Isabel Maria Madaleno Tendo-me sido solicitado que descrevesse o meu labor de investigação, apresentei o seguinte relato: Doutorei-me em Geografia e História pela Universidade de Salamanca (1995), tendo redigido tese de geografia urbana sobre Brasília, cidade que apresenta uma segregação socio-económica planeada. Por contraposição, estudei a cidade do Cabo, na África do Sul, no que respeita às formas de segregação espacial patentes durante a vigência do apartheid. Em 1997 ingressei no IICT como bolseira de pósdoutoramento e 2 anos mais tarde como investigadora auxiliar, no então Centro de Produção e Tecnologia Agrícola. A produção científica passou a focalizar a agricultura urbana (1997-2005), tendo pesquisado as cidades brasileiras de Belém do Pará e de Presidente Prudente (estado de S. Paulo), seguidas de Santiago, capital do Chile. Por haver observado que as plantas medicinais (Figura 1) eram a segunda produção dos quintais e lotes periurbanos passei a dedicar um projecto de investigação à recolha do receituário fitoterápico e das espécies vendidas nos mercados de grandes metrópoles da América Latina, como Lima (Peru) e Cidade do México, que vieram juntar-se às cidades de Belém e de Santiago do Chile (2002-2006). Esta linha de investigação, porque associada às culturas indígenas ancestrais, conduziu ao estudo de uma etnia andina, os índios Aymara (Figura 2), que pesquisei no Chile, na Bolívia e no Peru. Este povo tem uma forma ímpar de convivência com a escassez de recursos hídricos, cria lamas e alpacas (Figura 3) e utiliza técnicas agrícolas ambientalmente sustentáveis. Entre 2003 e 2005 passei a aprofundar estudos sobre os seus modos de vida, que foram continuados com um outro povo, os Rapa Nui (Figura 4) da Ilha da Páscoa (2006), sobreviventes num ecossistema vulnerável destituído de rios ou fontes. O resgate das fórmulas encontradas por estes povos ditos “primitivos” para responder às carências da Natureza levaram-me a buscar, de novo por contraposição, as formas de vida adaptadas aos excessos da Natureza, como é o caso dos caboclos ribeirinhos (Figura 5) das margens do rio Amazonas (2006-2007). Ali deparei-me com fenómenos de desflorestação (Figura 6) recentes (vide BR-163 ou rodovia da soja). Actualmente planeio investigar a Ilha de Moçambique que me permitirá fechar o ciclo e retomar a linha de investigação inicial, a geografia urbana. Figura 2. Índios Aymara Figura 1. Plantas Medicinais Figura 3. Lamas e alpacas Figura 4. Rapa Nui da Ilha da Páscoa (2006) Figura 5. Caboclos ribeirinhos Figura 6. Desflorestação