UMA NOVA VISÃO DOS NEGÓCIOS
Empresa: MCM Controles Eletrônicos Ltda. – Santa Rita do Sapucaí/MG
Autoria: Wolmara Cristina Marques Gomes
Introdução
A escolha da profissão ocorre muito cedo, quase sempre na
adolescência, quando se vive fase de forte transição, na qual
os valores e crenças repassados pela família começam a ser
questionados na busca de um estilo próprio de vida. Com
João Marcos Franco foi diferente. Nascido em Taubaté, no
dia 07 de novembro de 1958, filho de José Sudário Franco e
Nair dos Santos Franco, era o caçula de uma família de seis
irmãos. Herdou o espírito empreendedor do avô, Lázaro de
Lima Franco (eletricista e luminarista, dono de um comércio
nesse ramo, no centro de Taubaté, na década de 30) e do
pai José Sudário Franco - Policial Militar, herói de um dos
maiores motins de presos do mundo, na década de 50, no
presídio, localizado na Ilha Anchieta, em Ubatuba, litoral
norte de São Paulo.
“Vendo tudo isso, e imaginando que o soldado Simão estava morto, desci as pedras do Boqueirão e me atirei ao
mar para pedir socorro no Continente. Meu cachorro Dique
pulou comigo. Grande Companheiro! Naquele dia, o mar
estava agitado, as ondas estavam violentas, enfim o mar
totalmente revolto, pois soprava o vento sudoeste. Ali era
um canal muito perigoso, com oitenta metros de profundidade, com extensão reta de seiscentos metros. Os peixes
costumeiros eram o tubarão, o anequim e as tintureiras...
Depois de alguns minutos, que pareceram horas, o barco
pesqueiro se aproximou de mim, mas o pescador imaginou
“Não me
considero
uma pessoa
de sucesso,
pois ainda
tenho muito
caminho a
percorrer,
mas o
crescimento
da MCM,
acredito que
acontece em
função de
muita
determinação,
amizade e
companheirismo
dentro da
empresa.”
João Marcos
Franco
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que eu fosse um preso fugitivo e armou-se com o remo para me atacar. Eu
gritei, sem fôlego: – Sou eu, o cabo Sudário! Então, ele, reconhecendo-me,
ajudou-me a subir no barco com o Dique, que vinha se debatendo nas águas...
Não tive outra escolha; catei o homem no colo e o levei até a Estação, onde ele
passou as mensagens de socorro, pedindo reforços ao 5º Batalhão de Taubaté,
ao Exército, à Aeronáutica, à Marinha e também avisando o Destacamento de
Caraguatatuba.” – (1) Depoimento extraído e adaptado do livro Ilha Anchieta:
Memórias de um Herói Relegado - Depoimento do II Sargento Reformado
Sr. José Sudário Franco, de Augelani Maria Parada Franco, esposa de João
Marcos Franco.
Da infância à MCM
João Marcos morou, durante os primeiros anos de vida, na Ilha Anchieta. Segundo conta dona Mercedes, ex-vizinha na Ilha, “Seu Zé (pai de João Marcos) ia
caçar rã e trazia uma baciada, cortava os “cabeção” delas na hora, temperava, pegava aquelas
pratadas e fritava. Caçava lagarto, aquelas pencas, tatu; era muito danado...” Para sua
irmã, Maria Aparecida Moreira, “a vida na Ilha era difícil em função da distância da
cidade, onde meus pais iam fazer compras uma vez por mês. O ferro era à brasa, os fogões de
lenha; enfim, uma vida bem natural e para nós, crianças, tudo era muito divertido. Nossa
infância teve sabor de aventura...”
Aos 12 anos de idade, já em Taubaté, com o incentivo de sua mãe, João Marcos
fez um curso de eletrônica por correspondência, através do Instituto Universal
Brasileiro. A partir de então, montou uma pequena oficina na garagem de sua
casa e começou a consertar os eletrodomésticos da vizinhança.
Quando completou 13 anos, começou a trabalhar na Oficina Nossa Senhora
Aparecida, em Taubaté, para onde ia todos os dias “de bicicleta, com um jaleco
azul marinho e comprido”. O proprietário, o Sr. Geraldo, mandava João Marcos
até para a cidade de Santos, para consertar equipamentos.
Em 1974, com quinze anos de idade, começou a trabalhar na DARUMA Telecomunicações Ltda., produtora de telefones públicos, como auxiliar técnico. Lá
ficou até 1981. Seu chefe, o Sr. Flávio Moysés Dotta, formado no ITA, foi para
ele uma espécie de “guru”, pois, sempre o auxiliava em seus projetos e idéias,
além de orientá-lo em suas atividades. Hoje, Dotta é o Diretor de Tecnologia
da MCM e responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento de produtos.
Nessa empresa, João Marcos desenvolveu vários projetos, como o do primeiro
telefone público DARUMA, que não pôde assumir por ser menor de idade, ficando a empresa com o crédito do mesmo.
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Nesse mesmo ano, iniciou o Curso Técnico em Eletrônica no COTET (Colégio
Técnico de Tremembé), como mais um de seus alunos, mas logo se destacou e
passou a dar aulas como monitor e a auxiliar os professores.
Em 1976, alistou-se no Serviço Militar Obrigatório e, mesmo tendo excelente
porte físico e todos os requisitos para servir, acabou sendo dispensado, a pedido da própria DARUMA, que utilizou sua influência, porque ele estava participando do desenvolvimento de um produto chamado DKS.
João Marcos tinha 20 anos quando se matriculou na Faculdade de Física, a
UNITAU (Universidade de Taubaté), mas abandonou o curso no terceiro ano,
para se dedicar às atividades de sua primeira empresa de desenvolvimento
de projetos e vendas de produtos, fundada em parceria com um amigo investidor, Dr. Cesídio Ambrogi, de Taubaté. Essa empresa não chegou a ter razão
social, mas, ali, João Marcos desenvolveu, entre outros, os seguintes projetos:
alarme para residência, sensor Puff (sensor de luz a dois fios, que acende uma
lâmpada ao escurecer do dia), válvula eletrônica em estado sólido para saída
de vídeo para a televisão Phillips, pois o modelo tradicional da válvula, por ser
muito antigo, havia saído de linha.
Voltou a trabalhar, nessa época, na Mecânica Pesada S.A., situada em Taubaté,
como técnico de manutenção, por nove meses. De lá saiu para montar a MCM.
Na Mecânica Pesada S.A., João Marcos desenvolveu novos circuitos eletrônicos
de controle para substituir as placas eletrônicas dos tornos antigos, pois, quando danificadas, tinham a manutenção impossibilitada, devido ao fato de serem
resinadas e não poderem ser trocadas, porque não eram mais fabricadas.
Nesse meio tempo, após sair da Mecânica Pesada S.A. e, “enquanto a MCM
dava seus primeiros passos”, para manter o padrão de vida, resolveu lecionar e
trabalhar como professor de eletrônica no Colégio Técnico da Universidade de
Taubaté, o Colégio Padre Anchieta, e no IDESA (Instituto Diocesano), também
em Taubaté.
Já casado com a Senhora Augelani Maria Parada Franco (janeiro de 1980),
aproveitando que o mercado brasileiro se abria para as novas tecnologias
advindas com a informática, fundou a MCM Microcomputadores Ltda., em
Taubaté, em abril de 1983.
Dando asas à imaginação
Com mais dois sócios: Sebastião Carlos Mota – responsável pela área comer-
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cial da empresa e João Carlos – administrador do negócio e ele, João Marcos,
responsável pela área técnica, iniciam as atividades da MCM que, então, era
uma empresa de revenda de computadores e assistência técnica.
Três meses depois, João Carlos saiu da sociedade. Não acreditava que, realmente, pudesse dar certo, mas João Marcos e Mota continuaram a sociedade
e resolveram manter o nome MCM, pois já haviam feito catálogos e lançado a
marca.
Nessa época, 1983, a empresa enfrentou sua primeira grande crise. Segundo João
Marcos, “na tentativa de mantê-la (a MCM) em funcionamento, sem capital, controlamos a
situação solicitando aos fornecedores a dilatação de prazos de pagamento. Fizemos muitos amigos
que compreendiam a situação e confiavam em nós; também recorri ao meu tio Juvenal e ao meu
pai, que me fizeram empréstimos com a maior boa vontade. Eu ficava mais preocupado ainda
em saldar rápido essas dívidas, porque são pessoas que não nos cobram e a responsabilidade
é maior do que uma dívida num Banco. Saíamos, o Mota e eu, também para o trabalho “de
campo”, buscando vender para outros estados, pois a empresa foi aberta em Taubaté, SP, e não
sobreviveríamos somente vendendo naquela região, já bastante disputada.”
No final de 1983, ainda em Taubaté, a empresa montou seu primeiro projeto
independente: o conversor DC-DC, um tipo de no break (um equipamento que,
através de uma bateria, mantém um computador ou qualquer outro equipamento eletrônico em funcionamento, na falta de energia elétrica) que era instalado
diretamente na placa do próprio computador. Sua concepção era mais simples
e, pelo menos, 50% mais barato em relação ao que havia no mercado.
Sem recursos para testarem o produto desenvolvido, pois, não tinham seu
próprio computador, os sócios levaram seu protótipo, “dentro de uma caixa de
sapatos”, para um amigo, o Sr. Paulo Peres, da empresa Prológica Microcomputadores Ltda., de São Paulo (fabricante de microcomputadores). Testaram o
equipamento no departamento de assistência técnica, no intervalo do café, e...
“Funcionou!”.
Com o sucesso das vendas, em três meses, a empresa mudou sua razão social
para MCM Indústria e Comércio de Equipamentos Eletrônicos Ltda. Sem recursos para dar prosseguimento ao projeto do novo produto, financiaram a empresa
por meio do desconto de duplicatas, cheque especial e notas promissórias.
Segundo João Marcos: “A evolução das vendas desse produto foi feita utilizando a própria
rede de revendas Prológica, através de visitas e mala direta. Nessa época, como nós éramos
também revenda e assistência técnica da Prológica, desenvolvi um treinamento diferenciado,
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que não necessitava de grandes aparatos, para conserto e alinhamento de drives de 5 e 1⁄4
polegadas e, com isso, fizemos um consórcio com todas as revendas Prológica do Brasil. Eu
era remunerado, incluindo as despesas de viagem e aproveitava e fazia o trabalho comercial da
empresa em todo o território nacional.”
Logo depois, vieram outros produtos, como o conversor interno DC-DC para
máquinas registradoras e projetos especiais para algumas empresas. Além
disso, a empresa também funcionava fazendo revenda e assistência técnica de
informática.
A segunda crise foi no segundo ano, 1984, quando a sede da empresa, na rua
Barão da Pedra Negra, 763, em Taubaté, foi arrombada. Todos os seus computadores e os dos clientes que estavam na assistência técnica foram roubados. “Não tínhamos seguro e tivemos que repor tudo... Tivemos que captar recursos com um
agiota para conseguirmos saldar essa dívida e investir em um novo modelo de ‘no break’.”
Transformando projetos em realidade
Já em 1987, em busca de recursos financeiros para expandir o negócio, João
Marcos procurou várias instituições, sem sucesso, até chegar no BANERJ
(Banco do Estado do Rio de Janeiro), onde, em conversa com o gerente, Sr.
Benedito Lázaro Moreira, tomou conhecimento da oportunidade que estava
sendo oferecida pelo prefeito da cidade de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de
Minas Gerais, o senhor Paulo Frederico de Toledo (“homem muito idealista
que batalhou muito para “construir” o “Vale da Eletrônica”). Ele estava oferecendo vários incentivos fiscais visando atrair empresas do setor eletrônico para
a cidade e gerar emprego e renda.
Após muito refletir, decidiu ir com a MCM para Santa Rita do Sapucaí, em
agosto de 1988. Como não tinha certeza do sucesso da transferência de cidade
e não sabia se conseguiria adaptar-se à localidade, ficou, durante o primeiro
ano, com a empresa funcionando, simultaneamente, em Santa Rita do Sapucaí
e em Taubaté.
Em meados de 1988, uma parte da produção da MCM foi transferida para Santa
Rita do Sapucaí, continuando o Departamento Financeiro e Administrativo em
Taubaté. Foi um período experimental até que, em fevereiro de 1989, a empresa
transferiu-se, de fato, para Santa Rita, onde alguns funcionários de Taubaté
passaram a residir, definitivamente.
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Nesse mesmo ano, a MCM enfrentou sua terceira grande crise: “Foi quando
decidimos separar a sociedade por causa de divergências na gestão. Mota ficou
com a filial MCM de São José dos Campos, que era Revenda de Computadores,
Suprimentos e Desenvolvimento de Software.”
O período de 1989 até 1992 foi de adaptação à nova cidade e à comunidade local.
A cada mês, havia jantares de confraternização entre as famílias de empresários
e alguns professores do INATEL, nas casas dos mesmos. João Marcos fazia muito
sucesso, pois ele próprio cozinhava quando as festas eram em sua residência.
É um excelente cozinheiro e as pessoas gostavam da sua cordialidade e de seu
jeito brincalhão, que contaminava até as pessoas mais introvertidas.
Nessa fase, foi convidado para ser o presidente da Associação Industrial de
Santa Rita. Durante dois anos de mandato, desempenhou sua função, buscando difundir o mais possível o nome do Vale da Eletrônica. Nessa época,
aproximou-se do SEBRAE e partiu para uma bem sucedida empreitada. Conseguiu trazer cursos para os empresários locais e participou de feiras nacionais
e internacionais, com stands coletivos cedidos pelo SEBRAE, nos quais os
produtos do Vale eram divulgados e comercializados.
“Conseguimos transformar a cidade numa espécie de Vale da Eletrônica”, diz João Marcos,
em entrevista à revista Exame de dez/93, e ainda acrescenta “O sucesso das empresas de Santa Rita tem uma explicação simples: “produzimos com tecnologia de Primeiro
Mundo e vendemos a preços de Terceiro.”
Esse foi um momento decisivo para o crescimento das empresas de Santa Rita,
principalmente as pequenas que, hoje, já se encontram bem instaladas no
Centro Empresarial, onde também se localiza a sede da Associação Industrial.
Nessa época, era auxiliado pela Senhora Augelani: “Fui trabalhar, a convite de João
Marcos, no Marketing da Associação, junto ao SEBRAE, auxiliando nas feiras, organizando
os estandes e representando os empresários de Santa Rita naquelas ocasiões. No término de
sua gestão, afastei-me também, pois já estava grávida de 8 meses.”
João Marcos ajudou a fundar o Sindicato Patronal das empresas eletrônicas da região
e criou o Balcão de empregos, tarefa desempenhada pela Associação Industrial.
Também, nesse ínterim, foi convidado para ser Presidente da Fundação Hospitalar
Antônio Moreira da Costa (hospital local), onde deu sua contribuição, promovendo
encontros dessa entidade com a comunidade, sensibilizando as pessoas a participarem de campanhas beneficentes. Por fim, criou um grupo formado pela comunidade,
envolvendo os mais variados setores da população.
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Conseguido seu intento de divulgar o nome do Vale da Eletrônica, João Marcos
achou necessário se dedicar somente à MCM e, em boa hora, tomou essa decisão, pois a empresa já começava a dar sinais de problemas administrativos
que se agravaram em 1996. Era a hora de curar seus próprios ferimentos.
No início de 1994, tomou conhecimento do Prêmio Excelência Empresarial do
SEBRAE Minas, em sua primeira versão, e decidiu participar. Tinha, então, cerca de quarenta e dois funcionários. Alcançou o prêmio na Categoria Indústria.
Em decorrência disso, viajou para a Itália para fazer o Curso de Gerenciamento
ISVOR – FIAT, o que contribuiu para abrir os horizontes para sua visão empresarial. Viajou ainda para Taiwan, onde conheceu novas tecnologias, produtos
e uma nova cultura.
Em 1996, a empresa enfrentou sua quarta grande crise: “Houve um descontrole
contábil/administrativo e a MCM teve o CGC (hoje o atual CNPJ) suspenso.” O responsável pelo departamento pediu demissão. “Tive que ir em todos os órgãos (municipal,
estadual e federal) solicitar um prazo para poder regularizar a situação da empresa, pois se a
MCM fosse fiscalizada, naquele período, não sei o que poderia acontecer.” (João Marcos)
A partir desse incidente, a empresa passou a ser meticulosamente “vigiada”
por João Marcos. Afinal, um mínimo problema, além dos sérios que a MCM já
estava tentando solucionar, poderia levá-la ao fechamento. Então, ele “arregaçou as mangas” e foi “correr atrás do prejuízo”, conforme gosta de dizer. Na verdade, corria desesperadamente contra os prejuízos causados por uma gestão
administrativa e contábil totalmente descontrolada. Foi atrás, principalmente
da Controladoria Pública Fiscal, pedindo ajuda para resolver problemas que
tinham a aparência de insolúveis. Encontrou um aliado, o Sr. Joaquim Corrêa
Guimarães, Chefe da Fiscalização da Receita Federal, que se sensibilizou com
sua história e indicou-lhe, pacientemente, os caminhos que deveria percorrer.
Contornou a situação, com parcelamentos e organização contábil, com a ajuda
de seu amigo e consultor do SEBRAE, Sérgio Lima. Essa corrida contra o tempo deu-se também na área comercial. Por isso, viajava para todos os cantos,
buscando novos negócios.
A situação da MCM, novamente, tornou-se difícil. Então, Paulo Humberto
Gouvêa, um dos executivos da BATIK, ex-aluno do INATEL, de Santa Rita e
amigo de João Marcos, em uma conversa, revelou-lhe que a BATIK estava diversificando sua linha de produtos. João Marcos propôs que a BATIK entrasse
na fabricação da linha de no breaks e estabilizadores, através de uma parceria
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com a MCM, ele, como diretor de tecnologia, receberia royalties pela linha de
produtos que sairiam com o nome BATIK. A proposta foi aceita prontamente e,
como a mesma não tinha linha de montagens ainda, utilizou a da MCM.
Isso não seria suficiente para absorver a mão de obra total da MCM, naquele
período difícil. Diante da ameaça de ter de demitir centenas de pessoas, João
Marcos foi em busca de alternativas; afinal, tinha um compromisso social com
seus funcionários e não poderia permitir que isso acontecesse. Ao procurar
a DARUMA, em conversa com o Sr. Gerson Gavazzi (grande amigo de João
Marcos, desde a adolescência, e colegas no colégio técnico), ficou sabendo da
necessidade da empresa de “descobrir” um parceiro para produzir as leitoras de
cartão de telefone público.
Como se tratava de um projeto sigiloso, tinha que ser desenvolvido por uma
empresa de muita confiança. Nesse momento, Gerson “apresentou a MCM
como uma empresa de confiança” para executar o serviço e, em pouco tempo,
ela já estava produzindo as leitoras e absorvendo a mão-de-obra ociosa. Posteriormente, a BATIK desistiu do negócio porque foi vendida e a MCM adquiriu
de volta os seus direitos, resgatando o contrato por um valor bastante expressivo, mas, a essa altura, as portas do mercado corporativo já estavam abertas.
Hoje, o mercado corporativo representa 70% de suas vendas e o restante é
composto por revendedores e distribuidores do mercado varejista.
Seu foco principal sempre foi a área de Recursos Humanos. Nunca atrasou,
um dia, o pagamento de salário. Até hoje, teve apenas uma ação na Justiça do
Trabalho e, mesmo assim, foi de um representante autônomo. De acordo com
ele: “Meus funcionários formam a família MCM.”
João Marcos adota uma política que possibilita aos funcionários mais novos
sempre trabalharem com os mais antigos e vice-versa, proporcionando a transferência de conhecimento. Atualmente, as seleções e contratações da empresa
são feitas por Valdemir Batista. Valdemir é um exemplo do investimento de
João Marcos em seus funcionários: hoje cursa Administração de Empresas, é
seu sócio na empresa Vale Serv Montagens. Ingressou na empresa, em agosto
de 1990, como auxiliar de produção.
Outro de seus funcionários que se transferiu de Taubaté com a empresa foi
Sebastião Roberto Soares. Mudou-se com a família, “acreditou e vestiu a camisa da empresa”, sendo hoje um dos sócios. Sebastião entrou na MCM ainda
garoto, quando foi aluno de João Marcos na Escola Padre Anchieta, de Taubaté, no Curso Técnico em Eletrônica. Foi convidado por João Marcos, ainda no
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primeiro ano de formação da MCM, a trabalhar na produção e, sempre muito
dedicado, chegou, com grande mérito, a ter quotas da sociedade.
Mário Celso Bueno também começou na MCM de Taubaté, como auxiliar de
montagem. Mudou-se para Santa Rita em 1989, onde constituiu família. Hoje,
é encarregado do Departamento de Integração da MCM.
Questionado sobre as dificuldades que a empresa enfrentou, Valdemir Batista
relata: “De repente, ele aparece com um contrato bom e tira a empresa do sufoco. Comercialmente, João Marcos é perfeito.”
Para João Marcos, “isso pode parecer sorte, a princípio, mas, na realidade, é “feeling”. Todas
as vezes que a empresa esteve em uma situação difícil, eu ia ao mercado em busca de contratos
e informação, procurando os amigos, identificando as oportunidades. Os contratos surgiam e
revertiam a situação.”
Ainda de acordo com Valdemir Batista, “falta na empresa uma pessoa que realmente
assuma a área administrativa.” Entretanto, João Marcos tem consciência dessa
deficiência e vem procurando minimizá-la, preparando funcionários para assumirem essa área da MCM. “Apesar de tudo de certo que fizemos até agora, ainda temos
pontos vulneráveis. O ritmo da empresa é muito rápido e a área administrativa não acompanha. Temos que estruturá-la para dar-lhe apoio permanente. É um desafio...”
A quinta grande crise ocorreu em 2002. “Tive que desmontar toda a estrutura comercial
existente, por falta de recursos, pois os novos projetos ainda não estavam prontos e os recursos
próprios já tinham acabado. Tivemos que recuar, sanear e começar novamente...” O desejo
de vencer, porém, permanecia forte. Por essa razão, obteve a Certificação ISO
9001 – versão 2000, em 2003, em tempo recorde de quatro meses, abrangendo
toda a linha de produção, prestação de serviços, laboratório de desenvolvimento e todo o grupo MCM.
Recebeu, ainda, em 2003, os prêmios: Prêmio TopFive, que colocou a MCM entre os cinco melhores produtores de no breaks no Brasil, e outro prêmio na área
hospitalar, na categoria de Estabilizadores – considerada a melhor marca do
mercado.
Atualmente, a empresa está organizada em um grupo de seis empresas, visando, entre outros aspectos, à “administração” tributária, uma de suas grandes
dificuldades durante todos esses anos, pois, sempre buscou-se trabalhar 100%
dentro da legislação e o Custo Brasil não contribui muito para com a sobrevivência das empresas.
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A MCM hoje
Missão da MCM
• “Construir, continuamente, a prosperidade da empresa, dos colaboradores e
da coletividade, através do desenvolvimento, fabricação e comercialização de
produtos e serviços, no segmento eletro-eletrônico, que atendam aos requisitos de qualidade, custo e tecnologia, dos clientes e em escala global.”
Política da Qualidade
• “Oferecer produtos e serviços compatíveis com os requisitos dos clientes.
• Manter um sistema de gestão da qualidade que proporcione a melhoria
contínua dos processos, produtos e serviços.
• Promover a qualificação dos colaboradores para assegurar a melhoria contínua da eficácia dos sistemas de gestão da qualidade.”
Principais Produtos
• Fontes de alimentação
• No Breaks
• Protetores de linha telefônica
• Estabilizadores de voltagem
• Serviços e Industrialização
Principais Clientes
• Jabil Circuit do Brasil Ltda.
• Procomp Ind. Eletrônica Ltda.
• Ingenico do Brasil Ltda.
• DARUMA Telecomunicações e Informática SA
Instalações
• Ocupa 3.500m² de área produtiva, dedicados ao desenvolvimento,
produção e comercialização de seus produtos e serviços.
Faturamento MCM de 2001 à 2004
R$14.000.000
R$12.000.000
R$7.500.000
2001
2002
R$6.400.000
2003
2004
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Santa Rita do Sapucaí – O Vale da Eletrônica
O “Vale da Eletrônica” é um dos principais pólos de desenvolvimento tecnológico do Brasil, sendo reconhecido nacional e internacionalmente pela alta
qualidade de seus produtos, que são exportados para diversos países.
O desenvolvimento de tecnologia de ponta tem seus alicerces na eficiente
estrutura educacional de nível técnico e superior nas áreas de Eletrônica,
Informática, Telecomunicações e Administração, existentes no município,
localizado no Sul de Minas, com uma população de 32.788 habitantes e uma
arrecadação de R$ 17.482.523 (IBGE–2003).
O sucesso do projeto “Vale da Eletrônica” se deve a vários fatores: à visão de
seus idealizadores; ao decidido apoio das escolas, dos empresários e da comunidade local; à preocupação constante com a qualidade dos equipamentos
que produz; à farta mão-de-obra especializada disponível no município; aos
esforços e desenvolvimento de tecnologia de ponta, feita em conjunto pelas
escolas e empresas; a uma eficiente política de Marketing, etc.
A maioria das empresas do município atua nas áreas de Eletrônica, Telecomunicações e Informática. Isso gerou a necessidade de abrir outras empresas com
atividades paralelas, aumentando, consideravelmente, a oferta de emprego
para o povo santa-ritense, porém, não só de eletrônica vive o “Vale”. Aqui há
também empresas de confecções, mecânica fina, artes gráficas, agropecuária,
material de construção e um dinâmico comércio.
Como conseqüência natural deste processo, foi criada a “Associação Industrial
de Santa Rita do Sapucaí”, que congrega a maior parte das empresas da cidade.
É importante destacar que a parceria entre a Associação e o SEBRAE Minas
tem sido a alavanca para que nossas empresas possam mostrar seus produtos
nas principais feiras e eventos do mercado nacional e internacional. Um dos
principais objetivos da Associação Industrial é trazer para seu seio todas as
indústrias do município, trabalhar e oferecer benefícios aos seus associados e
à comunidade santa-ritense.
Conclusão
Quando perguntam a João Marcos sobre os fatores determinantes de seu
sucesso, ele responde: “Não me considero uma pessoa de sucesso, pois ainda tenho
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UMA NOVA VISÃO DOS NEGÓCIOS
muito caminho a percorrer, mas o crescimento da MCM, acredito que acontece em função
de muita determinação, amizade e companheirismo dentro da empresa. Considero a MCM
uma grande família, na qual trabalhamos arduamente, porém também confraternizamos e
festejamos, literalmente, a cada novo obstáculo vencido. Reunimo-nos na cozinha caipira da
fábrica e preparamos pratos típicos da região (minha terapia é cozinhar), e a família MCM
entra em festa! Esse contato informal com as pessoas de todos os setores da empresa, sem
distinção hierárquica, é muito importante para a união e interação do grupo, transformando
a empresa numa única equipe.”
“Sua fórmula mágica sempre foi sua determinação, sua coragem de encarar os problemas e resolvê-los de fato, um por um, ou muitos “pepinos” por vez, como costuma se expressar, e a sensibilidade para encontrar as melhores soluções,” segundo a senhora Augelani. Para ela,
João Marcos tem uma inteligência brilhante. É um homem grande e um grande
homem, de coração simples e grande sensibilidade, porém, extremamente
enérgico e firme em suas decisões, que sempre partem de seu pensamento
ágil e de sua perspicácia em todos os momentos da vida. É arrojado em todas
as situações e está sempre buscando novos horizontes. Ele gosta de dizer que
“quem não se arrisca, não vive.
Pontos para discussão
1.
Que ações do protagonista foram responsáveis pelo sucesso e como foram
importantes no contexto?
2.
Quais foram os métodos utilizados para o enfrentamento das adversidades? Explicite como se deu o enfrentamento.
3.
Quais são as possíveis relações entre o percurso do protagonista e a expansão de seu negócio?
4.
Diante do dinamismo do mercado, os consumidores mostram-se dispostos a testar produtos que nunca provaram. A MCM percebeu a importância
de haver lançamentos?
5.
Que ações estratégicas foram adotadas para a implantação de uma nova
estrutura organizacional e quais foram as suas conseqüências?
6.
Desenvolva um modelo conceitual de cadeia de valor para a MCM e identifique os seus pontos fortes/ fracos, ameaças e oportunidades.
7.
Como você compara o posicionamento da MCM com o de seus principais
concorrentes?
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HIST DE SUCESSO FECHADO 4-11