Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Escola Nacional de Botânica Tropical
Programa de Pós-Graduação em Botânica
ESPÉCIES FACILITADORAS E ESTRUTURA DE ILHAS DE VEGETAÇÃO EM
PASTAGENS ABANDONADAS NA RESERVA BIOLÓGICA DE POÇO DAS ANTAS
– RJ
Pollyanna Rodrigues de Oliveira dos Santos
Orientador: João Marcelo Alvarenga Braga
Projeto de Mestrado
Rio de Janeiro,
maio de 2012
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................... 1
1.
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 2
2.
OBJETIVOS ....................................................................................................................... 5
2.1.
Objetivo Geral ............................................................................................................. 5
2.2.
Objetivos Específicos .................................................................................................. 5
3.
JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 5
4.
MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 7
4.1.
Área de Estudo............................................................................................................. 7
4.2.
Seleção dos Sítios Amostrais e Análise dos Indivíduos Arbóreos .............................. 7
4.3.
Caracterização das Ilhas de Vegetação ...................................................................... 10
4.4.
Composição das Ilhas de Vegetação ......................................................................... 10
4.5.
Análise do Solo .......................................................................................................... 12
4.6.
Análises Estatísticas .................................................................................................. 13
5.
CRONOGRAMA DE METAS ......................................................................................... 13
6.
ORÇAMENTO ................................................................................................................. 14
7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 14
I
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Esquema de uma parcela de 30 x 60 metros com as classificações em árvores
isoladas e árvores formadoras de ilhas de vegetação, e os respectivos exemplos de cada
classificação, Rerserva Biológica de Poço das Antas, RJ. ......................................................... 8
Figura 2: Parcela de 60 x 30 metros com esquema de alocação de parcelas 1 x 2 metros numa
das ilhas de vegetação, Reserva Biológica de Poço Das Antas, RJ. ........................................ 11
Figura 3: Pontos de coletas de solo no interior das parcelas 1 x 2 metros, Reserva Biológica
de Poço das Antas, RJ. ............................................................................................................. 12
II
RESUMO
Pastagens abandonadas são constantemente observadas no Bioma Mata Atlântica,
devido à intensa exploração sofrida ao longo do tempo. O estabelecimento de árvores e
arbustos nessas áreas tem a capacidade de modificar o ambiente, gerando benefícios que
favorecem a entrada de espécies menos tolerantes e agindo como espécies facilitadoras no
processo de sucessão natural. Estas espécies, juntamente com o recrutamento dos demais
indivíduos, poderão formar ilhas de vegetação nesses ambientes que tem potencial para
restaurar naturalmente a área e servir de corredor para unir fragmentos florestais. O objetivo
deste trabalho é analisar o comportamento das espécies arbóreas e a capacidade das mesmas
em formar ilhas de vegetação em pastagens abandonadas. Utilizando como informação inicial
a distribuição espacial das espécies estrutura e funcionamento destas ilhas, e quais as
condições a mesma oferece para a restauração espontânea destes ambientes. Para isso, o
trabalho será realizado na Reserva Biológica de Poço das Antas, município de Silva Jardim –
RJ, onde serão alocadas em diferentes morrotes mamelonares seis parcelas de 30 x 60 metros.
Nestas parcelas serão contabilizados e classificados os indivíduos arbóreos (DAP > 5 cm)
isolados e em ilhas de vegetação. As ilhas encontradas nas parcelas serão classificadas em
pequenas, médias e grandes a partir dos diâmetros observados, e georeferenciadas para avaliar
a distribuição espacial das mesmas nas matrizes graminóides circundantes e em relação aos
remenescentes florestais próximos. No interior das ilhas serão alocadas três parcelas 1 x 2
metros, e uma parcela na matriz circundante, para o estudo do estrato regenerante (10 a 100
cm de altura) e coleta de solo para análise. Todos os estratos, tanto o arbóreo como a
regeneração, terão seus respectivos cálculos dos parâmetros fitossociológicos, assim como a
diversidade através do índice de Shannon-Weaver (H’). Será utilizado teste t para comparação
do número de árvores isoladas e as formadoras de ilha de vegetação. Regressões e análises
multivariadas (ANOVA) serão utilizadas para comparar as diferentes classes de ilhas e áreas
dominadas por gramíneas quanto ao estrato regenerante e nutrientes do solo.
Palavras-chave: pastagens abandonadas, espécies facilitadoras, ilhas de vegetação, sucessão
natural.
1
1. INTRODUÇÃO
Distúrbio ou perturbação se referem aos impactos sobre ecossistemas mais severos ou
agudos que os eventos normais de estresse (SER, 2004). Estas perturbações vêm ocorrendo
constantemente em diversas formações. A Mata Atlântica é considerada um hotspot da
biodiversidade, por apresentar um alto grau de endemismo, e em contrapartida ser
considerado um dos biomas mais ameaçados do planeta (MYERS et al., 2000). Segundo
RIBEIRO et al. (2009), a Mata Atlântica se apresenta em extremo estado de degradação,
estando seus remanescentes compostos na maior parte por fragmentos pequenos, de menos de
50 ha, que são insuficientes para suportar em longo prazo a sobrevivência da floresta. Como a
expansão da agropecuária é muito intensa no Brasil, as áreas que ocupam os espaços entre os
fragmentos são formadas, na sua maioria, por plantios agrícolas e pastagens, que podem estar
em uso ou não. Terras improdutivas são abandonadas, havendo um potencial para a
ocorrência da regeneração, mas esta recuperação natural é lenta por estar submetida a áreas de
intensivo efeito humano, como degradação do solo, perturbações recorrentes e o isolamento
de florestas (SHONO et al., 2007).
Numa área em que ocorreram distúrbios recentes, gradualmente a flora e a fauna
recolonizam-na, já começando a ocorrer o processo de sucessão, apresentando-se
primeiramente um maior número de plantas juvenis (SANTOS et al., 2007). Uma das
primeiras formas de vida que se estabelecem nestas áreas são as espécies herbáceas.
RICKLEFS (1996) inferiu quanto à possibilidade de modificação de ambientes pelas espécies
pioneiras, discutindo sobre ervas presentes em campos abertos que sombreiam a superfície do
solo, gerando condições mais apropriadas para plantas mais exigentes. Os resultados de
HOLL (1999) para germinação de sementes também sugerem que as gramíneas podem
facilitar a germinação, por reduzir a temperatura do solo. Entretanto, a realidade mais comum
encontrada na Mata Atlântica é a presença de gramíneas exóticas, que dominam estas áreas e
assim dificultam o desenvolvimento de outras espécies. Segundo SHONO et al. (2007), um
novo estado de equilíbrio é alcançado quando gramíneas invadem áreas desmatadas e
começam a dominar o ambiente alterado, se tornando um bloqueio para a regeneração natural.
Uma maior cobertura do solo causada pelo aumento de biomassa das espécies herbáceas
em pastagens dificulta a germinação de sementes e o estabelecimento de espécies arbóreas,
mas se a cobertura do solo não for significativa, promove uma mudança de habitat,
favorecendo a instalação dessas espécies (CHEUNG et al., 2009). Com a instalação das
espécies arbóreas é mais fácil a chegada e estabelecimento de espécies menos tolerantes,
2
havendo o recrutamento de outros indivíduos, formando-se assim núcleos ou ilhas de
vegetação nestas paisagens, que geram sob elas um estrato regenerante, auxiliando no
processo de sucessão natural. Um exemplo que mostra este processo são os indivíduos
arbóreos remanescentes em áreas abandonadas em pastagens, que possuem uma capacidade
nucleadora, servindo de abrigo e fonte de alimentação para os animais, em especial pássaros e
morcegos (REIS et al., 2003a). Com a atração desses animais, vêm juntamente a eles
propágulos de outras áreas, que ali são dispersos, contribuindo para o fluxo gênico das
espécies e aumentando também a diversidade.
Outro exemplo foi constatado por YARRANTON & MORRISON (1974), onde foi
observado que a espécie Juniperus virginiana L. era primordial para a posterior chegada das
espécies denominada de “persistentes”. Estas espécies foram definidas pelos autores como
sendo aquelas que se estabelecem e vão aumentando em abundância, juntamente com o
declínio das espécies classificadas como “colonizadoras”. Segundo os autores, com as
alterações das condições ambientais, como microclima menos extremo e maior formação de
húmus, observou-se sob indivíduos de J. virginiana o estabelecimento de plântulas,
mostrando assim sua importância para o desenvolvimento sucessional e estabelecimento de
espécies persistentes. Este é um exemplo claro do processo de nucleação, onde se observa a
capacidade de uma espécie em alterar um ambiente, proporcionando melhores condições,
permitindo o estabelecimento de outras espécies e consequentemente formando ilhas de
vegetação.
Observa-se então que, para a ocorrência da nucleação necessita-se de espécies que inicie e
impulsione este processo. Assim, são chamadas de facilitadoras aquelas espécies
colonizadoras que, num estágio inicial, capacitam o ambiente para a invasão e
desenvolvimento das espécies clímax, ou seja, dos estágios posteriores (RICKLEFS, 1996). A
facilitação são interações entre organismos em que um deles se beneficia, mas não gera dano
a nenhum deles (STACHOWICZ, 2001). Segundo este autor, essas interações positivas são
importantes para a comunidade por modificar o habitat, onde um indivíduo ou espécie altera
as condições ambientais fazendo ele se tornar menos estressante para o estabelecimento de
outros indivíduos, aumentando a diversidade de espécies.
Uma alteração que pode ser observada num ambiente colonizado por espécies
facilitadoras é o aumento da disponibilidade de nutrientes do solo. Existem diversas maneiras
de deposição dos nutrientes no sistema, entre elas a serrapilheira, que depois de acumulada,
intercepta luz, reduz a amplitude térmica do solo e gera sombra para sementes e plântulas
3
(BARBOSA & FARIA, 2006). Segundo ARAÚJO et al. (2006), a adição de nitrogênio ao
solo pode estar atribuída a maior diversidade contida numa floresta secundária, quando
comparados com modelos de revegetação. Ao mesmo tempo em que a vegetação pode
contribuir com as condições do solo, este também influi diretamente na vegetação que ali se
desenvolve. A variação da abundância e riqueza de espécies sugere que variações como
características do solo ou a distância da fonte de semente são capazes de causar diferenças na
regeneração (CHEUNG et al., 2010). A falta de disponibilidades e dispersão de sementes é
um importante fator para a regeneração em pastagens abandonadas, parecendo ser o principal
fator limitante para a recuperação de pastagens (HOLL, 1999). Para esta autora, devem-se
concentrar esforços em estratégias para aumentar a dispersão de sementes, como plantio de
mudas nativas e implantação de poleiros, isto para tentar superar e quebrar as barreiras para a
dispersão e, consequentemente, influenciar na germinação, no crescimento e sobrevivência do
estrato regenerante.
Na Reserva Biológica de Poço das Antas podem ser observadas as situações discutidas
anteriormente. Na área da reserva, grupos de gramíneas, eudicotiledôneas perenes e
samambaias, atuam nos processos sucessionais como obstáculos para a formação de uma
cobertura florestal (LIMA et al., 2006). Mesmo existindo fragmentos florestais, potenciais
fontes de propágulo, próximos às áreas estudadas, VIEIRA & PESSOA (2001) concluíram
que o domínio da vegetação densa formada por espécies herbáceas, afeta a composição
florística e dificulta o estabelecimento de espécies arbóreas.
A interferência antrópica que ocorreu na área, como a exploração seletiva de essências
florestais e a ocorrência de fogo foram primordiais para o desaparecimento de formações
florestais, apresentando atualmente raros trechos de vegetação natural que se contrastam com
grandes áreas alteradas, formando uma paisagem fragmentada (LIMA et al., 2006). Em
estudos na reserva, OLIVEIRA (2012) constatou que em áreas de pastagem que havia
ocorrido incêndios mais recentes e com menor densidade de indivíduos arbóreos eram as
áreas que apresentaram uma menor densidade e riqueza de plântulas, principalmente de
espécies arbóreas. Nota-se então a importância de indivíduos arbóreos nessas áreas de
pastagem, em especial na Reserva Biológica de Poço das Antas, para recuperação de áreas
perturbadas.
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2. OBJETIVOS
2.1.
Objetivo Geral
Analisar o comportamento das espécies arbóreas em pastagens abandonadas, e qual a
capacidade das mesmas em formar ilhas de vegetação. Também será caracterizado a
espacialização, estrutura e funcionamento destas ilhas, e quais as condições a mesma oferece
para a restauração espontânea destes ambientes.
2.2.
Objetivos Específicos

Relacionar o tamanho das ilhas de vegetação com a sua riqueza de espécies.

Relacionar as ilhas de vegetação com as matrizes, através da espacialização das mesmas e
comparação entre as espécies ocorrentes, para estudar as possíveis interações.

Avaliar se a disponibilidade de nutrientes no solo é um fator que influencia a formação
das ilhas.

Analisar os diferentes estágios sucessionais presentes nas ilhas de vegetação, e como as
espécies influenciam nesta paisagem, destacando aquelas que são facilitadoras para a
formação das ilhas.
3. JUSTIFICATIVA
A execução deste projeto se baseia, primeiramente, no planejamento de um método que
atenda o grande número de áreas perturbadas existentes, em especial na Mata Atlântica,
gerado pela grande degradação que este bioma sofreu e vem sofrendo com o passar dos anos.
Restaurar estas áreas seria de extrema importância para a recuperação dos processos
ecológicos e, consequentemente, aumentando também a biodiversidade.
Um dos objetivos da restauração é obter parte da diversidade florística da floresta original
(SHONO et al., 2007). É importante se ter o conhecimento de como restaurar áreas de
pastagens, que são as situações de áreas perturbadas mais comumente encontradas. A
restauração dessas áreas se atenta hoje em dia, principalmente em plantio de mudas florestais,
mas já sendo utilizados métodos alternativos, como a nucleação. Quando o projeto de
restauração tem como base os conceitos da nucleação, ele estará facilitando a sucessão
natural, e quanto mais numerosos e diversificados forem os núcleos formados, a restauração
se tornará mais efetiva (REIS et al., 2003b).
5
A ideia, porém, é pensar se ao invés de se aplicar um método nesta área, existe a
possibilidade de se aproveitar as estruturas pré-existentes na paisagem para restaurar
localmente áreas de pastagem. Identificar os modelos naturais de restauração a partir dos
núcleos formados de maneira espontânea por espécies arbóreas nativas se baseia em
princípios sucessionais autóctones, que pode ser considerados uma estratégia que contribui
para o desenvolvimento regional sustentável e, se bem compreendidas suas funções, eles
podem ainda auxiliar na elaboração de estratégias eficazes, se tornando ferramentas
econômicas de gestão (BAYLÃO JUNIOR, 2010). As ilhas de vegetação presentes nesses
ambientes podem ser então um local potencial de estudo, se tornando um laboratório natural
de como as espécies se dispõe nesses núcleos, como se dá o processo de sucessão, e quais que
podem ser as espécies facilitadoras. Isto é relevante por se obter a informação de quais
espécies vão ter maior sucesso se empregadas em áreas semelhantes, facilitando a formação
de núcleos e restaurando naturalmente a área.
O estrato regenerante que será encontrado no interior das ilhas de vegetação é de extrema
importância para o sucesso da restauração, pois havendo o desenvolvimento e sucesso desses
indivíduos, estes irão formar um futuro fragmento florestal. Os projetos de restauração podem
ser também empregados com o intuito de formar corredores ecológicos que unam fragmento,
havendo a manutenção da diversidade genética por permitir o fluxo gênico (REIS et al.,
2003b). Geralmente, a formação encontrada entre dois fragmentos florestais está na forma de
pastagem, separando dois ou mais ambientes. As espécies arbóreas encontradas em pastagens
abandonadas podem servir como local para pouso de animais, que vão de um fragmento a
outro e, com a formação das ilhas de vegetação, pode-se ter corredores entre estes fragmentos.
Este trabalho então terá as ilhas de vegetação como modelos para projetos de restauração,
servindo de base para outros trabalhos em locais semelhantes. Com este estudo será
encontrada as possíveis espécies facilitadoras de áreas de pastagem, que podem ser
empregadas em outras áreas perturbadas com intuito de atrair fauna, alterar o microclima e o
aporte de nutrientes ao solo, para assim proporcionar o estabelecimento de outros indivíduos e
estimular o desenvolvimento do estrato regenerante.
6
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1.
Área de Estudo
O estudo será realizado na Reserva Biológica de Poço das Antas (RBPDA), localizada no
Estado do Rio de Janeiro, município de Silva Jardim. A área está inserida na região da
baixada litorânea do nordeste fluminense, entre as coordenadas 22°30’ e 22°33’S; 42°15’ e
42°19’w (OLIVEIRA, 2012), sendo limítrofe com o rio São João e represa de Juturnaíba, se
estendendo ao norte até a rodovia BR-101. A RBPDA tem área de aproximadamente 5000 ha,
com cerca de 40% do território degradado devido à interferência antrópica (ARAÚJO et al.,
2006).
Na reserva são encontradas áreas de várzeas temporária ou permanentemente inundadas,
onde predominam Neossolos flúvicos, e morrotes com altitude de até 200 metros, onde se
predominam Argissolos (MORAES et al., 2006).
As temperaturas médias são elevadas durante quase todo o ano, apresentando máxima de
32°C e mínima de 18°C, não apresentando inverno pronunciado (VIEIRA & PESSOA, 2001).
O clima é considerado quente e úmido, segundo a classificação de Koppen se enquadra no
tipo Aw, com precipitação média anual de aproximadamente 1900 mm (MORAES et al.,
2006).
Segundo LIMA et al. (2006) a cobertura vegetal da RBPDA representa um trecho de
Floresta Ombrófila Densa, que foram divididas em seis unidades fisionômicas: floresta
submontana (34,3%), floresta aluvial (17,9%), formação pioneira com influência fluvial
(20,0%), capoeira submontana (4,3), capoeira aluvial (11,3%) e campo antrópico (12,3%).
4.2.
Seleção dos Sítios Amostrais e Análise dos Indivíduos Arbóreos
Serão selecionadas ao longo da RBPDA seis áreas de pastagem abandonada, em
diferentes morrotes mamelonares, para a realização dos estudos com as ilhas de vegetação,
todas em áreas de encostas, entre 0 – 200 metros de altitude, voltadas para a vertente norte. Os
sítios serão escolhidos com base em apresentarem características semelhantes, como
exposição, declividade, altitude, umidade, para poder fazer a análise somente das ilhas de
vegetação e das espécies que facilitam sua formação.
Em cada uma das seis áreas de pastagem serão alocadas parcelas permanentes de 30 x 60
metros, para nelas serem analisadas as ilhas de vegetação, quanto a sua espacialização e
composição. Para isso, será medido o diâmetro à altura do peito (DAP, cm), com auxílio de
7
fita métrica, de todos os indivíduos arbóreos presentes na parcela. Serão contabilizadas as
espécies arbóreas com DAP > 5 cm, sendo estas classificadas como árvores isoladas, que são
aqueles indivíduos que não agrupam outros ao seu redor, e árvores formadoras de ilhas de
vegetação, que agrupam outros indivíduos (Figura 1). As arbóreas amostradas, assim como as
parcelas, serão georeferenciadas, para posteriormente ser feita a alocação de suas coordenadas
em imagem da área, para analisar a espacialização onde se encontram no ambiente.
Todos os indivíduos serão identificados, e todas as espécies serão coletadas e
incorporadas no herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB) como testemunho. A
identificação será feita em campo, e, não sendo possível, será feita consulta no RB ou com
auxílio de consultas literárias.
60 metros
Árvores isoladas
30 metros
Árvores formadoras
de ilhas de vegetação
Figura 1: Esquema de uma parcela de 30 x 60 metros com as classificações em árvores
isoladas e árvores formadoras de ilhas de vegetação, e os respectivos exemplos de cada
classificação, Rerserva Biológica de Poço das Antas, RJ.
Além do DAP, estes indivíduos terão medidas suas alturas (m) e diâmetro de copa (m).
Com os dados obtidos, serão calculados para cada espécie os parâmetros fitossociológicos
densidade relativa (DR), que representa a porcentagem de indivíduos amostrados que
pertencem a uma espécie, frequência absoluta (FA), que é a proporção do número de unidades
8
amostrais com a presença de uma espécie em relação ao número total de unidades amostrais,
frequência relativa (FR), que representa a proporção da FA da comunidade que determinada
espécie possui, e dominância relativa (DoR), que é a proporção da área basal total da
comunidade que dada espécie possui (MORO & MARTINS, 2011). Será calculada também a
área basal (Gi), para saber a parte de área florestal que é ocupada pelos fustes das árvores
(MACHADO & FILHO, 2006), tendo-se os valores para cada espécie. Com esses parâmetros
será calculado o valor de importância (VI), que indica as espécies que têm maior contribuição
para a comunidade (MORO & MARTINS, 2011). A diversidade será calculada através do
índice de Shannon-Weaver (H’). As fórmulas dos parâmetros são apresentadas a seguir:
DR = 100n/N,
onde n é o número de indivíduos amostrados de uma espécies, e N é o número total de
indivíduos amostrados.
FA = 100(P/Pt),
onde P é número de unidades amostrais em que uma espécie ocorre, e Pt é o número total de
unidades amostrais.
FR = 100(FA/FAt),
onde FA é a frequência absoluta de uma espécie, e FAt são as frequências absolutas de todas
as espécies somadas.
Gi = πD²/4,
onde D é o diâmetro.
DoR = 100(Gi/Git),
onde Gi é a área basal de uma espécie, obtida pela soma de todas as áreas basais dos
indivíduos dessa espécie, e Git é a área basal total, obtido pela soma das áreas basais de todos
os indivíduos amostrados.
VI = DR + FR + DoR,
onde DR é a densidade relativa de uma espécie, FR a frequência relativa de uma espécie, e
DoR a dominância relativa de uma espécie.
9
4.3.
Caracterização das Ilhas de Vegetação
Para o estudo da estrutura e composição das ilhas de vegetação serão utilizadas todas as
ilhas formadas pelos agrupamentos em torno dos indivíduos arbóreos já amostrados, inseridas
no interior da parcela 30 x 60 metros. Depois de selecionadas as ilhas, serão feitas as
medições das alturas (m), e de seus diâmetros (m), medindo-se os dois diâmetros com auxílio
de uma trena. Com estes dados, serão feitas classes de tamanho para as ilhas, sendo
classificadas em pequenas, médias e grandes, permitindo que se analise a composição das
ilhas quanto ao seu tamanho.
A análise do padrão de agregação será feita georeferenciando as ilhas de vegetação. Com
isso, as áreas serão representadas quanto a sua espacialização, analisando se as ilhas ocorrem
de forma mais agrupada ou não. Com esta imagem também será possível observar a
proximidade das ilhas com as matrizes presentes ao redor das pastagens, correlacionando
assim o quanto estas matrizes influenciam na formação das ilhas no fator distanciamento.
4.4.
Composição das Ilhas de Vegetação
Para a execução da análise da vegetação que compõe as ilhas, serão alocados em seu
interior quatro parcelas permanentes de 1 x 2 metros no sentido de maior comprimento da
ilha, sendo duas localizadas na borda e uma no centro, e uma outra não mais no interior da
ilha, seguindo este mesmo sentido, apresentando no mínimo 1 metro de distância entre si
(Figura 2). Para esta medição, as ilhas devem ser superiores a 5 metros de diâmetro, para ser
possível a alocação das parcelas em seu interior. As parcelas localizadas fora das ilhas segue o
mesmo distanciamento apresentado no interior, e têm como função caracterizar o que
consegue regenerar em ambientes mais desfavoráveis, com maior incidência de luz e maior
competição com as gramíneas.
10
60 metros
Árvores isoladas
30 metros
Árvores formadoras
de ilhas de vegetação
Parcela 60 x 30 metros
Parcela 1 x 2 metros
Limite da ilha de vegetação
Mínimo: 5m
Mínimo: 1m
Sentido da alocação das parcelas
Figura 2: Parcela de 60 x 30 metros com esquema de alocação de parcelas 1 x 2 metros numa
das ilhas de vegetação, Reserva Biológica de Poço Das Antas, RJ.
Para o levantamento da regeneração natural, será feita a medição de altura (cm) e
diâmetro à altura do solo (DAS, mm), com auxílio de fita métrica e paquímetro
respectivamente, de todos os indivíduos (herbáceas, arbustivas, trepadeiras e arbóreas) de 10 a
100 cm de altura. As plantas serão identificadas e classificadas quanto a sua forma de vida.
Para as plântulas, será contabilizado o número por parcela, obtendo-se assim a densidade de
plântulas (indivíduos/m2) (OLIVEIRA, 2012).
Também será feito para o estrato regenerante os parâmetros fitossociológicos
densidade absoluta (DA), densidade relativa (DR), frequência absoluta (FA) e frequência
relativa (FR) (MUNHOZ & ARAÚJO, 2011), obtendo-se posteriormente a diversidade
através do índice de Shannon-Weaver (H’). As fórmulas dos parâmetros são apresentadas
abaixo.
DA = n/ha,
onde n é o número de indivíduos de uma espécie, e ha é hectare.
DR = (DA/N)x100,
onde N é o número total de indivíduos.
11
FA = (NP/NPT)x100,
onde NP é o número de parcelas onde uma espécie ocorre, e NPT é o número total de parcelas
amostradas.
FR = (NP/∑ NP)x100
Com a listagem das espécies encontradas nas parcelas 1 x 2 metros, será feita uma
comparação com a composição de espécies presentes na matriz, através de listagem de
espécies ocorrentes na área de estudo. Assim, será feito a correlação das ilhas de vegetação
com as matrizes quanto à oferta de propágulos.
4.5.
Análise do Solo
Será feito análise do solo para a avaliação da variação dos nutrientes no interior e fora das
ilhas. Para isso, serão coletadas seis amostras em cada ilha amostrada no interior da parcela
60 x 30 metros, sendo duas coletas em cada parcela de 1 x 2 metros, incluindo a parcela do
exterior da ilha, para fazer a comparação (Figura 3).
Parcela
x 30 metros
Pontos 60
de coleta
de solo
Parcela 1 x 2 metros
Limite da ilha de vegetação
Sentido da alocação das parcelas
Figura 3: Pontos de coletas de solo no interior das parcelas 1 x 2 metros, Reserva Biológica
de Poço das Antas, RJ.
A coleta do solo será feito segundo instruções da EMBRAPA SOLOS (2012), retirando-se
com um trado as amostras da camada superficial do solo, numa profundidade de até 20
centímetros, limpando anteriormente a superfície removendo as folhas e outros detritos. Estas
amostras serão colocadas juntas em balde limpo, sendo misturadas as amostras do interior de
todas as ilhas em um balde, e em outro ficarão as amostras de fora das ilhas. Estas amostras
deverão ser muito bem misturadas, para a retirada da amostra final, cerca de 500 gramas, que
serão identificadas e enviadas para a análise.
12
4.6.
Análises Estatísticas
Para se comparar o número de árvores isoladas e as formadoras de ilha de vegetação será
utilizado teste t. Já para a comparação do número de ilhas de vegetação pequenas, médias e
grandes, comparação da composição e riqueza do estrato regenerante entre o interior das ilhas
pequenas, médias e grandes com o exterior, e comparação da quantidade de nutrientes entre as
ilhas pequenas, médias e grandes e o exterior, será feito análises de regressão e análise
multivariada (ANOVA).
5. CRONOGRAMA DE METAS
I/2012
II/2012
I/2013
Disciplinas cursadas
X
X
X
Revisão bibliográfica
X
X
X
Seleção das áreas
X
Redação do projeto
X
Marcação das parcelas 60 x 30 metros
X
X
Coleta dos dados: vegetação arbórea
X
X
Caracterização das ilhas de vegetação
X
X
Marcação das parcelas 1 x 2 metros
X
X
Coleta dos dados: regeneração natural
X
X
Coleta de solo
X
X
Análise dos dados
X
X
Redação final
Defesa da Dissertação
II/2013
I/2014
X
X
X
X
13
6. ORÇAMENTO
Combustível (diesel)
R$ 2,00 litro – R$ 120,00 ano
Pedágio rodoviário
R$ 600,00
GPS
R$ 500,00
Clinômetro
R$ 1200,00
Trena
R$ 50,00
Fita métrica
R$ 4,00
Paquímetro digital
R$ 300,00
Ferro ¾ *
R$ 15,00/metro – 1080 metros de parcela 60 x 30 = R$16200,00
Trado
R$ 170,00
Balde
R$ 3,00
Saco plástico para coleta de solo *
R$ 10,00
Tesoura de poda
R$ 16,00
Total ≈ R$19163,00
Contrapartida: este projeto está inserido e tem o financiamento, em parte, do PPBIO-JBRJ.
* Estes itens serão utilizados nas parcelas 1 x 2 metros, e estas dependem do número de ilhas
de vegetação que serão encontradas.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, R.S.; RODRIGUES, F.C.M.P.; MACHADO, M.R.; PEREIRA, M.G.; FRAZÃO,
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