Comércio de Plásticos Ltda, Cosmos Artefatos de Borracha e Plástico, Coopersam/Cone do Brasil. Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel: Etiquetas Duloro Ltda. Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas: Arkadia Industrial Ltda (Prima Línea), FEMAC, Augusto Doimo do Brasil Ltda, Scolart Móveis Ltda, FlexlineLtda, Tubo e Cia, Móveis e Decorações Souza Pinto Ltda, Forja Bela Ltda, Metal Belo Ltda, Tergilene Arte e Metais, Ltda – EPP, Perfiline Ltda, Metalúrgica Augusta Ltda, Santa Tereza Industrial Ltda, Art-Silk Indústria e Comércio Ltda. Fabricação de Outros Equipamentos de Transporte: Empresa de Equipamentos Ferroviários Ltda. Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas: Padaria e Confeitaria Papaulos Ldta, Padaria e Mercearia Menezes Ltda, Helvécio de Amorim FIG ME, Miriampam Ltda – ME, Belo Horizonte Refrigerantes Ltda (Del Rey), Padaria Paula Ltda Fabricação de Produtos Têxteis: Ematex Têxtil Ltda. Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos: S.B.S. Sociedade Brasileira de Sinalização Ltda, Helemáquinas Ltda. 28 Algumas dessas empresas encontram-se instaladas no Distrito industrial João de Almeida, administrado pelo Centro Industrial de Ribeirão das Neves (CIRIN). O CIRIN foi criado pela Lei Municipal nº 987, de 11 de outubro de 1989, sendo uma autarquia municipal “vinculada à administração executiva centralizada e com autonomia administrativa, econômico-financeira e operacional, de conformidade com esta Lei” (conforme art. 10 da lei 987/89). De acordo com o art. 20 da mesma lei, o Centro Industrial de Ribeirão das Neves – CIRIN – tem por finalidade básica planejar, organizar, administrar, controlar, promover e expandir, de forma integrada, os Centros Industriais de Ribeirão das Neves, de modo a oferecer condições ideais à implantação e desenvolvimento de unidades fabris, com observância da técnica urbanística e da realidade socioeconômica. Segundo informações prestadas pelo representante do CIRIN em fevereiro de 2003, o empreendedor adquire o terreno a preços bem abaixo do mercado e o empreendimento, a partir de negociações com as autoridades municipais, recebe serviços como terraplenagem e outros, além de obter isenção de impostos municipais por cinco anos. O Quadro 19 fornece informações sobre as empresas instaladas no Distrito Industrial João de Almeida, em Ribeirão das Neves. 29 30 Fora do Distrito Industrial, o município conta com outras empresas, localizadas na sede municipal ou em Justinópolis, como mostra o Quadro 20. 31 3.2.4. Setor Terciário O comércio lojista de Ribeirão das Neves caracteriza-se por ser bem acanhado e modesto, visando suprir apenas as necessidades imediatas da população. Segundo informações fornecidas pela Câmara de Dirigentes Lojistas, existem no município 613 empresas comerciais, distribuídas em diversos ramos de atividade, como mostra o Quadro 21. Destacam-se os depósitos de material de construção, seguidos de pequeno comércio nos setores alimentício, vestuário e farmacêutico, sem tendências à especialização, e de pequenos serviços de conservação e reparação. 32 33 3.3. RENDIMENTOS DA POPULAÇÃO Analisando-se a renda mensal dos chefes de domicílio em 1991, segundo as classes de rendimento nominal médio (Quadro 22), verificase que Ribeirão das Neves apresenta valores inferiores àqueles apurados para o estado para os que recebem até um salário mínimo. Enquanto o percentual de chefes de domicílio com renda mensal inferior a 1 salário mínimo é de 26,9% em Minas, este reduz-se para 17,7 % em Ribeirão das Neves. Por outro lado, nota-se que 77,3% dos chefes de domicílios de Ribeirão das Neves percebem mensalmente valor igual ou menor a 2 salários mínimos, percentual este que, no estado, é de 72,7%. Os de maior renda (acima de 10 salários mínimos mensais) são 1,6% em Ribeirão das Neves e 7,9% em Minas. Como se pode observar, em comparação com os indicadores apurados para o estado como um todo, o município apresenta, pois, mais chefes de família com níveis de renda inferiores e menos com rendimentos superiores, sugerindo um quadro de carência entre amplos setores da população de Ribeirão das Neves. É necessário ressaltar, no entanto, que estes dados não se referem à renda familiar, mas apenas ao rendimento apurado pelos chefes de domicílio. Além disto, os dados relacionados são coletados diretamente a partir da declaração feita pelo entrevistado, não podendo ser comprovados. O que se verifica comumente é que, às vezes, pessoas tendem a informar rendas inferiores às percebidas mensalmente. Os dois fatores mencionados levam a crer que os rendimentos da população de Ribeirão das Neves podem ser superiores aos dados apresentados. No entanto, o grau de distorção de tais informações não pode ser precisado, o que torna necessário utilizá-las como as únicas minimamente confiáveis de que se dispõe. Deve-se lembrar, no entanto, de que as afirmações feitas são verdadeiras também para o estado, o que não alteraria as relações assinaladas entre os dados de Ribeirão das Neves e de Minas Gerais. 34 Por outro lado, o Quadro 23 mostra que 69,9% da população de Ribeirão das Neves acima de 10 anos encontravam-se, em 1991, sem rendimento ou tinha renda mensal inferior a um mínimo, percentual este bastante semelhante ao do estado, de 70,1%. Todavia, o percentual da população acima de 10 anos que percebia mais de 10 salários mínimos mensais era de 0,4% no município, contra 2,2% no estado. Finalmente, em termos de rendimento médio mensal familiar per capita, observa-se, no Quadro 24, que 40,3% das famílias de Ribeirão das Neves enquadram-se nas classes sem rendimento ou de rendimento até 1 salário mínimo, enquanto no Estado esta proporção é de 69,7%. 35 3.4. ESTUDO COMPARATIVO DE INDICADORES ECONÔMICOS E DEMOGRÁFICOS Finalmente, apresenta-se nesta seção um estudo comparativo dos indicadores econômicos e demográficos de Ribeirão das Neves com os demais municípios que compõem a Grande Belo Horizonte (GBH). A GBH é uma sub-região da RMBH caracterizada como a área de conurbação de Belo Horizonte e cidades vizinhas em que se localizam os principais equipamentos metropolitanos. Segundo estudo do Instituto Horizontes (2002), a Grande Belo Horizonte compreende, além da capital mineira, os municípios de Contagem, Betim, Ibirité, Nova Lima, Sabará, Santa Luzia, Lagoa Santa, Vespasiano, Confins, São José da Lapa, Pedro Leopoldo e Ribeirão das Neves, totalizando 13 municípios. 36 3.4.1. PIB Com um PIB de R$ 29,3 bilhões em 1999, a GBH pode ser considerada uma síntese quase completa da economia da RMBH, já que este valor representa 96,4% do PIB total da região metropolitana. Belo Horizonte, Betim e Contagem formam a base da economia da GBH, com 90% do PIB da região (Quadro 25). Nos três municípios vivem pouco mais de três milhões de habitantes, o que equivale a 77% da população total da GBH (Quadro 23). O Quadro 26 permite a comparação entre o PIB per capita dos municípios da GBH. A grande disparidade existente entre eles decorre do fato de que algumas das cidades, como Ribeirão das Neves, Ibirité, Santa Luzia e Sabará, abrigam grande contingente populacional, porém têm atividade econômica de pouca expressão. De fato, estas cidades se caracterizam pela função de cidades-dormitório. Nesse sentido, é interessante analisar os dados à luz de alguns exercícios de comparação. Ribeirão das Neves, por exemplo, possui população equivalente a 80% da população de Betim. Seu PIB, contudo, equivale a apenas 11,4% do de Betim e seu PIB per capita é sete vezes menor que o deste município. 37 A análise da evolução da estrutura dos 3 grandes agregados no período 1985/1971 confirma a predominância do setor de Serviços na Grande Belo Horizonte, que em 1 Utilizou-se o período 1985/1997 por se tratar da série de PIB a preços constantes de 1996 elaborada pela FJP. 1997 passou a deter 64,1% do PIB total (Quadro 27). Confirma também a tendência, registrada pela literatura, do aumento da importância do setor de Serviços na medida em que avança o processo de metropolização de sua economia, como é o que se dá com a GBH. A evolução setorial observada em cada município evidencia (Quadro 28) que entre 1985 e 1997 o setor Serviços teve um incremento de sua participação relativa na economia não só nos três municípios que compõem a BBC (Belo Horizonte, Betim e Contagem), como nos demais, exceto o de Sabará, cuja mudança estrutural é o caso único na GBH que discrepa da tendência geral de crescimento do terciário. 38 Em Belo Horizonte, por exemplo, o setor de Serviços, que participava com 68,7% do total do PIB, em 1985, aumentou sua participação relativa para 76,1% em 1997. Parece clara a tendência à mudança das funções urbanas da capital, que vai acentuando seu papel como centro de prestação de serviços modernos, públicos e privados, com ganhos também de qualidade. Em maior ou menor grau, este fenômeno é também constatado nos municípios-pólo das demais regiões metropolitanas do país. Em relação ao município de Betim, observa-se, em primeiro lugar, a larga dominância do setor industrial na formação do PIB municipal. Percebe-se também que houve um pequeno incremento na participação relativa do setor de Serviços entre os anos de 1985 e 1997. Já no município de Contagem houve aumento expressivo na participação relativa dos Serviços. Levando em conta que em sua origem Contagem era uma cidade essencialmente industrial, o equilíbrio existente hoje entre o PIB do setor Industrial e do setor de Serviços confirma a tese de que o crescimento da atividade industrial no município trouxe consigo a necessidade do provimento de novos serviços. É também interessante observar que a população de 39 Contagem é 1,8 vezes maior que a do município de Betim, o que talvez possa ser tomado como indicador da atuação de processos de economias aglomerativas, reforçados por sua grande proximidade do centro metropolitano. Ainda no que diz respeito à BBC, há, sem dúvida, uma clara dificuldade de Belo Horizonte para atrair novos investimentos industriais, especialmente aqueles de grande/médio porte ou que demandem grandes áreas para sua instalação.Por outro lado é provável que indústrias instaladas na capital, em projetos de expansão de suas atividades, tomem decisões de localização em outras cidades, fora da área da BBC e da RMBH, ou mesmo em outras regiões do Estado. Com relação à composição setorial do PIB dos demais municípios da Grande Belo Horizonte, observa-se que em 1997 a participação relativa da indústria na composição do PIB apresenta-se bem mais baixa em Ribeirão das Neves e Ibirité do que nas cidades restantes fora do eixo BBC. Em menor escala, o mesmo se passa em Lagoa Santa e Santa Luzia. Ao contrário do que ocorre com Belo Horizonte, a predominância do setor Serviços nos 4 municípios citados não é indicação de modernização de suas economias pois, como se viu, eles são caracterizados como os que apresentam os menores valores de PIB per capita na Grande Belo Horizonte. O predomínio do setor terciário nestes locais indica apenas que as atividades tradicionais (comércio local, oficinas mecânicas, serviços pessoais, etc) são as principais responsáveis pela formação do PIB municipal. 3.4.2. Valor Adicionado Fiscal Em termos de valor adicionado fiscal, o Quadro 29 mostra que, entre os demais municípios que compõem a GBH, Nova Lima, Vespasiano e Pedro Leopoldo respondem por mais de 50% do valor agregado. Nesses três municípios, observa-se que o valor agregado é concentrado em determinadas atividades econômicas. Em Nova Lima, predomina largamente o setor de Extração de minerais (R$ 433 milhões); em Vespasiano, a Indústria de Perfumaria, Sabões e Velas (R$101 milhões) e a Indústria Metalúrgica (R$96 milhões); em Pedro Leopoldo, a Indústria de transformação de produtos (R$242 milhões). 40 Em Santa Luzia, a Indústria Metalúrgica (R$73 milhões) e a Indústria de Transformação de Produtos (R$63 milhões) são os setores de maior valor agregado. É interessante também notar que os municípios de Ribeirão das Neves e Ibirité são os de menor VAF, com exceção de Confins, município recém emancipado e de pequeno porte. Observando-se a tabela de composição setorial do valor adicionado destes dois municípios, percebe-se que não há neles nenhuma atividade de maior expressão econômica, diferentemente do que ocorre nos municípios de maior porte. 3.4.3. Pessoal ocupado, salários e outras remunerações No que diz respeito a pessoal ocupado, salários e outras remunerações, constata-se que os demais municípios que compõem a GBH (exclusive BBC) têm participação de 6,6% no total do pessoal ocupado na região (Quadro 30). Em termos de salários e outras remunerações, a participação é ainda menor, com cerca de 5% do valor total das remunerações do pessoal ocupado na GBH. 41 Como se poderia supor, há alguma correspondência entre o contingente de pessoas ocupadas e o tamanho da população do município. Nova Lima é a única exceção, na medida em que, com uma população (62,9 mil habitantes) três vezes menor que a de Santa Luzia e quatro vezes inferior à de Ribeirão das Neves, mostra que a proporção de pessoas ocupadas é relativamente bem maior do que nas duas cidades citadas. 3.4.4. Arrecadação de ICMS Quanto à arrecadação de ICMS por setores de atividade, o valor de ICMS arrecadado em 1999 nos demais dez municípios que compõem a GBH é de R$149,6 milhões, o que equivale a apenas 4,4% do total deste imposto na região. Com exceção dos casos de Nova Lima, Confins e Lagoa Santa, a Indústria de Transformação (IT) é o setor de onde provém quase a totalidade (entre 79,2 e 94,4%) da arrecadação de ICMS destes municípios (Quadro 31). Enquanto isso, no conjunto da GBH, a IT tem participação de 39,9%, devido ao peso dos setores de Comércio e Serviços e dos Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUPs) na arrecadação dos municípios da BBC. Além de Confins, município pequeno que apresenta o menor valor de ICMS arrecadado em 1999 (R$ 385,7 mil no ano), Ribeirão das Neves, assim como Ibirité, São José da Lapa e Nova Lima tiveram as mais baixas arrecadações de ICMS (menos de R$ 10 milhões, variando, pela ordem, entre R$ 4,8 e R$ 6,2 milhões). É curioso também que o município de Nova Lima, 4º maior PIB da GBH, tenha o valor de arrecadação de ICMS equiparado aos municípios mais pobres da região. Apesar disso, observa-se que é o município, ao lado de Confins, em que a indústria extrativa detém a maior participação relativa na composição da arrecadação de ICMS, apesar de ser irrisória a contribuição deste setor no bolo do total arrecadado. Chama a atenção o peso muitíssimo elevado (73%) que o setor Comércio apresenta na arrecadação de ICMS do município de Lagoa Santa, cuja razão ainda está por ser identificada. 42 3.4.5. Grande Belo Horizonte: Desempenho da economia no período de 1970 a 1996: Entre 1970 e 1996, a Grande Belo Horizonte teve um crescimento econômico superior ao de Minas Gerais. Em 1996, a GBH tinha quintuplicado seu PIB em relação ao ano de 1970. Já o PIB do estado havia crescido 3,77 vezes no período (Quadro 32). Os dados utilizados na comparação da evolução do PIB de 1970 a 1996 foram extraídos do trabalho “Produto Interno Bruto dos Municípios Brasileiros: 1970,1975,1980,1985,1990 e 1996”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. O objetivo deste trabalho foi tornar possível a comparação do desempenho das economias de cada município brasileiro no período. A unidade de referência é o dólar de 1998, segundo estimativa do Banco Central. Vale lembrar que, a partir de 1999, o real sofreu acentuada desvalorização em relação à moeda norte-americana. Por esse motivo, os valores referentes aos PIBs municipais, se expressos em dólar de 2003, seriam consideravelmente inferiores aos que constam na publicação do IPEA. 43 Houve, portanto, um aumento na participação da GBH no PIB estadual. Segundo os dados do IPEA, em 1970 a GBH era responsável por 29,0% do PIB de Minas Gerais. Em 1996, esse percentual havia subido para 39,6%. A análise do crescimento ocorrido em cada década permite uma melhor compreensão da dinâmica econômica da Grande Belo Horizonte entre 1970 e 1996. − Década de 70 A década de 70, tida como a do “milagre econômico” nacional, foi bastante positiva para a Grande Belo Horizonte e para a economia mineira. A taxa média de crescimento anual da GBH foi de 12,3%, enquanto a de Minas Gerais foi de 10% (Quadro 33). Este desempenho esteve fortemente associado à postura pró-ativa do governo estadual, tanto na atração quanto na realização direta de investimentos, sendo também fruto de uma conjuntura nacional favorável à expansão econômica, através dos esforços do governo federal para dotar o país de infra-estrutura (energia, siderurgia, telecomunicações). 44 Embora todos os municípios da GBH tenham apresentado crescimento expressivo no período, o maior destaque entre eles é, sem dúvida, Betim, que multiplicou por dez o tamanho de sua economia, crescendo a uma taxa média anual de 26,9%. Como se sabe, o motor desse dinamismo foi a instalação da FIAT automóveis, ocorrida em 1974. Sabará, que foi o município que menos cresceu na década, simplesmente dobrou seu PIB. 45 − Década de 80 e Período 1990-1996 Já na década de 80, a “década perdida”, houve notável declínio no dinamismo econômico da Grande Belo Horizonte e do estado. Ainda assim, a GBH teve um crescimento médio anual de 3,5%, que pode ser considerado bastante razoável. Por outro lado, Minas Gerais teve desempenho no mínimo modesto, com uma média de 1,7% de incremento do PIB a cada ano (Quadro 34). Como se pode observar pelo Quadro 34, Belo Horizonte foi a grande responsável pelo crescimento da GBH no período. O PIB do município teve um aumento de quase US$10 bilhões, maior inclusive que o incremento de Minas Gerais. Em contrapartida, Betim teve um ligeiro decréscimo, e a economia de Contagem reduziu-se a menos da metade do que era no início da década. Nova Lima, Ribeirão das Neves e Sabará também diminuíram de tamanho, em termos econômicos, ao longo da década de 80. No período 1990 a 1996, ocorre o inverso dos períodos anteriores. A economia mineira retoma certo vigor, crescendo 46 à taxa média anual de 3,5%. Já a GBH sofre uma queda na taxa média anual de crescimento, que é de 2,4% no período (Quadro 35). A capital tem um crescimento de 15% no período. Contagem recupera parte do dinamismo perdido na década de 80, enquanto Betim continua a lenta trajetória de queda iniciada na década anterior, perdendo 0,5% do PIB ao ano. Ribeirão das Neves, assim como Sabará e Ibirité, embora estejam entre os municípios mais pobres da GBH, experimentam elevadas taxas de crescimento. 47 4. DIRETRIZES PARA A GESTÃO MUNICIPAL A Constituição Federal, ao estabelecer as competências das esferas de governo, explicou com mais clareza a responsabilidade dos municípios na prestação de alguns serviços, assim como para atuar em áreas específicas. Foram definidos como de competência municipal o desenvolvimento sócio-econômico, a construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; a proteção ao meio ambiente e o combate à poluição, entre outros, necessitando-se ainda algumas regulamentações. Quanto às competências no trato das questões ambientais, podemos verificar que especial atenção é dedicada nos artigos 23 e 30. No artigo 23, são estabelecidas competências comuns da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em especial nos incisos: “III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; IX- promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; XI- registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios”; No Artigo 30 da CF de 1988, está definido que cabe aos Municípios: “I – legislar sobre assuntos de interesse local”; 48 II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cutural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.” No Art. 225 da CF de 1988 está definido: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. § 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atritos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 49 VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para preservação do meio ambiente; VII – proteger a fauna e a flora vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécie ou submetam os animais a crueldade. § 2º. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com técnica exigida pelo órgão competentes, na forma da lei. § 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. A Constituição Estadual de Minas Gerais, obedecendo aos preceitos consagrados pela Carta Magna, no que tange à autonomia municipal para o gerenciamento municipal dispõe: Art. 166 - O Município tem os seguintes objetivos prioritários: I – gerir interesses locais, como fator essencial de desenvolvimento da comunidade; II - cooperar com a União e o Estado e associar-se a outros Municípios, na realização de interesses comuns; III - promover, de forma integrada, o desenvolvimento social e econômico da população de sua sede e dos Distritos; IV - promover plano, programas e projetos de interesse dos segmentos mais carentes da sociedade; V - estimular e difundir o ensino e a cultura, proteger o patrimônio cultural e histórico e o meio ambiente e combater a poluição; VI - preservar a moralidade administrativa. Art. 170 - A autonomia do Município se configura no exercício de competência privativa, especialmente: I - elaboração e promulgação de sua Lei Orgânica; II - eleição de seu Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores; III - instituição, decretação e arrecadação dos tributos de sua competência e aplicação de sua rendas, sem prejuízo da 50 obrigação de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criação, organização e supressão de Distrito, observada a legislação estadual; V - promoção do ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano, ficando dispensada a exigência de alvará ou de qualquer outro tipo de licenciamento para o funcionamento de templo religioso e proibida limitação de caráter geográfico à sua Instalação; VI - organização e prestação de serviços públicos de interesse local, diretamente ou sob regime de concessão, permissão ou autorização, incluído o transporte coletivo de passageiros, que tem caráter essencial. Parágrafo único - No exercício da competência de que trata este artigo, o Município observará a norma geral respectiva, federal ou estadual. Art. 214 - Todos têm direito a meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, e ao Estado e à coletividade é imposto o dever de defendê-lo e conservá-lo para as gerações presentes e futuras. § 1º - Para assegurar a efetividade do direito a que se refere este artigo, incumbe ao Estado, entre outras atribuições: I - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e disseminar, na forma da lei, as informações necessárias à conscientização pública para a preservação do meio ambiente; II - assegurar, na forma da lei, o livre acesso às III - prevenir e controlar a poluição, a erosão, e prestar informações básicas sobre o meio ambiente; assoreamento e outras formas de degradação ambiental; IV - exigir, na forma da lei, prévia anuência do órgão estadual de controle e política ambiental, para início, ampliação ou desenvolvimento de atividades, construção ou reforma de instalações capazes de causar, sob qualquer forma, degradação do meio ambiente, sem prejuízo de outros requisitos legais,preservado o sigilo industrial; V - proteger a fauna e a flora, a fim de assegurar a diversidade das espécies e dos ecossistemas e a preservação 51 do patrimônio genético, vedadas, na forma da lei, as práticas que provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais a crueldade; VI - definir mecanismos de proteção à fauna e à flora nativas e estabelecer, com base em monitoramento contínuo, a lista de espécies ameaçadas de extinção e que mereçam proteção especial; VII - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que importem riscos para a vida, a qualidade de vida, o meio ambiente, bem como o transporte e o armazenamento dessas substâncias em seu território; VIII - criar parques, reservas, estações ecológicas e outras unidades de conservação, mantê-los sob especial proteção e dota-los da infra-estrutura indispensável às suas finalidades; IX - estabelecer, através de órgão colegiado, com participação da sociedade civil, normas regulamentares e técnicas, padrões e demais medidas de caráter operacional, para proteção do meio ambiente e controle da utilização racional dos recursos ambientais; X - manter instituição de pesquisa, planejamento e execução que assegure ao órgão indicado no inciso anterior o suporte técnico e operacional necessário ao cumprimento de sua finalidade; XI - preservar os recursos bioterapêuticos regionais. § 2º - O licenciamento de que trata o inciso IV do parágrafo anterior dependerá, nos casos de atividade ou obra potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, de estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade. § 3º - Parte dos recursos estaduais previstos no art. 20, § 1º, da Constituição da República será aplicada de modo a garantir o disposto no § 1º, sem prejuízo de outras dotações orçamentárias. § 4º - Quem explorar recurso ambiental fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, na forma da lei. § 5º - A conduta e a atividade consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão o infrator, pessoa física ou jurídica, a sanções administrativas, sem prejuízo das obrigações de reparar o dano e das cominações penais cabíveis. 52 § 6º - São indisponíveis as terras devolutas, ou arrecadadas pelo Estado, necessárias às atividades de recreação pública e à instituição de parques e demais unidades de conservação, para a proteção dos ecossistemas naturais. § 7º - Os remanescentes da Mata Atlântica, as veredas, os campos rupestres, as cavernas, as paisagens notáveis e outras unidades de relevante interesse ecológico constituem patrimônio ambiental do Estado e sua utilização se fará, na forma da lei, em condições que assegurem sua conservação.programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico A Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de dezembro de 1997, em seu artigo 4º, estabelece as competências do órgão ambiental federal, onde se lê: “Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber”: I- localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas de conservação do domínio da União. II- localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados; III- cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados; IV- destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear-CNEN; V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica. § 1º - O IBAMA fará o licenciamento de que trata este artigo, após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Estados e Municípios em que se localizar a 53 atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento. § 2º - O IBAMA, ressalvada sua competência supletiva, poderá delegar aos Estados o licenciamento de atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional, uniformizando, quando possível, exigências. A divisão de competência do arcabouço legal brasileiro, procura evitar a existência de conflitos na aplicação em se tratando de gestão municipal, pois cada ente da federação tem, em princípio, seu campo de atuação definido. Contudo, poderia haver normas que se contraponham, configurando em conflito de competência e, então, com certeza, uma delas seria inconstitucional. Mas, nas áreas de interseção desses existiam dúvidas sobre qual das normas aplicar. Contudo em qualquer momento deveria prevalecer a garantia do direito do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Diante destes elementos e da nova ordem que se apresenta às Administrações Públicas Municipais, torna-se evidente a necessidade regularização das prefeituras para atendimento de todo arcabouço legal vigente. 54 de 5 - DAS RAZÕES PARA MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DE RIBEIRÃO DAS NEVES A Constituição Brasileira de 1988 representou um momento histórico, singular, até então não assimilado e acatado pelas administrações municipais anteriores, que é a autonomia municipal. Ora, o fortalecimento do município de Ribeirão das Neves representa o fortalecimento da democracia no país e efetivo desenvolvimento de nossa cidade. Um município forte, autônomo, representa menos problemas para o Estado e União, já tão sobrecarregados. Desta forma, é preciso que cada entidade federativa assuma suas próprias responsabilidades. Após 1988, a má prestação de serviços, o inadequado gerenciamento ambiental, por não utilização de suas competências, tornou-se uma postura inaceitável do Administrador Municipal. A atuação dos municípios em setores que demandam especialização, está ainda muito acanhada, pois os Prefeitos continuam transferindo responsabilidades para o Estado ou União, delegando aos órgãos estaduais de meio ambiente ou ao IBAMA, a iniciativa de resolver “seus problemas territoriais”. A atual Administração Pública Municipal de Ribeirão das Neves assume seu dever ao reconhecer que o município é autônomo, independente, tem competências constitucionais e que não se pode mais admitir evasivas do Poder Executivo para justificar a falta de políticas específicas. Esta omissão é muitas vezes responsável pelos graves problemas sociais, econômicos e ambientais que ocorrem em sua base territorial, não só quanto ao meio ambiente físico e biológico, mais principalmente quanto às questões sociais e econômicas que afetam a qualidade de vida dos Nevenses. 55 Ribeirão das Neves registra hoje, um número extraordinário de problemas de gestão, principalmente quando comparado aos municípios de igual porte, por ter se escusado, até o presente governo, em exercer o poder de polícia que lhe é inerente, e nem cumprir o seu papel no contexto da legislação brasileira. Vale também esclarecer os limites da autonomia municipal e os diferentes campos de atuação dos municípios, estados e federação. O princípio da predominância do interesse tem sido o norteador do sistema de repartição de competências, e com isso a principal divergência é diferenciar um interesse local do regional. Deve-se estabelecer o que é interesse local, para garantia da competência em determinada matéria, lembrando que não existem interesses conflitantes, pois todos integram a mesma Federação. A predominância do interesse define a competência. Ex. limpeza urbana, instalação de presídios, aterros industriais de resíduos perigosos, pavimentação de ruas, etc.. A falta de autonomia dos municípios, ainda hoje, pode ser explicada pelo desconhecimento ou despreparo dos administradores, ou pela de vontade política de manter o estado de dependência, favorecendo o assistencialismo. Uma lei municipal atende muito mais as necessidades do município que as regionais, ou estaduais, devido às particularidades locais. Por esta razão, o já citado artigo 30, (II) da CF/88, reconheceu a competência legislativa suplementar os municípios. Estes podem então suplementar a legislação estadual e federal, adaptando-a a sua realidade. Sendo elaborada e fiscalizada no município, pode-se ouvir os anseios sociais e, alcançar o interesse público em questão, neste sentido têm entendido nossos magistrados: "Se o município tem competência legislativa para suplementar legislação nacional ou estadual, é claro que esta normação 56 poderá se desenvolver quando isto couber. Caberá a legislação do município, não somente em caso de espaço normativo não preenchido, mas também quando a legislação existente não seja justificável ante a realidade local. Com tal interpretação estamos dando ao Município a dimensão que realmente desfruta na Lei Maior". (Juiz Jair Eduardo Santana). O grande ganho da autonomia municipal, é a melhor estruturação do município; a existência de instrumentos legais para atuar em nome da coletividade, de forma a planejar, fiscalizar, executar, controlar, enfim, exercer na sua plenitude o acervo de atribuições que a Lei das leis lhe reservou. O município autônomo estará adequadamente instrumentalizado para promover o desenvolvimento local, dentro do que preconizam os paradigmas do desenvolvimento sustentável, hoje entendido como o verdadeiro desenvolvimento, pois deixa de prender-se aos parâmetros da economia, e volta-se para o bem-estar humano das gerações presentes e futuras. 57 6 - ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL PARA O MEIO AMBIENTE: ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO 6.1- CONSIDERAÇÕES GERAIS Analisando as atividades desenvolvidas pelas várias unidades organizacionais, verifica-se que a maioria delas, diretamente ou indiretamente, contemplam as questões ambientais. É através de sua estrutura organizacional que a administração executa essas atividades que, normalmente, estão agrupadas em secretarias, departamentos, seções, dependendo de alguns fatores, como número de habitantes, extensão territorial e complexidade de problemas, principalmente, os ambientais. A Administração Municipal é responsável pela execução de atividades que atendam as demandas de sua comunidade em saúde, educação, saneamento, lazer, que realizadas de forma adequada, proporcionam atingir os objetivos propostos e uma melhor qualidade de vida. Para a montagem de qualquer estrutura com objetivo de tratar questões de meio ambiente são fundamentais alguns pressupostos para que este espaço não seja apenas mais um “quadrinho” da estrutura municipal sem poder de decisão: I- Que o chefe do executivo tenha vontade política e esteja sensível às questões de seu município; II- Que a estrutura de poder, composta pelo 1º nível hierárquico da Prefeitura forme uma equipe capaz de desenvolver suas atividades específicas, mas tendo sempre presente como objetivo primário o trabalho integrado junto aos diversos setores, 58 para que o resultado obtido considere as necessidades da população e as questões ambientais, sociais, econômicas e culturais envolvidas; III- Que se designe um(a) profissional especializado para dirigir a unidade administrativa (Secretaria, Seção Diretoria, Assessoria), com capacidade de fazer articulação entre as várias áreas do poder local e das outras instâncias – estadual, federal. Recomenda-se que esse profissional seja ou esteja assessorado por pessoal qualificado do quadro funcional da prefeitura, como forma de permitir a continuidade do processo administrativo nas novas administrações. Importante dizer que as questões administrativas devem transcender as políticas partidárias; IV- Que se estabeleçam diretrizes para as políticas públicas envolvendo, para orientar a execução de planos, programas e projetos compatibilizando a vocação municipal com o desenvolvimento econômico desejado e com a qualidade de vida; V- Que se considere o referencial ambiental em todas as ações de governo através de um sistema de informações sobre o meio ambiente local e regional (legislação, técnicas e instrumentos de ação e correção); VI- Importante considerar o papel fundamental do legislativo, não só como órgão fiscalizador das ações do executivo, mas como entidade que percebe as necessidades estruturais do poder público para a promoção do desenvolvimento econômico atrelado à preservação do meio ambiente. Ressalta-se aqui o papel dos vereadores das Câmaras Municipais na elaboração, aprovação e cumprimento de textos legais atinentes ao tema ambiental. Abre-se, assim, importante espaço para participação dos vereadores nos rumos que a municipalidade pode trilhar, seja criando leis municipais, seja exigindo o seu cumprimento. 59 PREFEITURA R. NEVES 6.2 – MODELO UMA UNIDADE ADMINISTRATIVA SECRETAR IA Para a implantação efetiva de uma unidade de meio ambiente POLÍTICA ESPECÍFICAS no FUNDO CONSEL OS nível municipal considerar a área, a população e a caracterização PODER LEGISLATIV deve-se dos principais problemas, segundo a vocação do SOCIEDADE CIVIL município. O administrador deve considerar as variáveis para definir quantos servidores necessitará, a estrutura e a (s) forma(s) de atuação mais adequada para atuar em consonância com as necessidades locais. 6.3. ESTRATÉGIAS BÁSICAS PARA ADMINISTRATIVA 60 A ATUAÇÃO DA UNIDADE A administração Municipal deve concentrar esforços no sentido de aprimorar as atividades afins, ou seja, aquelas que repercutem em significativos ganhos na qualidade de vida das pessoas e da população. O Planejamento torna-se uma necessidade, sendo que irá exigir a concentração de esforços por todos os setores da administração municipal. O objetivo do planejamento é estabelecer compromissos com os próximos séculos, visando o desenvolvimento sustentável das comunidades. São necessários ações concretas a curto, médias e longo prazo No Serviço de Limpeza Urbana, que pode ou não estar na mesma unidade de meio ambiente, torna-se de grande importância a normalização dos procedimentos de coleta, transporte e destinação final do lixo. Cada município irá desenvolver procedimentos para atender a sua demanda, mas ações concretas devem ser desencadeadas na fiscalização de depósitos clandestinos e tratamento dos depósitos a céu aberto. Os interferentes locais e os aspectos culturais devem ser trabalhados neste sentido, através da articulação dos diversos setores da Administração Municipal. Esse é um importante papel do Dirigente Municipal de meio ambiente. Diagnóstico das prioridades se caracteriza por uma importante ferramenta do planejamento. Assim, verifica-se a necessidade de integração vertical e horizontal das secretarias, departamentos e seções da prefeitura. Essa situação poderá ocasionar conflitos de interesses entre os diversos setores. Contudo, as decisões políticas devem considerar as necessidades da comunidade e dos compromissos assumidos pela Administração Municipal. A integração vertical visa unir Estados e União nas questões ambientais e nos problemas resultantes do crescimento desordenado das cidades. 61 Principais metas: Promover o Desenvolvimento econômico, social e ambiental de R. Neves; Impedir empreendimentos contrários ao plano de desenvolvimento de R. Neves; Independência e agilidade na (re)aprovação de novos empreendimentos; Regularização dos passivos ambientais; Aumento de receita municipal (tarifas e tributos); Melhoria da imagem de Ribeirão das Neves; Redução de Custos com a Saúde Pública e Defesa Civil; Atração de empresas de base tecnológica e de agregação de valores, redução das indústrias extrativistas; 62 Garantir o enriquecimento, a geração de emprego e melhoria da qualidade de vida para o cidadão de Neves; Promover a responsabilidade individual e coletiva dos moradores de Neves, quanto à Educação Ambiental; Fortalecer em toda população os sentimentos de amor e cuidado com a nossa cidade - Ribeirão das Neves. O licenciamento ambiental é uma das formas de controle da geração de materiais poluentes, devendo-se, entretanto, desenvolver e incrementar os procedimentos de fiscalização e monitoramento, constituindo base de dados para divulgação dos resultados, podendo-se utilizar dados para comparações futuras, ou mesmo, mudanças de estratégia. Novamente é importante destacar a necessidade de se começar essa importante tarefa. A continuidade, a integração com outros municípios e o trabalho de equipe permitirá encontrar soluções tecnológicas viáveis. A poluição pode se apresentar das mais diversas formas. A atuação regional e o intercâmbio entre os municípios de uma mesma bacia hidrográfica se constituem em excelentes oportunidades de trocas de experiências, além de permitir a solução de problemas comuns. Quanto à Educação Ambiental, a mesma consiste em estabelecer procedimentos e mecanismos de integração entre o Setor de Meio Ambiente e a Secretaria de Educação de Município, além da rede privada de ensino, empresas e sociedade civil organizada. A caracterização dos mananciais da cidade e os 63 principais tipos de problemas que conduzem a perda da qualidade dos mesmos, instalação de novas indústrias, presídios, tratamento de esgoto dentre outros, são considerados bons temas para debate amplo. Nas atividades pode-se envolver a rede pública municipal de ensino, aproveitando as relações interpessoais dos setores de meio ambiente e educação, que por sua vez devem andar juntos. Ambos possuem grande experiência e que devem ser compartilhadas e aperfeiçoadas. Na proposta de Educação Ambiental a ser desenvolvida pela Administração Municipal devem constar elementos para continuidade no tempo e no espaço, pois as conquistas na área ambiental são lentas e progressivas, ou seja, não ocorrem em uma administração, apenas. Devem ser programadas com o objetivo de, progressivamente, evoluírem em suas dimensões culturais, sociais, econômicas e ambientais. A implantação de um programa de geração de emprego e renda com uso de tecnologias limpas, deve ser também compartilhada com as crianças desde a educação infantil ao ensino superior. Em suas estratégias, o município pode integrar as demais redes de ensino, de forma que as repercussões se dêem no nível da comunidade como um todo. A educação focada no desenvolvimento local, com os elementos corretos para a execução de uma política educacional pode representar muito no funcionamento e continuidade dos investimentos que se fizerem. Com o conhecimento e o comprometimento dos novos cidadãos, certamente muitos dos erros cometidos até o presente momento poderão ser evitados no futuro. Pode-se afirmar, com certa margem de certeza, de que se a integração entre os setores de educação e meio ambiente não ocorrer, as propostas e projetos não terão sustentação futura, correndo-se o risco de esvaziamento das mesmas. O Reforço Institucional permitirá a continuidade e o desenvolvimento de novos projetos nas áreas que foram previamente diagnosticados. A informatização é 64 um poderoso aliado, permitindo agilidade e integração de dados. É importante que a unidade de administrativa auxilie na busca de soluções com as empresas e instituições geradoras de problemas ambientais. Fiscalizar e orientar permitindo uma maior aproximação de ambas as partes, tornando o processo mais interessante e menos “traumático”, no sentido de efeitos colaterais, principalmente de origem política. A administração municipal pode ser um importante elo entre a solução de um problema de uma empresa para outra, visto que a troca de informação entre o setor privado ainda é praticamente inexistente. Outra condição que deve ser reforçada diz respeito à qualificação dos recursos humanos que atuam ou irão atuar junto `prefeitura. É de vital importância que o administrador realize investimentos nesta área. A descontinuidade administrativa não deve interferir naquelas atribuições previstas em Lei. Independente da condição política dos Prefeitos e Vereadores, o desenvolvimento do município necessita de uma abordagem permanente, não devendo ser confundida com uma proposta passageira ou vinculada apenas a eventos políticos. 6.4. Lei Orgânica Municipal A Lei Orgânica Municipal tem um caráter eminentemente organizador do governo local e dispõe sobre a estrutura, funcionamento e atribuições dos poderes Executivo e Legislativo. Contém a organização e o planejamento municipal, o processo legislativo e a participação da população, os bens e serviços locais, os princípios norteadores das matérias de sue interesse local em saúde, saneamento, transporte, educação, uso e ocupação do solo urbano, plano diretor, parcelamento, meio ambiente, consórcio intermunicipal entre outros. 65 Embora autônomo, o Município, enquanto Poder público, tem competência comum com a União, Estado e Distrito Federal para dispor sobre matérias relacionadas nos artigos 23, 30 e 225 da Constituição Federal, a exemplo de zelar pela guarda da Constituição, cuidar da saúde, proteger os bens de valor históricos, proteger o meio ambiente, definir espaços territoriais para serem especialmente protegidos e exigir estudo prévio de impacto ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação. A Lei Orgânica deve fixar, ainda, os princípios norteadores da Política municipal de Meio Ambiente, indicando que o desenvolvimento do município dependerá essencialmente da incorporação da referência ambiental no planejamento, na execução das atividades e na elaboração dos instrumentos legais – Lei de Parcelamento, de Uso e Ocupação do Solo, Plano Diretor, Legislação Orçamentária; enfim, em todo o processo de tomada de decisão local.A Lei Orgânica que não complementou matéria ambiental pode fazê-lo através de emendas. 66 7. O MODELO TECNOLÓGICO 1 A proposta de desenvolvimento para o município surgiu da necessidade de mapear a realidade e trazer à tona um conjunto de dados e informações estratégicas da conjuntura econômica estadual, nacional e, entre elas os mecanismos de transferência de tecnologia, ferramenta poderosa para a transformação do conhecimento em riqueza. Afinal, as empresas de base tecnológica valorizam os bens intangíveis, e o setor é abrangente, pois interage, transversalmente, com inúmeras áreas do conhecimento, como a saúde, o meio ambiente, a agricultura, a pecuária, a química, a bioquímica, a biologia, a informática, a botânica, a farmácia, a cosmética, a floricultura, a silvicultura, entre tantas outras. Por essas características, uma empresa de base tecnológica é classificada no rol da indústria inovativa, em que há crescente demanda por conhecimento. Na verdade, as empresas de base tecnológica, independente de seu porte, trabalham com produtos de maior valor agregado, o que demanda delas melhorias constantes em seu processo produtivo, gera empregos cada vez mais especializados e exige, por isso, o aprimoramento e a reciclagem permanente de seus funcionários. E essas peculiaridades das empresas, reveladas nesta publicação, exigem, por sua vez, tratamento diferenciado para o setor. Ou seja, a elaboração de uma política setorial que favoreça os mecanismos de industrialização do conhecimento e fortaleça os vínculos entre universidade-empresa. 7.1. DESENVOLVIMENTO SÓCIO ECONÔMICO DE RIBEIRÃO DAS NEVES OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VANTAGENS COMPETITIVAS BASE TECNOLÓGICA BRASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E EGÓCIOS E VANTAGEN COMPETITIVA5 O Município almeja o desenvolvimento sustentado, com o fortalecimento do setor empresarial, a geração de empregos e a melhor distribuição de renda. Ribeirão das Neves pode ser de fato, um município próspero e mais estável em suas políticas públicas, pelo aproveitamento das potencialidades do mercado interno e, também, de nossas amplas vocações econômicas, que permitem conquistar e consolidar importantes posições no mercado nacional e internacional. Essa perspectiva tem tudo para se tornar uma realidade desde que os Nevenses aproveitem melhor e de forma mais articulada os recursos humanos e materiais de que já dispõem. Assim, o Ribeirão das Neves poderá criar uma base segura para o 67 crescimento sustentado, sem descontinuidade, perda de tempo, desperdício de recursos e o tímido aproveitamento de nossas vantagens competitivas. Este plano, traz uma mensagem oportuna e fundamental para o povo de Ribeirão das Neves. Precisamos articular as ações do governo com a comunidade científica, as agências de transferência de tecnologia e o empresariado. Unindo esses atores, com regras claras e estáveis, poderemos usufruir melhor o patrimônio genético da nossa região. Por tudo isso, o governo Municipal tem entre as suas diretrizes o fortalecimento das instituições públicas e privadas capazes de organizar setores e de promover a maximização de benefícios. Além disso, o governo municipal buscará contribuir para a criação de um ambiente empresarial que permita a participação relevante das micro, pequenas e médias empresas locais. Este trabalho, será fundamental para transformar a cidade numa liderança regional em diversas cadeias produtivas, ao gerar novos produtos e serviços e ao criar possibilidades inovadoras para a fabricação de produtos tradicionais. Atuando dessa forma, o Brasil poderá se tornar mais autônomo em diferentes segmentos empresariais, dinamizando o mercado interno e colhendo frutos também na exportação. Além disso, o desenvolvimento tecnológico é uma das prioridades da Política Industrial e de Comércio Exterior do Governo Federal, que prioriza setores como os de nanotecnologia, de softwares e de bens de capital. São atividades econômicas que, quando estimuladas e articuladas, tornam-se extremamente competitivas e apresentam grande potencial de resposta, ao dinamizar todas as cadeias produtivas. 17 A extraordinária riqueza da biodiversidade brasileira é, na atualidade, uma realidade inquestionável, já reconhecida em todo o mundo. De fato, a Amazônia, a Mata Atlântica, nossos cerrados e caatingas, o Pantanal, os Lençóis Maranhenses, os mangues, praias, zonas costeiras, bacias hidrográficas e estuários reúnem uma enorme variedade de organismos terrestres e aquáticos – bases de um singular patrimônio biológico, genético e econômico, que é fundamental para o R. Neves, para o futuro do planeta e da própria Humanidade. E é por isso que a exploração sustentável das potencialidades da biodiversidade e do patrimônio genético do Brasil impõe-se, hoje, como missão inadiável, ficando reservada à biotecnologia, naturalmente, papel estratégico nesse novo e promissor ciclo de desenvolvimento econômico e social. 68 Na verdade, os avanços tecnológicos, sobretudo nas últimas três décadas, mudaram profundamente o perfil da economia e dos mercados mundiais e, fruto disso, as indústrias de base biotecnológica estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, em todo o mundo. Nesse cenário, a força da biodiversidade brasileira apresenta, portanto, vantagem competitiva inigualável. Poucos países têm, simultaneamente, grande extensão territorial, luminosidade, recursos hídricos e fauna e flora tão diversificadas, sendo estes um terreno fértil para o Brasil aplicar os conhecimentos da base tecnológica em seu parque produtivo e, assim, gerar riquezas e potencializar o seu crescimento, com sustentabilidade. Contudo a construção desse ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico para a cidade está intimamente ligada à capacidade de os agentes, públicos e empresariais, precisarem, com clareza, seus objetivos estratégicos para o desenvolvimento sustentado. BASE TECNOLÓGICA BRASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E Definir sua vocação econômica a partir das suas riquezas naturais é uma ferramenta verdadeiramente estratégica para o desenvolvimento econômico de um R. Neves, sobretudo quando utilizada para alavancar múltiplos segmentos da sua indústria de transformação. Diversas áreas do conhecimento humano e suas aplicações impactam amplas áreas de negócio, como agricultura, saneamento básico, medicina humana, veterinária, fruticultura, piscicultura, floricultura, processamento de alimentos, proteção e recomposição ambiental, mineração, investigação criminal, entre outras, promovendo a geração de novos postos de trabalho, em que o investimento em inteligência, ou seja, em bens intangíveis, é privilegiado. Assim, ao compreender um amplo conjunto de tecnologias habilitadoras e potencializadoras (enabling techonologies) dos recursos humanos e naturais, definir a vocação econômica local e o desenvolvimento tecnológico gera riquezas e promove benefícios sociais. Aprofundar-se neste modelo significa obter vantagens comparativas e competitivas e estabelecer-se no mercado, apresentando: • baixo custo operacional pelo aumento da produtividade; • segurança operacional pela exigência de padrões de qualidade; • segurança ambiental pelo uso de tecnologias limpas; • geração de empregos especializados que dão oportunidade ao conhecimento; • garantia de resultados (padronização da produção); 69 • uso do conhecimento, bem intangível, para a melhoria da qualidade de vida e geração de riqueza. O mundo contemporâneo começa a viver os reflexos da revolução tecnológica, a influência da biologia nos processos produtivos. Embora ainda não seja tão evidente para o público em geral, as economias dos países que tiveram a capacidade de antever sua importância como elemento propulsor do desenvolvimento socioeconômico já estão colhendo os frutos dessa grande transformação. Afinal, as aplicações da tecnologia têm sido tão impactantes e diversificadas quanto as da tecnologia da informática, o que tem causado mudanças significativas e irreversíveis em vários segmentos da economia mundial. Proveniente de pesquisas, a tecnológia tem favorecido o surgimento de produtos e processos que possibilitam aumentar a eficácia e a precisão de diagnósticos médicos, criar remédios mais eficazes, aumentar a longevidade das pessoas, conferir segurança ambiental e, sobretudo, reduzir os custos de produção, o que contribui para aumentar a produtividade e favorecer a competitividade. As análises e prospecções sobre os impactos das diversas tecnologias no mercado global têm mostrado que ela vem revolucionando os processos produtivos de vários países, inclusive daqueles que não dispõem de grandes recursos naturais, o que vem confirmar a tese do aumento da competitividade pela inserção da ciência no cotidiano, elemento transformador e inovador, que possibilita agregar valor e gerar emprego e renda. Em todos os aspectos, o impacto tecnológico no mercado global apresenta uma característica única, a de ter origem em uma atividade transformadora e potencializadora dos produtos e processos que exigem maior grau de interação entre conhecimento científico e mercado. A análise dos impactos econômicos com a inserção de novas indústrias deve inicialmente identificar: - quem são os protagonistas desse mercado; - que necessidades da sociedade a indústria da base tecnológica pode satisfazer; - qual a magnitude do impacto que o uso da base tecnológica trará sobre o PIB, o emprego e a competitividade de um país; 70 - qual a relação entre a indústria e as universidades (centros de pesquisa); - quais áreas da base tecnológica devem ser focadas segundo os princípios do diferencial competitivo. A indústria da base tecnológica pode impactar de diversas formas as economias local, regional, estadual, nacional e global. Apenas para ter uma idéia de sua influência, quando uma bioindústria se instala em uma região, os seus benefícios não se restringem à criação de empregos, à geração de riquezas e à melhoria da qualidade de vida da comunidade como um todo. Além desse evidente impacto direto, estas empresas, indiretamente, geram uma rede de relacionamentos de negócio com empresas de suporte, que também promovem a geração de emprego e renda. Existe, ainda, nos ganhos com a instalação de empresas de base tecnológica, o chamado impacto induzido, resultante de uma mão-de-obra contratada mais especializada e, portanto, com poder aquisitivo superior, que possibilita um nível de consumo de padrão mais elevado. Esses consumidores demandam a melhoria dos padrões de fornecimento de bens e serviços, o que amplia o dinamismo econômico local. A estratégia geral adotada pelas empresas no mercado internacional é buscar diversificar o portifolio de tal forma que se tenham mais produtos à disposição dos consumidores e, ao mesmo tempo, pesquisar novos produtos e processos que venham no futuro substituir os atuais, sempre focados nos ganhos adicionais de produtividade e competitividade. Segundo Barbosa (2002), aproximadamente 40% das companhias americanas atuam em mais de um nicho de mercado, sendo observada uma concentração maior no setor de produção de terapêuticos. Quase 33% das firmas atuam com produtos de diagnóstico e cerca de 20%, com reagentes. Seguindo-se por ordem de importância, química orgânica representa 14,80 %; imunologia, 13,60 %; cultura celular, 12,40 %, e assim por diante. Os dados mostram que as empresas que empregam a moderna tecnologia evitam concentrar toda a sua produção em um único produto, o que seria bastante problemático e arriscado para a sobrevivência do negócio em longo prazo. 71 7.2 - Perspectivas de crescimento, desafios e oportunidades no cenário Internacional Os Estados Unidos vêm liderando, notadamente nas últimas três décadas, o desenvolvimento do setor de base tecnológica, tornando-se um referencial importante para todas as nações. A crença conferida a essa tecnologia, o constante e expressivo investimento em P&D e a criação de aparato institucional e normativo pró-ativo e em sintonia com as demandas do setor privado colocaram aquele país, de forma inconteste, como o líder em base tecnológica no cenário internacional.IOTECNOLOGIA BRASILEIRA OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VAGENS MPETITIVAS De acordo com previsões da Consulting Resources Corporation, as vendas totais da indústria de base tecnológica americana em 2007 deverão atingir valores acima de US$ 36,00 bilhões, que representam quase o dobro do valor obtido em 2002, apenas considerando a moderna base tecnológica do setor de saúde humana. Já para o ano de 2012, a projeção é de que a indústria de base tecnológica americana apresente um faturamento próximo a US$ 62,00 bilhões em vendas globais, mais do que triplicando a receita em relação ao ano de 2002. O crescimento do setor de base tecnológica como um todo nos EUA deverá se dar a uma taxa média de 12% ao ano, durante os próximos dez anos, tendo-se como anobase 2002. O setor de terapêuticos humanos deverá também crescer na faixa dos 12%; o de diagnóstico humano, 7%; o da agricultura, 15%; o de diagnósticos nãomédicos, 9%; e os setores ditos especiais, 14%. O quadro a seguir mostra a evolução da indústria da base tecnológica nos EUA. Fonte: “Biotechnology: Beyond the Recession”, Consulting Resources Corporation Newsletter (Spring, 2002) BASE TASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VANTAGENS COITIV 7.3 - Perspectivas de ganhos com a moderna base tecnológica Os desafios nos próximos anos para a indústria da base tecnológica são enormes. O potencial de crescimento é estimulante, e as oportunidades de negócios se expandem mais e mais, com a clonagem vegetal, terapias inéditas para diversas doenças, vacinas, hormônios e transplante de órgãos de uma espécie para outra. Tudo isso faz prever para a indústria de base tecnológica um futuro promissor no século XXI. A estimativa é de que, em todo o mundo, segundo informações publicadas no Editors’s Guide (2003- 2004), pela Biotechnology Industry Organization (BIO), as vendas em 2012 atingirão valores superiores a US$ 110 bilhões, o que significa quase quadruplicar o faturamento em uma década. 72 Ressaltamos que os estudos da BIO refletem os resultados das empresas filiadas e não contemplam todo o mercado da base tecnológica internacional. A entidade destaca, em seu guia, a valorização das ações de um grupo de empresas norte-americanas do setor de biomedicina. Estas empresas, avaliadas em 1994 em U$ 45 bilhões pelo mercado de capitais, passaram a valer, após uma década, U$ 206 bilhões, o que significa um incremento de 360%. No ano 2000, essas empresas de biomedicina, impulsionadas pelo boom da bolsa, chegaram a ter suas ações cotadas em US$ 353,5 bilhões. Mesmo após a explosão da “bolha” do mercado acionário americano, esse grupo de empresas continuou a mostrar-se interessante para os investidores. Estados Unidos – O líder mundial em base tecnológica As aplicações e os mercados potenciais para os produtos da indústria de base tecnológica tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Os dados econômicos mencionados a seguir foram publicados no Editors’s Guide (2003-2004), pela BIO, e referem-se às empresas americanas inovadoras do setor de biomedicina, que desenvolvem pesquisas de ponta, cujos produtos estão na fronteira do conhecimento. As inovações delas têm forte apelo publicitário. Afinal, produtos destinados a solucionar males que afligem a humanidade sempre mobilizam a mídia de todo o mundo. As empresas dos EUA que utilizam as ferramentas da base tecnológica clássica e intermediária não estão incluídas nas estatísticas apresentadas. O mercado, portanto, é infinitamente maior, se considerarmos todo o universo das empresas do setor naquele país que adotam ferramentas clássicas, intermediárias e modernas. Outro aspecto relevante é que as informações da Biotechnology Industry Organization sempre destacam produtos e serviços em desenvolvimento ou em fase de lançamento, ou seja, produtos e serviços que somente irão chegar ao mercado no futuro. Essa estratégia econômica é explicada pelo fato do setor de base tecnológica de ponta conferir garantia de crescimento real para a economia americana nos próximos anos. 7.4 - O panorama da base tecnológica nos Estados Unidos segundo Biotechnology Industry Organization (BIO) - Existem 1457 empresas de base tecnológica hi-tech nos EUA, das quais 342 são de capital aberto. - Os estados americanos que, já em 2001, se destacavam com clusters de base tecnológica, segundo a Biotechnology Industry Organization, são: 73 • São Francisco, com 180 empresas; • Boston, com170 empresas; • San Diego, com120 empresas; • Saint Louis, estado do Missouri, onde iniciou-se a formação de clusters bio-ring, compostos por empresas de base tecnológica vegetal.IRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VANTAGENS ECNOLOGIA BRASVANTAGENS COMPETITIVAS 37 - Existem, já patenteados nos EUA, 370 produtos biotecnológicos do setor desaúde em fase de testes clínicos (remédios, vacinas) para tratamento de mais de 200 doenças, como câncer, mal de Alzheimer, diabetes, AIDS. - Mais de 325 milhões de pessoas no mundo já se beneficiam com 155 das vacinas e dos medicamentos biotecnológicos liberados pelo FDA, dos quais 70% nos últimos seis anos. - A indústria de base tecnológica americana registrou um rápido crescimento de receita, passando de U$ 8 bilhões, em 1992, para U$ 34,8 bilhões em 2001. - Até junho de 2004, 191.000 novos postos de trabalho foram criados no setor, mais do que todos os empregos gerados na indústria de produtos esportivos e brinquedos. - O salário médio do trabalhador, observado em cinco grandes empresas americanas do setor, foi de U$ 133.600/ano em 2001. - Os investimentos no setor pelas indústrias locais, no período de 1997 a 2002, totalizaram U$ 86 bilhões. - Em 2001, foram contabilizados investimentos em torno de U$ 15,7 bilhões em P&D, realizados pelas indústrias locais. - O percentual de crescimento do mercado de capitais, com empresas de base tecnológica, no período de 1994 a 2003, foi de 358%, chegando a atingir no ano de 2000 um valor de mercado de U$ 353,5 bilhões, caindo para U$ 206 bilhões em 2003. - Em média, 7.600 patentes/ano foram concedidas às indústrias de base tecnológica americanas, no período de 1998 a 2002. Os números, “mesmo parciais”, do setor de base tecnológica americana impressionam e demonstram a relevância dessa tecnologia para assegurar a prosperidade e a autonomia tecnológica de um país que sabe valorizar o 74 conhecimento. Ensinam também que a iniciativa privada assumiu o seu papel de investidor, pesquisador, gerador de emprego e renda e que, em contrapartida, o governo cumpre o seu papel de indutor e garante aos empresários, cientistas e pesquisadores um ambiente institucional e normativo que não atrapalha o desenvolvimento e a utilização das inovações tecnológicas. 7.5 - América Latina – Vocação para “agrobase tecnológica” Existe uma certa unanimidade entre os analistas econômicos sobre a vocação da América Latina para a base tecnológica voltada para o agronegócio. Autores como Sasson e Jaffé destacam a necessidade do desenvolvimento da base tecnológica vegetal e animal para aumentar a capacidade produtiva, suprir as necessidades de consumo e manter a competitividade no mercado externo. Inicialmente, a América Latina precisa reduzir a sua dependência de tecnologia importada, que implica pagamentos expressivos de royalties, bem como de bens de capital. A seguir, precisa ampliar as suas exportações com produtos de maior valor agregado, deixando de operar apenas, de forma expressiva, com commodities. O investimento em base tecnológica é a alternativa mais rápida para melhorar o seu balanço comercial e a sua renda per capita, bem como é o caminho mais seguro para a reorientação de sua economia na direção do desenvolvimento sustentado e da conservação de seu patrimônio genético, um dos mais expressivos do mundo. Para Szabó (2001), a evolução da base tecnológica na América Latina, ao contrário do que ocorre nos países mais ricos, em que o desenvolvimento se concentra nos produtos terapêuticos e de diagnóstico, deveria convergir para as necessidades sociais mais urgentes. Afinal, subsistem carências que devem ser supridas prioritariamente: - medicina preventiva (produção de vacinas); - produção agropecuária (combate a subnutrição); - saneamento e recuperação ambiental. Apesar do continente precisar da base tecnológica e ter vocação para desenvolve-la, as instituições responsáveis pela intermediação entre ciência e mercado, bem como a legislação do setor, não estão devidamente estruturadas para cumprir plenamente com os seus objetivos. Faltam mecanismos que efetivem e potencializem a transferência de tecnologia, dando espaço para o surgimento de novos negócios. 75 Esta situação, paradoxal, precisa ser revertida, sob o risco da América Latina ver ainda mais agravados os seus problemas econômicos e sociais. Poucas empresas dos países da região operam nos campos de maior complexidade da base tecnológica, o que se explica por fatores como: dificuldade de alianças estratégicas e parcerias empresariais; falta de estímulo à demanda interna; e, principalmente, falta de articulação, apoio e incentivo governamental na maioria dos paises, além das já citadas dificuldades para a transferência de tecnologia. Para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Instituto para Integração da América Latina (INTAL), o diagnóstico da aplicação da base tecnológica na América Latina pode ser resumido da seguinte forma: - - não existe articulação das políticas de desenvolvimento da base tecnológica; a maior parte dos projetos de pesquisas se refere ainda às aplicações clássicas da base tecnológica;IOECNOLOGIA BRASILEIOPORTUNIDADES a transformação da pesquisa em produtos enfrenta várias barreiras, ficando quase sempre comprometida. Quaisquer políticas e diretrizes para o setor na América Latina devem contemplar, portanto, o estímulo à efetivação de programas de cooperação entre empresas locais e multinacionais; a integração dos setores acadêmico, produtivo e financeiro; e a forte articulação dos governos dos diferentes países. Szabó (1995) enriquece o debate com a aplicação do “conceito de êxito”, que se constitui de três tipos de sucesso alcançado no desenvolvimento de inovações biotecnológicas: - quando conduzem a benefícios pecuniários significativos; - quando alcançam êxito social ao prestar um bom serviço à sociedade; - quando se cumprem ambos os objetivos e alcança-se o êxito total. O impacto da base tecnológica na América Latina apresenta tendências contraditórias. Quando o estágio do uso da base tecnológica no continente é comparado com os dos países desenvolvidos, o prognóstico é pessimista, pelas grandes barreiras a serem superadas. Ao contrário, quando as análises são feitas levando-se em consideração as potencialidades internas, a extraordinária biodiversidade e os ganhos potenciais, o cenário é estimulante e promissor. 76 Existem casos bem documentados de interferências externas para desestimular a autonomia biotecnológica da América Latina, principalmente tendo em vista a concorrência comercial no agronegócio: barreiras fitossanitárias; padrões de embalagem, armazenamento e transporte; “invasão” de excedentes agrícolas dos países centrais e difusão de notícias e conceitos alarmistas relativos a alguns produtos biotecnológicos de interesse comercial, quando produzidos internamente. Esta contra-informação, em tom sensacionalista e emocional, é promovida geralmente por ONGs ambientalistas internacionais que atuam financiadas por grandes grupos econômicos. Dessa forma, há toda uma estratégia comercial de cartéis para manter a dependência tecnológica da América Latina, perpetuando o modelo preconizado pela CEPAL Metrópole-Periferia. Em junho de 2002, os países da América Latina capacitados em base tecnológica vegetal foram abordados por ONGs americanas e canadenses (Focus on Sabbatical) que propunham remuneração aos produtores rurais, principalmente aos brasileiros, argentinos e uruguaios, para que deixassem de plantar soja, com o objetivo claro de forçar o aumento de preço no mercado internacional pela redução da oferta. Os recursos viriam dos produtores dos EUA, os quais seriam recompensados pelo aumento de preços auferidos pela redução da oferta e pela detenção da maior produção mundial. “É preciso pelo menos que os produtores rurais da América Latina acreditem nisso, pois, um ano antes do plano ser colocado em prática, os preços poderão dobrar, pois o mercado tem natureza especulativa, afirma Ken Goudy, fundador da ONG”. BA BRASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VANTAGENS COMPE42 Outras ONGs desenvolvem o mesmo trabalho com o trigo e o milho. Para isso, dispõem-se a pagar US$ 170/ha/mês para que os produtores latinos deixem a terra ociosa. Essa prática coloca-nos na contramão da história, pela dependência econômica, pela não geração de empregos e riquezas e pela pior das dependências, a do conhecimento. 7.6 - Os dilemas internacionais do setor de base tecnológica Na década de 80, o mundo assistiu às profundas mudanças proporcionadas pela base tecnológica, apoiada no desenvolvimento da informática: desenvolvimento de sementes transgênicas, antibióticos inteligentes, cosméticos revolucionários para o rejuvenescimento, clonagem vegetal e animal, mapeamento genômico, terapia gênica, entre outras inovações. Tudo impactou com enorme velocidade a indústria, a agricultura e o comércio internacional. Em diferentes campos, a base tecnológica proporcionou aumento de produtividade, redução de custos (menor uso de 77 agroquímicos na agricultura, por exemplo), adoção de tecnologias limpas com redução de problemas ambientais e maior segurança nos processos produtivos. A base tecnológica, ou seja, “a tecnologia da vida”, representou também uma esperança concreta para a superação de problemas milenares da humanidade, como o déficit alimentar, as epidemias e as doenças. Essa esperança, no entanto, é privativa dos países pobres, que se enquadram neste contexto. A população de países ricos, como o Reino Unido e outros que compõem a União Européia, nunca viveu tão bem, em termos de alimentação, qualidade de vida e longevidade. O advento da base tecnológica foi recepcionado por essas sociedades com desconforto, porque as suas bases econômicas já estavam estabelecidas e prósperas. A base tecnológica, que se desenvolveu intensamente nos Estados Unidos, impôs a necessidade de uma revisão do parque industrial europeu, principalmente em áreas onde lideravam, como as indústrias química, petroquímica e de seus derivados. Os avanços da base tecnológica são, em grande parte, concorrentes dos produtos de grandes cartéis europeus. Por exemplo, sementes transgênicas necessitam muito menos de defensivos agroquímicos.Assim, o advento da base tecnológica moderna instaurou um dilema entre as nações. Os Estados Unidos encontraram na base tecnológica uma alternativa estratégica para o desenvolvimento acelerado, o que assegurou a sua hegemonia econômica. Países como Cuba descobriram na base tecnológica um caminho criativo para a sua sobrevivência em um ambiente de restrições. Algumas nações européias, entretanto, temem pelos níveis de produtividade de seu parque industrial. Assim como a Revolução Industrial mudou a economia mundial no século XIX, a base tecnológica trouxe um novo dilema de inovação no cenário econômico. “A base tecnológica não é só uma tecnologia incremental, mas principalmente uma tecnologia de ruptura”, afirma Clayton Christensen, em sua obra “The Innovator’s Dilemma”. Entenda-se por tecnologia incremental aquela que dá suporte à melhoria do desempenho de processos tradicionais e por tecnologia de ruptura aquela que traz ao mercado uma proposição de valor muito diferente da disponível até então e adiciona novas vantagens de valor para o cliente, como preços baixos, comodidade e maior produtividade. Este é o dilema: a base tecnológica representa um choque social e econômico para países estáveis, com pouco estímulo às melhorias, e uma esperança para os países pobres. Vale destacar que o desenvolvimento da base tecnológica favorece os países pobres, notadamente os de clima tropical, com grande extensão territorial e biomas expressivos como o brasileiro. A sua adoção em países em desenvolvimento impacta rapidamente a economia de países hegemônicos exportadores de tecnologia. 78 É temeroso para a economia dos países desenvolvidos que países em desenvolvimento, como Brasil, Índia, China, tornem-se independentes tecnologicamente, dado o seu contingente de consumidores. Países ricos apresentam uma baixíssima taxa de estímulo para o progresso de tecnologias básicas, como as dos OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), que podem combater a fome, reduzir a mortalidade infantil, aumentar a longevidade dos seres humanos e impulsionar o crescimento da economia. Julian Kinderlerer, diretor assistente do Instituto de Base tecnológica, Lei e Ética de Sheffield, Inglaterra, quando de sua visita ao Brasil, declarou que a reação negativa da comunidade européia sobre os produtos OGMs é resultante da ação de ONGs, como Greenpeace e Friends of the Earth, dentre outras, que enfatizam diariamente, por meio dos veículos de comunicação, que transgênicos causam malefícios à saúde humana e ao meio ambiente. Sua declaração serve de reflexão: “A população torna-se presa fácil desses grupos pelo desconhecimento generalizado da ciência e dos seus benefícios. Isso, no fundo, é uma grande irresponsabilidade da mídia por conceder espaço a esses grupos que contestam os transgênicos por questões puramente ideológicas, sem nenhum embasamento técnico-científico. Eu acho que os jornalistas têm obrigação de apurar melhor os fatos para não divulgar notícias distorcidas, especialmente relacionadas à saúde humana e alimentação, para não causar pânico e desinformação na população. Diante dessa situação, o Parlamento Inglês tem-se esforçado no sentido de divulgar documentos técnicos sobre os transgênicos, através da mídia, com o objetivo de mostrar à população os benefícios que os transgênicos podem proporcionar”. (Jornal olha de S. Paulo, 2002) 44 79 8. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA O mercado de base tecnológica é composto, em sua grande maioria, por empresas e profissionais de base científica. Para existir e prosperar, o setor depende de idéias inovadoras e da transferência de tecnologia. Somente assim é possível abrir novas empresas, desenvolver novos produtos e serviços e modernizar processos produtivos convencionais. É por isso que, para compreender este mercado no contexto internacional, torna-se necessária a avaliação do estágio atual do desenvolvimento científico e tecnológico de cada país. Em todo o mundo, a ferramenta clássica para a avaliação deste estágio parte do conceito de “Sistema de Inovação”, preconizado por Schumpeter, um dos mais brilhantes teóricos contemporâneo da ciência econômica. Conforme os neoschumpeterianos, é possível afirmar que a ciência e a tecnologia, pela observação empírica de resultados econômicos, se apresentam como elementos diferenciadores de países e regiões. Alguns deles, que investem e apostam em ciência e tecnologia, usufruem prosperidade material e melhoria na qualidade de vida de seu povo de forma sustentada, enquanto outros, que não acreditam nessas premissas, persistem no subdesenvolvimento, acreditando que poderão crescer no futuro. É inconteste, portanto, a importância do desenvolvimento científico e Itecnológico como instrumento de desenvolvimento econômico, social, político, cultural, em que a socialização do conhecimento e o estabelecimento de políticas públicas objetivas e focadas são essenciais. Nas últimas décadas, a base tecnológica tem dado uma contribuição fundamental para o desenvolvimento e a liderança econômica dos Estados Unidos. Mesmo países sem grandes recursos naturais, estão encontrando a prosperidade com a ajuda da ciência e da tecnologia. Este é o caso de Cuba, que detém importantes patentes na área de saúde e de agronegócios, e da Coréia do Sul, que se tornou um grande exportador de produtos acabados com alto valor agregado. No Brasil, a inserção tecnológica nos processos produtivos é dificultada grandemente pela limitação de uma infraestrutura macroeconômica, científica e financeira e pela indefinição institucional. Falta foco, a exemplo do que ocorre em países como os EUA. É preciso organizar e definir os papéis dos quatro atores envolvidos na consolidação de um sistema de inovação tecnológica: 80 Comunidade acadêmica, instituições de transferência de tecnologia, setor empresarial e governo. Cada ator deve funcionar como o elo de uma corrente. O todo é forte porque as partes estão unidas e são complementares. Mais ainda, todo o processo é retroalimentado pelo sistema de educação – fundamental, média e superior, que precisa oferecer ao mercado profissionais efetivamente preparados para essa realidade. Sem esta estruturação, o que ocorre é o desperdício de recursos e de esforços. Muito dinheiro público é aplicado em pesquisas que acabam sendo engavetadas, sem cumprir os seus potenciais objetivos econômicos e sociais. Outro exemplo de desarticulação é a oferta de cursos de graduação, muitas vezes os únicos oferecidos, desconectados da vocação econômica regional. Para fortalecer a base tecnológica brasileira, será preciso criar as condições para que ciência e idéias se transformem em inovações e estas, em negócios. Precisamos aproveitar melhor a infra-estrutura existente e não apenas reproduzir, necessariamente, o velho pleito de que precisamos de mais investimentos em pesquisas. Afinal, nesta nova óptica, a prioridade será a transformação das pesquisas já concluídas ou em andamento em inovação tecnológica e novos negócios. No ranking mundial, os indicadores de ciência e tecnologia brasileiros ainda estão aquém de nossa capacidade, quando comparados a países em desenvolvimento, como a Coréia do Sul, a Rússia, Taiwan e Cuba. Os indicadores, como mostra a tabela a seguir, dizem respeito a aspectos como número de patentes por milhão de habitantes e número de artigos científicos publicados. BASE TECNOLÓGICA BRASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VANTAGENS COMPETITIVAS6 Em comum com os países que apresentam processo de desenvolvimento econômico acelerado, como a Coréia do Sul, está presente o apoio institucional às atividades científicas e tecnológicas para a criação e a sustentação das condições favoráveis à melhoria dos indicadores econômicos e sociais. Os indicadores acima demonstrados confirmam a relação econômica entre investimento, pesquisa, valorização da educação e o aumento da renda per capita nacional. Essa realidade se reproduz no Brasil. A produção científica e tecnológica está associada ao grau de desenvolvimento econômico e social. Pode-se verificar que os estados que apresentam maior número de patentes e publicações de artigos científicos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, são os que detêm os maiores índices de participação na economia nacional. 81 Podemos ainda observar que o Brasil possui um sistema de inovação incompleto, desarticulado, tendo em vista o baixíssimo índice de patentes por milhão de habitantes, inferior mesmo a países como a Malásia. O número de artigos científicos publicados, além de ser comparativamente muito baixo, não é aproveitado devidamente pelo setor produtivo, para agregar valor e ampliar a renda. Outras características do País são o reduzido acesso da população ao ensino superior e as elevadas taxas de analfabetismo. Para reverter este quadro e obter melhores resultados a médio e longo prazos, o País deve pensar estrategicamente em dinamizar as suas áreas científicas e técnicas, articulando-as ao sistema produtivo, bem como em priorizar o sistema educacional de forma maciça, já que o setor educacional é o indutor que perpassa todo o sistema econômico. Assim, é preciso que o Brasil defina com clareza, a partir de um planejamento detalhado, que inclui ações de curto, médio e longo prazos, o papel e as diretrizes de cada um dos agentes que compõe o sistema de inovação. A articulação entre os diversos setores deve observar o seguinte ordenamento: 1 - o governo deve regular, induzir e animar os demais atores; 2 - a comunidade acadêmica deve orientar-se para a pesquisa básica e aplicada, como insumo para a produção crescente de novas tecnologias. O investimento em ciência, que, segundo Nelson e Rosenberg (1993), tanto “lidera quanto segue” as interações científicas e tecnológicas, contribui para o desenvolvimento de habilidades em pesquisa e prepara profissionais que posteriormente poderão ser empregados no setor industrial; 3 – as instituições de transferência de tecnologia devem estar “antenadas” para os rumos das pesquisas científicas, de forma a facilitar a transferência de tecnologia para o setor produtivo, em áreas diversas, no timing que o mercado demanda; 4 – as empresas têm o papel de modernizar o processo produtivo, colocando no mercado produtos de qualidade e de maior valor agregado. O pleno sucesso no desenvolvimento científico e tecnológico exige o respaldo de um aparato normativo claro e articulado quanto à política de base tecnológica. O planejamento e a normatização serão o primeiro passo em direção ao amadurecimento do setor de inovação tecnológica, que é a condição sine qua non para o ingresso do País no processo de desenvolvimento econômico acelerado. No contexto de planejamento setorial, os agentes do processo têm estabilidade e 82 segurança para tomar decisões e perseguir metas, conscientes de seu papel e dos resultados que devem apresentar. Em vista disso, é urgente e estratégico que o Brasil revise todo o arcabouço legal existente para o setor de base tecnológica, principalmente quanto aos processos e leis de registro de patentes e marcas, de biossegurança, de bioética, de meio ambiente e de vigilância sanitária. O arcabouço legal atual funciona de forma desarticulada, lenta e incompleta, sem mostrar-se, portanto, compatível com as demandas dos mercados nacional e internacional. O mau funcionamento das normas em vigor contribui para o fracasso de inúmeros empreendedores, que não encontram respaldo legal para atender a sua clientela com agilidade, a exemplo do que ocorre com os concorrentes internacionais. A carência de ajustes legais e normativos vem, ao longo da última década, minando a competitividade das empresas brasileiras. Inúmeros negócios são desperdiçados ou paralisados, mesmo por muitos anos, por questões burocráticas. Além das perdas financeira, econômica, tributária e fiscal e do desestímulo ao empreendedorismo empresarial e tecnológico, os empresários e o governo brasileiro enfrentam, adicionalmente, a perda da sua credibilidade no mercado internacional, muitas vezes com danos irreparáveis, que comprometem seriamente a imagem de todo o setor produtivo nacional. Dessa forma, é possível afirmar que o Brasil perde em diferentes áreas, que poderiam dar suporte ao desenvolvimento sustentado com produtos de sua vocação natural e de altíssimo valor agregado. O desajuste burocrático que permeia o setor de base tecnológica tem, por um lado, consolidado o Brasil, ao longo das últimas décadas, como um eminente importador de tecnologias e pagador de royalties, em áreas como fármacos, agroquímicos e informática. Por outro lado, a globalização vem reduzindo o timing das decisões e articulações estratégicas. Velocidade é a palavra de ordem no momento no mercado internacional. Assim, é imperioso que os governos estadual e federal se estruturem para atender com agilidade às demandas dos empresários brasileiros. Coordenar, entretanto, a transição de uma economia sustentada em commodities para uma economia que agrega valor aos seus produtos, exige o estabelecimento de pressupostos e condicionamentos que envolvem simultaneamente aspectos políticos, econômicos, culturais e institucionais. Nesse contexto, é possível afirmar que a eficácia de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento tecnológico setorial depende do conhecimento das realidades regionais, da identificação de suas 83 vocações, do reconhecimento dos seus pontos fortes e fracos e das potencialidades no contexto mais amplo dos mercados nacional e internacional. 50 9. A POTÊNCIA QUE PODEMOS SER São muitos os entraves a dificultar que a excepcionalmente rica biodiversidade brasileira seja aproveitada em termos de geração de novos negócios, apesar do Brasil contar com um certo grau de produção científica e de industrialização, no contexto da América Latina. O principal dos entraves, como já mencionado, é a falta de coordenação entre os diferentes atores no mercado: governo, empresários/sindicatos setoriais, pesquisadores, universidades, centros de pesquisa, investidores e instituições tecnológicas. Essa desarticulação, do ponto de vista neoschumpeteriano, é resultante da imaturidade do sistema de inovação brasileiro, expressa, entre outros indicadores, pela inadequação do aparato legal normativo e pela concentração das pesquisas e inovações tecnológicas em poucos estados da federação, em um País de dimensões continentais. Vale a pena alertar que o Brasil tem potencialidades para ser um dos maiores pólos de base tecnológica no mundo. Temos a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga, o Pantanal e os Mangues. Mais ainda, contamos com 8% da água doce do planeta e com u m litoral de 9.198 quilômetros de extensão. Entretanto, as potencialidades se consolidam ou não. Se o País não se mobilizar e acreditar na sua competência em base tecnológica, para a gestão de nossa biodiversidade, os brasileiros correm o risco de perder as promissoras oportunidades da bioeconomia, hoje um dos principais motores da economia mundial. BASE TECNOLÓGICA BRASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E Analistas, como Albuquerque et al (2002), consideram que no centro das decisões públicas rumo à consolidação do setor de base tecnológica está o “dilema da inovação”, derivado da teoria neoschumpeteriana. Este conceito da macroeconomia estabelece a divisão tecnológica de trabalho, para que as empresas tenham oportunidades de inovação de forma continuada. A interação efetiva entre ciência, tecnologia e mercado resulta no amadurecimento do sistema de inovação do País. Entretanto, esta articulação depende de vontade política para a promoção da divisão tecnológica de trabalho. Nas palavras de Albuquerque et al, um sistema nacional de inovação é uma construção institucional que impulsiona o progresso tecnológico em economias capitalistas complexas. Esta construção institucional envolve firmas, sindicatos setoriais, agências governamentais, universidades, institutos de pesquisa, laboratórios e profissionais. Os arranjos institucionais se articulam com o sistema 84 educacional, com o setor industrial e, também, com instituições financeiras, completando o circuito dos agentes que são responsáveis pela geração, implementação e difusão das inovações. Ao alcançar esse estágio de amadurecimento, as economias, a exemplo do que ocorre na Coréia do Sul e em Tawan, atraem novos investimentos e impõem grande dinamismo à atividade econômica. A segurança e a confiabilidade proporcionadas pelo sistema de inovação maduro conferem ao mercado um ciclo virtuoso de crescimento. O grau de maturidade do sistema de inovação de um país pode ser classificado de quatro formas distintas: - maduro, quando completa o ciclo de construção. Observa-se nesse sistema a presença de articulação institucional, científico-tecnológica e financeira. O sistema educacional e o processo tecnológico tornam-se a base de renda per capita; o nível de escolaridade e a produção tecnológica são elevados. Exemplo: Estados Unidos; em processo acelerado de construção. O sistema, embora ainda incompleto, encontra-se em rápido processo de consolidação e já consegue perceber os resultados práticos no crescimento da economia, em termos de mercado interno e de exportações com produtos de maior valor agregado. Países com este perfil apresentam indicadores sociais que caminham para atingir os níveis dos países centrais. Exemplo: Coréia dos Sul; - em estágio primário de construção. Países que possuem um certo grau de construção do sistema de inovação, com presença de elementos de infraestrutura científica e alguma capacidade tecnológica do setor produtivo. Entretanto, esta incipiente estrutura ainda não é capaz de impactar positivamente o PIB, devido a fragilidades como baixa proporção de patentes por milhão de habitantes, baixa produção científica, acesso limitado ao ensino superior, alta taxa de analfabetismo e redução da renda per capita. Existe uma precariedade na articulação dos atores que compõem o sistema e, muitas vezes, um descompasso entre produção científica em negócios que gerem riquezas. Exemplo: Brasil; - estágio rudimentar. Este grupo é composto pelos países mais pobres do mundo, segundo classificação do Banco Mundial. 85 Consolidar o mercado de base tecnológica demanda uma intervenção governamental, que defina as atribuições e as diretrizes de cada agente, de forma a impulsionar e respaldar legalmente o desenvolvimento tecnológico. A definição de políticas para o desenvolvimento da base tecnológica – (com legislação simples, clara e alinhada com as normas internacionais aceitas) e agências de regulação eficazes – reflete-se na melhoria qualitativa de diferentes setores da sociedade, porque mobiliza todos em torno de objetivos comuns e responsabilidades pelos resultados. Cada ator desempenha um papel essencial e complementar ao dos outros no sistema de inovação. Por isso, a atuação deles deve ser solidária, embora descentralizada e de acordo com a legislação. A ineficiência de um segmento prejudica o processo de construção tecnológica do País e deve ser, por isso, detectada e corrigida. Se a divisão de trabalho no ambiente fabril revolucionou o sistema produtivo, tornando-se a base de toda a prosperidade material no século XX, a era da bioeconomia, ao marcar o início do presente século, requer essa mesma divisão em escala nacional, pela definição de papéis dos agentes que atuam no sistema de inovação tecnológica. Na conjuntura macroeconômica internacional, o amadurecimento do sistema de inovação tecnológica é fundamental para a competitividade e a sobrevivência social e econômica dos países. O sistema transforma positivamente a sociedade e a educação torna-se uma prioridade nacional, porque retroalimenta todo o sistema de inovação tecnológica, com profissionais de alta capacitação para a produção científica, a pesquisa aplicada, a transferência de tecnologia, a gestão pública e o mercado. A economia, a partir de uma plataforma de base tecnológica, proporciona o crescimento sustentado e a melhoria dos indicadores sociais. Esse modelo, pela experiência histórica da modernidade, é o único caminho para a prosperidade sustentada e a superação das desigualdades sociais. No caso brasileiro, também é preciso que o governo repense o papel de cada um dos atores (cientistas, instituições de transferência de tecnologia, empresas e governo), de forma a alinhar o papel de cada um deles a um projeto maior e de resultados mais duradouros. Todos os recursos nacionais devem ser alocados de forma forçada em direção aos grandes objetivos estratégicos do País. Isso garantirá o crescimento sustentado, após décadas de estagnação econômica, a melhoria dos indicadores sociais e também a soberania nacional sobre um dos maiores recursos genéticos do planeta, capazes de gerar produtos e serviços de extraordinária aceitação nos mercados interno e internacional. 86 O governo brasileiro, portanto, precisa viabilizar um ambiente dinâmico e propício ao sistema de inovação para o setor de base tecnológica, com uma legislação adequada, a mobilização dos atores e a definição planejada e consciente dos objetivos estratégicos a serem alcançados. Para impulsionar e respaldar o desenvolvimento, o governo também deve estimular o uso das ferramentas do setor para o aumento da produtividade e da competitividade e para a modernização da produção. Na esfera governamental, é necessário ainda viabilizar a desburocratização e o maior fluxo de informações entre os atores, para o pleno aproveitamento das potencialidades de cada agente do processo. Ribeirão das Neves, dada a sua biodiversidade a sua extensão territorial, as suas condições geográficas e climáticas, tem base de recursos para sustentar o desenvolvimento tecnológico em base tecnológica e consolidar sua vocação econômica; apesar de todas as vantagens competitivas derivadas de seus fantásticos recursos naturais, o município não está se apossando de seu patrimônio para a prosperidade de seu povo. 87 54 10. NEVES-TECH Existe hoje um consenso entre as várias correntes do pensamento econômico sobre a importância do papel que a ciência e a tecnologia cumprem na criação da riqueza das nações, pelo aumento da produtividade e da competitividade. Michael Porter, em The Competitive Advantage of Nations, lembra que, mesmo as nações pobres, podem-se estruturar para aproveitar as oportunidades de crescimento econômico e usufruir de seus benefícios. “A prosperidade é uma escolha do País. A competitividade não está mais limitada Aos países que possuem uma herança favorável. As nações escolhem a prosperidade quando organizam as suas políticas, leis e instituições com base na produtividade. As nações escolhem a pobreza, ou limitam a sua riqueza, quando permitem que as suas políticas provoquem a erosão da produtividade das empresas. Limitam sua riqueza quando as habilidades são reservadas a poucos. Limitam a sua riqueza quando o sucesso do negócio depende de ligações familiares ou concessões governamentais, e não da produtividade”. Até meados da década de 90, o atraso do Brasil era atribuído ao processo inflacionário. Dez anos se passaram desde que o ímpeto inflacionário foi contido pelo Plano Real, de estabilização econômica. Entretanto, o País continua a não crescer a taxas suficientes para reduzir os seus problemas sociais, tais como, desemprego persistente, perda do poder aquisitivo e altas taxas de juros. Analisando a performance de outros países que encontraram o caminho da prosperidade, dentre eles, Singapura, Taiwan e Coréia do Sul, hoje já se sabe que, além do controle inflacionário, o desenvolvimento está fortemente ligado à questão da produtividade, o que confirma a teoria de Michael Porter, divulgada na década de 80. No contexto da inovação, o governo, em seus diversos níveis de atuação, é o principal agente para garantir a construção dos sistemas de inovação. Interação entre ciência, tecnologia e mercado Identificar o papel de cada ator é de importância fundamental para a organização da cadeia produtiva da indústria da base tecnológica no Brasil. Hoje existe uma miscelânea de iniciativas e uma desorientação por parte das políticas públicas, o que faz muita diferença considerando-se as fragilidades do nosso sistema de inovação e do aparato normativo existente. É preciso que o Governo tenha muita clareza do 88 papel de cada um. O que compete à ciência, à tecnologia, aos agentes financeiros e às empresas. Ao longo das últimas décadas, observam-se políticas públicas para o mercado sendo orientadas por cientista ou, ao contrário, empresário sendo porta-voz do estágio científico do Brasil. As conseqüências disso nos remeteram à situação atual da existência de uma panacéia de informações e ações, que, ao invés de orientar o desenvolvimento, dispersa-o. Uma das principais características de um sistema de inovação maduro é o nível avançado da interação entre ciência e tecnologia. Segundo Nelson e Rosenberg (1993) “a ciência tanto lidera como segue o progresso tecnológico”. Rosenberg (1982) cita ainda que “a ciência é exógena” e ressalta que: “são os fatores econômicos que determinam o progresso da ciência”. E mais, afirma que “o avanço tecnológico antecede e estimula o progresso da ciência, e que impulsos econômicos moldam, dirigem e até mesmo constrangem o desenvolvimento científico”. Por outro lado, a prática da ciência pura deve se fortalecer. A pesquisa básica gera conhecimentos e treina profissionais que, posteriormente, serão empregados ou empresários do setor de base tecnológica. Serve, portanto, como fonte para inovação e aprendizado. É papel também das universidades e centros de pesquisa atuarem como “instrumentos de focalização” e como “antenas” para a geração e a identificação contínua das oportunidades tecnológicas e para a absorção dos avanços internacionais para o País. No Brasil, a academia, segundo Nelson (1982), oferece “conhecimento para focalizar buscas” e ainda, de acordo com Albuquerque (2002), “deve contribuir para vincular o país aos fluxos científicos e tecnológicos nternacionais”. Quanto às pesquisas realizadas pelas empresas, estas se constituem em um “bilhete de entrada para uma rede de informações”, uma vez que, quando buscam referenciais na ciência pura, estabelecem uma ligação entre mercado e academia. Quando uma empresa investe em P&D, ela investe simultaneamente em “inovação e aprendizado”. Por último, destacamos o exemplo do desenvolvimento biotecnológico dos EUA, referência mundial do setor, onde é contínua a vinculação entre a ciência financiada pelos setores público e privado e a capacidade inovativa da indústria. Alerta-se que para consolidar a indústria da base biotecnollógica - uma vocação natural do País em face de sua grande biodiversidade - e transformá-la em vantagem competitiva a garantir o crescimento sustentado, devemos aplicar os 89 ensinamentos de Michael Porter, em The Competitive Advantage of Nations. Esses ensinamentos, considerando a nossa realidade, poderiam se consubstanciar no seguinte: 1. o governo é o principal responsável pela organização, planejamento e controle das políticas públicas relacionadas à consolidação do setor de base tecnológica, definida com a participação de todos os atores envolvidos: cientistas, empresários, instituições tecnológicas, mercado financeiro e o próprio governo; 2. os atores devem ser alinhados em torno da política nacional de consolidação da indústria da base tecnológica, que leva em conta os “focos estratégicos” de atuação, em que o País apresenta vantagens competitivas em termos internacionais; 3. devido à dimensão continental do Brasil e da presença de diferentes biomas, as definições devem levar em conta as vocações regionais, com planejamento de longo prazo; 4. as grandes áreas da base tecnológica são: agricultura, pecuária, meio ambiente e saúde. O Brasil, para não dispersar esforços e recursos, deve eleger os nichos de mercado em que se mostra mais competitivo. É preciso discutir: Qual é a melhor aplicação da base tecnológica na Amazônia? Quais são os potenciais do Cerrado? Qual é a melhor exploração comercial no Pantanal? Nos Estados Unidos, muitos estados elegeram focos bem precisos para o desenvolvimento de atividades e a formação de uma cadeia produtiva. Massachusetts possui um cluster de biomedicina que lidera hoje a maior parte das inovações nesta indústria em todo o mundo, com produtos de elevado valor agregado; 5. o governo brasileiro, a exemplo do que ocorre em países como os Estados Unidos e a Coréia do Sul, precisa ser o grande indutor do processo, sendo responsável pela criação da infra-estrutura institucional e do aparato legal normativo para que a base tecnológica deixe de ser uma potencialidade e se torne uma realidade no País. Pesquisadores nacionais, por exemplo, não podem continuar esperando de cinco a dez anos para ver aprovada uma patente. Um empreendedor não pode esperar de seis a doze meses para a aprovação da abertura de sua empresa. Projetos de grande impacto também não podem esperar, no mínimo, 24 meses para a obtenção de uma licença ambiental. Exportadores não podem aguardar por um ano a liberação da vigilância sanitária para a efetivação de seus negócios. 90 É extremamente difícil formar um ambiente de negócios com tantas barreiras. Discutir o fortalecimento da base tecnológica no Brasil sem eliminar os entraves presentes no mercado se constitui em clássica demagogia; 6. organizar claramente a “divisão de trabalho”, os papéis ou as atribuições, de cada um dos agentes (universidades, centros de transferência de tecnologia, governo, empresas e investidores), ou seja, definir quem é quem no cenário do desenvolvimento da base tecnológica nacional; 7. é de fundamental importância que todos os atores supracitados estejam operando em sinergia e simultaneamente sob a mesma orientação; 8. a implementação da base tecnológica interage vários segmentos econômicos e sociais, dos setores primário, secundário e terciário. Esta característica exige que o governo mobilize diversas pastas ministeriais, orientadas por uma mesma política nacional. O esforço conjunto e integrado é para viabilizar a superação de barreiras e a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento de novos negócios; 9. a educação universal e de qualidade no País é o que vai dar sustentação a todo o processo, em longo prazo. A organização do ensino brasileiro fundamental, médio e superior - deve ser orientada para suprir as demandas do mercado, com profissionais qualificados; 10. todas as ações devem ser orientadas pelas demandas reais de mercados potenciais, buscando os melhores parâmetros internacionais de timing dos processos, de padronização de qualidade, dos níveis de inovação tecnológica e de infra-estrutura física; 11. por tudo que já foi dito, é importante compreender a base tecnológica como um projeto nacional de desenvolvimento, o que requer a mobilização social e cultural do País. O brasileiro precisa se apropriar, com responsabilidade, da biodiversidade do nosso País. Em termos de tecnologia em geral, o Brasil precisa aproveitar melhor os seus conhecimentos para gerar riqueza. Sair do estágio do “saber” para o do “fazer”. A maior parte das pesquisas, realizada pelas universidades, não é transformada em produtos e serviços, de forma a consolidar os benefícios sociais a que se destinam. 91 No mínimo, as publicações científicas deveriam se transformar em patentes, tendo em vista que “quem não registra não é dono”. Como se sabe, o registro de marcas e patentes em todo o mundo é um dos principais indicadores para medir o nível de desenvolvimento e a capacidade de geração de riquezas de um País. Comparativamente aos países desenvolvidos, o Brasil investe pouco em pesquisa tecnológica. A iniciativa privada brasileira não emprega nem 5% dos pesquisadores do setor e a administração pública investe recursos muito aquém do necessário para acompanhar o desenvolvimento tecnológico internacional. Há pelo menos duas décadas, países como a China e a Índia investem bem mais do que o Brasil, em pesquisa. Eventualmente assistimos a algumas declarações de pesquisadores exaltando algumas pesquisas científicas, transmitindo à sociedade a falsa impressão de que o Brasil possui uma pesquisa avançada e competitiva. Entretanto, como já foi dito, existe no mercado um grande hiato entre o saber e o fazer tecnologia. 92 11. RIBEIRÃO DAS FLORES Segundo dados do Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR) de 2004, o complexo agroindustrial das flores no Brasil movimenta anualmente cerca de US$ 2 bilhões. Em 2003, o setor exportou o equivalente a US$ 20 milhões, e as vendas devem crescer 20% em 2004, de acordo com estimativa da entidade. As mudas clonais são o principal item na pauta de exportações, tendo faturado em 2003 aproximadamente US$ 10 milhões. Em contrapartida, o Brasil importou, apenas em 2002, em torno de US$ 11 milhões flores de clima temperado. A floricultura de base biotecnológica movimentou, em 2002, aproximadamente US$ 94 milhões no mercado mundial, de acordo com o Ministério da Agricultura. O principal produtor mundial é a China. Os maiores exportadores na Europa e no continente americano são, respectivamente, a Holanda e a Colômbia. Os maiores consumidores mundiais são Alemanha, Estados Unidos, Japão e os demais países europeus. O consumo per capita de flores na Europa é de US$ 170 por habitante/ano; na Argentina, US$ 25; e no Brasil, US$ 4,10. O faturamento médio deste setor na Holanda é de US$ 60 bilhões/ano e na Colômbia US$ 140 bilhões, enquanto no Brasil é de somente US$ 2 bilhões. Hoje, o faturamento da Colômbia com a floricultura já supera o obtido no setor cafeeiro. A BRASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VANTAGENS COMPETITIVAS253 As principais espécies comercializadas no mercado mundial são rosa, cravo, crisântemo, violeta, tulipa, folhagens e palmeiras para paisagismo e plantas tropicais (helicônias, alpínias, zingiber, bastão do imperador, musáceas, antúrios, bromélias, orquídeas etc.). Das duas mil espécies mais comercializadas no mundo, 166 são tropicais e nativas no Brasil. Aproximadamente 70% da demanda mundial é por rosas e cravos. A demanda crescente do mercado mundial por flores tropicais para uso ornamental abre um grande nicho para países como o Brasil. Para que o Pais amadureça e explore mais esta possibilidade competitiva, é preciso cuidar dos seguintes fatores: - estruturação em arranjos produtivos locais; - organização de fontes de financiamento para novos investimentos e para o custeio; 93 - criação de um aparato legal normativo para questões de fitossanidade, transporte, proteção de cultivares, políticas fiscal e tributária compatíveis; - apoio à pesquisa básica e aplicada; - criação de mecanismo de transferência de tecnologia; - capacitação técnica e empresarial; - investimento, por parte das empresas, em padronização da qualidade (padrão exportação); - comercialização em consórcio de empresas; - publicidade; participação em programas de exportação coletivos. A industrialização, via micropropagação de novas espécies, setor em que o Brasil se destaca por ser detentor de grande biodiversidade, constitui-se numa grande oportunidade empresarial que deve ser aproveitada pelas pequenas e médias empresas de base biotecnológica. Atualmente existem no Brasil cerca de 5.260 ha de área cultivadas com flores e plantas ornamentais, de acordo com o Ministério da Agricultura. Aproximadamente 60% dessa área é destinada à produção de flores, e os outros 40% são destinados a plantas ornamentais. Aproximadamente 1.300 ha do cultivo de flores estão localizados em ambiente fechados (estufas). No ano de 2003, esse setor operacionalizou-se em mais de 3.500 propriedades rurais e gerou em torno de 26.000 empregos diretos no campo e 40 mil na cadeia produtiva em todo o País (distribuição, transporte, comércio varejista). O valor total da produção atual está estimado em R$ 444,4 milhões. A maior parte dos empreendimentos (81%) está no Estado de São Paulo. BASE TECNOLÓGICA BRASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VANTAGENS COMP54 Dentre as ferramentas da base tecnológica aplicadas à floricultura, apresentamos as que já são resultado de pesquisas patrocinadas pelo Ministério da Agricultura, acessíveis aos produtores e especialistas do setor: 94 Segundo Nogueira (2002), na área de plantas ornamentais, em que predominam plantas híbridas (gerbera, cravo, tulipa, orquídea, etc.) a clonagem in vitro de matrizes selecionadas tem permitido a compatibilização de demandas específicas dos mercados interno e externo, com atributos importantes como época de floração, tamanho e forma das flores, números de flores/plantas, comprimento e resistência das hastes florais, tamanho e vigor das plantas etc. A mulitplicação in vitro em larga escala de plantas de importância econômica tem resultado na instalação de verdadeiras biofábricas comerciais, baseadas no princípio da linha de produção. Os lançamentos hi tech da base tecnológica aplicada à floricultura, no mercado mundial e já com domínio tecnológico no Brasil, são: expressão do gene da cor azul em dianthus, expressão de gene denominado “Longa Vida de Vaso” (em dianthus) e a expressão de gene com resistência a doenças (Fusarium spp). No Brasil, o destaque é a petúnia transgênica tolerante à deficiência nutricional, desenvolvida pela Universidade Federal do Paraná, em 2003. Espécie Foco de Pesquisa Base tecnológica como alternativa 1) Copo-de-leite Contaminação endógena. Inoculação de meristema. 2) Orquídea Otimização na produção de mudas. Meio de cultura para sua germinação in vitro. 3) Avencão Reprodução lenta. Micropropagação ápice dos rizomas + tratamentos. 4) Mussaenda Produção de mudas em larga escala. Cultura de tecido. 5) Orquídea Contaminação do meio de cultura. Cultivo in vitro + fungicidas. 6) Orquídea Incremento à produção de raízes. Cultivo in vitro + carvão ativado. 7) Ipomoea Não produz semente. Cultura in vitro. 8) Agapanthus Mudas infectadas. Clonagem via micro propagação. 9) Antúrio Detectar plantas e produtivas. Técnica de micro propagação. 10) Hemerocale Multiplicação massal. Ensaios de micro propagação. 95 11) Orquídea Desenvolvimento veg.e enraizamento. Cultura in vitro + fonte de carbono. 12) Gloxínia Increm. na prod.de plantas + qual. fitossanitária. Cultura de tecido + reg. de crescimento. 13) Orquídea Dificuldade de obtenção de mudas. Propagação in vitro + carvão ativado. 14) Orquídea Dificuldade de obtenção de mudas e lento crescimento. Propagação in vitro + sacarose. 15) Bromélia Produção de mudas em larga escala. Germinação in vitro. 16) Gladíolo Produção de mudas em larga escala. Micro propagação in vitro. 17) Gladíolo Baixa taxa de propagação. Multiplicação in vitro. 18) Gladíolo Maior número de brotos. Multiplicação in vitro. 19) Streptosolem Indução de calos. Propagação in vitro. 20) Helicônias Plântulas livre de patógeno. Cultivo in vitro com diferentes fontes de explantes. Fonte: Ministério da Agricultura, 2002. BASE TECNOLÓGICA BRASILEIRA - OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E VANTAGENS COMPETITIVAS O Ministério da Agricultura possui um programa de desenvolvimento da floricultura e plantas ornamentais, o PROFLORES, coordenado pela EMBRAPA, que visa apoiar a pesquisa básica aplicada e a transferência de tecnologias, envolvendo as universidades e os institutos de pesquisa. Nesse programa, está previsto o financiamento para micro e pequenos produtores rurais, com carência de cinco anos e juros subsidiados. Os produtores de flores e plantas ornamentais buscam as novidades com o “melhorista genético”, profissional da área de genética ou empresário que desenvolve espécimes guardados em estufas. O mercado demanda flores de cores inovadoras ou uma espécie de flor resistente a determinada praga. O melhorista então passa a matriz para um laboratório onde é realizada uma multiplicação das mudas por meio de um processo conhecido como micropropagação e feita a primeira multiplicação. Após testes para verificação da qualidade, é escolhido o lote a ser multiplicado em larga escala. Nesse mesmo laboratório, ou em outro 96 normalmente chamado de biofábrica, é então realizada a multiplicação para atingir a quantidade e os prazos requeridos pelo produtor de flores. Assim, uma muda é transformada em milhões de mudas, sob condições controladas e em meios de cultura, num pequeno espaço físico e num reduzido espaço de tempo. Após essa micropropagação, as pequenas mudas são entregues ao produtor, que inicia a aclimatação e, posteriormente, o plantio no canteiro de terra da estufa para crescimento, floração, colheita e venda ao consumidor. Temos, então, uma cadeia produtiva composta do melhorista, da biofábrica, do produtor, do distribuidor e do comerciante varejista. A produção da biofábrica é contratada com antecedência de até dois anos, e o cliente da biofábrica é que se encarrega de achar mercado para as mudas de plantas e flores. Na maioria das vezes, já havendo uma demanda por parte dos produtores, a biofábrica procura novas matrizes com o melhorista, que cobra os royalties dos produtos a serem comercializados pela biofábrica, usualmente estabelecidos em 5% da receita bruta de vendas. Uma biofábrica que emprega entre 15 e 20 trabalhadores por hectare obtém, em média, uma renda entre R$ 50 a 100 mil por ano. Observa-se que a mesma área de uma fruticultura convencional emprega cinco trabalhadores e fatura, aproximadamente, R$ 25 mil/ano. Com a aplicação das ferramentas da base tecnológica, uma biofábrica, em termos comparativos, tem um retorno 30 vezes maior que o do milho e o do feijão, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Secretaria da Agricultura Irrigada do Ceará. Principais aplicações da base tecnológica vegetal na floricultura Alteração de coloração: novas perspectivas de mercado na floricultura foram abertas com a clonagem de genes associados à coloração de flores. Cores anteriormente inexistentes para determinada espécie se tornaram possíveis a partir da transformação genética com genes envolvidos nessas rotas bioquímicas. Também tornaram possível a modificação da arquitetura da planta e das flores, as fragrâncias e a maior durabilidade das flores, esta associada à manipulação de genes associados à biossíntese do etileno. Diminuição do uso intensivo de agroquímicos: um dos aspectos fundamentais na busca da sustentabilidade na produção de flores é a diminuição do uso de fertilizantes e agrotóxicos. A utilização de bactérias endofíticas (promotoras de crescimento) e de fungos micorrízicos pode melhorar o desenvolvimento de mudas micropropagadas e aumentar sua resistência a doenças. Os fungos aumentam o 97 sistema radicular, o que melhora a absorção de nutrientes e contribui para a redução de adubos. Já as bactérias, além de promover o crescimento, são capazes de induzir a resistência a diversas doenças, funcionando como uma vacina natural. Aumento da vida útil: o cuidado no pós-colheita é parte fundamental para aumentar a vida útil e a conservação das flores, bem como viabilizar sua comercialização para os mercados interno e externo. A EMBRAPA está iniciando estudos para aumentar a vida útil de flores tropicais e vai testar um bloqueador para o etileno, hormônio responsável pelo envelhecimento de flores e frutos. Serão testados ainda outros tipos de conservantes que ainda não foram utilizados em flores tropicais. Produção em grande escala: a clonagem in vitro de matrizes selecionadas tem permitido a uniformização, em larga escala, de características como época de floração, coloração, tamanho e forma das flores, dentre outras, do que resulta a instalação de verdadeiras biofábricas comerciais, baseadas no princípio da linha de produção e algumas vezes automatizadas. Aumento da variabilidade genética e conservação de germoplasma in vitro: mediante a fusão de protoplastos, tem-se conseguido a obtenção de híbridos, que superam as barreiras de incompatibilidade sexual e, assim, aumentam a variabilidade genética. Conservação de recursos genéticos in vitro: o estabelecimento dos chamados bancos de germoplasma, por meio da definição de protocolos para a manutenção da integridade metabólica de partes isoladas e de regeneração em milhares de novas plantas integras, possibilita conservar espécies raras e variedades elite. 98