GRANDE ENTREVISTA O crepúsculo de um deus Paula Moura Pinheiro - Quando é que se lembra de si a ter consciência da velocidade a que o tempo passa? Luís Figo - Quando se dá conta de que o tempo passou a correr é quando se está prestes a terminar um ano de competição ou prestes a terminar o ciclo de um contrato que se teve com um clube ou, claro, quando se está prestes a terminar a carreira desportiva. PMP - Sim, mas eu pergunto quando é que começou a ter a percepção Filho único de um casal dos arredores de lisboa, Luís Figo fez-se de que a ampulheta estava a correr contra si… Quando é que começou a sentir a pressão de que a sua vida como futebolista estava em con- um dos dois portugueses mais famosos no mundo. Não sendo o outro Luís de Camões. Aos 34 anos, Luís Figo conta aqui muito do que sente sobre a sua extraordinária vida que, como glória activa nos campos de futebol, está no seu penúltimo tempo. E na eminência de um grande final… tra-relógio? – Bom, quando se tem 13 anos, que foi quando comecei a jogar no Sporting, não se tem nunca a percepção de que a vida passa a correr. Aos 13 anos estamos completamente tomados pelo presente. Com 13 anos eu só queria jogar futebol. Nessa altura, não me passava pela cabeça que a minha profissão viria a ser futebolista. Era um sonho que eu não acreditava possível de ser realizado. Claro que com o tempo, não muito tempo, foi-se tornando um objectivo e um objectivo cada vez mais forte – de acordo com os patamares que ia atingindo. Mas não havia, nesse período inicial, qualquer espaço para a percepção de que, caso viesse a ser futebolista profissional, teria, forçosamente, uma carreira curta – os atletas têm-na sempre. Creio que foi só aos 17 anos, quando comecei como profissional, que fui confrontado com essa ideia pela primeira vez. Porque comecei a trabalhar, a treinar, a lidar com companheiros mais velhos e a aprender com os seus casos. LF PMP – Foi aí que compreendeu que, por exemplo, com 34 anos, que é hoje a sua idade, é-se quase demasiado velho para futebolista. – Sim. Compreendi racionalmente, mas não era algo que eu vivesse como uma percepção aguda, condicionadora. Quando se tem 17 anos ainda se está completamente no presente, a ideia do futuro permanece abstracta. Não é como agora, que gostava que o dia tivesse 48 horas… aos 17 anos não sentia que me faltava ou haveria de faltar o tempo: era feliz simplesmente a praticar desporto. Com o tempo, as responsabilidades aumentaram e as necessidades também – tudo se tornou mais complicado… LF e n t re v i s t a d e Pa u l a Mo u r a Pi n h e i ro e m Mi l ã o > f o t o s H a m i s h Brow n , , Luis Figo PMP - Hoje, a sua relação com a ideia do tempo é De certa forma é. A consciência aguda de que não vou poder jogar para sempre, não é fácil… mas tento preparar-me o melhor possível para quando chegar o momento em que tiver de fazer outra coisa – não digo retirar-me, digo fazer outra coisa – não tenha tanta… dor. LF - PMP - Há quem diga que no Inter de Milão voltou a jogar com a intensidade de um garoto. Ao Zidane parece que está a acontecer a mesma coisa. É uma mesmo que o que sentia era verdade – que posso ainda jogar a um alto nível – é da maior importância. Além disso, tendo tido uma carreira positiva quero acabá-la o melhor possível. Sim, mas o frio eu aguento bem. Aquilo de que sinto mais falta, mais que do bom clima, é da luz – da luz do Sul. Milão parece que tem sempre uma camada que paira sobre a cidade e que não deixa passar a luz. Barcelona, Madrid, Lisboa são cidades muito luminosas. Aqui, às sete da manhã é de noite e às quatro da tarde é de noite. O espaço de tempo para viver com luz é pouco – é isto que mais me custa em Milão. necessitasse e eu tenho-o como um irmão. Falamos bastante ao telefone, mas a verdade é que nos vemos pouco por termos vidas muito desencontradas. Jogamos nas equipas rivais de uma cidade que só tem um estádio e, portanto, quando eu jogo em casa, ele joga fora e vice-versa; eu treino de manhã, ele treina à tarde; eu vivo em Milão, ele vive em Varese – não temos disponibilidade para estarmos juntos com frequência. Mas falamos muito ao telefone e cada um de nós acompanha de perto o que se passa com o outro. PMP - Tenho a ideia de que os italianos conseguem PMP - Quem são os seus grandes amigos? São pes- PMP - É sempre duro quando isso acontece, mas ser ainda mais radicais que os espanhóis a viver a soas que traz da sua juventude portuguesa ou são quando se tem já pouco tempo de vida profissional paixão pelo futebol. É assim? estrelas do futebol mundial como o Luís? deve ser desesperante. Não. A forma de viver o futebol, a paixão pelo futebol, é igual em toda a parte. Pelo menos entre latinos. Nesse aspecto, não vejo diferença entre espanhóis e italianos. LF - PMP - Dá-se ainda o caso de praticamente não ter podido jogar nos seus últimos tempos de Madrid… Sim, de não ter podido jogar como desejava e como sabia que poderia jogar. Nos últimos três, quatro meses de Real Madrid aconteceu-me o que pode acontecer a qualquer profissional: a escolha do treinador não recaiu sobre mim. LF - espécie de canto do cisne? Não sei. Acho que nunca me limitei em termos de esforço, sempre tentei dar o meu máximo em todas as situações – estivesse ou não em campeonatos do mundo. Não sei limitar o meu esforço. Vir esta temporada para o Inter de Milão foi um desafio muito bom: eu sentia que tinha condições para jogar ainda a um alto nível e tinha de o demonstrar a mim mesmo. Uma coisa é o que os outros dizem – e pode ser importante, dependendo de quem são os outros – outra coisa é o que eu sei sobre mim. Demonstrar-me a mim LF - 22 < ESPIRAL DO TEMPO LF - Foi muito frustrante, sim. A verdade é que po- dia ter continuado em Madrid se quisesse ter uma vida tranquila – tinha um bom contrato, podia deixar-me estar sossegado. Mas não sou assim. Quero acabar a minha carreira com a máxima dignidade possível: jogando, como tenho feito estes anos todos. Por isso optei pelo Inter, onde, de facto, posso jogar como tenho jogado. PMP - E Milão? Depois de Lisboa, Barcelona, Madrid um pouco frio, não? LF - LF - PMP - O Rui Costa já cá estava quando chegou a Milão. São da mesma geração de ouro do futebol português. Ele ajudou-o a adaptar-se à cidade? LF - O Rui pôs-se à disposição para o que eu Com o meu nível de vida profissional e económico é sempre difícil fazer amizades com gente com uma vida diferente. Nós, futebolistas, tendemos a ser casos atípicos: a constituir família muito cedo, por exemplo, como aconteceu comigo. Logo por aí é difícil encontrar pessoas fora do futebol que, tendo a minha idade, estejam na mesma situação familiar que eu, que fui pai aos 25 anos. O meu ritmo de vida, as minhas respon- sabilidades são muito diferentes das da maioria dos homens da minha geração. O nível económico, é escusado negá-lo, é um factor que tem também influência – é difícil manter relações estreitas com pessoas que não vivem como eu e a minha família. A maioria dos meus amigos são pessoas do meu meio profissional. Diversos momentos na vida de um craque: dentro e fora do relvado, ao serviço da selecção nacional ou do clube. 1 angustiada? Luis Figo PMP - E os egos das estrelas não tendem a entrar em colisão? Isso acontece em todas as actividades. Há sempre egos desproporcionados, rivalidades, mas é perfeitamente possível, também, ter bons amigos entre pares. LF - PMP - O Ronaldo e o Zidane, por exemplo? Sim, por exemplo. São ambos pessoas com um enorme prestígio, o que não impede uma boa amizade entre nós todos. Profissionalmente tento sempre relacionar-me bem com todos os meus colegas, depois há factores que fazem com que se levem, ou não, os colegas para a nossa vida pessoal. Factores como o relacionamento entre as nossas famílias, se têm crianças ou não, LF - ESPIRAL DO TEMPO > 23 , Luis Figo É difícil encontrar pessoas fora do futebol que, tendo a minha idade, estejam na mesma situação familiar que eu, que fui pai aos 25 anos. O meu ritmo de vida e as minhas responsabilidades são muito diferentes das da maioria dos homens da minha geração. por exemplo. Isso aconteceu-me em todo o lado – é mais fácil ligarmo-nos a quem tem o mesmo ritmo de vida que nós. PMP - Custa mudar de cidade? Os amigos, as escolas para as crianças… LF - É muito mais complicado para a minha mu- lher e para as minhas filhas que para mim, que vivo dentro do campo e que, onde quer que esteja, mantenho o mesmo tipo de vida. Aquilo de que senti mais receio nesta opção pelo Inter de Milão foi da instabilidade que isso causaria à minha família, porque elas estão aqui por mim, não estão por mais nenhuma razão. E a instabilidade emocional, social pode causar problemas dentro de casa. E, de facto, passámos momentos difíceis quando chegámos aqui, mas conseguimos ultrapassá-los. negociações complicado, que envolveu várias pessoas, e eu não quis defraudá-las – senti-me obrigado a honrar os compromisos que tinha assumido, quis ser correcto. Felizmente, o meu balanço da ida para o Real Madrid é positivo, mas podia não ter sido: passei um ano difícílimo e acabei por apostar a minha vida profissional e pessoal nas mãos de pessoas que, com o passar do tempo, revelaram não ser merecedoras da confiança que eu depositara nelas. É assim a vida. Mas eu tento manter-me correcto, tanto dentro como fora do campo. PMP - O que é que mudou em si com essa experiência? Sofreu, inclusive, ameaças de morte… LF - Fez-me mais forte. Cada vez que ia, que vou jogar a Barcelona eu sei que por detrás de todo aquele sentimento existe… Barcelona, há sempre um tonto que implica connosco. PMP - Pode compreender-se a imunidade que é necessário desenvolver em relação a certas coisas para poder sobreviver. Mas há outras situações que podiam ser evitadas. Por exemplo, por que razão fez questão de marcar todos os cantos assim que foi para o Real Madrid? LF - Não sei. Esse foi um ano muito difícil. Tinha os olhos todos postos em mim, sentia a imensa pressão de ter de demonstrar, de ter de ganhar. Acontece que vivo bem sob pressão, porque, de certa forma, mantém-me alerta, mantém-me desperto. Claro que é desgastante, mas mantém-me ainda mais concentrado, ainda mais disciplinado – o que me faz abstrair do que está a acontecer fora do campo. A jogar nessas condições, por mais próximo que esteja alguém a insultar-me, nem ouço. PMP - O divórcio profissional mais duro que já teve PMP - … desculpe, mas quando fala de ‘sentimento’ não foi de Madrid, foi de Barcelona. O que é que uma está a ser muito suave. O que há são manifestações experiência tão violenta como a que viveu nesse pro- de raiva, para não dizer de ódio… PMP - No texto de apresentação que escreve no livro cesso – passar de deus a demónio, de um momento LF - … mas eu compreendo isso. Claro que se sou estimado num sítio e me passo para o seu rival – ainda mais com uma campanha mediática contra mim, como a que existiu – a reacção dos adeptos só pode ser a que foi. Não levo a mal. Enquanto forem só insultos, não levo a mal. O futebol é assim. Agora se me acontece alguma coisa, a conversa é outra… que saiu sobre si em 2005, diz uma coisa curiosa: diz para o outro – mudou em si? Muito poucas pessoas sabem o verdadeiro motivo porque mudei do Barça para o Real Madrid. Em Barcelona eu tinha tudo o que se pode desejar em termos pessoais e profissionais. É verdade que o contrato que me ofereceram em Madrid era melhor, não vou negar isso, não vou negar que foi financeiramente vantajoso mudar para Madrid. Mas isso não teria sido suficiente para me fazer sair de Barcelona, que era uma cidade que eu adorava e que, com o tempo, me haveria de dar o que Madrid me estava a oferecer. O facto é que aquilo foi um processo de LF - PMP - Visivelmente, considera que os insultos não entram na categoria das coisas más que podem acontecer-lhe. LF - Tenho de considerar, senão dava em maluco. Em qualquer jogo, mesmo que não seja em que conheceu atletas melhores, mas que aquilo que o distingue a si, Luís, é a sua determinação. Determinação que, segundo escreve, deve ao Sporting. Eu nasci e cresci como jogador com o lema do Sporting, lema que nunca me abandonou ao longo da minha carreira: Esforço, Dedicação, Devoção e Glória. Isto acompanha-me desde pequeno, porque foi desde pequeno que tive de fazer um esforço para ir treinar. Eu morava na margem Sul do Tejo e vinha todos os dias para o Estádio de Alvalade. Com doze anos, a seguir à escola, apanhava o autocarro do sítio onde vivia, para lá de Almada, depois o barco, depois o LF - ESPIRAL DO TEMPO > 25 , Luis Figo metro – tudo para chegar ao treino. Todos os dias, fizesse chuva ou Sol, fazia isto, primeiro com amigos, depois sozinho. E não podia chumbar na escola porque senão os meus pais não me deixavam continuar no futebol. Isto é esforço e dedicação. PMP - Sem querer diminuir a importância do Sporting na sua formação, se calhar essa capacidade de esforço e de dedicação trazia-a já de casa e o mérito do Sporting foi ter reconhecido em si essas qualidades. O que fizeram de especial os seus pais por si? Agradecerei para sempre aos meus pais a forma como me educaram para a responsabilidade. Desde muito cedo transferiram para mim a responsabilidade de não os desapontar na confiança que depositavam em mim. LF - profissional. Não compreendia como era possível que se opinasse com tanta ignorância sobre o nosso trabalho. Falar no café da esquina está certo, todos devem poder fazê-lo. Mas ter um espaço de influência na opinião pública sobre profissionais, quando o próprio crítico não é, ele mesmo, um profissional desta área, isso é que já tenho mais dificuldade em entender. Seria o mesmo que eu, que sou futebolista e nunca me dediquei a estudar outro assunto, tivesse uma coluna de opinião sobre arquitectura. Mas até isso, com o tempo, já não me incomoda. Olhe, preciso de dormir. Não dormir o suficiente é algo que me fragiliza. PMP - Os valores pagos a estrelas de futebol como o Luís Figo são muitas vezes objecto de críticas, mas nem sempre se diz que os clubes, bem geridos, podem ir buscar isso e muito mais convosco. Chama-lhes um figo A colecção de instrumentos do tempo de Luís Figo é deliciosa e revela um maduro conhecimento da relojoaria. O primeiro a ser destacado tem de ser o TAG Heuer ‘Luís Figo’, um modelo de edição limitada personalizado e assinado pelo astro português que coloca em PMP - Sendo filho único, imagino que todas as expectativas dos seus pais estavam centradas em si. LF - Sim. Mas não era tanto no sentido de quere- rem que eu fosse o melhor. Eles não ligavam muito ao facto de eu estar a fazer futebol, por exemplo. O que eu sentia era que não devia, não podia defraudá-los. Não podia fazer porcaria… destaque no mostrador o número 7; para além desse relógio que lhe é dedicado (numa PMP - O seu pai era do Sporting? feliz adaptação especial da série 6000), Figo Não, o meu pai era do Benfica. Mas naquela altura dizia-se que o Benfica só aceitava gente grande e eu era pequenino – como é que ia lá?… Foi por isso e por ter amigos que jogavam nas camadas jovens do Sporting que fui treinar para o Sporting. tem ainda dois históricos modelos da linha Classics da TAG Heuer: o Carrera e o Monaco. Mas a sua grande paixão são as criações da autoria de Franck Muller: o próprio jogador conhece o genial mestre genebrino e já visitou a sede da marca em Watchland, nos arredores LF - Não vou queixar-me, porque faço aquilo de que gosto e sou muito bem pago para isso. Também acrescento que só ganho aquilo que me querem pagar – se há quem acha que é demais, que fale com quem nos paga e averigue se nós, futebolistas, não geramos também muito dinheiro. A vida de um futebolista profissional é puxada. Para mim, pessoalmente, são cerca de 60 jogos por ano e, muitas vezes, jogados em condições difíceis: depois de longas viagens, noutros fusos horários, noutros climas, sob imensa pressão. Não me queixo, mas não são tudo rosas. LF - PMP - Esta sua participação no Mundial é tudo aquilo com que sempre disse ter sonhado. Acontecer nesta fase da sua carreira é particularmente emocio- de Genebra; tem um Long Island em ouro branco e fundo preto de uma série limitada PMP - O Sporting foi circunstancial. encomendada pelo ex-presidente merengue LF - Calhou, sim. Florentino Perez para comemorar a vitória na final da Liga dos Campeões em Glasgow PMP - Uma das coisas extraordinárias consigo é que, (2002), um Long Island em ouro branco com ao longo de vinte anos de futebol, nunca se lesionou. diamantes que lhe foi oferecido por um sheik É uma espécie de Aquiles. Qual é o seu calcanhar? O do Dubai e ainda um Transamerica. Entre ou- que é que o vulnerabiliza? tras preciosidades, possui igualmente um IWC LF - O que me deita abaixo é perder (risos)… Português Calendário Perpétuo em ouro bran- nante. Tem o carácter de ‘agora ou nunca’. Sim, mas não se pense que estou mais nervoso do que estaria se estivesse noutro campeonato qualquer. Não estou. Não vejo as competições dessa forma: agora ou nunca. LF - PMP - Bom, mesmo que prolongue a sua carreira por mais uns anos é evidente que esta é a sua última oportunidade num Mundial. co e um espampanante Jacob & Co. cravejado PMP - E os críticos nos media? LF - Não vejo isto como uma coisa de vida ou de de diamantes com mostrador dividido em cin- LF - Nos meus primeiros anos de carreira irritava- morte, ou como uma última oportunidade, como diziam de mim no Europeu. Tento desfrutar o momento. Sei que é único poder jogar co fusos horários. MIGUEL SEABRA 26 < ESPIRAL DO TEMPO -me com o desplante das críticas de pessoas que não fazem a mínima ideia do que é o futebol , Luis Figo Ela fez sacrifícios por mim de que eu não me esqueço nunca. Prescindiu de ter uma carreira própria para me acompanhar na minha carreira e educar as nossas filhas – não há nada que possa expressar a gratidão que lhe tenho por isso. num Europeu ou num Mundial, mas não transcendo essa abordagem do facto. Sempre fui muito contido nos sentimentos relativamente a estas situações. PMP - É uma boa estratégia emocional para conter a jogar à bola com o meu rapaz, mas agora sinto-me tão preenchido com as minhas três filhas que nem penso mais nisso. Não me faz falta nenhuma um rapaz. Estou encantado com elas. E damos na mesma uns toques de futebol lá em casa. ansiedade. Mas não sentir a pressão da expectativa dos PMP - Tem a noção de que é um homem com muita sorte? Sim. Mas também tenho consciência de que trabalho muito para a sorte que tenho. Ainda que seja verdade que, nas encruzilhadas da vida, escolhi sempre o caminho certo. E isso, sim, agradeço à sorte. LF - três mil milhões de espectadores que terá no Mundial de PMP - Teve o mérito de ter sabido construir uma Futebol é quase do foro do sobre-humano. família que parece ser o seu castelo. Muito provavel- PMP - Foi por querer devolver a outros alguma da LF - Tento mente, a sua casa é a sua família. sorte que teve que criou a sua fundação? É verdade. Desde que eu esteja bem com a minha família, com a minha casa, estou bem em qualquer parte do mundo. LF - Para ser sincero, criei-a porque fui aconselha- sentir o prazer. Gozar o facto de estar aqui, a participar nisto. Mas não posso nem vou estar a pensar nesses três mil milhões de pessoas. Quero apenas concentrar-me para fazer as coisas bem feitas, muito bem feitas. Quero ganhar. LF - PMP - E a sua mulher parece ser mais que a sua raiPMP - Nós, os portugueses, queremos que ganhe. nha. Parece ter tido uma influência importante na LF - (risos) Pois, imagino. Vou dar o meu melhor, construção da imagem da ‘marca’ Figo. Era mane- é só o que posso prometer. quim, trabalhava com a imagem. LF - Antes de mais, ela fez sacrifícios por mim de PMP - E se lhe correr muito bem o Mundial pode ainda fazer novos contratos como futebolista de primeira linha. LF - Já não estou a pensar nisso. PMP - Quer jogar mais quanto tempo? Terminava este contrato com o Inter de Milão e, em princípio, acabava. LF - que eu não me esqueço nunca. Prescindiu de ter uma carreira própria para me acompanhar na minha carreira e educar as nossas filhas – não há nada que possa expressar a gratidão que lhe tenho por isso. Ela é importante em todas as frentes na minha vida. E, claro, ter uma família bonita ajuda a ter uma boa imagem. do a fazê-lo pelos meus gestores de carreira. Sendo uma instituição sem fins lucrativos, podia ter vantagens fiscais. Mas como continua sem lhe ser atribuído o estatuto de utilidade pública, nem esse benefício colho. Estou à espera há três anos, é um dos problemas do nosso país: mesmo quando se quer fazer uma coisa boa como esta, os entraves são tantos, é tão cansativo, que a tendência é deixar cair. Mas a fundação vai continuar. Começou, vai continuar. PMP - Imagina-se como o rosto de uma candidatura portuguesa ao Mundial de 2018? LF - Não sei. Estarei sempre associado ao futebol, isso é certo. PMP - Eu falava da sua imagem pessoal, da imagem PMP - Imagine este cenário: o Luís é o rosto da candi- PMP - E se lhe oferecessem um contrato milionário de moda que construiu com a ajuda da sua mulher – datura portuguesa ao Mundial e o José Mourinho é o para a Arábia Saudita? Aceitava? ou seja, de como ela terá arranjado lenha para se seleccionador nacional. Seria uma candidatura com Isso dependeria da minha mulher. Deixava-lhe a ela a decisão. Ela e as minhas filhas já fizeram tantos sacrifícios por mim que eu não as faria passar por mais uma mudança contra a sua vontade. Para dizer a verdade, gostaria de ir um ano para os Estados Unidos da América – para acabar a minha carreira na Liga Americana de Futebol. Gostava disso. Ficava um ano fora, as pessoas esqueciam-me e depois voltava e poderia fazer aquilo que quero fazer a seguir… queimar… Parece que o Luís tem hoje mais fãs mu- grandes hipóteses, não acha? lheres que homens. LF - (risos) Bom, ela também tem muitos fãs… Por aí, somos muito equivalentes. (risos) Depende de como estivermos os dois em 2018… Mas sendo em prol do nosso país estou sempre disponível. PMP - Quanto tempo gasta em autopromoção? PMP - Dar-se-iam bem, o Luís e o José Mourinho? LF - Há sempre uma ou duas coisas por mês que convém aceitar fazer. Já aprendi a seleccionar apenas o que me interessa. Acho que sim. Trabalhei com o Zé em Barcelona, quando ele ainda era segundo treinador, e tenho um bom relacionamento com ele. PMP - Agora, por exemplo, vai ser capa da Marie PMP - Observando de longe, há mais coisas em co- Claire espanhola. Já conhece os truques todos? Sabe mum entre vós do que o facto de serem ambos gran- qual é o seu melhor ângulo nas fotografias? des vencedores: são os dois filhos únicos, da margem O truque é o mesmo para tudo na vida: só aceitar trabalhar com bons profissionais. O que me ensinou a experiência é que os bons fotógrafos fazem milagres…(risos) Sul do Tejo, de carácter contido e muito ligados à fa- LF - PMP - Que é… LF - (risos) Isso agora… LF PMP - Muito bem, não quer falar nisso. Falemos da sua família nuclear. Gostava de ter um filho rapaz? LF - Antes de ter filhos sempre me imaginei a LF - LF - mília. E, claro, ninguém ganha tanto sem querer muito ganhar. Isso também terão em comum. LF - Claro, esse é o espírito. ET ESPIRAL DO TEMPO > 29