1 A GERÊNCIA NA ÓTICA DO FISIOTERAPEUTA* Daniel Carlos da Silva Almeida1 Carla Adriane Pires Ragasson2 Elizabeth Maria Lazzarotto3 Jordana Gargioni Salmoria4 RESUMO: O programa saúde da família, como nova forma de organização do sistema de saúde brasileiro vigente, constrói-se enquanto tal, através da atuação de uma equipe multidisciplinar de trabalho em saúde. A unidade de saúde da família (USF) é sede do programa, e seu foco é a atenção primária aos usuários do SUS, em uma determinada área de abrangência. O presente estudo objetivou identificar as funções gerenciais do fisioterapeuta que atua no programa saúde da família. A pesquisa caracterizou-se como exploratória-descritiva. A população foi constituída por dois fisioterapeutas que realizaram a Residência Multiprofissional em Saúde da Família, do Ministério da Saúde em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste-Campus de Cascavel/PR. A aplicação do questionário foi realizada no local de atuação dos profissionais, no PSF de São João do Oeste-Distrito do Município de Cascavel/PR. O método para analisar os dados referentes ao perfil dos fisioterapeutas pesquisados foi o quantiqualitativo. Os resultados evidenciaram que a inserção do fisioterapeuta como agente multiplicador de saúde no PSF, possibilita-o desenvolver suas atividades, inclusive a de gerenciamento, em interação com a equipe e de forma multiprofissional. Conclui-se que dentre os profissionais que compõem a equipe de saúde da família, o fisioterapeuta possui conhecimentos relativos à atuação no nível primário, e inserir-se nas atividades de gerência, com a condução do processo de trabalho e na direcionalidade das ações. Palavras-chave: Gerenciamento. Saúde da família. Fisioterapeuta. INTRODUÇÃO Para atuar no programa saúde da família (PSF), o fisioterapeuta deve conhecer a comunidade, a sua área de risco, e participar na realização da distritalização da área que, segundo Mendes (1992), refere-se ao processo de construção de sistema local de saúde, que implica aprofundar os vários conceitos que irão orientar a formulação e Fisioterapeuta, Residente da Especialização Multiprofissional em Saúde da Família – Ministério da Saúde/Unioeste – Cascavel/PR. 2 Fisioterapeuta, Mestre, Docente da Faculdade Evangélica do Paraná. Curitiba/PR. 3 Enfermeira, Mestre, Docente do Curso de Enfermagem da Unioeste – Campus de Cascavel/PR. Rua Manoel Ribas, 1466. Cascavel/PR CEP;85801-180. e-mail: [email protected] . 4 Fisioterapeuta, Mestranda, Docente do Curso de Fisioterapia da Unioeste – Campus de Cascavel/PR. * Trabalho Monográfico Concluído. 1 2 implementação de ações voltadas a desencadear mudanças nas formas de organização dos serviços prestados à população. A concepção de território deve ir além de uma superfície/solo e de características geográficas. Para o autor, o território é político, econômico, cultural e epidemiológico e, na organização de saúde, o território é estabelecido por uma determinada população, com características diferentes, com conflitos, projetos e sonhos. Neste contexto, observa-se que o profissional deverá ser capaz de atuar com qualidade, resolutividade, e trabalhar em equipe multiprofissional e interdisciplinar, desencadeando a criação de novos campos de trabalho na área da saúde, de acordo com a realidade e a necessidade de saúde/social. Entretanto, algumas escolas ainda optam por formar um fisioterapeuta generalista, independente do perfil exigido pelo mercado de trabalho, deixando para a formação especialista os cursos de pós-graduação, os quais direcionam o perfil do profissional. A maioria das atividades desenvolvidas pelo fisioterapeuta é a somatória do cuidado com o usuário, onde a assistência sistematizada e humanizada garante a qualidade do atendimento. O profissional tem como função, ainda, gerenciar a assistência prestada, planejar e implementar as ações de educação em saúde dirigidas à população, bem como interagir com a equipe que compõe o elenco de trabalhadores no setor saúde. Assim, as atividades realizadas pelos fisioterapeutas permitem o reconhecimento da sua prática, e a análise crítica de sua relação com as demais produções de serviços do setor saúde. Para o desenvolvimento da prática é necessário repensar o processo de trabalho na sua totalidade dinâmica. Neste sentido, a reforma das diretrizes curriculares dos cursos de graduação aponta para a formação do fisioterapeuta pautada no trabalho em equipe, inserido no sistema de saúde pública do país, praticando, assim, a assistência integral à saúde da população num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-referência (SCHMIDT; CALDAS, 2003). PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA No entender de Trad e Bastos (1998, p. 430), o PSF surgiu como uma “possibilidade de reestruturação da atenção primária, a partir de ações conjugadas”, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O PSF está inserido nas políticas públicas de saúde, no contexto do SUS, e “sua concepção abrange conteúdos que 3 integram aspectos relativos ao modelo e à prática assistencial, ao processo de trabalho e à formação de recursos humanos”. Segundo Sala (1993, p. 118), as inovações referem-se a “um conjunto de práticas que, a partir de um referencial epidemiológico, tomam como seu objeto de intervenção a saúde e a doença no coletivo, utilizando como instrumento de intervenção diversas atividades que são articuladas e organizadas no sentido de produzirem um efeito sobre a saúde no plano coletivo”. É considerado um modelo “voltado para proteção e promoção de saúde com os seguintes aspectos: área de abrangência definida, equipe multiprofissional, ação preventiva e de promoção à saúde desenvolvidas a partir de prioridades epidemiológicas da área definida”. O objetivo do PSF é a “ênfase nas ações programáticas, com o propósito de reduzir a demanda das unidades básicas de saúde e dos hospitais; tendo como princípio norteador a participação comunitária e o controle social centrado nos Conselhos Municipais de Saúde” (MS, 1994; citado por TRAD; BASTOS, 1998, p. 431). Com a reorientação do modelo assistencial, para Bertussi et al (2001), o PSF imprime uma nova dinâmica de atuação e de relacionamento entre os serviços de saúde e a população, mediante vínculo, compromisso e uma abordagem humanizada. Os profissionais que atuam devem ter uma “visão sistêmica e integral do indivíduo, família e comunidade”, a fim de atuarem com “criatividade e senso crítico, mediante uma prática humanizada, competente e resolutiva, que envolva ações de promoção, de proteção específica, assistencial e de reabilitação”, estando assim capacitados a “planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às reais necessidades da comunidade, articulando os diversos setores envolvidos na promoção da saúde” (BRASIL, 2000, p. 317-318). Para que o PSF se desenvolva, é preciso que a equipe conheça a realidade da população que atende, desenvolvendo um processo de planejamento a partir dessa realidade, e assim executar ações compatíveis com as necessidades (BERTUSSI et al, 2001). Por conseguinte, é necessário que o trabalho em equipe multiprofissional efetue-se de forma interdisciplinar. GERÊNCIA O trabalho do fisioterapeuta, no entender de Pereira et al. (2004, p. 94), é centrado “a partir da nova concepção de saúde enquanto qualidade de vida e não mais restrita à 4 ausência de doenças”, o que habilita o profissional a trabalhar no “sistema de atenção básica numa perspectiva de atuação na promoção da saúde e prevenção de doenças e não só no tratamento e na reabilitação”. Straub (2003) vai complementar que a Fisioterapia, apesar de ser uma profissão da saúde relativamente jovem, e relacionada à prática assistencial reabilitativa, atualmente vem ampliando o espectro de intervenção. O fisioterapeuta na estratégia de saúde da família definiu o seu objeto de atuação voltado para uma atuação integral. Na visão de Pereira et al. (2004, p. 94), o fisioterapeuta é considerado um “instrumento pedagógico promovendo espaços educativos nas suas práticas de saúde no território”, socializando o saber por meio de experiências e reflexões. Para gerenciar a Unidade de Saúde da família (USF), é essencial que o fisioterapeuta tenha conhecimento, habilidades e atitudes relacionados às funções gerenciais. O conhecimento passou a ser aplicado na prática, transformando-se em recursos, ferramentas, processos e produtos. A prática gerencial do fisioterapeuta, no entendimento de Alcalde et al. (2003), está em planejar, programar, executar ações específicas, e realizar a educação permanente para equipe. Realiza relatórios das atividades, analisando e avaliando as ações realizadas. Gerencia reuniões de equipe, visando discutir os casos e os encaminhamentos de usuários aos diversos membros da equipe, bem como assessora a equipe nos cuidados formais aos usuários. Neste contexto, Soares et al. (2001, p. 184) destacam que a epidemiologia, no processo de trabalho do fisioterapeuta, “se preocupa com o processo de ocorrência de doenças, mortes, quaisquer outros agravos ou situações de risco à saúde na comunidade [...], com o objetivo de propor estratégias que melhorem o nível de saúde das pessoas que compõem essa comunidade”. Para o autor, tanto para estudos de situação de saúde, como para o estabelecimento de ações de vigilância epidemiológica, é importante considerar a necessidade dos dados que vão gerar as informações a respeito da saúde da população. A vigilância epidemiológica é um importante instrumento para o planejamento, a organização e a operacionalização dos serviços de saúde, sendo suas ações aplicadas às doenças transmissíveis ou não. Proporciona a obtenção de informações para o conhecimento, a detecção e a prevenção dos determinantes do processo saúde/doença em nível individual e coletivo, com objetivo de adotar medidas corretas de prevenção e controle dos agravos, sendo entendida como a obtenção de 5 informação para a ação (ALVANHAN et al., 2001). Na visão de Soboll et al. (2001, p. 205-208), as “informações em saúde constituem ferramenta fundamental para análise de situação de saúde e definição de estratégias para a consecução de melhorias nas condições de saúde da população”. Os sistemas de gerência em saúde dispõem de “sistemas informativos da condição do doente, de sua vida, do meio ambiente e de outros fatores que interferem no processo saúde/doença e que constituem os Sistemas de Informação em Saúde (SIS)”. O SUS conta com sistemas específicos, entre os quais se destacam os Sistemas de Informação sobre Mortalidade (SIM), sobre Nascidos Vivos (SINASC), sobre Agravos de Notificação Obrigatória (SINAN), sobre Serviços e Atendimentos Ambulatoriais (SIA) e sobre Internações Hospitalares (SIH). Além destes, existem outros que trabalham dados específicos e/ou não têm abrangência nacional, como, por exemplo, o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), que produz informação sobre a população atendida pelo PSF (MOTA; CARVALHO, 1999; citado por ANDRADE; SOARES, 2001). De acordo com Mota e Carvalho (1999) citado por Andrade e Soares (2001, p. 171), um “sistema de informação em saúde pode ser considerado como um conjunto de componentes que atuam integrados e articuladamente que têm como propósito obter dados e transformá-los em informação. As informações desses sistemas devem ser utilizadas por todos os indivíduos envolvidos no planejamento, gestão (administração) e avaliação dos serviços de saúde, pois é um meio para melhorar o nível de saúde das populações para as quais essas informações são produzidas”. Também devem essas informações ser “disponibilizadas aos próprios usuários dos serviços de saúde, os quais, por meio de instâncias de controle social (como o Conselho Municipal de Saúde), podem interferir mais efetivamente nas decisões setoriais a serem tomadas” (ANDRADE; SOARES, 2001, p. 171). No exercício da função gerencial, Fekete e Mandelli (1994) citados por Bertussi et al. (2001) apontam alguns instrumentos necessários para nortear a tomada de decisões, destacando a liderança, a capacidade de promover consensos, a negociação, o planejamento e a programação estratégica. Enquanto ferramenta de trabalho, o planejamento, segundo Felisbino e Nunes (2000, p. 64), “é um meio para chegar-se à imagem-objetivo desejada para uma determinada realidade de saúde”. Para os autores, “planejar é prever e organizar as ações para corrigir os problemas de saúde, analisar, estabelecer críticas e avaliar ações depois 6 de executadas, fazendo a sua permanente adequação às necessidades que se apresentam ao longo do caminho”. A programação, enquanto instrumento gerencial, “é considerada um apoio para tomada de decisão, de garantia de eficiência no uso dos recursos, facilitação dos processos de negociação e participação social”, orientando “a condução do processo de organização dos serviços, na medida em que estabelecem objetivos a serem alcançados, bem como as estratégias a serem utilizadas para o seu alcance” (FELISBINO; NUNES, 2000, p. 43). Para os autores, este processo inicia-se com “a identificação e análise dos problemas, determinação das prioridades, identificação dos recursos humanos, [...] instrumento de avaliação, até o acompanhamento da execução e, se for o caso, a determinação de nova ordem de prioridades. É, portanto, um processo participativo que deve permitir a incorporação de todas as experiências que surjam, dentro de um marco comum que lhes dê a consistência e a coerência necessária à sua generalização”. O fisioterapeuta, como membro da Equipe de Saúde da Família (ESF), é imprescindível na organização do trabalho coletivo, pois este depende de uma coordenação que reúna o conhecimento e as habilidades técnicas para que os objetivos assistenciais e organizacionais sejam alcançados (Lunardi Filho e Lunardi, 1996). Com relação à avaliação na área da saúde, esta ocupa lugar de destaque, pois, com o processo de globalização em curso, “assiste-se, com intensidade crescente, o agravamento das desigualdades sociais, que, por sua vez, produzem mais necessidades de cuidados e atenção à saúde” (Gil et al., 2001, p. 126). Evidencia-se, assim, a “importância de se trabalhar em conjunto a avaliação da eficiência, da eficácia e da efetividade”, demonstrando que o fisioterapeuta, enquanto membro da equipe de saúde produz “informações que se contemplam e dão maior consistência ao processo” (Gil et al., 2001, p. 129). Fekete (1999), citada por Sakai et al. (2001, p. 111), aponta que “um dos desafios do SUS é o trabalho em saúde, com profissionais capacitados para o enfrentamento dos principais problemas de saúde, das necessidades dos serviços e da gestão do trabalho”. Estes profissionais devem ser compreendidos como “sujeitos/agentes do processo de mudança e por isso devem ser tratados de forma diferente dos outros recursos necessários para a atenção à saúde”. Com relação à educação da ESF no âmbito gerencial, o fisioterapeuta está apto a 7 realizar a educação permanente de seus componentes, pois “a perspectiva do processo educacional é desenvolver meios da aprendizagem permanente, que permite a formação contínua, tendo em vista a construção da cidadania”. Essa educação “permite buscar e gerar informações, usada para solucionar problemas concretos na produção de conhecimento e de bens ou na gestão e prestação de serviços, é preparação básica para o trabalho” (SÓRIO, 1999, p. 217). Para Ragasson et al. (2003, p. 5), o fisioterapeuta “tem atribuições pertinentes à educação, participando do planejamento e execução de treinamentos e reciclagens de recursos humanos em saúde”. Sório (1999, p. 226) coloca que o fisioterapeuta, na perspectiva da educação permanente, deve ser capaz de “articular intervenções e atividades realizadas com as ações dos demais membros da equipe, destacando o caráter multiprofissional”. Nesta direção, é importante redimensionar a autonomia profissional, articulando os conhecimentos advindos de várias disciplinas ou ciências, em caráter interdisciplinar. A interdisciplinaridade possibilita “a prática de um profissional se reconstruir na prática do outro”. Como o objetivo é “obter melhor impacto sobre os diferentes fatores que interferem no processo saúde/doença, é importante que as ações tenham por base uma equipe formada por profissionais de diferentes áreas”. Todos os membros podem agregar conhecimentos das demais áreas da saúde num processo de construção permanente (BRASIL, 2001, p. 74). Uma das características do PSF é o desenvolvimento do trabalho multiprofissional, que, na visão de Peduzzi (2001, p. 108), é “uma modalidade de trabalho coletivo que se configura na relação recíproca entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos agentes de diferentes áreas profissionais”. Neste contexto, o fisioterapeuta e todos os membros de uma ESF devem conhecer o trabalho de toda equipe, as atribuições específicas de cada profissional e as comuns à equipe, tanto na USF como no domicílio e na comunidade. A troca de conhecimentos e informações e a participação na formação e no treinamento de pessoal também são fundamentais para o desenvolvimento do trabalho em equipe, pois a valorização de diferentes saberes e práticas contribui para a integralidade e a resolutividade das ações de saúde (BRASIL, 2001). Com relação aos materiais e equipamentos usados nas USF, Mandelli (1997, p. 238) assinala que estes dependem “das próprias características do processo de produção a que ele tem que atender”. Um dos objetivos da gestão desses materiais é “suprir, 8 em quantidade e qualidade, o mais próximo possível do momento em que se dá o uso e com o menor custo possível”, pois as unidades de saúde necessitam destes materiais, para a produção dos serviços relacionados com seus objetivos. O profissional deve conhecer o trabalho de toda equipe, as atribuições específicas de cada profissional e as comuns à equipe, tanto na USF como no domicílio e na comunidade. A troca de conhecimentos e informações e a participação na formação e na educação permanente do pessoal também são fundamentais para o desenvolvimento do trabalho em equipe, pois a valorização de diferentes saberes e práticas contribui para a integralidade e a resolutividade das ações de saúde (BRASIL, 2001). O fisioterapeuta como membro atuante na ESF, tem a oportunidade de realizar a gerência desta e da USF, devido ao perfil profissional que lhe é atualmente oportunizado na graduação e especializado na pós-graduação. OBJETIVO O presente estudo objetivou identificar as funções gerenciais do fisioterapeuta que atua no programa saúde da família na cidade de Cascavel/PR. METODOLOGIA O presente estudo caracteriza-se por ser de caráter exploratório-descritiva, pois, segundo Triviños (1987), a pesquisa exploratória permite ao pesquisador aprofundar suas análises nos limites de uma realidade específica, buscando antecedentes e maiores conhecimentos, a fim de subsidiar uma análise mais específica. A pesquisa descritiva tem como objetivo a “descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”, sendo uma de suas características a “utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados” (Gil, 1999, p. 43). A população do presente estudo foi constituída por dois (2) fisioterapeutas residentes do curso de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, que compõem as equipes do PSF do Ministério da Saúde em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste - Campus de Cascavel/PR. A coleta dos dados foi 9 realizada por meio de um questionário semi-estruturado. A aplicação do questionário foi realizada no local de atuação dos profissionais, no PSF de São João do OesteDistrito do Município de Cascavel/PR. O método para analisar os dados referentes ao perfil dos fisioterapeutas pesquisados foi o quantitativo. Segundo Chizzotti (1998, p. 51), a mensuração de variáveis preestabelecidas procura “verificar e explicar sua influência sobre outras variáveis, mediante a análise da freqüência de incidências e de correlações estatísticas”. Para analisar as questões do estudo, utilizou-se o método qualitativo, o qual se fundamenta em “dados reunidos nas interações interpessoais, na co-participação das situações dos informantes, analisadas a partir da significação que estes dão aos seus atos”. Os novos aspectos descobertos na análise qualitativa são investigados, com o objetivo de orientar ações que transformem a realidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 apresentam-se os dados a respeito do perfil profissional dos fisioterapeutas pesquisados: Tabela 1 - Distribuição do perfil dos pesquisados Variável Sexo Idade Estado civil Universidade de graduação Tempo de formado Área de atuação Tipo de pós-graduação Renda mensal Descrição Feminino 25 anos 29 anos Solteiro Salesiano de Lins Unaerp 2 a 4 anos Residência no PSF Ortopedia e traumatologia desportiva R$ 1.459,58 TOTAL FA 2 1 1 2 1 1 2 2 1 FR 100 50 50 100 50 50 100 100 50 2 2 100 100 FA = Freqüência Absoluta / FR = Freqüência Relativa Verificou-se que os dois pesquisados (F1 e F2) são do sexo feminino (100%). Quanto à faixa etária, constatou-se que a média de idade entre os pesquisados é de 27 anos, sendo que um tem 25, e o outro 29 anos. Na variável estado civil, observou-se que 100% são solteiros. Estes achados justificam-se, devido ao fato de o curso de 10 graduação em fisioterapia ter apenas 36 anos de aprovação e regulamentação profissional, tratando-se, portanto, de um curso superior recente, com profissionais jovens sendo inseridos no mercado de trabalho. Quanto à universidade de graduação, os dos pesquisados graduaram-se em universidades localizadas no Estado de São Paulo. O tempo de formação é de 2 a 4 anos. Quanto à área de atuação, 100% cursam o Programa da Residência Multiprofissional em Saúde da Família, de caráter integral. O tipo de pós-graduação declarado foi à área de ortopedia e traumatologia desportiva. Para 100% a renda deriva da bolsa-auxílio integral por dois anos. Quanto às ações gerenciais questionadas aos pelos fisioterapeutas, pontuou-se primeiramente, pelo F1: auxiliar quanto aos programas desenvolvidos em uma UBS. Segundo Botazzo (1999), os programas das UBSs acompanham grupos, como, por exemplo, menores de um ano, gestantes, idosos, hipertensos, diabéticos, tuberculosos, desnutridos, e são responsáveis por realizar a vigilância em saúde no território sob sua responsabilidade, estabelecendo vínculo com a comunidade e com outros setores da sociedade. Nota-se que “a eficiência, eficácia e efetividade da gestão da UBS são medidas pela avaliação dos resultados e de seu impacto nos problemas de saúde da população” (BERTUSSI, 2001, 139p.). A resposta do F2, quanto à outra ação gerencial, diz respeito à avaliação dos programas que são desenvolvidos por toda a equipe. Na visão de Gil et al. (2001, p. 129-130), “o ato de avaliar está sempre dotado de uma concepção que determinado ator social tem de um processo e reflete o quanto ele deseja produzir transformações no âmbito de sua atuação”. Para os autores, “o uso da avaliação, com a construção de indicadores pertinentes às realidades locais, pode contribuir não apenas com o trabalho gerencial, mas com todo processo de planejamento”. Novamente quanto às ações gerenciais pontuadas pelos fisioterapeutas pesquisados, observou-se que F2 descreveu o planejamento junto com a equipe, interagindo com os profissionais. Neste contexto, Gil et al. (2001, p. 125) expõem que “planejar é elaborar um plano de ação com base em prioridades definidas, em recursos disponíveis ou a serem conseguidos”. Os planejamentos das atividades são realizados por toda equipe de saúde, de forma semanal, objetivando organizar as atividades a curto, médio e longo prazo, conforme a necessidade apresentada. Bertussi (2001) complementa que a consolidação do planejamento estratégico local prevê, que as ações na USF devem ser realizadas mediante identificação dos problemas e de 11 propostas de intervenção a estes problemas, e que “o processo de trabalho se dá entre os profissionais que compõem a equipe e suas funções estão dispostas em protocolos clínicos e epidemiológicos. O entendimento de Véras (2002, p. 56), sobre o trabalho em equipe é “para que o trabalho ocorra de forma interdisciplinar é necessária uma boa relação entre os fisioterapeutas e os membros das equipes”. Em seus estudos, a autora observou que “os fisioterapeutas estão conseguindo integrar-se de maneira positiva em seus trabalhos na ESF”. Porém, na visão dos outros membros da equipe, o pouco tempo disponível do fisioterapeuta na unidade de saúde dificulta uma maior interação. Este fato ocorre, pois o fisioterapeuta não faz parte da equipe mínima da USF, havendo uma carência deste profissional, que acaba atendendo apenas quando há uma demanda reprimida na área. Observa-se que, historicamente, a formação de recursos humanos na saúde e as práticas assistenciais, sempre mantiveram uma estreita relação, influindo mutuamente uma sobre a outra. Contudo, a alteração das diretrizes curriculares do curso de Fisioterapia que prevêem: “a formação do Fisioterapeuta deverá atender ao sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde no sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-referência e o trabalho em equipe”, demonstra as atuais propostas de reforma deste ensino, que vem se pautando na concepção de que o fisioterapeuta deve estar apto para atuar em uma realidade de serviço, circunscrita por uma necessidade social (STRAUB, 2003). CONCLUSÃO O resultado da identificação do perfil apontou que os pesquisados são do sexo feminino, com média de idade de 27 anos, solteiros, com pós-graduação. A análise qualitativa evidenciou que as atividades descritas pelos fisioterapeutas permitiram o reconhecimento da sua prática, e a sua relação interprofissional com a equipe que atua nos serviços de saúde. Quanto à prática sanitária, é necessário repensar o processo de trabalho na sua totalidade, pois sua atuação no PSF deverá ser holística. As atividades assistenciais, gerenciais, educativas e comunitárias desenvolvidas pelos profissionais pesquisados são direcionadas a todas as fases do ciclo de vida do ser humano, com o objetivo de melhorar sua qualidade de vida. Conclui-se que o 12 fisioterapeuta deve continuar sua atuação no PSF, desvinculando-se das ações estritamente reabilitadoras, e buscando ampliar seus horizontes na perspectiva de mudança das práticas de saúde, tornando-as realmente interdisciplinares e intersetoriais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCALDE, A. P. et al. Rehabilitación y fisioterapia en aténcion primária: guía de procedimentos. Servicio Andaluz de Salud. Conjesería de la Salud. Junta de Andalucía. Sevilla: Tecnographic, 2003. 79 p. ALVANHAN, R.A.M. et al. Vigilância epidemiológica. In: ANDRADE, S.M.; SOARES, D.A.; CORDONI JÚNIOR, L. (Org.). Bases da saúde coletiva. Londrina: UEL, 2001. cap. 11, p. 211-230. ANDRADE, S. M.; SOARES, D. A. Dados e informação em saúde: para que servem? In: ANDRADE, S.M.; SOARES, D.A.; CORDONI JÚNIOR, L. (Org.). Bases da saúde coletiva. Londrina: UEL, 2001. cap. 9 , p. 161-181. BERTUSSI, D. C. et al. A Unidade Básica no Contexto do Sistema de Saúde. In: ANDRADE, S. M.; SOARES, D. 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