INVESTIDOR INSTITUCIONAL & IBRI Mesa Redonda com Braskem “Já somos nível 1,9” Christina Rufatto Diretor de RI da Braskem, José Marcos Treiger, diz que empresa já é quase Nível 2 da Bovespa e quer estar entre as cinco melhores petroquímicas do mundo, em produtividade, até 2007 cipação da Petrobras, via Petroquisa, na empresa; os investimentos em Paulínia e a intenção de fazer um grande complexo de polietileno na fronteira do Brasil com a Bolívia até o final desta década. O executivo também lembrou do primeiro Braskem Day, que ocorreu no último dia 6 na Bolsa de Nova York (Nyse). “Esta é a era de melhorarmos a comunicação. Até então, estávamos muito técnicos e, agora, queremos mostrar o que a Braskem já faz em relação à sustentabilidade”, disse Treiger. A Braskem é controlada pelo grupo Treiger: vamos aumentar o múltiplo da Braskem a 4,5 ou 5,0 Odebrecht, que tem participações diretas le fala com entusiasmo, lança mão e indiretas na companhia e o controle aciode estatísticas e seduz na conver- nário da Norquisa, holding que também faz sa comum aos melhores vendedo- parte do grupo controlador da Braskem. res que, de porta em porta, ofere- Com 13 fábricas em Alagoas, Bahia, São cem de panos de prato a chaves de fenda. Paulo e Rio Grande do Sul, a empresa José Marcos Treiger, diretor de Relações produz petroquímicos como eteno, propeno, com Investidores (RI) da Braskem, classifi- benzeno, caprolactama e DMT, além de ca sua área como “marketing financeiro” gasolina e GLP (gás de cozinha). No segaltamente estratégico para a empresa. Afi- mento de resinas termoplásticas, em que é nal, o setor é o responsável pela imagem da líder na América Latina, produz polietilecompanhia junto aos investidores, analistas no, polipropileno, PVC e PET. Participaram da Mesa Redonda INVESTIe imprensa e, por isto, a comunicação deve ser direta, transparente e honesta – para DOR INSTITUCIONAL & Ibri o diretor editorial proteger a credibilidade do executivo. da revista, Luis Leonel; a editora executiva, Em mesa redonda promovida pela re- Andréa Cordioli; o analista da Fator Corvista INVESTIDOR INSTITUCIONAL em parce- retora, Luiz Felix Cavallari Filho; o analista ria com o Instituto Brasileiro de Relações da Itaú Corretora, Gilberto Pereira de Souza com Investidores (Ibri), Treiger fala sobre e o analista da Unibanco Corretora, Carlos os números da Braskem e revela alguns Albano. Também estiveram presentes o projetos, como o possível aumento de parti- superintendente geral e o assessor de im- E 16 prensa do Ibri, respectivamente Salim Ali e Rodney Vergili, além do diretor de comunicação e do gerente de RI da Braskem, Nelson Letaif e Luiz Henrique Valverde. A seguir, os principais trechos: Como o sr. define a área de Relações com Investidores (RI) da Braskem? Tecnicamente, RI é marketing financeiro e não devemos ter receio de usar esta expressão. Enquanto a Braskem vende produtos químicos, petroquímicos e termoplásticos, eu e o Luiz [Luiz Henrique Valverde] vendemos Braskem. Para tanto, temos que conhecer profundamente o que ela faz, seus números, suas vantagens e eventuais desvantagens. O RI é uma mistura de marketing, comunicação e finanças. É preciso ter estas três habilidades. Muita gente acha que o RI é apenas um drive [compartimento] da comunicação. Não deixa de ser, mas o objetivo é a prateleira. E qual é o papel dos analistas neste contexto? Os analistas são nossos multiplicadores de opinião. Eles distribuem a imagem da empresa no mundo inteiro. Então, temos que trabalhar como parceiros. Mas, deve-se ter extremo cuidado neste marketing. Não só porque a legislação protege cada vez mais o investidor, o que é muito justo, como também porque tenho que proteger minha credibilidade. Também nos preocupamos em homogeneizar as informações que saem da empresa. A orientação de analistas e investidores sobre resultados futuros da companhia, o chamado guidance, pode ser prejudicial? O guidance é uma projeção específica de lucro por ação e é muito comum nos Estados Unidos. No Brasil, porém, há muito mais a perder ao fornecer este número do que o contrário. E isto porque há uma alternativa, que é a empresa estar permanentemente em contato com o mercado, fornecendo-lhe informações. É mais importante discutir as premissas do negócio, o desem- SET/2005 - INVESTIDOR INSTITUCIONAL Christina Rufatto Da esq. para a dir.: Nelson Letaif, Andréa Cordioli, Gilberto Pereira de Souza, José Marcos Treiger, Carlos Albano, Luiz Felix Cavallari Filho, Salim Ali, Rodney Vergili e Luis Leonel. penho da empresa, do que discutir o desvio em relação à projeção fornecida – cuja chance de errar é alta. Mas, também, à medida que se passa a dar guidance, é difícil voltar atrás, pois podem entender como uma intenção de esconder informação. A melhora da comunicação com os investidores já trouxe resultados? Há três anos, quando comecei na Braskem, o seu valor de mercado estava entre US$ 200 milhões e US$ 250 milhões. Hoje é de US$ 3,5 bilhões, sendo que já chegou a atingir US$ 4,5 bilhões. E a projeção já aponta a Braskem no 13º lugar do Índice Bovespa e vamos trabalhar para entrar para o grupo das dez primeiras. Hoje já negociamos algo próximo a R$ 25 milhões por dia em São Paulo e ultrapassamos a média de US$ 5 milhões diários em ADR’s [American Depositary Receipts]. O que a Braskem pretende com a busca pela adequação da informação que vai para o mercado? Que o preço da nossa ação esteja o mais próximo possível do target price [preço alvo] calculado pelos analistas. Quanto mais alto for o preço justo, maior é o desafio, pois tenho que realimentar este círculo virtuoso. E a Braskem é um dos poucos casos em que vários consensos de mercado foram batidos em seguida. Nós estamos, inclusive, desenvolvendo o nosso modelo de target price a partir dos números que estão disponíveis para os analistas, pois o desafio é modelar a empresa a partir das informações públicas, de forma a antecipar as dúvidas deles. Como a Braskem identifica o acionista que entra em contato com a área de RI? Estamos desenvolvendo, até o final do ano, um banco de dados personalizado que permitirá identificar e armazenar o histórico de relacionamento de cada um deles. Hoje, temos 14 mil investidores, sendo que cerca de dois mil são institucionais e 12 mil, INVESTIDOR INSTITUCIONAL - SET/2005 individuais – por isto, também até o final do ano, vamos estruturar uma área para eles. Vale dizer que dentre os institucionais, há um grupo que investe muito e que quando se move altera o valor de mercado. Este cara é importante para o RI conhecer. Temos idéia de quem são os grandes e o desafio é tentarmos entender como eles investem. Qual é o objetivo de longo prazo da área de RI da Braskem? Temos uma visão de que, em breve, a Braskem estará entre as empresas brasileiras de classe mundial. O múltiplo da Braskem – que é o valor da empresa dividido pelo seu Ebitda – está na ordem de 3,3. Nosso Ebitda é de US$ 1 bilhão anualizado. A maioria das empresas brasileiras, infelizmente, é muito penalizada em termos de múltiplo. A Lionel, por exemplo, tem um Ebitda de US$ 2,3 bilhões e um múltiplo de quase seis vezes. A Down, que é a maior empresa petroquímica do mundo, nem se fala. Nós acreditamos que temos um espaço a percorrer entre os 3,3 e 4,5 a 5,0. A Braskem estuda contratar um formador de mercado para suas ações? Não temos pressa. Além disto, em função do trabalho interno já desenvolvido e com o apoio dos analistas, conseguimos uma liquidez expressiva e não faria muito sentido termos esta despesa agora. Mas, por outro lado, pode valer a pena a contratação por uma questão simbólica, já que tem impacto no múltiplo da companhia. Também temos uma volatilidade intraday [no mesmo dia] que não é de toda fora da média, mas não é de toda saudável. Isto poderia ser um objetivo secundário para um market maker criativo. Já conversamos com alguns bancos importantes e vamos escolher um deles. A Braskem pretende ingressar no nível 2 da Bovespa há mais de um ano. O que falta para que isto ocorra? Já somos nível 1.9, porque atendemos praticamente a tudo do nível 2. Oferecemos 100% de tag along [extensão do prêmio de controle] para todas as ações. O que incomoda um pouco no nível 2 é a Câmara de Arbitragem. Não vejo nada de mais nela, mas é nova e está ligada a decisões estratégicas da empresa. Além disto, falta-nos incorporar a Polialden, que tem uma pequena pendência judicial com alguns minoritários. É uma coisa antiga e preferimos arrumar a casa antes de ir para o nível 2. A nossa intenção é fazer isto ainda neste ano. Que tipo de “arrumação de casa” está em curso na Braskem? Estamos aguardando a decisão da Petroquisa que, até 29 de setembro, poderá apresentar uma lista de ativos para capitalizar a Braskem e, assim, aumentar substancialmente a participação da Petrobras, via Petroquisa, na empresa. Este é um assunto da maior importância porque, se vier a ocorrer, pode tornar possível uma futura consolidação do pólo Sul, onde há uma gestão compartilhada entre a Braskem e a Ipiranga no fantástico cracker [quebra das moléculas de petróleo] que é a Copesul. Nós temos também o projeto de Paulínia, que está a todo vapor e é uma parceria muito importante com a Petrobras. Poderia falar mais sobre este projeto em Paulínia? Estamos desenvolvendo um projeto de engenharia e haverá uma oportunidade incrível para aumentarmos nossa capacidade de polipropileno, que é a melhor das resinas para se fazer investimento agora. São 350 mil toneladas e num possível desgargalamento futuro poderíamos chegar até mais com um investimento pequeno. E isto no coração de São Paulo. Também estamos ampliando em 50 mil toneladas de PVC, que é, no momento, o que tem o desempenho mais fraco, já que está muito ligado à construção civil e sabemos que está tudo parado. Temos que resolver o problema de logística e na hora em que 17 INVESTIDOR INSTITUCIONAL & IBRI Por que a Braskem não está focando, por enquanto, investimentos em polietileno? Porque a Riopolímeros entra em produção em outubro. E, querendo ou não, vamos ter que conviver com mais meio milhão de tonelada de polietileno no mercado. Sabemos que a Riopolímeros vai ter que exportar muito pelo próprio financiamento que obteve. E esperamos que haja um crescimento do mercado brasileiro em termos de resina – onde o consumo per capita ainda está em níveis chineses. O brasileiro, por exemplo, consome 3,5 quilos de PVC por ano. Nos Estados Unidos, o consumo anual de polietileno é de 40 quilos por americano. Este mercado tem muita potencialidade, mas temos que crescer de maneira cuidadosa. Que outro projeto estratégico a Braskem traz na manga? A Braskem se aproximou muito da Petrobras, que corresponde a 10% do PIB boliviano, e da Repsol porque nos interessa fazer, no final desta década, um grande complexo de polietileno na fronteira do Brasil com a Bolívia. Isto representará, entre outras coisas, 65 mil empregos. Não tem ninguém na Bolívia contrário ao projeto. Não existe nenhum outro fornecedor na nossa mira mais importante do que a Petrobras. Compramos dela 70%, por opção. Poderíamos importar 50%. E quanto à Venezuela? Poderíamos ter uma plataforma sensacional de gás propeno a valor muito baixo e que poderia nos permitir produzir polipropileno visando o mercado norte-americano, que é sequioso porque os grandes investimentos foram feitos em refinarias de crakers à gás. Mesmo com o imposto que o governo boliviano quer colocar sobre o gás, achamos que poderíamos produzi-lo de maneira competitiva, podendo exportá-lo pela Bacia do Prata, por exemplo. Estaríamos a cerca de 1,5 mil km de São Paulo e a meio caminho do mercado europeu e norte-americano. Este processo de internacionalização para países com riscos políticos instáveis afeta o risco Braskem? Esta questão de risco vai ser abordada nestes estudos. Além disto, há agências como a IFC [International Finance Corporation] em que você pode utilizar mecanis- 18 inesperadas de estoques e, conseqüentemente, na valorização dos papéis de mineradoras, siderúrgicas e da indústria de plástico. A Braskem foi a melhor ADR do mundo em 2003, com uma valorização de 609%. Em 2004, subiu mais 100%, ficando entre as cinco melhores do mundo. Christina Rufatto enfrentarmos isto de maneira adequada o PVC vai explodir. “Queremos fazer um complexo de polietileno na fronteira de Brasil e Bolívia” mos – por meio de seguros – para mitigar riscos de revolução, de cessação de envio de capital para o exterior etc. E, por uma questão irônica, onde é que está o petróleo no mundo hoje? No Irã, no Iraque, na Arábia Saudita, na Venezuela, na Argélia, em Angola... Eu gostaria de fazer uma parceria com uma empresa de Paris. Mas não tem. O que é o Braskem Plus? É um programa que, até 2007, vai colocar a Braskem entre as cinco melhores empresas do mundo em termos de produtividade no setor petroquímico. Este programa previa ganhos de produtividade anualizados de R$ 420 milhões até 2007. Já chegamos a R$ 190 milhões, sendo que para este ano o previsto era de R$ 140 milhões. O investimento no projeto vai somar R$ 334 milhões. E a TIR [Taxa Interna de Retorno] é uma coisa gigantesca: quase 80% porque o investimento é feito ao longo destes anos iniciais e nunca mais. Como o sr. avalia a economia mundial e seus impactos nos negócios da Braskem? Neste momento, apesar de bastante influenciado pelas importações chinesas – que, às vezes, surpreendem e criam uma certa volatilidade –, há um aperto na razão oferta e demanda que deve perdurar até 2007, quiçá 2008, o que torna o mercado mais vendedor. E isto tem um impacto positivo no preço da nossa ação. China e Índia têm trazido algumas movimentações O sr. pegou a Braskem com US$ 7 bilhões de dívida, sendo 40% vencendo em menos de um ano. Além da emissão global de ações do ano passado, o que mais foi feito para reverter o quadro? O esforço de equacionamento da dívida começou em 2002, quando o País vivia uma crise de liquidez. Inicialmente, foram feitas operações a custos muito altos para alongar o perfil da dívida, mas que foram bem sucedidas. Depois, em 2003, a empresa começou a gerar muito caixa. Começamos com uma relação dívida líquida sobre Ebitda – que mede a capacidade de geração de caixa contabilmente – de sete vezes. Terminamos 2002 com cinco vezes, 2003 com 3,5 vezes e depois da oferta global esta relação baixou para uma vez e meia. E, agora, apresentamos ao mercado apenas uma vez. E se do nosso passivo forem retiradas as debêntures conversíveis, que estão em mãos do controlador, fica abaixo de uma vez. Com a oferta global de ações, sanamos todo o problema de endividamento da companhia e, sem falsa modéstia, ajudamos na redução da percepção de risco da Braskem. Qual é a percepção de risco da Braskem hoje? Baixa, de só 40 pontos base em relação ao título soberano do Brasil. Fizemos recentemente uma emissão de bônus perpétuo, que era algo inimaginável há três anos. Foi a primeira empresa brasileira e não-financeira a emitir um bônus perpétuo e com grande sucesso. A taxa foi de 9,750% – menos de 1% acima do que o Bradesco captou com seu bônus perpétuo. E é interessante assinalar que a maior parte dos investidores deste papel foi de asiáticos, a ponto de a gente cogitar testar alguma emissão na região. Lançamos também um bônus de dez anos com 9,375% ao ano e ele está sendo negociado acima do valor de face. As declarações dos executivos entrevistadas pelo projeto Mesa Redonda Investidor Institucional & Ibri refletem seus pontos de vista pessoais e corporativos e não necessariamente os pontos de vista do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). SET/2005 - INVESTIDOR INSTITUCIONAL