Universidade Estadual de Goiás. Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Licenciatura Determinação da Idade e Crescimento, através do estudo de otólitos de tucunaré-azul - Cichla piquiti e tucunaré-amarelo - Cichla kelberi, no reservatório de Serra da Mesa (GO) Orientador(a): Hélida Ferreira da Cunha Co-orientadores: Ronaldo Angelini Leo Caetano Fernandes da Silva Orientado(a): Carollinny Vilas Boas dos Passos Anápolis, Junho 2011 Carollinny Vilas Boas dos Passos Determinação da Idade e Crescimento, através do estudo de otólitos de tucunaré-azul - Cichla piquiti e tucunaré-amarelo - Cichla kelberi, no reservatório de Serra da Mesa (GO) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual de Goiás, UnUCET de Anápolis, para obtenção do grau de Biólogo Licenciado. Orientadora: Profª. Dra. Hélida Ferreira da Cunha Co-orientadores: Ronaldo Angelini Leo Caetano Fernandes Anápolis, Junho 2011 “À minha mãe... minha vida, meu espelho, minha muralha!” Agradecimentos Este trabalho só foi realizado com a ajuda e o apoio de muitos, por diferentes razões, agradeço especialmente: Primeiramente a Deus, meu guia, minha proteção. Obrigada pelo dom da vida e pela bondade infinita. Minha rocha, escudo e consolo sempre presente nos momentos mais difíceis. Ao Profº. Dr. Ronaldo Angelini, que foi meu primeiro orientador desde o terceiro período da graduação, por ter despertado meu interesse científico e minha curiosidade em trabalhar com peixes. Por ter tido paciência, confiança, por sempre ouvir minhas propostas e dúvidas durante o processo de criação deste trabalho. Agradeço por mesmo estando longe, ainda me orientar e sempre sugerir novas idéias. Meus sinceros agradecimentos! Ao IBAMA por todo apoio logístico, em especial a Leo Caetano, que foi mais que um co-orientador na conclusão de todo trabalho. Obrigada pelo apoio, incentivo, paciência e amizade. Por ouvir minhas dúvidas (e olha que foram bastantes!) e sempre achar um jeito de saná-las, por me ajudar a executar minhas idéias e pela confiança em meu trabalho. À Profª. Drª.Hélida Ferreira da Cunha, que se tornou minha orientadora. Agradeço pelo interesse que sempre demonstrou em me ajudar, pelas sugestões, por tentar sempre mais entender meu trabalho e sugerir novas coisas. Você sempre será lembrada pela professora tão querida que é. Ao CNPq pelos dois anos de bolsa PIBIC e PIBIC/AF. Não imagino como seriam as coisas sem esta ajuda! A todos professores que me acompanharam durante da vida acadêmica. Muitos serão eternamente lembrados! A todos integrantes do LAB, incluindo a dona Neuza que não trabalho mais conosco no Laboratório. Em especial a Terezinha, por toda alegria e descontração, pelos conselhos. A Jú e Cecília, por compartilharem suas experiências e despertarem sempre a vontade de ir mais adiante sem desanimar. Ao restante do pessoal, agradeço pela parceria e amizade. Às Professoras Carolina Minte-Vera, Ângela e Claudenice, pela recepção sempre que necessária na Universidade Estadual de Maringá. Obrigada pelo apoio, incentivo, pela disponibilidade do Laboratório para que todo material fosse preparado. Aos meus amigos maringaenses Marília Previero, Poliana e Thiago, que me ajudaram e ensinaram a cortar otólitos e a ler. Por sempre responderem aos meus e-mails desesperados, por me fazerem sentir em casa. A todo pessoal envolvido nas coletas: Leo, Luiz, Luiz Alfredo, Daniel, Michel, Nathália, Ruan, Hasley, Herick e Ramila. Vocês fizeram com que o período em campo fosse muito prazeroso. Obrigada pelas risadas, pelo apoio, pescarias e novamente pela amizade. Sinto muita saudade das coletas. Aos meus amigos Anna Claudia, Gustavo, Adrielly, Marina, Rodrigo, Sergio, Renato ( Panda), Gabriel, Caio, Lorena e Thiago (Titi). Vocês foram mais que amigos, foram minha família! Obrigada por estarem sempre do meu lado, me apoiando, dando força, incentivando e acreditando em meu potencial. Jamais me esquecerei de vocês! Aos amigos de sala: Thaís, Lucas, Thiago, Joaby, Gabby, Carol Jansen, Mioshi e Daniel, pelos momentos alegres e de descontração que tive com vocês. Guardarei lembranças de todos. À todas minhas companheiras de apê: Sabrina, Renata, Winnie, em especial a Lucila, que esteve os quatro anos comigo. Agente sobreviveu à convivência, e à rotina! Obrigada por ter me agüentado! Aos meus pais Reginaldo e Maria Elizabete e a minha irmã Déborah por todo o incentivo e confiança durante esta etapa de minha vida. Pelo apoio financeiro conselhos e broncas, pela força nos momentos de dificuldades de desânimo, pelo amor e carinho. É inestimável meu amor por vocês! Enfim e especialmente à toda minha família, avós, tios, tias, primos e primas, em especial à minha avó Luiza, pelo apoio financeiro, pelo amor, carinho, cuidado e por ser minha segunda mãe. Te amo vovó! ii SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................................. 10 ABSTRACT............................................................................................................................. 11 1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 12 2. OBJETIVOS........................................................................................................................ 16 2.1. Objetivo Geral.................................................................................................. 16 2.2. Objetivos específicos........................................................................................ 16 3. METODOLOGIA............................................................................................................... 17 3.1. Área de estudo e Amostragem.......................................................................... 17 3.2. Metodologia para leitura de anéis de crescimento em otólitos......................... 18 3.3. Parâmetros de crescimento............................................................................... 20 3.4. Relação Peso x comprimento........................................................................... 20 3.5. Incremento Marginal Relativo.......................................................................... 21 4. RESULTADOS ................................................................................................................ 22 4.1. Parâmetros de Crescimento.............................................................................. 22 4.2. Relação Peso x Crescimento............................................................................ 25 4.3. Incremento Marginal Relativo.......................................................................... 26 5. DISCUSSÃO..................................................................................................................... 29 6. CONCLUSÃO................................................................................................................... 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 34 iii LISTA DE FIGURAS Figura 01. Localização do reservatório da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa e municípios adjacentes ................................................................................................................................ 17 Figura 02. Exemplar de C. kelberi (A) e C. piquiti (B) ...................................................................... 18 Figura 03. Metodologia utilizada para retirada dos otólitos ................................................... 18 Figura 04. Vista dorsal evidenciando a localização da sagitta ............................................... 19 Figura 05. Metodologia utilizada para corte e montagem de lâminas para leitura das sagitta 19 Figura 06. Curva de crescimento estimada para tucunaré amarelo (C. kelberi) ......................23 Figura 07. Distribuição de resíduos avaliada através da leitura dos anéis de C. kelberi ........ 24 Figura 08. Curva de crescimento estimada para tucunaré azul (Cichla piquiti) ..................... 24 Figura 09. Distribuição de resíduos avaliada através da leitura dos anéis de C. piquiti ......... 25 Figura 10. Relação Peso X Comprimento para indivíduos de C. kelberi ............................... 25 Figura 11. Relação Peso X Comprimento para indivíduos de C. piquiti ............................... 26 Figura 12. Média mensal e desvio padrão do incremento marginal relativo de Cichla kelberi ...................................................................................................................................................27 Figura 13. Média mensal e desvio padrão do incremento marginal relativo de Cichla piquiti ...................................................................................................................................................27 Figura 14. Valores médios nos meses coletados do incremento marginal relativo (IMR) nos otólitos de C. kelberi e C.piquiti e a variação do nível do lago .............................................28 iv LISTA DE TABELAS Tabela 01- Número de anéis nos otólitos de C. kelberi com respectivas médias e desvio padrão do comprimento total e número de amostras .............................................................. 22 Tabela 02- Número de anéis nos otólitos de C. piquiti com respectivas médias e desvio padrão do comprimento total e número de amostras .......................................................................... 23 Tabela 03- Médias dos IMR para C. piquiti e C. kelberi nos meses de coleta ....................... 28 v Lista de Abreviações IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IMR- Incremento Marginal Relativo. UHE- Usina Hidrelétrica. 10 RESUMO Atividades de pesca podem levar a diversas alterações nos ecossistemas aquáticos. Muitos pescadores acreditam que a pesca seletiva de peixes maiores causam danos menores, gerando uma sobrepesca sobre estes peixes. A determinação de idade é um fator imprescindível para manejo dessas espécies. O presente trabalho visa determinar a idade através do estudo de otólitos de tucunaré azul- Cichla piquiti e Tucunaré amarelo- Cichla kelberi no reservatório de Serra da Mesa. O trabalho foi realizado na UHE de Serra da Mesa, próxima à divisa com o Estado de Tocantins (entre os meridianos 49° 30’ e 48° W e os paralelos 13° e 15° S). Os otólitos foram coletados no período de agosto de 2009 a dezembro de 2010. Foram escolhidos os otólitos (saggitas) e as leituras foram efetuadas em lupa esteroscópica. As marcas de crescimento foram validadas através do IMR (Incremento Marginal Relativo), e foram encontrados um anel/ano. Os valores para o parâmetro de crescimento foram avaliados por meio da equação de Von Bertalanffy. Para C. kelberi foram encontrados os valores de L∞= 46,61, K= 0,44 e T0= 0, 511. Para C. piquiti foram encontrados os valores de L∞= 78, 79, K= 0,15 e T0= 0, 055 . O nível do lago está relaciondo com a formação dos anéis etários. A Portaria Ibama 04/09 e a Portaria Agência Ambiental nº 03/2003, garantem que a cota máxima seja de cinco quilos mais um exemplar. Estes resultados, demonstram que peixes de mesmo tamanho possuem idades diferentes, juntamente com os dados de reprodução dos tucunarés, será elaborada através dos órgãos reguladores efetivos manejos que para a pesca amadora, e a determinação do tamanho mínimo e máximo de captura para os tucunararés Cichla piquiti e Cichla kelberi do Reservatório de Serra da Mesa. Palavras- Chave: Manejo, Otólitos, Pesca Amadora, Cichla piquiti e Cichla kelberi. 11 ABSTRACT Fishing activities can lead to several changes in aquatic ecosystems. Many fishermen believe that fishing selectively larger fish cause minor damage, generating overfishing on these fish. The age determination is an essential factor for management of these species. This study aims to determine the age by studying otoliths of blue peacock (Cichla piquiti) and yellow peacock (Cichla kelberi) in Serra da Mesa reservoir. The study was conducted at UHE Serra da Mesa, near the border with the State of Tocantins (between the meridians 49º 30' and 48º W and the parallels 13º and 15º S). The otoliths were collected from August 2009 to December 2010. Were chosen otoliths (saggitas) and measurements were done stereoscopic magnifying glass. Growth marks were validated by the RMI (Relative Marginal Increment), and were found one ring per year. Values for growth parameter were evaluated by means of the Von Bertalanffy equation. For C. Kelberi found the values of L ∞ = 46,61, K = 0,44 and T0 = 0, 511. For C. piquiti found the values of L ∞ = 78, 79, K = 0,15 and T0 = 0, 055. The lake level is related to formation of age rings. IBAMA’s Ordinance 04/09 and the Environment Agency’s Ordinance nº. 03/2003, ensure that the maximum height is five pounds plus one more copy. These results show that fish of the same size have different ages, along with performance data of the peacock bass will be prepared by the regulatory bodies that effective management strategies for sport fishing, and the determination of minimum and maximum catch for Cichla piquiti Cichla kelberi and the Serra da Mesa Reservoir. Keywords: Management, otoliths, Recreational fishing and Cichla piquiti e Cichla kelberi 12 1. INTRODUÇÃO A alta demanda de eletricidade exige a implantação de usinas hidrelétricas, o que acarreta enormes conseqüências para população de peixes dos rios. Grandes alterações ocorrem na fauna aquática, como a mudança da composição de espécies animais e vegetais, com redução ou favorecimento de algumas, e até mesmo eliminação de outras. Segundo Britski (1994), a construção de barragens provoca profundas alterações no meio ambiente, com implicações decisivas sobre a comunidade de peixes. Atividades de pesca podem levar a diversas alterações em ecossistemas aquáticos. Alguns equipamentos de pesca tais como redes, linha e anzol não permitem a seleção antes da captura, e assim, peixes são prejudicados muitas vezes fatalmente, como resultado da utilização de métodos de pesca e solte (BRUGGEMANN et al., 1996). Muitos pescadores acreditam que a pesca de peixes maiores causam danos menores ( BERKELEY et al., 2004). Entretanto, durante as últimas décadas, com a comercialização pesqueira, tem se não somente uma diminuição dos estoques pesqueiros (BAROT, et al., 2005), mas também a diminuição do tamanho corpóreo de peixes é evidenciado em muitos trabalhos, desta forma, nota-se um aumento de reprodutores inexperientes menos fecundos e com ovos e larvas de baixa qualidade (TRIPPEL, 1995, BERKELEY et. al.2004; BIRKELAND E DAYTON, 2005; LAW, 2007). As variações causadas em comunidades de peixes afetadas pela sobrepesca resultam na evolução surpreendentemente rápida da idade e do tamanho de maturação (DICKMANN, 1997; ERNADE et al., 2004; BAROT, 2005). A pesca seletiva de peixes mais velhos leva à diminuição exponencial do número de larvas produzidas, encurtamento da temporada de reprodução, redução do potencial médio de sobrevivência e em casos extremos, até mesmo a redução da heterogeneidade genética da população (CONOVER & MUNCH, 2002; BERKELEY, et al., 2004). As taxas de variações genéticas são susceptíveis para peixes, por isto é sensato trabalhar em medidas que ajudem a resolver o problema da sobrepesca para que as populações futuras não sejam afetadas (LAW, 2007). Uma das principais medidas é proteger os peixes mais velhos e maiores dentro da população (BIRKELAND & DAYTON, 2005). 13 Outro problema é a falta de dados de tamanho máximo e mínimo de captura para algumas espécies. A longo prazo, não proteger os indivíduos maiores e mais velhos pode gerar pressões na seleção que afeta o crescimento dos peixes. É importante conseguir uma redução da mortalidade por pesca de peixes grandes sem aumento da mortalidade de peixes menores, pois isto é altamente prejudicial para as populações de peixes. Na teoria, a proteção de ambos os tamanhos, pequeno e grande, exigiria uma procura maior em peixes de tamanho médio (LAW, 2007). Em todo mundo, a pesca recreativa é uma das atividades de turismo e lazer mais praticadas (PRADO, 1999)e no estado de Goiás, é a única permitida. No Norte do estado se localiza o Reservatório de Serra da Mesa, onde se encontram duas espécies de tucunaré. Tucunaré azul (Cichla piquiti) e tucunaré amarelo (Cichla kelberi). A legislação brasileira e estadual prevê medidas de proteção destas espécies através do estabelecimento mínimo de captura em 35 cm(Portaria IBAMA 107/98) e uma cota de 5kg mais 1 exemplar ( Portaria IBAMA 30/03 e Portaria Agência Ambiental 03/2003). Entretanto, estas duas medidas de proteção incentivam a captura dos maiores exemplares. O tucunaré pertence à família dos ciclídios (Cichlidae). Existem aproximadamente 1533 espécies ciclídeos, e cerca de 81 ocorrem no Brasil (KULLANDER, 1988). Dentre estas, 15 espécies de tucunarés são as mais conhecidas, entre elas: Cichla ocellaris, Cichla temensis, Cichla intermedia, Cichla orinocensis e Cichla monoculus, (KELBER, 1999). Espécies do gênero Cichla são basicamente restritas para águas transparentes com altas temperaturas e habitats lênticos para a alimentação e reprodução. Nesses habitats eles são dominantes (WINEMILLER, 2001). O tucunaré é originário da bacia amazônica e é uma espécie de hábito alimentar carnívoro/piscívoro (SAMPAIO et al., 2000). No estado de Goías, é nativo dos rios Araguaia e Tocantins e também foi introduzido nas bacias do Paraná e São Francisco (KULLANDER & FERREIRA, 2006). É um peixe mimétrico, que se adaptam muito bem ao locais onde se encontram. Suas características principais são o ocelo característico de sua cauda e suas barras verticais. Quando alevino apresenta um traço horizontal na lateral. Quando jovem possui quase sempre muitas pintas brancas, confundindo-se assim com o cascalho no fundo dos lagos e remansos. Ao se tornar adulto, suas barras verticais acentuam-se (KELBER, 1999). Zaret (1980) 14 constatou que depois que os tucunarés se tornam maduros, os machos atingem comprimentos superiores aos das fêmeas. A determinação da idade e de taxas de crescimento de peixes de grande valor comercial como o tucunaré é um dos elementos centrais na avaliação dos estoques pesqueiros, normalmente realizada através de modelos matemáticos que permitem diagnosticar mudanças e fazer projeções sobre estoque (DOMINGUES & HAYASHI, 1998). Cousseau & Cotrina (1975) destacaram que a determinação da idade e crescimento, dos aspectos biológicos, são os mais importantes, por ser um quesito indispensável aos cálculos de mortalidade na avaliação de recursos pesqueiros. Estes estudos podem também fornecer informações básicas sobre a estratégia de vida, estrutura de populações e mudanças no crescimento destas, devido a perturbações ambientais ou pela pesca, o que aumenta a compreensão da biologia dos peixes e forma a base dos modelos de dinâmica de populações (RADTKE & HOURIGAN, 1990). Segundo Fontelles-Filho (1944), um dos precursores deste tipo de abordagem no Brasil, o estudo do crescimento baseado no cálculo individual, real ou relativo, pode ser realizado através de quatro métodos: leitura de anéis etários em estruturas rígidas (escamas, otólitos, vértebras), identificação de modas na composição de comprimento, crescimento em cativeiro e crescimento de indivíduos marcados a partir de um instante zero. Os peixes possuem três pares de corpos inorgânicos em seus sistemas auditivos, denominados otólitos. Os otólitos são concreções calcárias contidas nas cápsulas auditivas dos peixes, que contribuem para a percepção dos sons e para o equilíbrio corporal (FONTELLEFILHO, 1944). Na verdade o termo “otólito”, é incorretamente empregado no lugar de sagitta, pois seu uso, deve ser apenas para generalizar as três estruturas localizadas de cada lado da cabeça. Estas estruturas são compostas por cristais de carbonatos de cálcio, argonita e material orgânico (GOMIERO & BRAGA, 2007). Podem ser retirados da cabeça do peixe através de uma incisão no crânio na região das cápsulas auditivas, ou atingindo-as pelo opérculo. De acordo com Cutrim & Batista (2005), para um melhor resultado, três pares de otólitos são estudados: Lapillus (menor), Asteriscus (médio) e a Sagitta (maior). Na maioria dos trabalhos realizados com o estudo de otólitos, aproximadamente 60% dos pesquisadores escolheu o par de sagitta para realizar estudos de microestruturas (VILLACORTA-CORREA, 15 1997), por ser de fácil manuseio devido ao seu tamanho ser maior e apresentarem incrementos mais largos (SECOR et al., 1992). Segundo Gaemers (1984), em muitos teleósteos, incluindo a família Cichlidae, a sagittae é o maior otólito e é a estrutura mais estudada. Além da identificação das espécies, pode-se inferir o comprimento das presas, comparando-se os comprimentos da sagittae encontradas nos conteúdos estomacais, com relações conhecidas deste com o comprimento da espécie predada (GOMIERO & BRAGA, 2007). A maioria dos otólitos não possui uma morfologia padrão, desta forma, é recomendável que se defina o melhor ângulo para que as leituras sejam efetuadas, e que este seja obedecido até o final das mesmas (CAMPANA, 1992). Seguindo estes passos, o resultado será melhor sendo a posição preferencial da leitura dos anéis corresponde a uma região com a espessura intermediária dentre as disponíveis no otólito (CUTRIM & BATISTA, 2005; VILLACORTA-CORREA, 1997). Estudos de determinação de idade em peixes de regiões temperadas têm indicado que as marcas de crescimento (anéis etários) se formam de acordo com as estações do ano (CASSELMAN, 1983). A avaliação da idade de peixes em regiões tropicais tem sido discutidas, uma vez que os padrões sazonais de variação de temperatura não são tão evidentes quanto nas regiões temperadas, onde o inverno é rigoroso provocando uma paralisação no crescimento do anima seguida da formação do anel de crescimento (BLAKE & BLAKE, 1978; BARBIERI, 2001). O número de anéis de crescimento pode ser relacionado com a idade se a cronologia do aparecimento das marcas é estabelecida e se ocorrer a identificação das marcas verdadeiras (CUTRIM & BATISTA, 2005). Para calcular o comprimento em idades passadas utilizando anéis etários de estruturas calcificadas, é necessário que haja um modelo que expresse o comprimento na captura como função do raio da estrutura (CUTRIM & BATISTA, 2005). O presente trabalho pretende determinar a curva de crescimento de tucunarés através da determinação da idade por otltos e verificar se peixes da mesma idade possuem variação no tamanho, comprovando que o ordenamento pesqueiro é incorreto ao estimular a retirada dos peixes maiores. 16 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Estimar a idade dos indivíduos das espécies de tucunarés: Cichla piquiti e Cichla kelberi do reservatório de Serra da Mesa, através do estudo dos anéis de crescimento dos otólitos. 2.2. Objetivos específicos Os objetivos específicos deste trabalho são: i- Estimar o padrão de crescimento dos tucunarés Cichla piquiti e Cichla kelberi; ii- Estabelecer a relação Peso (g) versus Comprimento Total (cm) dos indivíduos; iii- Determinar a validação do período de formação dos anéis por meio do Incremento Marginal Relativo (IMR); iv- Testar se há relação entre o IMR e o nível de água do reservatório; v- Testar hipótese (nula) de que peixes de mesma idade têm mesmo tamanho. 17 3. METODOLOGIA 3.1. Área de estudo e Amostragem A Usina da Serra da Mesa está localizada ao Norte do Estado de Goiás (Fig. 1), próxima da divisa com o Estado de Tocantins, em localização geográfica abrangida entre os meridianos 49° 30’ e 48° W e os paralelos 13° e 15° S, na região Centro-Oeste Brasileira (DE FILIPPO et al.,1999). A UHE possui grande importância no panorama energético brasileiro. Com entrada em operação das suas três unidades geradoras, que totalizam 1.275 MW, a usina torna-se indispensável ao atendimento do mercado de energia elétrica do Sistema Interligado Sul/Sudeste/Centro-Oeste. Além disso, ela é responsável pela ligação entre esse sistema e o Norte / Nordeste, sendo o elo da Interligação Norte-Sul (FURNAS, 2008). Na cota máxima operacional, o reservatório possui uma área de inundação com aproximadamente 1.784 Km² e um volume total de 54,4 Km³ (DE FILIPPO et al.,1999). Figura 1: Localização do reservatório da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa e municípios adjacentes. Fonte: Ângelo & Carvalho (2010). 18 As coletas foram realizadas nos meses de agosto e novembro (2009) e março, setembro e dezembro (2010) onde os indivíduos das duas espécies foram capturados (Fig. 2). Figura 2: Exemplar de C. kelberi (A) e C. piquiti (B) (Fotos de Silva, L. C. F, 2010). 3.2 Metodologia para leitura de anéis de crescimento em otólitos Os indivíduos foram coletados com anzóis e varas de carretilha por vários pescadores, visto que os tucunarés dificilmente caem em redes de espera. Porém os indivíduos menores foram capturados apenas com redes de espera. Posteriormente, foram pesados e medidos. Após a captura, foi utilizada uma segueta para retirada dos otólitos. A cabeça dos peixes era retirada (Fig. 3, A e B) e posteriormente serrada transversalmente, exatamente ao meio (Fig 3, C e D), dividindo a cavidade auditiva. Os otólitos foram retirados logo em seguida com a ajuda de pinças (Fig 3, E e F). Estes estavam localizados na região mediana do crânio (Fig. 4). Logo após a extração, foram lavados com água e acondicionados secos em envelopes de papel e enumerados. Fig. 3- Metodologia utilizada para retirada dos otólitos (Fotos de SILVA, L. C.F, 2010). 19 Fig. 4- Vista dorsal evidenciando a localização da sagitta (Adaptado de SECOR et al., 1992; NETO, 2005). Os otólitos foram emblocados em formas de borracha, incluídos em resina poliéster (Fig. 5, A) e seccionados transversalmente em sua região central com uma serra diamantada em cortes sucessivos de 1 mm de espessura (Fig. 5 B e C). Os cortes contendo o centro do otólito serão fixados em lâminas de vidro para a microscopia (Fig. 5D), lixados com lixas finas e polidos com pó alumina (SECOR et al., 1992). Fig. 5: Metodologia utilizada para corte e montagem de lâminas para leitura das sagittas (Foto de MENDES, P. S., 2010). 20 Após cortados, os otólitos foram fixados em lâminas para microscopia, e a contagem dos anéis foi realizada utilizando microscópio estereoscópico com luz transmitida com aumento de 2,5 vezes. As leituras foram feitas seguindo a metodologia proposta por Vieira & Haimovici (1993). Esta metodologia trata-se de até quantas leituras devem ser feitas para que a análise seja mais precisa. Os autores sugerem que mais de uma leitura seja realizada, caso os valores não sejam iguais. 3.3. Parâmetro de crescimento A curva de crescimento foi estimada através da curva de Von Bertalanffy: L(t) = L∞*(1-exp(-K*(t-t0)) L(t)= Comprimento total; L∞= Comprimento assintótico; K= Taxa de crescimento; t= Idade; t0= Comprimento teórico do peixe na idade 0. O ajuste da curva será feito com os dados de comprimento total e número de anéis (correspondendo a idade dos peixes). A análise de resíduos também será utilizada para verificar se houve algum erro no modelo e verificar a dispersão dos pontos em relação ao modelo. Quanto maior a dispersão dos pontos maior a variabilidade fenotípica dos peixes, indicando que peixes de mesma idade possuem tamanhos diferentes. 3.4 Relação Peso X Comprimento O peso total dos indivíduos e o comprimento padrão foram correlacionados e expressos segundo a função cúbica citada abaixo, esta correlação permite calcular a velocidade do aumento do peso em relação ao comprimento total e vice-versa. W = aCb Onde: W= Peso total; 21 C= Comprimento Total; a e b= Coeficientes da função cúbica. 3.5 Incremento Marginal Relativo O IMR foi calculado para que a formação periódica dos anéis seja definida, utilizando o raio total das sagittas e o raio das últimas marcas (LAI, et al. 1987; CUTRIM & BATISTA, 2005). IMR = (Rt -Rn) / (Rn – Rp) Onde: Rt= raio total da estrutura; Rn= distância do foco da estrutura até a última marca; Rp= Distância do foco da estrutura até a penúltima marca. Os valores do IMR foram relacionados com as variações mensais no nível de água do reservatório. 22 4. RESULTADOS Foram capturados 227 indivíduos, sendo 202 C. piquiti e 25 C. kelberi. Dentro desta amostra se encontram machos e fêmeas, pois não houve uma distinção nas análises. 4.1 Parâmetros de crescimento Foram preparados 227 otólitos, que foram identificados e contados os anéis etários. Apenas nas primeiras coletas foram capturados um número considerável de C. kelberi, porém este número foi reduzindo a cada coleta. A leitura e identificação dos anéis de crescimento nas estruturas analisadas nas estruturas analisadas foi relativamente fácil. Para os otólitos de C. piquiti e C. kelberi foram feitas duas leituras para ~ 85% dos indivíduos, os outros 15% passaram por uma terceira leitura. Isto ocorreu principalmente para o primeira amostra a ser analisada, devido à falta de prática em preparar e ler os otólitos nos microscópios. A curva de crescimento de Von Bertalanffy (Fig.6 e 8) foi feita para as duas espécies e mesmo com poucos indivíduos é possível verificar o ajuste da curva. As tabelas 1 e 2 indicam o número de anéis encontrado para cada espécie. Para C. kelberi devido o número baixo de amostras (25), algumas classes de idade não estiveram presentes e a maior idade foi 7 anos. Para C. piquiti (202 indivíduos) foram identificados de 1 a 9 anéis. Tabela 1: Número de anéis nos otólitos de C. kelberi com respectivas médias e desvio padrão do comprimento total e número de amostras. Comprimento total (cm) Nº de Anéis Média Desvio Padrão Nº de Amostras 1 0 2 24 2,828 2 3 30,42 3,062 9 4 34, 14 3,552 5 5 41, 51 3,347 6 6 0 7 42,79 1, 965 3 8 0 9 0 23 Tabela 2: Número de anéis nos otólitos de C. piquiti com respectivas médias e desvio padrão do comprimento total e número de amostras. Comprimento total (cm) Nº de Anéis Média Desvio Padrão Nº de Amostras 1 11,84 1,050 5 2 21,35 3,664 33 3 27,86 3,784 39 4 36,84 3,596 40 5 43,88 2,896 37 6 48,10 2,693 18 7 51,06 3,082 16 8 56,46 2,614 11 9 60,03 1,761 3 As análises para o ajuste dos dados na curva de crescimento de Von Bertalanffy (Fig. 6 e 7), foram calculadas no Software Statistic, e a seguinte função foi utilizada: y= Loo*(1-exp(-K*(x-t0))) Fig. 6: Curva de crescimento estimada para tucunaré amarelo (C. kelberi). Para o ajuste da curva, foram calculadas através da função os parâmetros: K, t0 e L∞. Para L∞. estimamos o valor de 46,61, para K o valor de 0,44 e para T0= 0, 511 . A distribuição dos resíduos é observada na figura 7. 24 Fig.7. Distribuição de resíduos avaliada através da leitura dos anéis de C. kelberi. Para o ajuste da curva de crescimento de C. piquiti, foram calculados através da função os parâmetros: K, t0 e L∞. Para L∞. estimou-se o valor de 78, 79, para K o valor de 0,15 e para T0= 0, 055 . Fig. 8: Curva de crescimento estimada para tucunaré azul (Cichla piquiti). A distribuição dos resíduos foi avaliada através das leituras dos anéis de C. piquiti é demonstrada na figura 9. 25 Fig. 9: Distribuição de resíduos avaliada através da leitura dos anéis de C. piquiti. A distribuição dos resíduos e as curvas ajustadas mostram uma grande variação de tamanho em peixes de mesma idade, principalmente as idades mais intermediárias, como de 2 a 8 anos para C. piquiti e 3 a 5 anos para C. kelberi. Como exemplo, destacamos que o tamanho previsto pela curva de Von Bertalanffy para C. piquiti para peixes de 4 anos foi de aproximadamente de 36 cm entretanto capturamos peixes de 27 a 45 com 4 anéis. 4.2 Relação Peso X Comprimento A relação peso total x comprimento total do C. kelberi e C. piquiti é representada nas figuras 10 e 11. Fig. 10: Relação Peso X Comprimento para indivíduos de C. kelberi. 26 Utilizando a equação W = aCb, o coeficiente de correlação foi de r²=0,97%, a= 0,012 e b= 3,04. Fig. 11:Relação Peso X Comprimento para indivíduos de C. piquiti. O coeficiente de correlão encontrado para a espécie C. piquiti foi de r²= 0,97%, o valor encontrado para a= 0,005 e para b=3,29. 4.3. Incremento Marginal Relativo As médias mensais do incremento marginal relativo tiveram variações significativas, para as duas espécies, isto foi avaliado através de uma ANOVA ( N= 25, p< 0,008, f= (4,20)= 73040 para tucunaré amarelo e N= 202, p< 0,001, f=30, 019) (fig.12 e 13). As maiores médias do incremento foram nos meses de fevereiro e dezembro de 2010, período chuvoso. As médias menores foram nos meses de Agosto (2009) e setembro (2010), período de seca onde o lago começa a diminuir o nível de água ( Fig. 14). 27 Fig. 12: Média mensal e desvio padrão do incremento marginal relativo de Cichla kelberi. Fig. 13: Média mensal e desvio padrão do incremento marginal relativo de Cichla piquiti. 28 I.M.R. t. amarelo I.M.R t. azul Fig.14. Valores médios nos meses coletados do incremento marginal relativo (IMR) nos otólitos de C. kelberi e C.piquiti e a variação do nível do lago. As médias do IMR para as duas espécies nos meses de coleta é demonstrada na tabela 3. Tabela 3: Médias dos IMR para C. piquiti e C. kelberi nos meses de coleta. Espécie Ago (2009) Nov (2009) Fev (2010) Set (2010) Dez (2010) C. piquiti 0,425652 0,936316 1,219032 0,487396 1,434195 C. kelberi 0,433398 1,02643 1,168237 0,487231 1,247313 29 5. DISCUSSÃO A pressão exercida sobre peixes de reservatórios como o tucunaré é muito alta. No Reservatório de Serra da Mesa, este peixe é o de maior procura para pesca amadora e isto é devido à abundância natural, à natureza esportiva e qualidade da carne. A exploração desses recursos ocorre sem nenhum conhecimento ecológico, e pouco se sabe sobre a longevidade destes peixes, porém o presente estudo pode delinear mais sobre estas características (SOUZA, 2006). É muito difícil definir com precisão o momento em que o peixe nasce devido a diversos fatores ambientais e ecológicos das espécies. Muitos autores sugerem que a partir do momento da eclosão deve se considerar a primeira idade do peixe, mas não se sabe ao certo sobre este fator (WELCOMME, 1979). Para estudos em estruturas rígidas como otólitos, é necessário que se entenda principalmente sobre a biologia da espécie. Muitas espécies formam um anel de crescimento no período reprodutivo, pois nesta época, o metabolismo do peixe abaixa e ocorre a formação de um anel, devido o acúmulo de cálcio. Como o Tucunaré é um peixe que possui desova parcelada, para este trabalho foi considerado a variável ambiental, nível do lago (SANTOS, 1995; SOUZA, 2006). Alguns problemas ainda são encontrados em estudos de determinação de idade através de estruturas rígidas, principalmente para peixes de regiões tropicais como o tucunaré. Estes estudos são mais eficazes para peixes de regiões temperadas, onde se sabe que os anéis são formados de acordo com as estações do ano. Estudos realizados na Amazônia, que possui uma pequena variação térmica ao longo do ano comprovaram a existência de marcas bem definidas em diferentes tipos de estruturas analisadas (CASSELMAN, 1983; WORTHMAM, 1983; SPARRE & VENEMA, 1995;CUTRIM & BATISTA 2005). Isto foi confirmado em nossos dados, pois comprovou-se que a formações dos anéis ocorrem uma vez no ano. O comprimento encontrado para a primeira idade de C. piquiti no reservatório de Serra da Mesa foi de 11, 4 cm, e o comprimento total da primeira maturação foi de 30, 5 cm para ambas a espécies( SILVA, 2011, Dados não publicados). 30 Vários outros trabalhos foram feitos através da determinação de idade e primeira maturação para tucunarés. Luiz et. al (2011), notou que a primeira maturação ocorre com 22, 5 cm em populações de C. piquiti no reservatório de Cachoeira Dourada. Zaret (1980) relatou que no lago Gatún, machos e fêmeas de C. ocellaris começaram a reproduzir com o comprimento padrão de 32,2 cm. Em lagos da Venezuela, Winemiller et al., (1997); Jepsen et al. (1999) e Winemiller, (2001), verificaram que o comprimento padarão da primeira maturação entre diferentes gêneros de Cichla (32,5cm C. temensis; 27 cm C. orinocencis e 24, 4cm para C. intermédia). Tais variações no crescimento no comprimento da 1ª maturação são causados pro diversos fatores, como as próprias diferenças entre as espécies à adaptação destas a novos lagos, variações naturais e até mesmo à ausência de predadores naturais no ecossistema (SOUZA et al., 2006; GOMIERO et al. 2009; LUIZ et al. 2011). A curva de crescimento de Von Bertalanffy indica que os indivíduos de C. kelberi, crescem menos que os indivíduos de C. piquiti. A taxa de crescimento k explica a velocidade em que a espécie atinge seu comprimento assintótico (SPARRE & VENEMA, 1997) Para C.kelberi esta taxa foi 0,44, e para C. piquiti 0,15. Este valor encontrado para C. kelberi se deve ao fato de que não foi encontrado nenhum indivíduo com 1, ano. Jepsen et al. (1999) sugere para C. intermedia na Venezuela valores menores que este. Isto também é comprovado com o valor maior de T0= 0,51 para Cichla kelberi e T0=0,05 para Cichla piquiti. Diante estes dados, percebe-se que a idade 0 dos indivíduos do lago de Serra da Mesa é maior que a de indivíduos do Rio Negro (Trabalho realizado por SOUZA, 2006). Estes valores comprovam um crescimento na fase inicial maior que as outras espécies do gênero. A relação do IMR com outros fatores ambientais e biológicos é prático e tem sido utilizado por muitos autores para validar as marcas que indicam o crescimento. Para os indivíduos analisados, as menores médias foram nos meses de agosto (2009) e setembro (2010), período em que a seca está evidenciada. Estes valores coincidiram com os níveis mais baixos do Lago, porém, não se pode dizer que foi exatamente nestes meses que os anéis de crescimento foram formados, e sim que a formação dos anéis se dá quando o nível do lago 31 começa a abaixar. Para que se saiba exatamente em que mês houve a formação de cada anel, seria necessário que houvessem indivíduos coletados todos os meses, e isto não foi possível. Nas análises de peso x comprimento para C. piquiti, o coeficiente de correlação foi muito parecido ao de outras espécies. O valor do índice de correlação para outras espécies de tucunaré, são muito semelhantes, entre eles Cichla temensis (R²=0, 9418); Cichla ocellaris (R²= 0, 984) e Cichla monoculos (R²=0,9606). Isto demonstra que para espécies do gênero Cichla, crescem muito na fase inicial, e com o passar do tempo atingem um tamanho e peso máximo. (SOUZA, 2006; GOMIERO & BRAGA, 2003). Atualmente a literatura têm demonstrado muito a redução no tamanho de peixes, isto ocorre principalmente devido à pressão sobre os peixes maiores (BAROT, et al. 2004; OLSEN, et al., 2004). Muitos estudos experimentais são feitos, demonstrando as causas de se retirar os peixes maiores da água. Um deles foi o comprovados por Walsh et.al.(2006), que afirma que toda fisiolofia do animal é comprometida, entre elas, a taxa de crescimento de larvas. Para os peixes avaliados, os autores notaram até mesmo a perda de vértebras. Por meio da hereditaridade e variabilidade genética, estas mudanças reduzem muito a capacidade de recuperação de uma população após sofrer estes tipos de sobrepescas. Os resultados demonstraram que peixes da mesma idade podem ter tamanhos diferentes como apontado para peixes com quatro anéis. Um peixe com 4 anéis e 27 cm não pode ser capturado e provavelmente está reproduzindo, enquanto que um indivíduo com a mesma idade e com 45 cm normalmente exibido como troféu. Essa variação de tamanho (fenótipo) pode ser causada por características ambientais (variação na alimetação dos indivíduos) ou por diferenças genotípicas (KUPARINEN & MERILA, 2007). Muitos trabalhos tem apontado que diferenças de genótipo causam diferenças no crescimento de peixes (HUTCHINGS & FRASER, 2008). Dessa maneira, a atual legislação que incentiva a retirada dos peixes maiores pode levar a consequencias drásticas, como a redução do tamanho da primeira maturação , tamanho médio da população, redução da fecundidade , da sobrevivência dos ovos e dos filhotes e da taxa de recrutamento (RATNER & LANDER, 2001; JENNINGS et al.1999; HEINO & GODO, 2002; LAW, 2000; HUTCHINGS & FRASER, 2008; JORGENSEN et al. 2007; KUPARINEN & MERILA, 2007; CONOVER & MUNCH 2002; WALSH et al. 2006). Considerando que as alterações possuem carater evolutivo, causado pela seleção artificial (retirada dos peixes que crescem mais rápido da população). 32 Assim, os resultados da pesca tamanho-seletiva, podem ser irreversíveis e a interrupção da pesca não garante a reversão ao estado original, devido à perda da variabilidade genética (KUPARRINEM & MERILA, 2007; LAW, 2000). As melhores soluções para impedir este processo de deterioração do estoque, seriam: a) o estabelecimento de áreas protegidas para permitir que parte do estoque expresse naturalmente toda a gama de genótipos codificando diferentes taxas de crescimento e tamanho corpóreo; b) a adoção de de tamanhos máximos de captura. 33 CONCLUSÃO O estudo de idades de peixes através de estruturas calcificadas como os otólitos, tem se tornado cada vez mais freqüente em regiões tropicais. As duas espécies de tucunarés nativas do Rio Tocantins, são exemplos de que fatores ambientais, influenciam a formação de anéis de crescimento, e que estes anéis são formados no período de seca, onde o nível do reservatório está diminuindo. A utilização das médias do IMR para validar em qual período ocorre a formação de anéis de crescimento foi de grande importância para este trabalho, pois apenas através desta análise é possível saber que período é esse. O ajuste na curva representada pela equação de Von Bertalanffy também deve ser feito para estimar o crescimento dos peixes, através dela foi possível descrever o crescimento das duas espécies. A determinação de idade e crescimento para os peixes do reservatório de Serra da Mesa por meio de leituras em otólitos será de extrema importância para a implementação de uma nova legislação, para que a proteção de indivíduos maiores feita. No reservatório de Serra da Mesa, a pesca amadora é uma das principais atividades. E para os tucunarés este efeito pode ser drástico, pois os pescadores sempre querem os maiores peixes e peixes de mesmo tamanho podem ser de idades diferentes. A Portaria Ibama 04/09 e a Portaria Agência Ambiental nº 03/2003, garantem que a cota máxima seja de cinco quilos mais um exemplar. Através destes resultados, juntamente com os dados de reprodução dos tucunarés, será elaborada através dos órgãos reguladores efetivos manejos que para a pesca amadora, e a determinação do tamanho mínimo e máximo de captura para os tucunararés Cichla piquiti e Cichla kelberi do Reservatório de Serra da Mesa. 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÂNGELO, P.G.; CARVALHO, A. R. Estimativa do valor econômico-ecológico em diferentes ecossistemas aquáticos e influência do público-alvo na valoração ambiental. Dissertação de mestrado, Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, Universidade Federal de Goiás. p. 98. 2010. BARBIERI G.; SALLES, F.A.; CESTAROLLI, M. A. Growth and first sexual maturation size of Salminus maxillosus Valenciennes, 1849 (Characiformes, Characidae), in Mogi Guaçu river, state of São Paulo, Brazil. Acta Scientiarum, v. 23, n. 2, p: 453-459, 2001. BAROT, S.; HEINO, M.; O’BRIEN, L.; DIECKMANN, U. 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