ACADÊMICO Revista PENSAR Ano 6, n° 1, Jan-Jul 2014 Revista da Faculdade de Ciências Gerencias de Manhuaçu PENSAR ACADÊMICO ISSN 1808-6136 Publicação semestral da FACIG – Faculdade de Ciências Gerencias de Manhuaçu/MG Editores: Lívia Paula de Almeida Lamas Glaucio Luciano Araujo Conselho Editorial: Aloísio Teixeira Garcia Rita de Cássia Martins de Oliveira Ventura Thales Reis Hannas Periodicidade: Semestral Indexação: Lantidex e Sumários.org Diretoria da FACIG: Presidente: Aloísio Teixeira Garcia Diretor Administrativo: Thales Reis Hannas Endereço para Correspondência, Informações e Envio de Trabalhos: Pensar Acadêmico Facig – Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu Av. Getúlio Vargas, 733 – Coqueiro Cep: 36900-000 Manhuaçu, MG, Brasil Fone: 33-3331 7000 Fax: 33-3331 7171 Email: [email protected] Site: www.facig.edu.br Twitter.com/facig Blog: www.facig.wordpress.com “O periódico Pensar Acadêmico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos artigos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es)”. Publicação Semestral da FACIG Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu Ano 6 Número 1 1º Semestre 2014 PENSAR ACADÊMICO ISSN 1808-6136 Revista da Faculdade de Ciências Gerencias de Manhuaçu (FACIG) Ano 6 Número 2 1º Semestre 2014 Artigos p. 09 - As acepções da teoria do garantismo. Marcus Vinícius Pimenta Lopes Rafhael Lima Ribeiro p. 14 - Educação ambiental como ferramenta para a conservação da mata atlântica da zona da mata de minas gerais. Lídia Alvim Lopes Michel Barros Faria p. 18 - Pós-modernismo: uma ruptura ou continuidade do modernismo? Reginaldo Adriano de Souza Mônica Oliveira Costa Rita de Cássia Martins de Oliveira Ventura p. 26 - A honra como elo entre público, privado, criminalidade e justiça na América Portuguesa dos séculos XVIII e XIX. Leonardo de Carvalho Alves Amanda Dutra Hot p. 31 - A história oral e a entrevista. Adriana Patrícia de Oliveira Amanda Dutra Hot Germano Moreira Campos Leonard Maulaz dos Santos Moreira p. 36 - O papel do juiz na aplicação da lei injusta: uma releitura necessária dos juízes Júpiter, Hércules e Hermes de François Ost. Lívia Paula de Almeida Lamas p. 42 - Utilizando Khan Academy em uma escola brasileira. Anandy Kassis de Faria Alvim Hannas Fernando Jerri de Oliveira Izadora Cristina Corrêa Silva José Carlos de Souza Lidiane Hott de Fúcio Borges Thales Reis Hannas p. 48 - Impactos causados pelo crédito rural: A percepção dos produtores rurais do município de Durandé-MG. Roberta Aparecida da Silva Júlia Alves e Souza p. 64 - A utilização do jogo quebra-cabeça para o ensino de geometria. Fabiana Da Penha Rhodes Carlos Vinícius De Azevedo Pereira Lidiane Hott De Fúcio Borges PENSAR ACADÊMICO ISSN 1808-6136 Revista da Faculdade de Ciências Gerencias de Manhuaçu (FACIG) Ano 6 Número 2 1º Semestre 2014 p. 71 - Operação Fronteira: Um recorte na história do cinquentenário 11º BPM Manhuaçu-MG José Carlos De Souza 9 AS ACEPÇÕES DA TEORIA DO GARANTISMO. Marcus Vinícius Pimenta¹ Lopes e Rafhael Lima Ribeiro ² ¹ Advogado Criminalista. Pós-graduando em Direito Penal Econômico pela Universidade de Coimbra. ² Mestrando em Direito Internacional pela PUC Minas. Membro da comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Minas Gerais- CDH/OABMG. Pósgraduado em Ciências Penais, bacharel em Direito pelo Centro Universitário Newton Paiva, onde foi pesquisador e monitor, após concurso, das disciplinas: Direito Constitucional; Criminologia e Processo Penal. Professor Universitário e advogado criminalista. RESUMO Este artigo trata da teoria garantista, proposição formulada por Luigi Ferrajoli, mormente em sua obra Diritto e ragione: Teoria del garantismo penale. Objetiva evidenciar a plurissignificação epistemológica da teoria, isto é, a significação da teoria garantista para a ciência do Estado e para a praxe do ordenamento jurídico, de modo que não se perpetue a ideia errônea de que a Teoria Garantista é apenas aplicável ao direito e mais ainda ao direito penal. Justificam-se tais questionamentos, uma vez que atualmente a legalidade e legitimidade tomam cada vez mais uma conotação de proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos contra o arbítrio do Estado. PALAVRAS-CHAVE: Garantismo. Modelo Normativo de Direito. Validade e Efetividade da Norma. Filosofia Política. ABSTRACT This article discusses the garantism theory, proposition formulated by Luigi Ferrajoli, especially in his work Diritto e ragione: Teoria del garantismo penale. Aims to evidence the epistemological multi meaning of the theory, ie, the meaning of the garantism theory to the science of the State and the practice of law, as a way that is not perpetuated the erroneous idea that Garantism Theory is only applicable to the rights and more still to criminal law. Justified such questions, since currently the legality and legitimacy are increasingly taking the connotation of protection of fundamental rights of individuals against the will of the State. KEYWORDS: Garantism. Normative Model of Law. Validity and Effectiveness of the Norm. Political Philosophy. 1. INTRODUÇÃO A teoria do garantismo penal foi projetada pelo jurista italiano Luigi Ferrajoli e especialmente publicizada, a partir da sua obra clássica Diritto e ragione: Teoria del garantismo penale. É sem duvida, uma expressiva teoria, difundida e discutida por todo o mundo. Mas, como destacou Aroldo Plínio Gonçalves (2012, p. 2-3) “uma teoria será sempre uma teoria, e por si só não tem o poder de ser outra coisa” (...) “Se for usada como arma de reforma, a força que possuir estará no braço revolucionário, ou no braço reacionário, e não nos conceitos por ela formulados”. Tais conceitos tiveram como pano de fundo a Itália pós-fascismo. Nela uma jovem magistratura forjou a arma de reforma para assentir as leis e toda estrutura burocrática ao modelo de respeito aos direitos humanos. De modo que, o braço revolucionário foi guiado pela: 1) defesa da estrita legalidade para os atos Estatais Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 09-13, Janeiro-Julho, 2014. 10 - forma de conter o arbítrio do Estado; 2) produção de mecanismos de garantias processuais - para a proteção dos direitos materiais; 3) exigência da laicização das ações do Estado; 4) distinção entre atos jurídicos e morais (FERRAJOLI, 2010, p.641). do direito, notadamente é também uma crítica a este mesmo direito ou, em Carvalho, uma crítica ao direito fruto da teoria do Estado. Já a terceira concepção de ambos marca uma filosofia do direito e uma crítica da política. 2.1 2. AS TRÊS ACEPÇÕES DO GARANTISMO. A teoria garantista abarcou não só, como se poderia depreender do título da obra de Ferrajoli, o direito penal, mas toda uma concepção de ciências, uma vez que vários dos seus elementos podem ser utilizados no trato com outros saberes. Todo esse trato, no entanto, é mediado pelo resgate e (re) valorização da Constituição como documento constituinte da sociedade (ROSA, 2005). Conforme Alexandre Morais da Rosa (2005, p.15) “esse resgate Constitucional decorre justamente da necessidade da existência de um núcleo jurídico irredutível fundamental capaz de estruturar a sociedade”. Nessa perspectiva, destaca-se a importante contribuição da análise Ferrajoliana à teoria (crítica) do Direito, à filosofia política e, como mais evidente, ao direito e processo penal. Segundo o próprio Ferrajoli (1995, p.851- 853.) a sua teoria pode ser dividida em três acepções: a) Garantismo como modelo normativo de direito; b) Garantismo como teoria jurídica da validade e efetividade da norma; c) Garantismo como filosofia política. A partir dessa tríplice acepção de garantismo, nas palavras de Salo de Carvalho (ROSA, 2005, apresentação, p. xi) a teoria do Garantista propõe a alteração de três níveis da esfera jurídicopolítica: “(a) a revisão critica da teoria da validade das normas e do papel do operador jurídico (plano da teoria do direito); (b) a redefinição da legitimidade democrática e dos vínculos do governo à lei (plano da teoria do Estado); e, (c) a reavaliação conceitual do papel do Estado (plano da teoria política)”. A primeira concepção de ambos mostra a face normativa da teoria. Se por um lado, a segunda concepção de Ferrajoli pode ser vista como uma teoria GARANTISMO COMO NORMATIVO DE DIREITO. MODELO A tradição jurídica contemporânea consagra o Estado de Direito como a base fundamental de operatividade do sistema jurídico. Assim, se de um lado o direito é entendido como o limite ao arbítrio dos entes estatais, de outro lado, é um mecanismo de sujeição daqueles que pretendem organizar e, como mecanismo de dominação, é utilizado sem o efetivo controle dos dominados. Nesse sentido, a proposta de Ferrajoli ganha especial relevância, pois designa um modelo normativo de direito, que problematiza a existência de um sistema jurídico formal e de outro substancial, e, portanto, torna-se apto a concretizar a democracia. Trata-se, pois de uma teoria jurídica. Segundo Ferrajoli em uma primeira acepção garantismo designa un modelo normativo de derecho: precisamente, por lo que respecta al derecho penal, el modelo de estricta legalidad» SG propio del estado de derecho, que en el plano epistemológico se caracteriza como un sistema cognoscitivo o de poder mínimo, en el plano político como una técnica de tutela capaz de minimizar la violencia y de maximizar la li bertad y en el plano jurídico como un sistema de vínculos impuestos a la potestad punitiva del estado en garantía de los derechos de los ciudadanos. En consecuencia, es garantista todo sistema penal que se ajusta normativamente a tal modelo y lo satisface de manera efectiva (FERRAJOLI, 2006, p.785). Assim, o sistema garantista, do ponto de vista epistemológico caracteriza- Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 09-13, Janeiro-Julho, 2014. 11 se como sistema de conhecimento relacionado ao saber-poder, cuja praxe política implica uma técnica limitadora da violência e potencializadora da liberdade, perceptível de maneira mais contundente na seara penal, porquanto, disciplina jurídica que tutela mais incisivamente os direitos fundamentais individuais. Como se observa, o modelo normativo de direito, como proposição garantista, impõe que todos e, principalmente, os criadores da norma respeitem o direito posto. Não obstante a esse fato, designa-se como uma teoria jurídica crítica do direito positivo vigente, na sua vertente interna, uma vez que se orienta a analisar os aspectos de sua ineficácia e invalidade (CADEMARTORI, 2007, p.104). 2.2 GARANTISMO COMO TEORIA JURÍDICA DA VALIDADE E EFETIVIDADE DA NORMA. Como segunda acepção “garantismo” denota uma teoria jurídica da validade e efetividade da norma (FERRAJOLI, 2010, p. 786) que propõe a distinção das mesmas. O próprio Ferrajoli, diz que En una segunda acepción, «garantismo» designa una teoría jurídica de la «validez» y de la «efectividad» como categorías distintas no sólo entre sí, sino también respecto de la .existencia» o «vigencia» de las normas. En este sentido, la palabra garantismo expresa una aproximación teórica que mantiene separados el «ser» y el «deber ser» en el derecho; e incluso propone, como cuestión teórica central, la divergencia existente en los ordenamientos complejos entre modelos normativos (tendencialmente garantistas) y prácticas operativas (tendencialmente anti-garantistas), interpretándola mediante la antinomia -dentro de ciertos límites fisiológica y fuera de ellos patológica- que subsiste entre validez (e inefectividad) de los primeros y efectividad (e invalidez) de las segundas. Nesse sentido, Ferrajoli (2012, p.40) anuncia que são formais as definições dos conceitos teóricos de “validade” e de “vigência”, pois são independentes das normas concretas sobre a sua produção constante dos diferentes ordenamentos. Nesse sentido, “‘validade’ (e ‘invalidade’) são conceitos teóricos formais, que designam a conformidade e a coerência (e a desconformidade ou a incoerência) de uma norma em relação às normas sobre a sua produção, quaisquer que sejam o ordenamento e o nível normativo de referência” (FERRAJOLI, 2012, p.41). Na perspectiva do que propõe Ferrajoli, pode-se dizer que “vigência” diz respeito à forma da norma, enquanto “validade” diz respeito à matéria enunciada pela mesma, ou melhor, ao significado que a matéria prescreve. Igualmente, Cademartori (2007, p.106) entende que os juízos sobre a vigência ou não vigência das normas possuem um caráter amplamente descritivo, uma vez que dizem respeito a fatos concretos, por exemplo, a promulgação daquelas autoridades competentes e a observância do devido procedimento na edição, enquanto os juízes sobre a validade, ao pretender verificar os processos de adequação valorativa possuem uma acentuada carga axiológica. 2.3 GARANTISMO COMO FILOSOFIA POLÍTICA. Como terceira acepção, “garantismo” denota um conceito de filosofia política (FERRAJOLI, 2010, p. 787), no sentido de uma legitimação externa, tanto do direito como da ação estatal, que só é atingida quando este age e se fundamenta na proteção dos bens jurídicos e dos interesses que constituem sua razão de existir num cenário democrático. Neste sentido, o Estado não é visto como um fim em si mesmo, mas como um meio de concretização das Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 09-13, Janeiro-Julho, 2014. 12 finalidades democráticas instituídas pelo povo. Diz o professor italiano: Segundo um terceiro significado, por fim, ‘garantismo’ designa uma filosofia política que requer do direito e do Estado o ônus de justificação externa com base nos bens e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia constituem a finalidade. Neste último sentido o garantismo pressupõe a doutrina laica da separação entre direito e moral, entre validade e justiça, entre o ponto de vista interno e o ponto de vista externo na valoração do ordenamento, ou mesmo entre o ‘ser’ e o ‘dever ser’ do direito. E equivale à assunção, para os fins da legitimação e da perda da legitimação ético-política do direito e do Estado, do ponto de vista exclusivamente externo. (FERRAJOLI, 2010, p. 787). Assim, o “garantismo” condiciona a legitimidade externa do direito e das ações do Estado que só serão genuinamente éticas e políticas quando a norma jurídica e a ação estatal forem garantistas e afirmadoras dos direitos fundamentais. 3. EXCURSO: PARA GARATISMO PENAL. ALÉM DO A partir da discussão das acepções do garantismo, pode-se perceber que o modelo de garantismo de Ferrajoli vai muito além da análise do sistema penal e se constitui verdadeiro modelo de Estado e de filosofia do direito. O avanço social e científico que sua teoria do garantismo realiza é imenso e merece ser extremamente aplaudido – sem dúvida é um dos maiores ensaios jurídicos contra a ditadura e a favor do indivíduo. Não obstante, ao se posicionar como um positivista clássico, defendendo a total separação entre o direito e a moral e, ao mesmo tempo admitindo a discricionariedade do julgador, a teoria de Ferrajoli cria um problema de abertura interpretativa que dá ao julgador um poder quase mítico (LEAL, 2002). Conforme Lenio Streck (2012, p. 79): [...] embora critique fortemente o uso da ponderação, Ferrajoli admite uma espécie de ‘fatalidade discricionária’, isto é, para ele existem três espaços fisiológicos e insuprimíveis de discricionariedade judiciária: a) o poder de qualificação judiciária, que corresponde aos espaços de interpretação da lei, ligados à semântica da linguagem legal; b) o poder de verificação factual ou de valoração das provas, que corresponde aos espaços de ponderação dos indícios e dos elementos probatórios; c) o poder equitativo de conotação dos fatos verificados, que corresponde aos espaços de compreensão e ponderação dos conotados singulares e irrepetíveis de cada fato, mesmo se todos igualmente subsumíveis na mesma figura legal do crime. Os três espaços, na visão de Streck (2012, p. 79) “podem vir a ser reduzidos, reconhecendo, então, a importância de uma teoria da argumentação que serviria para orientar, racionalmente, a motivação das decisões tomadas, diminuindo a (insuprimível) discricionariedade.”. Com isso, “[...] aparentemente, Ferrajoli se aproxima de judicialistas como Pietro Sanchís, ao acreditar nas possibilidades de argumentação racional e um consequente absolutismo moral (embora afaste a moral a seu modo).” (FERRAJOLI; STRECK; TRINDADE, 2012, p. 79-80). Assim, os espaços de discricionariedades fisiológicos descritos por Streck, ao contrário do paradoxalmente proposto por Ferrajoli (porque aceita e teoriza a partir dessa base de limitação do decisor pela estrita legalidade e pela equidistância das partes), devem ser compreendidos como Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 09-13, Janeiro-Julho, 2014. 13 não abertos, ou melhor, como sistematicamente integrado por uma leitura do sistema normativo como espaço de não decisionismo. Desse modo, num ambiente constitucional democrático, e de cultura jurídica que reconhece a filosofia da linguagem, não é admissível a delegação de um espaço de decisão que não foi instituído pelo povo – entendido como em Müller (2003) -, e assim não se afigura como devido o modelo ferrajoliano neste ponto específico de manutenção da aplicação do direito de maneira positivista, e, portanto, discricionária. Os princípios, que podem ter conteúdo moral na sua instituição (HABERMAS, 1997, p.141), devem ser limites epistêmicos para o ato judicante (DWORKIN, 2002) pendente de uma resposta correta, portanto, não sujeita a achismos discricionários. Desse modo, conforme Dworkin (2002), os princípios jurídicos são a maneira de se promover o fechamento interpretativo (constrangimento semântico). 4. CONCLUSÃO O garantismo penal é ciência do direito, ideia filosófica e política, uma vez que, como se viu, possui elementos operativos válidos para essas diversas áreas do saber-poder. Contudo, em virtude do positivismo jurídico adotado por Ferrajoli, sua teoria ainda necessita de reformulações para uma maior aproximação do conceito de Estado Democrático de Direito. GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica Processual e Teoria do Processo. Belo Horizonte: Del Rey, 2012. DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. Trad. Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002. FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón: Teoría del garantismo penal. Madrid: Editorial Trotta, 1995. FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. FERRAJOLI, Luigi. Garantismo - Uma discussão sobre direito e democracia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. FERRAJOLI, Luigi; STRECK, Lenio Luiz; TRINDADE, André Karam (Org.). Garantismo, hermenêutica e (neo)constitucionalismo: um debate com Luigi Ferrajoli. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012. HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre Facticidade e Validade. Volume 1. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. LEAL, André Cordeiro. O contraditório e a fundamentação das decisões: no direito processual democrático. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. MÜLLER, Friedrich. Quem é o povo? a questão fundamental de democracia. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Max Limonad, 2003. 5. REFERÊNCIAS CADEMARTORI, Sergio. Estado de Direito e Legitimidade – Uma abordagem garantista. Campinas/SP: Millennium, 2007. ROSA, Alexandre Morais da. Garantismo Jurídico e Controle de Constitucionalidade Material. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. CARVALHO, Salo de. Apresentação. In: ROSA, Alexandre de Morais da. Garantismo Jurídico e Controle de Constitucionalidade Material. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 09-13, Janeiro-Julho, 2014. 14 LOPES e FARIA (2014) EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA A CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS Lídia Alvim Lopes¹; Michel Barros Faria2 1 Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado de Minas Gerais Unidade de Carangola-UEMG (2010). É especialista em Educação Ambiental pela UEMG Unidade de Carangola-UEMG (2012). É graduanda de Gestão Ambiental a distância pela Universidade Cândido Mendes. É Monitora Ambiental do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, responsável pelo Uso Público. 2 Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado de Minas Gerais Unidade de Carangola-UEMG (2004). É Mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Viçosa-UFV (2008) e Doutor em Genética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ (2013). É professor do curso de Ciências Biológicas na UEMG Unidade de Carangola e do curso de Medicina na FACIG em Manhuaçu-MG. Também é curador do Museu de Zoologia Newton Baião de Azevedo (MZNB-UEMG) e vice-presidente do Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental (CECO). RESUMO O Brasil é o país que possui a maior diversidade biológica do planeta, porém essa diversidade está ameaçada pelas inúmeras espécies em risco de extinção. Um dos maiores colaboradores para essa ameaça é a degradação ambiental causada pelo homem, através da exploração desordenada dos recursos naturais, que a cada ano vem aumentando gradativamente, principalmente na Mata Atlântica. Para reverter a exploração desordenada dos ambientes naturais, a Educação Ambiental é uma eficiente ferramenta, pois enfoca a necessidade de conservar e preservar o ecossistema em um campo amplo. O objetivo do estudo foi trabalhar através da educação ambiental problemas sobre o meio ambiente referentes à fauna e flora enfrentados na região rural do município de Alto Jequitibá, MG. Para isso, as atividades executadas foram focadas nos alunos da educação infantil e do ensino fundamental da Escola Municipal Clarice Rodrigues Faria, inserida no município de Alto Jequitibá. A escolha das escolas se deu devido à localização próxima a ambientes naturais e preservados de Mata Atlântica e, principalmente, porque grande parte dos alunos mora próximo a esse ecossistema. As metodologias utilizadas foram atividades interativas, como palestras educativas, dinâmicas, vídeos e recreações, visando a repassar informações relacionadas ao meio ambiente, de forma com que os alunos se sentissem parte dele e pudessem preservar e conservar o meio em que vivem. Conclui-se que as atividades foram de suma importância para o aprendizado dos alunos, uma vez que todos tiveram uma efetiva participação e compreenderam as atividades e a seriedade dos temas mencionados. Palavras-chave: Diversidade biológica, Degradação ambiental, Consciência Ambiental ABSTRACT Brazil is the country with the greatest biodiversity on the planet, but this diversity is threatened by numerous species at risk of extinction. One of the biggest contributors to this threat is the environmental degradation caused by man, through uncontrolled exploitation of natural resources, which each year is increasing, mainly in the Atlantic Forest. To reverse the uncontrolled exploitation of natural environments, environmental education is an effective tool because it focuses on the need to conserve and preserve the ecosystem in a wide field. The study objective was to work through environmental education issues on the environment Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 14-17, Janeiro-Julho, 2014. 15 LOPES e FARIA (2014) related to fauna and flora encountered in the rural area of the municipality of Alto Jequitibá, MG. For this, the activities carried out were focused on students in kindergarten and elementary school of the City School Clarice Rodrigues Faria, inserted in Alto Jequitibá. The choice of schools was due to the close location to the natural environment and preserved Atlantic Forest and mainly because most students live close to this ecosystem. The methodologies used were interactive activities such as educational lectures, dynamic, videos and recreations, aiming to pass on information related to the environment, so that students feel part of it and could preserve and conserve the environment in which they live. We conclude that the activities were of paramount importance to student learning, since all were effective participation and understand the activities and the seriousness of the issues mentioned. Keywords: biological diversity, environmental deterioration, Environmental Conscience 1. INTRODUÇÃO O Brasil possui 1,8 milhões de espécies animais (LEWINSOHN e PRADO, 2005) e mais de 56.000 espécies de plantas (GIULIETTIET et al., 2005), sendo classificado como o País que possui a maior diversidade biológica do mundo (MITTERMEIER et al., 1997). Todavia, ocorre que, em decorrência da ação antrópica, muitos grupos de vertebrados são largamente afetados e até mesmo ameaçados de extinção, como ocorre com 12% das espécies de aves, 23% de mamíferos e 31% dos anfíbios (IUCN, 2013). Uma das principais formas de ameaça e, consequentemente, de diminuição de recursos naturais e extinção de espécies é a exploração descontrolada do habitat (IBAMA, 2012). Devido a ação humana, esses impactos vêm aumentando de forma significativa nas últimas décadas, , fazendo com que haja um grande desafio para mudar essa problemática (MEFFE, 1997). Com base nas informações supramencionadas, é necessário que haja uma mudança de paradigmas, uma vez que todos os seres vivos têm razões morais e legais para viverem em equilíbrio no planeta (MEFFE, 1997). Dessa forma, o artigo 225 da Constituição de 1988 capítulo VI, estabelece que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Tem-se, portanto que a Educação Ambiental é uma eficiente ferramenta de trabalho, pois envolve todo o processo de aprendizagem que visa a sensibilização e a conscientização do homem com a natureza, para que o mesmo possa desenvolver práticas de conservação ambiental, formando assim um indivíduo mais consciente e crítico (JACOBI, 2004). De acordo com a Lei nº 9.795, de 27 de Abril de 1999, Artigo 2º, a educação Ambiental é fundamental em todos os níveis de ensino e deve ser apresentada de forma estruturada em caráter formal e não-formal. Diante desses fatos, o projeto que se segue teve como principal objetivo educar os alunos da Escola Municipal Clarice Rodrigues Faria, da educação infantil e do ensino fundamental. O motivo pelo qual foram escolhidos se deve ao fato de pertencem às turmas que darão subsídios as demais, de forma que os possam desenvolver a consciência ambiental, e compreender a importância de preservar todas as formas de vida existentes no planeta, seja ela vegetal ou animal. Ademais, esses alunos vivem no entorno de duas RPPNs: Refúgio do Sauás e Santuário Ecológico Mata dos Jacus, o que pode fortalecer o vínculo da importância do zelo com o homem e a natureza. 2. METODOLOGIA O projeto envolveu um total de 28 alunos e teve como principal foco trabalhar a Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 14-17, Janeiro-Julho, 2014. 16 LOPES e FARIA (2014) Educação Ambiental com a Educação Infantil e o Ensino Fundamental do primeiro ao quinto ano, cuja faixa etária varia de cinco a 11 anos. O local do estudo foi a Escola Municipal Clarice Rodrigues Faria, no município de Alto Jequitibá, na Zona da Mata Mineira, local esse que pertence ao entorno das RPPNs Refúgio dos Sauás e Santuário Ecológico Mata do Jacus, onde estão sendo realizados os projetos de levantamento da fauna e flora local. Foram realizadas atividades de interpretação, dinâmicas e recreação, sendo trabalhadas no turno da manhã, nos dias 16 e 17 de junho, das 08:00h às 11:00h, ocasião em que foi ministrada uma palestra interpretativa, que continha apenas fotos (desenhos; Figura 1) com os seguintes temas: o que é Meio Ambiente? O que é uma Unidade de Conservação? Poluição do ar, Lixo, Poluição da água, Tráfico de Animais, Desmatamento, Incêndios Florestais e Cadeia Alimentar. Os alunos foram questionados sobre os temas e preparados para expressar o que deveria ser feito para reverter a inferência antrópica sobre o meio ambiente. da Turma da Mônica - Um Plano para Salvar o Planeta, que reforçava os ensinamentos mencionados na palestra e visava uma melhor interpretação e interação com os temas apresentados, sendo repassados de forma lúdica. Foram realizadas diversas dinâmicas para ajudar na fixação das informações recebidas, com destaque a: Cadeia Alimentar, Dinâmica da Folha e Bastão. Tais assuntos trabalhavam os seguintes temas: exploração desordenada dos recursos naturais, a problemática dessas intervenções, trabalho em grupo, consciência ecológica e proteção ao meio ambiente. Para finalizar as atividades, foi confeccionado um cartaz (Figura 2) que continha o contorno de uma árvore que reaproveitou todas as folhas usadas na atividade de colagem. O cartaz foi colocado no mural da escola. Figura 2. Cartaz feito pelos alunos. Figura 1. Palestra interpretativa. Os vídeos passados pela equipe mostraram a realidade local, envolvendo os sentidos de quem os assistiu, bem como mexeu com os sentimentos, com o corpo, com a pele e também com as sensações (MORAN, 1991 apud ARROIO e GIORDAN 2006). Diante desse fato, com o objetivo de comover as crianças e mostrar-lhes uma realidade atual, utilizamos como ferramenta de trabalho o vídeo audiovisual Em todas as atividades ocorreram questionamentos e envolvimento dos alunos, e cada um pode expor suas ideias e dúvidas. 3.DISCUSSÃO A palestra foi aplicada de forma com que fosse possível compreender o que os alunos entendiam e sabiam a respeito dos temas mencionados, utilizando-se apenas da interferência das figuras e da atividade interativa. Essa atividade se mostrou eficiente e despertou Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 14-17, Janeiro-Julho, 2014. 17 LOPES e FARIA (2014) nos alunos muita curiosidade e questionamentos. O desenho da Turma da Mônica, intitulado Um plano para salvar o planeta foi de fácil entendimento e trabalhou com a imaginação e a determinação das crianças em salvar o planeta. Através do método audiovisual muitos problemas ambientais foram apresentados, bem como lançou o desafio de cada um fazer sua parte. A mensagem que o vídeo transmite é de que “tudo depende de nós, para que todos possam viver em um planeta melhor”. Essa atividade foi considerada satisfatória e comprovada pelos comentários a posteriori. As dinâmicas foram realizadas de acordo com as faixas etárias. Nota-se que as brincadeiras, apesar de simples, objetivavam fazer com que os alunos fixassem as informações mencionadas na palestra. As questões da prática em associações com o cotidiano fizeram com que os alunos se sentissem parte do meio ambiente e, consequentemente, responsáveis por cuidar e preservar todo o planeta. 4. CONCLUSÃO Diante do exposto, conclui-se que os alunos trabalhados compreenderam a importância e a seriedade das atividades aplicadas, bem como perceberam a necessidade de cuidar e preservar o meio ambiente. A problemática mencionada comoveu os alunos, de forma que se espera que haja a disseminação das informações passadas para os seus pais e demais membros da família. A apresentação, o vídeo e as dinâmicas em grupo serviram para reforçar e aprofundar o conhecimento dos alunos em relação a necessidade de cuidado com o meio ambiente. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARROIO, Agnaldo; GIORDAN Marcelo. O Vídeo Educativo: Aspectos da Organização do Ensino. Química Nova na Escola, nº24, Novembro de 2006. BRASIL. Constituição Federal de 05 de outubro de 1988. Da nova redação ao art. 225 da Constituição Federal, alterando e inserindo parágrafos. São Paulo, 2005. GIULIETTI, A. M., Harley, R.M., Queiroz, L. P., Wanderley, M. G., & Van den Berg, C.2005. Biodiversidade e conservação das plantas no Brasil. Megadiversidade1: 52-61. IBAMA. (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Campanha Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres: "Proteger e conservar: obrigação de todos" 2012. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/qualidadeambiental/download/108/>. Acesso em 22 de ago 2014. JACOBI, C. M. Percepção ambiental em unidades de conservação: experiência com diferentes grupos etários no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG. In: 7º Encontro de Extensão da UFMG, 2004. Anais... Belo Horizonte- MG. LEI n.0 9.795, de 27 de abril de 1999 Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providencias. LEWINSOHN, T.M. e P.I. PRADO. Quantas espécies há no Brasil?Megadiversidade, v. 1 p. 36-42, 2005. MEFFE, G. K. (ed.). 1997. Principles of Conservation Biology. Sunderland: Sinauer Associates. MITTERMEIER, R. A., Robles Gil, P. &Mittermeier, C. G. 1997. Megadiversity: earth’s biologically wealthiest nations. Cidade do México: CEMEX, ConservationInternational e AgrupaciónSierra Madre. SOUSA, Maurício de. Um Plano Para Salvar o Planeta. Disponível em: < http:// https://www.youtube.com/watch?v=zjqcwk EX-ao>. Acesso em: 10 jun 2014. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 14-17, Janeiro-Julho, 2014. 18 PÓS-MODERNISMO: UMA RUPTURA OU CONTINUIDADE DO MODERNISMO? Reginaldo Adriano de Souza¹; Mônica Oliveira Costa²; Rita de Cássia Martins de Oliveira Ventura³ ¹ Formado em Administração pela Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu. Especilaista em Docência para o Ensino Superior para a UNIP e em Administração Rural pela UFLA, mestre em Administração pela FEAD-BH. Professor e Coordenador do Curso de Marketing da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu. ² Graduada em Ciências Contábeis, especialista em Controladoria e mestre em Ciências contábeis. Professora e Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis na Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu. ³ Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais, doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Diretora acadêmica e professora da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu. RESUMO Este artigo buscou informações sobre as teorias administrativas, bem como uma leve apresentação de suas evoluções no passar dos anos. Frente às grandes mudanças da atualidade buscou-se compreender as idéias modernistas e também entender do que se trata o modernismo. Dentro do modernismo localizou-se a Escola Clássica como sendo o principal foco do momento, onde houve uma racionalização, especialização e normatização nas formas de trabalho. Os autores pós modernos criticam essa postura exagerada de desvalorização do ser humano, que era considerado como uma continuação da máquina. No entanto, verificou-se a grande dificuldade de se entender o pós-modernismo, alguns autores consideram uma ruptura do modernismo, enquanto outros consideram uma evolução apenas. Outra dificuldade está em se projetar as características dessa nova época, uma vez que ainda se encontra em construção. Existe ainda uma fragmentação da figura humana em decorrência da diversidade, da flexibilidade e da relatividade em que se encontra o mundo atual. PALAVRAS-CHAVES: Modernismo; pós-modernismo; mudança; organização. ABSTRACT This article sought information about management theories as well as a mild presentation of its evolution over the years. Despite the big changes today sought to understand modernist ideas and also understand what it is modernism. Located within modernism to Classical School as the main focus of the moment, where there was a rationalization, standardization and specialization in working arrangements. Postmodern authors criticize this exaggerated posture of devaluation of the human being, who was regarded as a continuation of the machine. However, there was great difficulty to understand postmodernism, some authors consider a break from modernism, while others consider an evolution only. Another difficulty lies in designing the features of this new era, since it is still under construction. There is also a fragmentation of the human figure because of the diversity, flexibility and relativity in which he is the current world. KEYWORDS: modernism; postmodernism; change; organization Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 18-25, Janeiro-Julho, 2014. 19 1. INTRODUÇÃO Competitividade, globalização, economia de escala, produção da qualidade, são alguns dos diversos assuntos levantados no meio acadêmico e administrativo das organizações neste século XXI. Nunca se falou e se questionou tanto sobre mudanças na humanidade quanto nos dias atuais, em todos os setores, nas classes sociais, nas formas de governos dos países, na postura agressiva do capitalismo, enfim o mundo tem respirado mudanças e parece ser uma das únicas certezas que temos: essa mudança terá continuidade nos anos vindouros. Em face dessas novas perspectivas se faz válido aprofundar um pouco mais na mudança, bem como nos reflexos que trazem para o mundo administrativo. Na atualidade ouve-se falar em novas ferramentas de trabalho como planos de benefícios, administração participativa, empowerment, em responsabilidades ambientais e sociais, leis que regem as empresas, novas exigências do mercado consumidor, entre outras. Novas teorias e teóricos aparecem no meio administrativo, alguns com fórmulas tidas como milagrosas no meio organizacional e acadêmico na busca das soluções dos diversos problemas surgidos nos últimos anos. Isso leva à reflexão sobre esse período conturbado de mudanças e a se questionar se realmente se vive uma ruptura do modernismo ou se ainda são seguidas as mesmas cartilhas pregadas pelos teóricos do passado. Sendo assim, o objetivo principal deste artigo é estudar essas mudanças e verificar se realmente houve uma ruptura do que era pregado na época da Revolução Industrial ou se simplesmente houve uma maquiagem das idéias do passado. O que se pretende apresentar a seguir são as idéias defendidas pelos modernistas e pós modernista, identificando as características das épocas e alguns de seus idealizadores na tentativa de entender melhor as questões ligadas à evolução administrativa no decorrer dos anos. 2. O MODERNISMO Para verificação da possível mudança advinda no novo século se faz necessário remeter ao passado não tão distante do modernismo com os seus autores e defensores. Desta forma precisa-se entender o que realmente foi o modernismo e quais as idéias e correntes defendidas neste contexto. Cooper e Burrell (2007) colaboram na conceituação do termo e relatam o seguinte sobre o período moderno: O modernismo é aquele momento em que o homem se inventou, em que ele não mais se viu como o reflexo de Deus ou da natureza. Sua origem histórica está na filosofia iluminista do século XVIII, que elegeu a Razão como o atributo humano mais elevado. A razão de acordo com Kant, significa pensar por nós mesmos e deixar de depender de alguma autoridade externa que decida por nós [...] (IBIDEM, 2007, p. 315). Há, portanto um rompimento com tudo o que era pregado anteriormente, visto que a figura da razão entra em cena deixando o empírico e as questões religiosas em segundo plano. Motta (2007) reforça a idéia de rompimento com as tradições milenares havendo uma nova dinâmica social ditada pelos avanços tecnológicos e pela razão humana, afastando assim do mundo mítico e dando início à ciência. Sousa (2004) corrobora com o conceito do modernismo sendo ligado à nova visão do conhecimento e da razão para a melhoria do processo produtivo para alavancar a capacidade de produção que era o grande problema da época. Segundo o autor, Weber e Taylor se apresentam como verdadeiros ícones do período moderno com a burocracia do poder e a racionalização do trabalho respectivamente. Sendo, portanto o uso de técnicas da razão e da racionalidade Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 18-25, Janeiro-Julho, 2014. 20 como a melhor forma de gerir as organizações e controlar o fator humano no ambiente de trabalho. estudos do tempo e dos movimentos aliados à divisão das tarefas levaria o homem à maior produtividade. Possivelmente foi este um dos períodos em que a mudança pode ser considerada como uma das mais fortes e que trouxe reflexo em todo o mundo. Motta (2007) vincula a modernidade da administração ao período da Revolução Industrial, onde a produção artesanal deu lugar ao sistema fabril, sendo assim um marco na história da produção alterando os padrões produzidos bem como a vida social de toda a humanidade. Wood Jr. (1992) Reforça a ideia de que a vida humana sofreu grande transformação devida a nova forma de produção em massa, fortalecendo a sociedade urbana e enfraquecendo a rural e o humanismo cedendo espaço ao racionalismo. O autor afirma ainda que os interesses de empregadores e empregados não são antagônicos, uma vez que os mesmo precisam prosperar conjuntamente. A forma de alcançar os objetivos era, de um lado, o empregado receber altos salários de por outro lado o empregador atingir baixos custos produtivos pela alta produtividade. Taylor (2011) apresentava uma visão pessimista do ser humano, considerando-o vadio, por não se esforçar tanto no trabalho como em outras áreas de sua vida como o esporte, por exemplo. Surge então a figura do homem econômico que trabalha por medo de passar fome e que a fonte de satisfação do empregado é o dinheiro. Sacomano Neto e Truzzi (2002) citam que Hatch1 apresentou um momento de impulso no mundo administrativo e produtivo, que é justamente a industrialização norte-americana e inglesa, onde os estudos organizacionais ganharam peso e as abordagens de gestão passaram a ser analisadas cientificamente. Apontam ainda os trabalhos de Taylor, Fayol e Barnard como precursores de análises e práticas operacionais, propondo soluções para os problemas enfrentados na época. Wood Jr (1992, p.3) faz algumas considerações a cerca do taylorismo que podem sintetizar parte das idéias de Frederick: a. Os três pilares do modernismo administrativo Como ressaltado anteriormente alguns teóricos se destacaram como ícones do modernismo e cabe então um breve acompanhamento das idéias defendidas por Taylor, Fayol e Max Weber. Taylor (2011), considerados por muitos como o pai da administração, pregava a divisão das tarefas como forma de tornar o empregado mais especialista aumentando assim seu aspecto produtivo. Era, portanto, a substituição do empirismo por métodos científicos onde através dos 1 HATCH, M.J. Organization theory. Oxford University Press, 1997. Taylor desenvolveu uma série de princípios práticos baseados na separação entre trabalho mental e físico e na fragmentação das tarefas. Estes princípios são aplicados até hoje tanto nas fábricas como nos escritórios. O efeito direto da aplicação desses princípios foi a configuração de urna nova força de trabalho marcada pela perda das habilidades genéricas manuais e um aumento brutal da produtividade. Por outro lado, passaram a surgir problemas crônicos como absenteísmo e elevado turnover. Outro colaborador de significativa importância do modernismo foi Henry Fayol. A Teoria Clássica de Fayol complementa o trabalho de Taylor, propondo a racionalidade da estrutura administrativa com a departamentalização dos setores. O teórico criou os princípios da boa administração, apresentando as funções clássicas do administrador que segundo ele era: planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 18-25, Janeiro-Julho, 2014. 21 Princípios como a unidade de comando e definição clara de responsabilidade e autoridades torna-se fatores chaves para o êxito organizacional. (WOOD JR, 1992). Desta forma percebe-se que os estudos de Taylor são complementares ao de Fayol, enquanto um foca a divisão e padronização das tarefas no sistema produtivo o outro contempla a mesma divisão e padronização no setor estrutural da empresa. Max Weber é outra imagem forte do modernismo ele observou a mecanização da indústria e pregou a proliferação das normas burocráticas de organização. “Segundo ele, a burocracia rotiniza a administração como as máquinas rotinizam a produção.” (WOOD JR, 1992). As normas e regras passaram a ser utilizadas de forma mais intensa na busca de uma maior organização nas empresas, profissionalismo era outra idéia forte defendida por Weber. Essas concepções de Weber contribuem ainda mais para a especialização e para criação de uma rotina a ser seguida pelos operários da época. Segundo DiMaggio e Powel (1983) a burocracia é um meio poderoso e eficiente para controlar homens e mulheres, tanto que ficou conhecida como jaula de ferro, ainda segundo os autores, Weber afirma que os controles organizacionais, através das normas e regras, são exigidos para que as organizações honrassem seus compromissos legais. b. O enfraquecimento do modernismo As organizações passam por mudanças no decorrer dos tempos devido a diversos fatores como: concorrência, economia, globalização, maior poder dos consumidores, exigências sociais e ambientais. Carnall2 apud Grey (2004, p.3) assevera que: 2 CARNALL, C. Managing change in organizations. London: Prentice-Hall, 1995. Em um mundo de mudanças, a única constante é a mudança... a realidade é que a estabilidade que parecia caracterizar o mundo organizacional nos anos 1950 e 1960 deu espaço para uma crescente e global competição, para as inovações e mudanças tecnológicas, para a limitação de recursos, a desregulamentação, a privatização das organizações públicas, e mudanças em muitas outras áreas. Conforme verificado acima as mudanças são inevitáveis e se tornaram uma constante no dia a dia das organizações. Com essas mudanças há sempre uma possibilidade de quebra de paradigmas, podendo, portanto trazer tanto rupturas quanto evoluções nos processos anteriores. Souza (2004, p.2) afirma que várias mudanças contribuíram para a queda do modernismo, entre elas: “a globalização dos mercados; o crescimento das organizações; a rápida implementação e aplicação das tecnologias de comunicação e informação; mudança com relação à natureza do trabalho; a profissionalização da força produtiva; economias estagnadas; movimentos ecológicos; a fácil movimentação do capital; [...]”. Uma crítica forte ao modernismo é aferida por Motta (2007) dizendo que a modernidade apresentou um resultado incompleto por ter servido a apenas uma parcela da humanidade, o que aumentou as desigualdades. De forma clara a parcela mais prejudicada na época foi a dos trabalhadores que eram controlados excessivamente, sendo considerados como uma parte das máquinas. Wood Jr. (1992) apresenta a mudança advinda da nova concepção do ser humano, neste contexto começou-se a verificar as necessidades humanas. Como não poderia deixar de ser cita Elton Mayo como um dos primeiros a identificar as necessidades dos trabalhadores e a importância dos grupos informais. Elucida ainda a figura de Maslow dispondo as necessidades humanas em uma pirâmide Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 18-25, Janeiro-Julho, 2014. 22 hierárquica, Herzberg e Mcgregor abordando a integração dos indivíduos nas organizações, indivíduos esses como fontes de criatividade e inovação. Em face deste novo contexto surgem os conceitos de Gerenciamento dos Recursos Humanos e a valorização das pessoas nas empresas. Tureta et al (2005) contribuem com a visão sistêmica das organizações atuais, nos tempos passados na Escola Clássica (Taylor, Fayol e Weber) e até mesmo na Escola das Relações Humanas (Mayo) as organizações eram consideradas como sendo sistema fechado. Eles asseveram que na realidade as organizações atuais apresentam intercâmbio com o ambiente onde estão inseridas, influenciando e sendo influenciadas por essa estrutura ambiental externa. Esses fatores (estratégia, tamanho, tecnologia, concorrência, entre outros) trazem incertezas para a organização, pois nada é tão previsível como era pregado na modernidade. c. Posmodernismo modernismo: ou pós- Todas essas mudanças a cerca da concepção humana e das estruturas do mercado competitivo trouxeram consigo uma nova visão no mundo administrativo, gerando novos conceitos como modernismo e pós-modernismo. Estes conceitos são de difícil conceituação por representarem possivelmente uma atualidade ainda em construção. Segundo Sousa (2004, p.4) “o pósmodernismo surgiu como uma forma de rebeldia contra os “abusos” cometidos em nome da cientificidade da racionalidade instrumental do modernismo, que de uma forma ou de outra, serve como ferramenta de dominação de um grupo de “privilegiados” perante os demais mortais, postergando aquilo que a princípio este combatia: que era o mito, a tradição.” É portanto uma quebra da continuidade da dominação pregada pelo modernismo, é a desconstrução da desvalorização humana e da falsa idéia de que todos ganhavam no processo produtivo da época. Essa idéia de ruptura é questionada por alguns nomes como Giddens que aceita mudanças fundamentais na época, mas não uma ruptura total, assim sendo ele acredita que “o pós-moderno é a continuidade das mesmas práticas sociais apenas em contextos históricos diversos.” (MOTTA, 2007, p. 11). O autor assevera ainda que há uma extrema dificuldade com esses termos, além do mais não se tem um parâmetro de quando se tem início as questões que sucedem o modernismo. Não somente há complicações quanto à raiz do termo pós-moderno, mas também uma dificuldade de entendimento das características que envolvem o mundo atual, fato é que muitas características modernistas também são pertinentes às definições de pós modernismo. Sousa (2004) afirma ser uma característica das organizações pós modernas o grande fluxo de informações e a presença de uma cultura mais forte nas empresas, onde começa a existir uma maior presença do trabalho flexível, da informalidade, da descentralização e consequentemente uma gestão mais participativa. O autor critica ainda a forma como a Burocracia prende a figura humana e afirma que tanto as pessoas quanto a gestão das organizações não estão mais interessados na racionalidade burocrata. No entanto, separar onde termina o modernismo e inicia o pós modernismo é algo extremamente complexo, não havendo um grande marco. Power3 apud Sousa (2004, p.3) relata que “não há uma linha absoluta que demarca a diferença entre o que é moderno e o que é pós moderno. Para alguns autores, pós moderno pode significar tanto o término como uma continuação diferente da modernidade”. Existe ainda uma grande dificuldade e até mesmo um impasse no que diz respeito a corrente pós moderna, alguns autores consideram a continuidade 3 POWER, M. Modernism, Postmodernism and Organization. in HASSARD, J. PYM,D. The theory and philosophy of organizations. London: Routledge, 1990. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 18-25, Janeiro-Julho, 2014. 23 do modernismo enquanto consideram uma ruptura. outros Vieira e Caldas (2006) apresentam algumas características tidas como pósmodernas baseados nos estudos de Harvey e Derrida: globalização; o relativismo e o pluralismo; espetacularização da sociedade; a cultura de massa; a normalização da mudança onde tudo é volátil e transitório; o consumidor ganhando papel de destaque na sociedade; e a comoditização do conhecimento. Vieira e Caldas (2006) elucidam ainda a divisão das duas correntes de pós-modernismo, onde autores como Giddens ou Habermas consideram a atualidade como um estágio tardio da modernidade, não se pode negar a razão (se negaria o valor do indivíduo) nem o projeto iluminista (que ainda não está completo, portanto a modernidade perdura até os dias atuais). Sousa (2004) reforça a idéia de que as teorias pós-modernistas são extremamente novas e difíceis de serem entendidas, no entanto trata o pos modernismo como algo real e não apenas como modismo. Reafirma ainda influências epistemológicas são de diversas áreas o que dificulta prever sua identidade e espera ainda não ser mais uma forma disfarçada de dominação. O autor divide então os termos, sendo caracterizado pos modernismo a corrente que prega a continuidade do moderno, havendo, portanto uma dependência do modernismo e caracteriza ainda o pósmodernismo como uma forma rebelde contrária aos abusos do modernismo quebrando essa continuidade e, portanto pregando uma desconstrução. Sousa (2004) afirma ainda que o pósmodernismo receba duras críticas devido a sua desorganização que o leva a beira do caos, até mesmo por ainda estar em construção. E também pela dificuldade de delimitar esse pós-modernismo. Bauman4 apud Chevitarese (2001, p.12) reforça a idéia de que não existe 4 BAUMAN, Zygmunt: Modernidade e Ambivalência. RJ. Jorge Zahar Editor. 1999. uma ruptura entre posmodernismo: modernismo e a pós-modernidade é a modernidade que atinge a maioridade, a modernidade olhando-se a distância e não de dentro, fazendo um inventário completo de ganhos e perdas, psicanalizando-se, descobrindo as intenções que jamais explicitara, descobrindo que elas são mutuamente incongruentes e se cancelam. A pós-modernidade é a modernidade chegando a um acordo com a sua própria impossibilidade, uma modernidade que se automonitora, que conscientemente descarta o que outrora fazia inconscientemente. Desta forma Chevitarese (2001, p.12) acredita que “o “pós” de “pósmodernidade” não pode denotar, de fato, ruptura ou esgotamento da modernidade, não pode significar seu obituário”. Desta forma acredita ter uma ligação com as práticas modernistas do passado e não uma negação total. Com relação à gestão das empresas nos dias atuais ainda pode-se perceber a forte influencia do modernismo em algumas organizações. A administração científica e a burocracia, bem como suas idéias de controle do ser humano, ainda se fazem presentes no nosso dia-a-dia. Guimarães (2006) afirma que na atualidade existem outros tipos de controle que tem ultrapassado as questões do corpo chegando a controlar a mente do trabalhador. “A organização e seus gestores passaram a se utilizar de técnicas, políticas e práticas organizacionais que visam o controle do trabalhador sem, contudo, parecer que estão controlando.” (IBDEM, 2006, p.4). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS: De acordo com o apresentado ainda existem diferentes formas de entender o momento administrativo que se apresenta depois do modernismo. Como exposto alguns autores afirmam haver Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 18-25, Janeiro-Julho, 2014. 24 uma ruptura do modernismo com os dias contemporâneos, no entanto outros acreditam apenas em uma evolução e que as práticas gerenciais foram apenas maquiadas. Apresentou ainda que algumas formas de gerir apenas passaram por mudanças terminológicas, mas que ainda controlam o colaborador da mesma forma, ou até mais forte, do que no passado. Pode-se perceber que ainda é uma grande novidade o temo pós modernidade e suas características, mesmo que se pregue uma ruptura do modernismo ainda há uma necessidade de conceitos e até mesmo atitudes modernistas dentro deste novo contexto. Neste mundo pluralista onde nada mais é uma totalidade, onde existe uma relatividade nas ações e formas de pensar humanas torna-se ainda mais complexo entender o momento que vivemos, bem como conceituá-lo e apontar suas principais características. Deve-se ressaltar ainda que nem todos os tipos de organização se enquadram totalmente neste contexto de pós moderno. As empresas mecanicistas que produzem em massa, mesmo na era pós moderna seguem muitos padrões do modernismo. Percebe-se, portanto, que não existe uma verdade absoluta que permeia o meio administrativo e que realmente ainda vivemos em um meio contingencial onde as atitudes administrativas dependem de situações em que se encontra em determinado momento. Anais da I SAF-PUC. RJ: Disponível em http://www.saude.inf.br/artigos/posmoderni dade.pdf. Acesso: 20/08/2011. COOPER, Robert; BURRELL, Gibson. Modernismo, pós-modernismo e análise organizacional: uma introdução. RAE, Rio de Janeiro: FGV, v. 46, n. 1, p. 87-101, jan./mar. 2006. DiMAGGIO, P. J.; POWELL, W. W. A gaiola de ferro revisitada: isomorfismo institucional e racionalidade coletiva nos campos organizacionais. Revista de Administração de Empresas, v. 45, n. 2, p. 72-89, 2005. FREITAS, M. E. Cultura Organizacional: Evolução e Crítica. São Paulo: Thomson, 2007. GREY, C. O fetiche da mudança. RAE, Rio de Janeiro: FGV, v. 44, n. 1, jan./mar. 2004. Disponível em: http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos /10.1590_S003475902004000100002.pdf. Acesso: 19/08/2011. GUIMARAES, Magali Costa. Controle no trabalho: uma reflexão sobre antigas e novas formas de controle e suas conseqüências sobre os trabalhadores. REGE-USP [online]. 2006, vol.13, n.1, pp. 1-10. Disponível em http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rege /v13n1/v13n1a1.pdf. Acesso 15/08/2011. Desta forma considera-se aqui que vivenciamos uma evolução no tempo e na forma de gerir as organizações, sem, no entanto poder afirmar que existe uma ruptura total. Entende-se que traços modernistas são presentes no cotidiano das organizações atuais e que colaboram para a perenização das mesmas em um meio tão competitivo e globalizado. MOTTA, P. R. Transformação organizacional: a teoria e a prática de inovar – Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 6ª reimpressão, 2007. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: SOUSA, Paulo Daniel Batista de. Posmodernismo e a Teoria Organizacional Contemporânea in III Seminário do Centro de Ciências Sociais Aplicadas. CHEVITARESE, L. (2001): “As ‘Razões’ da Pós-modernidade”. In: Analógos. SACOMANO NETO, M. e TRUZZI, O.M.S. Perspectivas Contemporâneas em análise organizacional. São Paulo, UFSCAR: Gestão & Produção v.9, n.1, p.32-44, abr. 2002. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 18-25, Janeiro-Julho, 2014. 25 UFPR: Cascavel – 18 a 22 de Outubro de 2004. TAYLOR, W. T. Princípios de administração científica. Tradução Arlindo Vieira Ramos. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011 TURETA, Cesar at al. Da teoria sistêmica ao conceito de redes interorganizacionais: um estudo exploratório da teoria das organizações. II Seminário de gestão de negócios, FAE: Curitiba, 2005. VIEIRA, M. M. F.; CALDAS. M. P. Teoria crítica e pós-modernismo: principais alternativas à hegemonia funcionalista. RAE, Rio de Janeiro: FGV, v. 46, n. 1, p. 59-70, jan./mar. 2006 WOOD JR, Thomaz. Fordismo, Toyotismo e Volvismo. Os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 32, n.4, set./out. 1992, p.6-18. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 18-25, Janeiro-Julho, 2014. 26 Alves e Hot (2014) A HONRA COMO ELO ENTRE PÚBLICO, PRIVADO, CRIMINALIDADE E JUSTIÇA NA AMÉRICA PORTUGUESA DOS SÉCULOS XVIII E XIX Leonardo de Carvalho Alves¹, Amanda Dutra Hot² ¹ Discente do curso de História da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu (FACIG). ² Professora orientadora. Mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Docente na Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu (FACIG). RESUMO O presente trabalho tratará sobre as noções de público e privado existentes na América Portuguesa dos séculos XVIII e XIX, relacionando-as com a importância da honra para o homem do período em questão e mostrando, ainda, a honra como elo entre a intimidade, criminalidade e justiça no Brasil daqueles tempos. Palavras-chave: América Portuguesa; Criminalidade e justiça; Honra; Noções de público e privado. 1. A ESCOLHA DE UM TERMO MAIS CORRETO PARA SE EVITAR O ANACRONISMO Primeiramente, como fizera Fernando A. Novais em “Condições da Privacidade na Colônia”, texto contido em “História da Vida Privada no Brasil. Cotidiano e vida privada na América portuguesa” (1997) de Laura de Mello e Souza, deve-se dizer o porquê de se utilizar o termo “América Portuguesa” para situar o tempo e o espaço, ou seja, o recorte histórico deste trabalho. Novais expõe que: [O uso de tal termo (América Portuguesa)] [...] não é, pois, apenas uma questão de modéstia ou de prudência. É que desejamos, desde logo, patentear nossa preocupação de evitar o anacronismo subjacente a expressões como “Brasil Colônia”, “período colonial da história do Brasil” etc. Pois não podemos fazer a história desse período como se os protagonistas que a viveram soubessem que a Colônia iria se constituir, no século XIX, num Estado nacional. (NOVAIS, 1997, p.17) Em outras palavras, por abranger parte de um período em que o Brasil deixara de ser uma colônia de Portugal e se tornara a capital do Império Português, o que, para a história revisionista, ocorrera com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil (1807/1808), os termos já expostos por F. A. Novais no trecho acima, tais como “Brasil colônia” e “Brasil colonial”, tornam-se inadequados por remeterem ao anacronismo histórico, sendo mais adequado, portanto, uma terminologia mais geral, a exemplo de “América Portuguesa” para localizar o recorte histórico a ser trabalhado (séculos XVIII e XIX). 2. O PÚBLICO E O PRIVADO NA AMÉRICA PORTUGUESA Durante a Idade Média (séc. V XV), principalmente na Alta Idade Média (séc. V - XI), os conceitos de público e privado eram bastante indistintos, assim como mostra, em “Ano 1000 Ano 2000: na Pista de Nossos Medos” (1999), o historiador francês Georges Duby classifica a sociedade medieval como sendo bastante gregária. Ele relata que o homem medieval trabalhava, se divertia, Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 26-30, Janeiro-Julho, 2014. 27 Alves e Hot (2014) comia e até dormia em grupo, sendo os solitários indivíduos, geralmente, alvo de suspeitas e desconfianças, principalmente se fossem forasteiros, isto explicado pelo temor desencadeado na mentalidade do homem mediévico devido a relatos de violentos ataques de outros povos a vilarejos e mosteiros. A indistinção entre os conceitos de público e privado não deixara de existir com o fim da Idade Média, ela se mantinha existente também na Idade Moderna (séc. XV - XVIII) que sucedera ao período medieval, no qual a economia mercantilista e a política absolutista vigentes contribuíram para a descoberta de novos territórios e riquezas neles existentes. É o que ocorrera com Portugal, o pioneiro das Grandes Navegações, que descobrira no sul do continente americano sua maior e mais importante colônia. Território este que viria a ser conhecido, posteriormente, como Brasil e que fora profundamente influenciado pelos padrões socioculturais e religiosos dos conquistadores europeus, fazendo, assim, com que essa indistinção entre o público e o privado também se fizesse presente na América Portuguesa, contando, é claro, com certas particularidades segundo relatos etnocêntricos dos colonizadores e viajantes, insistentes em evidenciar o quão diferente e confusa era a colônia em relação à Europa. Fato evidenciado por Fernando A. Novais, que narra um curioso caso em que as noções de público e privado, do ponto de vista de um clérigo europeu, parecem invertidas. Segue abaixo o caso em questão: Notava as coisas e via que mandava comprar um frangão, quatro ovos e um peixe para comer, e nada lhe traziam, porque não se achava na praça, nem no açougue, e, se mandava pedir as ditas coisas e outras mais às casas particulares, lhas mandavam. Então disse o bispo: verdadeiramente que nesta terra andam as coisas trocadas, porque toda ela não é república, sendo-a cada casa. Frei Vicente do Salvador, História do Brasil (1500-1627) (NOVAIS, 1997, p. 14) Como se vê, nesse caso, as noções de público e privado na América Portuguesa, encontram-se indistintas, tendo o bispo, acostumado em conseguir na Europa, suas provisões no espaço público do mercado e não no íntimo e privado das residências particulares, obtido a impressão de que, na colônia, o público e privado se invertiam. Ao analisarem mais a fundo as causas para a indistinção entre as noções de público e privado na América Portuguesa e o porquê de tais conceitos, permaneceram indistintos, por tanto tempo, estudiosos como Fernando A. Novais e Leila M. Algranti, estes revelam que o tipo de colonização pela qual o Brasil passou, isto é, de exploração, dificultava a criação de quaisquer laços entre os colonos, incluindo relações de privacidade e até mesmo uma noção de público. Isso se explica por diversos motivos, tais como: pela meta dos colonizadores de enriquecer rapidamente e retornar à metrópole, pelo caráter itinerante dessa sociedade que buscava constantemente por riquezas e, também, por conta da rápida urbanização de certas áreas, como a das Minas Gerais, que, por sua vez, atraía indivíduos de diferentes locais e culturas, pois a diversidade dificultava a interação entre as pessoas. Fernando A. Novais e Leila M. Algranti revelam que, entre os séculos XVIII e XIX, os conceitos de público e privado já se encontram mais diferenciados um do outro, na América Portuguesa. Sendo o privado aquilo que visa a ocultar dos olhares de estranhos um conceito que se restringia ao ambiente doméstico, ao domicílio e ao núcleo familiar; enquanto o público era tudo o que estava aos olhares de terceiros. Eles e outros estudiosos evidenciam, também, que as pessoas se escondiam por de trás de padrões sociais europeus da época sendo elas mesmas apenas na privacidade de suas casas. Casas estas Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 26-30, Janeiro-Julho, 2014. 28 Alves e Hot (2014) capazes de refletir bem a existência das noções de público e privado no Brasil daqueles tempos, comprovada pela arquitetura predominante do período em questão. No texto “Famílias e vida doméstica”, situado em “História da Vida Privada no Brasil e Cotidiano e vida privada na América portuguesa” (1997), de Laura de M. e Souza, Leila M. Algranti, relata-se que, devido à existência de poucas hospedarias na América Portuguesa, os visitantes acabavam se hospedando nas casas dos moradores locais, onde, geralmente, tinham acesso apenas aos cômodos mais externos, como a sala, varanda e, se disponível, quarto de hóspedes. Isso em casas mais abastadas, já que as humildes sequer possuíam cômodos separados. O que as autoras expuseram evidencia a existência da noção de privacidade no Brasil dos séculos XVIII e XIX e, também, o caráter coletivo (familiar) que ela tinha. Os cômodos mais internos (quartos, cozinha, jardim e quintal), segundo estudiosos, eram de acesso restrito aos membros da família, sendo os quintais, ainda, áreas destinadas também à produção de gêneros de subsistência. Nas residências mais humildes, explica Algranti, os visitantes enfrentavam, ainda, condições bastante precárias de higiene, sem falar que as casas mal possuíam separação de cômodos, como já exposto anteriormente, e muito menos mobílias (escassas até nas melhores moradas), devendo os visitantes, como mostram muitos relatos de viajantes, dormir em redes na sala ou na cozinha sobre o chão enlameado de terra batida. A autora esclarece, também, que havia, sim, maior dificuldade de a privacidade se manifestar nas residências humildes devido a não existência de cômodos específicos como nas casas mais abastadas. No entanto, a existência de cômodos compartilhados e das “alcovas” (quartos sem janelas, geralmente, destinados às mulheres) nos domicílios de pessoas possuidoras de bens tentavam impedir, ou ao menos restringir a existência da intimidade com o objetivo principal de preservar a honra e a moral familiar. 3. CRIMINALIDADE E JUSTIÇA NA AMÉRICA PORTUGUESA Segundo Edna Mara F. da Silva (2010) e Marco Antônio Silveira (1997), a ocorrência de crimes na América Portuguesa dos séculos XVIII e XIX era frequente devido à impunidade gerada pela lentidão e pelo caráter elitista da justiça da época, que por sua vez, contribuíam para aumentar bastante os honorários de certos funcionários públicos e outros profissionais, que viam nessa lentidão da justiça a chance perfeita de lucrarem ainda mais. Essa alta criminalidade era, também, para muitos estudiosos, produto de uma sociedade urbana e desigual de certas regiões, como, por exemplo, a das Minas Gerais. Grande parte dos crimes era cometida por vingança ou em caráter disciplinador, sendo a preservação da honra e moral do indivíduo e seus familiares um dos maiores motivos que levavam às praticas criminosas, as quais eram, na maioria das vezes, bem planejadas e ocorriam durante a noite, na forma de tocaias, servindo também para o criminoso demonstrar sua coragem à sociedade. Existiam outros tipos de crime também, é claro. Delitos de desordem pública, políticos, religiosos e contra pessoas (estupros, assaltos, etc.) eram os mais comuns deles. Quanto à atuação do judiciário, Silveira reafirma o caráter elitista da Justiça da época e fala também da inexistência de magistrados suficientes para o bom funcionamento do setor jurídico. O autor segue dizendo que o prestigio social, a posse de bens e de um nome “honrado” poderiam garantir e garantiam a absorção de alguns criminosos, já que possuir alguns desses atributos, somados à alegação de que o crime fora cometido por ofensa à honra do indivíduo e/ou de sua família (injúria, defloramento e adultério), dava a ele Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 26-30, Janeiro-Julho, 2014. 29 Alves e Hot (2014) quase que o direito de cometer um crime em defesa da honra. 4. CONCLUSÃO Como já fora exposto, os conceitos de intimidade e privacidade se encontravam, na América Portuguesa dos séculos XVIII e XIX, restritos ao ambiente doméstico dos domicílios a fim de ocultar dos olhares de terceiros, isto é, do espaço público, o verdadeiro “eu” das pessoas, ou seja, o que elas escondiam por trás dos padrões sociais e que só manifestavam no íntimo de suas residências. Tudo com o intuito de preservar o “bom nome”, a moral e a honra familiar. Tudo aquilo que envolvia a honra de um homem e sua família era merecedor de sua atenção. Alguns cuidados eram tomados pelos chefes de família em suas próprias residências para a preservação da intimidade e integridade moral de seu núcleo familiar. Cuidados esses como os evidenciados por Leila M. Algranti, tais como: a construção de cômodos compartilhados e quartos sem janelas (alcovas), geralmente destinados às mulheres. Sem falar, é claro, na precaução de manter os visitantes, quando existentes, separados em cômodos, nas partes mais externas da casa, sendo os aposentos internos locais de acesso exclusivo da família. Até mesmo as janelas existentes, como também mostra Algranti, eram adaptadas para a preservação da intimidade familiar. As janelas, por exemplo, eram de treliças de madeira e, além de ventilarem o interior do domicilio, tinham a função prática de permitirem a visão dos moradores para a rua (espaço público) ao mesmo tempo em que se mantinham ocultos dos olhares de terceiros. Devido ao caráter patriarcal da sociedade da época, “[...] a responsabilidade pelos problemas da família, quando esta estava constituída, era atribuída ao homem. Um problema financeiro a ser solucionado ou uma questão de honra da família devia ser resolvido pelo homem, que muitas vezes acabava sendo preso.” (SOUZA, 2007, p. 79). Tal fato mostra a ligação entre intimidade, criminalidade, justiça e honra existentes na América Portuguesa dos séculos XVIII e XIX, a partir do momento em que afirma caber ao homem, que muitas vezes apelava para atitudes criminosas, zelar pela honra e moral de sua família, mantidas a salvo enquanto o público e o privado se encontrassem bem separados, não devendo, portanto, a intimidade do núcleo familiar vir a ser conhecida por terceiros. Edna Mara F. da Silva (2010) e Marco Antônio Silveira (1997) evidenciam, por meio de estudos de casos, a existência de vários crimes em que a privacidade do núcleo familiar fora quebrada por crimes como o adultério, que por sua vez, levaram os réus a recorrerem à justiça devido à ofensa da honra e injúrias pelas quais sofreram. Isso quando tais crimes não resultavam em outros delitos motivados por vingança. É o que mostra o caso abaixo, exposto por Silva em “O crime entre a prática e a norma: os usos da justiça em Minas Gerais colonial” (2010). [...] Cipriano da Costa Pinheiro após acusar dois dos supostos amantes de sua esposa Marianna Felícia da Silva de adultério, retorna a justiça para acusá-la por injúria. Tratava-se do mesmo crime, os envolvidos eram os mesmos, mas sobre os amantes recaiu a acusação de adultério, e quanto à esposa, ela foi acusada pela injúria de trair o marido mais de uma vez. Essa injúria atroz cometida por Marianna Felícia teria sido motivo para o marido tentar a separação dos bens do casal. (SILVA, 2010, p. s/n) [1] Enfim, a honra, como se percebe, era algo extremamente importante para o homem e, por essa razão, deveria ser 1 Segundo Edna Mara F. da Silva, o caso envolve dois processos: Arquivo Histórico da Casa setecentista de Mariana. 2º Oficio – Crime: códice 215, auto 5355; códice 192, auto 4813. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 26-30, Janeiro-Julho, 2014. 30 Alves e Hot (2014) preservada e vingada, se preciso fosse, para que ele pudesse viver em paz e com dignidade, mesmo que isso lhe custasse a liberdade. É como dissera, em sua esplendorosa obra “O Príncipe”, o célebre Nicolau Maquiavel ao referir-se sobre a importância da honra: “não sendo privada de seus bens e de sua honra, a maioria dos homens vive feliz”. (MAQUIAVEL, 2007, p.157) 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALGRANTI, Leila Mezan. “Famílias e vida doméstica”. In: SOUZA, Laura de Mello e (org.). História da Vida Privada no Brasil. Cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Cia das Letras, 1997, p.83-154. DUBY, Georges. Ano 1000 ano 2000: na pista de nossos medos. São Paulo: Editora UNESP, 1999. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Comentários de Napoleão Bonaparte e Rainha Cristina da Suécia. São Paulo: Jardim dos Livros, 2007. NOVAIS, Fernando. “Condições da Privacidade na Colônia”. In: SOUZA, Laura de Mello e (org.). História da Vida Privada no Brasil. Cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Cia das Letras, 1997, p.13-39. SILVA, Edna Mara Ferreira da. “O crime entre a prática e a norma: os usos da justiça em Minas Gerais colonial”. Anais do Seminário Internacional Justiça, Administração e Luta Social. UFOP, 2010. SILVEIRA, Marco Antônio. “Justiça e Criminalidade”. In.: O Universo do Indistinto. Estado e Sociedade nas Minas setecentistas (1735-1808). São Paulo: Hucitec, 1997, p. 143-168. SOUZA, Alan N. de. Crime e Castigo: a criminalidade em Mariana na primeira metade do século XIX. UFJF, 2007. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 26-30, Janeiro-Julho, 2014. 31 OLIVEITRA et al (2014) A HISTÓRIA ORAL E A ENTREVISTA Adriana Patrícia de Oliveira¹, Amanda Dutra Hot², Germano Moreira Campos³, Leonard Maulaz dos Santos Moreira4 1 Aluna do 4º período do curso de História da FACIG. ² Graduada e Mestre em História pela UFOP. Professora da FACIG. ³ Graduado e Mestre em História pela UFOP. Professor e Coordenador do curso de História da FACIG. 4 Aluno do 4º período do curso de História da FACIG. RESUMO A entrevista é a principal ferramenta de trabalho da História Oral. É por meio dela que são constituídos os documentos orais, sendo eles essenciais para a produção de pesquisas voltadas para a chamada “história vista de baixo”. O campo da História Oral é um dos mais recentes, dentro da historiografia contemporânea, o que faz com que desperte algumas dúvidas e incredulidades da parte dos historiadores mais tradicionais. Há ainda outros problemas que são colocados, como a invenção do depoimento, visto que esse, por mais conciso e imparcial que pareça, é fruto de uma visão individual a respeito de determinado fato. O presente artigo busca analisar a temática da produção de entrevistas para a História Oral, destacando as negociações, as dificuldades e as vantagens das fontes orais para a ciência histórica atual. Palavras- chave: Depoimento; Entrevista; História Oral. ABSTRACT The interview is the main working tool of Oral History. It is through oral documents are made, they are essential for the production of research focused on the so-called "history from below". The field of oral history is one of the latest in contemporary historiography, which causes him to awaken doubts and unbelief on the part of most traditional historians. There are other problems that are placed like the invention of the deposition, since this, for more concise and impartial seems, is the result of an individual view about a certain fact. This paper analyzes the issue of production of oral history interviews highlighting the negotiations, the difficulties and the advantages of oral sources to present historical science. Keywords: Testimony; Interview; Oral History. 1. SOBRE ENTREVISTA A PRODUÇÃO DA Para o desenvolvimento de um bom trabalho em História Oral (H.O) e o aproveitamento dos documentos da melhor forma possível, é preciso que haja na entrevista - método de produção documental da História Oral - uma série de cuidados da parte do pesquisador, a fim de que ela seja bem elaborada e contribua de fato para a reconstrução da história. Dessa forma, o francês Chantal de Tourtier-Bonazzi (2001) afirma que três fatores são essenciais para a produção de um documento oral digno de respeito, sendo estes “a seleção da testemunha, o lugar da entrevista e o roteiro da entrevista” (p. 232). É necessário observar alguns detalhes muito importantes no momento Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 31-35, Janeiro-Julho, 2014. 32 OLIVEITRA et al (2014) de selecionar a testemunha, preocupando-se em saber formular e apresentar as perguntas para a mesma levando em consideração sempre seu bem estar, além de sua saúde física e psíquica. O entrevistador deve ainda procurar estabelecer vínculos de confiança com seus entrevistados, da mesma forma que precisa buscar ser neutro diante dos depoimentos, mantendo-se distante dos mesmos. Além disso, manter uma boa postura, sendo paciente e atencioso ao ouvir o entrevistado garantirá um melhor aproveitamento da fonte. Mas, para que tudo isso ocorra, é necessário, antes, o entrevistador despertar em sua testemunha confiança e segurança. É importante ressaltar que a escolha das testemunhas de acordo com o que se pretende estudar é primordial, é preciso saber a quem entrevistar, ou seja, o tipo de pessoa e a qual localidade ela pertence a fim de obter-se a informação mais precisa sobre o fato determinado. Isso implica, também, o contato entre entrevistado e entrevistador antes da realização da entrevista visando à preparação de ambos para que esta se concretize de forma satisfatória. Observadas essas precauções, deve-se lembrar de que a realização de entrevista com um grande número de pessoas a respeito de um mesmo assunto pesquisado é interessante e necessária, a partir do momento em que o historiador pode avaliar os fatores comuns e diversos aos entrevistados, e quais as influências agiram sobre tais discrepâncias. Alguns fatores externos influenciam no depoimento, entre eles o ambiente e as pessoas presentes no mesmo. Dessa forma, é importante pensar no lugar onde será realizada a entrevista, buscando sempre aliar a segurança ao bem estar do entrevistado a fim de que este se sinta “à vontade e confortável para dar seu depoimento” (BURKE, 1992, p. 120). Para a realização de qualquer entrevista que se preze no campo da História Oral, deve-se realizar uma série de consultas a fontes escritas e documentos os quais servirão de base para a elaboração das perguntas que farão parte da entrevista. Porém, as entrevistas podem ser dirigidas, semidirigidas ou não-dirigidas, segundo Tourtier-Bonazzi (2001). A entrevista dirigida segue um roteiro já formulado antes de sua realização à risca, não permitindo muita liberdade ao entrevistado para desenvolver suas ideias. Já na semidirigida, embora se tenha um roteiro que sirva para nortear a entrevista, ela já abre espaço para que o entrevistado faça colocações próprias. Por sua vez, as entrevistas não-dirigidas não seguem nenhum roteiro; porém, nesta ocorre o risco do distanciamento do assunto tratado, o que pode se tornar um problema para o pesquisador que não dispõe de muito tempo ou que não possua uma boa capacidade seletiva (ALBERTI, 2004). A respeito de todos esses métodos, pode-se afirmar que a modificação do roteiro da entrevista, durante a realização da mesma, pode acontecer conforme a conveniência. As entrevistas que são realizadas com um número pequeno de pessoas devem ser analisadas qualitativamente; enquanto a existência de muitos documentos orais, constituindo um corpus, pode ser avaliado quantitativamente. Outro fator importante na realização de um trabalho de História Oral no que diz respeito às entrevistas é a repetição das mesmas, após um determinado espaço de tempo, afinal, o que pode passar em branco numa primeira entrevista pode ganhar ênfase em uma segunda, o que contribui para o esclarecimento de alguns pontos antes obscuros na fala e na memória do entrevistado. Quando a entrevista segue um bom rumo, as perguntas acabam se tornando desnecessárias, pois o entrevistado as vai respondendo ao contar uma série de fatos e experiências Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 31-35, Janeiro-Julho, 2014. 33 OLIVEITRA et al (2014) vivenciadas pelo mesmo a respeito do período de interesse daquele que o está entrevistando. Por outro lado, é importante ressaltar algumas lembranças muito dolorosas para aquele que as guarda e essas, muitas vezes, são um empecilho para o desenvolvimento de uma boa entrevista. Nesse ponto, cabe ao entrevistador ajudar a testemunha a se livrar do peso dessas recordações a fim de que a entrevista prossiga com o entusiasmo e a anuência do entrevistado. É importante, ainda, o conhecimento da origem da pessoa entrevistada, pois o historiador, diferentemente do arquivista, se interessa por tal enquanto que o outro se limita a fazer perguntas menos específicas, considerando que o documento oral produzido, naquele momento, será utilizado por muitas outras pessoas para o desenvolvimento de inúmeros trabalhos acadêmicos com objetivos muito distintos. Além disso, é importante limitar o tempo da entrevista, duas horas é o suficiente, segundo Tourtier Bonazzi (2001), para que um depoimento bem elaborado seja recolhido. É bom também que se repita a entrevista, decorrido certo espaço de tempo, a fim de que o entrevistado tenha outra oportunidade de se manifestar a respeito de alguns fatos que podem não ter sido detalhados na primeira entrevista. Podendo ainda, conforme a pertinência, ser realizada outra entrevista, caso seja constatado que a primeira pareça ter sido incapaz de comportar todos os fatos relevantes considerados pelo entrevistado e pelo entrevistador. 2. A TRANCRIÇÃO DA ENTEVISTA Os historiadores afirmam que a transcrição do documento oral é essencial para a produção historiográfica, visto que, a utilização da gravação por si só não é levada em consideração, afinal, para haver o confronto entre o documento oral e outras fontes escritas, o mesmo deve ser transcrito. Por sua vez, os arquivistas argumentam que nada substitui a riqueza do depoimento oral, além disso, a transcrição é algo que exige muito mais tempo do que a realização da entrevista, e os arquivistas não o são em tão grande quantidade para se empenharem em tal tarefa. Apesar de tudo isso, TourtierBonazzi (2001) afirma que a transcrição deve ser realizada, preferencialmente, pelo próprio entrevistador, observando-se e pontuando corretamente os períodos, de acordo com as reações da testemunha. Para tal, o transcritor pode contar com a ajuda de filólogos e outros profissionais que o auxiliarão na construção de um documento mais próximo daquilo que foi expresso em palavras pelo entrevistado. Ainda assim, o depoimento oral gravado deve ser colocado em primeiro lugar, não devendo este ser descartado, mesmo após sua transcrição. Além disso, os transcritores são totalmente responsáveis pelo que registram no papel, sendo, dessa forma, necessário assinar suas transcrições assumindo a responsabilidade pelas mesmas. Algumas pessoas que trabalham com a utilização de entrevistas, na produção de estudos de cunho histórico, podem colocar a entrevista no documento de diversas maneiras. Uma delas é a adaptação da entrevista pelo mesmo, segundo suas próprias palavras. Outra forma de se realizar esse trabalho é transcrever a entrevista fielmente. Porém, o mais recomendado no trabalho do historiador é que este procure conciliar o discurso da entrevista da maneira mais próxima do relatado pela testemunha, ao mesmo tempo em que este relato deve ser colocado, no documento, de preferência, seguindo-se uma ordem cronológica, no qual apareça a entrevista e a problematização desta, realizada pelo historiador a respeito do documento oral. Sendo assim, é importante que a entrevista esteja presente no trabalho de forma acessível ao leitor e fiel ao princípio da entrevista. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 31-35, Janeiro-Julho, 2014. 34 OLIVEITRA et al (2014) 2.1 O ARQUIVISTA, O ENTREVISTADOR E O HISTORIADOR As tarefas do arquivista consistem em formar, suscitar, conservar e gravar os documentos orais. Eis a definição de cada uma dessas etapas (ALBERTI, 2004, p. 58): Formar: Consiste em trabalhar para a estruturação de novos profissionais voltados à produção e ao armazenamento dos documentos orais que devem ser realizados apenas por pessoas comprometidas com a História Oral, conscientes da importância e da seriedade de seu trabalho para a produção de estudos posteriores. Coordenar: Está ligado à necessidade de organizar os bancos de dados de arquivos orais contribuindo e facilitando, dessa forma, o trabalho dos historiadores que recorrem constantemente a esses arquivos. Suscitar: Refere-se ao compromisso de incentivar e fazer aumentar a produção de documentos orais disponibilizados para os bancos de dados, responsáveis pelo controle e o cuidado com as fontes orais documentadas e arquivadas. Observando-se esses três aspectos, é possível entender que o arquivista possui papel distinto do pesquisador e do historiador na produção historiográfica. Porém, ambos devem trabalhar em conjunto a fim de tornarem os documentos orais e os estudos realizados, a partir destes, acessíveis à população e, principalmente, aos profissionais comprometidos com a História Oral. 2.2 HISTÓRIA ORAL: UMA PRÁTICA RECENTE Apesar de sua pouca idade, a História Oral tem conquistado cada vez mais seu espaço na academia e na sociedade, sendo bastante aceita e aprovada também pelos profissionais da história que dão crédito à mesma, incentivando sua utilização na academia. Dessa forma, Ronald J. Grele (2001) afirma que “há hoje um vasto acervo de fontes orais e que a produção das mesmas tem aumentado a cada dia, o que confirma a ideia de crescimento da História Oral durante os últimos trinta anos” (p. 235). Com relação à questão do controle dos registros já produzidos, pode-se notar que tão complicado quanto produzir a entrevista é armazenar, organizar e disponibilizar seu conteúdo para a realização de trabalhos e pesquisas acadêmicas futuras, utilizando-se da História Oral. Além disso, algo interessante é o descaso sofrido pelos documentos orais, a partir do momento em que esses não são questionados enquanto fonte documental, a respeito de sua produção, de quem realizou a entrevista e de que forma o fez. Já por volta de 1960, a chamada “história vista de baixo” surge e ganha impulso através da Nova História, voltada para a oralidade, a fim de fazer surgir os depoimentos daquelas pessoas que eram antes marginalizadas, seja por sua condição social, sexual e outros fatores. Essa ampliação do campo da história passa a permitir uma exploração de fatos e perspectivas não consideradas até então pela historiografia. Por outro lado, as entrevistas representam um risco se mal concebidas, podendo conter contaminações ocasionadas pelo envolvimento do entrevistador com o entrevistado, algo condenável quando se pensa na produção de um documento de caráter acadêmico. Além do mais, é preciso ressaltar que o passado influencia o presente, da mesma forma em que o presente influencia o passado, pois a maneira como se relata um fato, após seu desenrolar ao longo do tempo, é diferente da visão momentânea a respeito do mesmo. Acima de tudo, não se pode esquecer da jovialidade da História Oral, que, embora Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 31-35, Janeiro-Julho, 2014. 35 OLIVEITRA et al (2014) ainda esteja passando por algumas crises próprias da idade, tem se expandido, precisando, então, ser honrada e levada a sério por aqueles que se propõem a trabalhar com tal metodologia. 3. CONCLUSÃO A produção da História Oral envolve diversos aspectos desde a seleção da testemunha, o ambiente de realização da entrevista e a escolha do roteiro até a conservação dos documentos orais a fim de que estes possam ser consultados posteriormente por outros profissionais com o intuito de desenvolver trabalhos utilizando, como metodologia de produção, a História Oral. Contudo, alguns outros problemas são colocados em questão pelos críticos da História Oral, como, por exemplo, as influências de produção a que podem estar sujeitos os depoimentos orais, podendo estes estar contaminados com as paixões e as visões particulares dos fatos, além de poderem ser tendenciados por algum fator, seja o mesmo externo (do ambiente) ou interno e pessoal (ligado às experiências individuais do entrevistado). sempre a objetividade e a imparcialidade, requisitos essenciais para o exercício da profissão de historiador. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. BURKE, Peter (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora da UNESP, 1992. GRELE, Ronald J.; TOURTIER-BONAZZI, Chantal de; VOLDMAN, Danièle. Entrevistas e acervo. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta Moraes (coord.). Usos & abusos da história oral. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001, (p. 231-277). IZQUIERDO, Iván. A arte de esquecer: Cérebro, memória e esquecimento. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2004. MONTENEGRO, Antônio Torres. História oral e memória: a cultura popular revisitada. 5a ed. São Paulo: Contexto, 2003. Analisando dessa forma, os prós e os contras, pode-se notar que, apesar de sua pouca idade, a História Oral tem mostrado para o que veio e, embora alguns ainda questionem sua seriedade com relação ao envolvimento do entrevistador e do entrevistado com o depoimento, podendo haver assim, a contaminação e, até mesmo, a invenção deste, a História Oral não é menos digna de crédito do que a história dos documentos escritos tradicionais, afinal, também existem documentos oficiais e escritos, há alguns bons anos, não estão isentos das visões apaixonadas de seus construtores. O que se deve fazer, quando se trata de historiografia, é questionar sempre a fonte não importando qual seja sua procedência, a fim de se obter informações a respeito de fatos com o mínimo de envolvimento possível, visando Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 31-35, Janeiro-Julho, 2014. 36 Lamas (2014) O PAPEL DO JUIZ NA APLICAÇÃO DA LEI INJUSTA: UMA RELEITURA NECESSÁRIA DOS JUÍZES JÚPITER, HÉRCULES E HERMES DE FRANÇOIS OST Lívia Paula de Almeida Lamas¹ ¹ Doutoranda em Direito Penal, Mestre em direito Constitucional e Teoria do Estado. Especialista em Direito Público. Advogada. Licenciada em Letras. Coordenadora e Professora do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu (FACIG). Resumo: Este trabalho tem por objetivo realizar uma releitura dos juízes Júpiter, Hércules e Hermes, de François Ost, de modo a descobrir qual deles assume o melhor papel quando a lei se apresenta injusta diante de um caso concreto. Palavras chave: Modelos de juiz, Fraçois Ost, lei injusta. Abstract: This paper aims to carry out a retelling of judges Jupiter, Hercules and Hermes, from François Ost, so find out which one takes the best role when the law appears unfair for a concrete case. Key words: Judge models, Fraçois Ost, unjust law. 1. INTRODUÇÃO Em regra, para que a sociedade possa existir, ela precisa ter normas de orientação. O direito possui, dessa forma, o papel de garantir a ordem e a paz pública, bem como proporcionar segurança àqueles que se orientam por suas normas, funcionando como o instrumento que viabiliza a organização da coletividade. O Direito consiste, portanto, em um sistema de normas que regulam o comportamento humano e conferem organização à sociedade (KELSEN, 2009, p.5), de forma a garantir segurança e estabilidade às relações jurídicas. O Direito tem um papel fundamental na manutenção da estrutura social, uma vez que a segurança jurídica que ele proporciona, permite que as pessoas saibam antecipadamente as consequências diretas de seus atos, bem como tenham certeza de que os negócios realizados sob a sua égide perdurem (SILVA, 2005, p.26-27). Segundo Hans Kelsen (2009, p. 387), a segurança jurídica é um fator de estabilidade do ordenamento jurídico e confere segurança aos cidadãos. O papel do direito, contudo, deve harmonizar com o valor da justiça para de fato cumprir o seu papel na sociedade. Segundo Hart, “a justiça constitui um segmento da moral que se ocupa primariamente, não com a conduta individual, mas com os modos por que são tratadas classes de indivíduos (...). Tratase da mais jurídica das virtudes e da mais pública delas.” (1994, p.182). A justiça, prossegue Hart, “é tradicionalmente concebida como mantendo ou restaurando um equilíbrio ou uma proporção e seu preceito condutor é frequentemente formulado como ‘tratar da mesma maneira os casos semelhantes’; ainda que devamos acrescentar a este último ‘e tratar diferentemente os casos diferentes’” (p.173). Ocorre, todavia, que nem sempre as normas jurídicas existentes são justas ou adequadas aos interesses sociais, fato Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 36-41, Janeiro-Julho, 2014. 37 Lamas (2014) que acarreta um dilema para o aplicador da lei: O que ocasiona maior dano, aplicar uma lei injusta, a pretexto de se manter a segurança jurídica ou julgar contra legem, a fim de adequar sua decisão de forma a torná-la justa? Nesse sentido, os modelos de juiz Júpiter, Hércules, Hermes - desenvolvidos no texto de François Ost (2007, pp. 101130), geram uma discussão que atravessa os anos na procura da melhor solução para garantir os direitos fundamentais por meio de uma justiça constitucional. Segundo Ost, o juiz Júpiter seria a “a boca da lei”, encontrando-se vinculado à hierarquia das normas, ao modo do direito proposto por Hans Kelsen, não se preocupando com a realidade social de cada indivíduo. Já o modelo Hércules, que Dworkin denominou seu juiz ideal, está sustentado na figura do juiz “que faz a lei”, sobrepondo-se à generalidade da lei para dar aos fatos a possibilidade de solução dos problemas sociais. O juiz Hermes, por sua vez, assume o papel de um grande mediador e comunicador, capaz de articular o Direito com os diversos discursos jurídicos e políticos. Assim, questiona-se: Qual modelo de juiz apresentado por Ost proporciona a melhor solução quando um caso concreto se depara com uma solução legal nitidamente injusta? Partindo dessa pergunta, este artigo buscará analisar a atividade jurisdicional em correlação com os modelos propostos por Ost, bem como a legitimidade de decisões judiciais frente à gama de possibilidades que lhe são abertas. 2. Júpiter, Hércules, modelos de juízes Hermes: três 2.1 O juiz Júpiter François Ost busca na mitologia romana a inspiração para o seu juiz Júpiter. Júpiter é o deus supremo do Olimpo, cabendo-lhe a função de conduzir a vida dos deuses e dos homens. Neste sentido, tendo em vista a visão positivista do direito, que apregoa a supremacia da lei escrita, o juiz Júpiter de Ost tem o papel de manter o foco na lei e no seu fiel cumprimento, pouco importando a realidade social de cada indivíduo. Tomemos el modelo de la pirámide o del código. Lo lamaremos el Derecho jupiterino. Siempre proferido desde arriba, de algún Sinaí, este Derecho adopta la forma de ley. Se expresa en el imperativo y da preferencia a la naturaleza de lo prohibido. Intenta inscribirse en un depósito sagrado, tablas de la ley o códigos y constituciones modernas. De ese foco supremo de juridicidad emana el resto del Derecho en forma de decisiones particulares. (Ost, 2007, p. 102) Sob essa perspectiva, mesmo diante de situações obscuras proporcionadas pela falta ou omissão legislativa, o juiz Júpiter não deve reconhecer outra possibilidade de realização do direito que não seja aquela determinada pelo Estado através de leis. “O direito é aquilo que o legislador, democraticamente legitimado ou não, estabelece como direito, segundo um processo institucionalizado juridicamente” (Habermas, 2003, p. 193). De acordo com o pensamento de François Ost (2007), o modelo de juiz jupiteriano se pauta em quatro corolários: o primeiro é o do monismo jurídico, que aceita a lei, e sua sistematização em códigos, como a única fonte do direito. O segundo é o do monismo político, segundo o qual as leis são fruto da vontade estatal. Ou seja, somente o Estado é soberano e se encontra na condição de criar e aplicar o direito. O terceiro, por sua vez, refere-se a uma racionalidade dedutiva que tem como foco a supremacia da Constituição, de onde deverão emanar as demais fontes do Direito. Impõe-se a ideia de reunir todo o material jurídico em um Códex unitário, de onde as demais leis são deduzidas, ou Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 36-41, Janeiro-Julho, 2014. 38 Lamas (2014) seja, as soluções para cada caso particular deverá decorrer das regras gerais, que por sua vez, são deduzidas da Constituição. Por fim, o último corolário, afirma que a codificação pressupõe uma concepção do tempo orientado em direção a um futuro controlado. Verifica-se, portanto, que esse modelo não prioriza a garantia dos Direitos Fundamentais do Indivíduo, mas sim a soberania estatal: Aquí es la legalidad la que es condición necesaria y suficiente para la validez de la regla. Es suficiente, para una norma, haber sido dictada por la autoridad competente y según los procedimientos; las cuestiones anteriores de legitimidad y ulteriores de efectividad no son pertinentes a este respecto (Ost, 2007, p. 112) O pensamento de Kelsen (2009), segundo o qual o Direito é explicado como um sistema fechado, em que todas as normas decorrem de uma norma fundamental, e a norma inferior deve se adequar aos comandos da norma hierarquicamente superior, é levado ao extremo nessa versão, em que se assevera que uma norma, a ser jurídica, não precisa ser justa, basta ter sido emanada do Estado. O juiz Júpiter segue, portanto, o direito positivado e formalmente válido. Logo, quando ele se vê confrontado entre o direito e a justiça, a lei irá prevalecer, pois uma norma mesmo que injusta, será obrigatória. 2.2 O juiz Hércules François Ost encontra na mitologia grega a inspiração para o seu juiz Hércules: segundo a lenda, Hércules filho de Zeus com uma mortal, em um ataque de loucura, mata a sua primeira esposa e os filhos. Como forma de penitência pelo crime cometido, o oráculo de Delfos impõe a ele 12 tarefas, que ficaram conhecidas como “Os doze trabalhos de Hércules”. Nesse sentido, o juiz Hércules de Ost se identifica com o Hércules mitológico na função extraordinária que ele assume. Para o autor, esse juiz tem o papel de promover a justiça diante das condições de desigualdade social oferecido pelo sistema legalista, ou seja, quando a solução apresentada pelo sistema é injusta, deformadora dos direitos fundamentais do indivíduo, ao juiz Hércules cumpre a tarefa de verdadeiro “engenheiro social”, que sobrepõe os fatos à generalidade da lei. Para Ost: Hércules está presente en todos los frentes, decide e incluso aplica normas hacía su predecesor, que se amparaba en la sombra del código; pero también lleva a cabo otros trabajos. En le precontencioso, aconseja, orienta, previene; en el postcontencioso sigue la evolución del dossier, adapta sus decisiones al grado de circunstancias y necesidades, controla la aplicación de las penas. El juez jupiterino era un hombre de ley; respecto a él, Hércules se desbobla en ingeniero social. (2007, p. 110) Ao contrário do juiz Júpiter, que entende o direito como uma pirâmide que estabelece do topo a hierarquia do sistema normativo e vincula o comportamento daquele que aplica a lei, o juiz Hércules reflete o direito como sendo uma pirâmide invertida, segundo a qual o caso concreto é peça fundamental para a atuação judicial. Dessa forma, a validade e a legitimidade do direito não se encontram no cume da pirâmide, mas nos fatos. Com base nesse modelo, a lei quando insuficiente para garantir uma justiça social deve se adequar ao caso concreto, assumindo o juiz um papel fundamental no processo, pois é ele o responsável por adaptar o texto da lei às necessidades do momento. Trata-se de “uma tentativa de evitar as falhas das propostas de solução realistas, positivistas Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 36-41, Janeiro-Julho, 2014. 39 Lamas (2014) e hermenêuticas, bem como de esclarecer, através da adoção de direitos concebidos deontologicamente, como a prática de decisão judicial pode satisfazer simultaneamente às exigências da segurança do direito e da aceitabilidade racional” ( HABERMAS, 2003, p. 252). no espaço. Fato que faz com o conceito de Direito seja relativo. Dessa forma, cumpre ao aplicador de cada local aplicar o Direito de acordo com os ideais de justiça que ele vivencia em sua cultura e com as funções atribuídas a ele. O juiz Hércules, simboliza as qualidades excepcionais, quase divinas, que o juiz deve conter para aplicar o direito vigente. O juiz realiza uma reconstrução racional e coerente do direito vigente, baseada não apenas na lei positivada, mas em uma leitura moral dos direitos individuais (DWORKIN, 1999, p.6). 2.3 O juiz Hermes O direito como integridade deplora o mecanismo do antigo ponto de vista de que ‘lei é lei’, bem como o cinismo do novo ‘realismo’. Considera esses dois pontos de vistas como enraizados na mesma falsa dicotomia entre encontrar e inventar a lei. Quando um juiz declara que um determinado princípio está imbuído no direito, sua opinião não reflete uma afirmação ingênua sobre os motivos dos estadistas do passado, uma afirmação que um bom cínico poderia refutar facilmente, mas sim uma proposta interpretativa: o princípio se ajusta a alguma parte complexa da prática jurídica e a justifica; oferece uma maneira atraente de ver, na estrutura dessa prática, a coerência de princípio que a integridade requer (DWORKIN, 1999, p.274). O juiz Hércules, substitui o modelo clássico, impregnado de moralismo e que privilegia o dever de obediência irrestrita à lei, “por el punto de vista del bad man, que se preocupa exclusivamente de las eventuales consecuencias desagradables de sus actos. La cuestión no es ya: “¿Cuál es mi deber? Esse modelo se baseia no fato de que a ideia justiça é variável no tempo e Na mitologia, Hermes era o mensageiro e intérprete da vontade dos deuses do Olimpo. O juiz Hermes de Ost se apodera desses valores, incorporandoos a figura do juiz que conecta uma multiplicidade de fatores jurídicos e políticos. Ou seja, “el Derecho postmoderno, o Derecho de Hermes, es uma estructura en red, que se traduce en infinitas informaciones, disponibles instantáneamente y, al mismo tiempo, dificilmente matizables, tal como puede serlo un banco de dados (Ost, 2007, p. 104). Nesse modelo, o juiz atua como um grande mediador e comunicador, apto a conectar diversos discursos e construir a melhor solução quando diante dos casos concretos. Trata-se de um juiz prudente que leva em conta o fato de que o direito não tem como oferecer soluções para todos os fatos da vida, até mesmo porque a sociedade está em constante mutação. Si la montaña o la pirâmide convenían a la majestad de Júpiter, y el embudo al pragmatismo de Hércules, em cambio, la traytoria que dibuja Hermes adopta la forma de una red. No tanto uno pólo ni dos, ni una multitud de puntos em interrelación. Un campo jurídico que se analiza como una combinacíon infinita de poderes, tan pronto separados como confundidos, a menudo intercambiables; uma multiplicación de los atores, una diversificación de los roles, una inversión de las réplicas (Ost, 2007, p. 104). Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 36-41, Janeiro-Julho, 2014. 40 Lamas (2014) Ost argumenta que o direito de Hermes “se articula entre las cosas: entre la regla (que no es nunca enteramente normativa) y el hecho (que no es nunca enteramente fáctico), [...] entre la fuerza e la justicia” (Ost, 2007, p. 122). Justamente nesta característica reside a importância do juiz como interprete, pois ao articular a lei positivada com o caso concreto, ele contribui para a aplicação de uma decisão mais justa. O juiz Hermes respeita o caráter hermenêutico ou reflexivo do raciocínio jurídico. Neste contexto, o papel do juiz diante de uma lei injusta é realizar uma leitura não apenas das leis, mas também dos preceitos morais, de forma a dar a solução mais coerente para cada caso concreto. Ao se deparar com um caso em que a norma positivada é injusta, o Juiz Hermes, depois de identificar a norma, não deve ignorar os critérios de justiça, devendo avaliá-los para efeito de determinar quais critérios morais utilizará, ou não, em seu trabalho. O Direito não pode estar dissociado da distribuição da justiça e da promoção do bem estar da sociedade, sob o risco de se transformar em instrumento de arbítrio e degradação do ser humano. Assim, “a decisão é objetiva (justa em sentido objetivo) quando cabe dentro de princípios de interpretação ou valorações que são correntes na prática. É subjetiva (injusta em sentido objetivo) quando se afasta disso” (ROSS, 2003, p. 331). Ou seja, partindo-se desse modelo, será adequada a atuação do juiz “que detiver mecanismos de invalidação e de reparações idôneos, de modo geral a assegurar efetividade aos direitos” (FERRAJOLI, 2002, p. 684). 3. CONCLUSÃO Em regra, as normas jurídicas são feitas em prol do bem e da segurança jurídica da sociedade. Todavia, há casos em que essa conexão não ocorre e é exigida do aplicador do direito uma atitude, questionou-se, assim, como deve se posicionar o juiz ao aplicar a lei. Neste sentido, François Ost apresenta dois modelos de juizes (Júpiter e Hércules) que nitidamente se encontram em crise diante de um direito alinhado às demandas da pós-modernidade. O juiz Júpiter é um homem da lei e, justamente neste fato reside a sua maior deficiência, pois obedecer, incondicionalmente, ao direito, independentemente de seu grau de imoralidade, não é a postura mais adequada, uma vez que “para aplicação do direito, a norma deve ser aplicável, (...) mas para que a norma seja ‘aplicada’, requer-se que ela seja ‘avaliada’” (SGARBI, 2007, p. 738), o que significa que também é tarefa do operador jurídico sopesar a norma. O juiz Hércules também se apresenta insuficiente diante da situação descrita, pois apesar de não se ater estritamente às normas, como o fazia seu predecessor, leva a cabo outros trabalhos, se desdobrando em um engenheiro social, ou seja, adapta as suas decisões ao grau das circunstâncias e necessidades que ele supõe serem corretos, controlando a aplicação do direito. Tal posicionamento é um risco, afinal, a justiça não é um valor absoluto e imutável e o juiz, por mais escrupuloso e atento que seja, ainda assim, é um ser humano, logo, estará condicionado pelos seus sentimentos, suas inclinações, suas emoções e seus valores ético-políticos. Assim, tem-se que a figura mítica do juiz Hércules, apto a fazer justiça é pura ingenuidade, diante “do fato de que a verdade ‘certa’, ‘objetiva’ ou ‘absoluta’ representa sempre a expressão de um ideal ‘inalcançável ’” (FERRAJOLI,2002, p.42). O terceiro modelo de juiz, Hermes, é, portanto, dentre os modelos de juiz apresentados por Ost, o que mais se ajusta às necessidades da pósmodernidade. Posto que: O juiz, destarte, já não pode ser concebido (somente) como a boca Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 36-41, Janeiro-Julho, 2014. 41 Lamas (2014) da lei (la bouche de la loi), nem tampouco (exclusivamente) como a boca do Direito, sim, como a boca dos direitos e garantias fundamentais (do indivíduo) positivados na lei, na Constituição e no Direito humanitário internacional. (GOMES, 2007) O modelo de juiz Hermes não é um mero aplicador da lei, nem tampouco atua como um justiceiro. A sua função é compreender o significado da lei e eleger dentre as possíveis interpretações a que for “mais compatível com os princípios, regras e valores constitucionais e humanitários” (GOMES, 2007). Assim, conclui-se que o modelo de juiz Hermes é o que assume a melhor postura diante de uma lei injusta, pois para que haja um equilíbrio entre a aplicação da lei e os fins colimados por um Estado garantidor dos Direitos do indivíduo é preciso que haja uma adequação entre a lei e a sua correta interpretação. O modelo Hermes tem como característica, “precisamente, o de ensejar, por via de interpretação extensiva ou restritiva, conforme o caso, uma alternativa legítima para o conteúdo de uma norma que se apresenta como suspeita” (BARROSO, 1999, p. 182). A tarefa de aplicar uma lei que se apresenta como injusta deve ser analisada como um procedimento dos mais complexos, no exercício do poder conferido ao juiz. O modelo Hermes ao se conectar a uma multiplicidade de fatores jurídicos e políticos é, portanto, dentre os apresentados por Ost, o que melhor consegue conferir legitimidade a atividade judicial e garantir ao indivíduo a proteção a seus direitos fundamentais. DWORKIN, Ronald. O Império do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. GOMES, Luiz Flávio. Limites do "ius puniendi" e bases principiológicas do garantismo penal. 10 abril 2007. Disponível em: <www.lfg.blog.br> Acesso em 25/03/2014. HABERMAS, Jungen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. HART, Herbert. O Conceito do Direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. OST, François, Júpiter, Hércules, Hermes: tres modelos de juez. Academia. Revista sobre enseñanza del Derecho año 4, número 8, 2007, ISSN 1667-4154, págs. 101-130 ROSS, Alf. Direito e Justiça. São Paulo: EDIPRO, 2003. SGARBI, Adrian. Teoria do Direito – Primeiras Lições. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. SILVA, José Afonso da. Constituição e segurança jurídica, in ROCHA, Carmen Lúcia Antunes (coord.). Constituição e segurança jurídica. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2005. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROSO, Luis Roberto, Interpretação e Aplicação da Constituição, 3 ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 1999. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 36-41, Janeiro-Julho, 2014. 42 HANNAS et al (2014) UTILIZANDO KHAN ACADEMY EM UMA ESCOLA BRASILEIRA 1 Anandy Kassis de Faria Alvim Hannas, 2 Fernando Jerri de Oliveira, 3Izadora Cristina Corrêa Silva, 4José Carlos de Souza, 5Lidiane Hott de Fúcio Borges, 6Thales Reis Hannas 1 Professora da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – MG (FACIG). Graduada em Desenho Industrial pela Universidade do Estado de Minas Gerais e Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Especialização em Informática na Educação e em Ecoturismo pela UFLA. Mestrado em Administração com ênfase em Marketing pela PUC-MG em parceria com a Fundação Dom Cabral. 2 Professor de Matemática do Colégio América em Manhuaçu – MG. Professor de Ciências Físicas e Biológicas da Secretaria De Estado Da Educação. Graduado em Ciências Físicas e Biológicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Carangola e em Matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Carangola. Especialização em Matemática pela Universidade Federal de São João Del-Rei. Especialização em Educação Ambiental pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá. 3 Professora e Coordenadora do Curso de Arquitetura da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – MG (FACIG). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa – MG (UFV). Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Viçosa – MG (UFV). 4 Professor e Coordenador do Curso de Administração da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – MG (FACIG). Graduado em Ciências Militares (CFO - Curso de Formação de Oficiais) pela Academia da Polícia Militar de Minas Gerais e em Administração pela Faculdade de Ciências Administrativas de Caratinga. Bacharel em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul – SP. Especialista em Gestão e Tecnologia da Qualidade pela Fundação CEFETMINAS e em Ciências Jurídicas pela Universidade Cruzeiro do Sul – SP. Mestre em Administração pela Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo. 5 Professora e Coordenadora do Curso de Licenciatura em Matemática da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – MG (FACIG). Graduada em Matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Marcelina de Muriaé – MG (FAFISM). Pós Graduada em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras – MG (UFLA). Mestre em Engenharia e Ciências dos Materiais pela Universidade Estadual Norte Fluminense – RJ (UENF). 6 Diretor da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – MG (FACIG). Mestre em Administração pela PUC MG. Pós-graduado em Análise de Sistemas pela UNA / BH. Pósgraduado em Informática na Educação pela UFLA. Pós-graduado em Formação em Educação a Distância pela UNIP. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais. Graduado em Gestão de Tecnologia pela UNIP. Resumo: Este trabalho apresenta os resultados da utilização da plataforma virtual de aprendizagem Khan Academy pelos alunos de uma escola privada do ensino fundamental e médio, em uma tentativa de verificar se a mesma pode ser utilizada tanto para dirimir dúvidas, quanto para obter uma maior motivação dos alunos no estudo de matemática. Palavras-chave: ambiente virtual de aprendizagem, matemática, Khan Academy Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 42-47, Janeiro-Julho, 2014. 43 HANNAS et al (2014) Abstract: this work reports the results obtained in a Brazilian private school by adopting Khan Academy plataform as support for math discipline in order to verify if it can be used to solve doubts and to motivate the students in the mathematics subject Keywords: virtual learning enviroment, mathematics, Khan Academy 1. INTRODUÇÃO Valendo-se da tríade "ler, escrever e contar", a Matemática ocupa o lugar das disciplinas que mais reprova o aluno na escola. A justificativa que a comunidade escolar dá a esta "incapacidade" do aluno com esta área do conhecimento é que "matemática é difícil" e o senso comum confere-lhe o aval. Como matemática é considerada útil, o aluno não pode passar para a série seguinte sem atestar seu conhecimento na disciplina e desta forma se aceita inclusive que o aluno seja reprovado apenas em matemática, nem que seja por décimos para atingir a média instituída pela escola onde estuda. (SILVEIRA, 2002). Com o intuito de “remar contra a corrente” e desconstruir esta crendice popular de que "matemática é difícil", o Colégio América, instituição privada, sediada na cidade de Manhuaçu, no Estado de Minas Gerais, organizou reuniões e discussões com os professores da disciplina de matemática visando a encontrar meios para motivar os alunos no estudo da relevante disciplina. Como hoje a tecnologia é muito presente na vida dos jovens, que possuem não só atração, mas grande destreza com a mesma, sugeriu-se a adoção de aplicativos que pudessem trabalhar com a disciplina como fator motivador para que os estudantes pudessem se envolver mais ativamente nas atividades acadêmicas. Outro aspecto destacado nas discussões foi a escolha de algo que proporcionasse atividades desafiadoras, para, assim, tornar o estudo uma fonte de satisfação que prendesse a atenção dos alunos. Após a análise aplicativos e sites de de vários plataformas educacionais, hospedadas na internet, optou-se pela adoção do ambiente virtual de aprendizagem, fundada pelo indiano Salman Khan, Khan Academy que é hoje referência mundial em cursos abertos online de massa. Khan Academy define-se como uma organização sem fins lucrativos que possui como objetivo alterar para melhor a educação, por meio da disponibilização gratuita de conteúdo educacional de qualidade pela internet. Fundada em 2006, a Khan Academy possui cerca de seis milhões de usuários mensais, de várias partes do mundo. Estão disponíveis mais de 4.500 aulas em vídeos, abrangendo matemática, ciências, economia, humanidades e programação de computadores. A seção de matemática cobre desde aritmética até álgebra linear. Desde que a Khan Academy foi instituída, seus vídeos foram vistos por mais de 365 milhões de pessoas, e cerca de 2 milhões de problemas foram resolvidos por usuários de todo o mundo. No Brasil, são mais de 300 mil exercícios disponíveis em língua portuguesa. A maior parte do ambiente educacional envolve um vídeo explicativo sobre determinado assunto, com posteriores questões avaliativas de múltipla escolha. Há, também, no ambiente Klan, uma parte cujo funcionamento é típico de uma comunidade, na qual o professor pode definir salas de aulas para participação dos alunos em tópicos específicos, com acompanhamento e suporte. Funcionando como uma biblioteca interativa, a plataforma oferece um conjunto de problemas que são gerados automaticamente, baseados no Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 42-47, Janeiro-Julho, 2014. 44 HANNAS et al (2014) nível de proficiência dos estudantes e no desempenho dos mesmos nos exercícios anteriores. São gerados relatórios sobre o desempenho, disponíveis tanto para os alunos quanto para os professores, além de uma modalidade de jogos, cujo objetivo é incentivar a participação dos estudantes. Esta modalidade de jogos foi aperfeiçoada em 2010, com a introdução de medalhas e pontos no ambiente virtual, tornando-o típico de jogos – gamification - palavra que está “na moda” e que significa agregar elementos comuns aos jogos ao ambiente educacional. Esse termo foi introduzido pela primeira vez, no ano de 2002, por Nick Pelling, um programador de computador britânico criador de diversos jogos na década de 80 e se refere ao uso de técnicas de jogos as quais visam a enriquecer conteúdos não relacionados a jogos, ou seja, visa a obter vantagem devido à predisposição humana de se engajar nos jogos. No contexto educacional, possui como propósito engajar os estudantes no conteúdo, motivando-os pelo ambiente de desafios e recompensas dos jogos. Parte-se do princípio de que é naturalmente elevado o desejo de competir e de obter prêmios. Além disso, satisfaz a necessidade pessoal de cumprimento de metas obtidas com a conclusão das tarefas. Como é um tema recente, há pouca literatura a respeito, sendo necessário um maior aprofundamento atestando se há realmente maior motivação por parte dos estudantes e, ainda mais importante, se há benefício acadêmico com a maior retenção do conhecimento, comprovado com o aumento das médias escolares. Este artigo, portanto, justifica-se por buscar analisar os resultados obtidos, comparando as notas médias entre turmas que utilizaram a plataforma da Khan Academy a turmas com aulas ministradas apenas na metodologia expositiva tradicional. 2. DESENVOLVIMENTO: Em 2014, o Colégio América adotou a plataforma Khan Academy como suporte ao ensino da disciplina de matemática para os alunos do ensino fundamental (do sexto ao nono ano) e para os alunos do ensino médio (do primeiro ao terceiro ano). Objetivando incentivar os estudantes a participar efetivamente do projeto, foram criadas escalas de pontuação que convertem os pontos obtidos no ambiente virtual em pontos reais – nota - para a disciplina de matemática. A escala foi elaborada conforme os quadros abaixo: Quadro 1 – Escala de pontuação dos alunos do ensino fundamental II 6º e 7º anos do ensino fundamental PONTUAÇÃO NO AMBIENTE VIRTUAL PONTOS NA DISCIPLINA De 1.000 a 10.000 0,5 De 10.001 a 20.000 1,0 De 20.001 a 30.000 1,5 Acima de 30.001 2,0 8º e 9º anos do ensino fundamental PONTUAÇÃO NO AMBIENTE VIRTUAL PONTOS NA DISCIPLINA De 1.000 a 35.000 0,5 De 35.001 a 70.000 1,0 De 70.001 a 105.000 1,5 Acima de 105.001 2,0 Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 42-47, Janeiro-Julho, 2014. 45 HANNAS et al (2014) Quadro 2 – Escala de pontuação dos alunos do ensino médio Ensino médio PONTUAÇÃO NO AMBIENTE VIRTUAL PONTOS NA DISCIPLINA De 1.000 a 10.000 0,5 De 10.001 a 20.000 1,0 De 20.001 a 30.000 1,5 Acima de 30.001 2,0 Todos os alunos das turmas avaliadas foram incluídos nas salas de aulas virtuais específicas criadas pelo professor da disciplina, cujo conteúdo se refere ao mesmo do material didático ministrado em cada uma das séries. Com diversos indicadores disponíveis, foi possível verificar o tempo gasto por cada aluno nas atividades virtuais, a quantidade de conteúdos cujo teor foi – nos termos do ambiente virtual – dominado pelos alunos, o número de atividades nas quais cada aluno apresentou dificuldade, o número de medalhas conquistadas, o número de pontos obtido, entre outros. Na análise dos resultados obtidos, foram analisados três aspectos. Primeiramente, o tempo médio gasto por cada turma nas atividades. Posteriormente avaliou-se a média dos pontos obtidos por cada uma das turmas. Por fim, realizou-se a comparação com a média escolar obtida no respectivo bimestre do ano de 2013 em relação ao mesmo bimestre do ano de 2014, quando houve a utilização das aulas virtuais do ambiente da Khan Academy. O gráfico 01 mostra o tempo médio e pontos obtidos pelas turmas nas atividades realizadas no ambiente educacional da Khan Academy. Os resultados demonstram maior participação dos alunos mais novos, dos anos iniciais do Ensino Fundamental II, os alunos do 6º ano, por exemplo, obtiveram 18.604 pontos em 162,83 minutos, e os alunos da 3ª série do Ensino Médio alcançaram 8.263 pontos em 35,18 minutos. 50000 8º Ano 45000 40000 Pontos 35000 30000 25000 9º Ano 6º Ano 20000 1ª Série EM 15000 7º ano 2ª Série EM 10000 3ª Série EM 5000 0 0 50 100 150 Tempo (min) 200 250 Gráfico 01 – Tempo médio e pontos obtidos pelas turmas nas atividades do ambiente da Khan Academy Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 42-47, Janeiro-Julho, 2014. 46 HANNAS et al (2014) O gráfico 02 apresenta uma comparação das médias escolares obtidas no respectivo bimestre do ano de 2013 em relação ao mesmo bimestre do ano de 2014, quando houve a utilização das aulas virtuais do ambiente da Khan Academy. facilitou o processo de fixação da aprendizagem da Matemática, refletindo no aumento das médias escolares. Os dados revelam também, maiores médias escolares dos alunos do Ensino Fundamental II, demonstrando, mais uma vez, uma maior aceitação e interesse por parte dos alunos mais novos em trabalhar com aulas envolvendo a tecnologia. Têm-se maiores médias escolares, durante o bimestre analisado do ano de 2014, em todo Ensino Fundamental II e Ensino Médio da Educação Básica. Esses resultados demonstram o quanto o uso do ambiente educacional Khan Academy 25,00 Pontos 20,00 18,5819,16 19,84 17,09 19,41 17,79 20,26 16,99 17,85 17,29 18,28 18,72 18,03 15,10 15,00 2013 2014 10,00 5,00 0,00 6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano 1ª Série 2ª Série 3ª Série Turmas Gráfico 02 - Média escolar obtida no respectivo bimestre do ano de 2013 em relação ao mesmo bimestre do ano de 2014 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Evitou-se adaptar o termo para o português utilizando-se “gamificação”, anglicismo que vem sendo adotado também no Brasil. O radical “gam” em português se refere a par, casal e não a jogos. Neste trabalho, avaliou-se a influência da utilização da técnica de gamification no desempenho dos alunos do ensino fundamental e médio de uma escola privada, Colégio América, sediado na cidade de Manhuaçu, MG, na disciplina de matemática. Como a cada ano há a progressão dos estudantes para as séries seguintes, salvo alguma reprovação, a comparação não envolveu os mesmos alunos de cada série, mas os resultados demonstram que o uso ambiente educacional Khan Academy, para o processo de ensino aprendizagem da matemática, é eficaz e motivador. Sua similaridade com um jogo o torna mais atrativo e leva o aluno a construir seu próprio conhecimento ao cumprir suas metas para obter pontos. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Gamification. Recuperado: 14 ago 2014. Disponível:http://www.nanodome.com/con undra.co.uk/ Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 42-47, Janeiro-Julho, 2014. 47 HANNAS et al (2014) Khan Academy. Recuperado: 05 ago 2014. Disponível: https://www.khanacademy.org/about RANGEL, M. Métodos de ensino para a aprendizagem e a dinamização das aulas. 3.ed. São Paulo: Papirus, 2007. ROSSO, A.J., TAGLIEBER, J. B. Métodos ativos e atividades de ensino. Perspectiva 17, 1992, pg. 37-46 Silveira, M. R. A (2002). Matemática é Difícil. Em Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação. Caxambu. Anais. Caxambu: Anped. Recuperado: 24 out. 2008. Disponível: <www.anped.org.br/25/marisarosaniabreu silveirat19.rtf> Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 42-47, Janeiro-Julho, 2014. 48 Silva e Souza (2014) IMPACTOS CAUSADOS PELO CRÉDITO RURAL: A PERCEPÇÃO DOS PRODUTORES RURAIS DO MUNICÍPIO DE DURANDÉ-MG Roberta Aparecida da Silva1, Júlia Alves e Souza2. 1 Discente do curso de Administração da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu (FACIG) 2 Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Espírito Santo e Professora dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu (FACIG) RESUMO O objetivo deste estudo é identificar como os produtores rurais de Durandé utilizam o crédito rural e qual a percepção dos mesmos sobre a contribuição deste crédito para o seu processo produtivo. Para alcançar o objetivo proposto, foi realizada inicialmente uma pesquisa documental na Associação dos Trabalhadores Rurais de Durandé, para investigar o número de associados, quantos utilizaram o crédito rural no período englobado pela pesquisa e qual modalidade do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) é mais utilizada. Na sequência, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 30 produtores rurais de Durandé. A partir da análise dos dados obtida através da pesquisa documental e das entrevistas, identificou-se que o Pronaf Custeio é o mais utilizado pelos produtores rurais de tal localidade, sendo que o mesmo é utilizado, predominantemente, para compra de insumos para investir na atividade. Foi identificado também que a maioria dos produtores rurais faz uso do Pronaf pela necessidade de melhorar sua produção. Por fim, nota-se que os entrevistados consideram que houve avanços em seus processos produtivos, ou seja, o impacto do crédito rural é positivo, e este contribui para a melhoria da atividade dos trabalhadores rurais. Palavras-chave: Crédito rural; Produtores rurais; Pronaf. ABSTRACT The aim of this study is to identify how rural farmers of Durandé use rural credit and what their perception about the contribution of rural credit for your production process. To achieve the proposed goal, we initially carried out desk research at the Associação dos Trabalhadores Rurais de Durandé (Association of Rural Workers of Durandé), to investigate the number of members, how many had used rural credit (in the period encompassed by the survey) and what is the most used mode of Pronaf (National Program for the Strengthening of Agriculture family). Subsequently, semi-structured interviews were taken, with 30 farmers of Durandé. From the analysis of the data obtained through desk research and interviews, it was identified that the Pronaf “Custeio” (Costing) is the most used by farmers in Durandé, and it is used mainly for purchase of inputs to invest in the activity. It was also identified that the majority of farmers makes use of Pronaf by the need to improve their production. Finally, we note that respondents consider that there have been improvements in their production processes. The impact of rural credit is positive and this contributes to the improvement of the activity of the rural workers. Keywords: Rural credit; Rural farmers; Pronaf. 1. INTRODUÇÃO Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 49 Silva e Souza (2014) No contexto da administração de atividades agropecuárias, o crédito rural é uma forte ferramenta financeira para os produtores rurais de diversas regiões do Brasil. Segundo Martins (2010), esse crédito é um notável instrumento de incentivo à produção, investimento e comercialização agropecuária, e traz benefícios para a economia nacional e local. O crédito rural foi institucionalizado em 1965, através da Lei nº 4.829, de 5 de novembro (BRASIL, 1965), e é uma modalidade de crédito voltada para os produtores rurais. Dentro dessa linha, foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, instituído pelo Decreto nº 1946/96, de 28 de junho de 1996 (BRASIL, 1996). Conforme tal decreto, esse programa tem o intuito de promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria da renda familiar. O crédito rural pode auxiliar o trabalhador rural de forma que o mesmo tenha mais oportunidades de aperfeiçoar seu processo produtivo. O Banco Central do Brasil - Bacen (2010) - aponta que o Pronaf destina-se a impulsionar a criação de renda e o melhor uso da mão de obra dos produtores, por meio de financiamento e serviços rurais. Existem várias modalidades de crédito rural dentro do Pronaf. Algumas delas são: Pronaf floresta, Pronaf agroindústria, Pronaf mulher, Pronaf Eco e Pronaf Custeio (BACEN, 2010). Uma vez que existem várias modalidades de crédito rural, o produtor rural pode escolher o tipo de financiamento que melhor atenda às necessidades existentes em seu processo produtivo, considerando que cada um pode ter um modo diferente de utilizar esse tipo de crédito. O Bacen (2010) ressalta ainda o crédito rural com o propósito de estimular investimentos, fortalecer o setor rural e incentivar a introdução de métodos racionais no sistema de produção, objetivando o aumento da produtividade, a melhoria de vida da população rural e a adequada utilização dos recursos naturais. Visa, também, a promover a geração de renda e o melhor uso da mão de obra na agricultura familiar. O uso do crédito rural é crescente nos últimos anos. No estado de Minas Gerais, segundo a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (2013), no período de julho de 2012 a março de 2013, os agricultores mineiros buscaram, no Banco do Brasil, 7,6 bilhões de reais para aplicações em suas atividades rurais. Esse valor é 25,9% superior ao registrado nos repasses feitos pela instituição no mesmo período do ano anterior. No município mineiro de Durandé, o número de produtores que fazem uso desse crédito também está aumentando. Segundo a Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de Durandé e Região (2013), o volume de crédito rural, contratado em 2013, foi superior ao ano anterior, e foram mais de 2 milhões de reais emprestados para os produtores. De modo geral, o crédito rural é de relevante assistência para os trabalhadores rurais do Brasil, do mesmo modo que é importante para aqueles que se situam em Durandé. Nota-se, ainda, que essa modalidade de crédito pode beneficiar, não somente os próprios trabalhadores rurais, mas também a sociedade e a economia nacional. Como mencionado, observa-se que o volume de crédito rural utilizado em Durandé vem crescendo de forma expressiva. Entretanto, não há evidências sobre a efetiva forma de utilização dos recursos disponibilizados, nem sobre os impactos por ela causados. Neste contexto, torna-se necessário investigar as características de aplicação do Pronaf e se o mesmo está atingindo o objetivo de favorecer a produtividade do meio rural na região. Em função do apresentado, emerge o seguinte problema de pesquisa: como os produtores rurais de Durandé utilizam o crédito rural e qual a percepção dos mesmos sobre a contribuição do crédito rural para o seu processo produtivo? A metodologia utilizada no presente estudo baseia-se em análise documental Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 50 Silva e Souza (2014) e realização de entrevistas, sendo ainda classificada como descritiva. A abordagem é qualitativa e quantitativa, com análises voltadas para a classificação, mensuração e interpretação dos dados obtidos. Assim, o objetivo geral do estudo consiste em identificar como os produtores rurais de Durandé utilizam o crédito rural e qual a percepção dos mesmos sobre a contribuição do crédito rural para o seu processo produtivo. Como objetivos específicos, são definidos: coletar dados na Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de Durandé, para averiguar quantos associados existem e analisar o número de projetos de crédito rural realizados no período englobado na pesquisa; analisar qual o tipo de crédito rural mais procurado pelos produtores rurais; efetuar entrevistas com os produtores rurais para investigar como o produtor utiliza o crédito rural em seu negócio; qual a percepção sobre o crédito rural e se este crédito contribuiu para a crescimento do processo produtivo. Dessa forma, pretende-se contribuir para a discussão do tema e para a ampliação dos conhecimentos sobre a utilização do crédito rural no município em questão. 2. PLATAFORMA TEÓRICA 2.1 Administração Financeira Toda empresa é composta por uma estrutura organizacional específica. Conforme Robbins (2004), a empresa pode ser dividida em vários departamentos ou setores, de acordo com as funções comuns desempenhadas. O gestor da empresa pode organizá-la mediante a separação de atividades como marketing, contabilidade, logística, produção, recursos humanos e finanças, por exemplo, sendo que todos os setores têm um papel importante e são estruturados de acordo com os objetivos definidos pela organização. Braga (1995) afirma que qualquer ação empresarial envolve recursos financeiros e se conduz para a obtenção do lucro. Conforme Assaf Neto (2005), a administração financeira deve ser voltada para que se alcancem as metas financeiras almejadas. A área de finanças é de grande importância para o desenvolvimento de qualquer atividade com fins lucrativos, pois é através das finanças que se terá um controle de todas as fontes e aplicações de recursos. Segundo Gitman (2010, p. 4), “finanças é a arte e a ciência de administrar fundos”, referindo-se a todos os aspectos relacionados à administração de recursos. A função financeira de uma organização precisa ser trabalhada com muita cautela, pois é a mesma que movimentará todas as atividades. Conforme Braga (1995), a função financeira abrange um conjunto de atividades associadas com o controle dos fundos utilizados por todas as áreas da organização. A administração financeira é desempenhada não apenas nas empresas, mas em todos os tipos de organizações, por exemplo, cooperativas, associações e outras organizações sem fins lucrativos. Além disso, está presente no cotidiano das pessoas, por haver necessidade de gestão financeira na vida pessoal e profissional dos indivíduos. Para Assaf Neto (2005), algumas funções básicas da administração financeira são funções determinantes, como realização do planejamento financeiro da mesma, realização do controle das finanças e administração dos ativos e passivos. O administrador financeiro deve realizar as suas funções com eficiência, mantendo assim a saúde financeira e econômica da organização. É essencial para as empresas, sejam elas pequenas ou grandes, terem uma administração financeira eficiente, pois um dos seus principais objetivos é alcançar lucro e ter um valor no mercado. Portanto, saber administrar bem as finanças é uma forte ferramenta para o alcance desse objetivo. Hoji (2004, p. 21) coloca que, na ótica da administração financeira, o objetivo econômico das empresas é a maximização de seu valor de mercado, pois dessa forma aumentará a riqueza de seus proprietários (acionistas ou sócios). Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 51 Silva e Souza (2014) Para Cheng e Mendes (1989), a administração financeira está relacionada diretamente com a gestão das entradas e saídas de recursos monetários provenientes da ação operacional, ou seja, com a administração do fluxo de disponibilidades da organização. Da mesma forma, a realização de análises e planejamento financeiro, tomada de decisões sobre investimentos e financiamentos são atividades desenvolvidas pela a administração financeira (GITMAN, 2010). Já Assaf Neto (2005) destaca que a administração financeira tem a finalidade de garantir a realização mais competente do processo de captação e alocação de recursos de capital. Segundo Gitman (2010), a administração financeira executa numerosas tarefas, como orçamentos, previsão financeira, administração de crédito e de caixa, análise de investimento, dentre outras atividades. Uma das atividades realizadas pela área financeira é a gestão da estrutura de capital, uma marcante ferramenta financeira. A administração da estrutura de capital envolve, dentre outros aspectos, o custo de capital, que interfere diretamente nos resultados financeiros que serão obtidos. 2.2 Estrutura de Capital A estrutura de capital tem um papel importante na organização. Batista et al. (2005) relatam que a estrutura de capital é um campo importante para a tomada de decisão e afeta o custo de capital, as decisões de investimento e o valor de mercado da empresa. Segundo Gitman (2010) o capital caracteriza os fundos de longo prazo que a entidade possui. Engloba todos os elementos representados do lado direito do Balanço Patrimonial (passivo e patrimônio líquido), com exceção dos passivos circulantes. Hoji (2004, p. 188), coloca que o parte do capital é fornecido por terceiros e outra parte pelos acionistas ou sócios. Conforme Gitman (2010), para uma empresa atingir os seus objetivos e aumentar sua riqueza, a mesma deve ser apta para avaliar a estrutura de capital e compreender o seu relacionamento com o risco, o retorno e o valor. A estrutura de capital de uma organização é reflexo de como esta financia suas ações (BATISTA et al, 2005). Essa estrutura é formada pela combinação do capital próprio e do capital de terceiros em longo prazo. O capital próprio é representado por fundos em longo prazo, favorecendo os proprietários da empresa e os seus acionistas (GITMAN, 2010). Os capitais próprios são correspondentes ao capital integralizado, reservas, lucros e outras variações relacionadas ao patrimônio líquido (BRAGA, 1995). Portanto, nota-se que o capital próprio é formado pelos proprietários e sócios ou gerado pela própria empresa. Já o capital de terceiros é referente ao capital externo da empresa. Segundo Gitman (2010), o capital de terceiros compreende qualquer tipo de fundos em longo prazo obtidos de fontes externas (no mercado financeiro, por exemplo). Para Hoji (2004), o capital de terceiros pode ser adquirido por meio de empréstimos, financiamentos e emissão de títulos de dívidas. Braga (1995) relata que o capital de terceiros é caracterizado pelos compromissos assumidos com estes e dívidas contraídas. Um dos efeitos gerados pela utilização de capital de terceiros é a alavancagem financeira. Hoji (2004, p. 189), coloca que a alavancagem financeira ocorre quando o capital de terceiros produz efeitos sobre o patrimônio líquido. O processo é como se este capital, utilizando-se de uma “alavanca”, produzisse impactos (positivos ou negativos) sobre o patrimônio líquido, que representa os recursos próprios. Conforme Gitman (2010), essa alavancagem é resultado de encargos financeiros fixos que compõem o fluxo do lucro da organização. O autor relata ainda que a alavancagem financeira é uma estratégia que as organizações utilizam, a partir do uso desses encargos financeiros fixos, com o intuito de elevar os efeitos de variações no lucro antes dos juros e dos impostos. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 52 Silva e Souza (2014) 2.3 Custo de Capital e Financiamentos O custo de capital é um fator de significativa importância para as organizações. Conforme Gitman (2010), este custo consiste no maior meio de ligação entre as decisões de investimento em longo prazo e a riqueza dos proprietários. Braga (1995) relata que o custo de capital é correspondente à média ponderada das taxas de custos das várias fontes de financiamento em longo prazo que integram a estrutura de capital das empresas. Segundo Gitman (2010), o custo de capital representa a taxa de retorno que a empresa necessita ter sobre os projetos de investimentos, para assim conseguir garantir seu valor de mercado. Desse modo, o custo de capital das organizações deve ser analisado cuidadosamente, pois exerce grande influência na sobrevivência organizacional. Conforme Hoji (2004), os cálculos de custos de capital devem ser efetuados da forma mais realista possível, pois é com base neles que são tomadas decisões financeiras estratégicas e relevantes para a empresa. Os custos estão relacionados aos diversos tipos de financiamentos que as empresas utilizam para obter os recursos aplicados nos seus investimentos. Conforme o BNDES (2013), existem financiamentos para várias modalidades desenvolvidas dentro da empresa, como investimento para produção, aquisição de máquinas e equipamentos novos com mais tecnologia, modernização, expansão e implementação de novas atividades, dentre outros. Os financiamentos podem ser realizados através do capital próprio e do capital de terceiros. Segundo Assaf Neto (2005), as decisões de financiamento devem estar associadas à escolha das melhores ofertas de recursos e à melhor proporção a ser mantida entre esses tipos de capital. Braga (1995) relata que, nesse contexto, o capital próprio compõe a fonte de recursos mais apropriada para investimento de maior risco ou de maturação prolongada. Esses recursos são alcançados por meio de aumento de capital e retenção dos lucros, estando intimamente relacionados com a política de distribuição de resultados. O financiamento desempenhado por meio de capital de terceiros, conforme Braga (1995), pode ser gerado por atividades normais desenvolvidas na empresa (fontes operacionais) e também mediante a contratação de financiamentos e empréstimos. Assaf Neto (1995) acrescenta ainda que os financiamentos podem ser realizados em instituições financeiras, ou a partir de programas específicos de financiamento. Conforme o autor, as operações financeiras de captação (empréstimos e financiamentos) e aplicação de recursos são elaboradas por instituições e instrumentos financeiros que compõem o Sistema Financeiro Nacional. Os financiamentos podem ser realizados em curto ou em longo prazo. Gitman (2010) relata que, para a administração financeira, em geral são considerados financiamentos em longo prazo aqueles que têm um vencimento inicial superior a um ano, podendo ter o seu vencimento entre 5 (cinco) e 20 (vinte) anos. Já os financiamentos em curto prazo são aqueles que têm suas ações planejadas para um período de curto prazo, sendo esse período inferior a 1 (um) ano. Atualmente, não são somente as empresas que podem fazer uso de financiamentos, mas também as pessoas físicas. Segundo o BNDES (2013), as pessoas físicas podem fazer financiamentos, desde que sejam compatíveis com algumas características, como: ser microempreendedor, produtor rural, ou transportador autônomo de cargas. O financiamento para produtor rural é conhecido como crédito rural. 2.4 Crédito Rural O crédito rural é um tipo de financiamento destinado a produtores rurais, cooperativas e associações de produtores. Conforme a Lei n° 4.829, de 5 de novembro de 1965, restringe-se ao campo específico do financiamento das Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 53 Silva e Souza (2014) atividades rurais, no intuito de suprir as necessidades financeiras do custeio e da comercialização da produção própria, como também as de capital para investimentos e industrialização de produtos agropecuários (BRASIL, 1965). Desde a sua criação, o crédito rural se tornou uma das principais políticas agrícolas do país (CASTRO, 2008). Conforme Crepaldi (1994), esse tipo de crédito é considerado um importante instrumento para o setor agropecuário. Segundo Castro (2008), uma política de crédito é essencial para o setor agrícola, visto que possibilita aos produtores adquirir insumos de qualidade, podendo melhorar e aumentar sua produção. Para Martins (2006), o crédito rural se tornou um instrumento central e é adotado pela maioria dos produtores rurais. Conforme Crepaldi (1994), como maneira de compensar a queda nos preços dos produtos agrícolas e da sua lucratividade, o financiamento através do crédito rural se tornou peça fundamental para a política agrícola. Segundo o BACEN (2011), podem ser financiadas pelo crédito rural atividades de custeio, investimentos e comercialização, dentre outras atividades, com a finalidade de estimular os investimentos rurais, melhorar o processo produtivo, fortalecer o setor agrícola brasileiro e melhorar a renda das famílias rurais. Crepaldi (1994) acrescenta que o crédito rural induziu o uso de tecnologia e aumentou as fronteiras do desenvolvimento no setor agrícola. Castro (2008) também destaca que tal crédito busca impulsionar o avanço tecnológico e aumentar a oferta de matéria-prima e alimentos de origem agropecuária, podendo ainda fortalecer os pequenos e médios produtores rurais. Segundo o BACEN (2010), são financiadas pelo crédito rural atividades como: o ciclo produtivo de lavouras periódicas, a entressafra de lavouras permanentes ou a extração de produtos vegetais espontâneos ou cultivados (incluindo o beneficiamento primário da produção obtida e seu armazenamento); a exploração pecuária; e o beneficiamento ou industrialização de produtos agropecuários. Castro (2008) afirma que as modalidades de financiamento realizadas pelo crédito rural são atividades de custeio, investimento e comercialização, distinguindo-se as atividades agrícolas das de pecuária. O financiamento de custeio tem a finalidade de cobrir as despesas geradas no ciclo produtivo. Já o crédito de investimento é destinado para a utilização e aplicação em bens e serviços, para qualquer período da produção. E, por fim, o crédito de comercialização tem a função de cobrir as despesas próprias após a colheita e para as atividades de venda e entrega dos produtos (BACEN, 2010). A taxa de juros para o pagamento dos financiamentos realizados pelo crédito rural tende a ser mais baixa que a média do mercado. Conforme o Bacen (2011), a taxa efetiva de juros para as operações realizadas até a data de 30/06/2013 foi de 6,75% ao ano, e para as operações contratadas até a data 01/07/2013 a taxa de juros é de 5,5 ao ano. A sua redução é permitida, mas fica a critério do agente financeiro. Segundo o Bacen (2010), o financiamento pode ser pago através de uma parcela única ou por meio de parcelas, que são seguidas conforme os ciclos das explorações financiadas. O tempo de carência se inicia a partir da data de assinatura do contrato e termina somente após o prazo estabelecido pelas partes. Um atrativo muito grande para os produtores fazerem uso do crédito rural, é o prazo para o pagamento, pois o mesmo é compatível com o ciclo de utilização. De acordo com Mata (1981), o prazo para ser efetuado o pagamento de custeio é de 2 (dois) anos para financiamentos realizados na agricultura e de 3 (três) anos para pecuária. Os financiamentos de investimento podem ter um prazo mais longo para pagamento, sendo que o prazo é de 12 (doze) anos para investimento de capital fixo e de 5 (cinco) anos para investimento de capital semi-fixo. Para o financiamento de comercialização, o prazo varia entre 120 a 180 dias para o pagamento. Mata (1981) destaca que um dos fatores que incentivam os produtores a Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 54 Silva e Souza (2014) fazerem uso do crédito rural é justamente a compatibilidade do prazo para pagamento com os ciclos das atividades financiadas. Outro fator importante é que as taxas de juros são mais atrativas, uma vez que sempre foram inferiores às observadas no mercado livre. Esta é a realidade observada para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que financia projetos rurais. 2.5 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é um programa criado pelo governo com o intuito de melhorar o processo produtivo rural, incentivando a agricultura familiar. Desta forma, o Pronaf foi lançado no Brasil pelo Decreto nº 1.946 de 1996, com a finalidade de promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria de renda (BRASIL, 1996). Assim, incentiva a criação de renda e um melhor uso da mão de obra familiar, através do financiamento de atividades e serviços rurais. Conforme a Secretaria de Agricultura Familiar - SAF (2013), o Pronaf realiza projetos de financiamento individuais ou coletivos, de forma que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Nunes (2007) afirma que o Pronaf se propõe a fortalecer a agricultura familiar como categoria social, mediante apoio financeiro (financiamento para custeio e investimento de atividades agrícolas), capacitação e apoio à infraestrutura social e econômica dos territórios rurais fortemente caracterizados pela agricultura familiar. São beneficiárias do Pronaf as pessoas que fazem parte de unidades familiares de produção rural e que comprovem o seu enquadramento em um dos seguintes grupos: - Grupo A – O grupo A é formado por agricultores familiares que são assentados da reforma agrária. Através do término do Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária (PROCERA), os mesmos começaram a ser atendidos pelo Pronaf. Para Souza e Valente Júnior (2006), este crédito é destinado a produtores do primeiro crédito para assentados da reforma agrária e o mesmo é destinado à ampliação e modernização da inflaestrutura de produção e serviços no estabelecimento rural. Acrescenta-se que, atualmente, pelas regras do Plano de Safra 2003/0411, esses agricultores podem financiar até R$ 2.500,00 para custeio da safra e até R$ 13.500,00 para investimentos. No caso de crédito de custeio, o prazo para pagamento é de dois anos e as taxas de juros são de 2% ao ano. Já para o crédito de investimento, esses números são de 10 anos (5 anos de carência) e 1,15% ao ano, respectivamente (SCHENEIDER, 2004). - Grupo B - Conforme Souza e Júnior (2006), o grupo B é formado por agricultores com renda anual bruta de até R$ 2.000 (dois mil), e esta é uma modalidade de microcrédito criada para combater a pobreza do meio rural. Scheneider (2004) coloca ainda que o grupo B inclui as famílias rurais que têm baixa produção e poucos recursos e capacidades de aumentar a sua produtividade. Os valores dos financiamentos custeio e investimento - são limitados a até R$ 1.000,00 para qualquer atividade geradora de renda, com juros de 1% ao ano e prazo para pagamento de dois anos, sendo um de carência. O tomador pode se beneficiar de um desconto de 25% sobre o valor financiado, quando os prazos de ressarcimento do empréstimo forem respeitados (SCHENEIDER, 2004). - Grupo C - Este grupo é formado por produtores rurais que tenham uma renda bruta anual de R$ 2.000,00 a R$ 14.000, e que tenham uma boa resposta da sua produção. Souza e Valente Júnior (2006) colocam que esses produtores são beneficiados por meio do crédito de custeio e investimento. Portanto, Os limites de financiamento para custeio são de R$ 2.500,00, com juros de 4% ao ano, desconto (rebate) de R$200,00 e prazo de pagamento de até dois anos. Já para Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 55 Silva e Souza (2014) investimentos, o limite é de R$ 5.000,00 e o prazo de pagamento de até oito anos, com a mesma taxa de juros. Além do rebate, o agricultor pode se beneficiar de um bônus de 25% sobre os juros se observar os prazos de pagamento (SCHENEIDER, 2004). - Grupo A/C – Este grupo é formado por agricultores que são naturais do processo de reforma agrária e que comecem a receber primeiro crédito de custeio posteriormente a ter adquirido o crédito de investimento (que substitui o antigo programa que oferecia apoio aos assentados). Conforme esclarecem Souza e Valente Júnior (2006), este grupo é referente ao primeiro crédito de custeio para as famílias da reforma agrária que já receberam o financiamento do grupo A. Desta forma, os limites de financiamento de custeio variam de R$ 500,00 até R$ 2.500,00, com juros de 2% ao ano e prazo de pagamento de até dois anos. Esse grupo também é beneficiado por um desconto de R$200,00 sobre o valor emprestado, se quitado dentro dos prazos estabelecidos (SCHENEIDER, 2004). - GRUPO D – Este grupo por sua vez é formado por agricultores que já são mais estabilizados economicamente em suas atividades e, portanto, têm uma renda anual bruta entre R$ 14.000 e R$ 40.000,00. Souza e Valente Júnior (2006) colocam que o grupo D é beneficiado com o crédito de custeio e investimento. O limite para custeio é de até R$ 6.000,00, com juros de 4% ao ano e prazo de até dois anos. Já para investimento, o limite de financiamento é de até R$ 18.000,00, com prazo de até oito anos e juros iguais ao do custeio, podendo ser reduzido em 25% o valor referente aos juros para pagamentos no prazo (SCHENEIDER, 2004). - Grupo E - Conforme Scheneider (2004), este grupo é formado por produtores que tenham uma renda bruta anual que varia entre R$ 40.000,00 a 60.000,00. Souza e Valente Júnior (2006) relatam que o grupo E pode fazer uso de custeio para financiamento, implantação de novas máquinas, serviços, ampliação e modernização da infraestrutura da produção e serviços no estabelecimento rural e também em áreas comunitárias rurais. Os limites de financiamento para custeio são de R$ 28.000,00, com juros de 7,25% ao ano e prazo de pagamento de dois anos. Já para investimento, o limite de financiamento é de R$ 36.000,00, com juros idênticos ao crédito de custeio e prazo de pagamento de até 8 anos, com 3 anos de carência, sem previsão de descontos (SCHENEIDER, 2004). Para o produtor rural ter acesso ao Pronaf, ele pode utilizar a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). A DAP foi criada pela Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A DAP é um documento dos produtores rurais utilizado como instrumento de identificação do agricultor familiar para acessar as políticas públicas (SAF, 2013). Conforme a SAF (2013), existem várias modalidades de crédito rural dentro do Pronaf, essas modalidades são: Pronaf custeio, Pronaf Investimento, Pronaf Agroindústria, Pronaf Agroecologia, Pronaf Eco, Pronaf Floresta, Pronaf SemiÁrido, Pronaf Mulher, Pronaf Jovens, Pronaf Custeio e Comercialização de Agroindústrias Familiares, Pronaf CotaParte, e Microcrédito-Rural. De fato, dentre as modalidades de crédito rural, cabe ao produtor escolher a modalidade de financiamento que atenda às suas necessidades e melhore a produtividade de sua atividade. 2.6 Considerações sobre o Pronaf no Brasil Para Guanziroli (2007), o Pronaf ocasionou um impacto considerável para a agricultura brasileira, melhorando e incentivando os produtores rurais e o setor rural. Conforme Copetti (2008), a criação do Pronaf foi um marco, pois pela primeira vez o Brasil teve uma política de crédito voltada para a produção agrícola familiar. Souza e Valente Júnior (2006) relatam que a linha de crédito do Pronaf caracteriza-se como um significativo instrumento de promoção para o desenvolvimento sustentável no meio rural. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 56 Silva e Souza (2014) O crédito rural se constitui em um essencial instrumento para o setor rural, visto que concede recursos que permitem tornar flexível a restrição e aumentar a produção agrícola (CASTRO, 2008). Para Martins (2006), o crédito rural promove um grande benefício ao propiciar o adiantamento de recursos para o produtor rural usar em empreendimento agropecuário, ou seja, em seu processo produtivo. Conforme Scheneider (2004), um aspecto considerável sobre o Pronaf é o fato de o volume de recursos oferecidos estarem aumentando, progressivamente, desde 1997, fato esse que proporciona aos produtores mais benefícios e aumenta a abrangência em relação ao número de agricultores que fazem uso desse crédito. Copetti (2008) acrescenta que o Pronaf representa um inegável avanço na formulação e implementação das políticas públicas no setor rural brasileiro. Entretanto, Gimenes (2008) relata que o montante de recursos cedidos pelo Sistema Nacional do Crédito Rural para os produtores rurais não atende à demanda atual, e sua carência constitui em um entrave para o desenvolvimento sustentável do agronegócio no Brasil. Guanziroli (2007) coloca que o Pronaf é um programa caro, em termos financeiros, para a sociedade e que deve ser permanentemente revisto, avaliado e aperfeiçoado de forma que não perca sua característica original de proteger, de forma eficiente, um segmento da população rural que tem uma importante participação na economia nacional. Para Souza e Valente Júnior (2006), o crédito rural, no Brasil, sinaliza um vagaroso processo na busca de uma maior equidade entre as regiões. Nota-se que há um desequilíbrio, pois alguns estados recebem mais recursos que outros. Fica evidente, ainda, que são 11 estados contemplados com o Pronaf, sendo que quase metade dos recursos está concentrada em somente dois deles: Minas Gerais e Espírito Santo. Conclui-se, portanto que o crédito rural, em especial o Pronaf, possui pontos fortes e fracos como política nacional. Mas, de modo geral, busca beneficiar os agricultores, através do fornecimento de recursos, de modo que os mesmos possam melhorar o seu processo produtivo e gerar o desenvolvimento do setor agropecuário. 3. METODOLOGIA 3.1 Caracterização da Pesquisa A pesquisa desenvolvida no presente trabalho classifica-se como descritiva, realizada através de fontes documentais e entrevistas. A pesquisa descritiva tem a finalidade de retratar as características de uma determinada população, fenômenos e o estabelecimento de relações entre variáveis (GIL, 1999). Para Bertucci (2009), essa tipologia de estudo tem como uma de suas intenções estabelecer uma relação entre as diversas variáveis envolvidas em um problema. A pesquisa foi realizada em duas fases, sendo que a primeira fase se desenvolve através de pesquisa documental, e a segunda fase é realizada por meio de entrevistas. A abordagem é qualitativa e quantitativa, procurando compreender as características específicas ao interpretar documentos e entrevistas, ao mesmo tempo em que se procura quantificar os resultados ao analisá-los. A pesquisa documental se define como aquela que se utiliza de materiais que não receberam um tratamento analítico anterior (GIL, 1999). Conforme Bertucci (2009), a pesquisa documental baseia-se na leitura, análise e interpretação dos documentos envolvidos. Deste modo, a pesquisa documental foi realizada junto à Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de Durandé e Região, onde foram analisados os documentos da organização referentes aos projetos de financiamento através do crédito rural. Já as entrevistas, aplicadas na segunda fase do estudo, têm como característica a interrogação direta das pessoas das quais o comportamento se almeja conhecer. Ou seja, busca-se colher das pessoas informações sobre o Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 57 Silva e Souza (2014) determinado problema estudado, para, assim, obter as conclusões (GIL, 1999). 3.2 Amostra da Pesquisa A amostra da pesquisa é composta por 30 produtores rurais da cidade de Durandé. Tais produtores são membros da Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de Durandé e Região, instituição que realiza prestação de diversos serviços a agricultores de Durandé, incluindo o serviço de crédito rural. A amostra foi determinada com base nos dados coletados nessa Associação dos Trabalhadores Rurais, pois foi identificado, a partir da execução da primeira fase do estudo, que na mesma existem 86 associados, sendo que 42 destes fizeram uso do crédito rural no período englobado pela pesquisa. Foi determinado, por acessibilidade e considerando o tempo disponível para a execução do presente estudo, que se realizasse as entrevistas individuais com o total de 30 pessoas, número este que representa mais de 70% da quantidade de produtores da Associação que fizeram uso do crédito rural no período abordado. Ressalta-se, ainda, que Durandé é considerada uma cidade pequena, onde os produtores têm uma significativa importância para a economia local e podem ser influenciados diretamente com os impactos do crédito rural. 3.3 Procedimentos de coleta de dados A metodologia utilizada para realização desse trabalho, em primeiro momento, foi a análise documental, em que se analisam documentos disponibilizados pela Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de Durandé e Região. Essa análise teve a finalidade de identificar o número de produtores associados, quantos produtores fizeram uso do crédito rural, nos últimos doze meses, e qual o tipo de crédito mais procurado pelos produtores nesse período. No segundo momento da pesquisa, foram efetuadas entrevistas, nas quais se realizou o contato com os produtores para identificação de detalhes sobre o tipo de crédito que os produtores mais utilizam e a percepção dos mesmos sobre a contribuição desse tipo de crédito para seus processos produtivos. Através das entrevistas, buscou-se descobrir qual o tipo de crédito rural mais utilizado pelos produtores rurais, por qual motivo os mesmos utilizam esse determinado crédito, e, se tal crédito, de alguma forma, melhorou o seu processo produtivo. Os documentos disponibilizados pela Associação dos Trabalhos Rurais foram os registros dos projetos dos produtores rurais. Esses documentos estavam todos em pastas (de papel) arquivadas em ordem alfabética. Portanto, foram analisadas pasta por pasta, pois as mesmas não estavam organizadas por data. Foi necessário analisar todas as pastas para verificar quais projetos foram realizados, no período de um ano, englobando os meses de outubro de 2012 a outubro de 2013 (período da pesquisa). Foi analisado, também, o número de produtores associados, número de produtores que fizeram uso do crédito rural, e qual o tipo de crédito mais realizado. Já as entrevistas foram realizadas dentro da sede da Associação dos Trabalhadores Rurais, pois os produtores frequentam esse estabelecimento em busca dos serviços prestados pela instituição. Sendo assim, enquanto os produtores aguardavam para serem atendidos, os mesmos eram abordados e questionados se poderiam participar da pesquisa. Nesse momento, explicava-se a finalidade da entrevista e como seriam aplicadas as respostas. Foi utilizada a técnica de entrevista semiestruturada, com a leitura e explicação de cada pergunta predefinida (a maioria dos produtores rurais tem baixo nível de escolaridade e poderia ter dificuldades para entender as perguntas). Foram anotadas manualmente pela aplicadora dos questionários, utilizando caneta e papel, todas as respostas obtidas. Esse processo se repetiu durante 16 (dezesseis) dias, no período de Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 58 Silva e Souza (2014) 24/10/2013 a 08/11/2013 (média de duas entrevistas por dia). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Os tipos de crédito mais utilizados pelos produtores rurais de Durandé Através da pesquisa documental, foi inicialmente identificado que, na Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de Durandé e Região, estão associadas 86 famílias agricultoras, sendo que, desses associados, 42 produtores fizeram uso do crédito rural no período abordado pelo estudo. Foi identificado que o tipo de crédito mais utilizado é Pronaf Custeio, no qual os produtores utilizam o dinheiro, disponibilizado por meio do financiamento para compra de insumos, de modo que possam investir em seu processo produtivo. Com base na pesquisa documental, concluiu-se, portanto, que os produtores rurais de Durandé, associados junto a ATR, utilizam mais o Pronaf Custeio, devido à maior necessidade que os mesmos têm para custear suas atividades e à falta de recursos para comprar insumos. A partir da aplicação das entrevistas, foram abordados 30 produtores rurais, sendo 87% do sexo masculino e 13% do sexo feminino, com a grande maioria dos entrevistados composta por pequenos produtores. Dos 30 produtores rurais entrevistados, todos responderam que utilizam o crédito rural, ou seja, 100% das pessoas entrevistadas fazem uso do crédito rural. O gráfico 01 demonstra os tipos de crédito mais utilizado pelos produtores rurais de Durandé. Gráfico 01 – Tipos de crédito utilizados. Fonte: Elaborado pelas autoras. A partir do gráfico 01, nota-se que 60% dos produtores rurais (18 das 30 pessoas) usam o crédito rural para custeio e 40% usam o crédito para investimento. As demais modalidades não são utilizadas. Deste modo, o crédito mais utilizado pelos produtores de Durandé é o crédito de custeio, sendo que este tem a finalidade de cobrir as despesas geradas no ciclo produtivo. Quando foi perguntado aos produtores se eles possuem Carta de Aptidão ao Pronaf (DAP) 74% responderam que possuem e 26% não possuem. Essa DAP é um documento utilizado como instrumento de identificação do agricultor familiar para acessar as políticas públicas, e os produtores rurais que possuem a DAP têm direito a um juro menor (de 2% ao ano), enquanto que para os produtores que não tem a DAP o juro é maior (5,5% ao ano). Nesse caso, nota-se que cerca de ¼ dos produtores não possui a carta, não usufruindo das taxas de juros mais reduzidas. 4.2 Dificuldades do crédito rural Um atrativo que os produtores têm para a realização do crédito rural é o prazo de pagamento, e esse prazo pode chegar até a 10 (dez) anos. O gráfico 02 relata o prazo de pagamento que os produtores rurais têm para efetuarem o pagamento do seu financiamento, conforme informado nas entrevistas. Gráfico 02 – Percepção sobre prazo de pagamento do financiamento. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 59 Silva e Souza (2014) Fonte: Elaborado pelas autoras. Dessa forma, 15 produtores responderam que o prazo de pagamento é de 2 a 5 anos, 14 produtores responderam que o prazo de pagamento é de 1 a 2 anos e somente uma pessoa respondeu que o prazo de pagamento é de 5 a 10 anos. Ainda em relação ao prazo de pagamento, foi questionado aos produtores se estes o consideram suficiente; 90% responderam sim e 10% não. Quando foi perguntado se os produtores já tiveram alguma dificuldade em relação ao pagamento do financiamento, um dos produtores afirmou: “sim, investi todo o dinheiro na atividade financiada, depois não tive o retorno esperado e ocorreram dificuldades”. Outro produtor respondeu: “sim, dificuldade devido ao baixo preço do café no momento da venda”. Entretanto, em se tratando do total de entrevistados, 83% deles não tiveram dificuldade com o pagamento, enquanto que 17% tiveram esse tipo de problema. 4.3 A forma pela qual o crédito rural é usado pelos produtores rurais A forma pela qual os produtores utilizam o crédito rural é determinante para que os mesmos tenham condições de efetuar o pagamento. Foi questionado aos produtores rurais se os mesmos utilizam o financiamento para os propósitos específicos do financiamento ou para outros fins. Como resultado, 93% dos produtores responderam que utilizam o financiamento nas atividades próprias do financiamento, mas 7% utilizam o financiamento para outros fins como pagamento de dívidas e gastos particulares não relacionados à atividade rural. Ou seja, uma parcela dos trabalhadores solicita o crédito como se fosse investir no processo produtivo, mas o utiliza para outras finalidades, o que gera um desvio em relação aos objetivos do crédito concedido. Quando foi perguntado se era a primeira vez que o produtor estava fazendo uso de crédito rural, 80% disseram que era a primeira vez, enquanto que 20% já o haviam utilizado antes. Ou seja, a grande maioria começou a utilizá-lo recentemente, o que confirma a tendência de crescimento da utilização dessa modalidade de financiamento. Existem alguns fatores que podem incentivar o produtor rural a solicitar o crédito rural, entre os quais se encontram a necessidade de melhoria no processo produtivo, taxas de juros baixas e maiores prazos de pagamento. No gráfico 03, são demonstrados os principais fatores que incentivam os produtores entrevistados a realizarem o crédito rural. Gráfico 03 – Principal motivo para utilização do crédito rural. Fonte: Elaborado pelas autoras. Portanto, quando foi questionado aos produtores o principal motivo que os levou a utilizar o financiamento rural, 60% disseram que era por necessidade de melhoria no processo produtivo, 23% por causa da taxa de juros baixa e 17% pelo prazo longo para o pagamento. Foi perguntado aos entrevistados, ainda, se os mesmos acreditam que todos os produtores que realizam o financiamento o utilizam para os fins específicos previstos na legislação, sendo que, 50% disseram que acreditam que sim. Mas os outros 50% não acreditam, e alguns ressaltaram que: “não, muita gente gasta com outras coisas” e “não, muitos só usam metade desse dinheiro para o meio rural”. Um dos entrevistados mencionou conhecer pessoas que usaram Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 60 Silva e Souza (2014) o dinheiro do financiamento para pagar dívidas pessoais e comprar carros para uso próprio, por exemplo. Ou seja, a percepção dos produtores indica que uma parcela das pessoas que fazem esse tipo de financiamento acaba utilizando o dinheiro de outra forma ou para outras finalidades que não aquelas a que realmente se destina o Pronaf. 4.4 O impacto do Pronaf para os produtores rurais de Durandé Esse tópico é voltado para as análises em que os produtores expõem claramente sua percepção sobre o Pronaf e os seus impactos. Deste modo, foi feita a seguinte pergunta aos entrevistados: “Você considera o Pronaf importante para os produtores rurais de Durandé? Por quê?”. Um dos entrevistados respondeu: “Sim, se souber investir esse dinheiro, ele te dá retorno para pagar o financiamento e gera lucro”. Já outro disse que “Sim, é uma linha de crédito boa para os produtores e eles não deixam de efetuar suas atividades por falta de recurso”. Um terceiro entrevistado ressalta que “Sim, pois é necessário investir, muitas vezes o produtor não tem condições e com o Pronaf fica possível”. Considerando a importância de se ter conhecimento sobre como os produtores rurais analisam o impacto do Pronaf, no gráfico 04, demonstra-se a percepção dos produtores rurais de Durandé sobre tal impacto. Gráfico 04 – Percepção dos produtores sobre os impactos do Pronaf. Fonte: Elaborado pelas autoras. Portanto, em relação ao impacto do Pronaf segundo a visão dos produtores, 70% o consideram bom, 23% ótimo, e apenas 7% regular. Nenhum dos entrevistados o considera ruim ou péssimo. Notou-se que os produtores de Durandé percebem o Pronaf como um importante programa, gerador de um impacto positivo. Por fim, foi questionado aos produtores se através do Pronaf houve uma melhoria no processo produtivo e quais as justificativas para a resposta. Apenas 3% disseram que não houve melhoria, e uma das justificativas de um dos produtores foi a seguinte: “Não, pois gastei o dinheiro em outras coisas e não investi no processo produtivo, aí não melhorou em nada”. Os demais, 97% dos produtores, responderam que através do Pronaf houve uma melhoria no processo produtivo. Um dos entrevistados disse: “Sim, foi possível investir na lavoura para gerar mais lucro”; já outro afirmou: “Sim, pois foi possível plantar café e sem o financiamento seria impossível. Agora eu produzo e aumento a renda”. Os demais entrevistados também destacaram consequências positivas da utilização dessa modalidade de crédito. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a finalidade de identificar como os produtores rurais de Durandé utilizam o crédito rural e qual a percepção dos mesmos sobre a contribuição deste para o seu processo produtivo, identificou-se que 60% dos produtores utilizam o Pronaf Custeio, no qual o banco libera uma quantia em dinheiro para que os produtores utilizem no custeio de suas atividades agropecuárias. Esse valor deve ser usado para a compra de insumos, gerando um produto final melhor e aumentando a renda familiar. A maioria dos produtores possui a Carta de Aptidão ao Pronaf (DAP), o que é importante, pois, com a mesma, os juros pagos pelo financiamento são Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 61 Silva e Souza (2014) menores e esse fato auxilia o produtor rural a efetuar o pagamento do financiamento tendo menores custos financeiros. Os produtores rurais de Durandé consideram satisfatório o prazo para pagamento do financiamento, pois 90% dos entrevistados responderam que tal prazo é suficiente. Deste modo nota-se que o prazo do Pronaf atende às necessidades dos produtores, pois os mesmos têm tempo de gerar renda em suas atividades agrícolas para assim efetuar a quitação da dívida. Os produtores que têm dificuldades em realizar o pagamento e, consequentemente, não consideram o prazo para pagamento suficiente podem ter essa percepção devido ao fato de que parte dos mesmos não utiliza o Pronaf para as atividades necessárias ou previstas pelo programa. Um produtor pode realizar um Pronaf Custeio alegando que irá comprar adubo, mas utilizar esse dinheiro para comprar um carro, por exemplo, como informado por um dos entrevistados. Sendo assim, o produtor não investe na lavoura e a mesma não gera lucro para que esse produtor possa quitar o financiamento. Os produtores, em geral, consideram o Pronaf importante, pois o mesmo é um instrumento que auxilia a investir em seu processo produtivo, podendo gerar uma produção com maior qualidade. Também destacam que esse é um recurso que o produtor tem a disposição para poder investir em atividades que não seriam possíveis sem o Pronaf. Dos produtores entrevistados, 70% consideram o programa bom e 23% o consideram ótimo, e, deste modo, nota-se que há uma grande aceitação em relação ao Pronaf e que os produtores o consideram positivo. Um fator determinante na pesquisa foi o fato de que 97% dos entrevistados responderam que através do Pronaf houve melhorias no processo produtivo. Isso acontece porque os produtores investem os recursos do financiamento em melhorias para produção, como compra de insumos e equipamentos. Enfim, investem em uma qualidade maior na produção, aumentando a quantidade produzida e a renda gerada. Ressalta-se, por fim, que, na opinião dos produtores rurais de Durandé, o impacto causado pelo crédito rural é positivo, pois o mesmo auxilia em uma melhoria da produção, devido ao fato de que os produtores passam a dispor de mais recursos para investir em suas atividades agrícolas. Desta forma, aumenta-se a renda familiar e se melhora também a economia local, já que a principal fonte de renda da cidade de Durandé é a agricultura, especialmente a cultura cafeeira. Vale destacar algumas limitações inerentes à metodologia utilizada neste estudo. A realização de entrevistas faz com que as informações fiquem limitadas à subjetividade dos entrevistados e à percepção do entrevistador, no momento das interpretações e análises. Além disso, os resultados referem-se ao período abordado e à amostra específica utilizada na pesquisa. Como sugestões para futuros estudos, seria viável reaplicar a pesquisa com outros respondentes, inclusive com amostras de cidades vizinhas para que se possa comparar os resultados obtidos. É interessante, também, analisar financeiramente se o uso do crédito rural é viável, ou seja, investigar se compensa fazer uso desse crédito e se as taxas de pagamento de fato são favoráveis aos produtores. Ainda, pesquisar sobre os benefícios que o Pronaf gera e buscar a identificação das deficiências do programa. Por fim, destaca-se que o estudo realizado traz contribuições para ampliar o conhecimento sobre os impactos do crédito rural. Durandé é uma cidade pequena, cuja economia gira em torno da agropecuária - principalmente do café - e parte de sua produtividade é influenciada pela utilização do crédito rural. Portanto, é importante que se amplie a compreensão sobre a utilização de tal crédito, que pode influenciar o desenvolvimento econômico local. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 62 Silva e Souza (2014) ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. São Paulo: Atlas, 2005. BACEN – BANCO CENTRAL DO BRASIL. MANUAL DE CRÉDITO RURAL (MCR). 2010. Disponível em: <http://atividaderural.com.br/artigos/5029a 0a07fc48.pdf>. Acesso em: 04 out. 2013. BACEN – BANCO CENTRAL DO BRASIL. FAQ Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Pronaf. 2011. Disponível m: <http://www.bcb.gov.br/?PRONAFFAQ>. Acesso em: 05 out. 2013. BATISTA, A. F. SIQUEIRA, B. S. NOVAES, J. F. FIGUEIREDO D. M. Estrutura de Capital: uma estratégia para o endividamento ideal ou possível. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO,XXV., 2005, Anais... Campina Grande: ABENGE, 2005. BNDES – BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO. Informações Gerais Sobre o Crédito Rural. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bnd es/bndes_pt/Navegacao_Suplementar/FA Q/bloco1.html#4>. Acesso em: 30 out. 2013. BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1995. BRASIL. Decreto Nº 1.946 de 28 de junho de 1996. Presidência da República Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre to/D1946.htm>. Acesso em: 05 out. 2013. BRASIL. Lei n° 4.829, de 5 de novembro de 1965. Presidência da República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L 4829.htm>. Acesso em: 03 out. 2013. BERTUCCI, J. L. O. Metodologia básica para elaboração de trabalhos de conclusão de cursos. São Paulo. Atlas, 2009. CASTRO, E. R. Crédito rural e oferta agrícola no Brasil. Viçosa: Universidade de Viçosa, 2008. CHENG, A.; MENDES, M. M. A Importância e a responsabilidade da gestão financeira na empresa. Caderno de Estudos nº 01, São Paulo, FIPECAFI – Outubro/1989. CREPALDI, A. S. Administração Rural: uma abordagem decisorial. Belo Horizonte: Organizações Crepaldi, 1994. COPETTI, L. D. Fatores que dificultam o acesso dos agricultores familiares às políticas de crédito rural. 2007. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Rural) Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GIMENES R. M.T, GIMENES. F. P, GOZER I. C. Evolução do crédito rural no Brasil e o papel das cooperativas agropecuárias no financiamento dos produtores rurais In: XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2008. Rio Branco. Anais... Rio Branco: SOBER, 2008. GITMAN, L. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. GUANZIROLI, C. E. PRONAF dez anos depois. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 45, n. 2, p. 301-328, abr/jun. 2007 HOJI, M. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 2004. MARTINS G.B. Produção familiar e crédito rural em Ibiporã-PR. Londrina, 2006. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/ arquivos/File/2010/artigos_teses/GEOGR Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 63 Silva e Souza (2014) AFIA/Teses/Martins_Geraldo_B_Me_2006 .pdf >. Acesso em: 03 out. 2013. MATA M. Crédito rural. Rio de Janeiro: FGV, 1982. NUNES, S. P. O crédito rural do Pronaf e os recentes instrumentos de política agrícola para a agricultura familiar. Deser Boletim Eletrônico, n. 156, p. 1-10, fev. 2007. Disponível em: <http://www.deser.org.br/documentos/ima gem/Pronaf.pdf>. Acesso em: 05 out. 2013. ROBBINS. S. P. Fundamentos do Comportamento Organizacional. 7. ed. São Paulo: Pearson, 2004. SCHNEIDER S. SILVA, M. K. MARQUES, P. E. M. Histórico, caracterização e dinâmica recente do Pronaf. In: SCHNEIDER, S.; SILVA, M. K.; MARQUES, P. E. M. (Org.). Políticas públicas e participação social no Brasil rural. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, p. 2149, 2004. SECRETARIA DA AGRICULTURA FAMILIAR - SAF. Pronaf. 2013. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/portal/saf/program as/pronaf>. Acesso em: 05 out. 2013. SOUZA J. M. P; VALENTE JÚNIOR A. S. Análise das liberações dos recursos do Pronaf. In: CONGRESSO SOBER, 44, 2006, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SOBER, 2006. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 48-63, Janeiro-Julho, 2014. 64 RHODES et al (2014) A UTILIZAÇÃO DO JOGO QUEBRA-CABEÇA PARA O ENSINO DE GEOMETRIA Fabiana Da Penha Rhodes1,Carlos Vinícius De Azevedo Pereira2, Lidiane Hott De Fúcio Borges3 1 Professora da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – MG(FACIG). Graduada em Física dos Materiais pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Mestre em Engenharia de Materiais pela Rede Temática em Engenharia de Materiais (REDEMAT/UFOP) 2 Aluno do Curso de Licenciatura em Matemática da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu (FACIG)- MG. 3 Professora e Coordenadora do Curso de Licenciatura em Matemática da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – MG (FACIG). Graduada em Matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Marcelina de Muriaé – MG (FAFISM). Pós Graduada em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras – MG (UFLA). Mestre em Engenharia e Ciências dos Materiais pela Universidade Estadual Norte Fluminense – RJ (UENF). RESUMO Neste artigo, é possível visualizar as dificuldades tanto no ensino quanto na aprendizagem da disciplina de geometria na vida escolar dos alunos. Procura-se também demonstrar que a aprendizagem dos alunos pode variar de acordo com o ambiente escolar e com os métodos de ensino utilizados pelo professor em sala de aula. Portanto, o apontamento dessas dificuldades encontradas tanto pelo educador, quanto pelo educando, no quesito ensino e aprendizagem da geometria, serve para apontar e buscar as melhores formas de se transmitir e captar os conteúdos dessa tão importante matéria. Para a coleta de dados foram utilizadas dados documentais, entrevistas, observação direta e a aplicação de questionários aos alunos e professores. Posteriormente, foi possível observar que os métodos tradicionais de ensino não são suficientes para se possibilitar uma aprendizagem significativa dos alunos, no entanto, utilizando-se o jogo de quebra-cabeça, notou-se que essa metodologia é viável com relação ao ensino. Palavras-chave: Geometria, ensino, aprendizagem, jogo. ABSTRACT In this article, it is possible to view the difficulties both in teaching and in learning the discipline of geometry in the school life of students. It is also demonstrated that the learning of students may vary according to the school environment and the teaching methods used by teacher in the classroom. Therefore, these difficulties encountered by the teacher and by the student in question to the teaching and learning of geometry, serve to point and seek better ways to transmit and capture the contents of this very important subject. Documentary evidence, interviews, direct observation and questionnaires to students and to teacher were used for data collection. Later, it was observed that the traditional teaching methods are not enough to enable a meaningful learning of students, and using the puzzle game, it was noticed that this methodology is feasible in relation to teaching. Keywords: Geometry, teaching, learning, game. 1. INTRODUÇÃO Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 64-70, Janeiro-Julho, 2014. 65 RHODES et al (2014) A geometria está presente no cotidiano: nas construções, embalagens, brinquedos, quadras de esportes etc., sendo que várias vezes através dela é possível se observar o espaço, localização e melhor ocupação de objetos. O papel da geometria é de extrema importância no ensino, pois ativa as estruturas mentais na “passagem de dados concretos e experimentais para os processos de abstração e generalização; é tema integrador entre as diversas partes da Matemática, sendo a intuição, o formalismo, a abstração e a dedução constituintes de sua essência” (FILLOS, 2011, p.2). Mas, apesar da grande importância, a geometria vem sendo pouco estudada nas escolas, o que gera muitas dificuldades no ensino e aprendizagem dos alunos. Busca-se, portanto, detectar quais são as maiores dificuldades apresentadas pelo professor e, também, pelos alunos, de modo a estimular os educadores a buscarem melhores didáticas e metodologias de ensino, apresentando o jogo de quebra-cabeça, para que, assim, o educando venha a desenvolver uma aprendizagem significativa em relação à matéria lecionada. 2. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada no Colégio América do Sul, particular, sistema de ensino Objetivo, situada na Avenida Getúlio Vargas, nº. 733, cidade de Manhuaçu (MG), onde foi selecionada a sala do 6º ano, do ensino fundamental. Os estudos foram realizados, observando-se a situação da escola, visando a “identificar, descrever e analisar” (BERTUCCI, 2009, p.60), questões relativas à turma em análise, de modo a apontar questões relevantes e melhorias para a mesma. A pesquisa realizada foi exploratória, coletando dados e analisando o material relativo ao conteúdo do presente projeto. Para a coleta de dados dessa pesquisa, foram utilizados: coleta documental, entrevistas com os alunos e o professor, observações diretas das aulas, questionários para o professor e os alunos e o jogo de quebra-cabeça. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O Processo Ensino-Aprendizagem na Geometria O ensino envolve uma série de atividades organizadas pelo professor e pelos alunos, cujo objetivo é alcançar determinados fins. Segundo Libâneo (1994, p. 78), “a atividade de ensinar é vista, comumente, como transmissão da matéria aos alunos, realização de exercícios repetitivos, memorização de definições e fórmulas”. Entretanto, apesar do ensino abranger a assimilação de conhecimentos, isso apenas não basta. É necessário que o professor realize outras tarefas, como, explicar a matéria, puxar dos alunos conhecimentos que já dominem e estimulá-los na ânsia de conhecer conteúdos novos. A aprendizagem envolve conhecimento, assimilação mental dos fatos e fenômenos que ocorrem a nossa volta. Libâneo (1994, p.84) afirma que “a aprendizagem é uma relação cognitiva entre o sujeito e os objetos de conhecimento”. Portanto, ela está ligada ao ensino, estando presentes nessa relação de ensino-aprendizagem diferentes metodologias que o professor pode usar para facilitar o seu trabalho, como também possibilitar a aprendizagem do aluno de diferentes formas. A Geometria era considerada como uma disciplina sem muita importância, entretanto, essa ideia retrógrada tem se modificado e, hoje, é considerada como uma disciplina que desenvolve o raciocínio e, a esse respeito, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) afirmam o seguinte: Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo de Matemática no ensino fundamental, porque, por meio deles, o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 64-70, Janeiro-Julho, 2014. 66 RHODES et al (2014) mundo em que vive (BRASIL, 1998, p.51). As dificuldades encontradas no ensino da geometria, parte principalmente do não entendimento dos conceitos e conteúdos que a envolvem e, muitas vezes, da falta de domínio do professor a respeito da disciplina, que num dado momento de sua vida escolar não teve a introdução, a base necessária por esse ramo da matemática, (MARTINS, 2008, p.30). Posterior a essas questões, nota-se ainda, que a Geometria é colocada sempre em segundo plano, sendo colocada como matéria complementar, e de maneira fragmentada, nas séries iniciais. Para os alunos, num primeiro momento, estudar geometria não faz sentido algum, haja vista que as formas utilizadas pelo professor não fazem nenhuma relação com objetos da realidade. Nota-se que o aluno constrói o espaço através de interpretação, interação com o meio e manipulação, sendo que as imagens mentais que são criadas por eles interferem na visualização geométrica dessas imagens (FAZZA, 2008). Dessa forma, é necessária a interferência do professor, não apenas com a utilização da explicação, mas é necessário também que se utilizem métodos e materiais que possibilitem a ligação da realidade sociocultural do aluno com a geometria, de modo que este venha a aprender geometria de maneira significativa, levando em conta o conhecimento que o aprendiz já possui e o interesse do docente pelo conteúdo, pela aula e, impreterivelmente, o domínio da disciplina. 2.2. Metodologias e Estratégias de Ensino Ensinar exige a combinação de atividades tanto dos professores quanto dos alunos, pois sob a direção do docente, os alunos vão adquirindo e desenvolvendo suas capacidades mentais de maneira progressiva. Essa direção envolve o planejamento, desenvolvimento de aulas, conteúdos, métodos de maneira a organizar o ensino e garantir uma aprendizagem significativa. Os métodos de ensino se ligam a métodos de aprendizagem e podem ser classificados da seguinte forma, Libâneo (1994): Método de exposição pelo professor: neste método o professor procura explicar, expor o conteúdo para os alunos, que ficam na posição de receptores da informação. É um dos métodos mais usados nas escolas, mas é bastante criticado por não levar em consideração a atividade do aluno; Método de trabalho independente: este método consiste em tarefas realizadas pelos alunos, sob a direção e orientação do professor. Segundo Libâneo (1994, p.163), “o trabalho independente pressupõe determinados conhecimentos, compreensão da tarefa e do seu objetivo, o domínio do método de solução, de modo que os alunos possam aplicar conhecimentos e habilidades sem a orientação direta do professor”; Método de elaboração conjunta: esse método procura interagir o professor e o aluno, com a finalidade de obter novos conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções. Para Libâneo (1994, p.167), esse método, “faz parte do conjunto das opções metodológicas das quais pode servir-se o professor”, aplicando-se em vários momentos do desenvolvimento da unidade didática; Método de trabalho em grupo: este método consiste na distribuição de temas de estudo em grupos, sejam estes iguais ou diferentes, compostos de 3 a 5 alunos. Esse método tem caráter eventual, e deve ser usado conjugando-se o mesmo com outros métodos. A finalidade está ligada em obter a cooperação dos alunos entre si na realização de uma determinada tarefa, sendo necessário que todos pertencentes ao grupo, estejam familiarizados com o tema; Atividades especiais: são “atividades que complementam os métodos de ensino e que concorrem para assimilação ativa dos conteúdos” (LIBÂNEO, 1994, p.170), como, por exemplo, o estudo do meio, museu escolar, teatro etc. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 64-70, Janeiro-Julho, 2014. 67 RHODES et al (2014) Sendo assim, têm-se diversos métodos de ensino, meios que possibilitam que a aprendizagem do aluno, seja desenvolvida através de materiais e recursos utilizados pelo professor, envolvendo nesses meios, todos os já citados anteriormente, ou outros como, o quadro negro, slides, filmes, figuras, gravuras, gráficos, jogos etc. O professor quando for planejar suas aulas, pode desfrutar de várias metodologias que irão ajudar no ensino e na assimilação do conteúdo pelo aluno. Além dos métodos tradicionalmente usados nas escolas para o ensino da matemática, têm surgido novas tendências com o uso da etnomatemática. A etnomatemática, parte do pressuposto de se usar os valores socioculturais possuídos por cada aluno, o ambiente em que vive e o conhecimento que já possui (JÚNIOR, 2006). Como exemplo, tem-se os jogos de quebra cabeça propostos nesse trabalho, em que se utilizam de figuras geométricas para identificar e montar as figuras corretas, dessa forma, as crianças irão memorizar as figuras como o círculo, o triângulo, o quadrado, o retângulo, o trapézio e o pentágono. 4. DISCUSSÃO As aulas de geometria, no 6º ano do ensino fundamental do Colégio América do Sul, foram observadas nos meses de fevereiro e março. Foram observadas as metodologias usadas pelo professor dentro da sala de aula, além da análise do comportamento dos alunos em relação ao conteúdo ministrado e o processo de assimilação das informações repassadas pelo professor. A princípio, observou-se que alguns alunos possuíam mais facilidades que outros para desenvolverem o aprendizado da matéria lecionada. A turma em análise é um pouco hiperativa, o que, possivelmente, pode atrapalhar na concentração e atenção dos mesmos, dificultando o desenvolvimento cognitivo em relação à geometria. Observou-se, também, que o professor está apto a ensinar o conteúdo ministrado, sabendo argumentar e repassá-lo para a turma em questão. Entretanto, notou-se que a classe possui dificuldade para desenvolver o raciocínio, o que causa atraso no ensino, pois o professor necessita de várias aulas para tentar ensinar o conteúdo àqueles que não conseguiram aprender. Isso demonstra que o método tradicional de ensino, por si só, não é suficiente para produzir um aprendizado rápido e eficaz, sendo necessário incrementar a este método outras metodologias capazes de aguçar a atenção dos alunos e utilizar toda essa hiperatividade na produção de conhecimento pessoal em relação à disciplina. Na observação das aulas, foi possível verificar a qualidade do ensino do professor, como se dá a aprendizagem do aluno, e se o mesmo usa novos métodos em sala de aula, além de observar o nível de atenção dos alunos e interesse dos mesmos. Sendo assim, apesar do professor possuir uma boa didática, sabendo explicar e repassar o conteúdo, acaba encontrando um obstáculo muito grande nesse percurso, que é a falta de atenção dos alunos. Dessa forma, são poucos os alunos realmente concentrados nas aulas e interessados em aprender, além disso, conta-se com aqueles que possuem certo nível de dificuldade, reduzindo, dessa forma, a quantidade de alunos com uma aprendizagem significativa. No questionário aplicado ao professor, este foi indagado a respeito do seu interesse pelo ensino da geometria, se procura motivar seus alunos com novos métodos de ensino, se ao mesmo tempo em que ensina também percebe a aprendizagem dos alunos e as dificuldades dos mesmos. Em relação à resposta do professor, este se mostrou motivado a ensinar geometria utilizando novos métodos, ainda que de maneira restrita, para incentivar seus alunos, haja vista que o tempo não é suficiente para utilizá-los de maneira constante, em virtude do cronograma de aula que tem de ser cumprido. Quando essas aulas são ministradas, o professor percebe que a Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 64-70, Janeiro-Julho, 2014. 68 RHODES et al (2014) aprendizagem dos alunos fica em uma escala boa. O professor se mostrou inteiramente dedicado e motivado a ensinar a geometria, mesmo sabendo que muitos obstáculos são encontrados em razão de ser considerada uma matéria difícil. Segundo o docente, os alunos reagem de uma boa maneira quando sabem que irão estudar geometria, apesar do desempenho de alguns serem baixos. Nesse aspecto, quando apresentam dificuldades, o professor procura sempre auxiliá-los em relação às dúvidas e à assimilação do conteúdo repassado em sala de aula. Com relação ao questionário apresentado aos alunos da sala do 6º ano do ensino fundamental, estes foram indagados a respeito das seguintes questões: se gostam de geometria e do professor que ministra as aulas; se se sentem motivados a estudar geometria, inclusive pelo professor; se consideram ser bons alunos na área da geometria e se há auxilio do professor quando precisam. Em contrapartida a esses questionamentos, a maioria dos alunos respondeu que gosta de estudar geometria e do professor que leciona a disciplina. Responderam ainda, que se sentem motivados a estudar geometria, sendo, inclusive, incentivados pelo professor a se dedicarem aos estudos. Com relação ao auxílio do professor aos alunos, a pesquisa se mostrou positiva neste quesito, demonstrando que existe dentro de sala um bom relacionamento entre professor e alunos o que pode auxiliar na aprendizagem. Levando em consideração que os alunos do 6º ano do ensino fundamental possuem entre 11 e 12 anos de idade, o que significa que a fase de criança ainda é bem recente, com relação a brincadeiras, diversões etc, os jogos se mostram como uma boa metodologia para incrementar a aprendizagem e tornar o estudo da geometria bem mais divertido e prazeroso. Entretanto, a utilização desse recurso metodológico, não é tão fácil como parece. Para que tenha realmente resultado, é necessário que o professor esteja atento e preparado para ensinar tanto a parte teórica como a prática em sala de aula, o que é capaz de despertar o interesse do aluno e levá-lo a aprender o conteúdo ministrado (PUPIO e CARVALHO, 2011). A composição do quebra-cabeça é baseada em somas, divisões e multiplicações. Partindo dessa vertente, os alunos tinham de fazer as operações e chegar aos resultados para conseguir montar o quebra-cabeça. O intuito da utilização desse jogo foi despertar o raciocínio do aluno para resolver as operações matemáticas e ao mesmo tempo instigá-los a respeito das formas geométricas formadas à medida em que se encaixavam as peças do quebracabeça. Depois de tudo montado, as peças formavam um paralelogramo. Partindo do princípio que a brincadeira é própria da criança, a utilização do jogo de quebra-cabeça se mostrou bastante satisfatório, porque mesmo aqueles alunos que não gostam de geometria, se interessaram em montálo. Foi perceptível que a utilização de jogos, como método de ensino, é capaz de fazer com que a aprendizagem da criança seja bem mais prazerosa, pois os jogos, ao mesmo tempo em que podem ser considerados métodos de ensino, também são brincadeiras, sendo “desejável conciliar a alegria da brincadeira com a aprendizagem escolar” (SILVA e KODAMA, 2004, p.3). Podemos concluir que na aplicação do jogo de quebra-cabeça, na sala do 6º ano do ensino fundamental, o mesmo se mostrou satisfatório, envolvendo a grande maioria dos alunos, que curiosos, procurava participar e resolver as questões matemáticas contidas nas figuras geométricas até completar toda a figura. Através da entrevista, foi perguntado ao professor se ele tem utilizado constantemente novas metodologias para o ensino da geometria em suas aulas, no 6º ano do ensino fundamental, e a resposta foi negativa. A explicação para a referida resposta do professor foi no sentido de que ele somente possui o tempo de 50 minutos de Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 64-70, Janeiro-Julho, 2014. 69 RHODES et al (2014) aula disponíveis para trabalhar com os alunos e, somente uma aula durante a semana. Dessa forma, não existe tempo suficiente para trabalhar com constantes métodos novos. O docente detalhou ainda, que utiliza alguns poucos métodos, porque a forma de trabalhar acaba sendo muito corrida, tendo em vista que o mesmo possui um cronograma a ser cumprido, durante o ano letivo, não possuindo tempo suficiente para aplicar sempre, em sala de aula, métodos ativos que utilizem novas metodologias. Com relação aos alunos, foram realizadas entrevistas com alguns escolhidos aleatoriamente. Questionados se gostam de aprender com metodologias diferentes, as respostas dos alunos foram unânimes, responderam que sim, pois trata-se de uma forma que é usada para estimular a aprendizagem fazendo com a atenção seja mantida na disciplina. Sobre a utilização do jogo, todos gostaram do jogo de quebra-cabeça que foi aplicado em sala de aula. Isso demonstra a viabilidade do método e a aceitação do mesmo pelos alunos, podendo gerar, se utilizado com frequência, uma aprendizagem significativa do conteúdo. 5. CONCLUSÃO A presente pesquisa teve como objetivo fundamental visualizar as dificuldades no ensino e na aprendizagem da geometria e, a partir dessa constatação, poder implantar uma nova forma que apresente resultado melhor. Nesse aspecto, nota-se que a tarefa do professor é demasiadamente grande, em virtude de que o seu papel não está somente ligado a transmitir um determinado conteúdo, mas sim, saber aplicá-lo de maneira a estimular a aprendizagem dos alunos, de modo a estabelecer o elo entre a escola e a vida cotidiana. Levando em consideração o tema da presente pesquisa, pode-se observar que o estudo da geometria, inicialmente, não é bem visto, pois muitos professores apenas se utilizam de métodos explicativos (quadro e caderno), não utilizando metodologias que agucem o interesse do aluno, fato que os deixa os discentes desmotivados e sem interesse. O período de aula tradicional, que são 50 minutos, não é suficiente para a utilização de novos métodos, sendo necessário para uma boa aprendizagem e um bom ensino, um período maior de aula, capaz de fazer com que os alunos fixem o conteúdo. O professor avaliado é defensor das novas metodologias no ensino da geometria, entretanto, não encontra estrutura no ambiente educacional para aplicá-las, ainda mais se analisarmos o curto tempo de apenas 50 minutos para cada aula, o que não é suficiente, surgindo, a partir daí, algumas dificuldades para ensinar geometria, pois existe também a questão da hiperatividade dos alunos, que não prestam atenção às aulas e, consequentemente, aos conteúdos ministrados acabando assim sendo prejudicados por atraso no ensino da matéria. Com relação aos alunos, as dificuldades encontradas dizem respeito ao grande cronograma que o professor tem de cumprir, tendo este que acelerar o ritmo da aula para cumpri-lo, o que, em parte, é prejudicial para os alunos. Mesmo com alguns fatores negativos enfrentados pelo professor, este se mostrou apto a ensinar, buscando sempre instigar o aluno ao questionamento, desenvolvendo o interesse no mesmo pelo conteúdo lecionado, usando, ainda que em baixa escala, alguns métodos novos para promover o ensino para os alunos. Observou-se ainda que a escola em si, tem se preocupado em adotar novas medidas para melhorar o ensino e a aprendizagem dos alunos, como, por exemplo, a feira de robótica, ressaltando ainda, que os alunos são adeptos a esse tipo de iniciativa por parte do colégio, conforme observado em entrevista. Portanto, nota-se que a utilização de jogos como métodos de ensino, devem ser usados pelos professores, pois se mostram como uma metodologia que em junção com outras técnicas pode proporcionar um resultado satisfatório ao ensino e aprendizagem da geometria. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 64-70, Janeiro-Julho, 2014. 70 RHODES et al (2014) 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTUCCI, Janete Lara de Oliveira. Metodologias Básica para Elaboração de Trabalhos de Conclusão de Cursos de TCC de Pós -Graduação Latu Sensu. 1.ed. São Paulo: Atlas, 2009. BRASIL, Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática/ Secretária de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. FAZZA, Ana Karina. O Ensino da Geometria Nas Séries Iniciais: Retratos de Uma Sala de Aula. 2008. FILLOS, Leoni Malinoski. O Ensino da Geometria: Depoimentos de Professores que Fizeram História. 2011. JÚNIOR, Gilberto Chieus. Etnomatemática: reflexões sobre a prática docente. RIBEIRO, José Pedro Machado; DOMITE, Maria do Carmo Santos; FERREIRA, Rogério (orgs). Etnomatemática: papel, valor e significado. Porto Alegre: RS:Zouk, 2006. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. MARTINS, Leocádia Figueredo. Motivando o Ensino da Geometria. 2008. PUPIO, Shirlene Aparecida Sonni; CARVALHO, Ana Márcia Fernandes Tucci de. A Aprendizagem de Geometria por meio de Jogos Matemáticos. 2011. SILVA, Aparecida Francisco da; KODAMA, Helia Matiko Yano. Jogos no Ensino da Matemática. 2004. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 64-70, Janeiro-Julho, 2014. 71 SOUZA (2014) OPERAÇÃO FRONTEIRA: UM RECORTE NA HISTÓRIA DO CINQUENTENÁRIO 11º BPM – MANHUAÇU - MG José Carlos De Souza¹ 1 Mestre em Administração, Coordenador e Professor do Curso de Administração da FACIG; Cel PM QOR (Quadro de Oficiais da Reserva), incluído na PMMG em 10 Jun 1972, no 11º BPM, com uma carreira de Soldado a Coronel, sendo ex-Comandante dos 11º BPM – Manhuaçu – MG e 28 BPM – Unaí – MG, Bacharel em Ciências Militares (CFO – Curso de Formação de Oficiais da PMMG); Administração e Direito, Especialista em Gestão e Tecnologia pela Qualidade pela Fundação CEFETMINAS e em Ciências Jurídicas pela Universidade Cruzeiro do Sul - SP, Mestre em Administração pela Fundação Pedro Leopoldo. Resumo: O presente artigo analisa o desenvolvimento da “Operação Fronteira” na PMMG (Polícia Militar do Estado de Minas Gerais), num recorte histórico da evolução daquela Unidade Operacional – 11 BPM, demonstrando uma visão sobre a sua implementação, resultados e a sua inserção no contexto da criminalidade e a sua repressão na década de noventa. A Unidade Operacional da PMMG vivia um momento de grandes realizações, por força de um esforço de comando voltado para resultados com qualidade, denominado “Padrão 11 de Qualidade”, quando todos os esforços eram voltados para a busca constante da redução dos indicadores de violência, além de buscar entronizá-la no rol das melhores unidades de polícia do estado. Palavras-chave: Operação fronteira, criminalidade organizada, índices de violência e operacionalidade Abstract: This article analyzes the development of "Operation Border" in PMMG (Military Police of Minas Gerais), a historical view of the evolution of that Operating Unit - 11 BPM, demonstrating a vision on its implementation, results and their integration in the context of crime and its repression in the nineties. The Operating Unit PMMG lived a moment of great achievements, under the command of an effort toward quality results, called "Quality Standard 11" when all efforts were focused on the constant quest to reduce the indicators of violence, besides seeking to enthrone it in the list of the best units of the state police. Keywords: Border operation, organized crime, crime rates and operability. 1. INTRODUÇÃO Era 1989, década de 80. Esta década constituiu-se num ambiente propício ao desenvolvimento da violência em razão das profundas mudanças sociais provocadas ou consequentes do fim do paradigma do estado do bem-estar social, welfare state, que tinha como proposta essencial a garantia do bom funcionamento do mercado e a defesa dos direitos dos cidadãos na saúde, educação e alimentação. As diversas crises culminadas com a crise do petróleo dos anos 70 e 80, que provocaram a reestruturação produtiva com a implementação do neoliberalismo e suas consequências, instalando uma grande comoção social com lutas estudantis, precarização do trabalho e do emprego. No Brasil, aliado ao contexto mundial, ainda existia os ingredientes do recém-acabado estado de exceção do período revolucionário de 1964, com o advento das lutas operárias, com a aceleração da inflação e ainda com os Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014. 72 SOUZA (2014) arrogos de liberdade, que levaram a decisões políticas, que acabaram aprofundando um ambiente de violência, tendo a criminalidade se tornado uma estratégia de sobrevivência num primeiro momento (VIANA, 2006). Atônita a sociedade via crescer a criminalidade e assistia um estado com pouco poder de reação, quer seja pela incapacidade estrutural provocada pelas consequências do fim do estado do bemestar social com o início do estado neoliberal, que inaugurava a chamada década perdida, quer pela conjuntura ensejada pela impunidade. Para fazer face à situação, que se apresentava caótica, as organizações policiais formularam e implementaram estratégias de enfrentamento como as operações orientadas para os resultados preconizadas pelo modelo profissional de policiamento, conhecido como sistema de comando e controle (DIAS NETO, 2000), tais como as operações de prevenção e repressão contra assaltos a bancos, ônibus, taxis, motéis, de controle de veículos estranhos, desarmamento, etc. Dentre as inúmeras operações desencadeadas como reação das organizações policiais ao ambiente de criminalidade da época destaca-se a “operação fronteira”, que atingiu resultados significativos e muita visibilidade na história do cinquentenário do 11º BPM, o sentinela do Caparaó. 2. DESENVOLVIMENTO - OPERAÇÃO FRONTEIRA: A GÊNESE DE UMA IDÉIA 2.1 Uma nova realidade operacional A unidade se ressentia de afirmação no cenário que estava inserida, buscando se afirmar num contexto operacional recém-inaugurado, uma verdadeira transformação provocada pela operacionalização implementada na organização como um todo a partir do conceito de operações denominado de “Teoria das Malhas Protetoras”. A concepção operacional desenhada à época trazia como propostas essenciais a consolidação das atividades de polícia preventiva comunitária (primeiro esforço), ações de recobrimento através da execução de operações desencadeadas para fazer face à concentração indiciária de crimes, criminosos, vítimas e desorganização social, considerados locais de risco (segundo esforço), ações localizadas de surtos criminais e eventos diversos (terceiro esforço) e atuação específica e criteriosa de atuação contra o crime organizado (quarto esforço). Estes esforços superpostos constituiriam as chamadas malhas protetoras que garantiriam a preservação da ordem pública (ALMEIDA, 1987; ESPÍRITO SANTO e MEIRELES; 2003). O 11º BPM, unidade estrategicamente situada no entroncamento de duas vias de grande fluxo de bens e pessoas, as BR 116 e 262, ainda exortava a sua participação nos eventos militares de prisão de componentes de uma célula de guerrilheiros no Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó. A identidade operacional do Batalhão, embora constituída por bravos e comprometidos policiais ainda estava sendo desenhada, os efeitos da reação das organizações de defesa social das cidades de grande porte ao crescimento organizado e violento da criminalidade já se faziam sentir com a migração da criminalidade para o interior. Em virtude da interiorização da criminalidade violenta e da localização da Unidade estava latente a angústia de seus componentes com a situação fática vivenciada, do rápido desenvolvimento do conceito operacional das malhas protetoras em outras unidades e, acima de tudo, da necessidade de afirmação no contexto. Acabara de assumir o Comando o primeiro oficial de origem do 11º BPM, o então Tenente Coronel o Ubiraci Ribeiro de Souza, que por força do estágio de seu Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014. 73 SOUZA (2014) amadurecimento já contava com vários oficiais nesta condição. O 11º BPM denominado “Sentinela do Caparaó” já estava na ocasião com vinte e seis anos. Aquele oficial cheio de sonhos, com uma visão estratégica voltada para o desenvolvimento de um ambiente de qualidade, contando com a parceria dos oficiais, que tinham maior comprometimento com a Unidade, não entendendo que os outros oficiais oriundos de outras regiões não eram sérios e comprometidos, mas que o fator satisfação no trabalho está relacionado à integração da família, das condições ambientais dentre outros, fatores que acabavam por provocar uma grande rotatividade de oficiais, gerando uma constante solução de continuidade em todos os programas desenvolvidos, iniciou uma grande arrancada rumo à afirmação do 11º BPM. A partir desta proposta bem sucedida de Comando daquele oficial iniciou-se a busca pela eficácia operacional alinhada com o momento vivenciado pela PMMG, que, conforme modelo em ação desenvolvia a estratégia das “Malhas Protetoras” (ALMEIDA, 1987), gestada num propósito grandioso de planejamento estratégico, contando, então, com um estado maior (staff) constituído de oficiais de origem da própria unidade, que pela grandiosidade da equipe merece ser citada: Cel PM Geraldo Alves de Oliveira; Cel PM Tarcício Machado de Alcântara; Cel PM José Pedro de Assis; Cel PM Rômulo Berbert Diniz; Cel PM José Carlos de Souza; Cel PM Aéliton Pontes Matos; Cel PM Geraldo Henrique G. da Silva; Cel PM Carlos Augusto de Assis; e Ten Cel PM José Alves de O. Sobrinho A equipe era completada por uma oficialidade competente e por uma valiosa tropa de Subtenentes e Sargentos e Cabos e Soldados. Vivia-se uma verdadeira profusão de ideias, eventos e atividades como jamais teria ocorrido naquela Unidade Operacional de Polícia Militar e talvez na maioria das unidades do interior do estado. No dizer do então Comandante da Unidade tratava-se de um verdadeiro “alinhamento de planetas”, que só seria possível devido ao nível da oficialidade, que ele chamava de “equipe dos sonhos”, merecendo ser evidenciadas aquelas atividades que chamavam a atenção de toda “Corporação de Tiradentes”: Grêmio Tiradentes – grêmio cultural e educativo, que congregava os filhos dos militares, numa proposta bem sucedida de endomarketing; Clube das Mulheres – entidade presidida pela primeira dama do Batalhão, que reunia as esposas dos militares em atividades complementares de ação social, com retorno significativo para os resultados organizacionais; Programa Patrulha Policial – programa de radiodifusão (apresentado na Rádio Manhuaçu – AM), que apresentava e discutia as principais ocorrências policiais, apresentava orientações de polícia preventiva e que criou uma grande interação com a população em geral; Comando Educativo Antidrogas – programa de prevenção e educação contra o uso e abuso de drogas, que desenvolvia palestras em escolas e associações comunitárias, alertando as famílias contra este flagelo da humanidade; Instrução anual à distância – modelo de instrução desenvolvido pela Unidade a partir da orientação do Estado Maior da PMMG, que criou um verdadeiro ambiente de estudo no 11º BPM, contando com uma biblioteca profissional em cada fração até o nível de Destacamento e Subdestacamento, menores unidades em que se subdivide a articulação territorial da PMMG, distribuição de apostilas com todos os temas definidos no plano anual Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014. 74 SOUZA (2014) de instrução da PMMG, com recolhimento trienal dos policiais para capacitação. Observa-se que em um dos primeiros concursos da PMMG, à época, para acesso aos diversos postos e graduação a unidade teve o maior índice de aprovação em toda a PMMG; (...) Outras inúmeras atividades... No segmento da operacionalidade, acredito que a verdadeira gênese da arrancada do 11º BPM rumo ao seu destino de grande unidade da PMMG foram as operações desenvolvidas para fazer face aos eventos de aniversário das cidades de Caratinga, Carangola, Inhapim, Manhuaçu e Ponte Nova no ano anterior (1988). A orientação de planejamento da operação foi no sentido de saturar o ambiente operacional com a presença de um grande número de policias, reduzindo as possibilidades de atuação de criminosos de ocasião. Entendendo que “em se tratando de eventos previsíveis a unidade não poderia ser surpreendida” afirmava o seu então Comandante Cel Ubiraci, o que permitiu a formulação de estratégias exitosas de redução da criminalidade muito comum naqueles momentos. As operações de policiamento para aqueles eventos foram desencadeadas com o recolhimento de policiais de várias frações de policiamento, com controle em estacionamentos, organização de patrulhas em shows e instituição de pontos de controles e vistoria de veículos nos principais acessos das respectivas cidades. Os resultados foram promissores: criminalidade reduzida, em especial os furtos de veículos, interceptação de veículos com apreensões de drogas, armas e até a prisão de fugitivos da justiça. Estas operações criaram ou consolidaram o entendimento que o estrangulamento de pontos específicos de fluxo de bens e pessoas era eficaz, passando a ser objeto de estudos a respeito pelo Estado Maior da Unidade (assessoria do Comando das Operações). Era a visão de um modelo de operação que viria a ser a “Operação Fronteira”. Os resultados eram relevantes sobre todos os aspectos oriundos das diversas operações, destacando-se dentre elas as seguintes: Operação de Prevenção e Repressão de Assaltos a Bancos; Operação Antidrogas; Operação Desarmamento; Operação Para-Pedro (Prevenção e Repressão a Assaltos a Taxis); Operação Desmanche (Furto de Veículos); Operação de Prevenção e Repressão de Assaltos a Ônibus; Operação Carga Pesada (Furto de Cargas); Operação de Vistoria de Veículos Estranhos; Operação de Prevenção e Repressão de Assalto a Motéis; (...) dentre outras. Naquele contexto e dentre as operações despontava a operação fronteira, que será discutida a seguir. 2.2 Uma Apoteose: A “Operação Fronteira” propriamente dita Conforme descrito anteriormente vivia-se na Unidade Operacional uma verdadeira profusão de ideias, conforme definido por Kaplan e Norton (2000), tratava-se da “estratégia em ação”, implementada pelo Programa de Gestão Pela Qualidade denominado “Padrão 11 de Qualidade”. Tudo era submetido a um check list, que por falta de visão acadêmica, apenas por isso, não foi submetido a um processo de Certificação, uma pena, pois hoje, seguramente seria certificado. Aliado ao ambiente exacerbado de liberdade, que por si só provocava alguns excessos, como o abuso de drogas ilícitas, por exemplo; as decisões de alguns governantes que impediram que os órgãos de defesa social realizassem Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014. 75 SOUZA (2014) incursões nos grandes conglomerados urbanos (favelas), percebia-se a nítida reação das Polícias Militares com a realização de grandes operações, provocando a migração da criminalidade e criminosos para o interior. A área de atuação do 11º BPM constituída de uma extensão territorial de 72 (setenta e dois) municípios, entrecortada por duas das maiores rodovias brasileiras a BR 116 e 262, limitando-se com os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, criando um ambiente de passagem com corredores que permitiam um fluxo muito relevante de bens e pessoas. Tomando como base os pontos de controle de acesso às cidades nas operações de policiamento dos aniversários das cidades citadas, os acessos aos estados vizinhos (fronteira), o crescimento da criminalidade violenta provocado pela intensificação das operações nos grandes centros, etc, criouse o conceito de operação, daquela que seria a atividade operacional com maiores resultados na história do 11º BPM. 2.3 O Conceito da Operação A partir de sua gênese, com resultados significativos, desenhou-se um Projeto de Operações, chegando-se à conclusão, que poderia estrangular vários pontos ao mesmo tempo com ênfase para a região limítrofe com os estados vizinhos nas fronteiras com o Estado de Minas Gerais, identificados como prioritários os acessos às cidades de Tombos, Espera Feliz, Martins Soares, Mutum e acrescentando outros pontos em Realeza (Distrito de Manhuaçu) no entroncamento das BR 116/262; Dom Cavati, na interseção da BR 166 e MG 458; Rio Casca no entroncamento da BR 262 com MG 329, fazendo um verdadeiro cerco à área do 11º BPM. As equipes de atuação seriam constituídas com efetivo padrão, sempre comandadas por oficiais e contando com policiais de melhor desempenho, adequadamente treinados e capacitados. Cada uma das guarnições contaria com um kit padrão, com viaturas, armamentos, equipamentos diversos (cordas, cones, lanternas, barracas, etc.). A qualidade de manutenção dos pontos de atuação seria garantida inclusive com uma linha de suprimento de alimentação da tropa (policiais empenhados na operação), evitando-se a solução de continuidade no desenvolvimento das operações e as consequentes perdas de eficiência. As autoridades com jurisdição sobre o espaço de atuação seriam comunicadas (delegados, patrulheiros rodoviários, médicos, guinchos, etc.) sobrepondo diversos esforços de apoio ao exercício da atividade. Todas as frações que se localizavam próximo aos locais de atuação permaneceriam de prontidão para apoiar as operações e ainda dispor equipes de patrulhamento nas vias de acesso ao referido ambiente. 2.4 A Hora da verdade: A grande operação (O Dia “D”) Ao final, definido o seu conceito, treinado o pessoal, criadas todas as condições de execução definiu-se o dia “D”. Todos ansiosos, o comando, a tropa, envolvidos na busca de resultados otimizados. Instalada a operação com a proposta de estrangulamento de 08 (oito) pontos de acesso às fronteiras da unidade estava implementada a “Operação Fronteira”, maior marco da operacionalidade do “Sentinela do Caparaó”, fechando as rodovias, parando o fluxo de veículos em todos os sentidos, fazendo incursões no entorno e intensificando as ações nas cidades vizinhas e os resultados não demoraram a surgir. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014. 76 SOUZA (2014) Em todos os locais foram registradas grandes apreensões de drogas, armas, produtos contrabandeados, cargas ilegais e ainda um grande número de prisões de marginais foragidos da justiça, além dos flagrantes alusivos àquelas apreensões. A PMMG acordou diferente naquele dia “D + 1”. A grande mídia noticiava o acontecimento, um fenômeno operacional sem precedentes. O Alto Comando da Corporação surpreendido com a ousadia da Unidade cobrava relatórios e transmitia elogios, uma verdadeira explosão de alegria, entrevistas, comentários, em fim: a operação nasceu grande, com resultados grandiosos, que ecoaram além das fronteiras do Estado. No decorrer de um bom tempo a operação foi realizada na Unidade e devido ao seu resultado espetacular o Estado Maior da PMMG, depois de aprofundada e competente análise encampou a operação ao nível de Estado, guardando o mesmo conceito e criando doutrina própria de emprego, dando forma de padronização das ações e aumentando a participação de todos os outros órgãos de defesa social. Os seus resultados continuavam expressivos, a tropa continuava comprometida e a criminalidade era contida em números de razoável aceitação, com uma redução significativa dos crimes violentos em todo Estado de Minas Gerais. Outras operações permitidas pela criatividade e compromisso da comunidade operacional foram desenvolvidas, as estratégias de emprego das unidades evoluíam e adaptavam-se à realidade sociocultural dos novos tempos, mas resta uma “saudade” palavra muito comum no vocabulário dos companheiros da caserna de outros tempos – o “praça velho”: igual à “Operação Fronteira” nunca se viu: resultados, mídia, policiais adentrando o pátio do 11º BPM perfilados em desfile da vitória, recebidos em continência, olhos marejados de lágrima. Uma verdadeira apoteose... 2.5 Resistência e o declínio de uma proposta Todos os processos, sistemas, segmentos ou fenômenos passam, necessariamente, por um ciclo de vida, uns mais longevos e outros nem tanto; uns mais e outros menos intensos. No caso da operação fronteira ela teve um ciclo de vida reduzido, situação muito comum nesta época de reorganização inserida com o fim do estado do bem-estar social (ROBSBAWN, 1995; BAUMAN, 2007), mas foi muito intensa nos resultados e ensinamentos que ensejou. Os primeiros sinais de seu esmaecimento surgiram com a padronização de sua frequência, com a intensidade de sua realização, perdendo um de seus aspectos relevantes, que é a surpresa, situação ou postulado estratégico que vem sendo utilizado por todos os concorrentes em todos os tempos (TZU, 0500 a.C.). Outro aspecto significativo na fadiga do processo foi a consolidação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) como órgão responsável pela preservação e manutenção da segurança nas rodovias, que avocou as suas competências e passou a requerer a solicitação de sua anuência, vinculando a realização das operações a sua disponibilidade de acompanhamento das operações. Aliado a estes aspectos ou situações, que certo modo foram inibidores dos seus resultados e a operação entrou em seu estado de entropia e, agonizante, foi substituída por outras alternativas operacionais. Além desses fatores redutores elencadas era crescente a resistência filosófica e conceitual a respeito das grandes operações destacando-se dentre eles os policiólogos (ALMEIDA, 1987; SKOLNICK e BAYLEY, 2006), que já alertavam para a necessidade de cuidados com o enquadramento da população, com a realidade cultural Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014. 77 SOUZA (2014) diferente (ESPIRITO SANTO e MEIRELES, 1988) e com a Teoria dos Alvos (ESÍRITO SANTO, 1985), todos orientando para as ações de recobrimento, para a prática de ações orientadas para comunidade e, em última análise, para a realização de “operações cirúrgicas”, evitando-se a massificação da atuação policial de restrição das liberdades individuais. Ainda deve e pode ser citada a resistência natural a estas ações de limitação da cidadania aguçadas por estudiosos e líderes de todos os matizes sociais: Alguns governantes com suas manobras fisiológicas, que recomendaram ou impediram a entrada de forças policiais nos conglomerados ou favelas, por considerarem que as operações enquadravam a população, certo modo, sinalizando para organizações criminosas, daquela época em seu nascedouro, que elas podiam se instalar, tranquilamente, naqueles ambientes (PORTAL POWER, 2013). Líderes religiosos em homilias eloquentes bradavam contra a investidura operacional que enquadra a população dita de excluídos, sendo representante deste segmento o reverendo Butts, apud Cavalcanti (2004), que repudiando o modelo de “Tolerância Zero”, implementado em Nova Iorque (NY) por Giuliani (2002), que usou até um texto bíblico para sustentar os seus argumentos: Houve um homem chamado Josias que se tornou Rei. Andavam vasculhando destroços e encontraram os livros da lei, que disse: ‘É isso que para todos efeitos devíamos estar fazendo?’ E ele percorreu o mundo. Parou em todos os templos dos deuses estrangeiros e mandou os sacerdotes que não queriam submeter-se ao Deus único. Foi uma coisa brutal, horrível, mas ele restaurou a ordem, a paz e a lei na terra. Ele entrou para os anais dos Segundos Reis como um dos maiores reis. Wacquant (2004), estudioso da sociologia prisional, referindo-se a este sistema afirma que ele se presta a encarcerar “os miseráveis”, consolidando o que chamou de “estado policial”, investindo contra as ações policiais de controle da criminalidade. Trata-se de um paradoxo organizacional investir em ações de controle ou em ações orientadas para a comunidade? Uma dicotomia que resiste a evolução da atividade policial em sua história e que deveria levar a sociedade como um todo à reflexão: agir ou não de forma massificada, controlando liberdades em defesa de valores maiores. E assim chegou ao final a “Operação Fronteira”, um recorte especial dos cinquenta anos de história do “Sentinela do Caparaó” (11º BPM), deixando o ensinamento, que é possível fazer polícia de qualidade, desenvolver estratégias competitivas, que carregam em seu âmago a competência essencial definida por Hamel e Phrahalad (1999), indo além da demanda com soluções inovadoras e que encantam os clientes sejam internos (policiais) ou externos através da sensação de segurança provocada pela emergência das estratégias (KIM e BAUBORGNE, 2005). 3. CONCLUSÃO O desempenho alcançado pela “Operação Fronteira”, posteriormente, denominada “Operação Corrente”, quando foi redesenhada pelo Estado Maior da PMMG, foi muito relevante em virtude, principalmente, da sua inovação, criatividade e do compromisso com os resultados dos policiais empenhados em sua implementação. Ficava nítido o envolvimento do Comando, Oficiais e Praças com a primorosa preparação e execução das atividades e um encantamento com os seus resultados. Uma sensação de dever cumprido, uma Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014. 78 SOUZA (2014) alegria incontida de todos, quer pela excelência do atingimento dos objetivos, quer pelo estado de leveza que todos os colaboradores sentem quando numa verdadeira magia veem a transformação de seu trabalho em concreta realização. E foi neste ambiente de extraordinárias realizações e resultados, que nasceu e morreu a operação fronteira, deixando as marcas indeléveis de um recorte temporal da história de excelência do “Sentinela do Caparaó” – o cinquentenário 11º BPM de muitas glórias e realizações. Fica claro que o desenvolvimento de ações e operações de qualidade demanda o envolvimento de todos em qualquer ambiente organizacional e que o comprometimento dos policiais militares com a PMMG, a sociedade e com os próprios resultados é muito significativo. O modelo de gestão pela qualidade “Padrão 11 de Qualidade”, que criou o ambiente necessário para o desenvolvimento da “Operação Fronteira” possibilitou um momento virtuoso da administração das operações, os seus resultados e ensinamentos, merecendo destaque nas implicações que ela encerra: a) A busca de resultados otimizados, o discurso organizacional, a orientação de toda equipe permite o atingimento desses objetivos, criando gerencialmente o que chamamos de profecia autogerida (MAXIMIANO, 2002), ou seja, quando acreditamos nos resultados eles tendem a se confirmar. O que aconteceu com os resultados do 11º BPM e em particular com a “Operação Fronteira”. b) As estratégias organizacionais podem ser formadas e formuladas extrapolando os contextos ambientais e os recursos, criando modelos que podem ser comparados aos propostos pela estratégia do oceano azul, que vão além da demanda, encantando e superando todas as expectativas (KIM e MAUBORGNE, 2005); c) A operação ensejou um contexto de busca da qualidade em todos os ambientes operacionais e antecipou a criação de um modelo de gestão, que permitiu ao 11º BPM ser considerado uma Unidade de excelência na PMMG, destacando-se o fato de em um tempo próximo, logo após a exitosa realização da mesma e da criação de uma estrutura voltada para resultados a Seção de Planejamento de Operações (P3) teve o seu desenvolvimento certificado por menção elogiosa do Estado Maior da PMMG após a realização de auditoria. O maior destaque, abstraída a autoapologia, é que este evento somente aconteceu após aquela missão inspetora ter percorrido 23 outras unidades da Corporação; d) A satisfação com os resultados voltados para a melhoria da qualidade de vida da sociedade leva as pessoas a buscarem cada vez mais o atingimento de objetivos, transformando as equipes em equipes automotivadas. Ficou nítido que a operação inseriu o 11º BPM no contexto das grandes Unidades da PMMG, permitiu a sua divulgação na mídia nacional (Jornal do Brasil, Estado de Minas, Globo etc.), que gerou resultados nunca atingidos como, por exemplo, a apreensão de grande quantidade de drogas, armas e produtos diversos e que projetou oficiais competentes e que acabaram se destacando no cenário global da PMMG, graças à participação naquelas operações de tamanha envergadura. Concluindo, declaro que é impossível concluir. Que não se deve concluir, pois fica uma sensação de finitude, que não vem ao caso. Esta página é apenas mais uma página de uma história, construída com sangue, suor e lágrimas dos valorosos soldados do “Sentinela do Caparaó”, que vêm preservando a ordem e a segurança na região leste do Estado de Minas Gerais, nestes cinquenta anos de sua existência e dando concretude ao sonho de todos os heróis do 11º BPM: “permitir que o estado de convivência harmoniosa e pacífica seja possível, mesmo com o sacrifício da própria vida”. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014. 79 SOUZA (2014) A “Operação Fronteira” é apenas mais um passo desta grandiosa Unidade da Polícia Militar de Minas Gerais rumo ao seu destino de realizações sempre voltadas para a melhoria e a qualidade de vida da sociedade. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALMEIDA, Klinger Sobreira de. Mensagens Profissionais. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1987. KIM, W. Chan; MAUBORGNE, Renée. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro, Elsevier, 2005. MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da escola científica à competitividade na economia globalizada. São Paulo, Atlas, 2000. BAUMAN, Zygmunt. Modernidad Líquida. Buenos Aires, Fundo de Cultura Econômica, 2007. PORTAL POWER (NOTÍCIAS). A Polícia era proibida de subir nos morros do Rio. Acesso em 03/07/2013 http://www.portalpower.com.br/noticias/pol icia-proibida-subir-morros-rio; BRAVO, Otávio. Repensando Loïc Wacquant: do estado social ao estado penal – o nazismo está de volta? São Paulo, Revista Direito, Estado e Sociedade n.36 p. 124 a 157 jan/jun 2010; PRAHALAD, C. K.; HAMEL, Gary. A Competência Essencial da Corporação. In, MONTTGOMERY, Cyntia A.; PORTER, Michael E. Estratégia: A Busca da Vantagem Competitiva. São Paulo, Elsevier, 1998. CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. Curso Nacional de Segurança Comunitária. Brasília, SNSP, 2001 SKOLNICH, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2006. DIAS NETO, Theodomiro Dias. Policiamento Comunitário e Controle sobre a Polícia: a experiência norteamericana. São Paulo, IBCCRIM, 2000. ROBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. ESPÍRITO SANTO, Lucio Emílio do; MEIRELES, Amauri. Entendendo a nossa insegurança. Belo Horizonte, Instituto Brasileiro de Policiologia, 2005. STADLER, Humberto. Estratégias para a Qualidade: O Momento Humano e o Momento Tecnológico. Curitiba, Juruá, 2005. _____________. Teoria das Realidades Culturais Diferentes. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1988. TZU, Sun. A Arte da Guerra. São Paulo, Editora Record, 1999; GIULIANI, Rudolph W. Leadership. New Yorque, Miramax Books, 2002. KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. Balenced Scorecard: A estratégia em Ação. São Paulo, Campus, 2000. VIANA, Nildo. Violência, Estado Penal e Criminalidade. Madrid, La Insígnia, 2006. ___________. Heróis e Super-Heróis no Mundo dos Quadrinhos. Rio de Janeiro, Achiamé, 2005. WACQUANT, Loïc. As prisões da Miséria. São Paulo, Publicação Livre, 2004. Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 71-79, Janeiro-Julho, 2014.