1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas Departamento de Museologia e Conservação e Restauro Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Móveis Estratégias para Iluminação dos Bens Culturais e os Dilemas do Conservador-Restaurador: a Conciliação entre a Visualização e a Preservação. Ricardo Jaekel dos Santos Pelotas, 2011 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas Departamento de Museologia e Conservação e Restauro Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Móveis Estratégias para Iluminação dos Bens Culturais e os Dilemas do Conservador-Restaurador: a Conciliação entre a Visualização e a Preservação. Ricardo Jaekel dos Santos Trabalho acadêmico apresentado ao Curso Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis. Pelotas, 2011 3 Banca Examinadora: ____________________________________________ Prof. Me Silvana Bojanoski (UFPEL, Banca) ____________________________________________ Prof. Me Roberto Heiden (UFPEL/Orientadora) 4 Agradecimentos Agradeço primeiramente à Universidade Federal de Pelotas, por possibilitar meu retorno à vida acadêmica. Ao Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, pela formação consistente. Ao Prof. Ms. Roberto Heiden, pela inteligente e competente orientação e pela confiança por ter me aceito para o desenvolvimento de um tema tão complexo e inovador. À Profa. Ms. Andrea Bachettini, por me incentivar na execução de cursos de aperfeiçoamento fora de nossa cidade, colaborando valiosa e discretamente na coorientação. Ao Prof. Dr. Jaime Mujica Sallés, por acreditar e auxiliar meus experimentos e minhas teorias, empenhando-se com disponibilidade de bibliografia e assim provendo com segurança na co-orientação. Aos servidores do Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis pela paciência e simpatia no dia-à-dia. Aos meus colegas do Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis: Isabel, Fabiana, Fábio, Dudu, Michele, Consuelo, Andressa, Nathalia, Angela, João e Silvana pela convivência e tolerância. Às minhas queridas amigas de confições: Karen, Veronica e Mara pelo carinho como fui acolhido, por nossas afinidades e pelo respeito, mesmo nas horas mais difíceis. Ao meu filho amado Heric, responsável pelo meu empenho, um amigo paciente e motivador. A toda a minha família, por te me aguentado e compreendido a razão do estresse acadêmico assim como motivado a prosseguir. Um agradecimento especial a meu irmão Fioravante por sua insistência em meu retorno aos estudos. “Tinhas toda a razão e por que não dizer ainda tens” Também um agradecimento com todo carinho a amiga e namorada Cristine Jaques Ribeiro, por acreditar e me fazer acreditar que era possível. E por fim, aos meus pais, que, embora hoje falecidos, merecem minha dedicatória. 5 Não devemos exigir que a ciência nos revele a “verdade”. Num sentido corrente a palavra verdade é uma concepção muito vasta e indefinida. Albert Einstein 6 Resumo SANTOS, Ricardo Jaekel. Estratégias para iluminação dos Bens Culturais e os Dilemas do Conservador-restaurador: a conciliação entre a visualização e a preservação. 2011. 61 fls. Monografia – Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS. Este trabalho apresenta os resultados de estudos sobre conservação preventiva, tendo como foco a iluminação, que se trata de um fator indispensável para a visualização de objetos em exposição, entretanto, é também a luz um dos principais fatores de degradação dos objetos. Os estudos objetivaram a descrição das mais adequadas formas de se pensar a iluminação dos bens culturais, considerando critérios de sustentabilidade, conservação preventiva e de economia, sem que as soluções apresentadas pudessem comprometer o acesso e a visualização aos bens culturais. Para tanto, foram abordados os seguintes temas: os tipos de radiação encontradas nas lâmpadas, a luminotécnica, os aspectos ecológicos e sociais relacionados a iluminação de acervos culturais. Também foram realizados testes de envelhecimento acelerado, que objetivaram investigar os aspectos positivos e negativos de diferentes tecnologias de iluminação, considerando os critérios de conservação e de visualidade. As lâmpadas em LED, nesta pesquisa, aparecem como recurso que apresenta muitos fatores positivos para a iluminação de bens culturais. Palavras-chave: Conservação Preventiva. Iluminação. Luminotécnica. Visualização. Sustentabilidade. 7 Resumo SANTOS, Ricardo Jaekel. Estratégias para iluminação dos Bens Culturais e os Dilemas do Conservador-restaurador: a conciliação entre a visualização e a preservação. 2011. 61 fls. Monografia – Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS. This paper presents the results of studies on preventive conservation, focusing on lighting, it is an indispensable factor for the display of objects on display, however, the light is also a major factor in degradation of the objects. Thus, studies aimed at describing the most appropriate ways of thinking of cultural enlightenment, considering sustainability criteria, preventive conservation and economy without the solutions presented could compromise access to cultural and visualization. For this, we covered the following topics: types of radiation found in the bulbs, the lighting, the ecological and social aspects related to lighting cultural patrimony. Were also conducted accelerated aging tests, which aimed to investigate the positive and negative aspects of different lighting technologies, considering the criteria for conservation and visuality. The LED bulbs in this research, appear as a solution that has many positive factors for the illumination of cultural. Keywords: Sustainability. Preventive Conservation. Lighting. Illumination. Visualization. 8 Lista de figuras Figura 1: Espectro eletromagnético. ........................................................................................ 20 Figura 2: Tecido de cor azul desbotou, fragilizou e rasgou. ..................................................... 23 Figura 3: Camada pictórica com craquelê................................................................................ 23 Figura 4: Iluminação de vitrine com dicróicas embutidas em seu interior. ................................ 27 Figura 5: Iluminação de vitrines utilizando lampadas com temperatura de cor mais alta........... 27 Figura 6: Iluminação focalizada e realizada no Museu de Artes Leopoldo Gotuzo (MALG) ...... 28 Figura 7: Iluminação focalizada e de vitrines (insuficiente para circulação) .............................. 28 Figura 8: Iluminação zenital, com luz refletida ........................................................................ 29 Figura 9: Iluminação zenital com luz refletida .......................................................................... 29 Figura 10: Foto de tabela de eficiência luminosa. .................................................................... 34 Figura 11: Imagem obra de August Renoir. ............................................................................. 36 Figura 12: Exemplos de temperatura de cor. ........................................................................... 38 Figura 13: A partir da direita, LED, fluorescente e dicróica. ...................................................... 46 Figura 14: Luminária canhão. .................................................................................................. 47 Figura 15: Imagem interna da estrutura. .................................................................................. 48 Figura 16: Estrutura montada sobre o tecido de chita. ............................................................. 49 Figura 17: Tecido Chita. .......................................................................................................... 50 Figura 18: Time programado para ligar e desligar automaticamente. ....................................... 50 Figura 19: Medição de lux/h. ................................................................................................... 51 Figura 20: Estrutura montada sobre o jornal. ........................................................................... 52 Figura 21: Tecido após o teste. ............................................................................................... 53 Figura 22: Jornal com as três sessõesdemarcadas. ................................................................ 53 Figura 23:detalhe da sessão correspondente a lâmpada dicróica. ........................................... 54 Figura 24: Verso da folha utilizada no experimento. ................................................................ 54 9 Lista de tabelas Tabela 1: Índices de emissão de UV em lâmpadas incandescentes, fluorescentes e luz natural. ............................................................................................................................................... 21 Tabela 2:normas de iluminância estipulada pela ABNT. .......................................................... 24 Tabela 3:normas de iluminância máxima anual, estipulada pelo ICOM e IES .......................... 24 Tabela 4:Normas de iluminância máxima anual estipulada pelo IESNA ................................... 25 Tabela 5: normas de sensibilidade a iluminância e radiação UV, fornecidas por National GalleryTecnical. ...................................................................................................................... 25 Tabela 6: Percentuais de reflexão de cores. ............................................................................ 37 Lista de abreviaturas e siglas ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRACOR – Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores ACOR-RS - Asssociação de Conservadores e Restauradores do Rio Grande do Sul ICC- Instituto Canadense de Conservação ICOM – The International Council of Museuuns IESNA – EUA – Iluminating Engimeering Society of North America INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia IES – International Education Society IR – Infra Red IRC – Índice de reprodução de cor LED – Light Emitting Diodes MALG – Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo NBR – Normas Brasileiras ONU – Organização das Nações Unidas PVC –Cloreto de polivinila RGB – Red, Green, Blue TC – Temperatura de cor UFPEL – Universidade Federal de Pelotas UV – Ultra violeta 10 Sumário Resumo ....................................................................................................................... 6 Introdução ................................................................................................................. 11 Capítulo 1 – A conservação responsável ................................................................ 16 1.1 1.2 1.3 Sobre a conservação preventiva.............................................................. 16 Os fatores de degradação ....................................................................... 17 A iluminação para conservação ............................................................... 19 Capítulo 2 - O dilema do conservador-restaurador frente à escolha das lâmpadas. .................................................................................................................. 31 2.1 2.1.1 2.1.2 2.1.3 2.1.4 2.2 Luminotécnica ......................................................................................... 32 A Eficiência luminosa............................................................................... 33 Vida útil das lâmpadas............................................................................. 35 Índice de Reprodução de cor (IRC) ......................................................... 36 Temperatura de Cor (TC) ........................................................................ 38 Aspectos sociais e econômicos ............................................................... 39 Capitulo 3 - Experimentos práticos ......................................................................... 45 3.1 3.2 Procedimentos para a execução do envelhecimento acelerado............... 45 Avaliações dos resultados ....................................................................... 52 Conclusão ................................................................................................................. 56 Referências ............................................................................................................... 59 11 Introdução Ao longo dos últimos quinze anos desenvolvi uma série de práticas e experiências como profissional autônomo, envolvido com a iluminação de vitrines comerciais, trabalhos com redes elétricas, montagem e manutenção de sistemas elétricos. Nesta experiência vivenciada, pude perceber, por exemplo, a degradação dos objetos expostos, com destaque para aqueles coloridos ou de origem orgânica. Desta forma, a motivação inicial para a realização deste trabalho, foi a busca por aproximação entre os conhecimentos práticos adquiridos no trabalho com as questões discutidas ao longo de minha formação acadêmica no Curso Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da UFPEL. Neste período, os anos de estudo apontaram de forma recorrente, dentre outros aspectos importantes da área em formação, a importância da conservação preventiva dos bens culturais, onde, tradicionalmente, existe a preocupação com a preservação e com a sistematização de estratégias que potencializem esta preservação. Dentre os diferentes fatores que interferem na conservação dos bens culturais, a iluminação é um dos fatores de maior relevância. No entanto, no que pese a importância das questões da iluminação nas ações de conservação preventiva, não há maiores estudos ou pesquisas nesta área, sendo levados a cabo em nosso país. O ser humano tradicionalmente procura preservar sua memória armazenando fotos, documentos e quaisquer objetos que possam servir como fonte de informação para as gerações futuras. Contudo, para a salvaguarda destas informações, é necessário minimizar a degeneração causada pelo tempo. O reconhecimento de que a prevenção é anterior a restauração, começou a ser difundido no início do século XX por diferentes teóricos. Os preceitos brandianos1, já como conseqüência dos movimentos do início do século XX, reafirmaram a importância da “restauração preventiva”, termo utilizado por este autor, porém, que se refere a própria conservação preventiva. Posteriormente, em maio de 1964, com a publicação da carta de Veneza, o termo conservação passa a ser amplamente trabalhado, antes de tudo, como uma “manutenção permanente”. A pertinência na contemporaneidade das questões de conservação preventiva é confirmada através de sua recorrência em fóruns de discussão na área de conservação e restauro, e está, diretamente relacionada aos preceitos éticos da 1 Publicados em BRANDI, Teoria da Restauração- Artes&Ofícios (2004), 260p. 12 profissão do conservador-restaurador2. Neste sentido, o código de ética deste profissional3 descreve: “Por conservação preventiva designamos o conjunto das ações não-interventivas que visam prevenir e/ou retardar os danos sofridos minimizando o processo de degradação dos bens culturais”. Também em relação à conservação preventiva, Salvador Muños Viñas (2003, p. 23) fala que: A conservação preventiva inclui exclusivamente aquelas atividades de conservação em que não se intervêm diretamente naquilo que se conserva e sim sobre as circunstâncias ambientais. Nesta perspectiva teórica, este trabalho se desenvolve a partir de um destes fatores ambientais: a luz. Segundo Moya e Ferrer (2004, p.386) a luz é responsável por rupturas moleculares que provocam alterações como desbotamento ou descoloração até alterações mecânicas (fragilidade). Estas alterações são causadas em função de que a luz é uma forma de energia a que se chama de radiação. As radiações existem tanto na forma visível, quanto na forma invisível, e atuam de forma cumulativa, ou seja, o resultado final dos danos provocados por ela será o mesmo se a intensidade for pouca e o tempo em exposição longo ou viceversa4. Conforme Michalski (2009) o dilema fundamental da iluminação – visibilidade versus vulnerabilidade - é hoje assim como no passado, um desafio para os conservadores. A exposição dos bens culturais deve ter uma luz apropriada para a visualização, e reproduzir com fidelidade as cores próprias dos objetos, seus contrastes e, por outro lado, não danificar as características fundamentais destes objetos. Atualmente os museus costumam utilizar principalmente dois tipos de lâmpadas para a iluminação de seus acervos. São elas: as incandescentes 5 e as fluorescentes6. Elas são utilizadas para a iluminação geral, que preenche todo espaço 2 Eventos organizados principalmente pelas Associações de Classe e Órgãos Governamentais. A Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores (ABRACOR) disponibiliza os anais dos seus congressos pelo site: http://www.abracor.com.br/novosite/ 3 Disponível em: http://www.aber.org.br, acessado em 14/11/2011 4 CHENIAUX, VIOLETA. Subsídios técnicos para a conservação preventiva. Anais do Museu Histórico Nacional, 1996, vol.28, p.120 5 Lâmpada incandescente resulta do aquecimento de um filamento em gás argônio até um valor capaz de produzir irradiação na proporção visível do espectro luminoso ( entre 380 e 780 nm). Manual luminotécnico OSRAM 6 Lâmpada fluorescente produz luz devido à excitação de um gás (com a passagem de corrente elétrica) contida entre dois eletrodos. Manual luminotécnico OSRAM 13 do ambiente de exposição e, também, para o direcionamento do fluxo luminoso, ou como foco pontual de luz, destacando determinado objeto, ou aspectos do mesmo. As lâmpadas incandescentes, devido a sua constituição, são responsáveis por emanar calor na forma de raios infravermelho (IR) 7, enquanto as fluorescentes emitem raios ultravioleta (UV)8. Contudo, um novo avanço tecnológico em lâmpadas sugere uma revisão nas tradicionais formas de iluminação. A luz produzida por LED9 promete ocupar destaque no campo da conservação, pois, segundo os estudos mais recentes, esta tecnologia tem mínima emissão de raios UV e IR, como dito, identificados como fatores que degradam objetos. Outro aspecto que é relevante para o Conservador-restaurador e que também está citado no código de ética do profissional (2005,p.3), é a recomendação para a utilização de equipamentos que não causem danos ao meio ambiente e aos seres vivos. Pode-se compreender a partir destes marcos teóricos, que uma correta iluminação, que não seja agressiva aos bens culturais, e que permita a economia de energia, sendo constituída por materiais oriundos de métodos de produção pautados no desenvolvimento sustentável, como algo altamente desejável. Neste sentido, o presente trabalho objetivou desenvolver uma reflexão pautada em uma ampla discussão sobre os benefícios da iluminação com lâmpadas de LED em acervos de valor cultural, considerando que, estas lâmpadas, provavelmente, têm características favoráveis à conservação e ao desenvolvimento sustentável. É neste sentido que se constitui o problema central desta pesquisa, que é: qual é o potencial e a adequação do uso de lâmpadas LED, em ambientes de exposição, considerando os princípios citados de conservação e de sustentabilidade? Desta maneira, o objetivo principal deste trabalho é investigar as potencialidades da iluminação com LED na conservação de bens culturais. Pretendese, com isso, colaborar para um maior conhecimento sobre a iluminação e seus impactos em relação à conservação dos bens culturais, considerando, também, questões de sustentabilidade. Os objetivos específicos desta pesquisa são: 7 Raios infravermelho encontram-se acima de 780nm na escala do espectro eletromagnético, e não visível ao olho humano 8 Raios ultravioleta encontram-se entre 150 e 380nm na escala do espectro eletromagnético, e não visível ao olho humano 9 Emissão de luz por diodo 14 - Colaborar para o campo da conservação preventiva apresentando informações mais específicas sobre a correta iluminação dos bens culturais, os aspectos que envolvem a iluminação com a conservação e o uso sustentável das tecnologias de iluminação aplicadas a conservação; – Descrever as questões específicas da luminotécnica, de forma a compreender seus impactos no campo da preservação, considerando, também, os aspectos sociais envolvidos. – Realizar testes e análises de modo a mensurar o impacto de diferentes tecnologias de iluminação sobre objetos, para compreender quais são as mais recomendáveis. Desta maneira, ao atingirmos estes objetivos, espera-se que o trabalho atinja também a sua meta principal, que é comprovar a adequação ou não da utilização das lâmpadas de LED aos princípios de conservação preventiva, da boa visualização e de sustentabilidade. Espera-se também que este trabalho de pesquisa promova um debate em relação à iluminação utilizada em exposições e promova um maior conhecimento dos danos causados pela mesma. Além disso, objetiva-se difundir as novas tecnologias existentes no campo da iluminação. A importância do assunto fica evidenciada nas seguintes constatações: - Uma tecnologia cada vez mais explorada, como os LEDs, encontra-se pouco conhecida no campo da conservação. As poucas informações se referem geralmente ao seu alto custo inicial. Acreditamos no potencial da radiação emitida pelos LEDs e nas suas vantagens para a redução de danos a acervos, pois, as tecnologias mais utilizadas em ambientes de exposição, tais como já mencionado, as lâmpadas fluorescentes e incandescentes, não atendem satisfatoriamente a estes critérios. - Os índices de iluminação destas duas tecnologias não suprem as necessidades adequadas de visualização, com obediência e adequação entre índices desejáveis de visualização conjugados a parâmetros adequados de conservação, o que fere os princípios regidos pelas teorias de conservação e restauro vigentes. Este trabalho esta estruturado em três partes, conforme o que segue. O primeiro capítulo apresenta conceitos luminotécnicos relacionados a iluminação com lâmpadas fluorescentes e incandescentes. O capítulo fala sobre a radiação emitida por estes equipamentos, os danos e os custos provocados, bem como de resultados das mesmas e o uso sustentável das tecnologias de iluminação aplicadas à conservação. 15 O segundo capítulo aborda também os conceitos de conservação preventiva e fatores de degradação, porém, tendo como foco de discussão as potencialidades do uso das lâmpadas de LED, e suas principais características, considerando, também, os aspectos sociais envolvidos. O terceiro capítulo abarca a comparação entre os três tipos de lâmpadas analisados ao longo dos capítulos anteriores. Para tanto, faz-se o relato de experimentos realizados que nos permitem em parte mensurarmos os impactos do uso destas tecnologias para a iluminação de acervos, objetivando avaliar os resultados obtidos e apontarmos aqueles que, de forma mais adequada, estejam em consonância com os marcos teóricos adotados. Por fim, apresenta-se a conclusão, que aponta aspectos importantes sobre a utilização das lâmpadas de LED para a iluminação de acervos culturais. 16 Capítulo 1 – A conservação responsável A conservação deve estar pautada em práticas conscientes. Assim sendo, entende-se por necessário que o conservador-restaurador busque o máximo de informações pertinentes ao cotidiano de sua função. Estas informações devem prover o profissional com subsídios adequados a fim de antecipar-se aos futuros danos a que correm risco os bens culturais. O conservador-restaurador, de posse dessas informações, pode analisar o ambiente expositivo e de reserva técnica, de forma a participar do planejamento de condições ideais, interagindo com outros profissionais, tais como museólogos e arquitetos, por exemplo. Neste sentido, este capítulo pretende apresentar os princípios que viabilizam a conservação preventiva, sua contemporaneidade na valorização da preservação dos bens culturais e os fatores responsáveis por acelerar as degradações das obras. Descreve com maior abrangência o fator luz, apresentando as formas como atua na degradação e as conseqüências da iluminação sobre os objetos. Ainda são apresentados os exemplos mais comuns de iluminação existentes nas edificações destinadas para exposições permanentes ou temporária. 1.1 Sobre a conservação preventiva Para discutir a importância do tema conservação, entende-se como necessário apresentar a importância deste tema para a atividade do conservadorrestaurador e, conseqüentemente, relacioná-lo com a iluminação de acervos, que é o foco deste trabalho. Assim, cabe problematizar a questão da importância da conservação ante a restauração. Na formação profissional do Conservador-Restaurador, destacam-se os conhecimentos sobre os fatores que alteram as características básicas dos bens culturais e os métodos de prevenção contínua sobre a ação dos mesmos, o que assim evita o restauro. Tanto no que diz respeito ao conhecimento destes fatores, quanto ao ato de se manter os índices ambientais ideais, a conservação preventiva é 17 evidenciada cada vez mais em simpósios da área, por ser economicamente mais viável, bem como mais politicamente correta, evitando alterações possíveis e/ou prováveis, causadas por ações irreversíveis, por exemplo, de restauro. Em maio de 196410, com a carta de Veneza, o termo conservação passa a ser amplamente utilizado, antes de tudo, como uma “manutenção permanente”. A carta de restauro de 1972 relaciona os termos conservação e salvaguarda, definindo-os como medida conservativa que não implica em intervenção direta sobre um bem cultural. A pertinência na contemporaneidade das questões de conservação preventiva é confirmada através de sua recorrência em fóruns de discussão na área de conservação e restauro e está diretamente relacionada aos preceitos éticos da profissão11. A conservação é ainda a forma mais eficaz de manter a originalidade do bem, ou seja, torna-se necessário criar no coletivo dos profissionais uma prática de prevenção12. Na prática, este pensamento envolve ações básicas, tais como o controle climático de umidade, temperatura e luz, e também cuidados contra microorganismos e insetos roedores, assim como a realização de ações cotidianas e sistemáticas. Contudo, ainda convém lembrar que estes cuidados fazem parte de um conjunto de atitudes que, para se obter êxito, devem ser realizadas continuamente. Considerando estes aspectos acima citamos entende-se a importância de se relacionar a discussão sobre conservação preventiva com o compromisso ético, frente à intervenção profissional, nos diversos espaços de atuação do conservadorrestaurador. Ou seja, optar pela conservação preventiva, significa manifestar a concepção de cuidado com a autenticidade da informação, nos aspectos estéticohistóricos, assim como preocupar-se com a prevenção das despesas frente aos altos custos dos materiais de restauro. 1.2 Os fatores de degradação A conservação preventiva, como citado anteriormente, ocupa-se de evitar a ocorrência de uma série de fatores ambientais que permeiam e podem acelerar o processo de fragilização de um objeto. Está também inserido neste contexto todos os 10 Ver Cartas Patrimoniais em site de Iphan: http://portal.iphan.gov.br Eventos organizados principalmente pelas Associações de Classe e Órgãos Governamentais. A Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores (ABRACOR) disponibilizado nos anais dos seus congressos pelo site: http://www.abracor.com.br/novosite 12 Meden, Susana e Bojanoski, Silvana. Palestra: Preservação de livros e documentos. 2° Curso de Prevenção de Patrimônio Cultural, Porto Alegre, UFRGS, julho 2011, ACOR-RS. 11 18 aspectos considerados em trabalhos de avaliação de riscos13. Descreve-se a seguir alguns fatores responsáveis pela deterioração dos bens culturais. O conservador-restaurador deve possuir o maior numero de informações sobre os agentes de degradação relacionados com o espaço físico de exposição e de reserva técnica. Também essas informações devem ser analisadas em âmbitos internos e externos do prédio, a fim de produzir subsídios na produção de laudos para prováveis ocorrências de dano ou onde o dano esteja em andamento. Os agentes biológicos são aqueles ocasionados pela presença de seres vivos ou a eles relacionados. No campo da conservação encontramos recorrentes infestações. Podemos citar como exemplos os insetos xilófagos14, as formigas, os roedores, moscas, baratas, fungos, bactérias e outros microorganismos. Para uma eficaz ação de prevenção ou desinfestação é necessário que o conservadorrestaurador primeiramente identifique quantos e quais são as tipologias de provável infestação. É necessário que o profissional conheça a praga a ser combatida, o seu ciclo de vida, os seu hábitos alimentares e, por fim, o sua forma de hábitat. Assim, poderá produzir estratégias de combate aos mesmos ou simplesmente desencorajar a presença do agente no local onde o mesmo se encontra. Os agentes físicos condicionam a vida dos seres vivos em um ecossistema, mas são independentes da atividade dos seres vivos, ou seja, chamamos estes fatores de não-vivos e podemos citar, como exemplos, a temperatura (externa, interna e variações diárias), a umidade relativa, a pluviometria do lugar15 (intensidade de chuvas, freqüência, direção), a luz (radiação solar ou artificial), a localização geográfica, movimentos do vento e qualidade do ar (poeira, poluição e origem). Estes agentes físicos atuam na degradação de forma individual ou combinada, sendo a combinação de diferentes fatores, uma potencialização dos agentes. Não menos importante que os agentes físicos e biológicos, encontramos outras formas de deterioração dos acervos. Trata-se de agentes físicos-mecânicos, onde podemos citar o transporte, o manuseio e o acondicionamento incorreto dos bens culturais ou mesmo possíveis acidentes com os mesmos. Ainda podemos citar agentes químicos como os inimigos de acervos. Nestes incluímos os poluentes 13 Entende-se por avaliação de riscos a identificação dos fatores presentes que podem influenciar ou contribuir para degradação ativa dos bens culturais. Fonte: Plano de Conservação Preventiva – Base Orientadora, normas e procedimentos. (2007) 14 Brocas e cupins, consumidores de madeira e materiais celulósicos 15 Pluviometria é o estudo sobre a quantidade de chuvas que cai em uma determinada região e a água coletada fornece informações sobre a poluição que a chuva retira do ar. Instrumentação industrial, p624 disponível/: http://books.google.com.br 19 encontrados no ar que, por vezes, são oriundos de produtos utilizados em limpeza, ou da própria restauração de bens já danificados. Estratégias de conservação preventiva adequadas devem se basear inicialmente em relatórios que diagnostiquem todos os fatores citados acima como os prováveis, considerando aspectos das construções arquitetônicas, visitações e segurança. No entanto, esta pesquisa aborda especificamente os cuidados preservacionistas relativos à iluminação. 1.3 A iluminação para conservação Ao abordarmos a iluminação na conservação, encontramos este fator como uma das formas mais comuns de degradação de materiais pertencentes a acervos museológicos, arquivisticos e bibliográficos. Contudo, a luz sempre estará relacionada primeiramente à visualização do material exposto, cabendo ao conservadorrestaurador o desafio de proporcionar resultados visuais e, ao mesmo tempo, mitigar seus efeitos danosos. Segundo Lorite (2005, s.p.): La cuestión de la iluminación tiene dos vertientes que no puedem considerarse por separado. Por uma parte es uno de los más nocivos agentes de deterioro em tanto que los efectos de su ación son irreversíbles, y por outro lado es principal soporte de comunicación entre el objeto y el observador de modo que interviene o deberia intervenir decisivamente en el proceso museográfico. Portanto, se a luz é de vital importância para exposições e ainda está relacionada a fatores de degradação, é plausível que antes de optarmos por uma ou outra iluminação, conheçamos um pouco sobre o seu mecanismo, assim como a forma como o mesmo age sobre os materiais expostos. Para compreendermos as ações e reações pertinentes a luz, primeiramente, deve se definir a luz como uma forma de energia eletromagnética, e que tem sua origem a partir de uma fonte também energética, tais como a luz solar ou a luz artificial proveniente de uma lâmpada. Chamamos a propagação ou condução desta fonte energética de radiação. As radiações se propagam como ondas eletromagnéticas e estão especificadas no espectro eletromagnético, que apresenta fatores físicos tais como a 20 freqüência16 e o cumprimento de onda17. Para elucidação, podemos comparar este fenômeno com o ato de jogar uma pedra na água parada. Com o impacto causado irão surgir ondas. As que se formam mais próximas do centro, que são mais rápidas e, portanto, têm mais energia, possuem intervalos pequenos entre elas, ou seja, um cumprimento de onda menor. Conseqüentemente, surgirão mais ondas em um mesmo espaço de tempo ou, uma maior freqüência. Quanto mais fora do centro do impacto, maior é o distanciamento entre as ondas ou, ocorre um maior cumprimento de onda, o que gera conseqüentemente uma menor quantidade de ondas no mesmo espaço de tempo, ou seja, uma menor freqüência. A unidade utilizada para medir o cumprimento de onda é o nanômetro, uma subunidade do metro, ou de forma mais precisa, um bilionésimo de metro ou 1 nm (nanômetro) ou, ainda, 10-9 m (metro) (San Andres; Moya Margarita e Viña Ferrer Sonsoles, 2004.p.382). Estas medidas são referenciadas no espectro eletromagnético (ver figura 1) onde se pode observar a luz visível constituindo uma pequena parcela no mesmo espectro. A radiação de luz visível está situada aproximadamente entre os 400 nm (luz roxa) e 700nm (luz vermelha). Logo abaixo dos 400nm encontramos a radiação ultravioleta (UV) e outras, assim como acima dos 700nm, a radiação infravermelha (IR) e as que a seguem. Figura 1: Espectro eletromagnético. Fonte: Israel Pedrosa. O Universo da Cor, p.20 16 Freqüência de onda refere-se a quantidade de ondas que passa por um determinado ponto em um certo intervalo de tempo. 17 Fonte: SAN ADRES; MOYA MARGARITA E VIÑA FERRER, SONSOLES, 2004. p.379 21 Para maior conhecimento sobre as reações das radiações nos materiais, cabe ressaltar que quanto mais energia transportada pela radiação, mais ela se torna vibrante e com menor cumprimento entre as ondas, portanto, maior será a reação a essa vibração acarretando o dano à matéria. As radiações UV, freqüentes em nossas lâmpadas, encontram-se no espectro luminoso entre 100 e 400nm. Esta forma de radiação é altamente danosa e não visível ao olho humano e, portanto, totalmente dispensável. Por este motivo são intensos os esforços em se eliminar ou reduzir ao máximo possível esta radiação. A sua intensidade é medida em µW/lm (micro watts/lúmen). Para esta medição utiliza-se um medidor de UV tendo como parâmetro os índices de tolerância de radiação UV. Para uma adequada preservação de bens culturais com alta sensibilidade, o máximo índice recomendado é o de 75 µW/lm, por exemplo. (ALCÁNTARA R., 2002 p.21) Com intenção de colaborar com a escolha de lâmpadas a serem adquiridas para iluminação de bens culturais, podemos observar na tabela 1, algumas lâmpadas e os percentuais de radiação UV encontrados nas mesmas. Tabela 1: Índices de emissão de UV em lâmpadas incandescentes, fluorescentes e luz natural. Fonte: Iluminação de Museus, Galerias e Objetos de Arte. Fonte: Barbosa, l. A. G. s.d.p.24 Cabe ressaltar que a quantidade de luz visível encontrada nas fontes luminosas é entre 10 a 50 vezes mais que a radiação UV, a luz visível possui em seu espectro radiações desde as mais próximas a UV até as mais próximas a IR. Entretanto, apesar de a luz visível ser menos danosa, trata-se de uma radiação que existe em maior quantidade, assim, deve ser considerada também como danosa. 22 A radiação IR é menos danosa que a radiação UV e as visíveis, contudo, este tipo de radiação deve ser levado em conta ao lidarmos com a conservação do patrimônio, pois ela é responsável por efeitos térmicos que, associados a outros fatores ambientais, tais como, a temperatura e a umidade, podem desencadear a fragilização do acervo. Por possuir pequena ação danosa, não existem convenções ou instrumentos para medir a ação da radiação IR. Atualmente se aconselha utilizar a sensibilidade das mãos para perceber se há um aumento considerável de temperatura18. É importante esclarecer que chamamos somente as reações por ação de radiação luminosa de processo fotolítico, enquanto que a reação onde a ação luminosa é acrescida de agentes químicos chama-se de processo fotoquímico19. As reações citadas acima ocorrem na matéria de diferentes maneiras, dependendo se esta radiação é absorvida, refletida, refratada, transmitida ou, ainda, dispersada, conforme a tipologia do material que a recebe. No entanto, quanto mais energia é absorvida pela matéria, maior será a reação, devido a excitação das moléculas. Ainda devemos levar em consideração que a radiação luminosa comportase de maneira “cumulativa” e com maior intensidade em materiais orgânicos, logo, entende-se que, na verdade, a redução de luz irá retardar os efeitos do processo degenerativo, ou seja, submeter um objeto a uma radiação luminosa muito forte em um curto espaço de tempo será o equivalente a uma exposição em um tempo maior, porém, com uma iluminação mais fraca (CHENIAUX,1996, p.120). Ao abordarmos a iluminação como agente de fragilização de materiais, se torna importante elencar as formas como estes danos se apresentam. Alguns indícios de degradação se identificam visualmente, tais como os desbotamentos ou alteração de cor (ver figura 2). Esta é apenas uma indicação de deterioração superficial, ocorre simultaneamente com um dano na estrutura química e física do objeto. Na realidade o desbotamento é um alerta de eminente e silenciosa deterioração de maiores proporções. As deteriorações causadas por radiação UV são as de maior incidência em materiais orgânicos, podemos citar o desbotamento o enrijecimento e fragilização dos tecidos e couros, o enfraquecimento e desgastes em madeiras e ossos, nas pinturas a alteração cromática, o amarelecimento de vernizes e, por conseguinte, a perda da coesão dos pigmentos e os craquelês (ver figura 3). 18 19 Fonte: SAN ADRES; MOYA MARGARITA E VIÑA FERRER, SONSOLES, 2004. p.379 Fonte: SAN ADRES; MOYA MARGARITA E VIÑA FERRER, SONSOLES, 2004. p.379 23 Figura 2: Tecido de cor azul desbotou, fragilizou e rasgou. Fonte: Museu Parque Municipal da Baronesa em Pelotas/RS, com numeração: Adail 014. Foto: Veronica Santos Figura 3: Camada pictórica com craquelê. Fonte: Museu Parque da Baronesa em Pelotas/RS.com n°122 MMPB 0604. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos A luz visível também pode provocar danos aos bens culturais, estes danos ocorrem principalmente quanto mais a cor da luz se aproximar do violeta, desta forma se aproximando do cumprimento de onda e freqüência encontrado na radiação UV. Entretanto, se as cores da luz visível estiverem próximas à radiação de cor vermelha, são produzidas reações próximas aos efeitos da radiação IR, que é responsável pela oscilação da temperatura ambiental e nos materiais, resultando na dilatação e retração 24 da matéria e consequentemente deformações na aparência 20. Esta reação é responsável pelo aparecimento de craquelês em obras de arte com camadas pictóricas (ver figura 3). Contudo o conservador-restaurador também deve conhecer os materiais e suas fragilidades, a fim de relacionar a iluminação mais apropriada em sua exposição, de modo a obter êxito com o máximo de visualização e a menor deterioração possível. Abaixo vemos uma relação de normas para níveis máximos de iluminância 21 conforme a sensibilidade dos objetos e o seu tempo de exposição22. Tabela 2:normas de iluminância estipulada pela ABNT. Fonte: Iluminação de Museus, Galerias e Objetos de Arte. Fonte: Barbosa, l. A. G. s.d.p.19 Tabela 3:normas de iluminância máxima anual, estipulada pelo ICOM e IES Fonte: Iluminação de Museus, Galerias e Objetos de Arte. Fonte: Barbosa, l. A. G. s.d.p.19 Na tabela acima, fornecida pelo ICOM da França e Inglaterra, sugere-se exposição de 8 horas em 300 dias. 20 Sugere-se para aprofundar estudos teórico-técnico a obra dos autores: PASCUAL, EVA; PATIÑO, MIRÉIA. 2003, 21 Iluminância é a medida de quantidade de luz que incide em uma superfície, sua unidade é o Lux. Fonte: DA COSTA, 2006, p. 215 22 Fonte: BARBOSA, L. A. G. s.d. Iluminação de Museus, Galerias e Objetos de Arte. www.geocities.ws/luisgreno/TEXTOS/iluminacaomuseus.pdf 25 Tabela 4:Normas de iluminância máxima anual estipulada pelo IESNA Fonte: Iluminação de Museus, Galerias e Objetos de Arte. Fonte: Barbosa, l. A. G. s.d.p.19 Na tabela acima, fornecida pelo IESNA – EUA, destaca-se que, para os materiais extremamente sensíveis, o tempo de exposição deverá ser calculado a fim de alcançarmos os índices máximos anuais previstos, pois, se houver a intenção de exposição diária, esta não deverá ultrapassar a 2 horas e 45 minutos. Embora existam diferenças entre as tabelas acima, as informações facilitam o trabalho do conservador-restaurador, que ainda deverá considerar as condições de fragilidade das obras. Ainda, conforme BARBOSA, l. A. G. s.d. p.22, a radiação máxima admissível com a utilização de lâmpadas incandescentes, de acordo com Garry Thomson (1) e, a radiação máxima admissível por lâmpadas fluorescentes, de acordo com David Saunders (2), está relacionada na tabela reproduzida abaixo. Tabela 5: normas de sensibilidade a iluminância e radiação UV, fornecidas por National GalleryTecnical. Fonte: Iluminação de Museus, Galerias e Objetos de Arte. Fonte: Barbosa, l. A. G. s.d.p.22 Sabe-se que, em certos casos, a iluminação deve priorizar a visualização, como no caso de análise de danos em obras que estejam adentrando uma instituição. Conforme a da Associação Brasileira de Normas Técnicas e a sua Norma 5314-1992, para as tarefas com requisitos especiais, tais como para análises e inspeção, os índices recomendáveis são de 1000 a 2000 lux/h. Já na tabela do ICOM existe uma observação para que não se exceda a 1000 lux, contudo, para ambas, o tempo de 26 exposição deverá ser o mínimo necessário para a execução da tarefa. O interior das reservas técnicas das instituições não poderá ter iluminação natural. Sugere-se mantêlas na escuridão sempre que possível. Quando ocorrer a necessidade de presença de pessoas na reserva, deve-se utilizar iluminação localizada, resguardando o restante do acervo dos efeitos da luz. A escolha da iluminação adequada à reserva deverá ser conforme os objetos e a sua sensibilidade. Devem-se ter também cuidados com a localização dos interruptores que devem ficar em locais próximos a entradas e saídas, assim como se evitar o trânsito de pessoas no escuro, o que evita possíveis acidentes 23. Nos locais de exposição estão os reais conflitos para os profissionais da conservação preventiva, ou seja, a necessidade de se proporcionar visibilidade e, ao mesmo tempo, criar as condições para a preservação dos objetos, considerando a sua vulnerabilidade, neste caso, à iluminação. (Michalski, 2005, p 185). Atualmente nos ambientes de visitação encontramos as mais diversas formas de exposição. Elas irão variar conforme a estrutura arquitetônica e a tipologia da exposição, além de outros aspectos, contudo, encontramos com maior freqüência a iluminação de vitrines, a iluminação focalizada e a de preenchimento. Abordando primeiramente a iluminação de vitrines, encontramos com maior incidência a utilização das lâmpadas incandescentes, mais precisamente as chamadas dicróicas halógenas (ver figura 4), muito utilizadas por seu pequeno tamanho e pela boa reprodução de cor que a mesma propicia24. Entretanto, quando se realizam exposições com metais prateados, indica-se uma iluminação com um tipo de luz mais “fria” ou com temperatura25 de cor mais alta, e a presença de luz com cores mais azuladas, o que intensifica a coloração dos metais (ver figura 5). 23 Fonte: Instituto dos Museus e da Conservação Palácio Nacional da Ajuda. Plano de conservação preventiva, Bases Orientadoras, normas e procedimentos. Lisboa,2007.134p 24 Chama-se reprodução de cor a fidelidade como determinado tipo de luz reproduz as cores. Fonte: Manual Luminotécnico Prático OSRAM 25 Temperatura de cor refere-se à tonalidade da luz produzida pela lâmpada. Quanto mais Branca a luz, mais alta sua temperatura de cor. Fonte: apostila de iluminação, conceitos e projetos da OSRAM. 27 Figura 4: Iluminação de vitrine com dicróicas embutidas em seu interior. Fonte: Material fornecido no curso ministrado por Mariângela Moura no Museu Histórico Nacional Figura 5: Iluminação de vitrines utilizando lâmpadas com temperatura de cor mais alta. Fonte: http://www.lighting.philips.com.br/projects/egypt_museum.wpd Já para a luz utilizada com a intenção de destacar obras maiores e também propor efeitos cênicos ao ambiente, se opta por lâmpadas que possuam concentração de fluxo luminoso26 para alcançar certo direcionamento. Se a reflexão destas luzes viabilizarem a circulação dos visitantes, a iluminação do ambiente poderá ser suspensa, caso contrário, sugere-se uma iluminação para este fim (ver figura 7). Outra forma de obter o mesmo resultado é a utilização de luminárias que proporcionem uma 26 Chama-se fluxo luminoso a radiação total de uma fonte luminosa. Fonte: Manual Luminotécnico Prático. 28 boa condução do fluxo luminoso e a obtenção do mesmo tipo de efeito visual (ver figura 6). Figura 6: Iluminação focalizada e realizada no Museu de Artes Leopoldo Gotuzo (MALG) Foto: Ricardo Jaekel dos Santos Figura 7: Iluminação focalizada e de vitrines (insuficiente para circulação) Fonte: http://www.lighting.philips.com.br/projects/egypt_museum.wpd À iluminação responsável por visualização do ambiente chama-se luz de preenchimento e podemos obtê-la com iluminação direta ao ambiente ou indireta27. A escolha por lâmpadas fluorescentes ou incandescentes ocorrem a critério do profissional, conforme os conhecimentos sobre o tipo de exposição bem como dos materiais que constituem os objetos. Ainda cabe ressaltar a possibilidade de utilização da luz natural para a iluminação de preenchimento28, contudo, devido as altas taxas de 27 Iluminação que utiliza a reflexão para distribuição de fluxo luminoso. Estas informações foram obtidas a partir do curso de capacitação realizado no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, em oficina ministrada pela professora Mariângela Moura, nos dias11 a 15/06/2011 28 29 radiação UV e IV existentes na luz natural, recomenda-se maior atenção em sua utilização e, caso seja possível, a utilização de iluminação zenital29 com anteparos e filtros.(ver figura 8, 9). Figura 8: Iluminação zenital, com luz refletida Fonte: www.usp.br/.../7_Cecace_2006_Iluminacao_Zenital_Estrategia_de_P... Figura 9: Iluminação zenital com luz refletida Fonte: www.usp.br/.../7_Cecace_2006_Iluminacao_Zenital_Estrategia_de_P... Entretanto, conforme citado anteriormente, um dos cuidados com a iluminação diz respeito ao tempo de exposição e, como a iluminação natural está ininterruptamente presente durante o dia, torna-se indispensável à inclusão destes cálculos para a conservação dos objetos, bem como da colocação de filtros de radiação UV nos acessos ao acervo. 29 Chama-se iluminação zenital a luz proveniente do aproveitamento da luz solar com aberturas localizadas nas edificações. 30 Portanto, como podemos ver no contexto deste capítulo, a conservação de bens culturais exige conhecimentos específicos do profissional. Abordamos a conservação de forma prioritária frente ao restauro, onde foram citados agentes de degradação, bem como os resultados provenientes destes agentes. Contudo, destacou-se um item, em específico, responsável por degradação, porém, este mesmo item, é indispensável à relação entre o observador e o bem cultural que se quer expor, ou seja, a própria luz. Nossa vilã e heroína de uma mesma história. Assim, de forma a auxiliar nas decisões frente aos dilemas do conservadorrestaurador, foi abordada a luz em suas diferentes radiações, destacando-se a necessidade de mitigação da radiação UV e IR. Contudo, sem menosprezarmos a radiação visível, onde também se tem uma forma de radiação próxima das UV e IR, porém, em maior quantidade. Desta forma, conclui-se que a luz, dentro do espectro visível, é menos danosa por sua constituição, entretanto, por sua quantidade, se aconselham cuidados específicos com o tempo de exposição. 31 Capítulo 2 - O dilema do conservador-restaurador frente à escolha das lâmpadas. Ao conservador-restaurador no exercício de sua função, cabe a tarefa de atuar no presente com vistas no futuro, pautado em seus princípios éticos. O conservador-restaurador deve prever o surgimento de prováveis danos, e antecipar-se na percepção dos agentes físicos e químicos responsáveis por degradar os bens culturais. Neste contexto, também estão presentes os fatores estéticos e econômicos, que se encontram relacionados às escolhas feitas em trabalhos de conservação e de restauro. Este capítulo pretende abordar as especificidades técnicas e econômicas de lâmpadas existentes no mercado, pois esse conhecimento contempla as competências e responsabilidades do conservador-restaurador. Assim, o texto tem por objetivo apresentar o tema iluminação. Para tanto, se fez a escolha de discutir dentro do campo da luminotécnica abordando as seguintes questões: a eficiência luminosa, vida útil, os índices de reprodução de cor dos objetos iluminados, e temperatura de cor das lâmpadas. Além da luminotécnica e dos aspectos econômicos envolvidos, este capítulo abrange aspectos de cunho social e ambiental, fornecendo informações referentes a necessidade de uma maior consciência ecológica, e a preocupação com a necessária melhoria das condições de iluminação para pessoas com deficiência visual. Assim espera-se colaborar para questões pertinentes ao desempenho do trabalho do conservador-restaurador frente às diversas escolhas relacionadas a iluminação de bens culturais. 32 2.1 Luminotécnica A escolha da iluminação de acervos e/ou objetos de valor cultural deve considerar, como já antes dito, os conhecimentos sobre os prováveis danos, assim como as radiações existentes em cada tipo de iluminação e os índices aconselhados pelos órgãos normativos. Entretanto, a participação do conservador-restaurador não deve ficar enraizada somente com a preocupação conservacionista, mas sim, sua prioridade. Assim sendo, ao profissional cabe também buscar a compreensão das influências da luz sobre as cores e o espectador, bem como atualizar-se sobre o custo-benefício e outros aspectos envolvidos, a fim de compreender e participar da logística do funcionamento de exposições. Considerando estas questões, encontramos estes conhecimentos na luminotécnica. Entretanto, antes de qualquer decisão que venha a ser tomada sobre a iluminação de um determinado ambiente, Oliveira (2003, s.p.) nos explica que existem prioridades que não podem ser invertidas. O autor diz que: É comum ter-se um Projeto de Instalações Elétricas definido e somente posteriormente pensar-se na iluminação – tipo de lâmpada, luminária, etc. Agindo desta maneira, estamos invertendo o processo, primeiro se pensa na iluminação e o projeto de instalações elétricas vem a reboque dessa preocupação inicial com a introdução da luz. O que o autor nos fala é que, devido ao dimensionamento de uma rede, que será desenvolvido conforme a carga utilizada para a iluminação, esta, por sua vez, produzirá um valor total de consumo necessário para a escolha dos condutores de energia, assim como para o seu sistema de proteção30. Assim sendo, percebe-se uma maior relevância nas decisões do conservadorrestaurador quanto a envolver-se na elaboração de uma proposta de iluminação. Ou seja, antes de se realizar uma instalação, ou a escolha de determinados equipamentos, o projeto deve ser pensado na sua dimensão geral, com um assessoramento técnico que possa prever melhores condições de conservação de bens culturais, em consonância com todas as etapas do trabalho e, conforme já dito, sem invertermos prioridades. Portanto, para um melhor conhecimento sobre a luminotécnica, o trabalho se atém a especificar as lâmpadas que são tradicionalmente mais utilizadas para a iluminação de bens culturais. 30 COSTA, J. G.C. da 2007 p 51. 33 Antes deste detalhamento, cabe citarmos os tipos de lâmpadas mais utilizados, de acordo com o que segue. Elas estão dividas em três grandes grupos: as incandescentes (tradicionais e halógenas), as gasosas (florescentes, vapores de sódio, vapor metálico, de mercúrio e neon) e o Light Emitting Diode (LED). É importante esclarecer que nosso estudo se atém às lâmpadas incandescentes dicróicas, gasosas fluorescentes compactas e lâmpadas de LED, cada tipo com suas peculiaridades. 2.1.1 A Eficiência luminosa Denomina-se eficiência luminosa a característica das lâmpadas de atingir ou não bons resultados de iluminação. Ao mesmo tempo esta eficiência deve estar relacionada com o baixo consumo de energia utilizado para a produção desta luz. Portanto, discutir a eficiência luminosa neste trabalho, significa considerar o custo-benefício do seu uso, relacionando especificamente o consumo e a quantidade de luz produzida, independente das qualidades da luz produzida. No entanto, em outro momento desta discussão serão abordadas as qualidades da iluminação, fato que não podemos ignorar em se tratando de um trabalho sobre a iluminação de objetos de valor cultural. Contudo, o item eficiência luminosa trata especificamente de valores quantitativos relacionados a consumo. Podemos destacar o que relata Costa (2006,p.459) É importante que exista sempre uma análise conjunta de espaço e luz, e, concomitantemente uma preocupação com a economicidade energética. Este é o desafio que não há regras claramente definidas, ou se quiser, apenas uma: evitar o desperdício Podemos dizer que eficiência luminosa de uma fonte luminosa é o quociente entre o fluxo luminoso emitido em lúmens, pela potência consumida em watts, normalmente lm/W (lúmen/Watts), com seus respectivos valores quantitativos informados. Em outras palavras, esta grandeza retrata a quantidade de luz que uma fonte luminosa pode produzir, a partir da potência elétrica de um watt (Rodrigues 2002). Assim sendo, passamos a explicar a constituição das lâmpadas analisadas neste trabalho, a fim de facilitar o entendimento sobre a sua eficiência luminosa. As lâmpadas incandescentes dicróicas são as mais comuns e resultam do aquecimento de um filamento, através da passagem de corrente elétrica, ao ponto de 34 emanar radiação31 na forma de IR. Sua eficiência luminosa está calculada entre 10 a 25 lm/W32. As lâmpadas fluorescentes compactas não possuem filamentos em sua constituição e transformam a energia elétrica em radiação, que ocorre a partir da passagem da corrente elétrica por gazes de mercúrio. A radiação produzida é a UV que, em contato com substâncias fluorescentes - geralmente o fósforo - é transformada em energia luminosa. Sua eficiência luminosa é de 50 a 80 lm/W. Os LEDs são constituídos de semicondutores33 que convertem a energia elétrica diretamente em luz visível em desconsideráveis índices de UV e IR apresentando eficiência luminosa de 40 a 80 lm/W 34. Esta especificação pode ser encontrada em tabelas de eficiência energética ou luminosa, que são exigência do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) nas embalagens de lâmpadas que se encontram no mercado brasileiro. (ver figura 10) Figura 10: Foto de tabela de eficiência luminosa. Fonte: Ricardo Jaekel dos Santos 31 PEREIRA, 2011, Grupo de pesquisa de conforto ambiental e eficiência energética, liderada por PhD RODRIGUES, 2002, p. 4 33 PADILHA. 2007, p.22. Semicondutores são formados de materiais com propriedades elétricas intermediárias entre condutores e isolantes. Os semicondutores dos leds geralmente são constituídos de gálio, arsênio e alumínio. 34 FERNANDEZ, 2008, p.41. Dissertação sobre Eficiência Energética de Edifícios Versus Qualidade de iIuminação. 32 35 2.1.2 Vida útil das lâmpadas O termo vida útil descreve a quantidade de horas úteis que uma lâmpada poderá ser utilizada. Desta forma, uma vida útil longa das lâmpadas, propicia alguns benefícios, tais como: a redução na quantidade de lâmpadas adquiridas em números totais, menos materiais descartados no meio ambiente, a redução de mão de obra na reposição das lâmpadas e, por conseqüência, menos reparos e desgastes em suas conexões35. Desta forma, estes aspectos estão inseridos no bojo das ações relativas a redução de desperdício de recursos naturais. A vida útil de uma lâmpada normalmente está descriminada em sua embalagem, especificando em horas a sua vida útil média. Desta forma, citamos o tempo de vida útil média das três lâmpadas estudadas aqui neste trabalho: as lâmpadas incandescentes dicróicas têm média de 2000 horas úteis, as fluorescentes compactas têm vida média de 8000 horas e, os LEDs, têm média de 50000 horas 36. Ou seja, se em um ambiente com fatores ideais de utilização tivermos iluminação ininterrupta por 8 horas diárias, pelas lâmpadas citadas, teríamos um tempo de duração destas lâmpadas de: 250 dias (0,7 anos) de uso com lâmpadas incandescentes dicróicas, 1000 dias (2,8 anos) de uso com lâmpadas fluorescentes e, por fim, 6250 dias (17 anos) de duração das lâmpadas LED. Cabe lembrar que a vida útil das lâmpadas está diretamente relacionada aos materiais utilizados em sua constituição, onde se destaca a lâmpada de LED, dentre as outras abordadas, pois a estrutura que emite a luz está encapsulada em resina epóxi, o que a torna altamente resistente a vibrações e impactos37. Outro fator que influencia a vida útil das lâmpadas é o modo como as mesmas são utilizadas ou manuseadas e, também, as oscilações provenientes do fornecimento de energia elétrica, ou as oscilações das redes elétricas indevidas e não compatíveis com o consumo. 35 Conexões: soquetes e terminais para lâmpadas. Pereira. 2011, Grupo de pesquisa de conforto ambiental e eficiência energética. s.p 37 Informações retiradas de site: http://www.lightemittingdiodes.org/ 36 36 2.1.3 Índice de Reprodução de cor (IRC) Além da preocupação com o desperdício de energia elétrica, o conservadorrestaurador deve se preocupar, também, com os efeitos visuais propiciados pela iluminação. Uma das características a ser observada é a fidelidade na reprodução das cores dos objetos expostos ou analisados. Duas lâmpadas que tenham a mesma tonalidade de luz, podem não ter o mesmo Índice de Reprodução de Cor (IRC), ou seja, um determinado objeto pode parecer diferente, ainda que iluminado por lâmpadas com tonalidade idêntica (ver exemplo da figura 11). Figura 11: Imagem obra de August Renoir. Na imagem (A) uma fonte luminosa com alto IRC e na imagem (B) uma fonte com baixa IRC Fonte: http://www.lightemittingdiodes.org As lâmpadas devem possuir em suas especificações técnicas o seu índice de IRC. Este conceito define através de uma escala quantitativa os valores que uma lâmpada pode fornecer para visualizarmos os objetos com fidelidade de cor. Esta escala foi definida estabelecendo que o IRC ideal fosse um número igual a 100 38. Cabe salientarmos que as lâmpadas de LED escolhidas para o presente estudo são as que têm resultado final pré-estipulado pelo fabricante, entretanto, existe a disposição da iluminação o sistema Red, Green, Blue (RGB). Este sistema depende da combinação das cores das luzes, de modo a se obter a reprodução desejada, conforme as cores utilizadas. 38 As lâmpadas nacionais devem possuir em sua embalagem o IRC, as lâmpadas incandescentes possuem IRC = 100, enquanto as fluorescentes, seu IRC em média é de 85 e para LED atualmente os fabricantes conseguem IRC de 85. OSRAM. Manual Luminotécnico Prático. 37 Como regra geral admite-se que o IRC entre 50 e 80 reproduz moderadamente as cores, já um IRC entre 80 e 90 reproduz bem as cores. O IRC entre 90 e 100 é aquele que reproduz muito bem as cores. No entanto, é importante ressaltarmos que as lâmpadas, por si só, não garantem bons ou maus resultados de iluminação. Pode-se ter uma péssima reprodução de cores, por exemplo, utilizando uma iluminação com ótima IRC, para isso, basta que o ambiente possua paredes com cores escuras, ou com pouca reflexão, assim, alterando o resultado final dos objetos iluminados. Portanto, a cor resultante será sempre a função da cor reproduzida pela lâmpada em conjunto com a cor refletida pelo ambiente, conforme informa Da Costa (2006, p.497). Na tabela 2 podemos observar os índices percentuais de reflexão de diversas cores e materiais. De posse destas informações, é possível estimar resultados mais ou menos adequados para a iluminação de ambientes. Material ou cor Azul claro Azul escuro Azulejo branco Amarelo Branco Cimento claro Concreto claro Concreto escuro Cinza claro Cinza escuro Cinza médio Esmalte branco Gesso Granito Laranja Valor Material ou cor Valor 30 - 55 Madeira clara 30 - 50 10 - 25 Madeira escura 10 - 25 60 - 75 Mármore claro 60 - 70 65 - 75 Marrom 10 - 25 70 - 85 Ocre 30 - 50 35 - 50 Preto 5 30 - 40 Rocha 60 15 - 25 Rosa 45 - 60 45 – 65 Tijolo claro 20 - 30 10 - 20 Tijolo escuro 10 - 15 25 - 40 Verde claro 30 - 55 65 - 75 Verde escuro 10 - 25 70 - 80 Vermelho claro 25 - 35 15 - 25 Vermelho escuro 10 - 20 25 - 35 Vidro transparente 5 - 10 Tabela 6: Percentuais de reflexão de cores. Fonte: http://www.mspc.eng.br/tecdiv/ilum110.shtml Desta maneira, cabe ao profissional que trabalha com exposição, análise ou restauro de bens culturais, perceber os fatores que podem interferir e possibilitar variações cromáticas que, por sua vez, poderão comprometer o resultado final de um trabalho. 38 2.1.4 Temperatura de Cor (TC) Entende-se como “temperatura da cor” a propriedade da cor de despertar diferentes sensações no expectador a partir da sua percepção. As decisões do conservador-restaurador devem relacionar a escolha da iluminação com a proteção ao objeto de sua provável degradação e considerarem a reprodução das características visuais dos objetos com maior fidelidade. Desta forma, o conservador-restaurador deve observar a relação luz e objeto. Os efeitos da luz interferem nas sensações humanas. Estes efeitos podem atrair, emocionar, afastar e intimidar um observador ou visitante, em relação ao ambiente em que ele está. Por exemplo: vermelho, laranja e amarelo, são consideradas cores quentes e aconchegantes, enquanto que o azul, o verde e o violeta, são consideradas cores frias e estimulantes, de acordo com Lacy (1996, p.2022). Estes efeitos psicológicos que a luz produz, estão especificados na grandeza “temperatura de cor” com a unidade de medida em Kelvin (K). Esta medida será maior se a luz for mais branca, ou será menor, quando a luz emitida estiver próxima das tonalidades laranja (ver figura 12). Figura 12: Exemplos de temperatura de cor. Fonte: http://www.claritek.com.br Assim, cada lâmpada possui sua temperatura de cor conforme a tonalidade da luz emitida. As incandescentes possuem temperatura de cor em torno de 2700K, já as fluorescentes compactas podem ser encontradas no mercado desde 2700K até 39 6100 K39. Por sua vez, as lâmpadas LED possuem variações entre os 2700K e 6500K40. Cabe destacar que em espaços que não sejam destinados a exposição permanente, o profissional deverá analisar a tipologia da próxima exposição e a relação com a iluminação adequada. 2.2 Aspectos sociais e econômicos É inerente ao ser humano a procura constante por evolução tecnológica, do seu bem estar, da economia das sociedades, etc. Condicionado por estes anseios, o homem utiliza os recursos naturais disponíveis, muitas vezes de forma irresponsável, para atingir as suas metas. Desta forma, o consumo dos recursos naturais acelera gradativamente. Segundo Zambrano (2004, p.23): Após a segunda guerra mundial, o modelo de desenvolvimento adotado revelou-se como um agente de quebra do equilíbrio ecológico, e gerando como conseqüência um desequilíbrio econômico e social. A utilização da tecnologia não considerava a possibilidade de esgotamento dos recursos ambientais, assim como as atividades de produção e consumo não contavam com tamanho porte de lançamento de resíduos no meio ambiente. A partir do contexto relatado por Zambrano, na seqüência, começa a surgir uma consciência ecológica que passa, gradativamente, a ocupar espaço na agendas das demandas sociais. Nas décadas de 1970 e 1980, com os problemas de gestão ambiental discutidos progressivamente, ocorreram diversos conflitos relacionados a diferenças entre direitos públicos e privados, entre a sociedade civil e o Estado 41. Em 1987 foi criado o conceito de desenvolvimento sustentável, em relatório organizado pelas Nações Unidas intitulado “Nosso Futuro em Comum” (Relatório Brundtland, Apud ZAMBRANO, p. 24). Assim tentou se chamar a atenção para os riscos da forma como o mundo vinha se desenvolvendo. Zambrano (2008) também nos fala que, neste relatório, destacam-se alguns dos seus princípios mais importantes, tais como a eficácia econômica, (custo 39 40 41 OSRAM. Iluminação, conceitos e projetos site: http://www.lightemittingdiodes.org Pesquisar texto de MAGRINI E POMBO. 2008, Panorama da aplicação da norma ISO 14001 no Brasil. 40 benefício); a equidade social, (defesa dos interesses comuns); a preservação ambiental; o princípio do longo prazo; o princípio da globalidade (Pensar globalmente) e, por fim, o princípio da governança (Consenso da sociedade). (ZAMBRANO, 2008, P. 27-29). Estes princípios objetivam potencializar condições para um desenvolvimento econômico e social que responda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder as suas próprias necessidades (ONU; Comissão Broundtland, 1987). Outras conferências ou ações continuaram acontecendo com a intenção de despertar na população mundial a preocupação em relação a um desenvolvimento com sustentabilidade. Podemos citar a Rio’92, o Protocolo de Kyoto de 1997, a Rio +10 em Johannesburg realizada no ano de 2002, e outros. A conservação e restauro deve se preocupar com esses princípios, bem como com os de eficácia econômica. Entendemos que deve se ter um olhar crítico frente à realidade dos materiais empregados na iluminação utilizada atualmente, desta forma, também, em consonância com os princípios que citamos acima. Neste sentido, esta pesquisa visa colaborar com o esclarecimento sobre alguns dos tipos de lâmpadas empregadas em exposições, a sua composição e os seus impactos no meio ambiente. Incentiva também uma maior consciência frente às necessidades visuais, econômicas e ecológicas, necessárias a sustentabilidade das instituições e, ao mesmo tempo, correlaciona-as com as necessidades globais. Dentre os três tipos de lâmpadas analisadas neste estudo, aqui, destacam-se as fluorescentes. Esse tipo de lâmpada possui em sua constituição o mercúrio, além de outros elementos químicos. Por este motivo, as lâmpadas fluorescentes requerem uma adequada, complexa e cara, forma de reciclagem, o que não ocorre com as lâmpadas incandescentes e com os LEDs, por serem de fácil descarte e reciclagem. Em uma lâmpada fluorescente típica encontramos um tubo selado de vidro preenchido com gás argônio à baixa pressão e vapor de mercúrio, também à baixa pressão. O interior do tubo é revestido com uma poeira fosforosa composta por vários elementos, tais como o Alumínio, o Antimônio, o Bário, o cádmio, o Cálcio, o Chumbo, o Cobre, o Cromo, o Ferro, o Magnésio, o Manganês, o Mercúrio, o Níquel, o Sódio, o Zinco e o Fósforo42. De todos estes, o componente mais nocivo ao homem é o Mercúrio. (Raposo, 2001, p.62). 42 ATIYEL, Said Oliveira, 2001. Dissertação sobre Gestão de resíduos sólidos: O caso das lâmpadas Fluorescentes. 41 Desta forma, percebemos a complexa constituição deste tipo lâmpada, bem como salientamos a periculosidade do material. No entanto, enquanto estiverem intactas, as lâmpadas fluorescentes não oferecem qualquer risco ao homem e ao meio ambiente. Contudo, para que ocorra uma reciclagem adequada das lâmpadas fluorescentes, é necessário que, na hora do descarte das mesmas, toda esta poeira fosforosa seja absorvida quando da separação do vidro e dos metais de suas extremidades (Junior, W. & Windmoller, C. 2008, p.17). Conforme Atiyel (2001, p.35): O mercúrio é o único elemento químico metálico que permanece líquido a temperatura ambiente. Ele pode ser encontrado na natureza em baixas concentrações no ar, na água e no solo. Quando as concentrações de mercúrio excedem os valores normalmente presentes na natureza surge o risco de contaminação do meio ambiente e dos seres vivos, inclusive o homem. O mercúrio é facilmente absorvido pelas vias respiratórias quando está sob forma de vapor ou em poeira em suspensão e também é absorvido pela pele. O mercúrio possui elevada volatilidade e solubilidade na água e no sangue, o que facilita a transposição do mercúrio nos alvéolos pulmonares. A contaminação pode se dar de forma acidental, imediatamente, ou a longo prazo, caso este material se encontre no ar, no solo, ou em nossas bacias hidrográficas. Portanto, se desenvolvimento sustentável está diretamente ligado a políticas ambientais sustentáveis, é pertinente repensarmos a contínua utilização deste tipo de lâmpada. Importante destacar a ênfase dada especificamente às lâmpadas fluorescentes, dentre as outras abordadas neste trabalho. Explica-se pelo fato de que, conforme citado no texto, as lâmpadas dicróicas incandescentes e de LED não possuem em suas constituições componentes químicos prejudiciais a saúde ou ao meio ambiente. Considerando-se que a produção de lâmpadas fluorescentes exige cuidados especiais, os processos utilizados para a sua produção atualmente se mostram razoavelmente adequados. No entanto, no que diz respeito o seu descarte, não encontramos um cenário tão animador. Ainda há muito a que ser feito em termos de políticas ambientes e processos de descarte de lâmpadas fluorescentes, de forma socialmente responsável. Pesa contra isso, o fato de o governo estimular a economia de energia, promovendo a troca de lâmpadas incandescentes por fluorescentes, devido a sua eficiência luminosa com um baixo consumo de energia (Atiyel, 2001). 42 Os resíduos de lâmpadas fluorescentes, após seu consumo, estão classificados de acordo com a NBR 10004:2004 (resíduos sólidos) da ABNT, como resíduos classe I - “perigoso”, por apresentarem riscos a saúde pública (inclusive de morte e doenças), e ao meio ambiente, portanto se requer um destino condizente com a sua periculosidade. O Código de Ética do Conservador-restaurador (p.2) menciona o dever do profissional em preservar os bens culturais para as gerações atuais e as futuras. Entendemos também como obrigatório a condução de suas ações, considerando critérios ambientais e socialmente responsáveis. A atuação do profissional deve-se pautar, portanto, na busca por materiais que estejam de acordo com o desenvolvimento sustentável, com os princípios de conservação do patrimônio, assim como com à preservação das condições ambientais. Além disso, o conservador-restaurador também deve ter práticas que promovam a inclusão social. Atualmente sob o aspecto “iluminação”, as normas ou standards, relativos à conservação preventiva de bens culturais, estipularam os parâmetros a serem seguidos, com baixos níveis de lux. Esses níveis possuem valores médios para a população, contudo, a visão é particular a cada indivíduo, e nem todos os indivíduos possuem boas condições de visão. Michalski (2009) faz referência sobre o dilema da visibilidade versus a vulnerabilidade, em exposições de bens culturais. O autor relata a difícil realidade dos conservadores-restauradores e profissionais correlatos, onde a grande dificuldade que enfrentam é a de como obterem êxito para a boa visibilidade dos objetos, dentro dos parâmetros de 50 lux, normalmente estipulados como índice seguro a objetos sensíveis. Segundo Homem (2006-2007): Um museu, palácio, arquivo ou biblioteca não pretenderá/deverá sacrificar seus objetos sensíveis, mas também não poderá sacrificar seus visitantes, impedindo-os de ver ou de ver bem. (p.229) Conforme as normas da Sociedade de Engenharia de Iluminação da America do Norte (IESNA - Iluminating Engineering Societi of North America) onde está estipulado este índice, não houve especificação quanto ao tamanho dos objetos ou se o objeto possuía mais ou menos intensidade de contrastes. Estes parâmetros foram estipulados como ideais, considerando apenas o retardamento do processo de deterioração. Entretanto, estes mesmos parâmetros são insuficientes para uma boa 43 visualização de tonalidades ou detalhes de obras e, ainda, não consideram a diversidade da idade dos observadores. Michalski (2009) publicação leva em conta as questões de qualidade de percepção visual, e produziu normas para “ajustar a visibilidade”. Foi atribuída uma regra cautelosa de até 3x a quantidade de lux máxima, de acordo com a idade do observador, para a existência de “igualdade de acesso visual”, conforme a eventual presença de idosos, por exemplo. Esta iluminação deverá ser auxiliar, ou poderá ocorrer através de dimmer43, visando favorecer a presença de observadores mais velhos ou com deficiência visual, que são uma grande parcela dos freqüentadores de museus e exposições, ainda informa que, por volta de 65 anos de idade, o observador precisa de quatro vezes mais luz para receber na retina a mesma quantidade de luz que recebia na sua juventude. Assim, cabe destacar que as normas de iluminação encontradas, foram embasadas, principalmente, em índices de emissão de radiação UV e IR. Entretanto, as lâmpadas de LED possuem baixa emissão deste tipo de radiação. Conclui-se, então, que utilizando este tipo de lâmpada, poderíamos aumentar os índices de iluminação, favorecendo, assim, pessoas com deficiência visual. Portanto, neste capítulo, buscou-se apresentar aspectos mais relevantes sobre o funcionamento das lâmpadas e da luminotécnica, assim como questões de cunho social, ambiental, e relativas à atuação do conservador-restaurador. No que diz respeito à luminotécnica, fez-se um levantamento sobre os índices mais favoráveis para obtenção de economia de energia com ganho na qualidade de iluminação. Desta forma, observou-se na pesquisa com as lâmpadas uma equivalência entre as lâmpadas fluorescentes e de LED, no que diz respeito a eficiência luminosa, e uma grande diferença relativa ao tempo de vida útil entre as demais, destacando-se a lâmpada de LED, que chega a oferecer sete vezes mais vida útil do que as lâmpadas fluorescentes compactas, e vinte e cinco vezes mais do que as lâmpadas dicróicas. A eficiência luminosa e a vida útil das lâmpadas são critérios fundamentais quando se trata da sustentabilidade das instituições, pois, ao passo que se obtém melhores índices de eficiência e vida útil, se reduz o consumo de energia, a quantidade lâmpadas adquiridas, menos mão de obra para reposição e, conseqüentemente, menos material descartado. 43 Pzzotti, 2003, p.94. Dimmer: dispositivo que regula a intensidade de luz permite uma melhor afinação da iluminação 44 Contudo, a lâmpada com menor vida útil entre as estudadas foi também a de melhor resultado nos índices de IRC. Com as novas tecnologias, os índices das outras lâmpadas mencionadas estão aproximando-se dos índices ideais. Sobre a temperatura de cor das lâmpadas escolhidas, sabe-se que as incandescentes possuem por sua natural constituição, os padrões ideais, entretanto, as novas tecnologias estão conseguindo equiparar todas as lâmpadas, produzindo lâmpadas com diversos índices de temperatura de cor, de acordo com a função desejada. Assim, destaca-se a quantidade de opções no mercado, desde as mais quentes ou alaranjadas, até as mais frias ou azuladas. No que diz respeito os critérios sociais e ambientais, este capítulo evidenciou a periculosidade das lâmpadas fluorescentes, devido à existência de produtos químicos que compõe as mesmas e que são nocivos a saúde e ao meio ambiente, tais como o Mercúrio. Outro aspecto social relevante que foi apontado é a necessidade de elevação dos índices de iluminação, de maneira a conjugar a segurança para os bens culturais, no que diz respeito a sua conservação preventiva, sem impedir o acesso de pessoas com deficiência visual, por exemplo, o que amplia o acesso do público freqüentador de exposições. 45 Capítulo 3 - Experimentos práticos Este capítulo apresenta os resultados de experimentos práticos que objetivaram, considerando os aspectos já pontuados nos capítulos anteriores, verificar a eficiência do uso de lâmpadas de LED para a iluminação de objetos e acervos com valor cultural. Como dito, entendemos que todo o trabalho do conservador-restaurador busca como resultado a estabilização dos processos de deterioração. Isto significa, dentre outras coisas, viver as expectativas de que os objetos transponham não anos, mas sim muitas décadas, objetivando preservar o patrimônio cultural como legado para as gerações futuras. Entretanto, cada situação requer uma estratégia, uma decisão onde cabe ao profissional conhecer antecipadamente os materiais expostos, as condições arquitetônicas e, assim interceder, priorizando a conservação sem esquecer as questões de visualização, as questões econômicas e ambientais. Como forma de se promover resultados práticos, relacionados especificamente com a deterioração provocada pela iluminação, esta pesquisa optou por testes de aceleração de envelhecimento que consistiram no uso de lâmpadas habitualmente empregadas em exposições, reservas técnicas e ambientes para análises de obras. Os testes de envelhecimento acelerado ocorreram com o aumento de incidência de luz sobre os materiais utilizados para o experimento: tecido e jornal. A seguir, relata-se como foi desenvolvido este experimento e o método utilizado. 3.1 Procedimentos para a execução do envelhecimento acelerado Um dos objetivos desta pesquisa é verificar qual tipo de iluminação que, de forma eficiente, qualifique a visualização do que se deseja iluminar, tornando-o mais acessível e, ao mesmo tempo, não acelere a degradação do objeto. Este desejo consiste no paradigma do conservador-restaurador e de outros profissionais que trabalham com exposições. Contudo, sabe-se que as melhorias nas condições visuais, dar-se-ão paralelamente a escolha de uma iluminação menos agressiva. Com este 46 fim, o experimento escolhido para proporcionar essa discussão foi à realização de envelhecimento acelerado. Desta forma, organizou-se um espaço que proporcionasse condições mínimas de controle da iluminação e com ambiente em igualdade de condições entre as iluminações envolvidas, de maneira a mensurarmos, de forma controlada, o desenrolar do experimento. No entanto, é importante salientar o que nos diz Horie (2010, p. 50): dificilmente se chegará com igualdade aos resultados ocorridos em condições naturais, somente aproximadas. As lâmpadas analisadas possuíam diferentes caracteristicas de fabricação, diferenças no tipo de radiação e na forma como direcionam a luz. A diferença mais relevante foi observada quando na exposição dos suportes, onde, o direcionamento da luz ocorria de maneiras diversas, ou seja, algumas lâmpadas proporcionavam uma iluminância em todas as direções, outras focalizavam uma parte da luz e dispersavam outra. Também se constatou uma lâmpada com direcionamento do foco mais homogêneo que as demais. Para o experimento, primeiramente foram escolhidos três tipos de lâmpadas com constituições diferentes e que pudessem desempenhar o mesmo tipo de função, no caso, uma iluminação direcionada e com delimitações do espaço iluminado. Foram escolhidas conforme a figura 13: uma lâmpada dicróica de 50W/220V, uma lâmpada fluorescente compacta de 11W/220V e uma lâmpada de LED com 30 LEDs e 2,2W/220V (A soma de todos os 30 LEDs dão um total de 2,2W). Figura 13: A partir da direita, LED, fluorescente e dicróica. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos 47 Depois de escolhidas às lâmpadas, foi necessário o desenvolvimento de um suporte que propiciasse um direcionamento integral de toda a iluminância 44 produzida pelas lâmpadas do experimento. Este suporte constituiu-se de uma luminária popularmente conhecida como “mini canhão de luz” (ver figura 14) de alumínio. Neste canhão a lâmpada fica contida no interior do compartimento, assim direcionando para frente toda a iluminância produzida. Figura 14: Luminária canhão. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos A escolha da luminária em forma de mini-canhão se deu em função das próprias características da iluminância de cada uma das lâmpadas que, com a exceção do LED, tendem a dispersão no espaço por várias direções. É importante considerarmos que se a distância entre a lâmpada e o que se quer iluminar aumenta, também aumenta-se a perda de iluminância em um determinado lugar, pois o ângulo do foco de luz abre conforme o aumento da distância, gerando maior dispersão. Cabe destacar que cada uma das lâmpadas escolhidas apresenta diferentes particularidades, dentre elas, a quantidade de iluminância e o tipo de luz produzida. Como forma de regular a intensidade da quantidade de lux incidente em cada um das seções do material, considerando as variações de cada uma das lâmpadas, em decorrência das suas próprias especificidades, adotou-se como padrão a intensidade de 500 lux de incidência sobre cada seção diferente de um mesmo material. Como dito, nesta pesquisa, foram utilizados para o experimento pedaços de tecido de algodão coloridos industrialmente, popularmente conhecidos como “pano de chita” e jornais impressos. 44 Iluminância é a quantidade de luz que www.usp.br/fau/cursos/.../Af_Apostila_Conceitos_e_Projetos.pdf. uma lâmpada irradia, 48 Estes dois materiais de natureza diferentes foram escolhidos, considerando que, conforme as tabelas do IESNA e do ICOM, eles têm índices de sensibilidade diferente, a saber, o tecido é classificado como material com índice médio de sensibilidade a luz, enquanto que, por sua vez, o jornal é suporte classificado como extremamente sensível. Desta forma, com diferentes graus de sensibilidade investigados, os resultados da pesquisa se mostrariam mais diversificados e forneceriam mais elementos para comparação, discussão e análise. Considerando a já mencionada regulagem das condições ambientais, é importante citarmos também que, para o teste ocorrer de forma mais controlada possível, as condições ambientais dos espaços artificialmente criados deveriam ser similares entre os experimentos, evitando-se, assim, por exemplo, a possível geração de micro-climas diferentes, as variações bruscas de temperatura - caso ocorresse seria simultânea nos experimentos - e a própria interferência de outras fontes de luz, que não aquela que se está utilizando no experimento. Considerando-se estes aspectos, optou-se pela utilização de canos de PVC de 100mm. Em cada cano foi colocado em uma extremidade um mini-canhão e, na outra, o material a ser iluminado. (ver figura 15) Figura 15: Imagem interna da estrutura. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos Desta forma, o ambiente criado estaria em condições muito parecidas nos três “canos”, somente com as alterações ambientais decorrentes das lâmpadas utilizadas no experimento, o que neste caso, seria, inclusive, desejável, na medida em 49 que se quer, justamente, verificar os impactos dos usos das diferentes lâmpadas sobre um mesmo material. No entanto, devido à lâmpada dicróica produzir temperaturas elevadas e um cano de PVC normalmente não suportar altas temperaturas, realizou-se uma adaptação na extremidade deste cano com um anel metálico de 15 cm. Esse procedimento evitou o contato direto entre as altas temperaturas da lâmpada da luminária aquecida e o cano de PVC utilizado (ver figura 16). O uso de um luxímetro detectou em cada uma das seções e dos materiais que recebeu foco de luz, a incidência dos 500 Lux estipulados. Desta forma, foi obtida a equivalência da intensidade de lux, com as três fontes, de natureza diferente. Figura 16: Estrutura montada sobre o tecido de chita. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos O tecido de Chita utilizado no experimente possui 100% de algodão e coloração variada, constituída de pigmentos industriais. Este material foi deixado sobre 50 uma superfície plana e, então, sobre o mesmo, foram colocados os canos com as luminárias, de acordo com a distribuição ilustrada na figura 17. Figura 17: Tecido Chita. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos O experimento ocorreu da seguinte forma: entre os dias 25/09 e 20/10/11, os testes foram deixados por um período de dez horas, ou seja, durante vinte e cinco dias as luminárias ficaram ligadas por dez horas (controladas automaticamente por TIMER45, ver figura 18) e com uma iluminação de quinhentos lux/h, resultando em um montante acumulado de cento e vinte cinco mil (125.000) lux/h. Figura 18: Time programado para ligar e desligar automaticamente. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos 45 Temporizador programável. 51 Na sequência, entre os dias 20/10 e 06/11/11, os equipamentos ficaram ligados por dezoito horas, com a mesma intensidade, perfazendo um total de cento e trinta e cinco mil (135.000) lux/h. Finalizando o teste, os equipamentos foram ligados por um período entre 06/11 e 15/11, por vinte e quatro horas, com a mesma intensidade dos períodos anteriores, produzindo um total no período de cento e vinte mil (120.000) lux/h. Assim, calculando a soma dos totais parciais, produziu-se um total geral de trezentos e sessenta mil (360.000) lux/h sobre os trechos do tecido. Em função de dificuldades técnicas não previstas, o teste de iluminação com o jornal teve tempo de exposição diferenciado. Portanto, a intensidade de lux utilizada para a realização do envelhecimento artificial deveria ocorrer de forma mais potente que a anterior, em relação a um período de tempo menor, em comparação ao experimento com o tecido. Assim, utilizando os mesmos equipamentos, optou-se por um aumento considerável na intensidade de lux/h, ou seja, de quinhentos para mil lux/h (Ver figura 19). Este aumento foi alcançado com a diminuição da distância entre a lâmpada e o objeto iluminado (ver figura 20). Figura 19: Medição de lux/h. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos Esta exposição ocorreu entre os dias 17/11 a 28/11/11, durante vinte e quatro horas diárias, com os já mencionados mil lux/h que, no total, somaram duzentos e oitenta mil (280.000) lux/h. 52 Figura 20: Estrutura montada sobre o jornal. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos 3.2 Avaliações dos resultados Na execução do primeiro experimento, utilizando como objeto o tecido de chita, houve a constatação a partir de exames organolépticos, que nenhuma das lâmpadas utilizadas afetou de forma visual com desbotamento ou fisicamente com a fragilização das fibras (Ver figura 21). Este resultado provavelmente está relacionado com a qualidade do tecido escolhido, onde sua pigmentação é industrializada e, portanto, mais estável. Sua estabilidade provavelmente tenha favorecido o algodão que, por ser orgânico, é classificado como material muito sensível. 53 Sobre o assunto, Michalski (2009, p.200) afirma que a luz visível é responsável por desbotamentos em tecidos que possuem corantes fugidios, o que não ocorre em tecidos com corantes duráveis. Figura 21: Tecido após o teste. Foto Ricardo Jaekel dos Santos No teste em que se utilizou o jornal no experimento, foi possível observar o começo de um desbotamento da impressão, ou uma fragilização dos pigmentos utilizados na impressão. A constatação foi visual e ocorreu na sessão destinada a lâmpada dicróica, marcada com a letra “I”de incandescente. (Ver figura 22, 23). Figura 22: Jornal com as três sessões demarcadas. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos 54 Figura 23:detalhe da sessão correspondente a lâmpada dicróica. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos Na sessão “F” correspondente a iluminação com lâmpada fluorescente, foi constatado um sutil amarelecimento. O fato ocorreu no verso da folha do experimento, onde por não conter imagens coloridas ou textos que cobrissem inteiramente o papel original, foi possível notar tal amarelecimento. Entretanto, devido a sua pequena e sutil alteração, o registro fotográfico ficou inviabilizado. (Ver figura 24) Figura 24: Verso da folha utilizada no experimento. Foto: Ricardo Jaekel dos Santos Pode se supor que na sessão destinada a lâmpada dicróica, houve uma fragilização e em pontos determinados uma perda de aderência da impressão devido a 55 radiação IR que, por sua ação térmica, aqueceu os pigmentos a ponto de alterar a aderência. Com relação ao sutil amarelecimento observado no verso do jornal e na sessão da lâmpada fluorescente, acredita-se que a responsabilidade seja pela existência de UV na radiação da luz fluorescente. Entretanto, em razão do resultado inicial, se propõe a continuação deste experimento, a fim de aprofundar tal estudo e paulatinamente registrar a sua evolução. Concluindo as observações sobre o experimento, a sessão destinada a iluminação com lâmpada de LED ficou aparentemente com suas características visuais e físicas inalteradas, tanto na pigmentação da parte frontal do jornal, quanto na do verso. Esta constatação instiga a continuarmos com os testes de envelhecimento acelerado, a fim de constatar de que forma este tipo de iluminação danifica e a partir de que momento o dano ocorre. As constatações futuras fazem parte do questionamento sobre a iluminação de bens culturais e dos objetivos iniciais deste trabalho de conclusão de curso, onde se esperava encontrar resultados favoráveis a conservação e, ao mesmo tempo, contribuições questões sobre melhor visualização. 56 Conclusão A conclusão exposta junto a este trabalho considera a forma como é vista a conservação ante a restauração: cada vez mais em destaque, pois a conservação objetiva preservar as características originais e históricas dos bens culturais. Assim sendo, este trabalho comparou e avaliou os aspectos da luminotécnica e os impactos ecológicos do uso de determinadas lâmpadas, a partir da execução de testes práticos. Primeiramente, foram aprofundados os conhecimentos sobre um dos fatores responsáveis pela degradação dos bens culturais, objeto central desta pesquisa: a luz. Demonstrou-se que a luz deve ser compreendida com uma forma de radiação, sendo a mais danosa das formas de luz a radiação UV. Desta forma, sugere-se que devam ser feitos diversos esforços para eliminá-la, assim como também a radiação visível e a Infra vermelho. No que pese a influência negativa destas formas de radiações, não se pode deixar de observar que, mesmo na luz visível ocorre a existência de radiações próximas ao cumprimento de onda das radiações UV e IR. Desta forma, também se requer cautela na utilização da luz convencional. No que diz respeito aos impactos ambientais do uso das lâmpadas, conclui-se que é necessário evitar a utilização de lâmpadas fluorescentes. Este tipo de lâmpada possui produtos químicos nocivos, tais como o mercúrio, na sua constituição. Desta forma, são necessários procedimentos de descarte que são caros e que não são muito estimulados. Ao contrário disso, hoje em dia, percebe-se o uso deste tipo de lâmpadas cada vez mais motivado em função do seu baixo consumo de energia. No que diz respeito aos aspectos luminotécnicos, analisaram-se características das lâmpadas, tais como a sua vida útil, a sua eficiência luminosa, o seu IRC e os seus índices de Temperatura de Cor. A comparação entre os tipos de lâmpadas evidenciou os benefícios do uso do LED, em função da boa relação custobenefício desta tecnologia, considerando a sua vida útil, superior em cerca de vinte e cinco vezes mais que as dicróicas, e de seis vezes mais que uma fluorescente compacta, o que a coloca como uma grande aliada para a sustentabilidade das instituições. A sustentabilidade sugerida consolida-se com estes índices, devido à redução da quantidade de lâmpadas adquiridas para reposição, na redução de custos com mão obra para execução das trocas, na diminuição de material para descarte, e principalmente, devido à sua alta eficiência luminosa, assim reduzindo o consumo de energia. As lâmpadas dicróicas possuem vida útil pequena, porém se destacam por possuírem um Índice de reprodução de cor superior as demais. Contudo, a 57 superioridade das dicróicas na reprodução das cores, está sendo minimizada com os avanços tecnológicos alcançando índices aceitáveis em outras lâmpadas. Apesar disso, e este é o tipo de lâmpada mais utilizada em iluminação focalizada devido ao seu baixo custo inicial. Os testes realizados durante esta pesquisa, efetuados sobre os dois tipos de materiais: tecido de algodão tingido e papel jornal impresso, evidenciaram a maior resistência do tecido a degradação provocada pela luz. No entanto, devido ao tempo restrito para a realização da pesquisa, o fato de não se observar modificações significativas na aparência ou na resistência das fibras do tecido, não significa que o tecido seja imune a ação das lâmpadas. Tempos maiores de exposição a luz são necessários, para que se possa compreender melhor a ação da luz sobre este tipo de material. Contudo, esses resultados confirmam a classificação deste tipo de tecido nas tabelas de sensibilidade citadas na pesquisa, e destacam a estabilidade da tintura, ante a fragilidade do algodão. O tempo também foi restrito para o experimento com o papel jornal. No entanto, no jornal, observou-se uma maior sensibilidade. Esta constatação confirma a informação obtida nas tabelas de sensibilidade, de se tratar de um material mais frágil a luz, pois se observa o começo de desbotamento dos pigmentos e um sutil amarelecimento do suporte. Os resultados obtidos ampliam a expectativa positiva em relação ao menor número de danos com o uso da iluminação com o LED. Espera-se, a partir da continuidade dos testes, verificar quais são os aspectos positivos em relação ao seu uso e, também, mensurarmos os possíveis danos que esta tecnologia pode provocar. A possibilidade do surgimento de danos com o LED se deve pelo fato de que a luz produzida pelos LEDs também é uma forma de radiação e, sendo assim, ela também é capaz de produzir reações. Entretanto, este dano ocorre em um tempo maior de exposição, isso em conseqüência das ínfimas taxas de Ultravioleta e Infravermelho. Assim, entende-se que este tipo de iluminação pode proporcionar o aumento dos índices de exposição, estipulados nas normas internacionais, e, desse modo uma melhor visualização. Portanto, durante a analise de todos os aspectos trabalhados nesta pesquisa, que objetiva a compreensão de formas de iluminação mais direcionadas e menos agressivas, concluímos que a utilização das lâmpadas de LEDs é mais recomendada, pois, devido a sua constituição, ela fornece luz direcionada, possui ótimos índices de eficiência luminosa e que têm maior vida útil. Aspectos estes necessários para a sustentabilidade das instituições. 58 A tecnologia das lâmpadas LED encontra-se em constante evolução. Hoje em dia são disponibilizadas lâmpadas com IRC e TC que têm variações que se conformam as necessidades de exposição dos bens culturais. A lâmpada de LED também se mostra como mais ecologicamente correta, pois não possui produtos químicos que agridem facilmente o meio ambiente ou os seres humanos, além do que, o seu descarte, é mais fácil e seguro. Finalizando, os índices de UV e IR das lâmpadas LED são irrisórios, o que favorece a conservação preventiva dos bens culturais expostos e, também, propicia um aumento dos níveis de iluminação. Este é um aspecto importante, especialmente se considerarmos a acessibilidade de deficientes visuais a exposição de bens culturais. Concluindo os resultados dos estudos e dos testes, percebe-se que o tempo é um fator da maior importância no planejamento das atividades de um experimento, assim como também para o controle da exposição dos objetos a diferentes tecnologias de iluminação. Considerando o tempo de exposição de um determinado tipo de objeto a um determinado tipo de lâmpada, podemos propor uma melhor relação entre a conservação preventiva do objeto e sobre a sua visualização. Pode-se, assim, de forma calculada, ampliar-se os índices mínimos de exposição de um objeto a luz, desde que em outro momento este objeto seja compensado com à diminuição do mesmo ao tempo de sua exposição a luz. Ficaria, neste caso, a critério do profissional a escolha da forma como o mesmo irá conciliar a iluminação disponível com a sensibilidade do que será exposto, e o seu tempo de exposição. Portanto, na medida em que este trabalho buscou problematizar as lâmpadas mais utilizadas em exposições, objetivando produzir conhecimento sobre os critérios a serem considerados em decisões sobre quais lâmpadas se deve utilizar ou não, para o suprimento de aspectos necessários para conservação, e para que se produza qualidade da visualização dos bens culturais. Entendemos que esta pesquisa contribui para a atuação dos profissionais de conservação e restauro em suas ações preventivas, qualificando o olhar dos mesmos sobre um assunto de vital importância que, apresenta-se, ainda, incipiente em termos de reflexão acadêmica. 59 Referências ALCÁNTARA, Rebeca. Standards in Preventive Conservation: Meanings end Aplications. ICROOM, 2002. 47p. ATIYEL, Said Oliveira, 2001. Dissertação sobre Gestão de resíduos sólidos: O caso das lâmpadas Fluorescentes. 2001, disponível em: www.gps.ea.ufrgs.br/index.php?...gestao-de-residuos...caso-das-lamp, acessado em 09/09/11. BARBOSA, Luís, A. G. 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