Bem-vindo(a)! 10:14:35 - O administrador do Chat fala para todos : Começa, daqui a pouco, o bate-papo com a coordenadora do Comitê Latino Americano e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem-Brasil), Samantha Buglione. Ela vai falar sobre crimes passionais 10:16:10 - samantha buglione : Convidado 'samantha buglione' entra na sala. 10:16:31 - samantha buglione fala para todos: Olá, estou on line! 10:17:06 - Moderador : Bom dia a todos. Começa agora o chat com Samantha Buglione. Podem enviar suas perguntas. 10:17:31 - Moderador : Samantha, você acha que o rapaz vai matar a namorada em São Paulo? 10:19:02 - samantha buglione fala para todos: Essa é uma questão complicada. A questão é que nas condições que a relação está ele pode fazer isso se não houver uma intervenção do Estado. 10:19:37 - Ivan fala para todos: Bom dia Professora Samantha 10:19:42 - Ana Paula fala para todos: O que leva uma pessoa a cometer uma loucura dessas? 10:21:47 - samantha buglione fala para todos: Pensando as relações de violencia doméstica podemos pensar vários fatores. Por certo o que chama atenção é que há uma cultura banalizada, ainda no Brasil, da violencia doméstica contra às mulheres. Ou seja, há um 'poder fazer', um permissivo tácito desse tipo de conduta. Não é possível afirmar que seja 'uma loucura', há algo mais complexo que isso. Em alguns casos há disturbio psicologico, mas em outros decorre da dinamica da violencia doméstica em si. De um ciclo da violencia que permite o ato no sujeito mais fragil. 10:21:55 - Ivan fala para todos: Voce concorda que o Estado ja deveria ter feito essa intervenção? ja passam mais de 90 horas até quando vai se permitir um absurdo desse? 10:23:26 - samantha buglione fala para todos: Essa dinamica da violencia se reproduz em diferentes campos: o homem que bate na mulher, a violencia contra os filhos, a violencia contra os animais. Ou voces já viram um desses 'machões' baterem no chefe? Percebem que é sempre no sujeito mais frágil. O pior é que são relações que reproduzem violencias históricas, de pessoas que na infancia passaram por isso, presenciaram ou sofreram essas dinamicas e, por conta da ausencia de assistencia, acabam reproduzindo a unica linguagem que conhecem: a da violencia. 10:23:41 - Moderador : Pergunta do Cláudio: Samantha, o que você acha da polícia ter permitido que a menina de 15 anos voltasse ao apartamento? 10:23:50 - samantha buglione fala para todos: Em casos de risco a intervenção do Estado é possível, é legítima. 10:25:53 - samantha buglione fala para todos: O desafio do tema da violencia é a dinamica entre o respeito à autonomia, o cuidado e a prevenção. O que ocorre é que não é possível tratar violencia doméstica e violencia urbana, assim, se ela foi a uma delegacia, com um assistencia padrão não é possível identificar o risco real porque não há um tratamento adequado. Mas, se há uma vontade deliberado do sujeito em retornar para a casa isso deve ser respeitado, o que o Estado (a policia) deve garantir é que a decisão seja livre, ou seja, não seja por coação, medo, ameação. Nesses casos não é uma decisão autonomia e há omissão do Estado. 10:25:58 - Ivan fala para samantha buglione: Isso me lembra o episódio do Onibus 174, parece que a policia com medo de cometer o mesmo erro está sendo mais leviana 10:28:04 - samantha buglione fala para todos: Não é possível comparar o caso do Onibus 174 e esse caso porque são dinamicas de violencia diversa. É preciso ter um trato diverso, que de conta de singularidade de cada violencia. 10:28:18 - Moderador : Pergunta do Cláudio: como acabar com esse ciclo de violência que você fala? Uma criança que foi maltratada será sempre um adulto violento? 10:32:21 - samantha buglione fala para todos: Não. O ser humano é um animal que tem capacidade de 'perfectibilidade', ou seja, de mudar. O fato de ter tido um tipo de experiencia não significa que não posso alterar a sua conduta. A questão é que para interromper o ciclo da violencia é preciso ter não apenas serviços para isso, mas pessoas que entendam essa dinamica. No caso das mulheres faz parte da quebra do ciclo denunciar e tirar a denuncia varias vezes, é um processo. Se na segunda vez que ela for tirar a denuncia, ela sofrer uma critica por isso o processo fica mais dificil de ser resolvido. 10:32:41 - Moderador : Pergunta do Cláudio: Nossas instituições estão preparadas para aplicar a Lei Maria da Penha? As mulheres podem confiar nas instituições? 10:35:08 - Ivan : 'Ivan' sai da sala. 10:35:17 - samantha buglione fala para todos: Algumas sim, outras não. Em Florianópolis, por exemplo, não há casa abrigo ou casa de passagem e a política de atendimento à violencia doméstica contra às mulheres é precária. Para um bom atendimento é preciso repensar questões básicas da propria segurança pública. Violencia doméstica é um problema de segurança pública porque tem efeitos no cotidiano da cidade. Há gastos com saúde, previdencia social, boa parte das faltas de trabalho decorrem de violencia doméstica. Isso significa que apesar de ser algo que exige um tratamento especial é algo que deve ser pensado como um interesse público 10:36:38 - Moderador : Pergunta do Cláudio: Há diferença do comportamento das mulheres em relação à violência doméstica entre os Estados Brasileiros? Uma mulher de Santa Catarina é mais ou menos submissa que outras? Isso muda entre os países também? 10:38:54 - samantha buglione fala para todos: Essa é uma pergunta interessante. Infelizmente a violencia domética é um exemplo 'democrático' de violencia. Não importa a classe social, a etnia, a nacionalidade. A vulnerabilidade, quando ocorre, ocorre de forma muito semelhante. Quando estive na India, trabalhando com essas questões, era incrivel perceber como a dinamica da violencia era igual, não apenas em relação às mulheres, mas em relação aos agressores e ao serviço de polícia. A cultura que permite a violencia ao outro é um traço da propria violencia, o que está além das fronteiras. 10:39:04 - Ana Paula fala para todos: Voltando ao caso de Santo André. O que pode acontecer com o guri de 22 anos quando ele soltar as meninas? Você acha que a polícia tem que invadir o apartamento? 10:40:41 - samantha buglione fala para todos: Ele pode ser responsabilizado por tentativa de homicido, maus tratos, carcere privado... é preciso saber os detalhes do caso. Não dá para ficarmos apenas com a informação que chega dos meios de comunicação, seria o mesmo erro da tragédia espetaculo do caso Isabele. 10:41:13 - samantha buglione fala para todos: A questão é se ha risco à mulher a politica não pode, mas deve intervir. 10:43:12 - Moderador : Pergunta da Flávia: o que há neste caso de Santo André diferente dos outros? Por que tanta demora na solução do problema? O que pode estar passando na cabeça deste rapaz? 10:45:17 - samantha buglione fala para todos: O que está passando na cabeça dele não sabemos, mas não é um caso tão diferente assim. O carcere privado, infelizmente, é bastente comum. Eu diria que é um caso sintomatico da forma do Brasil tratar as questões da violencia doméstica contra às mulheres. 10:46:51 - Moderador : Pergunta da Flávia: e o que os pais podem fazer se percebem que uma filha está se envolvendo com um homem com problemas? Até onde vai a responsabilidade dos pais em casos como este de Santo André? 10:50:59 - Luiz : 'Luiz' sai da sala. 10:51:08 - samantha buglione fala para todos: Há duas questões aí. Uma é sobre a responsabilidade geral dos pais, que podem e devem intervir em situação de risco dos filhos, principalmente menores. Isso faz parte do dever de cuidar. A outra questão é que muitas vezes as mulheres que vivenciaram abuso entre os pais ou sofreram violencia procuram homens que reproduzem esse modelo. Ou seja, em regra familias bem estruturadas - do ponto de vista da não violencia (que pode ser verbal, fisica, emocional - porque a violencia domestica não é exclusiva de uma classe social) - correm menos risco de terem filhas se envolvendo com homens violentos. O que precisamentos, urgentemente, é tratar e cuidar desses meninos que se tornam homens violentos. Essa violencia também está na infancia. 10:51:29 - Adalberto Barreiros fala para todos: A Lei Maria da Penha está em vigor há um pouco mais de dois anos. Que avaliação você faz até o momento? 10:51:39 - Alex fala para samantha buglione: Olá Samantha, sobre o que você comentou, em relação ao despreparo dos orgãos responsáveis pelos crimes contra a mulher, o que você enxerga que é realmente necessário muda! Talvez eliminar a questão política? 10:52:11 - Moderador : Senhores, o chat com Samantha Bublione está chegando ao fim. Enviem suas últimas perguntas. 10:53:54 - samantha buglione fala para todos: Quem tiver mais questões pode enviar para [email protected] que é o email do Instituto Antígona. Será um prazer ajudar. 10:55:39 - Léo_Afavorita fala para samantha buglione: Bom dia Samantha. Certamente os casos de violência contra mulher envolve maridos com patologias psíquicas. Da mesma forma que existe a lei que protege as mulheres não deveria ter algo parecido para ajudar os 'doentes'? 10:58:22 - Léo_Afavorita fala para samantha buglione: E outra coisa: No caso de SP, qual sua avaliação das razões do rapaz para manter a namorada em cativeiro? 10:59:31 - samantha buglione fala para todos: Sim, mas não são todos os casos com patologias ou alcolismo, em relaidade esses são minorias ou agravantes de algo que está na vinculado a cultura. É um permissivo da violencia que legitima atos como este. Uma violencia que está no cotiano, por exemplo, da violencia contra os animais, a matriz é a mesma. 11:00:42 - Léo_Afavorita fala para samantha buglione: Pode ser bobeira, mas uma pessoa que bate num cão pode chegar a bater numa mulher? Dá pra fazer algum tipo de analogia com esse exemplo? 11:02:21 - samantha buglione fala para todos: Sim, porque tanto a mulher quanto o cachorro, dependendo da situação, são sujeitos que sofrem a violencia e estão em grau de vulnerabildiade em relação ao agente da violencia. A matriz que me falei é a de desconsiderar o outro, o sujeito que sofre a ação, como um sujeito que sofre a ação e sim como 'algo' ou 'coisa' que me pertence. 11:03:38 - samantha buglione fala para todos: Essa relação é proposital para pensarmos que estamos mais proximos de pratica violentas do que percebemos e muitas vezes reproduzimos essa logica. Se nao rompermos com isso, no micro sistema, é dificil romper no macro. O chocante não é a violencia do caso de SP, mas a cotidiana banalizada. 11:04:19 - samantha buglione fala para todos: Caros/as, foi um prazer, mas tenho que ir. Como disse, estou à disposição no Instituto Antígonoa www.antigona.org.br e no CLADEM www.cladem.org 11:04:43 - Moderador : O Diário Catarinense agradece a participação de todos, principalmente da convidada Samantha Buglione.