Porto Alegre, 01 de novembro de 2014.
“O MAIS IMPORTANTE SÃO AS SINERGIAS DO NEGÓCIO”
Lirio Parisotto fala sobre a compra da Innova e conta um pouco sobre
sua trajetória
Nascido em Nova Bassano, na Serra Gaúcha, foi incentivado pela mãe a
estudar para ser alguém na vida. Formou-se em Medicina, mas
encontrou mesmo seu destino como empreendedor na maior indústria
de mídias virgens e pré-gravadas do Brasil. Conheça nessa conversa as
superações e chances que, bem aproveitadas, fizeram da Videolar
referência em seu negócio. E hoje uma petroquímica de porte, pronta
para crescer.
P: Como o empreendedor gaúcho se sente agora que adquiriu uma das
vinte maiores empresas do seu estado natal?
LP: É um retorno cheio de significado. Saí daqui há quase trinta anos. O
Rio Grande do Sul sempre produziu muitos empreendedores__ parece
mesmo algo inato__ mas que muitas vezes não conseguem se desenvolver
na sua própria região. Até que partem. Veja, por exemplo, o oeste do país,
com várias empresas importantes fundadas por gaúchos. Cito o Maggi
(senador Blairo Maggi), entre tantos outros valores. No setor de
churrascarias, então, já ultrapassam fronteiras. O Rio Grande do Sul é, por
ouro lado, um estado onde pouca gente de fora vem iniciar empresas. Em
compensação, exporta empreendedores.
Minha saída efetiva aconteceu em 1988, quando transferi a operação da
Videolar para São Paulo e Manaus. Crescemos, e a empresa se tornou
conhecida através das mídias pré-gravadas e virgens, como os cassetes de
áudio e vídeo, disquetes, CDs, DVDs, discos Blu-Ray, além dos seus
respectivos estojos plásticos. Hoje, vários desses produtos já se foram,
ainda que os trabalhássemos bem, mantendo sempre a liderança absoluta
na área. O fato é que mudaram a tecnologia e os hábitos de consumo.
Mas também nós seguimos dinâmicos.
Em março de 2002 inauguramos uma fábrica de poliestireno em Manaus,
que está operando até hoje. Naquele momento, visávamos ao nosso
consumo próprio de resina (usada nos estojos das mídias), e também ao
atendimento das indústrias da Zona Franca de Manaus, grandes
consumidoras de PS para gabinetes dos televisores, telefones, monitores e
toda essa linha. Havia então um consumo de 80.000 a 100.000
toneladas/ano, o que justificou a montagem da nossa planta, então com
capacidade de 120.000 toneladas/ano. O patamar atual é de 150.000
toneladas/ano.
Retomando sua questão, eu vejo que as pessoas voltam para visitar o Rio
Grande, mas fazer um investimento desse porte, ao adquirirmos uma
empresa do tamanho da Innova, me parece inédito. Outros casos,
desconheço.
P: É natural a curiosidade pela sua trajetória de vida. Onde estava antes
e como chegou até aqui?
LP: Minha história é de domínio público e, depois que inventaram o
Google, ficou acessível a todos. Eu nasci no interior do estado, em Nova
Bassano. Saí de casa relativamente cedo: aos catorze anos estava num
seminário. Quase me tornei padre. De lá parti para estudar Medicina na
Universidade de Caxias do Sul, fazendo depois minha residência no
Instituto Correa Mayer, aqui em Porto Alegre. Ainda na metade da
faculdade montei um pequeno negócio de eletroeletrônicos em Caxias e,
quando me formei, optei por ficar no comércio. Começamos vendendo
eletrodomésticos, televisões, aparelhos de som, calculadoras,
videocassetes. Não existiam os celulares! Em 1987, vendemos nossa
operação para as Lojas Arno (mais tarde adquiridas pelo Magazine Luiza) e
migramos do comércio para a indústria. Na área dos suportes de mídia há
muita importação de componentes, equipamentos e matéria-prima, o que
nos levou como destino natural a Manaus, além de São Paulo. Minha
história seguiu por esse caminho, e a medicina ficou para trás. Sem
prejuízos, pois há excelentes médicos no Rio Grande do Sul.
P: O que a vida lhe ensinou ser necessário__ nos planos pessoal e
profissional__ para conduzir um negócio?
LP: Antes de mais nada, para iniciar um negócio é necessário
conhecimento, informação de qualidade. Saber qual e como é o mercado
existente, seja no caso de serviços ou produtos. Analisar com
profundidade o custo das matérias-primas envolvidas, as pessoas com
quem irá trabalhar e, na essência, o capital necessário para fazer isso tudo
acontecer. Ele será vital para que, gastando o que tem, você vá subindo
degrau por degrau. Eu fico abismado quando vejo as pessoas querendo
montar um negócio sem ter dinheiro. E, bem-vindos ao time, porque para
todo mundo falta capital. Eu comecei sem o auxílio de ninguém, num
negócio pequeno, aceitando equipamentos usados na compra de novos. E
fui, devagarzinho, sempre como prioridade financeira reinvestindo no
próprio negócio. Morei até os quarenta anos em apartamento alugado,
quando a empresa já tinha os seus próprios imóveis. Então, você vai
aplicando o que ganha e__ com conhecimento, controle de custos e
buscando preços de venda adequados, além de manter gente boa
trabalhando com você__ pode chegar ao sucesso. Ele só não virá se o
produto morrer. E aí o negócio muda, como no caso dos suportes e mídia.
Vejo que você está gravando a entrevista com o celular: já não se usa mais
o áudio cassete, e nós perdemos com isso (risos).
P: O que o Brasil e o mercado ganham com a integração da Innova e
Videolar?
LP: Vamos trabalhar no ganha-ganha, para crescer e investir em novos
produtos. Na verdade, o mais importante são as sinergias do negócio:
buscaremos ajustar a produção para atender os mercados mais
regionalmente. Videolar e Innova estão situadas respectivamente nos dois
extremos do Brasil, o que gera excelentes chances de otimização logística.
Alguns grades de resina com menor demanda poderão ser produzidos
apenas numa das plantas. Nutrimos grandes expectativas também quanto
ao intercâmbio de conhecimentos: a Innova mantém um centro de
pesquisas muito importante e os produtos que desenvolve têm alta
relevância para nós. A operação, como um todo, precisa dessas
informações. A Videolar tem também amplo conhecimento a transmitir. O
aproveitamento é mútuo: a integração dos nossos corpos técnicos de
engenharia será um ganho muito importante para os negócios.
P: Além desse aspecto, o que mais lhe atraiu na decisão de comprar a
Innova?
LP: O namoro é antigo: há 10 nós já conversávamos para uma eventual
fusão, inclusive considerando os negócios da Argentina, quando a
Petrobras assumiu o controle da Perez Companc. Àquela época, a coisa
não evoluiu, mas ficou latente. Sentimos que a Petrobras não dava a
devida atenção ao negócio__ não por um erro, mas pela estratégia em si
da companhia. Ela está focada no upstream, na exploração do petróleo,
muito mais do que de seus produtos derivados, como é o nosso caso.
Ficamos de olho para ver se surgia uma oportunidade de que a Innova
fosse vendida. E aconteceu. Os colaboradores já sabem de todo o trabalho
que tivemos para chegar até aqui, o envolvimento de várias pessoas com
as respostas e o atendimento às exigências do CADE (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica).
Tomamos esse caminho também porque o negócio principal da Videolar,
os suportes de mídia, é decadente. E agora se abre a oportunidade de nos
mantermos em um negócio importante. Os faturamentos das duas
empresas sempre foram muito parecidos. A Innova tem o monômero,
enquanto a Videolar dispõe da receita na área dos suportes de mídia,
além dos estojos e tampas plásticas__
fabricamos 200 milhões de
tampas/ mês. Temos também o segmento das chapas de PS, PP, e filmes
de BOPP, em que capacidade produtiva está entre 70 mil e 80 mil
toneladas/ano. Enfim, a Videolar vai continuar com outros negócios, mas
a intenção dessa integração é repassar à Innova a gestão do poliestireno.
A unidade de Manaus estará integrada com unidade de Triunfo. Não faz
sentido manter duas gestões, e nós temos muitos talentos dentro da
Innova. Conforme já disse, acredito que os principais ativos aqui são as
pessoas. E gente não se compra, se conquista. Então temos de mantê-las
do nosso lado para crescermos todos, inclusive com novos produtos.
P: E como fica a marca Innova?
LP: A empresa continua assim denominada, e inclusive já compramos o
domínio na internet, que não pertencia à petroquímica. Todos os
elementos de identificação visual trarão a marca Innova. E pode ser que,
no futuro, nossa planta de poliestireno em Manaus venha também a se
chamar Innova. Vamos observar, com o decorrer do tempo. A Videolar é
uma empresa conhecida pelos suportes de mídia que, desde sempre,
fabricou. Temos de avaliar a mudança da nossa operação, mas a tendência
é de que os negócios do estireno girem sob a marca Innova.
P: Mais planos para o futuro?
LP: O poliestireno, mundialmente, parou de crescer. É uma resina
madura__ se não me engano, foi a primeira a ser descoberta__ e tem seus
usos cativos. Enquanto isso, outras resinas crescem, em ritmo maior do
que o PIB. Sendo assim, não temos para o PS ambições maiores do que
manter uma grande participação de mercado. Há o compromisso
assumido com o CADE em não reduzir a produção, para evitar déficit da
resina no mercado. Mas outras oportunidades estão à espera: o consumo
do monômero de estireno segue crescendo em suas várias aplicações. E
vamos avaliar as resinas novas. Caso consigamos a matéria-prima
necessária, queremos dobrar a produção de monômero, à medida que o
Brasil importa hoje ao redor de 300 mil toneladas. Levando em conta que
metade dessa importação é feita pela Videolar, temos tranquilamente a
capacidade para outra planta na Innova do mesmo porte da existente, de
250 mil toneladas.
P: Algo sobre as resinas com pegada sustentável?
LP: A pegada ecológica é sempre muito boa, e espero que não seja apenas
moda, e sim que evolua. Em Manaus, consumimos 8.000 toneladas de
polibutadieno por ano, que é a borracha. A produção total da Amazônia é
de 7.000 toneladas__ e, se conseguíssemos trocar a borracha sintética
pela natural, teríamos um fornecedor local. Trata-se de estímulo muito
grande, porque o seringueiro coleta o látex na floresta. Em primeiro lugar
se mantém o habitante integrado ao seu meio, numa atividade
autossustentável, pois não se derrubam as árvores, apenas se extrai o
látex. Eu já conversei com o corpo técnico, e todos ficaram muitos
motivados. No mínimo, se não for possível usar 100% da borracha natural,
que seja parcialmente, misturada à sintética. O desafio está lançado para
os nossos engenheiros. Afora isso, a Braskem tem o eteno verde, e vamos
estudar seu uso em algumas aplicações, para clientes que tenham o
interesse de tê-lo em grades específicos de PS. Devemos estar atentos, e
nosso Centro de Tecnologia será continuamente estimulado à desenvolver
novos produtos.
P: Como vê os desafios econômicos para 2015?
LP: Essa pergunta eu só posso responder daqui a dois meses (entrevista
feita em novembro). O fato é que a presidenta levou um susto nessas
eleições. Na verdade, o brasileiro quer mudança, não aguenta mais esse
assistencialismo sem crescimento. E a melhor inclusão social se faz
quando se cresce. O Brasil precisa voltar a essa linha, estamos estagnados,
indo para trás. O voto se tornou do assistencialismo. O socialismo não deu
certo em lugar nenhum, e não será diferente no Brasil. Nós temos
exemplos como o da Venezuela, um país rico com povo pobre. Há Cuba, a
própria Argentina também caminhando para isso. Não precisamos
procurar longe daqui, pois já os temos nos países vizinhos. Eu digo que só
posso responder daqui a dois meses porque tudo irá depender de quem a
presidenta designe para os postos chave. Hoje, ela não dispõe de gente
com porte e peso nos ministérios. Veremos quem vai para pastas
importantes como as do Comércio, Minas e Energia, Fazenda, Agricultura,
Casa Civil e também ao Banco Central. Precisamos de grandes talentos,
gente capaz e com credibilidade para fazer o país crescer. E, se ela não o
fizer, acho que as coisas vão piorar. Isso porque temos uma pauta de
ajustes: o Brasil está com déficit primário já nesse ano. Há ajustes na área
de energia, no custo dos combustíveis. O cenário adiante não é animador,
mas se tivermos a pegada de crescimento as coisas podem melhorar. As
pessoas querem inclusão social e mais do que ganho paliativo. Então,
vamos ver se a presidenta vai continuar no assistencialismo ou levar o país
a sério.
Agora que a transferência de controle acionário já foi concluída, como
será o dia seguinte na Innova?
LP: Será igual ao anterior, sem mudanças radicais. Não vai haver
demissões, nosso desafio é o de fazer mais: produtos, investimentos,
oportunidades na área do estireno, novas resinas, duplicação da planta
de monômero. Desde a primeira reunião que fiz com os gerentes, disse e
torno a repetir que não haverá mudanças traumáticas. A empresa está
bem, tem uma boa gestão, muitos talentos, e o que precisamos é gerar
desafios para melhorar ainda mais. Na vida podemos sempre fazer
melhor. Teremos, sim, alguns ajustes nos dois primeiros meses, como
mudar o domínio de internet e integrar os sistemas. Isso sempre dá
trabalho, mas nossa disposição é grande. O pessoal de vendas da Innova,
em São Paulo, vai trabalhar junto conosco em Alphaville. E, como disse,
haverá a integração das pessoas na operação do poliestireno. Na Videolar,
ele é mais um produto. Na Innova, é o produto. Certamente vamos ter
todos muito para aprender.
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