Solenidade de Corpus Christi
04 de junho de 2015
Caros irmãos e irmãs:
Esta Solenidade de Corpus Christi é celebrada sempre numa
quinta-feira para fazer memória da última Ceia do Senhor,
em cuja refeição pascal o Senhor instituiu a Eucaristia para permanecer
entre nós: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos.” (Mt
28,20)
Também, é preciso ressaltar, que esta quinta-feira de Corpus Christi é sempre celebrada após a Solenidade de Pentecostes.
Isso por um motivo muito óbvio.
Depois que o Senhor subiu aos céus, como nos diz S. Leão Magno,
tudo na Igreja é sacramento. Mas, para havê-lo, fez-se mister que a promessa do Cristo se cumprisse, ou seja, que nos fosse enviado o Espírito Santo. Esse evento aconteceu em Pentecostes. Nesse dia, a
Igreja recebeu o Paráclito para santificar todas as coisas.
Santificar todas as coisas significa transformar tudo em presença
do Ressuscitado por meio dos sacramentos.
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Logo, celebramos a festa de Corpus Christi após Pentecostes porque temos o Espírito Santo para transformar as espécies do Pão e do Vinho em presença sacramental de Jesus Cristo.
Queridos irmãos e irmãs, celebramos esta Solenidade – tão popular entre nós – para professarmos nossa fé na presença do
Espírito Santo na Igreja e na presença real do Corpo
e Sangue do Senhor, pela força do Espírito Santo, invocado (epíclese) pela Igreja reunida.
Assim fazendo, estamos professando nossa fé na presença do
Ressuscitado entre nós e confirmando a realização de sua promessa:
“Não vos deixarei órfãos”. (Jo, 14,18) Portanto, não ficamos abandonados.
E, de fato, não o estamos.
Vejam bem: temos o Espírito Santo para santificar todas as coisas,
estabelecendo o Reino de Deus neste mundo e o alimento para sermos
cidadãos do céu e peregrinos nesta terra: a Eucaristia.
Assim como Israel tinha o Maná descido do céu para viver no deserto, assim também nós – o Novo Israel – temos a sua realidade, que é o
Pão descido dos céus: Jesus Cristo.
Exatamente por esse motivo – o Maná descido do céu –
que faremos, logo após a celebração eucarística, uma procissão com o
Santíssimo Sacramento. Esta quer significar nossa condição de peregrinos
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nesta terra, porém não abandonados, mas socorridos por Deus com o alimento que nos mantêm como homens e mulheres do Reino.
É preciso ressaltar ainda que o mesmo Espírito Santo que cobriu
com sua sombra a Virgem Maria para o Verbo ser gerado em seu seio, assim também, com a imposição das mãos do ministro ordenado, fazendo com elas sombra sobre as espécies do pão e do vinho, fecunda-os
e transforma-os em sacramento do Corpo e Sangue do Verbo Encarnado.
O Verbo se fez carne no seio de Maria e na Igreja, o Verbo – a Palavra de Deus – se faz Carne e Sangue sobre o altar. Assim como o seio
de Maria foi o centro de seu corpo, assim o altar é o centro da Igreja.
Em Maria não houve intervenção humana para que o Verbo se fizesse carne. Também na Igreja não há intervenção humana para que o
pão e o vinho se transformem em Corpo e Sangue do Senhor.
Deus tão somente atua através dos meios humanos. Foi o que
aconteceu na Virgem e é o que acontece na Igreja. É preciso, pois, não
impedir sua ação.
Assim como Maria emprestou seu seio para nele ser gerado o
Verbo, assim também a Igreja empresta ao Espírito Santo seu edifício,
seu povo reunido, seu ritual, seus ministros e suas orações para que a Palavra se faça Carne.
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Uma antiga piedade da Igreja conta que a primeira procissão de
Corpus Christi se deu na Palestina, quando Maria, grávida do Senhor, subiu às montanhas da Judéia para servir Isabel.
Bela imagem e muito sugestiva, porque sendo Maria figura da
Igreja, nos inspira a prolongarmos em rito esse evento. É o que faremos
logo mais: a procissão em nosso claustro com o SS. Sacramento.
Maria prefigurava a Igreja, que continua levando a salvação subindo por todos os recantos da terra. E mais. Maria serviu Isabel grávida do
Verbo Eterno. Também nós, membros da Igreja, somos chamados a servir com a Palavra de Deus que escutamos em assembléia e com a Palavra
feita carne – sempre a mesma realidade da presença do
Cristo com formas diferentes de manifestação – dentro
de nós, a todos aqueles que o misterioso desígnio divino nos proporciona
interagir.
“Não joguemos pérolas aos cães” (Mt 7,6) como nos diz Jesus, ao celebrarmos esta festa, sem as condições que nos são pedidas, isto é, sem
a sadia devoção que herdamos de nossos pais na fé.
Assim seja.
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Homilia da Solenidade de Corpus Christi